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UNIVERSIDADE Brasil

CURSO DE MEDICINA

Prof. Dr. Fábio Carnielo


Prof. Dr. José Antonio Santos Souza
Prof. Me. Paulo Henrique Caineli Rosa

FERNANDÓPOLIS
2021
1
PROBLEMA

REFUTAÇÃO/
NÃO REFUTAÇÃO
HIPÓTESE

EXPERIMENTO

2
Epidemiologia é uma ciência que estuda quantitativamente a
distribuição dos fenômenos de saúde/doença, e seus fatores
condicionantes e determinantes, nas populações humanas. Alguns
autores também incluem na definição que a epidemiologia permite
ainda a avaliação da eficácia das intervenções realizadas no âmbito
da saúde pública.

A lógica de base da moderna epidemiologia


estrutura-se em torno de um conceito fundamental
que discutiremos aqui, o risco e de um conceito
correlato fator de risco.
3
JEKEL; KATZ; ELMORE, 2001; NAOMAR; ROUQUAYROL, 2006
A epidemiologia NÃO LIDA DIRETAMENTE com “doença” uma
noção essencialmente clínica. Essa ciência tem como objeto a
relação entre o subconjunto de doentes e o conjunto populacional ao
qual ele pertence, incluindo os determinantes dessa relação e nesse
sentido podem-se gerar correlatos operacionais de conceitos de
risco, como fator de risco.

Parte dos trabalhos epidemiológicos consistem na busca de associar


EXPOSIÇÕES e DESFECHOS. Ou seja, no estudo entre “causa” e
“efeito”.
É necessário lembrar que:

Um desfecho não é necessariamente uma doença!!!


JEKEL; KATZ; ELMORE, 2001; ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2006, OLEKANO, 2008 4
EPIDEMIOLOGIA
EXPOSIÇÕES e DESFECHOS

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Atributo de um grupo da
população que apresenta maior
incidência ou prevalência de
uma doença, em comparação a
outros grupos de menor
exposição a tal característica....

Implementação de medidas
de prevenção do risco e
promoção da saúde...

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 Fumar causa câncer????

A epidemiologia apenas comprova que quem


fuma tem algumas vezes mais chance/risco de
apresentar determinados desfechos do que
outras (que não fumam)… Portanto (…)

O método epidemiológico não apresenta condições para


estabelecer esse tipo de relação…
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Experts Transversal

Estudo de
Ecológico série de
casos

Coorte

Caso- Ensio
controle clínico
comunitário

Estudo de Ensio
caso clínico
aleatório

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OBSERVACIONAIS x EXPERIMENTAIS

Permitem que a natureza determine


Permite intervenção, “limitadas à
o seu curso, o pesquisador mede
aspectos éticos”, pelo pesquisador
mas não intervém

DESCRITIVOS ANALÍTICOS ANALÍTICOS

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 Descrever a distribuição de um evento na
população, em termos quantitativos;
 Pode ser de incidência ou prevalência;

 Identificar grupos de risco;

 Não há formação de grupo controle;

 População só doentes, só sadios ou

mistos;
 Banco de dados: + abrangente + preciso.
http://www.anvisa.gov.br/institucional/snvs/coprh/cursos/met_epid.pdf
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Os estudos analíticos estão usualmente subordinados a
uma ou mais questões científicas, as “hipóteses”, que
relacionam eventos: uma suposta “causa” e um dado
“efeito”, ou “exposição” e “doença”, respectivamente. São
estudos que procuram esclarecer uma dada associação
entre uma exposição, em particular, e um efeito específico.

http://www.anvisa.gov.br/institucional/snvs/coprh/cursos/met_epid.pdf 11
OBSERVACIONAIS EXPERIMENTAIS

DESCRITIVOS ANALÍTICOS ANALÍTICOS

Ensaio Clínico
Relato de caso Transversais Não
Randomizado
Ensaio Clínico
Série de casos Caso-controle
Randomizado

Ensaio Clínico
Transversais Coorte
comunitário
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São as ferramentas de trabalho do
epidemiologista, permitindo fazer
inferência (indução) a respeito da
ASSOCIAÇÃO entre EXPOSIÇÃO e
DESFECHOS.

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Triagem clínica Relato de caso
randomizada

Série de casos Transversais

Triagem clínica
Caso-controle
não randomizada

Coorte

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Hierarquia da evidência:
investigações com
localização superior na
hierarquia indicam maior
força da evidência.

M Hassan Murad et al. Evid Based Med 2016;21:125-127


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UM DOS DELINEAMENTOS MAIS EMPREGADOS NA PESQUISA
EPIDEMIOLÓGICA CONSISTE NO ESTUDO TRANSVERSAL.
BASTOS; DUQUIA, 2007
EQUIVALE 50% DA PRODUÇÃO ENCONTRADA NOS PERIÓDICOS
INTERNATIONAL JOURNAL OF EPIDEMIOLOGY E REVISTA DE
SAÚDE PÚBLICA EM (1998)
BARROS; HIRAKATA, 2003

NECESSIDADE DE CONHECER SUAS PRINCIPAIS


CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS

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 Seccional

 Corte

 Corte transversal
 Vertical

 Pontual

 Prevalência

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O estudo transversal/seccional é aquela estratégia de
estudo epidemiológico que se caracteriza pela
observação direta de determinada quantidade planejada
de indivíduos em uma única oportunidade.

