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TOTALIDADE
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar reflexões sobre a cosmovisão holística e sua relação
com a Educação. As análises encontram nas obras de Roberto Crema (1989) Clotilde Tavares (1994),
Rafael Yus (2002), entre outros, o embasamento para as discussões que serão apresentadas. Assim, o
artigo apresenta um breve comentário do paradigma holístico, o holismo no Brasil e o holismo e a
formação integral. Por fim, serão tecidas algumas considerações sobre contribuições da Holística para a
Educação no sentido de que aquela prima pela formação da totalidade numa integração dos hemisférios
do nosso ser.
ABSTRACT: This article aims to present reflections on holistic worldview and its relationship with
Education. The analyzes are in the works of Roberto Crema (1989) Clotilde Tavares (1994), Rafael Yus
(2002), among others, the basis for the discussions that will be presented. Thus, the article presents a
brief review of the holistic paradigm, holism and holism in Brazil and comprehensive training. Finally,
some considerations are woven contributions of Holistic Education in the sense that one press for the
formation of a full integration of the hemispheres of our being.
INTRODUÇÃO
A velha pergunta “Que cidadão a escola pretende formar?” motiva a escritura deste
artigo que se propõe pensar a escola como um espaço que merece ser visto em toda sua
estrutura, com seus instrumentos funcionando como verdadeiras engrenagens em favor
do conjunto, isto é, numa visão orientada pelo holismo, pelo cosmo em que a instituição
está sediada.
Na educação formal que se pretenda holística, escolher o viés a se seguir implica a não-
fragmentação, currículo com disciplinas com bases transdisciplinares, valorização da
Urge encontrar saídas para uma educação, até então massacrada pelo privilégio do puro
materialismo e mecanicismo, que vê seus alunos como gavetas ou compartimentos que
precisam ser “enchidos” com valores de uma sociedade decadente, partitiva,
segregadora. Uma educação que fomente a construção de nova visão da realidade, mais
humana, observadora e com relações diversas, estabelecidas entre as partes constituintes
do todo universal, que se oriente pela máxima: “o todo não é o todo sem as partes e as
partes não são nada fora do todo”.
O paradigma holístico dá-nos alento e esperança para alterar esse estado não com
fórmulas prontas, mas possibilidades de práticas educativas mais integradas, com
objetivos sistêmicos e que tenham o aluno como o principal personagem no processo
educativo.
Nesse sentido, a educação deve ser entendida como oportunidade de o aluno buscar
interconexão com o universo, vendo, ouvindo, tocando e provando de tal modo que
perceba plenamente uma coisa, entendendo-a por completo. Vendo-a como se quisesse
alongar sua visão com um binóculo, apurar sua audição por meio de amplificadores
elétricos e chegar a um limite, transpô-los e, imediatamente, pretender alcançar outros
tantos, numa sucessão infinita de experiências conscientes. Para isso ser possível, a
educação precisa construir pontes entre diferentes saberes, interligando-os para uma
formação integral, uma visão de mundo baseada na totalidade em contraposição à visão
fragmentada. É preciso falar de uma pedagogia holística.
A humanidade vive, no início deste século, envolvida com o sentimento que inclui
espiritualidade, busca pelo entendimento do ser e de um melhor relacionamento entre os
homens. Hoje, um dos conceitos mais presentes é a qualidade de vida como condição
para melhoria de todos. O paradigma holístico coloca a educação numa situação em que
esse aprendizado passa por uma compreensão do universo como um todo e não como as
Diante deste vazio, das crises, das chamadas catástrofes naturais e da ameaça da própria
existência do homem no planeta Terra, vários núcleos do saber, instituições
governamentais e outras de natureza civil passaram a discutir novos referenciais para a
humanidade, em especial, aqueles que procuram associar o homem ao meio e não o
homem como dominador do meio. A ideia de uma sociedade global passa a ser tema
recorrente com muitos defendendo a possibilidade de um governo planetário.
Dentro dessas expectativas, o paradigma holístico surge como mediador entre o todo e
suas partes e se baseia no conceito de relação que é muito mais amplo que o de análise.
(CREMA, 1989). O vocábulo holismo/holístico origina-se da expressão grega holos que
significa todo, inteiro (totalidade, inteireza). De acordo com os pesquisadores da
temática, foi o filósofo sul-africano Ian Christian Smutso, pioneiro no seu uso
apresentando-a como uma compreensão do universo constituído de seu processo
evolutivo, tecido a partir dos conjuntos dos seres e coisas que dele fazem parte de
maneira interligada (WEIL, 1991).
