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l- PERALTA, Elsa
ll- GÓlS, Bruno
lll - OLIVEIRA, Joana Gonçalo
cDU 325
Paginação:
I\A
Impressão e acabamento:
ARTIPOL - ARTES TIPOCRÁFICAS, LDA.
para
EDrÇOES 70
Maio de20l7
www.edicoesT0.pt
Esta obra está protegida pela lei. Não pode ser reproduzida,
no todo ou em parte, qualquer que seja o modo utilizado,
incluindo fotocópia e xerocópia, sem prévia autorização do Editor.
Qualquer transgressão à lei dos Direitos de Autor será passível
de procedimento judicial.
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ndice
íruorcr DE TMAGENS 13
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AGRADECIMENTOS 21
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pRe rÁcro
Lisboa ao encontro do <Retorno>
Joana Gomes Cardoso 23
rrurnoouçao
Retornar, ou Traços de Memória num tempo presente
I Elsa Peralta 31
I
I
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PARTE I
9
Retorna r índice
PARTE II
FRAGMENTO VII
ATLAS: FOTOGRAFIAS OUE N/IARCAM Alheava
Manuel Santos Maia(por Sara Castelo Branco) 309
<Nada torna, nada se repete, porque tudo é real>: o Atlas e as fotografias
do <retorno> O esforço de pertencer: a necessidade de aprender a sentir e a ouvir o
Joana Gonçalo Oliveira 157
testemunho dos retornados
Andrea Witcomb 315
Muitas coisas ao mesmo tempo: sobre o Atlas da exposição Retornar -Traços
de Memória
À/e/io Conceição... 177
PARTE IV
Retornar não é possível. Fotografia nas partidas, nos regressos e na distância ATMOSFERAS: DISCURSOS NO PÓS_COLONIAL
Filipa Lowndes Vrcente 197
Retrato (póstumo) do nosso colonialismo inocente ll
O que se vê e o que não pode ser visto: fotografia, violência e Guerra Colonial Eduardo Lourenço 327
Maria Jose Lobo Antunes . . . . . 213
Descolonizar o <indescolonizável>? Portugal e as independências africanas
António Tomás 343
PARTE III
TESTEN/UNHO: NARRATIVAS DE MEMÓRIA
Os limites do poder do Padrão dos Descobrimentos e o retorno ao arquivo
Angela Ferretra 2tr2
Testemunho e ìntimidade
Elsa Peralta com fotografia de Bruno Simões Castanheìra 227
Breves notas sobre o império por cumprir
FRAGMENTO I
José Adelino Maltez. JOJ
FRAGN/iENTO III
FRAGN/iENTO IV
<Temos uma casa para começar>
Testemunho 281
FRAGMENTO V
Caderno de memórias coloniais
lsabela Figueiredo 291
10 11
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Retornar Retornar não é possível. Fotografia nas partidas¡ nos regressos e na distância
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Retornar não é possível. Fotografia nas partidas, nos regressos e na distância
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Retorna r
gesto consciente de quem quer apagar um lugar de memória para onde nunca
se poderá regressar.
Devez em quando, algumas imagens passam a fronteira entre o privado e o
público - como no caso do livro de fúlio Magalhães. As mesmas que lhe terão
fornecido as fotografias que intermeiam o texto e que apenas estão legendadas
com a frase lacónica <Fotografra cedida ao autor>. É em livros, sites oablogues
que por vezes estas fotografias fazem a passagem do privado para o público,
quando os próprios protagonistas da história, ou os seus familiares próximos,
sentem necessidade de partilhar as suas experiências, seja através da escrita,
seja através da reprodução de imagens.
