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A prát ica de linguagem em sala de aula: Prat icando os PCN (ROJO/Org., 2000)
Roxane Rojo
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PRATICANDO OS PCNS: DOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
(página em branco)
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
ÍNDICE
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NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
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NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
Estas foram as bases que resultaram na organização deste volume, que optei
por dividir em quatro partes. A primeira, aberta por esta Apresentação, é destinada a
uma abordagem teórico-política de um ponto essencial para a discussão: a questão
da transposição didática deste documento, em diferentes níveis, especialmente
naqueles que dizem respeito à elaboração de currículo, programas e projetos. O
artigo de Rojo que abre o volume aborda este ponto de discussão.
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Introdução
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NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
USO REFLEXÃO
PRÁTICA PRATICA de
de PRODUÇÃO PRÁTICA
ESCUTA
de de
e de
LEITURA de TEXTOS ORAIS ANÁLISE
TEXTOS e ESCRITOS LINGÜÍSTICA
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POSSIBILIDADES DE NECESSIDADES DE
APRENDIZAGEM APRENDIZAGEM
3 Uma exceção a esta afirmação são os trabalhos de Geraldi (1984; 1993; 1996), cujos fragmentos
circulam em muitas orientações da CENP.
4 Grupo de Assessoria, Pesquisa e Formação em Escrita (GRAFE/), por mim coordenado. As
referidas experiências dizem respeito a dois Programas de Formação Contínua de Professores de
porte, levados a efeito entre 1997 e 1999 (Programa de Educação Continuada (PEC) da
FAEP/UMC-SEE-SP e o Programa de Formação Contínua abrangido no Projeto de Pesquisa
Aplicada MEP/FAPESP Práticas de Linguagem no Ensino Fundamental: Circulação e apropriação
dos gêneros do discurso e a construção do conhecimento, atualmente em curso numa EEFM da
Capital.
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por princípios como os dos PCNs. Em primeiro lugar, no que se refere aos objetos
de ensino:
embora não suficientemente enfatizado nos PCNs, este processo de reflexão vai
implicar uma rediscussão do ensino de gramática em geral e, em particular, do
que se tem chamado de gramática funcional ou gramática no texto ou ainda das
ditas atividades epilingüísticas e metalingüísticas, sempre mencionadas nesta
discussão5;
5 Ver, a respeito, Geraldi (1984; 1993; 1996); Franchi (1988; 1991) e Possenti (1996).
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Numa realidade escolar onde sabemos que o que rege as práticas de sala de
aula é a adoção do livro didático, por variadas razões que vão desde o número de
alunos por sala, até a falta de tempo remunerado e de formação do professor para a
elaboração de seus próprios materiais didáticos, a elaboração de materiais didáticos
que criem condições de viabilidade para a realização do currículo em sala de aula
torna-se um problema crucial.
Como vimos, os gêneros textuais são tomados como objetos de ensino nos
PCNs e são, portanto, responsáveis pela seleção dos textos a serem trabalhados
como unidades de ensino.
6 Refiro-me, desta vez, à elaboração de livros paradidáticos para Língua Portuguesa, na Coleção
Trabalhando com os Gêneros do Discurso, a sair pela Editora FTD, e a assessorias prestadas
a autores na elaboração de livros didáticos de Língua Portuguesa para 1ª a 4ª séries do Ensino
Fundamental (Coleção Recriança, a sair pela Ediouro Publicações).
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Creio que seqüências didáticas podem ser elaboradas tanto para módulos
didáticos como para projetos, constituindo-se num material didático de certa
extensão, monotemático ou monogenérico, maior e mais aprofundado que unidades
de livros didáticos.
8 São temas transversais às áreas de ensino indicados nos PCNs: ética, pluralidade cultural, meio
ambiente, saúde, orientação sexual e trabalho e consumo.
9 Maiores detalhes sobre este tipo de organização didática podem também ser obtidos em Dolz &
Schneuwly (1998).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1- Introdução
Foi uma viagem interessante em que percorri, arrastada por suas palavras,
um mundo bastante diferente do meu atual e, principalmente, do meu mundo de
adolescente. Vítor, Guilherme e Marcelo (jogadores de RPG) e depois Cleber, Danilo
e Maria2 (tocadores de guitarra), são garotos de 15 anos que trazem no olhar a
expectativa diante do novo, a crítica ao já estabelecido. Todos eles trajando as
indefectíveis calças jeans, camisetas de malha, blusões, tênis. Roupas de griffes
comuns aos adolescentes. São filhos de pais advogados, médicos, professores,
com mães também profissionais e de nível universitário. Apenas duas mães não
exercem uma profissão. Famílias que têm recursos, que lhes pagam mesadas, e
que lhes oportunizam o uso em casa de computador, internet, aparelhos de som,
instrumentos musicais, televisão comercial e de assinatura, acesso a jornais e
revistas nacionais e importadas, freqüência a curso de línguas e academias
esportivas.
De fato é ―um fosso impreenchível‖ que nos distancia. Isso também está
presente nas palavras de Pasolini que se dirige a Gennarielo dizendo: ―a nova
produção das coisas, isto é, a mudanças das coisas dá a você uma lição originária e
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profunda que não posso compreender[...] E isto implica um distanciamento entre nós
dois que não é somente aquele que durante séculos separou os pais dos filhos”
(1990, p.133).
Acho que foi isto que aconteceu comigo no decorrer dos encontros com os
seis adolescentes. Sentia a diferença entre nossos mundos e via o quanto poderia
aprender com eles. No seu jeito de expressar, nas suas falas eles me apresentavam
uma realidade para mim ainda desconhecida. Entrei em nossos encontros tentando
compreendê-los, com disposição para penetrar em seu mundo embora o soubesse
tão diverso do meu. Minha preocupação era justamente captar esse mundo a partir
de suas palavras, não tentando impor a autoridade da minha geração mas me
dispondo a ouvir o que tinham para contar.
deparava. Optei por não realizar entrevistas individuais mas encontrar-me com
pequenos grupos. Não queria restringir a situação da entrevista a uma relação
apenas entre duas pessoas situadas em tempos e lugares diferentes. À minha voz
de adulto, pertencente a outra geração, queria contrapor, deixar emergir, outras
vozes de adolescentes que no grupo, na interação, pudessem ser mais
espontâneas, adquirir força. Nesse encontro dialógico queria surpreender no
discurso entre coetâneos a heterogeneidade, a diversidade de experiências, o
embate de pontos de vista divergentes.
3 Essa é a forma de compreensão empática proposta por Bakhtin, que se baseia no seu conceito de
exotopia segundo o qual, por ocupar um espaço diferente do outro, terei condições de ver e saber
―algo que ele próprio, na posição que ocupa e que o situa fora de mim e à minha frente, não pode
ver: as partes de seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar - a cabeça, o rosto, a expressão do
rosto -, o mundo ao qual ele dá as costas, toda uma série de objetos e de relações que, em função
da respectiva relação em que podemos situar-nos, são acessíveis a mim e inacessíveis a
ele‖(Bakhtin, 1992,p.43).
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(1990, p.52) mergulhei nas palavras dos adolescentes procurando captar o sentido
que dão a elas para poder, a partir daí, não falar sobre eles mas com eles de suas
experiências.
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prefiro jogar. O que eu mais uso de computador é mais para jogar[...]Eu gosto de jogo
esportivo, mais corrida, tenho até um simulador lá em casa e tiro. .[...] é basicamente
isso, só esses dois tipos de jogos.[...] Ah eu não tenho internet, não. Ai eu jogo mais é
jogo mesmo, gosto de avião, submarino, jogo de esporte, tiro, Eu gosto dessas coisas.
( Danilo)
Dos jogos chegam à internet e ela é a maior responsável pelo tempo gasto
diante do computador. Os adolescentes estão descobrindo via internet a
possibilidade de satisfazer sua curiosidade sobre os assuntos de seu interesse, de
entrar em contato com pessoas distantes. Ela é algo realmente novo que se insinua
na vida dos brasileiros. De acordo com Nicolaci da Costa (1998), a internet no Brasil
pode ser dividida em dois períodos distintos: o acadêmico e o comercial. O
acadêmico iniciou-se entre nós mais ou menos em 1990, e o comercial em 1995.
