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31/08/2021 AVA UNINOVE

Comte e a Ciência da Sociedade 

Neste tópico será exposto o contexto teórico de surgimento da Sociologia, como


também as teorias comteanas, que são àquelas que inauguraram os estudos de
Sociologia no planeta. Abordaremos também alguns dos problemas dessa primeira
teoria.

NESTE TÓPICO

Tópico

marcado




Contexto teórico de surgimento da Sociologia

Nos dias de hoje, sempre que nos deparamos com


algum problema, a primeira coisa que pensamos é
arrumar alguma ferramenta que possa facilitar o
“desenrolar” da coisa. Seja uma ferramenta
estritamente física ou imaterial, sempre tentamos
achar algo que facilite a resolução do problema.

Antigamente não era diferente. Do mesmo jeito


de hoje, quando existiam problemas, pensava-se
em ferramentas para solucionar a situação. A 
Revolução Industrial de 1760 pode ser um
exemplo disso, pois, para dar conta do problema

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da produção e da necessidade de maior lucro,


criou-se uma forma de acoplar a máquina a vapor
a um tear mecânico.

Parece brincadeira o que está sendo escrito aqui,


não? Mas por mais inverossímil que possa
parecer, a sociologia, para os seus fundadores, era
justamente isso: a tentativa de criar uma
ferramenta para solucionar os problemas que a
sociedade estava enfrentando, naquele momento

em que as ideias iluministas surtiam efeito na
forma de agir e de pensar das pessoas.

Vale salientar que as ideias iluministas não eram


negadas pelos pensadores que estavam
sistematizando os primeiros estudos sociológicos,
pois eles acreditavam que todas as mudanças
sociais promovidas pelas ideias iluministas eram
interessantes, válidas para a desconstrução de
várias ideias que eram extremamente
conservadoras e que aplacavam o
desenvolvimento das mais variadas ciências.
Quem era contra tais ideias eram os pensadores
conservadores, coisa que os fundadores da
Sociologia não eram.

Pensadores como Edmund Burke (1729-1797),


Joseph Maistre (1754-1821) e Louis Bonald (1754-
1840) eram dessa escola conservadora, no
momento em que a Sociologia estava tentando se
firmar. Já pensadores como Saint-Simon, Auguste
Comte e Émile Durkheim, podem ser entendidos
como os intelectuais progressistas e que viam
com bons olhos o desabrochar dessas novas
ideias. (Martins, 2002).

Falando em ciências, os paradigmas que eram


amplamente aceitos dentro das ciências, eram os
que versavam sobre ciências biológicas e exatas

(Química, Biologia e Matemática, por exemplo).
Ciências humanas não era algo que tinha

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credibilidade, pois, o objeto de estudos dessa


seara, o homem, era algo mutante, que se
transformava a todo momento e, por isso, era tido
como imensurável. Não era como o objeto de
estudo da biologia que é possível de colocar numa
proveta com reagente e chegar num resultado.
Acredito que você concorda que um ser humano é
impossível de se colocar numa proveta com um
reagente em condições normais de temperatura e
pressão para entender a sua forma de agir e 
pensar.

Mas, afinal, quem iniciou os estudos sociológico?

Feito esse pequeno preâmbulo, podemos chegar


ao que é o ponto central desse módulo: conversar
sobre aquele que iniciou oficialmente essa ciência
sem crédito, a qual tentava desenvolver estudos
sobre a sociedade, como uma ferramenta para
atenuar seus problemas.

Podemos dizer que outros pensadores, como Saint


Simon e Le Play (lê-se “Le Plé”) se debruçaram
sobre os estudos da sociedade, mas foi Auguste
Comte o primeiro que sistematizou um método
para os estudos que mais tarde veio a se chamar
Sociologia.

Grosso modo, método é como se fosse o modo de fazer de uma receita


bolo: primeiro bata os ovos, acrescente o leite, depois a farinha, bate tud
depois coloca o fermento. Não é a receita em si, pois a receita como um to
seria a metodologia, pois indica todas as etapas de seu preparo:
ingredientes, as quantidades e a forma de se misturar e um conhecimen
prévio que permite acender o forno, usar a batedeira, etc. 

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Puxando para a ciência, o método pode ser, por exemplo, uma pesqu
documental. Metodologia seria considerar objeto de estudo, objetiv
justificativa, hipótese, referencial teórico, método e cronograma.

Voltando, o que garante que algo seja ciência é o


método de estudo? Sim, isso mesmo!! Mas não só
isso. No momento em que a Sociologia surge era o
método de estudo o que garantia que outra pessoa 
pudesse repetir de maneira idêntica aquilo que eu
estudei e, assim, perceber se não tinha falha, se
não houve indução do objeto estudado para o
resultado que eu queria, dentre outros. E é essa
revisitação que comumente se faz aos estudos já
realizados, que propicia o avanço da ciência, que
faz ela poder sempre caminhar. Ao achar uma
falha e solucioná-la, acabo avançando no
conhecimento daquele objeto de estudo.