PESSOAS AGREGADOS ANIMAIS

UNIDADE DE OBSERVAÇÃO

Fornece um diagnóstico INSTANTÂNEO da situação de saúde de


uma população, com base na avaliação individual do estado de
saúde de cada um dos membros do grupo.

MEDRONHO, 2003 19
 Nos estudos transversais todas as medições são feitas
num único "momento", não existindo, portanto,
período de seguimento dos indivíduos.
 Para levar a cabo um estudo transversal o investigador
deve:

Elaborar a Eleger Escolher


Questão do Método de
População Escolha da
estudo
amostra

Escolher Escolher Escolher


Análise Métodos
pertinente ao Fenômenos a
empregados serem estudados
estudo
http://stat2.med.up.pt/cursop/print_script.php3?capitulo=desenhos_estudo&numero=6&titulo=Desenhos%20de%20estudo 20
Pode-se afirmar que os estudos transversais são recomendados
quando se deseja estimar a freqüência com que um determinado
evento de saúde se manifesta em uma população específica, além
dos fatores associados com o mesmo.

“Quais são as frequências do “Existe associação entre o fator


fator de risco e do desfecho em de risco e o desfecho em
estudo?” questão?”

É importante lembrar que uma relação de associação não


sugere, necessariamente, uma relação de causalidade,
ou causa e efeito.
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BARROS; HIRAKATA, 2003; BASTOS; DUQUIA, 2007
A condução de um estudo transversal envolve,
essencialmente, as seguintes etapas:

1. definição de uma população de interesse;


2. estudo da população por meio da realização
de censo ou amostragem de parte dela; e
3. determinação da presença ou ausência do
desfecho e da exposição para cada um dos
indivíduos estudados.

BASTOS; DUQUIA, 2007 22


Avaliação clínica
Exames laboratoriais
Questionários
Formulários

Adaptado de BASTOS; DUQUIA, 2007 23


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 Em seguida, os indivíduos incluídos em cada uma das
quatro situações podem ser organizados em uma
tabela de contingência:

O exemplo clássico de uma tabela 2 x 2. Em muitos estudos existe a


possibilidade da exposição e até mesmo do desfecho apresentar
várias categorias??? E agora???
Adaptado de BASTOS; DUQUIA, 2007
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Apresentaram sorologia Não apresentaram sorologia
positiva para hepatite A e positiva para hepatite A e
tiveram contato com água tiveram contato com água
contaminada contaminada

Hepatite A Total
Contato com Sim Não
água Sim 114 (a) 98 (b) 212
contaminada
Não 83 (c) 413 (d) 496
Total 197 511 708

Apresentaram sorologia Não apresentaram sorologia


positiva para hepatite A e não positiva para hepatite A e não
tiveram contato com água tiveram contato com a água
contaminada contaminada
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Número total de casos existentes numa determinada população e
num determinado momento temporal;

Proporção de casos existentes numa determinada população e num


determinado momento temporal.

A prevalência assemelha-se a uma fotografia, na qual se registra a


fração de indivíduos com um desfecho naquele instante de tempo.
É, portanto, uma medida estática em relação ao processo dinâmico
de ocorrência. Para se medir a prevalência os indivíduos
componentes de uma amostra são observados uma única vez.
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COSTA; KALE, 2005, OLEKANO, 2008
 Utiliza-se amostras REPRESENTATIVAS da população
ou comunidade, devida a óbvia dificuldade para a
realização de intervenção que inclua a totalidade de
membros de grupos numerosos.
A definição de representatividade mais empregada
fundamenta-se na teoria estatística valorizando o
caráter ALEATÓRIO da amostra (ALMEIDA FILHO;
ROUQUAYROL, 2006).

AMOSTRAS REPRESENTATIVAS SÃO CHAMADAS DE AMOSTRAS


PROBABILÍSTICAS.

JEKEL; KATZ, 2001, KLEIN; BLOCH, 2005 29


Inferência estatística: da amostra para a população em estudo

INFERÊNCIA ESTATÍSTICA

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 Já conheço o estudo, sua abordagem
inicial e para que ele serve.

 Como fazer para verificar a prevalência e


risco/proteção a um determinado
desfecho???

31
32
Para mensurar quantitativamente uma relação “causal” e,
portanto, expressar a magnitude da associação entre
exposição e desfecho, utiliza-se as medidas de
associação e efeito (MEDRONHO, 2003).