Qual o lugar ocupado pela fotografia privada nestes lugares públicos, sejam
eles sob a forma de livro ou de blogue? Como classificar estas formas de produ-
204
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Retorna r
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I
[8ó] Fotografias pessoais retratando
várias celebraçòes nas colónias. I -
do carro, à mesa do restaurante, a sorrir, a olhar para a câmara, a olhar para o s/d, s/|. Arquivos Privados.
lado. Pessoas brancas, na sua maioria. A banalidade repetitiva do quotidiano
que a fotografia foi conquistando ao longo do século xx.6
Noutras imagens, estão representadas pessoas, espaços ou acontecimentos
que nos dizemmais sobre a especificidade do lugar, do momento histórico e das i";
relaçoes entre as pessoas representadas. fipes no mato. Duas crianças negras num
ffi
parque infantil. Um soldado, homem branco de bigode, arma visível. O grupo t*¡
de homens brancos a pousar para o fotógrafo, alguns com chapéus (coloniais),
palmeiras atrás. Ou aqueles com as presas acabadas de caçar, acaça grossa
il
,. i.
na terra portuguesa de onde seria proveniente. A caça e as (pretas). Lazeres de família. [re] present ación, [re] creación
e [in]materialidød de las fotografías
homens brancos nas suas colónias. À caça de mulheres <nativas>. A violência
familiares (Madrid: Oflcina de Arte,
das palavras como dos gestos. A violência nas fotografias. 20t3).
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Retornar Retornar não é possível. Fotografia nas partidas. nos regressos e na distância
Sempre a olhar para a lente, consciente da experiência performativa que nos contentores, nos caixotes - sob uma categoria classificadora e unificadora?
estava aprotagonizar. Queria ser fotografado e queria ser visto por quem estava Temos o direito de pegar nestes infinitos fragmentos ile histórias humanas e
ali presente ou por quem o veria no papel fotográfico. Queria ver-se a si pró- colocar-lhes uma única etiqueta? Penso que não. A maioria das fotografias que
prio. É o fotografado quem lidera a fotografia. Delas (parecem ser duas), pelo viajou, aquilo que designei o <retorno das fotografias), não está a retornar pois
contrário, nada sabemos. Uma mulher (menina?) negra como um manequim, nunca esteve cá. Essas fotografias foram feitas lá e vieram para câ a acompanhar
corpo inerte, sexualizado violentamente pelas mãos obscenas de um homem as pessoas que de alguma forma lhes estão ligadas. Qualquer tentativa de as
(menino?) soldado: a levantar-lhe totalmente o vestido - a expô-la enquanto classificar numa palavra única correria o risco de ser redutora. A uni-las está
lhe esmaga/tapa o peito - mostrando como é ele (e não ela) quem lhe comanda uma geografia - vasta - e o facto de essa geografia durante um longo período
o corpo. As posições são encenadas, desconfortáveis, artificiais. Mas nada têm ter sido um espaço colonial, com tudo o que isso implica de desigualdade para
a ver com as convenções fotográficas que moldavam os corpos e os sorrisos. além das outras desigualdades existentes em todos os tipos de sociedades,
Ou aquela fotografia onde a ambiguidade se torna um jogo perverso - o casal de género ou sociais. Quando estas geografias deixaram de estar sob o poder de
com o primeiro filho. Está grávida? O <pai>/<marido>, soldado e branco, tem outras geografias, com a descolonização, as pessoas que sentiam que aquela
dois braços: um pega no bebé, negro, ao colo. O outro, abraça a mulher, negra, era a sua terra confrontaram-se com o facto de que tinha deixado de o ser.
por cima do ombro. Um gesto apenas vem perturbar o retrato da família luso- As fotografias das suas vidas são tão diversas como todas as vidas, com a bana-
tropical - a gesta dos homens portugueses a fecundarem as mulheres nativas, lidade do quotidiano ou mesmo dos momentos especiais, rituais de transição
no Brasil, na Índia ou em África. A mão não cai por cima do ombro, como da vida, batizados, aniversários, casamentos. Outras expõem a complexidade
acontece em milhares de fotografias deste período em imagens de casais ou das relações humanas em espaços coloniais, tal como expóem a naÍuralização
de amigos. A mão desce para lá do ombro e agarra-lhe a mama, desnuda, com com que as desigualdades podiam ser vividas, inquestionáveis e assumidas.
