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UEG – DIREITO

6º PERÍODO - DIREITO
ADMINISTRATIVO II
PROFESSORA ÁUSTRIA RÉGIA
INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO

• A intervenção no domínio econômico é uma das principais


atividades do Estado, que deve adotar medidas para garantir
o seu crescimento e desenvolvimento econômico. Nesta
perspectiva, determina o art. 174 da Constituição que:
“como agente normativo e regulador da atividade
econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções
de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este
determinante para o setor público e indicativo para o setor
privado”.
LIVRE EXERCÍCIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA

•O parágrafo único do art. 170 da Constituição


também assegura a todos o livre exercício de
qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos
públicos, salvo nos casos previstos em lei.
•Súmula Vinculante 49, resultado da
Conversão da Súmula 646/STF: “ofende o
princípio da livre concorrência lei municipal que
impede a instalação de estabelecimentos
comerciais do mesmo ramo em determinada
área”.
EXPLORAÇÃO DIRETA DE ATIVIDADE
ECONÔMICA PELO ESTADO – ART. 173, CAPUT DA
CF
•Medida permitida somente quando necessária
aos imperativos da segurança nacional ou a
relevante interesse coletivo, conforme definidos
em lei.
EXPLORAÇÃO DIRETA DE ATIVIDADE
ECONÔMICA PELO ESTADO – ART. 173, CAPUT DA
CF
• O Estado pode decidir explorar atividade econômica em
sentido estrito em regime de competição, hipótese na
qual suas estatais não poderão gozar de privilégios não
extensivos à iniciativa privada, ou por monopólio,
circunstância em que ele assume integralmente o
desenvolvimento da atividade, suprimindo a liberdade de
iniciativa da atividade monopolizada.
MONOPÓLIO

•Trata-se de exclusividade de domínio, exploração


ou utilização de determinados bens, serviços ou
atividades econômicas, em detrimento de
qualquer concorrência.
SÃO MONOPÓLIOS DA UNIÃO, DE ACORDO COM
ART. 177 DA CONSTITUIÇÃO:

••a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás


natural e outros hidrocarbonetos fluidos;
••a refinação de petróleo nacional ou estrangeiro;
SÃO MONOPÓLIOS DA UNIÃO, DE ACORDO COM
ART. 177 DA CONSTITUIÇÃO:

••a importação e exportação de produtos e


derivados básicos resultantes das atividades
previstas nos incisos anteriores;
SÃO MONOPÓLIOS DA UNIÃO, DE ACORDO COM
ART. 177 DA CONSTITUIÇÃO:
••o transporte marítimo de petróleo bruto de origem
nacional ou de derivados básicos de petróleo
produzidos no País, bem assim o transporte, por meio
de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás
natural de qualquer origem; e
SÃO MONOPÓLIOS DA UNIÃO, DE ACORDO COM
ART. 177 DA CONSTITUIÇÃO:

••a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o


reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios e minerais nucleares e
seus derivados, com exceção dos radioisótopos,
conforme EC 49/2006.
SÃO MONOPÓLIOS DA UNIÃO, DE ACORDO COM
ART. 177 DA CONSTITUIÇÃO:

••§ 1º A União poderá contratar com empresas


estatais ou privadas a realização das atividades
previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as
condições estabelecidas em lei.        
• 
SÃO MONOPÓLIOS DA UNIÃO, DE ACORDO COM
ART. 177 DA CONSTITUIÇÃO:
•§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre:        
•I - a garantia do fornecimento dos derivados de petróleo
em todo o território nacional;       
•II - as condições de contratação;        
•III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do
monopólio da União;  
SÃO MONOPÓLIOS DA UNIÃO, DE ACORDO COM
ART. 177 DA CONSTITUIÇÃO:

•§ 3º A lei disporá sobre o transporte e a


utilização de materiais radioativos no território
nacional. 
CONTROLE DE ABASTECIMENTO

•É ato de intervenção no domínio econômico,


previsto na Lei Delegada nº 4/62, mediante o
qual o Estado visa atuar no fornecimento de
produtos (inclusive matéria-prima), bens ou
serviços para regular desequilíbrio no mercado
consumidor.
CONTROLE DE ABASTECIMENTO
TABELAMENTO DE PREÇOS

•É medida oficial tomada no sentido de estabilizar


os preços do comércio para que não exorbitem
de valor fixado, abrangendo, portanto, a
determinação do preço privado e sua disciplina
de controle pelo Estado.
TABELAMENTO DE PREÇOS

