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Philosophy of Language - John Searle - Lecture 1

O ponto central do curso, segundo o professor Searle, é investigar como exatamente a


linguagem se relaciona com a realidade. Diz-nos o professor que tal pergunta possui uma
semelhança com a questão "o que é o sentido?" Afinal de contas, quando investigamos as
relações entre a linguagem e a realidade buscamos identificar esta relação em virtude de um
sentido. Busca-se compreender como este buraco que temos no rosto (nossa boca) que emite
certos barulhos pode emitir um "sentido". Ou seja, como esses barulhos podem ser falsos ou
verdadeiros; entendiantes ou originais; excitantes ou deprimentes; em suma, como isso é
possível?

Segundo o professor Searle, existem duas posições gerais na filosofia da linguagem. A


primeira é caracterizada por uma abordagem "lógico-matemática" como o modelo para entender
a linguagem. Ou seja, um sistema que enxerga a linguagem como um sistema formal. A segunda
enfatiza os "usos da linguagem" em seu aspecto social. Ou seja, enfatiza no intercâmbio entre
emissores e receptores. Segundo o professor Searle, ambas as posições possuem grandes
contribuições para a filosofia da linguagem, mas ele está mais próximo da "segunda abordagem".

O professor nos conta que a filosofia da linguagem foi "criada" nos finais do século XIX
por um matemático, lógico e filósofo alemão chamado Gottlob Frege. Para Searle, depois de
Kant, Frege foi o mais importante filósofo alemão ele revolucionou ao menos três assuntos:
lógica, as fundações da matemática e a filosofia da linguagem.

Para nos introduzir à filosofia da linguagem, o professor Searle nos apresenta algumas
distinções e conceitos:

1) A primeira distinção apresentada remonta a Kant, e se refere às declarações sintéticas e


declarações analíticas. Uma declaração sintética é aquela que é verdadeira ou falsa em virtude de
alguns fatos do mundo. Já uma declaração analística é verdadeira ou falsa em virtude do
significado das próprias palavras. Esta distinção está relacionada com a ideia de sentido, ou seja,
uma declaração analística está diretamente relacionada com o sentido; mas uma declaração
sintética será verdadeira ou falsa de acordo com algo que está para além do sentido.

2) A segunda distinção apresentada se refere às proposições que devem ser conhecidas


depois de uma investigação, usando experiências, etc., e outras que podem ser conhecidas antes
mesmo de qualquer investigação. São, no caso, as delcarações a priori e a posteriori. Esta
diferença epistemológica está associada às duas diferentes formas declaração que o professor
Searle nos apresentou, sendo declarações analiticas - a priori; Declarações sintéticas - posteriori.

3) A terceira distinção apresentada se refere àquilo que é contigente, ou seja, aquilo que é,
mas poderia não ser. E aquilo que é "não-contigente", ou seja, aquilo que só pode ser. Por
exemplo, quando dizemos "os solteiros usam calça jeans", é uma afirmação contigente. Mas não
é uma afirmação contigente dizer que 2 + 2 = 4. Por que? Pela simples razão de que 2+2 sempre
será igual a 4, é um fato necessário. É engraçado que o professor Searle coloca apenas a
matemática e a lógica como ciências que operam em declarações analíticas, e as ciências sociais
e humanas como ciências que operam em declarações sintéticas.

4) Uma quarta distinção apresentada pelo professor é a distinção entre proposições que
declaram questões de fato, que são às vezes descritivas, que abarcam declarações analíticas e
sintéticas. Mas, de acordo com essa concepção, existem declarações avaliativas e emocionais
(aqui estão as questões éticas e estéticas). E estas declarações avaliativas e emocionais, não
podem ser falsas ou verdadeiras. E como a filosofia se insere nisso? Não é matéria da filosofia a
verdade?

Após o professor Searle nos apresentar distinções úteis à nossa jornada na filosofia da
linguagem, o professor passa a apresentar outras noções interessantes. As primeiras apresentadas
tratam da distinção no estudo da linguagem entre sintaxe e semântica. A sintaxe está relacionada
com a estrutura formal de uma sentença. Já a semântica está ligada ao sentido do discurso. Para
além das duas noções, uma outra é apresentada, trata-se da "pragmática". Ou seja, para além da
forma (Sintaxe) e o sentido (Semântica) há o uso que os falantes podem fazer da sentença
(Pragmática). E isso introduz uma nova distinção, que é a distinção entre o sentido de uma
sentença e o que os falantes querem dizer quando eles usam essa sentença. Se bem repararmos,
ao longo do nosso dia em nossas conversas, podemos perceber que o "sentindo do falante" vai
além do sentido da sentença. Quando você diz, por exemplo, "Pode me passar o sal?", você não
está apenas duvidando da capacidade do outro de trazer o sal para você, mas está,
implicitamente, pedindo um "favor". Isso, segundo o professor, é um "discurso indireto". As
metáforas, as ironias e os sarcamos são casos onde os sentidos estão para além das noções
semânticas.

Uma das principais diferenças entre o sistema comunicativo humano e o sistema


comunicativo animal é que podemos ir muito além daquilo que as nossas sentenças emitem.
Segundo Searle, compositionality apenas uma maneira extravagante de dizer que você pode dizer
o significado da frase pelo significado das partes e a forma como elas são compostas, o
significado da frase é uma função composicional cujo devido é determinado de uma forma
composicional pelos elementos da frase e como eles são organizados

Generativity é im outro fato extraordinário sobre a linguagem humana e, novamente,


Frege foi o autor que tratou (colocou os dedos) neste assunto. É a ideia de que você pode
"generate" não apenas novas sentenças estritamente falando, mas você pode gerar um número
infinito de sentenças. Porém, como bem ressalta Searle, gerar uma quantidade infinita de
sentenças não quer dizer que você possa gerar uma sentença de comprimento infinito, são pontos
diferentes.