Alguns estudiosos como Crema (1989), Tavares (1994) e Yus (2002) tratam do tema,
optando pela compreensão das origens do pensamento holístico, enquanto pensamento
filosófico, podem se situar ainda na antiguidade, com os pré-socráticos, posteriormente
com os estoicos e com os neoplatônicos e, modernamente, com os românticos,
especialmente com Schelleng e os idealistas alemães.
O precursor do atual paradigma holístico foi Jan Smuts (1870-1950), filosofo general e
estadista sul-africano, atuou de forma decisiva no processo de integração da União Sul-
Africana e foi um dos pioneiros do movimento antiapartheid, sendo ele o criador do
termo Holismo, publicado no seu livro “Holism and Evolution”, em 1926, em que há a
abordagem da existência de uma tendência holística integradora e fundamental no
Universo, apesar de sua obra ter passado quase despercebida, foi descoberta pelo
2. HOLOS-BRASIL
O paradigma holístico não é uma descoberta contemporânea, foi eco de vozes passadas,
e ganhou maior evidência com a Declaração de Veneza (1986), que reuniu importantes
personalidades intelectuais do mundo e dentre eles o matemático brasileiro Ubiratan D’
Ambrósio. Após este acontecimento foi realizado o I Congresso Holístico Internacional
em 1987, na cidade de Brasília e, neste mesmo encontro, aconteceu o lançamento oficial
da Associação Holística Internacional (Holos-Transnacional e Holos-Brasil).
A visão holística concebe o mundo como um todo integrado e não como uma coleção de
partes dissociadas, (Capra, 1996). Visão que pretende o ser humano integral. Neste
contexto, a educação precisa ser pensada de maneira transdisciplinar e não no modelo
fragmentado, que impera há décadas na educação brasileira.
O paradigma holístico caracteriza-se pela ênfase do todo. É entendido como uma rede
em que as partes são conectadas formando um todo indiviso. Nessa visão de educação, a
escola tem como papel fundamental a formação plena do indivíduo em relação a si
mesmo, à família, à humanidade, ao planeta e ao cosmos, numa relação de respeito à
harmonia.
Para Cardoso, (1995, p. 53): “educar significa utilizar praticas pedagógicas que
desenvolvam simultaneamente razão, sensação, sentimento e intuição e que estimulem a
integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome de paz e da unidade do
mundo”.
Para alcançar uma formação plena do aluno o professor precisa repensar “para que” e
“por que” está formando seus alunos. E instigá-los a recuperar os valores esquecidos
pela sociedade moderna. Valores como a paz, a solidariedade, a harmonia, a igualdade e
a honestidade, relação homem natureza, são imprescindíveis na busca de totalidade
como condição plena para toda sociedade.
Não se pode conhecer uma formação plena enquanto o aluno for visualizado em partes e
não for considerado com capacidade de desenvolvimento completamente, enquanto o
conhecimento foi pensado em partes, como se estivesse em pequenas caixas a ser
descobertas. O que ocorre é que geral, devido à compartimentalização do ser humano e
da educação os professores consideram como importante apenas uma parte do cérebro
ao passo que este deveria ser considerado como um todo.
Compete ao professor que deseja formar plenamente os seus alunos buscar a grandeza
que há dentro de cada um deles, mas para isso o próprio professor precisa ser formado
dentro de novos paradigmas que propicie o desenvolver habilidades e competências
para uma formação plena. Contemplar sua ação pedagógica com formas sistêmicas de
ensino e preocupar-se com o tipo de homem e de sociedade que se pretender formar.
Não se constrói o novo sem desconstruí as velhas concepções e visões de mundo
existentes e reproduzidas por décadas.
Para melhor compreender como formar o aluno em sua totalidade Dryden & Vos (1996)
e Antunes (1998) alertam para a importância das distribuições de Gardner em seus
estudos sobre as inteligências múltiplas, no qual o mesmo apresenta oito tipos diferentes
de inteligência que precisam ser consideradas pelo professor na formação dos seus
alunos.
A metodologia aponta para a necessidade de professores e alunos trabalharem em
parceria procurando construir uma pratica pedagógica inovadora, crítica produtiva e
transformadora. Caracteriza-se pela busca do equilíbrio entre teoria e prática de maneira
que estas caminhem juntas em busca da visão do todo.
A metodologia holística deve considerar o aluno como um ser original, que faz parte de
um contexto sociocultural e precisa ser considerado em suas inteligências múltiplas. A
metodologia nessa visão deve também proporcionar as relações intra e interpessoal
como forma de construção coletiva do conhecimento, possibilitando aos alunos
condições para compartilhar entre si os avanços, refletir as dificuldades e construir uma
educação em o ensino e a aprendizagem possam conduzir a um processo constante em
busca da qualidade de vida.