Com apenas três anos de existência ela já conquistou muitos usuários. Uma
pesquisa publicada em fevereiro de 1977, realizada por um site de busca, o ―Cadê‖,
em associação com o Ibope e citada por Nicolaci da Costa (1998), revela que os
usuários brasileiros são em sua maioria homens, jovens, solteiros e pertencentes ao
topo da pirâmide social sendo que um grande contingente é formado por estudantes
que estão completando o ensino médio. Estas informações coincidem com o
observado em relação aos adolescentes por mim entrevistados que, ao navegarem
pela tela, ficam horas a fio envolvidos em atividades de leitura e escrita com
características próprias e especiais.
Eu acho que no mínimo, não no mínimo não... espera aí, deixa eu pensar, por
exemplo.. hoje eu fiquei num total assim umas duas horas e pouco até agora. É mais
ou menos isso, eu acho.[...] Depende, fim de semana mais, porque aí sim, fim de
semana assim fica muita gente conectada com você no bate papo. Aí você fica três
horas direto falando, assim, sabe? ( Maria)
do que isto é importante a troca de idéias, o bate-papo virtual que os faz discutir
com diferentes pessoas os temas de sua preferência. Eles descobrem um novo
espaço onde transitar, o cibernético, no qual a realidade é virtual. O ciberespaço,
segundo Nicolaci da Costa (1998), é a realidade imaginária compartilhada das redes
de computadores. Neste espaço virtual vão construindo novas turmas de amigos em
torno de interesses comuns.
Durante esse tempo eu virei fã da Martina Mendes e daí todo dia eu acesso a
home page dela, pra saber o que está acontecendo de novo, converso com os outros
fãs, troco correspondência, fotos, essas coisas. [...] Ela joga tênis. É jogadora de tênis.
Do tênis, virei fã dela, daí assim agora eu vejo, porque eu não tinha nada para fazer,
daí entrei lá e gostei.[...] mas, agora, assim, tenho que acessar quase todo dia se não
acessar eu fico... com dor na consciência, não saber o que está acontecendo. (risos)
Fico perseguindo, se ela vai jogar ou não, essas coisas.( Marcelo)
Eu também gostava de um jogo, mas agora estou parando de jogar. Estou mais
na internet também vendo páginas de músicos, de autores.. Eu faço igual ele assino
listas também na internet, vejo as mensagens, só que eu não respondo muito, eu
respondo só quando eu assim , me interesso pelo assunto, se interessar eu leio e de
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vez em quando eu respondo. [...] tem do Dire Straits, um grupo de Rock, do Bruce
Springsten, um cantor e do Stephem King, autor do RPG. (Vítor)
[...] E além disso eu assino uma lista sobre RPG que normalmente chega é...
cinqüenta mensagens por dia lá em casa. E normalmente eu leio todas e respondo a
maioria e tal .. acaba demandando muito tempo[...] E daí a gente troca idéias sobre o
como mestrar, como fazer aventura, personagem, não sei o que, essas coisas. E daí
eu pego as mensagens, normalmente eu respondo, todas[...]Isso dá um tempo
danado, sabe? Desde que eu tive um computador, assim, desde que acesso a
internet, eu posso dizer que assim nada pra fazer nunca tive assim esse negócio de
nada para fazer, normalmente eu tenho, vou lá, sempre tem um negocinho para fazer,
quando não tem nada para fazer, eu arranjo alguma coisa, procuro alguma sobre
alguém, essas coisas...(Marcelo)
Que efeitos essa nova forma de escrita pode trazer para os seus usuários?
Como o seu uso poderá se incorporar ao seu estilo de escrever? O que será da
pontuação e da ortografia da nossa língua portuguesa? Essa forma concisa,
objetiva, econômica interferirá na maneira de pensar? Este adolescente saberá
escrever de uma forma mais analítica? A escrita pessoal, reflexiva , com autoria será
ainda possível?
Estas são questões que levanto e para as quais ainda não tenho resposta.
Penso no entanto que é o momento de a escola, de nós educadores nos
debruçarmos sobre elas para procuramos compreendê-las, pesquisá-las buscando
os elos perdidos entre a escola e as novas práticas de seus alunos.
[...]a língua usada para falar na Rede não é o português tal como o
conhecemos fora dela. É mais uma língua híbrida, cuja forma de expressão é
predominantemente escrita, que tem como base o português - principalmente
sua gramática -, mas com alta incidência de vocábulos ingleses não traduzidos,
como, por exemplo “home page” e outros tantos neologismos, ou seja,
expressões e palavras novas que são adaptações de palavras inglesas, como
por exemplo deletar. Há ainda abreviações de expressões em inglês, ou
acônimos como btw( by the way ou a propósito)[..]... a língua mãe da internet é
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o inglês e nós, brasileiros não parecemos ter nenhum problema em admitir isso
(p.159-160).
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Marcelo Versiani
Esse aqui é um livro que eu achei na internet. São quatro capítulos, aqui tem
dois só que é um livro bastante famoso na internet. E conta a história de 1990 e 1991,
uns piratas cibernéticos invadiram os computadores provocando uma pane no sistema
de telefonia dos EUA inteiro. E esse livro vem contando a história desse
acontecimento e as repercussões que teve depois em toda internet [...]. Eu vi numa
revista de internet comentando sobre literatura cibernética que esse era um dos
melhores livros que estavam disponíveis na internet. Inclusive ele foi feito para ser
distribuído livremente. Ele não foi feito para ser impresso no papel. (Vítor)
Leio na internet, leio mais em inglês, eu também leio livro, eu estou lendo um...
o que eu estou lendo em inglês, também estou lendo um livro em inglês que é “As
viagens de Marco Polo”( Maria).
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E assim... a gramática, essas coisas assim, até que dá uma ajuda, apesar de
eu não saber muita gramática, deu uma boa ajuda esse curso de inglês. Claro que.. eu
achei, assim, meio...muito lento, o aprendizado meio lento, para aprender pouca coisa
[...]Depois que eu comecei a mexer na Internet eu aprendi coisas muito mais rápido e
muito mais fácil.[...] eu tenho nessa conversa aqui, o tempo real, então eu tenho que
responder na mesma hora, daí eu tenho que me virar com o que eu tenho, pego
palavra na hora, procuro no dicionário rápido, sabe, essas coisas. Tento me virar daí
...está até rendendo mais.( Marcelo)
Eu acho hoje em dia muito mais fácil uma pessoa que não teve a oportunidade
de morar fora, conseguir falar um inglês bom do que antigamente, entendeu, porque
minha mãe fez assim, quando era nova, mas não sabia falar muito bem. Agora, tem
assim, além dos cursos estarem melhores, assim, você tem... acho que a internet
ajuda muito, porque eu tenho assim amigos que só conversando na internet falam
inglês que eu acho assim excelente, sabe?[...]É porque eu acho se na internet se você
não souber falar inglês, você fica muito limitado (Maria).
Ah, eu tenho muita facilidade com inglês. Eu gosto muito, meu avô também ele
entende, me passa sempre... ele assina revistas que não tem traduzidas, vêm em
inglês e ali está sempre me passando e eu procuro sempre ler. Livros em inglês,
também eu é bom pro meu vocabulário... eu pego livros no meu curso de inglês...Eu
vejo inglês é... mais como uma variação, por exemplo, eu fico em casa, quando eu não
estou escutando música, fazendo as minhas atividades que sejam preferidas, eu uso o
inglês pra fugir daquela rotina, é despertar sua mente, aí você varia um pouco, você
conhece um pouco da cultura deles, então eu acho isso muito bom.[...] eu também
procuro pegar filmes que não tem legenda, nem tradução , pra ver se eu estou... como
é que está o meu inglês.. e tal, isso é muito bom (Danilo).
Marcelo diz que escreve na internet com prazer, adora escrever nas listas
de discussão que em sua maioria utilizam o inglês como forma de comunicação.
Guilherme considera emocionante escrever em inglês e mostra entre os textos
pessoais que usa para falar de seus sentimentos e dos acontecimentos do dia a dia
alguns escritos em inglês.