força. Como se empunhasse uma arma apontada à nossa impotência. Temos o Depois de décadas de construção de uma vasta bibliografra sobre <fotografia
direito de expor estas fotografias, mesmo que no contexto crítico das paredes colonial>, publicada sobretudo no Reino Unido por antropólogos e historiadores,
de um museu ou nas páginas de um livro? o próprio conceito tem sido questionado nas suas limitações. Em 2016, teve lugar
No Portugal metropolitano, e se realizadas com uma mulher branca, estas o encontro <Around the world in 8 papers: itineraries for a history of photo-
fotografias seriam consideradas pornográficas, mas como são produzidas na graphy beyond the western canon>r7 onde se discutiram modos alternativos de
<colónia> e protagonizadas por uma mulher negra, entram na categoria do quo- pensar a fotografia produzida em lugares não ocidentais, mesmo quando esses
tidiano, do fait-divers, do jocoso, do <lá era assim>. <Elas eram assim>. As três lugares estavam sob o domínio ocidental nas configurações do imperialismo
fotografias remetem para um tema-tabu do encontro colonial - o modo como os recente e contemporâneo da fotografia.
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Retornar Retornar não é possível. Fotografia nas partidas¡ nos regressos e na distância
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[88] Fotografias pessoaìs do <retornor, [89] Chegada do <Uíge> ao Porto
s/d, s/|. Arquivos Prìvados. de Lisboa, '1975. Jornal O Século,
sim, dificilmente podemos escapar à palavra <colonial>, mesmo que (fotografia 18/04/1975. Fotografia de Eduardo na feitura das redes, na construção de barcos; o comércio, naquilo que se vai
Gageiro. O Século.lmagem Cedida
colonial> possa continuar a ser um conceito pouco operativo e problemático. pelo rrurr. buscar ao mar ou que étrazido e levado pelo mar; as celebrações, o enunciar da
Estas imagens estão, de alguma forma, no extremo oposto das fotografias do história, os monumentos ao pé do mar, as cerimónias públicas; as obras públi-
quotidiano que vieram delâpara cá. São imagens do excecional, do extraordi- cas na construção de pontes de portos. O mar como a paisagem. O mar como
nário (no sentido de não ordinário), da rutura. Por um lado, as fotograflas que objeto de um discurso nacionalista, colonialista e como um lugar de memória.
estavam dentro dos contentores. Por outro lado, as fotografias dos contentores. Mas também o mar como cenário de denúncia de miséria, de pescadores
Será que podemos pensar neste arquivo visual - unido por duas palavras, ou varinas. O mar como antecâmara de emigração ou de colonizaçao. O mar
descolonização e retorno - no contexto mais alargado de um arquivo português como o primeiro passo para o espaço colonial, no fenómeno da ida maciça para
de fotografia? Quando recentemente tive de responder ao desafio de pensar uma as colónias ou na ida para defender o império na Guerra Colonial. O mar tam-
breve história da fotografia portuguesa em 25 páginas e observar uma enorme bém como ponto de chegada: de nativos oriundos das várias partes do império
quantidade de fotografias de Portugal realizadas entre 1840 e 2000, alguns temas para serem expostos em exposições - na Colonial do Porto em 1934, ou na do
comuns começaram surgir. O mar, sem dúvida. O estuário do Tejo, um dos seus
a Mundo Português, em Lisboa, em 1940; ou dos milhöes de pessoas e coisas que
principais cenários. Como a tela pintada de um estúdio fotográfico comercial também chegaram. As fotografias do retorno.
