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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
GEO 2215 - TEORIAS E PRÁTICAS DA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA
Profª. Drª. REJANE RODRIGUES

Teoria da Complexidade – o conceito


Mustafá Ali Kanso
(artigo publicado em Hype Science)

Como já vimos em outros artigos a expressão Teoria da Complexidade, ou Pensamento da


Complexidade compreende um amplo corpo de conhecimentos cujo foco essencial é o estudo dos
sistemas dinâmicos não-lineares cujo comportamento imprevisível perpassa disciplinas tradicionais
e contraria o mecanicismo clássico.
Fundamenta-se numa visão interdisciplinar que pode ser aplicada ao comportamento emergente
de muitos sistemas, tais como sistemas complexos adaptativos, ou no estudo dos sistemas em rede
e sua complexidade, da teoria do caos, estudo dos fractais, do comportamento dos sistemas
distanciados do equilíbrio termodinâmico e das suas faculdades de auto-organização.
Envolve aplicações tão variadas e tão distintas umas das outras como, por exemplo os modelos
matemáticos de Estudo do Clima em Meteorologia ou o estudo das formações de cristais na Química
ou mesmo a Plasticidade Neuronal do cérebro humano em Fisiologia ou mesmo nas novas Teorias de
Gestão Empresarial em Administração.
Assim, a complexidade é aplicada nas mais variadas áreas do pensamento humano podendo
destacar suas contribuições na linguística, pedagogia, matemática, química, física, meteorologia,
estatística, biologia, sociologia, economia, arquitetura, medicina, psicologia, informática ou em
ciências da computação ou da informação com consequências não só tecnológicas ou científicas mas
também filosóficas.
Ainda, o termo complexidade é questionado na literatura de divulgação – principalmente pelo seu
uso equivocado em artigos pseudocientíficos — particularmente em abstrações ao seu conceito
medular da não-linearidade.
No entanto, tem ganhado notoriedade quando empregado como sinônimo de Epistemologia da
Complexidade, por intermédio dos trabalhos de Edgar Morin, Isabelle Stengers e Ilya Prigogine além
da própria Teoria de Complexidade Computacional.
Epistemologia
Na epistemologia apresenta características que atuam como contraponto ao classicismo científico
por oferecer contracorrente ao reducionismo, fragmentação e compartimentalização do
conhecimento.
Pelo pensamento reducionista: o todo é a soma de suas partes. Por exemplo: uma equipe é o
somatório das pessoas que a compõe.
Pelo pensamento complexo, podemos encontrar a sinergia: a soma das partes ultrapassa o
todo. Por exemplo: um time (propriamente dito) é muito mais que o somatório das pessoas que o
compõe. Caso contrário não é time.
Numa abordagem fragmentada e compartimentalizada uma árvore é simplesmente biologia
feita de raiz, caule, folha, flor e fruto. Ponto.
Numa abordagem sistêmica uma árvore é também atmosfera e hidrosfera pois sem ambos a
árvore não existiria. É luz do sol. É também nitro bactéria que fixa o nitrogênio no solo. É inseto
que a poliniza, etc. Além de biologia, a árvore é química, física, matemática, geografia, etc.
Democracia Cognitiva
Assim, o pensamento complexo visa associar as diversas áreas do conhecimento, sem no entanto
fundi-las, distinguindo-as sem separar as diversas disciplinas e formas de ciência, assim como as
diversas formas de conhecimento e inclusive outras instâncias da realidade, como Estado, Mercado
e Sociedade Civil, não se limitando ao âmbito acadêmico, irradiando-se, portanto para os diversos
setores da realidade.
Em nosso exemplo anterior a árvore também não existiria se o estado não controlasse o
desenvolvimento da sociedade com vistas ao mercado sustentável. O modelo predatório levaria a
árvore a extinção e essa notícia não poderia ficar confinada no mundo acadêmico.
Desta forma, a Teoria da Complexidade aprofunda os questionamentos ante todas as formas de
pensamento unilateral, dogmático, quantitativo ou instrumental. Incorpora a incerteza como parte
de seu paradigma, como um desvelar de horizontes, e não como um princípio que imobiliza o
pensamento, daí a aplicação e a valorização do pensamento estimativo e estatístico.
Fronteiras do Ciência e do Ser humano
Indo da Filosofia, pela discussão do método, perpassa pela Psicologia e Sociologia e tangencia a
Política propondo uma forma de pensar aberta, incerta, criativa, prudente e responsável que se
reveste de desafio à própria democracia.
Daí a proposta de uma democracia cognitiva, que propõe o diálogo entre as diversas formas de
conhecimento e concebe o universo como um todo indissociável, propondo uma abordagem
multidisciplinar e multirreferenciada para a construção do conhecimento. Contrapondo-se à
causalidade linear por abordar os fenômenos como totalidade orgânica.
De acordo com Edgar Morin:
“Numa primeira análise, a complexidade é um tecido de constituintes heterogêneos
inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem,
a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações,
determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal”.
Portanto sua principal proposta é a abordagem transdisciplinar dos fenômenos, e a mudança de
paradigma, abandonando o reducionismo que tem pautado a investigação científica em todos os
campos, e dando lugar à criatividade e ao caos.
Na teoria do caos temos o célebre “efeito borboleta” que versa sobre à sensibilidade da evolução
de um sistema não-linear às condições iniciais do processo:
Uma pequena mudança nas condições iniciais de um sistema não-linear, pode provocar
sensíveis alterações à medida que este sistema evolui”.
Encontramos tal efeito no estudo da evolução do clima e também no estudo administrativo do
controle fabril em uma linha de montagem.
Numa extrapolação filosófica talvez falte para a nossa sociedade essa pequena mudança inicial
que faça nos anos vindouros a grande diferença. Vamos tentar descobrir qual?
Temos que a teoria da complexidade oferece um dos principais marcos para que estabeleçamos
o limite de nossa ciência e quem sabe venha estabelecer também os primeiros pilares de algo muito
melhor que um dia venha substituí-la.

A complexidade... é efetivamente o tecido de


acontecimentos, ações, interações, retroações,
determinações, acasos, que constituem nosso
mundo fenomônico... Edgard Morin

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