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O professor nos conta que a filosofia da linguagem foi "criada" nos finais do século XIX
por um matemático, lógico e filósofo alemão chamado Gottlob Frege. Para Searle, depois de
Kant, Frege foi o mais importante filósofo alemão ele revolucionou ao menos três assuntos:
lógica, as fundações da matemática e a filosofia da linguagem.
Para nos introduzir à filosofia da linguagem, o professor Searle nos apresenta algumas
distinções e conceitos:
3) A terceira distinção apresentada se refere àquilo que é contigente, ou seja, aquilo que é,
mas poderia não ser. E aquilo que é "não-contigente", ou seja, aquilo que só pode ser. Por
exemplo, quando dizemos "os solteiros usam calça jeans", é uma afirmação contigente. Mas não
é uma afirmação contigente dizer que 2 + 2 = 4. Por que? Pela simples razão de que 2+2 sempre
será igual a 4, é um fato necessário. É engraçado que o professor Searle coloca apenas a
matemática e a lógica como ciências que operam em declarações analíticas, e as ciências sociais
e humanas como ciências que operam em declarações sintéticas.
4) Uma quarta distinção apresentada pelo professor é a distinção entre proposições que
declaram questões de fato, que são às vezes descritivas, que abarcam declarações analíticas e
sintéticas. Mas, de acordo com essa concepção, existem declarações avaliativas e emocionais
(aqui estão as questões éticas e estéticas). E estas declarações avaliativas e emocionais, não
podem ser falsas ou verdadeiras. E como a filosofia se insere nisso? Não é matéria da filosofia a
verdade?
Após o professor Searle nos apresentar distinções úteis à nossa jornada na filosofia da
linguagem, o professor passa a apresentar outras noções interessantes. As primeiras apresentadas
tratam da distinção no estudo da linguagem entre sintaxe e semântica. A sintaxe está relacionada
com a estrutura formal de uma sentença. Já a semântica está ligada ao sentido do discurso. Para
além das duas noções, uma outra é apresentada, trata-se da "pragmática". Ou seja, para além da
forma (Sintaxe) e o sentido (Semântica) há o uso que os falantes podem fazer da sentença
(Pragmática). E isso introduz uma nova distinção, que é a distinção entre o sentido de uma
sentença e o que os falantes querem dizer quando eles usam essa sentença. Se bem repararmos,
ao longo do nosso dia em nossas conversas, podemos perceber que o "sentindo do falante" vai
além do sentido da sentença. Quando você diz, por exemplo, "Pode me passar o sal?", você não
está apenas duvidando da capacidade do outro de trazer o sal para você, mas está,
implicitamente, pedindo um "favor". Isso, segundo o professor, é um "discurso indireto". As
metáforas, as ironias e os sarcamos são casos onde os sentidos estão para além das noções
semânticas.
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Austin apresentou dois tipos de enunciados: os constativos e os performativos.[3] Os
enunciados constativos descrevem ou relatam um estado de coisas e podem ser valorados como
verdadeiros ou falsos. Isto é, são relatos, descrições ou afirmações, como por exemplo, a menina
tem seis anos, João foi à farmácia, está calor hoje. Tais enunciados recebem o valor de
verdadeiro, se estiverem adequados a um contexto/circunstância. De modo contrário, esses
enunciados recebem o valor de falso, se não estiverem adequados a um contextos/circunstância.
Ottoni (2002) reproduz a fala de Austin sobre a verdade ou falsidade dos enunciados:
“pois (deixando de fora os chamados enunciados ‘analíticos’) a questão da verdade ou falsidade
não depende somente de saber o que é uma frase nem mesmo do que significa, mas, falando de
modo geral, das circunstâncias em que se deu seu enunciado.” (Austin 1962, p. 142). Ou seja,
para considerar uma sentença verdadeira ou falsa deve-se considerar os objetivos e intenções do
falante, as circunstâncias do enunciado e as obrigações que são assumidas ao se afirmar algo.
Os enunciados performativos, quando ditos, realizam ações, por exemplo, ordeno que
você saia, eu te perdoo, declaro aberta a sessão. Estes enunciados não descrevem ou relatam
coisas, por isso, não podem ser valorados como falsos ou verdadeiros, mas sim executam atos
(ato de ordenar, batizar, condenar, perdoar, abrir uma sessão, etc.). Quando um enunciado
performativo é realizado/dito, está sendo concretizado um ato/ação. No exemplo, declaro aberta
a sessão, este enunciado não informa sobre a abertura da sessão, mas este enunciado é a
concretização do ato de abrir a sessão.
Para que um enunciado performativo seja uma ação, é preciso que alguns critérios sejam
satisfeitos: o falante deve ter autoridade para executar o ato (deve ser autoridade para dizer o
enunciado performativo) e as circunstâncias devem ser apropriadas. As condições de infelicidade
mais específicas do performativo são:
· Nulo ou sem efeito. Quando o orador não tem autoridade para dizer o enunciado. Por
exemplo, se um caminhoneiro fala para seu companheiro de viagem: eu te condeno a 10
anos de prisão.
· O abuso da fórmula ou falta de sinceridade. Por exemplo, quando se diz: eu prometo, mas
não há intenção de cumprir a promessa.
· A quebra de compromisso. Quando se diz: eu te perdoo, mas não há de fato o perdão da
pessoa.
Existe uma diferença entre esses dois tipos de performativo, o exemplo eu ordeno que
você saia é uma sentença muito precisa do ato que realiza, uma ordem. Já o exemplo saia é vago
ou ambíguo, pode ser uma ordem, um pedido, um conselho etc. Diante disto, Austin propõe a
existência de performativos explícitos, que são enunciados com performatividade explícita (eu
ordeno que você saia), e a existência de performativos implícitos ou primários, que são
enunciados sem performatividade explícita (saia).
Austin concluiu que todos os enunciados são performativos, pois, quando são
pronunciados, realizam algum tipo de ação, que é a realização de um ato de fala. Além disso,
identifica três atos simultâneos que se realizam em cada enunciado:o locucionário, o
ilocucionário e o perlocucionário:·
· Ato locucionário: ato de dizer algo. O ato de dizer certas expressões, bem formadas de
um ponto de vista sintático e significativo.·
Conforme Ottoni (2002), a força do ato ilocucionário é o que permite um enunciado ser
performativo, não sendo possível estabelecer critérios gramaticais para defini-los. Os atos
ilocucionários são convencionais, ou seja, regras convencionais proporcionam aos enunciados,
em determinados contextos, serem performativos. Por isso, Austin desconstrói a distinção entre
enunciados constativos e performativos.
Em Ottoni (2002), para uma visão performativa o que importa não é o significado das
palavras ou do enunciado, mas sim as circunstâncias em que o enunciado é realizado, a força que
este enunciado tem e o efeito que ele provoca.