Vocês verão, por exemplo, que Émile Durkheim


fará isso com Auguste Comte, o que propiciará o
avanço das Ciências Sociais a um outro nível de
consistência teórico-metodológico. Mas desde já,
vale a pergunta: essa repetição pautada no
método é um pressuposto verdadeiro para todas
as ciências, naturais e humanas? 

“Para Comte o objetivo da ciência é


submeter continuamente todo e qualquer
fenômeno a leis rigorosamente
invariáveis. A partir desses postulados
universais, torna-se possível extrair leis
gerais, prevendo os resultados de
fenômenos semelhantes que aconteçam
em situações de espaço e tempo
distintas. Fatos novos passam a ser

explica dos à luz de formulações
nomotéticas pré-estabelecidas, e é nisso
que consiste o espírito positivo.”
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((Scheneider e Schimitt, 1998 p. 53))

Podemos dizer então que Auguste Comte cria uma


novidade: a de entender a sociedade através de
um método de pesquisa que gerasse
confiabilidade para a atuação dos poderes
públicos/privados, de forma a “melhorar” a
sociedade.

Isso, através de um entendimento livre de pré-


noções, desenvolvidos através da repetição e 
através da interpretação teórica dos resultados,
pois "nenhuma verdadeira observação é possível
sem que seja primeiramente dirigida e finalmente
interpretada por uma teoria"(Comte, 1988)

Mas qual era o método comteano para a então


denominada Física Social? Não era um método
novo, mas uma adaptação metodológica daquilo
que era visto como o mais credível dentro das
ciências daquele momento: o positivismo.

O método positivista é aquele que estuda apenas


o que é real, aquilo que é visível e palpável.

“Ainda no que se refere ao método,


Comte nos fornece dois corolários
fundamentais a este princípio lógico-
indutivo anteriormente exposto: (i) deve-
se afastar a s causas enquanto
preocupação da Física Social e, (ii)
buscar no método histórico, através da
filiação gradual, o complemento lógico ao
positivismo. Quanto a o primeiro
corolário, Comte afastou de suas
preocupações a busca das causalidades
(princípio fundamental do pensamento
de Durkheim ). Para ele, o objetivo da
Filosofia Positiva era o de submeter os 

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fenômenos à leis in variáveis e não


procurar suas causas, fossem elas
primárias ou finais.” 
(Schneider e Schmitt, 1998, p. 52)

Ciências Humanas a procura de uma identidade

Você se lembra que comentamos acima, sobre a


credibilidade das ciências exatas e biológicas?
Pois bem, essa base positivista que entende como
factível o estudo apenas do que é real, visível, 
tocável, portanto, empírico, vem daí. E Auguste
Comte, para tentar dar um maior ar de
credibilidade ao seus estudos sobre a sociedade,
puxará o positivismo para dar conta de ancorar
cientificamente seus estudos.

“A verdadeira ciência consiste, toda ela,


nas relações exatas estabelecidas entre
os fatos observados, a fim de deduzir, do
menor número possível de fenômenos
fundamentais, a série mais extensa de
fenômenos secundários, renunciando
absolutamente à vã pesquisa das causas
e das essências. Numa palavra, a
revolução fundamental que caracteriza a
vitalidade de nossa inteligência consiste
essencialmente em substituir, em toda
parte, a inacessível determinação das
causas propriamente ditas pela simples
pesquisa das leis”. 
(Moraes Filho, 1983, p.80)

Dessa forma a base de estudos de Comte estava


naquilo que era observável na sociedade. E o que
se via na sociedade de meados do século XIX,
momento em que Comte surge com a criação da
Sociologia, era uma massa de pessoas que se
acumulavam em centros urbanos que se 
agigantavam e que transformavam a vida urbana

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em algo caótico, longe da calmaria habitual que


abrigava esses centros em épocas não muito
distantes, durante o início desse mesmo século.

Com isso podemos perceber a importância do


século XIX, posto que é um período de muitas
alterações para a História social.

Podemos dizer que nesse século teremos a


afirmação de uma ordem amparada no tecnicismo,
na Indústria e nas ciências, onde o homem 
ocupava um lugar de destaque e criava sua
hierarquia através da fé em si mesmo, em
detrimento de uma ordem teológica e militar que
se arrastava desde o século XV com o fim da Idade
Média, na qual os exércitos e a fé em um deus é
que determinavaM a hierarquização entre os
homens.