Destacam-se como importante para o processo de ensino e de aprendizagem a formação
das comunidades de aprendizagem. As comunidades de aprendizagem apresentam
características ecológicas por natureza e humanistas por princípios. Nelas, segundo Yus
(2002, p. 12)
A educação, numa visão balística, necessita da participação do ser com sua inteireza.
Cérebro e espírito, corpo e mente, razão e emoção são partes de um todo e precisam
estar interconectadas entre si para que o todo seja completo.
Cada ser humano é único, indiviso e sem clone e ao mesmo tempo é parte de um todo
global, o universo. Cabe à escola promover o desenvolvimento do aluno no sentido da
integração individual, grupal e planetária em todas as suas dimensões. Com a
compreensão de cidadania plena, cidadão do mundo.
Behrens (1999) propõe uma tríplice aliança entre a visão holística, a abordagem
progressista e o ensaio com pesquisa por acreditar que a interconexão destes e,
juntando-se a eles a tecnologia inovadora obtém-se a produção do conhecimento,
criando a possibilidade de uma educação integral do homem, tornando-o capaz de
relacionar-se consigo, com os outros e com o universo de maneira harmônica,
construindo por meio de suas ações individuais e coletivas um mundo melhor para todas
as espécies que habitam no planeta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Num mundo em constante mudança, superar velhos paradigmas é tarefa um tanto difícil
que exige do educador uma nova postura frente às exigências do mundo contemporâneo
Pensar a educação pela ótica do holismo implica, então, não reduzi-la em pedaços, em
partes que não se agregam, não se associam, mas se somam, atraem-se, dimensionam-se
e, por que não dizer, se completam formando com conjunto sistematizado com ou sem
antagonismos. Implica ainda valorizar a cultura da não-aleatoriedade, dos desejos
pulsionais, todavia das mobilizações visando produzir mudanças significativas para o
indivíduo e seu grupo, da identificação de sistemas relevantes para si e o outro,
ultrapassando o localizar, experimentando formas de com eles lidar. Percebendo-os
como portas para novas aprendizagens.
A educação considerada como sistema, como um todo, exige organização, inclusive dos
antagonismos. Entender que ela funciona como todo se, e somente se, as partes
funcionarem como partes. É essa noção que nos faz concluir que fragmentar a educação
pode corresponder a desfacelar a nós mesmos.
Todas essas ideias são de compreensão muito difícil em uma cultura formatada pelo
pensamento linear. Mas essa constatação não nos deve intimidar, pelo contrário,
revigora-nos a defender que, pelo olhar holístico, a educação parcial não se sustenta,
não se efetiva nem se solidifica.
A divulgação dos autores e obras referenciados neste artigo serve como reflexão aos
educadores que no seu fazer pedagógico sentem o drama de uma sociedade em busca de
novos rumos, de uma visão global e consciente de seu papel, principalmente para com a
educação, dando sentido às suas ações para a construção de uma sociedade digna de
pertencer ao planeta Terra; sabendo conviver consigo mesmo, com os outros e com o
universo de forma completamente pacifica e edificadora visando a um mundo melhor.
Se o século XXI será ou não holístico dependerá de cada ser humano, em especial de
todo educador que, se mergulhar numa profunda reflexão em busca de uma nova
perspectiva de educação, denominada pela visão holística, estará contribuindo
significativamente para essa transformação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação N° 9394/96. Brasília: Senado Federal, 1998.
CREMA, Roberto. Introdução à Visão Holística: breve relato de viagem do velho ao novo
paradigma. São Paulo: Summus, 1989.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 21. ed. São Paulo:
Cortez, 2000.
TAVARES, Clotilde. Iniciação à Visão Holística. São Paulo: Editora Record, 1994
YUS, Rafael. Educação Integral: uma educação holística para o século XXI. Trad. Daisy Vaz
de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2002.
__________. As comunidades de aprendizagem na perspectiva holística. Pátio. Revista
Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, ano VI n° 24, nov.2002/jan.2003.
* Graduado em História e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba. Atualmente professor das
Faculdades Integradas Aparício Carvalho e da Faculdade Metropolitana de Porto Velho – Rondônia. E-mail:
profegilmarsn@gmail.com
** Docente da Faculdade Metropolitana, mestre em Linguística pela Universidade Federal de Rondônia. E-mail:
enisiasoares@gmail.com.