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Art. 685. Conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua
revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes,
ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os
bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades legais. (grifo
nosso).
Porém, há sim uma inegável relação entre os institutos, vez que a outorga de
procuração pode ser anterior ou posterior ao contrato de mandato. Ideal é estabelecer, primeiro
o contrato de mandato, após, a procuração como ato unilateral que instrumentaliza o contrato
inicial.
Também chamado de in rem propiam, esse é negócio jurídico principal, com o condão
de transmitir ao mandatário direitos sobre o objeto do mandato. O procurador atua de acordo
com seu próprio interesse, de modo que não se confunde com a representação própria e geral
do ordenamento jurídico. Atenção, porque esse tipo de negócio tem natureza jurídica de
representação em sua forma, e, simultaneamente, alienação na essência. Assim, produz mais
que efeitos de gestão de interesse alheio, vez que opera efeitos translativos de direitos.
Ademais, a cláusula "em causa própria" não admite dedução, devendo constar
expressamente no negócio. Tem caráter irrevogável, irretratável, não se sujeita à prestação de
contas e confere poderes gerais, no exclusivo interesse do outorgado (art. 658, CC). Desse
modo, o prórpio instrumento constitui título hábil para transferência em favor da próprio
procurador dos bens móveis ou imóveis objeto do mandato. Serve, inclusive para fins de
registro imobiliário, desde que obedecidas as formalidades legais. Entretanto, dispensa, a
lavratura do instrumento definitivo de transmissão de propriedade, como a escritura pública de
compra e venda.
Desta feita, sujeita-se aos mesmos requisitos do negócio jurídico a que se reporta. Em
contrapartida, não existe consenso a respeito do igresso da procuração em causa própria no fólio
real. Recentemente o Superior Tribunal de Justiça, (Informativo 0695/2021), fixou a tese de
que “a procuração em causa própria não é título translativo de propriedade”.
Ante o exposto, é possível perceber que o STJ vem seguindo uma corrente mais
tradicional para a operabilidade da procuração, entendendo que, no caso da procuração em
causa própria, o instrumento, por si só, não é apto ao ingresso no fólio real e, com relação à
procuração com poderes especiais para compra e venda, é necessária uma descrição
minuciosa dos poderes e do bem objeto do contrato.
Lado outro, o Supremo Tribunal Federal tem posicionamento mais flexível, visando
operacionalizar os contratos no sistema jurídico, entendendo que a procuração em causa própria
é título translativo de propriedade.
Bibliografia