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3-Jogando RPG
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Quando a gente começou a jogar, a gente nem se conhecia direito, a gente não
era amigo, não era nada, era colega, a gente se reunia pra jogar porque não tinha
muita gente que gostava de jogar RPG, então a gente se reunia para jogar o jogo, não
é para conversar, para nada.[...] Depois de quatro anos a gente ficou virando amigo,
essas coisas... (Marcelo)
Para falar de RPG, esta nova forma de lazer que vem ocupando os dias
dos adolescentes, ninguém melhor do que eles mesmos. Vou reproduzir aqui
alguns diálogos ocorridos durante as entrevistas:
-Marcelo:- É , normalmente, não é só o trabalho. Você tem que pensar no que vai
fazer, tem que ficar um negócio legal, não adianta você fazer só ... uma coisas que
começa a ficar repetitiva, até que vocês estavam reclamando demais por causa disso,
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estava sempre a mesma coisa. Daí tinha que pensar mais, alguma coisa, tivemos que
trocar de ambientação, essas coisas todas. Aí, assim, isso dá trabalho, né?
- Vítor: Mas é bom.[...] eu gosto das duas coisas (cinema e RPG) Porque numa você
vai fazendo uma história já planejada, você tem um tipo de divertimento e noutra você
construiu uma história, é outro tipo de divertimento. Os dois são interessantes.
- Maria Teresa: Quer dizer que você por exemplo no cinema e na TV tem um história
pronta e no RPG você é construtor de uma história.
Para jogar RPG há necessidade de comprar livros caros que trazem todo o
material do jogo. Há um livro básico que dá os elementos principais e os
suplementos que dão os argumentos e favorecem a construção dos personagens,
ajudando-os a ambientar e organizar a trama da história que depois é desenvolvida
por eles mesmos.
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com meu amigo. Ele falou que tinha umas páginas ali de um a duzentos que você vai
saber tudo. Aí eu li até seiscentos e depois, fui pegando mais. Por isso eu comecei a
ler. (Marcelo)
Assim, em função do jogo vão aos livros e são capazes de enfrentar até
seiscentas páginas movidos pela curiosidade e interesse despertado pela
necessidade de participar da montagem da aventura exigida pelas regras do RPG.
Normalmente, em vez se limitarem aos suplementos, preferem um livro relacionado
ao assunto do jogo que dará subsídios para a construção da história. Existem livros
de ficção científica, de terror, que são usualmente lidos e depois aproveitados para
ambientar episódios do RPG.
É porque você tem que ler muito, várias páginas, e além disso, você tem que
entender a história inteira, uma trama, às vezes longa, essas coisas, aí fica difícil...
[...]Às vezes leio um livro transformando-o para o Rpg.[...]Nós começamos a fazer
uma aventura desse livro Desespero do Stephen King. O livro é a história de várias
pessoas isoladas, elas estão viajando por vários motivos. Aí elas encontram um
policial louco...numa estrada. Quando eles estão passando perto da cidade Desespero
, esse policial louco leva essas pessoas pra cidade deserta e aprisiona todo mundo. E
esse livro conta a história dessas pessoas tentando fugir da cidade e fugir do policial.
Aí eu pensei em fazer uma aventura de RPG baseada nesse livro.[...] Os jogadores
seriam os viajantes que seriam aprisionados e eles tentariam fugir da cidade, aí o
mestre coordenaria as ações dele e comandaria o policial (Vítor)
Vítor visita com freqüência uma livraria da cidade, que oferece uma boa
variedade desse tipo de livros e desse autor. Estes são volumosos e custam em
média 40 reais. Há na cidade livrarias especializadas que além de vender os livros e
material de suporte, oportunizam a criação de grupos e oferecem espaço para as
partidas que reúnem os adolescentes.
Parece pois que o RPG leva a uma leitura direcionada aos temas
propiciados pelos jogos. É uma leitura que alimenta a fantasia para o desenrolar da
trama. Há também uma prática de escrita durante o jogo pois os participantes
preenchem formulários e anotam uma espécie de diário do personagem
descrevendo suas ações. Estes formulários podem ser preenchidos à mão num
texto manuscrito, mas também no computador, existindo até programas especiais
para isto.
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4-Lendo livros
Deparei-me com relatos que falavam de uma leitura de livros que de certa
forma acompanhavam o seu interesse pelo mistério, o suspense, o imprevisível.
Assim vou colhendo alguns depoimentos:
Eu estou lendo agora um livro do Stephen King e... eu gosto mais deste tipo de
literatura mais romance, ficção. Eu não gosto muito de.. livros é.. mais drama, mas não
ficção. Eu gosto mais de histórias. Tem um mistério, suspense, alguma coisa assim...
[...] Meu autor preferido é o Stephen King, mais livro de terror, eu gosto muito. Mas
tem o Michael Crichton. (Vítor)
Eu tenho um amigo que ele tem muitos livros de ficção científica, daí foi uma
mão na roda, né? Livro de graça! Daí eu peguei para ler que tem uma serie de seis
livros chamada Duna, eu já li os três primeiros e vou pegar os outros três depois para
ler, com ele[...]Eu acho que vou ler ficção científica até eu completar uns, assim,
dezenove anos, porque tem tanto livro e não vou perder a chance de pegar livro de
graça com ele, então...(risos)( Marcelo)
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[...] Minha casa parece uma biblioteca[...], minha mãe tem um monte de livro,
então, acho que quando eu era pequena eu ficava folheando assim.... Minha avó tem
uma casa que tem .. ela tem um monte dessas coleções Monteiro Lobato, Jorge
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Amado, tem um monte... Meu pai também tem muito livro... acho que lá em casa tem
muito livro, então eu acho que isso ajudou muito, (Maria)
O contato diário com os livros, tendo à sua mão uma variedade de ofertas,
talvez tenha lhes permitido uma ampliação e diversificação de seus interesses.
Parecem hoje ter o gosto pela informação envolvendo-se na leitura de revistas e
jornais brasileiros que são assinados pelos pais. Maria diz que prefere ler jornal a
assistir o noticiário da TV, que acha muito sensacionalista. Lê a ―Folha de S. Paulo‖,
a ―Veja‖ e muitos livros. Ela se refere à mãe como a pessoa que a levou a gostar de
ler:
A coisa que minha mãe mais gosta de fazer é ler. Desde pequena eu lembro
dela lendo assim. Quando a gente foi lá para os Estados unidos, ela foi para escrever
a tese, ela ficava dia inteiro na biblioteca pegando coisa para a tese dela, então ..tudo
isso. Lá ela levava a gente para ver biblioteca, essas coisas... Acho que foi isso [...]
minha mãe lê muito, então, assim, acho que ela foi a principal assim na minha vida
para eu começar a ler. Me estimulou muito[...] eu leio geralmente assim, minha mãe
fala: ah!, esse livro é bom, ela compra para mim. Aí, por exemplo, eu li Cem anos de
solidão. Agora estou lendo Incidente em Antares e ela comprou para mim um outro. ..é
do Mário Vargas, esqueci como é que se chama[...] Fora dos que eu me interesso
assim, grande parte dos que ela compra para mim, eu gosto.
E Maria vai lembrando de sua infância, do primeiro livro grande que leu,
dado pela mãe.
Fora aqueles livros Pato Bola, aquelas coisas assim, aí eu nunca tinha lido um
livro grande assim, consideravelmente grande, aí eu já tinha visto o filme da Disney,
Pollyana, aí minha mãe me deu. Aí, ela assim ficava lendo às vezes comigo assim
para eu ler porque senão eu não lia. Depois de um tempo eu já ficava assim doida
para ler de novo querendo saber o que ia acontecer... tem livros assim que te prendem
mesmo.
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livro.[...] Falou-me, de forma animadora e séria de como era lindo ler. Leu-me
uma das histórias; tão bela como esta seriam as outras histórias do livro. Agora
eu devia tentar lê-las, e a noite eu lhe contaria o que havia lido. Quando
acabasse de ler este livro ele me traria outro.[...] Ele cumpriu sua promessa,
sempre havia um novo livro e não tive que interromper minha leitura um dia
sequer.[...]quase tudo aquilo a que devo minha formação estava nos livros que
por amor de meu pai, li aos sete anos de idade (1987, p.50).
Agora, por exemplo, um livro, vou dar o “Cem anos de solidão”, como um
exemplo de novo (risos)[...] O livro, assim o final te dá uma paz, assim, sabe? É ótimo!
Aí eu ficava todo dia, pegava a última frase... a frase e lia de novo, sabe? Porque eu
achava ótimo, assim, porque quando você pensava ... no livro todo, você via igual um
filme passando na sua cabeça, você via aquele final assim[...] Emprestei para minha
amiga agora, mas acho que ela nem leu, mas...antes de emprestar para ela, eu ficava
lendo todo dia a última página assim.( Maria)
Eu não gostava muito de ler não. Eu tenho uma amiga, Maria , ela lê bastante.