Debate entre Dan Everett vs. Noam Chomsky.

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Austin apresentou dois tipos de enunciados: os constativos e os performativos.[3] Os
enunciados constativos descrevem ou relatam um estado de coisas e podem ser valorados como
verdadeiros ou falsos. Isto é, são relatos, descrições ou afirmações, como por exemplo, a menina
tem seis anos, João foi à farmácia, está calor hoje. Tais enunciados recebem o valor de
verdadeiro, se estiverem adequados a um contexto/circunstância. De modo contrário, esses
enunciados recebem o valor de falso, se não estiverem adequados a um contextos/circunstância.

Ottoni (2002) reproduz a fala de Austin sobre a verdade ou falsidade dos enunciados:
“pois (deixando de fora os chamados enunciados ‘analíticos’) a questão da verdade ou falsidade
não depende somente de saber o que é uma frase nem mesmo do que significa, mas, falando de
modo geral, das circunstâncias em que se deu seu enunciado.” (Austin 1962, p. 142). Ou seja,
para considerar uma sentença verdadeira ou falsa deve-se considerar os objetivos e intenções do
falante, as circunstâncias do enunciado e as obrigações que são assumidas ao se afirmar algo.

Os enunciados performativos, quando ditos, realizam ações, por exemplo, ordeno que
você saia, eu te perdoo, declaro aberta a sessão. Estes enunciados não descrevem ou relatam
coisas, por isso, não podem ser valorados como falsos ou verdadeiros, mas sim executam atos
(ato de ordenar, batizar, condenar, perdoar, abrir uma sessão, etc.). Quando um enunciado
performativo é realizado/dito, está sendo concretizado um ato/ação. No exemplo, declaro aberta
a sessão, este enunciado não informa sobre a abertura da sessão, mas este enunciado é a
concretização do ato de abrir a sessão.

É preciso ressaltar que apenas dizer um enunciado performativo não é a garantia da


concretização do ato,[4] é necessário que o enunciado performativo seja realizado dentro de um
contexto/circunstância adequado. Austin denominou condições de felicidade a adequação do
enunciado performativo ao contexto em que é realizado/dito. No exemplo, eu te batizo em nome
do pai, do filho e do espírito santo, se dito por um engenheiro em seu ambiente de trabalho, o ato
performativo não se concretiza, ou seja, é infeliz. Mas quando dito por um padre durante uma
cerimônia na igreja, o ato do batizado se concretiza, ou seja, é feliz.

Para que um enunciado performativo seja uma ação, é preciso que alguns critérios sejam
satisfeitos: o falante deve ter autoridade para executar o ato (deve ser autoridade para dizer o
enunciado performativo) e as circunstâncias devem ser apropriadas. As condições de infelicidade
mais específicas do performativo são:

· Nulo ou sem efeito. Quando o orador não tem autoridade para dizer o enunciado. Por
exemplo, se um caminhoneiro fala para seu companheiro de viagem: eu te condeno a 10
anos de prisão.

· O abuso da fórmula ou falta de sinceridade. Por exemplo, quando se diz: eu prometo, mas
não há intenção de cumprir a promessa.
· A quebra de compromisso. Quando se diz: eu te perdoo, mas não há de fato o perdão da
pessoa.

Existe uma diferença entre esses dois tipos de performativo, o exemplo eu ordeno que
você saia é uma sentença muito precisa do ato que realiza, uma ordem. Já o exemplo saia é vago
ou ambíguo, pode ser uma ordem, um pedido, um conselho etc. Diante disto, Austin propõe a
existência de performativos explícitos, que são enunciados com performatividade explícita (eu
ordeno que você saia), e a existência de performativos implícitos ou primários, que são
enunciados sem performatividade explícita (saia).

A partir dessa distinção, Austin atribui o conceito de performativo primário ou implícito


aos enunciados constativos, anulando a distinção constativo e performativo, já que é possível a
transformação de um enunciado constativo em performativo.

Austin concluiu que todos os enunciados são performativos, pois, quando são
pronunciados, realizam algum tipo de ação, que é a realização de um ato de fala. Além disso,
identifica três atos simultâneos que se realizam em cada enunciado:o locucionário, o
ilocucionário e o perlocucionário:·

· Ato locucionário: ato de dizer algo. O ato de dizer certas expressões, bem formadas de
um ponto de vista sintático e significativo.·

· Ato ilocucionário: é a realização de um ato ao dizer algo.·

· Ato perlocucionário: produz efeitos e consequências no ouvinte.

Austin também postula que o ato locucionário é a produção de sentido do enunciado, o


ato ilocucionário é a força, a intenção do locutor no enunciado e o ato perlocucionário é o efeito
do enunciado sobre o interlocutor.

Conforme Ottoni (2002), a força do ato ilocucionário é o que permite um enunciado ser
performativo, não sendo possível estabelecer critérios gramaticais para defini-los. Os atos
ilocucionários são convencionais, ou seja, regras convencionais proporcionam aos enunciados,
em determinados contextos, serem performativos. Por isso, Austin desconstrói a distinção entre
enunciados constativos e performativos.

Em Ottoni (2002), para uma visão performativa o que importa não é o significado das
palavras ou do enunciado, mas sim as circunstâncias em que o enunciado é realizado, a força que
este enunciado tem e o efeito que ele provoca.

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