Dito de outra forma, durante o século XIX os


sacerdotes foram substituídos pelos cientistas e
os militares pelos empresários, os quais, agora,
não mais se voltavam para a organização social
em torno da guerra, mas para uma ordem social
em torno do trabalho industrial.

Continuando, Auguste Comte construiu uma ideia


que é tomada com sendo bastante conservadora a
respeito do saber criado pela Sociologia.

Para este autor, o saber sociológico positivista


deveria ser imposto às pessoas, pois, não é isso
que acontece com os saberes matemáticos,
biológicos e químicos? Sim, é isso que acontece: 
somos até hoje obrigados a decorar fórmulas,
nome de estruturas celulares e de elementos na
tabela periódica. Então, para ele, seus
entendimentos positivistas desenvolvidos acerca
da sociedade, também deveriam ser entendidos 
dessa forma.

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Porém, ao afirmar isso, Comte não levou em conta


que os saberes sociológicos são construídos e
reconstruídos de forma bastante itinerante e que,
portanto, é diferente de uma ciência exata, em
que 2 + 2 sempre será igual a 4.

Mas Auguste Comte e seus companheiros


positivistas rebatem essa lógica, dizendo que ao
internalizar os conhecimentos produzidos pela
Sociologia do passado e do presente, criamos a 
possibilidade de entender melhor a sociedade e
não incorrer no risco de repetir atitudes as quais
já não deram certo.

Dessa forma, os positivistas colocam que para a


histo?ria humana, e? fundamental que o homem
tenha uma natureza reconheci?vel e defini?vel
atrave?s de todos os tempos e de todas as
sociedades. E? preciso que as organizac?o?es
sociais de uma dada sociedade comportem uma
determinada ordem essencial e e? preciso que a
natureza humana e a natureza social apresentem
certas caracteri?sticas que nos permitam
conhecer as principais caracteri?sticas do seu
futuro histo?rico. Para Comte, essa e? a func?a?o
da sociologia, oferecer todas essas explicac?o?es e
esses delineamentos.

Comte admitia que a descrição empírica


absoluta do modo de ser dos fenômenos
era impossível, reconhecendo por isso
que a maneira mais judiciosa de proceder
na Sociologia para manter o rigor
científico e metodológico deveria incluir
os seguintes passos: (i) a observação
propriamente dita ou exame direto do
fenômeno; (ii) a experiência ,

contemplação do fenômeno em
condições artificiais (através da
utilização de recursos de investigação) e;
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(iii) a comparação, isto é, a consideração


gradual de uma série de casos análogos,
através da qual o fenômenos e simplifica
cada vez mais. " 
(Schneider e Schmitt, 1998, p. 65)

Problemas da teoria positivista

Temos de perceber que se não fosse o esforço


comteano acerca da criação de um método
sociológico, talvez a Sociologia tivesse demorado 
ainda mais para surgir como um ramo das
ciências.

Mesmo assim, não podemos deixar de elencar


alguns problemas teóricos da teoria positivista de
Comte.

Talvez, o problema mais salutar  a se destacar é a


ideia de os positivistas estudarem apenas aquilo
que é visível. A exemplo de um iceberg,
geralmente aquilo que aparece aos olhos é apenas
uma pequena parte do problema.

Dessa forma, as explicações positivistas da


sociedade ficam na superficialidade, deixando de
lado aquilo que está escondido, nas entrelinhas, e
que muitas vezes é a explicação fundamental do
problema social estudado.

Hoje, com o avanço dos estudos da Sociologia,


sabemos que não só o que é visível, mas também
o que não é palpável, como as produções
simbólicas das sociedades, nos levam a entendê-
la.

Outro ponto interessante a se destacar, é a ideia


de que a Sociologia seria responsável por
reorganizar a sociedade. Sabemos que as ciências
devem auxiliar e apontar os problemas para que 

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os órgãos competentes possam desenvolver os


acertos necessários. Nenhuma ciência tem a força
de, por ela mesma, arrumar alguma coisa.

Mais um ponto a se colocar sobre a teoria


positivista comteana, é a defesa de uma baixa
mobilidade social. Para ele, quando a mobilidade
social acontece, pode ser que um determinado
estrato social infle demais com o esvaziamento de
outro. Com isso as funções sociais dentro da
sociedade podem entrar em colapso e, com isso,

levar toda a sociedade para o mesmo caminho.

Quiz
Exercício

Comte e a Ciência da Sociedade

INICIAR 

Referências
COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Nova Cultural, 1988. 

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MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia? São Paulo: Brasiliense,


2002.

MORAES FILHO, Evaristo (org). Comte: sociologia. São Paulo: Ática, 1983.

SCHNEIDER, Sergio; SCHIMITT, Cláudia Job. O uso do método comparativo


nas Ciências Sociais. Cadernos de Sociologia, Porto Alegre, v. 9, p. 49-87,
1998


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