Aí ela começou a me obrigar a ler, entendeu? Ela pegava os livros dela (risos) Oh ,
você tem que ler esse livro, sabe?[..] Aí eu lia, aí eu gostava, aí eu sondava se ela não
tinha outro para me emprestar. Aí ela me obrigava a ler outro. Aí eu comecei a ler
assim mais regularmente. Antes eu não lia nada. (Guilherme)
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Tem uns autores assim, um negócio obscuro [...] um negócio assim muito
clássico pra mim[...] aqueles livros que têm aquelas capas vermelhas com uns
negócios dourados... [...] Deixa eu ver se eu lembro dos nomes dos autores..
Kafka.....[...] é muito inteligente para mim.[...] Estou lendo três livros agora. [...] eu só
leio, eu leio quando eu estou gostando do livro, quando o livro começa a ficar chato,
eu paro e começo outro .[...]Estou na metade, não, mais da metade, do “Beijo da
Mulher Aranha”, na metade do “Confesso que eu vivi” e eu peguei um livro lá( na
biblioteca da sua casa) “Iniciações tibetanas” porque eu achei bonitinha a capa(risos) e
eu já li três capítulos (Guilherme).
Maria revela que ao iniciar uma leitura o faz devagar até que o entusiasmo
chega e a faz não soltar mais o livro.
Tem uns livros assim que te prende mesmo. O Mundo de Sofia eu ficava assim
lendo no sábado o dia inteiro lendo porque eu não agüentava de curiosidade, assim
para saber o que ia acontecer. O Cem anos de solidão, assim porque todo livro...eu
nos inícios dos livros eu sou bem preguiçosa, porque eu não estou entendendo a
história. Aí eu leio todo dia assim de noite para não ir perdendo. Mas tem dia assim,
tem semana que não dá pra você pegar nem uma vez porque está cheio de coisa para
escola....[...] mas Cem anos de Solidão é o melhor exemplo que eu posso dar porque
foi o livro que eu mais gostei.[...] No final dele, ficava assim, o dia inteiro assim, lia
assim, três horas assim direto no livro porque ficava doida para saber... o livro é muito
bom, você não consegue parar de ler! (Maria)
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também ―O homem que calculava‖ de Malba Tahan. Todos eles já sabem caminhar
por entre as páginas de um livro encontrando prazer nessa deliciosa aventura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Benjamin, W. Obras Escolhidas II- Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense,
1987.
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
Sarlo, B. Cenas da Vida Pós Moderna. Rio de Janeiro, Ed. da UFRJ, 1997.
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NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
1 Introdução
1
Pediu-se, por exemplo, aos vestibulandos que relacionassem o título ORDENHA DE ESTURJÃO
com o significado global do seguinte texto, extraído da Revista Veja: "Duas empresas russas que
comercializam caviar anunciaram ter descoberto um novo método de extração do produto que
evita a morte do esturjão. Pela técnica o peixe recebe uma injeção de hormônio que estimula a
ovulação e posteriormente é submetido a uma espécie de cesariana para que as ovas sejam
retiradas. Feito isso o esturjão volta para a água e pode viver normalmente. „Obter caviar será o
mesmo que ordenhar uma vaca‟, diz a pesquisadora Elena Tchertova, uma das responsáveis pelo
novo método. Tradicionalmente o peixe é morto para a retirada das ovas. O principal objetivo da
técnica agora apresentada é evitar a extinção dos esturjões do mar Cáspio - eles têm sido mortos
sistematicamente por aqueles que os comercializam para a produção de caviar."
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
Diante desses fatos, uma questão básica pode ser levantada: que
concepções de língua, linguagem, discurso, alfabetização ou letramento teriam
essas professoras do ensino básico e, por extensão, muitos professores dos outros
graus subseqüentes de ensino de 1º e 2º graus, que talvez estivessem se refletindo,
ao final de 11 anos de aprendizagem de língua materna, na dificuldade de os
vestibulandos interpretarem questões (ou produzirem textos na, chamada
tradicionalmente, Prova de Redação) que fujam à visão de um ensino sistêmico ou
lógico-gramatical da língua materna?
É justamente, fugindo dessa visão para uma perspectiva discursiva que olha a
língua como enunciação (oral/escrita), a partir de uma situação concreta de
uso/produção da língua, mediada por gêneros discursivos diversos, que devem ser
reificados como objetos de ensino num processo em que o texto seria sua unidade
primeira de ensino, que os PCNs, em vários momentos, apontam, estabelecem
diretrizes, parâmetros para uma organização progressiva curricular, e não apenas
gradual. Alguns excertos, presentes nos PCNs, resumem minhas palavras (p.8): "O
discurso, quando produzido, manifesta-se lingüisticamente por meio de textos /.../
que só podem ser compreendidos como unidade significativa global, isto é, quando
possuem textualidade." E ainda "Todo texto se organiza dentro de um determinado
gênero, formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura,
caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção
composicional."
Além disso, está muito clara nos PCNs a noção do que significa produzir
linguagem ou linguagens, como atividade e prática socio-histórica viva e reflexiva
(p.7): "Produzir linguagem significa produzir discursos: dizer alguma coisa a alguém,
de uma determinada forma, num determinado contexto histórico e em determinadas
circunstâncias de interlocução. Isso significa que as escolhas feitas ao produzir um
discurso não são aleatórias - ainda que possam ser inconscientes -, mas
decorrentes das condições em que o discurso é realizado."
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
Nesse sentido, aprender uma língua na sua expressão oral e escrita implica
um ensino sistematizado, cuja operacionalização passa pela criação de um espaço
potencial de desenvolvimento (ZDP, Vygotsky, 1930), em que as propostas de
situações de ensino interativas (não necessariamente harmônicas/simétricas) sejam
eficazes e mediadas por seqüências didáticas que instaurem a relação entre
apropriação de certas práticas sociais de linguagem, acumuladas historicamente, e
os instrumentos que facilitariam a apropriação - o gêneros - (Bakhtin, 1953), aliados
a certas capacidades de linguagem dos domínios sociais de comunicação:
NARRAR, RELATAR, EXPOR, ARGUMENTAR E PRESCREVER AÇÕES (Pasquier
& Dolz, 1996).
das suas formas concretas mais primitivas e simples (pessoais e privadas) para as
mais complexas e tardias (públicas).
2
Estamos usando "significado" e "significação" indiferentemente, pois a palavra russa original é a
mesma em Vygotsky (1934) e Bakhtin (1929), embora os tradutores tenham usado uma e outra,
respectivamente.
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
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É nesse sentido que Bakhtin (1953:311) diz que a significação da palavra, por
si só, é extra-emocional, ou seja, a emoção, o juízo de valor e a expressão são
coisas alheias à palavra como forma neutra lingüística/lexicográfica, "e só nascem
graças ao processo de sua utilização ativa no enunciado concreto". Nosso discurso
é construído no diálogo com o outro, como um todo enunciativo, com uma intenção
discursiva e sob a forma de um gênero definido. E a(s) palavra(s) que escolhemos
para a elaboração do enunciado, tiramo-la(s) de outros enunciados genéricos
(gêneros primários ou secundários). Conforme o autor:
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genérico, comum a muitos gêneros textuais, cuja função operacional deve ser vista
sob o ponto de vista enunciativo-discursivo, como um dos fatores de complexificação
discursiva dos gêneros, que estou interpretando como instrumentos semiótico-
psicológicos de que o aprendiz deve se apropriar, levando em consideração as
características do contexto e do referente. Nesse processo vai desenvolvendo,
progressivamente, sua capacidade lingüístico-discursiva, e pelo uso ―vivo‖, concreto
e adequado das unidades lingüísticas, vai assimilando-as expressivamente na
alteridade verbal e social.
3 Segundo Pasquier & Dolz (op.cit) ―... aprendizagem em espiral refere-se a um ensino-
aprendizagem, em todos os níveis escolares, da diversidade discursiva (narração, explicação,
argumentação, descrição, e diálogo). O que varia de um nível escolar a outro é, de um lado, o
gênero textual (conto de fadas, relato de experiência, lenda, relato histórico, narrativa de enigma,
etc.) e, de outro lado, as dimensões textuais estudadas (uso dos tempos verbais; uso dos
organizadores textuais; progressão anafórica; esquema dos actantes - papel dos personagens -;
estrutura narrativa; pontuação, etc.)‖.