•Preço, neste contexto, significa “a retribuição


pecuniária do valor do bem, do serviço ou da
atividade que se compra ou que se utiliza
mediante remuneração”.
REPRESSÃO DO ABUSO DO PODER
ECONÔMICO
• Abuso do poder econômico ocorre quando uma empresa, que
se encontra em posição de superioridade econômica, se utiliza
ilegitimamente ou de forma irrazoável do poder que possui,
prejudicando ou inibindo o funcionamento do mercado.
Trata-se de noção que também se relaciona com o aumento
arbitrário dos lucros de empresa que detém substancial parcela
do mercado.
SÃO DITAMES CONSTITUCIONAIS RELACIONADOS COM O
OBJETIVO GERAL DE COIBIR O ABUSO DO PODER ECONÔMICO:

••a livre iniciativa (art. 170, caput);


••a função social da propriedade (art. 170, III);
••a livre concorrência (art. 170, IV); e
••a defesa dos consumidores (art. 170, V).
•Para cumprir as finalidades do art. 173, § 4º, da
Constituição, que estabelece que a lei reprimirá o
abuso do poder econômico que vise à dominação dos
mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento
arbitrário dos lucros, foi editada a Lei nº
12.529/201116 (que revogou a Lei nº 8.884/94), que
dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações à
ordem econômica.
A LEI Nº 12.529/2011 É A LEI ANTITRUSTE BRASILEIRA. NOTE-SE QUE
NÃO É APENAS O TRUSTE QUE É CONSIDERADO PRÁTICA
ABUSIVA, SENDO REPRIMÍVEIS, PORTANTO, POR EXEMPLO:

••truste: baseia-se na pressão de empresas maiores sobre


menores, no comando da política de preços;
••cartel: empresas de um mesmo setor se organizam para
controlar a política de preços; e
A LEI Nº 12.529/2011 É A LEI ANTITRUSTE BRASILEIRA. NOTE-SE QUE
NÃO É APENAS O TRUSTE QUE É CONSIDERADO PRÁTICA
ABUSIVA, SENDO REPRIMÍVEIS, PORTANTO, POR EXEMPLO:

• •dumping: empresa, geralmente multinacional, vende mercadorias por


preços inferiores aos praticados no mercado nacional, muitas vezes abaixo
do custo de produção, objetivando eliminar um mercado específico para
depois dominá-lo e praticar preços abusivos.
• https://www.camara.leg.br/noticias/727148-projeto-pede-suspensao-de-reg
ras-sobre-aplicacao-de-medidas-antidumping-no-brasil/
•O art. 31 da Lei nº 12.529/2011 determina que ela se
aplica às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou
privado, bem como a quaisquer associações de entidades
ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda que
temporariamente, com ou sem personalidade jurídica,
mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio
legal.
•A infração econômica atinge a empresa, implicando também a
responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores,
solidariamente. Há a previsão no art. 34 da lei da desconsideração da
personalidade jurídica (disregard of legal entity), quando houver abuso
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social, além de falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica, desde
que provocados por má administração.
CONSTITUEM INFRAÇÕES À ORDEM ECONÔMICA QUE, DE ACORDO COM O ART. 36 DA LEI Nº
12.529/2011, SÃO CARACTERIZADAS INDEPENDENTEMENTE DE CULPA, OS ATOS SOB QUALQUER
FORMA MANIFESTADOS, QUE TENHAM POR OBJETO OU POSSAM PRODUZIR OS SEGUINTES
EFEITOS, AINDA QUE NÃO SEJAM ALCANÇADOS:

• •limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa;


• •dominar mercado relevante de bens ou serviços, exceto no caso de conquista resultante
de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus
competidores (hipótese lícita);
• •aumentar arbitrariamente os lucros; e
• •exercer de forma abusiva posição dominante.
•Ocorre posição dominante quando uma empresa ou grupo de
empresas controla parcela substancial de mercado relevante,
como fornecedor, intermediário, adquirente ou financiador do
produto, serviço ou tecnologia a ele relativa, sendo presumida
a posição dominante da empresa ou do grupo de empresas que
controla 20% do mercado relevante, podendo este percentual
ser alterado pelo CADE para setores específicos da economia.
• São exemplos de condutas que ferem a ordem econômica: acordar,
combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob qualquer forma:
• (a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente;
• (b) a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou
limitada de bens ou a prestação de um número, volume ou frequência
restrita ou limitada de serviços;
• (c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado atual ou potencial
de bens ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de clientes,
fornecedores, regiões ou períodos;
• (d) preços, condições, vantagens ou abstenção em licitações públicas; promover,
obter ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou concertada entre
concorrentes; limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado; criar
dificuldade à constituição, ao funcionamento ou a desenvolvimento de empresa
concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços;
impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, matérias-primas,
equipamentos ou tecnologia, bem como aos canais de distribuição; exigir ou
conceder exclusividade para divulgação de publicidade nos meios de comunicação de
massa; utilizar meios enganosos para provocar a oscilação de preços de terceiros etc.
• Também são infrações previstas nos incisos do § 3º, do art. 36, da Lei nº
12.529/2011, recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, dentro
das condições de pagamento normais aos usos e costumes comerciais
(XI);
• vender mercadoria e prestar serviços injustificadamente abaixo do preço
de custo (XV);
• e subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à utilização de
um serviço, ou subordinar a prestação de um serviço à utilização de
outro ou à aquisição de um bem.
• O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é autarquia federal, com
sede e foro no Distrito Federal, que tem por atribuição promover a concorrência no
mercado brasileiro e zelar pela aplicação dos princípios constitucionais da ordem
econômica e da Lei nº 12.529/2011.
• Ele orienta, fiscaliza e estuda o abuso do poder econômico, tutelando sua apuração e
repressão. Se o Cade apurar resultados lesivos à concorrência, deve aplicar multas
ou até obrigar empresas a desfazerem operações. A atuação da autarquia não afasta a
apreciação jurisdicional se houver lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV,
Constituição). Portanto, apesar de o art. 4º da Lei nº 12.529/2011 mencionar que o
Cade é órgão judicante, ele não exerce função jurisdicional, mas função
administrativa.

