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7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

O JATO DE SANGUE

ANTONIN ARTAUD

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7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

O MOCINHO
Eu te amo e tudo é belo.
A MOCINHA
(Com um trêmulo intensificado na voz.) – Tu me amas e tudo é belo.
O MOCINHO

(Num tom um pouco mais baixo.) – Eu te amo e tudo é belo.


A MOCINHO
(Bruscamente, abandona a mocinha.) – Eu te amo. (Silêncio.) – Fica na minha frente.
A MOCINHA
(Mesmo o!o, ela se coloca " sua frente.) – Está bem.
O MOCINHO
(Num tom exaltado, super a!udo.)  – Eu te amo, eu sou grande, eu sou claro, eu sou
 pleno, eu sou denso.
A MOCINHA

(Num tom super a!udo.) – Nós nos amamos.


O MOCINHO
 Nós somos intensos. Oh, como o mundo está bem estabelecido
(Silêncio, se ouve como o barulho de uma imensa roda #ue !ira e desempenha o
vento. $m furac%o os separa. Neste momento se vêem dois astros #ue se
entrechocam e caem uma s&rie de pernas em carne viva com p&s, m%os, cabelos,
 perucas, m'scaras, colunas, prticos, templos, alambi#ues.  desmoronamento &
 feito aos poucos, lentamente, como se tudo ca*sse no vazio. Caem + ainda três
escorpies, um atr's do outro, depois uma r% e um escaravelho com uma lentid%o
desesperadora, noenta.)
A MOCINHO
(-ritando com todas suas foras.)  – O céu ficou louco (lha o c&u.)  –!amos sair 
correndo
( mocinho empurra a mocinha de sua frente. /ntra um cavaleiro da idade m&dia
com uma armadura enorme se!uido por uma ama #ue se!ura os seios com as duas
m%os e respira !raas a seus seios muito inflamados.)  

O CAVALEIRO
"arga tuas mamas #e dá meus papéis
A AMA
(-ritando.) – $h $h $h
O CAVALEIRO
#erda %ue &ue há'
A AMA
$ nossa filha "á (om ele
O CAVALEIRO
)siu N*o tem menina nenhuma
A AMA

Eu estou te di+endo &ue eles est*o se beiando


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7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

O CAVALEIRO
)orra %ue merda eu tenho a er se eles est*o se beiando.
A AMA
/ncesto
O CAVALEIRO

#atrona
A AMA
(0fundando as m%os nos bolsos #ue s%o t%o inflados #uanto os seios.)  – (afet*o
(1o!a2lhe rapidamente seus pap&is.) 
O CAVALEIRO
!aca, me dei0a comer. (0 ama fo!e. /le levanta e dentro de cada papel tira um
enorme pedao de #ueio. 3osse e en!as!a.) – Ei Ei #ostra os peitos. #ostra teus
 peitos Onde ela foi' (Sai correndo, o mocinho volta).
O MOCINHO

Eu i, eu fui,
endedores, eu compreendi.
os endedores $&uiesta4es,
de &uatro na praa p2blica3
a porta o padre,
da igrea, o sapateiro,
a lanterna os
do bordel,
as balanas da ustia Eu n*o posso mais
($m padre, um sapateiro, um bedel, uma puta, uma u*za, uma vendedora de
#uatro estaes che!am em cena como sombras.)
O MOCINHO
Eu me perdi dela 5eolam
TODOS
(Num tom indiferente.) – %ui, &ui, &ui.
O MOCINHO
#as ela é minha mulher
O BEDEL
(Muito barri!udo.) – 6ua mulher. . . Farsante
O MOCINHO
Farsante Farsante é a tua
O BEDEL
(Batendo na testa.) – 7, pode ser. (Sai correndo.) ( padre se destaca do !rupo e
 passa o brao em volta do pescoo do mocinho.) 
O PADRE
(Como num confession'rio.)  – $ &ue parte de seu corpo oc8 fa+, fre&9entemente,
mais alus*o'
O MOCINHO
5eus.
O PADRE
(4esconcertado pela resposta, toma rapidamente o sota#ue su*o.)  – #as isso n*o se
fa+ mais Eu n*o oui nada da sua boca. (omo penit8ncia oc8 tem &ue inocar aos
ulc4es, aos terremotos. Nós iemos das pe&uenas sueiras dos homens dos
confessionários. E agora é tudo, é a ida.
O MOCINHO
(Muito a!itado) – $h, sei é a ida Ent*o preciso sair correndo.
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7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

O PADRE
(Sempre com sota#ue su*o.) – $mém. (Neste instante, num s !olpe, se faz noite em
cena. 0 3erra treme.  trov%o ru!e, com rel5mpa!os #ue fazem zi!2za! em todos os
 sentidos e nos zi!2za!s dos rel5mpa!os se vêem todos os persona!ens #ue comeam
a correr6 abraam2se uns aos outros, caem na terra, se levantam e correm como
loucos.
 Neste momento uma m%o enorme arranca a peruca da puta #ue se incendeia
"s vistas do p7blico.) $ma voz !i!antesca + (adela. Olhai osso corpo ( corpo da
 puta aparece absolutamente nu e horroroso com um corpete e uma saia #ue se
transformam como em vidro transparente.)
A PUTA
5eus #e dei0a (0 puta morde os punhos de 4eus. $m imenso ato de san!ue ras!a
a cena e se vê atrav&s dos rel5mpa!os maiores #ue os outros o padre fazendo o
 sinal da cruz. 8uando a luz se refaz, todos os persona!ens est%o mortos e seus

cad'veres
 se azem
comem em por todas
olhares. as cai
0 puta partes, no ch%o.
nos braos doS restam a puta e o mocinho #ue
mocinho).
A PUTA
(Num suspiro e como ao extremo ponto de um espasmo amoroso.)  – (onta pra mim
como foi pra oc8. ( mocinho esconde a cabea com as m%os. 0 ama volta
trazendo a mocinha nos braos como um pacote. 0 mocinha est' morta. 0 ama
deixa a mocinha cair na terra onde ela se #uebra e se torna p'lida como uma
bolacha. 0 ama n%o tem mais seios. Seus seios est%o completamente achatados.
 Neste momento aparece o cavaleiro #ue se atira sobre ela e a sacode
violentamente.)
O CAVALEIRO
(Com uma voz terr*vel.) – Onde oc8 escondeu' Onde oc8 escondeu' #e dá o meu
&ueio Onde está'
A AMA
(0le!remente.)  – $&ui. (9evanta as saias.  mocinho #uer correr mas n%o
conse!ue6 /le se con!ela como um marionete petrificado.)
O MOCINHO
(Como suspenso no ar, com voz de ventr*lo#uo.)  – N*o faa mal a mam*e.
O CAVALEIRO

#aldita. (Cobre o rosto de horror6 $ma multid%o de escorpies cai da saia da ama e
comea a pular em seu seio #ue pe!a fo!o e se racha6 3ornando2se vidrado e
brilhante como um sol.  mocinho e a puta fo!em como dois trepanados.)
A MOCINHA
(9evantando, maravilhada.) – $ irgem Ent*o era isso o &ue ele &ueria.

PANO

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