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(1) A cabra
A cabra dá leite.
(2) O coelho
O coelho é branco.
3) O cachorro
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(4) O animal
Eu me chamo toto.
Eu tenho penas.
Eu tenho um bico.
Eu gosto de asoviar.
(5) O animal
Eu me chamo Leleca.
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Num outro texto (folha avulsa retirada de um livro didático de 2 ª série - escola
de MG -), vêm explicitamente escritas as palavras COMEÇO, MEIO, FIM, numa
atividade de redação, baseada numa seqüência de gravuras em que há um grupo de
crianças brincando fora de casa, até que começa a chover, quando então elas
correm para dentro de casa para continuar brincando. O resultado é este (texto 8),
transcrito ipsis litteris:
REDAÇÃO
COMEÇO AS CRIANÇAS (TÍTULO)
AS CRIASA LAFORA
COM VERSADO.
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AS CRIANSAS CORRERO
PARACASA
COMECOU ACHOVER
PAROU DE CHUVER
E CHEGOU O SOU.
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Aliás, essa é outra prática comum nas salas de aula. Debate-se um tema
(drogas, aborto, cigarro, ecologia, etc.), geralmente nas semanas ou dias
institucionalizados, fazem-se projetos maravilhosos, envolvendo todas as disciplinas,
mas na hora da produção textual, a transposição didática de gêneros sociais
(produção de panfletos, slogans, artigos de opinião, etc. ) não é feita com clareza
para o aluno que não sabe direito que tipo de texto deve produzir e faz uma salada
de gêneros, o que provam, entre outros índices, as más estruturações discursivas
dos textos e as más escolhas lingüístico-discursivas.
Assim, por exemplo, o possível ―texto de opinião‖ (?) A Luta (produzido por
uma aluno de 4ª série) é uma salada de frases soltas, cheia de ―chavões alheios‖
também soltos (talvez de portadores de textos diversos lidos em sala de aula). É um
texto que não parece uma coisa nem outra. Inclusive, as últimas frases (imagine se
não existissem árvores, o Bicho homem dá um tempo por favor) não são enunciados
típicos de um texto de opinião. O uso do modo verbal (imagine... dá...), numa
interlocução direta (fática) também soa estranho num texto desse tipo. O título ―A
Luta‖ também não se adequa ao todo enunciativo. Realmente uma péssima escolha
lingüístico-discursiva, como se pode ver no texto 9:
A luta
A luta para salvar a natureza das garas do bicho homem que destroi
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Cigarros
O cigarro é uma coisa que pode acabar com sua vida. Você pode
parar no hospital por causa disso pode Ter um infarto fuminante
porisso não usa cigarro pode acabar com a sua vida isso é uma droga.
Em relação aos dois textos acima, até que podemos elogiar a intenção dos
professores em trabalhar a argumentação nas séries iniciais do 1 º grau, mas não
assim numa produção sem organização dentro de um determinado gênero
operacionalizado em uma situação de enunciação interlocutiva concreta, ou, pelo
menos, virtualmente, possível (o virtual não é a negação do real), como
exemplifiquei à pagina 4, primeiro parágrafo.
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
* CARO CHICO, (com vírgula e tudo), foi o título da reportagem da ISTOÉ quando
do Caso MARKA, envolvendo o sr. Francisco Lopes, ex-presidente do Banco
Central, e o sr. Alberto Cacciola, dono do Banco Marka, que teria escrito uma
carta a Lopes, de próprio punho, comprometendo-o, já que pedia favorecimentos
na época da desvalorização do real, em fevereiro de ´99.
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GOSTOSA PORCARIA
O porco Tony moeu uma lata de cerveja dada a ele por um visitante do
O XOU DA XUXA
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
“Jay-too”
Em síntese, os títulos dados aos textos a que me referi não são meros
enfeites ou meras escolhas lingüísticas aleatórias, mas são enunciados polifônicos e
plurissêmicos, discursivamente produzidos em situações de produção concretas, em
outra esfera ou instituição social ―pública‖ – a mídia. Esses títulos contemplam o
significado global/total do texto produzido e foram elaborados, dialogicamente, na
interação verbal e social real de uso lingüístico-enunciativo ―vivo‖, sob uma forma de
gênero específico. Assim sendo, tem-se o funcionamento da linguagem em
situações concretas de comunicação, mas não artificiais, como acontece muitas
vezes na instituição escolar, onde ainda predomina a concepção de que alfabetizar é
aprender a ler e escrever enquanto aquisição ou apropriação de uma tecnologia. Ler
e escrever vai mais além. É letramento. É letrar-se. E letrar-se implica ensino-
aprendizagem de práticas sociais de leitura e escrita. É fazer uso freqüente e
competente de leitura e escrita. Aquela, um processo de construção de interpretação
de sentidos de textos escritos diversos. Esta, um processo de expressar e organizar
o pensamento em língua escrita, ou seja, transmitir significados a um leitor, de forma
adequada. É apropriar-se de um conjunto de habilidades lingüísticas e psicológicas
(cognitivas e metacognitivas) e comportamentos que compõem um longo e
complexo continuum que vai da capacidade de ler um simples bilhete, histórias em
quadrinhos, romances, jornais, etc., ou escrever o nome, bilhetes, cartas, textos
narrativos, argumentativos, ensaios, etc.. É ir além do gênero escolar ou do
letramento escolar que não condiz com as práticas sociais de leitura e escrita fora da
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Dolz, J.; A. Pasquier & J.-P. Bronckart (1993) L´acquisition des discours: Emergence
d´une compétence ou apprentissage de capacités langagières? Études de
Linguistique Appliquée, 102: 73-86.
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
Vygotsky, L.S. (1930) A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,
1994.
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Introdução
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A partir dessa proposta, estudar o texto implica em estudar mais que seus
elementos ou suas partes: implica em estudar sua gênese, "dentro de um
determinado gênero, em função das intenções comunicativas" dos locutores
envolvidos na interação, isto é, sua situação de produção. Adotar a posição dos
PCNs, implica na necessidade de distinguir gêneros e textos: se os gêneros
constituem os textos, onde estão as diferenças entre uns e outros?
1 Esse grupo é formado por alunas do curso de pós-graduação de mestrado e doutorado LAEL-
PUCSP que atuam em sala de aula e em formação efetiva de professores em diferentes
instituições.
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
de que a escrita não é um processo que se realiza apenas pela apreensão do uso
correto da gramática e da ortografia, pela manutenção de uma seqüência temporal
(começo, meio, fim: primeiro aconteceu isso, depois aquilo, depois tal coisa finaliza a
"história"), pela clareza do texto produzido para o leitor (ausência de repetições -
que, aliás, podem ser um interessante recurso estilístico; ausência de discurso direto
e da mudança de tempo verbal ou da mudança de foco narrativo, etc.), coerência
(entendida como manutenção da linearidade e ausência de subjetividade).
A ação de formação objeto deste artigo foi realizada em uma escola municipal
de São Paulo, que possui aproximadamente 2.000 alunos e cerca de 100
professores, incluindo suplência. O trabalho foi realizado em razão da solicitação de
um grupo de professores da escola, na pessoa de uma de suas professoras,
integrante deste grupo de trabalho.
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PRATICANDO OS PCNS: DOS PARÂMETROS CURRICULARES
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Primeiro encontro
2 Optamos por utilizar a denominação "conto de fadas" para a história Chapeuzinho Vermelho, ainda
que tal denominação não seja utilizada universalmente.
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
A instrução dada a esse grupo foi que, a partir do assunto violência contra a
mulher, produzisse uma versão do conto Chapeuzinho Vermelho. A intenção era a
de verificar se as professoras responsáveis por essa produção manteriam os
aspectos definidores do gênero em questão em sua escrita.
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PRATICANDO OS PCNS: DOS PARÂMETROS CURRICULARES
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
O chapeuzinho moderno
“Era uma vez uma garota chamada Simone. Ela tinha quinze anos, alta,
magra, cabelos longos.
Numa tarde de domingo ela foi com seu grupo numa danceteria, Moinho
Santo Antônio. Seu pais a orientaram sobre algumas atitudes e precauções.