INTERVENÇÃO/ATUAÇÃO NO DOMÍNIO SOCIAL

• Conforme mencionado, o tratamento da ordem econômica possui efeitos na ordem


social, logo, é controvertida a pretensão de dissociar econômico de social, até porque
uma política econômica que promova desenvolvimento deve se voltar à modificação
do padrão de vida das pessoas, e o estímulo à livre concorrência e à liberdade de
iniciativa devem ser articulados com os objetivos constitucionais de defesa do
consumidor, função social da propriedade e redução das desigualdades, na busca do
pleno emprego, sendo essas metas de índole social.
•Os direitos sociais, na Constituição de 1988, estão disciplinados
no segundo capítulo do título I: dos princípios fundamentais. De
acordo com o rol expresso do art. 6º, são direitos sociais: a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.
•A ordem social tem como base, de acordo com o art. 193 da
Constituição, o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça sociais. Para garantir tais direitos o Estado
possui não só um papel de intervenção no mercado, mas
também de atuação em esfera própria, como nos serviços
públicos, para que as suas ações alcancem os benefícios
coletivos desejados, o que depende do planejamento
estratégico das chamadas políticas públicas.
POLÍTICAS PÚBLICAS E VINCULAÇÃO AOS
OBJETIVOS CONSTITUCIONAIS

•As políticas públicas são instrumentos de realização,


sobretudo de direitos sociais. Compreendem ações, metas e
planos que o Estado realiza para alcançar os seus objetivos,
como a promoção do desenvolvimento nacional e o
atendimento das necessidades públicas, com redução das
desigualdades.
CONTROLE JUDICIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS:
RESERVA DO POSSÍVEL E MÍNIMO EXISTENCIAL

•Quando se menciona que determinados direitos sociais


são justiciáveis, isto é, são pleiteáveis no Judiciário, caso
não sejam assegurados pelos demais Poderes, é comum
que seja apresentado o argumento da reserva do
possível.
• Geralmente ela é contrastada com a noção de mínimo existencial, que acolhe o fundamento da dignidade da
pessoa humana. Segundo argumentação encontrada na decisão de relatoria do Ministro Celso de Mello, na ARE
639.337-AgR, j. 23.08.2011, DJe 15.9.2011:

• A cláusula da reserva do possível – que não pode ser invocada, pelo Poder Público, com o propósito de fraudar,
de frustrar e de inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição – encontra
insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto do
ordenamento positivo, emanação direta do postulado da essencial dignidade da pessoa humana. (...) A noção de
“mínimo existencial”, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos constitucionais (CF, art. 1º, III, e art.
3º, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de garantir condições
adequadas de existência digna, em ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e,
também, a prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos,
tais como o direito à educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, o direito à saúde, o
direito à assistência social, o direito à moradia, o direito à alimentação e o direito à segurança. Declaração
Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV).
JUDICIALIZAÇÃO VERSUS ATIVISMO

• Judicialização: movimento decorrente do modelo constitucional


adotado pelo Brasil (Barroso)
• Ativismo: o exercício da função jurisdicional para além dos limites
impostos pelo próprio ordenamento (Elival da Silva Ramos)
• Obs. autocontenção (self-restraint) – postura oposta ao ativismo
BIBLIOGRAFIA
NOHARA, IRENE

DIREITO ADMINISTRATIVO / IRENE NOHARA. – 10. ED. – SÃO PAULO: ATLAS, 2020.

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