onde o décor é sempre o mesmo e só vão mudando as pessoas que ali são foto- Podemos encontrar na história da fotografia portuguesa uma linha temá-
grafadas, o rio está lá em muitos momentos e por muitas razões, como cenário tica onde migração, partidas e regressos, mar, emigração, imigração, exílio,
silencioso e estático de tantas partidas e chegadas. O mar como elemento que se colonização, descolonização, retorno sejam palavras-chave? O confronto com
ctvza com todas as dimensões das representações da nação: o trabalho na pesca, a história da representaçao fotogrâfr.ca em Portugal é também um confronto
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Retornar
Referências
Azoulay, Ariella, The civil contract of Photography. Tradução de Rela Melazi e Ruvik 8 Ariella Azoulay, The Civil Contract oJ
Danieli (Nova lorque: Zone Books, 2008) Photography. Tradução de Rela Melazi
e Ruvik Danieli (Nova lorque: Zone
Demos, T.J., Return to Postcolony. Specters of Colonialìsm in Contemporary Art
Books, 2008); Georges Didi-Huberman,
(Berlim: Sternber Press, 2013).
Images from Auschwitz. Tradução de
Derrida, Jacques, Sob Palavra. /nstantáneos Filosóficos. Tradução de Miguel Serras Shane B. Lillis (Chicago: University of
Pereira (Lisboa: Fim de Sécu1o,2004). Chicago Press, 2008); T.l.Demos, Return
to Postcolony. Specters of Colonialism in
Didi-Huberman, Georges, Images from Auschwitz. Tradução de Shane B. Lillis
Contemp orary Arf (Berlim: Sternberg
(Chicago: University of Chicago Press, 2008).
Press, 2013).
Gomes, Catarina, Pai, Tiveste Medo? (Lisboa: lVatéria-Prim a,2014). e A bibliografia em relação às imagens
de mulheres negras é muito extensa.
hooks, bell, B/acklooks. Race and Representation (Boston: South End Press, 1992)
Aqui destaco apenas a feminista negra
Magalhães, Júlio, Os Retornados. lJm Amor Nunca se Esquece (Lisboa: A Esfera dos norte-americana bell hooks, Black Looks:
Livros, 2008). Race and Representation (Boston: South
Thompson, Barbara (ed.), B/ack Womanhood. lmages, lcons and ldeologies of the End Press, 1992) e a exposição que teve
lugar há uns anos Black Womanhood
A{rican Body (Hanôver, N.H., Hood Museum of Art; University of Washington
Images, Icons and Ideologies of the African
Press, 2008).
Body, ed. Barbara Thompson (Hanôver'
Vicente, Pedro (org.), Átbum de família.[re]presentación, [re]creación e [in]materialidad N.H., Hood Museum of Art; UniversitY
de las fotografías familiares (Madrid: Oficina de Arte, 20'13). of Washington Press, 2008).
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J
Lista de contribuidores
ANDREA WITCOMB
É Professora de Património Cultural e Museologia na Deakin University, Melbourne,
Austrália. A sua investigação incide sobre o potencial dos museus e sítios
históricos para encontros interculturais. O seu trabalho centra-se, assim, nas
relações entre museus e comunidades e na interpretação de histórias difíceis,
conduzindo-a não apenas ao estudo das políticas de representação, mas a um
desejo de entender quais as estratégias de curadoria que melhor permitem
questionar as narrativas bem estabelecidas sobre o passado e as identidades
coletivas. Neste contexto, tem especial interesse nos usos de multimédia e
no papel do design de exposições. O seu trabalho é enformado pela recente
viragem sensorial, bem como por um interesse pelas teorias de memória. Entre
os seus livros destacam-se: Reimagining the Museum: Beyond the Mausoleum
(Routledge 2003); South Pacific Museums: An Experiment in Culture (with Chris
Healy) (Monash Epress 2006;2012); Fromthe Barrackstothe Burrup:The National
Trust in Western Australia (with Kate Gregory) (uNsw Press, 2010); e, com Kylie
Message, Museum Theory, parte do Handbooks of Museum Studles Series
editado por Sharon Macdonald e Helen Rees-Leahy (Wiley Blackwell, 2015).