Simone não deu a resposta de imediato, procurou seu grupo para pedir
opinião se deveria aceitar ou não o convite. Algumas colegas acharam que ela
deveria ir, outras não, reforçando as orientações dadas pelos seus pais. Ela,
então, decidiu "ficar" com o rapaz na danceteria.
Simone não deu a resposta de imediato, procurou seu grupo para pedir
opinião se deveria aceitar ou não o convite. Algumas colegas acharam que ela
deveria ir, outras não, reforçando as orientações dadas pelos seus pais. Ela,
então, decidiu "ficar" com o rapaz na danceteria.
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"Havia, numa cidadezinha, uma menina que todos achavam muito bonita"
(...) "Por causa dele, ela ficou sendo chamada, em toda parte, de
Chapeuzinho Vermelho"3.
- Eu vou ver minha avó levar pra ela uma torta e um potezinho de
manteiga que minha mãe está mandando."
"Convidou Simone para dançar e mais tarde sugeriu que fossem para um
lugar mais tranqüilo, fora da danceteria."
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
- Pois bem, - disse o Lobo, - eu também quero ir ver sua avó. Eu vou
Eu vou por este caminho daqui e você vai por aquele de lá. Vamos ver
quem chega primeiro."
"Simone não deu a resposta de imediato, procurou seu grupo para pedir
opinião se deveria aceitar ou não o convite. Algumas colegas acharam
que ela deveria ir, outras não, reforçando as orientações dadas pelos
seus pais. Ela, então, decidiu "ficar" com o rapaz na danceteria.
- O das agulhas.
Pam, Pam.
- Entre, querida.
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Na versão das professoras, a história tem um final feliz, que premia, de certa
forma, o comportamento ajuizado de Simone, pleiteado por quem escreve:
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Notícia
"Pra que tipo de jornal vamos escrever?" "É um jornal sério ou um jornal
sangrento?" "Ela tem que causar impacto, de qualquer forma." "Tem que
decidir o conteúdo." "Vamos pensar no título?" "Não, não pode ser tão
longo..." "Criança grávida...não, está muito subjetivo." "Vamos por as
iniciais do nome da menina." "Vamos escrever, então, cada um de nós
faz um rascunho." "Querida redatora, seu repórter fez a notícia."
"Jornalista tem um grande poder na mão, ele pode contar o fato por seu
ponto de vista."
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PRATICANDO OS PCNS: DOS PARÂMETROS CURRICULARES
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“O caso da menina M.L.S., que realizou um aborto após decisão judicial tem
agora um novo dado.
Algumas hipóteses para esse resultado são: instruções pouco claras dadas
pelo grupo de pesquisa; gênero conto de fadas já transformado pela escolarização 3;
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a forma escolarizada que o conto de fadas já assumiu, poderia ser a mais familiar às
professoras, que a reproduziram. É também interessante observar que o grupo que
escreveu a notícia era formado por professores de história, geografia e ciências, que
não "ensinam a escrever"; as professoras que usualmente ensinam a escrever
parecem ter sido mais influenciadas pela escolarização do gênero.
Segundo encontro
Considerações finais
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bakhtin, M. (1979) Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
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Apresentação da questão
O fato de os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) estabelecerem o
gênero como unidade básica organizadora da progressão e da diversidade no
ensino para o currículo de Língua Portuguesa, a partir de textos, impõe, de
imediato, a necessidade de se atualizar tanto professores em exercício como
futuros professores em formação, ensinando-lhes, simultaneamente, a teoria e a
prática subjacentes aos PCNs.
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1. Conteúdos Atividades
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1. Conteúdos Atividades
2. Procedimentos metodológicos
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4. Material inicial: fita de vídeo com a entrevista concedida pelo maníaco do Parque
Ibirapuera em São Paulo; a estória de Chapeuzinho Vermelho; textos relativo à
violência sexual contra a mulher, nos gêneros crônica e entrevista; - comanda da
atividade;
7. Situações de produção:
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repórter escreve notícia sobre violência sexual cometida contra uma mulher em
um determinado veículo de comunicação, dirigida a um determinado público
(gênero notícia de jornal).
mulher (jovem ou idosa) relata, em seu diário íntimo, violências sexuais sofridas
por ela ou por alguém (gênero: diário íntimo)
2.2. Atividade 2:
5. Metodologia:
6. Cronograma da atividade
8. Bibliografia
Identificação do trabalho
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Caracterização do gênero:
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Crônicas selecionadas: (1) Mendes Campos, Paulo. ―Os diferentes estilos‖. Em:
Para Gostar de Ler – Crônicas. São Paulo, Ática, 1979, vol.4, págs. 39-42 (
transposição didática); (2) Lara Resende, Otto. ‖A chave do mistério’. Em: Bom
dia para nascer – crônicas . São Paulo, Companhia das Letras, Ed. Schwarcz,
1993, cáp. 1, pág. 18; (3) Veríssimo, Luís Fernando. ―Hipóteses‖. Em: Novas
comédias da vida privada – 123 crônicas escolhidas. Porto Alegre, L&PM, 1997,
11ª edição, cap, 1, págs. 11-14.
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Conteúdo programático
Objetivos
Material inicial:
comanda da atividade.
Metodologia
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Avaliação
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Identificação do trabalho
Conteúdo
polifonia e intertextualidade;
Objetivo
Metodologia
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Apreciação das propagandas pelo grande grupo e escolha dos trabalhos que
melhor se aproximam das características por eles estabelecidas como
pertencentes ao gênero.
4. Reflexões finais
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PRATICANDO OS PCNS: DOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
Embora ainda haja muito a ser feito pela educação pública brasileira,
sobretudo no que diz respeito aos níveis fundamental e médio, cabe ressaltar
algumas ações políticas efetivadas na direção da busca da melhoria da qualidade de
ensino e da diminuição dos índices de evasão. Dentre essas ações, vale destacar a
elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais e de outros documentos de
referência curricular elaborados por estados e municípios, a implementação de
sistemas de avaliação de ensino – SAEB, provões - e a criação de uma sistemática
de avaliação pedagógica de livros didáticos no PNLD. Sem dúvida nenhuma, essas
ações representam um avanço considerável, mas, até para que seus efeitos possam
ser potencializados a médio e a longo prazos, fazem-se necessárias outras
modalidades de intervenção. Dentre estas, consideramos que a formação
continuada de professores e demais educadores deva ser privilegiada, sem o que, a
prática de sala de aula não sofrerá mudanças substanciais na direção pretendida.
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A elaboração do Projeto contou com uma equipe de gestão, que para ele
definiu os seguintes princípios básicos:
4 O Pólo 3 cobre as seguintes Delegacias de Ensino: 10ª, 11ª, 21ª, Itaquaquecetuba, Suzano e Mogi
das Cruzes.
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PRATICANDO OS PCNS: DOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
ações onde os participantes eram agrupados por área e/ou por função, que
consistiram de: (a) encontros de professores envolvidos no Projeto com
5 A escolha das séries escolares, bem como das áreas curriculares que seriam contempladas, foi
determinada a partir de uma demanda apresentada pelas Delegacias de Ensino envolvidas no
Projeto, baseada, por um lado, no fato de que estas séries tinham sido muito pouco contempladas
em projetos de formação anteriormente desenvolvidos e, por outro, nos dados relativos aos altos
índices de repetência e evasão existentes nessas séries.
6 Diretores, vice-diretores, coordenadores pedagógicos, supervisores de ensino e assistentes
técnico- pedagógicos.
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COORDENAÇÃO GERAL
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poucas situações de leitura e escrita fora do contexto escolar. Dessa forma, por
vezes, falta ao professor recursos para propor reconstruções de partes dos textos
dos alunos, para recortar o estilo de um texto para mostrar aos alunos, etc. Um
discurso oral ou escrito, tanto do ponto de vista de sua produção como de sua
compreensão, envolve diversos aspectos, que aparecem como um todo indistinto
para o aluno. Recortar esses aspectos e significá-los é papel do professor, que, para
fazê-lo, necessita ele mesmo perceber esses aspectos, significá-los e poder apreciá-
los. Esperávamos que ao trabalhar com as concepções de escrita e leitura do
professor e com as formas de apropriação das práticas culturais da leitura e da
escrita que este desenvolveu em sua vida, poderíamos fornecer mais condições
para que este pudesse intentar um trabalho que possibilitasse a apropriação dessa
prática por parte de seus alunos. Essa frente de intervenção contou com 24 horas
de trabalho, divididas em oficinas de 4 horas.
