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LEITURA PRÉVIA

Escola Transgeracional de Terapia Familiar


Murray Bowen (1950)

Segundo Foley (1982), Bowen, em seus estudos sobre esquizofrênia, menciona


que esta não constitui uma enfermidade em si, um fenômeno isolado, mas sim o
resultado de um processo em andamento, cuja história, há avós relativamente maduros,
mas suas imaturidades combinadas, eram adquiridas por um dos filhos que era muito
apegado a mãe. Quando esse descendente casava-se com alguém com um grau igual de
imaturidade e o mesmo processo se repetia na terceira geração, isso resultava num filho
(o paciente) com grau de imaturidade, enquanto os outros irmãos eram muito mais
amadurecidos.
Os genitores de uma prole esquizofrênica tem casamentos com uma interação de
qualidade ruim, com divórcio emocional, ou seja, uma profunda distância afetiva e
emocional. Bowen aceita e ideia de que a família é um sistema, isto é, que uma
mudança numa de suas partes produzirá necessariamente uma mudança em outra.
Interessa-se pela família, de um ponto de vista terapêutico como um “sistema emocional
de relacionamento”.
Diferencia sistema emocional como, algo profundo, que se acha em contato com
processos celulares e somáticos e o sentimento como uma ponte que se acha em contato
com partes do sistema emocional, por um lado, e com o sistema intelectual, pelo outro.

3.2.1. Massa Indiferenciada do Ego Familiar (M.I.E.F).

De acordo com Nichols & Schwartz (1998), é o conceito central de teoria de


Bowen, que significa “aglutinação” ou fusão, que é uma unicidade emocional
conglomerada que existe em todos os níveis de intensidade, desde extremamente intensa
até muito ligeira. Trata-se de uma característica pertencente a todas as famílias, razão
pela qual ele acha esse tema central. Existindo situação que favorece sua intensidade,
exemplo, quando o stress e a tensão acham-se em níveis altos, ela pode aumentar. O
processo é cíclico, possuindo uma série de fases em que a “massa do ego” se torna mais
ou menos intensa.
Teoricamente, a fusão acha-se presente em certo grau em todas as famílias,
exceto aquelas nas quais os membros atingiram uma completa maturidade emocional.
Nas famílias amadurecidas, os membros individuais delas são unidades emocionais
delimitadas, que não se envolvem em fusões emocionais com outros. A célula básica da
M.I.E.F. são os triângulos, quando a tensão entre duas pessoas do sistema familiar fica
muito alta, um deles se triangula numa terceira pessoa para que tensão se desloque
dentro do sistema, para restabelecer o equilíbrio homeostático.
Portanto, o sistema familiar, a massa indiferenciada do ego familiar, é construída
através de um processo continuado de triângulos entrelaçados.
Há uma escala de diferenciação do self : a partir da forma como a pessoa se
separa emocionalmente de sua família de origem, ou seja, mais fusionada ou mais
diferenciada. Essa escala é dividida em quatro quadrantes: de 0 a 25 denota maior fusão,
de 25 a 50, de 50 a 75 e 75 a 100, maior diferenciação do self. Este último quadrante
possui raras pessoas, com alto grau de maturidade emocional, de posição “EU”
assumida.
Há um processo de transmissão multigeracional. A escolha do parceiro conjugal
não é acidental: há escolhas no mesmo quadrante, no mesmo nível da escala de
diferenciação. Portanto, a saúde ou a doença não pode ser estudada numa pessoa
isolada, mas no contexto da família ampliada.
O processo de diferenciação envolverá uma destriangulação na terapia e isto
poderá ser feito:
 O casal tenta fazer triângulo com o terapeuta que consegue ficar
emocionalmente desligado.
 O terapeuta trabalha só com um deles.
 O terapeuta treina-os, a não se triangularem.

O objetivo da terapia de Bowen, portanto, é a diferenciação do self pela


destriangulação, onde as pessoas aprendem a relacionar-se com os outros,
respondendo-lhes e não reagindo, numa elaboração pessoa a pessoa.
Afirma ser a família um sistema de relacionamento emocional, cujas raízes estão
na natureza biológica do homem de origem, principalmente no funcionamento dos pares
conjugais e parentes. Só podemos compreender um sintoma pelo exame minucioso das
famílias, nuclear e ampliada.
Objetiva como mudança, ou resultado da terapia, um homem ideal; uma pessoa
voltada para dentro, que consegue estabelecer seus próprios objetivos e assumir plena
responsabilidade pela sua vida, que relaciona-se com as outras, não numa posição de
necessidade, mas com liberdade de self, sem fusão.
Para obter mudanças, os triângulos entrelaçados deverão ser identificados e
trabalhados e para isso o terapeuta tem quatro funções básicas:

1- Definir e esclarecer o relacionamento entre os cônjuges.


2- Manter-se fora do triângulo do sistema emocional familiar.
3- Ensinar o funcionamento dos sistemas emocionais (papel de
professor) e a diferença entre reagir e responder
4- Assumir “posição eu” para demonstrar a diferenciação.

Bowen cita o corte emocional como uma das formas de lidar com a fusão, onde
pessoas que física e ou emocionalmente separa-se dos membros de sua família pela
dificuldade de lidar com a ansiedade que a proximidade traz. A distância física não
produz diferenciação emocional e essa pessoa corre o risco de fusionar-se em outros
relacionamentos (casamento, filhos, trabalho, comunidade e outros). Igualmente, a
distância emocional não produz a diferenciação, isto porque, a resolução é
transgeracional. Aprender a ser um nos relacionamentos, “ser eu próprio”, mas
podendo estar com os outros é uma luta de várias gerações, interligadas e
interdependentes. Todos nós possuímos forças que impulsionam à individualidade e
forças que nos impulsionam para a fusão. Em tempos de maior ansiedade as forças
operantes impulsionarão mais para a fusão, em tempos de calma, para o
desenvolvimento da pessoa.. A sociedade está altamente comprometida com este
movimento de diferenciação e de fusão do self.

Referência bibliográfica

FOLEY, V. Introdução a Terapia Familiar. Artes Médicas. Porto Alegre, 2000.

NICHOLS & SCHWARTZ. Terapia familiar. Teorias e métodos. Artmed, Porto


Alegre, 1998.

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