Ârucem FERRETRA
Nasceu em 1958 em Maputo, Moçambique. Cresceu na África do Sul e obteve
o seu mestrado pela Michaelis School of Fine Art, University of Cape Town, e o
doutoramento pela Universidade de Lisboa. Vive e trabalha em Lisboa e ensina
Belas Artes na Universidade de Lisboa. O seu trabalho centra-se no impacto
contínuo do colonialismo e pós-colonialismo na sociedade contemporânea,
numa investigação que é conduzida através da pesquisa em profundidade e da
destilação de ideias em formas concisas e ressonantes. Representou Portugal
na 52.^ Bienal de Veneza em 2007 , continuando as suas investigações sobre as
formas pelas quais o modernismo europeu se adaptou, ou não se conseguiu
adaptaç às realidades do continente africano, traçando a história da <Maison
Tropìcale>, de Jean Prouvé. Entre alguns dos seus trabalhos recentes mais
significativos contam-se : For M ozambique, 2O0B; Cape Sonnets, 2O1O-12;
Collapsing Structures/Talking Buildings,2012; PoliticalCameras,20l2; Stone Free,
387
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2012; Mount Mabu,2013; Entrer Dans la Mine,2013; lndependence Cha Cha, CLÁUDIA CASTELO
2014; SAAL Brigades,2014; Revolutionary Traces,2014; e A Tendency To Nasceu em Lisboa, em 1970. É doutora em Ciências Socidis-sociologia Histórica
Forget,2015. (2005) pelo lnstituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa. Desde
2014, é investigadora FCr no Centro lnteruniversitário de História das Ciências
ANTÓNIO TOMÁS e da Tecnologia, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa. Os seus
Doutorou-se em Antropologia pela Columbia University, em Nova lorque. atuais interesses de investigação centram-se na história do imperialismo e do
É autor de uma biografia do nacionalista africano Amílcar Cabral com o título colonialismo e nos cruzamentos entre ciência e império (séculos xrx-xx). As suas
O Fazedor de Utopias: Uma biografia de Amílcar Cabral(Lisboa, Praia; Tinta da publicações abordam nomeadamente o lusotropicalismo e a ideologia colonial
China, Spleen; 2007;2008). Ensinou no Makerere lnstitute of Social Research, em portuguesa, a migração colonial para Angola e Moçambique, as interações
Kampala, Uganda, e foi bolseiro Ray Pahl no African Centre for Cities, na University entre ciência, ideologia e desenvolvimento no colonialismo português tardio.
of Cape Town, na Áfr¡ca do Sul. coordenador do mestrado em Estudos Urbanos,
É
no African Centre for Cities, da Universidade de Cape Town, na África do Sul. DULCE MARIA CARDOSO
Nasceu em Trás-os-Montes, em 1964, e publicou em 2001 o seu romance de
BRUNO GÓIS estreia, Campo de Sangue, Grande Prémio Acontece, escrito na sequência
Bruno Góis é investigador e ativista político, mestre em Relações lnternacionais de uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura. Desde então publìcou
pelo tscse (2012), doutorando em Antropologia e bolseiro de investiga- os romances Os Meus Sentirnentos (2005), Prémio da União Europeia para a
ção no lnstituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa no projeto Literatura, e O Chão dos Pardais (2009), Prémio Pen Club. Uma antologia de
O lmpério Colonial Português e a Cultura Popular Urbana: Visões Comparativas contos, Até /Vós, foi editada em 2008. Em2011, pela Tinta da China, publicou o
da Metrópole e das Colónias (1945-1974), coordenado por Nuno Domingos. seu livro mais conhecido, O Retorno, que recebeu o Prémio Especial da Crítica
Foi membro da comissão científica da exposição Retornar -Traços de Memória. Literária 201 'l (LerlBooktailors) e o Prémio Livro do Ano (<Público>, <Expresso>,
Atualmente desenvolve o projeto de tese <Classes e vida colonial em Angola <Ler>). A sua obra encontra-se traduzida em várias línguas, está publicada em
1945-75: história e memória de migrantes coloniais realojados em Portugal duas dezenas de países e é estudada em diversas universidades. Em 2012,
por conta do raRru>, sob orientação de Elsa Peralta. É descendente de colo- recebeu do estado francês a condecoração de Cavaleira da Ordem das Artes
nos madeirenses que se estabeleceram na Chibia, Sul de Angola, no final do e Letras.
século xtx.