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PRATICANDO OS PCNS: DOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS À PRÁTICA DE SALA DE AULA
como forma de se garantir uma progressão curricular que os contemple ao longo das
séries escolares. Em função disso, diversas tipologias têm sido propostas, tendo em
vista critérios estruturais/formais (narração, descrição, dissertação, etc.) ou
funcionais (textos informativos, textos literários, textos apelativos, etc.). Ora,
baseadas só em aspectos estruturais e/ou funcionais, essas propostas ou deixam de
capturar aspectos da ordem da enunciação ou do discurso, ou, quando consideram
esses aspectos, fazem-no de maneira externa às classificações. Por isso, falham no
que concerne a importantes elementos do processo de compreensão e produção de
textos.
A noção de gênero do discurso tal como discutida por Bakthin - definida como
sendo uma cristalização de formas de dizer sócio-historicamente determinada -, por
incluir aspectos da ordem da enunciação e do discurso, pode contemplar de maneira
mais satisfatória o complexo processo de produção e compreensão de textos. A
noção de gênero permite incorporar elementos da ordem do social e do histórico
(que aparecem na própria definição da noção); considera a situação de produção
de um dado discurso (quem fala, para quem, lugares sociais dos interlocutores,
posicionamentos ideológicos, em que situação, em que veículo, com que objetivo,
finalidade ou intenção, em que registro, etc.); abrange o conteúdo temático e a
forma de dizer, que não é inventada a cada vez que nos comunicamos, mas que
está disponível em circulação social. Entender um gênero implica tratá-lo como algo
vinculado ao seu contexto sócio-histórico-cultural de circulação8.
Dessa forma, podemos então definir como ponto central, ao redor do qual se
articulariam propostas curriculares da área de Língua Portuguesa, o trabalho com
diferentes gêneros do discurso, em contraposição a um trabalho baseado em
diferentes tipos de texto.
8 Para uma abordagem mais completa dos gêneros do discurso, ver Volochínov/Bakhtin (1929) e
Bakhtin (1979).
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
9 Cabe ressaltar que aqui se está considerando tanto gêneros escritos como orais, estes últimos
freqüentemente ignorados pelas práticas escolares. Para uma abordagem mais aprofundada da
questão, que fugiria ao escopo do presente artigo, ver SCHNEUWLY (1994) e DOLZ. &
SCHNEUWLY (1996).
10 Denominado originalmente pelos autores ―descrever ações‖.
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11 Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, por exemplo, indicam como critério
de agrupamento de gêneros a esfera de circulação social a que cada gênero se vincula, propondo,
então, a seguinte classificação: gêneros literários, de imprensa, de divulgação científica e de
publicidade.
12 Ver, a este respeito, os artigos de Bräkling e de Rosemblat, neste volume (Nota da Organizadora).
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Em uma folha, escreva uma lista de todos os usos possíveis da “flor”, pelo
menos os que você conhece ou consegue imaginar.
Uma outra dificuldade que pudemos notar diz respeito ao fato de que muitos
professores não entendiam efetivamente o que vem a ser um trabalho com
gramática aplicada ao uso, ou, no dizer de muito deles, gramática aplicada ao texto.
Todos pareciam unânimes em concordar com a necessidade de se trabalhar
contextualizadamente com a gramática, o que nos pareceu ser fruto de ações de
formação anteriormente realizadas. Mas, muitas vezes, isso figurava somente no
discurso, já que, na prática, alguns entendiam que retirar palavras pertencentes a
certas classes gramaticais de um texto ou localizar funções sintáticas em partes do
texto seria trabalhar com gramática aplicada ao texto.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1 Temas controversos são aqui tomados como aqueles de ordem social inseridos num determinado
sistema de valores.
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Para responder à primeira questão, três blocos de textos foram analisados quanto
a:
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Sim, não há dúvida. Aliás, qualquer pessoa que tenha contato com crianças,
ainda menores, sabe o quão difícil é fazê-las desistir de uma idéia diante de uma
negativa. Em geral, exigem explicações e sabem bastante bem como contestá-las.
Partindo desse fato, a professora (da turma pesquisada) pediu aos alunos que
transcrevessem um diálogo fictício entre uma criança e seu pai ou mãe, no qual
houvesse discórdia sobre a compra de uma brinquedo, animal de estimação ou
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ROXANE HELENA RODRIGUES ROJO (ORG.)
guloseima. Buscava-se com isso um desenho sobre o DR dos alunos. Mas mais do
que delinear a capacidade argumentativa dos alunos, a análise dos textos revelou
alguns outros pontos bem interessantes.
Tri dimencional
Pai compra o video game tri dimencional vai purfa.
-Não, é muito caro.
-O que que têm que e caro compra vai
-Nao nao e nao
-E porque nao
-Eu ja te espliquei
-A vai compra
-Tabom você venceu
-Você e super legal
3 A diferenciação que fazemos aqui entre convencer (por meio de argumentação) e persuadir é a
mesma sugerida por Dolz (1995), para quem persuadir é mudar a opinião e/ou a atitude do outro,
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----------------------------------------------------
Prencha : sim____
não____
talves____
Como era de se esperar, nesse exemplar e nos outros textos, houve uma
significativa ausência de apelos, justamente porque a representação que se fez do
interlocutor não permitiu esse tipo de movimento. Mesmo considerando que nesse
caso também se estabeleceu uma relação assimétrica entre os interlocutores
(alunos e encarregado pelo material de apoio), não poderia haver, dada a esfera de
comunicação e o compromisso social de seus participantes, falta de justificativas,
tanto para pedir como para negar o pedido.
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Marcia Lopes,
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cordialmente 2ªB
Opinião
um pedaço de terra.
A icho que sim porque os indios não podem ficar porai andando
como pobres.
só para eles.
Por um lado nos achamos que sim porque os índios são seres humanos como
nós e merecem terra para caçar e para viver o modo de vida deles.
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Por outro lado nos achamos que não porque os fazendeiros tiverão o trabalho
de fazer a roça para eles e não para os ídios.
Mas dentre várias hipóteses a que pareceu mais relevante para explicar a
tomada das duas posições foi a difícil relação com a amplitude e pluralidade de
interlocutores, criada pela proposta ―didática‖ de jornalzinho de classe, destinado a
pais dos alunos da classe, colegas de outras classes de 2ª série e professores.
Dado que estes interlocutores poderiam ter posicionamentos diversos em relação ao
tema em discussão e, sabendo que deveriam polemizar o tema, tentaram buscar
justificativas para se contrapor às duas possibilidades, o que dificultou,
provavelmente, a construção de uma representação que permitisse as antecipações
necessárias para se enunciar nos movimentos de refutação e negociação.
As características desse gênero não são próximas às dos outros dois, mais
presentes na vida cotidiana e escolar das crianças. Foram, justamente, as
semelhanças e a não dicotomia entre as diferenças, que provocam efeitos positivos
no desenvolvimento nas manifestações lingüísticas dos discursos argumentativos.
Tanto no diálogo como na carta, a interlocução estava bem definida e era singular
(um único interlocutor) o que facilitou, provavelmente, ao enunciador, uma
antecipação da representação do outro em relação ao objeto em discussão.
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Se, por um lado, há linhas teóricas que consideram que a partir da somatória
de capacidades, advindas de um amadurecimento neuro-cerebral, o indivíduo é
capaz de realizar uma ou outra atividade, por outro, há as que pressupõem que a
maturidade cognitiva - capacidade de realizar determinadas operações mentais - é
fruto da interação social do sujeito. Naturalmente, à que se filia esse trabalho é a
segunda vertente, o que não quer dizer, porém, que uma criança pode compreender
a complexidade de um objeto sem antes ter tido a oportunidade de construir
conhecimentos que a ajudem na elaboração de outros mais complexos.
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Os indios e a escola
Outra rasão para les pensarem assim é que eles se sentiriam presos
em uma sala de aula (apesar do recreio) .
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6. Outras considerações
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bajtín, M. (1974) ―Hacia una metodología de las Ciencias Humanas‖. In: M. Bajtín
(1992) Estética de la Creación Verbal: 248-193. México/España/Argentina
/Colombia: Siglo Vinteuno Editores, SA de CV., 1995.
Vygotsky, L.S. (1930) A Formação Social da Mente. SP: Martins Fontes, 3ª ed.,
1984.
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Introdução
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gêneros se torna praticamente inviável, que gêneros deve a escola priorizar como
objetos de aprendizagem? Por quê?
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publicidade: propaganda.
1 Dado o foco do trabalho, a análise centrou-se em torno do objeto da aprendizagem, o gênero. Sem
dúvida, no projeto pedagógico há um conjunto de critérios que vão direcionar a escolha dos
gêneros relevantes nas diferentes situações de ensino.
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esfera cotidiana
esfera artística
esfera religiosa
esfera científica
esfera jurídica
esfera jornalística
esfera escolar.
2 Para Bakhtin, há uma relação estreita e recíproca entre linguagem e ideologia. ―O domínio do
ideológico coincide com o domínio dos signos: são mutuamente correspondentes. Ali onde o signo
se encontra, encontra-se também o ideológico. Tudo o que é ideológico possui um valor
semiótico.‖ (1988, p. 32)
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8 Grifo meu.
9 Os PCNs indicam como projetos escolares : promoção de eventos de leitura em feiras culturais,
coletâneas de textos de um mesmo gênero, livro sobre determinado tema pesquisado, mural,
entre outros.
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especiais. A instituição escolar se constitui como lugar social que produz e difunde
conhecimentos, notícias, opiniões. Além de ser uma atividade que estimula o
trabalho coletivo, possibilita aos alunos o contato com as várias etapas de
elaboração do jornal, com os mecanismos da produção do discurso jornalístico. A
escritura do artigo (e dos outros gêneros) se efetiva não apenas através de
―simulações‖ da orientação social e da situação de produção, mas dentro de
condições autênticas similares10, que compreendem:
10 As condições não vão ser autênticas, reais, pois se está em outro lugar institucional, a escola, que
tem suas funções próprias.
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sociedade‖ (Melo, op. cit., 122), essa democratização se limita às classes sociais
hegemônicas, ou às ―lideranças emergentes‖, sendo que as pessoas das classes
menos favorecidas, sem destaque social, não se têm constituído como autores
previstos para o gênero artigo (sua voz estaria contemplada nas cartas?).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Considerações iniciais
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b) A compreensão do aluno com o qual trabalhamos como aquele que está num
momento sensível de reconstituição de sua identidade – a adolescência – no qual
valores são questionados, recusados, aceitos, abandonados, provocando uma re-
significação das relações que as pessoas passam a estabelecer com o outro, com
o mundo e consigo próprios.
c) A compreensão de que a escola é uma instituição social que tem como finalidade
ensinar, educar. Na área de Português, considerando as referências anteriores,
ensinar supõe, necessariamente:
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Dessa forma, a escolha pedagógica realizada foi por escrever, com a sexta
série, artigos de opinião.
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A organização do trabalho
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2 Dolz, J & B. Schneuwly (1996) Gêneros e progressão em expressão oral e escrita - elementos para
reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). Mimeo. Tradução de Roxane H. R. Rojo.
3 Idem nota anterior.
4 Idem nota 1.
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organizada, montada e publicada pela 6a série, tendo seu lançamento previsto para
a ―Feira Cultural‖ que a escola realizaria.
As atividades desenvolvidas:
O primeiro grupo trata das atividades que visam oferecer um suporte inicial
aos alunos na sua primeira produção. Trata-se de introduzir uma noção preliminar
dessa forma de organização discursiva com a finalidade de evitar que o
desconhecimento completo do gênero funcione como um fator ―perturbador‖ do
desempenho do aluno.
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* Em qual dos textos foi apresentado ao leitor o relato de um fato que realmente
aconteceu?
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Para esta atividade, organizamos uma apostila com cópias das produções dos
alunos e, tendo como parâmetro a caracterização já realizada, analisamos
coletivamente algumas delas.
5 Este tema não foi, na realidade, previsto no levantamento coletivo inicial, mas sim numa atividade
intermediária, preparada com a finalidade de discussão da forma pela qual diferentes autores
estabeleceram a progressão temática em seus artigos. Os artigos com esse tema, no entanto,
acabaram por compor a revista da classe.
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* falta alguma coisa para este texto ser considerado um artigo de opinião?
Para este projeto, pouco material conseguimos obter, a não ser aquele que se
referia à história da opinião no jornalismo em geral, e referências ao gênero
constantes de manuais de redação de alguns jornais de grande circulação em São
Paulo.
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* identificação de contra-argumentos;
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* apresentada uma situação enunciativa analisar, a partir de uma lista, que tipo de
argumento seria mais adequado utilizar para convencer aquele interlocutor
específico.
Este foi o momento de retomada dos registros realizados em cada uma das
oficinas ou atividades desenvolvidas, os quais sintetizavam os aspectos do
conhecimento que haviam sido abordados. A finalidade dessa retomada é a
organização de material de referência que possa auxiliar os alunos no processo de
revisão dos seus textos, quando estarão produzindo a versão final dos mesmos.
Estes registros orientam, ainda, a definição de critérios para a correção e avaliação
das produções finais.
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Produção Inicial
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(11) Meninas que não sabem como falar para os pais que carregam
camisinha na bolsa. E se elas não estão preparadas para dialogar
com os pais não estão preparadas para usar.
(12) propaganda MTV
(13) Em fim definimos que o sexo se identifica com a pessoa e com a
maturidade, não pela idade, mais sim pela cabeça que cada um
tem.
(14) - Nós fizemos uma pesquisa, para ver com quem foi a primeira
vez de adolecentes alguns responderam
(15) Fiquei com a menina e “rolou”
(16) Foi um menino da praia que eu estava de “rolo”
(17) Foi meu amigo do colégio
(18) Foi com uma prostituta
(19) Estas são frases de adolecentes que perderam a virgindade cedo
de modo deságradavel.
(20) - Perguntamos com que idade eles consideram um jovem
preparado para relação sexual
13 anos - 1.1
14 anos - 5.3
15 anos - 13.7
16 anos - 22.1
17 anos - 36.8
(21) - Uso da camisinha.
Sempre - 53.8
nem sempre - 38.5
nunca - 7.7
(22) Adolecentes que acham que a 1 vez, foi frustrante e outros acham
que foi inesquecível.
(23) São adolecentes que acham que pensam e fazem o que querem e
que nem sempre acontecera responsabilidades com eles, que já
uma transa é uma grande responsabilidade.
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Para a reflexão que ora realizamos, uma análise dessa natureza possibilita a
comparação da proficiência da aluna numa situação inicial de produção com a de
uma situação final, o que permite a identificação de saberes transformados na
direção de uma melhora de qualidade na produção do gênero. No entanto, a análise
que pretendemos realizar não pretende esgotar todos as possibilidades e nem ser
muito rigorosa; serão abordados os aspectos mais significativos para o objetivo da
discussão colocada neste artigo.
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A partir do parágrafo 14, a autora relata dados de uma pesquisa que, a julgar
pelo que foi colocado no parágrafo 14, teria sido feita pela dupla que pesquisou o
assunto. No entanto, são dados que conseguiram a partir da leitura da fonte.
Podemos, inclusive interpretar o travessão colocado neste e no parágrafo 20 como
marcas de introdução do discurso de outrem no discurso próprio, do texto da
reportagem no artigo de opinião.
O que ela não sabe é como fazer a articulação adequada entre os enunciados
de modo a garantir coesão ao seu texto, bem como a realização de uma progressão
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Na produção final a aluna não manteve o mesmo tema. Optou (e foi possível,
dada a organização do trabalho) por escrever sobre Pena de Morte, tema de uma
produção intermediária, não previsto no levantamento coletivo inicial. A questão
polêmica definida foi “A pena de morte pode ser a solução para o problema do alto
índice de criminalidade e violência do país?”.
Produção Final
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Rê (08/98)
Até agora, a análise mostra que os aspectos dos quais a aluna já tinha se
apropriado, mantém-se. A diferença evidente está na forma de organização textual e
do estabelecimento da progressão temática e na articulação dos enunciados, onde
se pode perceber a utilização de operadores argumentativos vários e de maneira
adequada.
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Ainda que esta análise não tenha se esgotado, é possível que se perceba a
evidente melhora da qualidade do texto e, conseqüentemente, a maior proficiência
da aluna na escrita de artigos de opinião.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). In: ROJO, R. H.
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