EDUARDO LOURENçO
BRUNO SIMÕES CASTANHEIRA Nasceu em São Pedro de Rio Seco (Almeida) a 23 de maio de 1923. Formado
Nasceu em Lisboa, Portugal, em 1979. Trabalha e publica como fotojornalista em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, foi professor
freelance desde 2003. Entre os seus trabalhos destacam-se os projetos Grécia, nessa mesma universidade entre 1947 e 1953. A partir de 1954 lecionou em
onde a crise económica criou uma catástrofe social (2012), ATroika foi embora, várias universidades estrangeiras, como a da Baía, no Brasil, e nas universida-
mas a austeridade ficou (2014) e The Unwanted: Refuge interdict in Anti-Europe des de Hamburgo, Heidelberg, Montepellier, Grenoble e Nice, nesta última
(20'15), realizado na ilha de Lesbos e no campo de refugiados de ldomeni, na até à jubilação. A sua abordagem crítica da realidade, inicialmente inspirada
Grécia. Foi o autor dos retratos testemunhais da exposição Retorna r -Traços pelo neorrealismo, aproximou-se depois do existencialismo, embora sem se
de Memória (2015). condicionar a estas influências. Em complementaridade com o seu trabalho de
crítica literária, o ensaísmo de Eduardo Lourenço é marcado por uma interro-
CHRISTOPH KALTER gação sobre o destino português, e nela sobre o seu colonialismo, sobretudo
Historiador alemão, é atualmente Wissenschaftlicher Mitarbeiter (Assistant em obras como Labirinto da Saudade: Psicanálise Mítica do Destino Português
Professor) no Center for Global History, na Universidade Livre de Berlim. (1978), Portugal como Destino seguido de Mitologia da Saudade ('1999) e, mais
A sua investigação centra-se nos efeitos da descolonização nas metrópoles recentemente, Do Colonialismo como Nosso lmpensado (201 4).
europeias, sobretudo na França e em Portugal. Após um primeiro livro sobre
a dupla emergência de uma nova esquerda radical e do conceito do Terceiro ELSA PERALTA
Mundo na França entre os anos '1950 e 1970, obra publicada pela Cambridge Édoutorada em Antropologia e investigadora do Centro de Estudos Comparatistas
University Press em 201ó, encontra-se a preparar uma monografia sobre os da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde coordena a linha de
chamados retornados que tem como título preliminar Postcolonial People: investigação Legados do lmpério e do Colonialismo em Perspetiva Comparada
Migration and Decolonization in Portugal, c. 1974-2014. e o projeto Narrativas de Perda, Guerra e Trauma: Memória Cultural e o Fim
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Retornar Lista de contribuidores
do lmpério Português. O seu trabalho baseia-se em perspetivas cruzadas Vice-Presidente da Secção Portuguesa da Amnistia lnternacional e diretora de
da antropologia, dos estudos de memória e dos estudos pós-coloniais e comunicação do escritório europeu da oruc em Bruxelas. Dirigiu o Gabinete
centra-se na intersecção entre os modos privados e públicos de recordação de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações lnternacionais do Ministério
de eventos passados, nomeadamente dos passados coloniais. É autora de da Cu ltura entre 2010-2012.
vários trabalhos académicos sobre os seus temas de pesquisa e foi Curadora e
Coordenadora Científica da Exposição Retornar -Traços de Memória, produzida JOANA OLIVEIRA
pela rcrnc. Nasceu em Coimbra , em 1979. Fez a sua formação académica em Antropologia
na Universidade de Coimbra e na Universidade de Lisboa. Atualmente é dou-
FILIPA LOWNDES VICENTE toranda em Antropologia no lnstituto de Ciências Sociais da Universidade de
lnvestigadora no lnstituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Lisboa com o tema <A Vida e a Morte: As Histórias das Fotografias no Contexto
doutorou-se na Universidade de Londres, em 2000, com uma tese que deu Português Pós-Colonial>, sob orientação de Elsa Peralta. Foi cocuradora da
origem ao livro Viagens e Exposições: D. Pedro V na Europa do Século nx exposição Retornar -Traços de Memória.
(2003). É autora de Outros Orientalismos: a índia entre Florença e Bombaim,
1860-1900, publicado em Portugal (2009), na índia e em ltália (2012), e Arte Sern JOSÉ ADELINO MALTEZ
História: Mulheres e Cultura Artística,Sécu/os xvt-v-x (2012). Em 2014, editou na Natural de Coimbra (1951). Professor catedrático da Universidade de Lisboa
Ediçöes 70, O lmpério da Visão: Fotografia no Contexto Colonial Português (lnstituto Superior de Ciências Sociais e Políticas), desde o século passado.
(1860-1960), resultado de um projeto de investigação que coordenou. Mais Formado em direito por Coimbra. Doutorado em ciências sociais e políticas,
recentemente, publicou o catálogo da exposição que comissariou, no Porto, na especialidade de Ciência Política (Universidade Técnica de Lisboa). lniciou
sobre a pintora oitocentista Aurélia de Sousa e o livro Entre Dois lmpérios. a sua carreira docente na Faculdade de Direito de Lisboa, transitando, há mais
Viajantes Britânicos em Goa (1800-1940). Foi Professora Visitante no King's de um quarto de século, para o rscsp. Foi docente nas universidades de Díli,
College da Universidade de Londres, em 2015, e na Brown University, Rl, run, Brasília e Estrasburgo e conferencista-convidado em Luanda e Bissau. Publicou
em 2016. Do lmpério por Cumprir, na qualidade de decano da velha Escola Colonial,
comemorando o 110." aniversário da instituição.
ISABELA FIGUEIREDO
Nasceu em Lourenço Marques, Moçambique, hoje Maputo, em 19ó3. Após MANUEL SANTOS MAIA
a independência de Moçambique, em 1975, rumou a Portugal, incorporando Nasceu em Nampula, Moçambique, em 1970. Vive e trabalha no Porto. Expõe
o contingente de retornados. Foi jornalista no Diário de Notícias e é profes- regularmente desde 1999. Contemplando diversas práticas artísticas, como a
sora de Português. Estudou Línguas e Literaturas Lusófonas, Sociologia das instalação, a fotografia, a pintura, o cinema, o vídeo, a performance, o teatro
Religiões e Ouestões de Género. Publicou os seus primeiros textos no extinto e o som, tem apresentado o seu trabalho artístico em diferentes países como
suplemento DN Jovem, do Diário de iVotícias, em'1983. É autora de Conto lnglaterra, França, Estados Unidos da América, Brasil, Bélgica, Espanha, Noruega,
ÉComoAuem Diz(Odivelas: Europress, 19BB), novela que recebeu o primeiro Macau e Argélia e em diversas cidades e localidades nacionais como Porto,
prémio da Mostra Portuguesa de Artes e ldeias, em 1988, e de Caderno de Lisboa, Coimbra, Lagos, Oeiras, Guimarães, Braga, Tomaç Cascais, Bragança,
Memórias Coloniais, cuja primeira edição, pela Angelus Novus, data de 2009. entre outras.
Escreve regularmente no blogue /Vovo Mundo. Desenvolve workshops de
escrita criativa e participa em seminários e conferências sobre as suas principais MANUELA RIBEIRO SANCHES
áreas de interesse: estratégias de podeç de exclusão/inclusão, colonialismo Professora aposentada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
dos territórios, géneros, corpo, culturas e espécies. O seu interesse por literatura de viagens levou-a a alargar a sua área de inves-
tigação ao campo da História da Antropologia, em articulação com os Estudos
JOANA GOMES CARDOSO Culturais, a partir de uma perspetiva pós-colonial. Tem dedicado a sua ativi-
Preside ao Conselho de Administração da EGEAC, empresa municipal de cultura dade de docência e investigação a estudar os efeitos e repercussões, até ao
de Lisboa, desde janeiro2015. Foidoutoranda do programa de doutoramento presente, dos processos de (des)colonização a nível cultural e político e, mais
em Antropologia do lnstituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, recentemente, dos movimentos anticoloniais, nas suas vertentes nacionalista e
tem um Mestrado em Culturas e Desenvolvimento da Universidade Católica inter/transnacional. As suas áreas de interesse e investigação incluem ainda o
de Lovaina e uma licenciatura em Relações lnternacionais. Entre 1998-2005foi cinema africano e questões ligadas às migrações e racismos na Europa numa
jornalista e correspondente em Nova lorque, Nova Deli e Bruxelas. Foi também perspetiva comparada.
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Retorna r Lista de contribuidores
MARIA JOSÉ LOBO ANTUNES anos, cobr¡u 50 países. Kapuscinski viveu 27 revoluções e golpes de estado, foi
É investigadora integrada do cRtA - Centro em Rede de lnvestigação em preso cerca de 40 vezes e sobreviveu a quatro sentenças de morte. Assistiu,
Antropologia. Doutorada em Antropologia pela universidade Nova de Lisboa, por exemplo, ao golpe de estado no Chile e à revolução no lrão. Os seus tra-
é autora de Regressos quase Perfeitos. Memórias da Guerra em Angola balhos mais conhecidos datam dos anos que passou em África, nas décadas
(Lisboa: Tinta da China, 2015). de ó0 e 70, onde assistiu em primeira mão ao fim dos impérios coloniais euro-
peus. Nunca fez uma única pergunta em conferências de imprensa. É autor de
NÉLro coNcErçÃo dezenas de livros, de reportagem e ficção, e também de livros de fotografia.
É doutorado em Filosofia (Estética) pela Faculdade de ciências sociais e Em Portugal estão traduzidos Ébano, O tmperador, Andanças com Heródoto,
Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com uma tese que explora as O Outro, Os Cínicos iVão Servern para Este Ofício e, pela Tinta da China, Mais
relações entre o pensamento filosófico e a fotografia. É membro integrado do LJm Dia de Vida - Angola 1975. Ryszard Kapuscinski morreu em 2007 .
NUNO DIAS
É doutorado em Ciências Sociais pelo lnstituto de Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa e investigador do Dinâmia'cEr-lur. É professor convidado do
Departamento de sociologia da Faculdade de ciências sociais e Humanas da
universidade Nova de Lisboa. Tem pesquisado a questão racial em contextos
coloniais e as relações entre etnicidade, classe e género. Publicou recentemente
Remigração e Etnicidade. Trânsito Colonial entre a África de Leste e a Europa.
NUNO DOMINGOS
É investigador auxiliar no lnstituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Doutorado em antropologia social pela School of Oriental and African Studies.
Publicou Futebol e Colonialismo, Corpo e Cultura Popular em Moçambique.
(Lisboa: lCS, 2012) e, com Elsa Peralta, Cidade e lmpério. Dinâmicas Coloniais
e Re co nfi g u ra çõe s P ós- col oni ai s (Lisboa : Ed ções 7 0, 201 2).
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RYSZARD KAPUSCINSKI
Nasceu em 1932, na Polónia. É unanimemente considerado o grande autor da
reportagem literária e o seu trabalho foi por vezes apelidado de <jornalismo
mágico>. Colaborou com vários órgãos de comunicação, mas distinguiu-se
enquanto correspondente da agência noticiosa polaca, a pap. Ao longo de dez
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