VAMOS CONHECER DOIS PROCEDIMENTOS EMPREGADOS


NOS ESTUDOS TRANSVERSAIS

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Trabalhando com a PREVALÊNCIA observada no estudo podemos
fazer alguma arguição de importância para a epidemiologia e saúde
pública.

Ao dividirmos uma fração


pela outra obteremos
uma medida de efeito
denominada RAZÃO DE
PREVALÊNCIA.

Formula de Bastos e Duquia (2007) modificada por conter um erro. Pag. 231. 34
Se o numerador da fração for maior do que o
denominador, isto constituirá evidência de que a
frequência do desfecho foi maior entre os
expostos e que há uma possível associação
entre ambos: maior prevalência do desfecho
estará associada com a presença da exposição
em estudo.

Na prática RP estima, por meio de uma razão, se a prevalência é


(maior, igual ou menor) no grupo exposto do que no não exposto.

Menor do que 1 (RP<1) = Prevalência menor nos expostos


Igual a 1 (RP = 1) = Prevalência igual entre exp. e não exp.
Maior do que 1 (RP>1) = Prevalência maior nos expostos
BASTOS; DUQUIA, 2008 35
Estudo realizado em um município após as enchentes verificou a
prevalência de marcador solológico para Hepatite A. Os
pesquisadores querem saber se os indivíduos que tiveram contato
com a água tiveram mais doença que os que não tiveram.
Hepatite A Total
Contato com água Sim Não
contaminada Sim 114 98 212
Não 83 413 496
Total 197 511 708

(114/114+98)/(83/83+413) = 0,53/0,16 = 3,3

Lembre-se que se a tabela tivesse mais linhas e colunas era só utilizar o


mesmo raciocínio.
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Odds Ratio, ou Razão de Chances é uma medida de associação
que ESTIMA o RISCO RELATIVO, o que é importante
principalmente em estudos onde não é possível o cálculo da
INCIDÊNCIA.
Se o objetivo é responder se a chance de desenvolver a
doença no grupo de expostos é maior (ou menor) do que
no grupo de não expostos, a medida de associação a ser
estimada é a razão de chances.

Menor do que 1 (OR<1) = FATOR DE PROTEÇÃO


Igual a 1 (OR = 1) = NULO
Maior do que 1 (OR>1) = FATOR DE RISCO

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Odds (chance de apresentar o desfecho): Razão entre Odds Ratio
expostos que desenvolveram o desfecho por não (razão de
expostos que o desenvolveram . chance): Razão
entre as duas
Odds (chance de não apresentar o desfecho): Razão chances
entre expostos que não desenvolveram o desfecho observadas
por não expostos que não o desenvolveram . anteriormente

Em casos em que for montado uma tabela 2X2 Odds Ratio


podera ser calculado como RAZÃO DOS PRODUTOS CRUZADOS,
ou seja, (a*d/b*c).
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Estudo realizado em um município após as enchentes verificou a
prevalência de marcador sorológico para Hepatite A. Para verificar
se o contato com água contaminada era um fator de risco os
pesquisadores observaram que:
Hepatite A Total
Contato com água Sim Não
contaminada Sim 114 98 212
Não 83 413 496
Total 197 511 708
Calculando Odds Ratio.

(114/83)/(98/413) = 1,3/0,23 = 5,7 Abordagem 1

114 x 413/98 x 83 = 47082/8134 = 5,7 Abordagem 2


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 Baixo custo;

 Facilidade de realização;

 Rapidez com que é empregado;

 Objetividade na coleta dos dados.

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 Condições de baixa prevalência;

 Tamanho amostral grande;

 Relação temporal.

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 Mede frequência do fenômeno em
determinado ponto do tempo;
 Não há espera para observar o
EFEITO;
 Nem informação anterior sobre o
EFEITO.

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Os estudos transversais consistem em uma ferramenta
de grande utilidade para a descrição de características
da população, para a identificação de grupos de risco e
para a ação e o planejamento em saúde. Quando
utilizados de acordo com suas indicações, vantagens e
limitações, podem oferecer valiosas informações para o
avanço do conhecimento científico. BASTOS; DUQUIA, 2007

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 AKOBENG, A. K. Understanding randomized controlled trials. Arch. Dis. Child.
v.90, p.840-4, 2005.
 BASTOS, J. L. D. ; DUQUIA, R. P. Um dos delineamentos mais empregados em
epidemiologia: estudo transversal. Scientia Medica, v. 17, n. 4, p. 229-232, 2007.
 BARROS, A. J.; HIRAKATA V. N. Alternatives for logística regression in cross-sectional
studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence
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 COSTA, A.J.L.; KALE, P.L. Medidas de freqüência de doença. In: MEDRONHO, R.A., et
al. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu. p. 15-31, 2005.
 EVANS, D. Hierarchy of evidence: a framework for ranking evidence evaluating
healthcare interventions. J. Clin. Nurs. v.12, p.77-84, 2003.
 FRANCISCO, P. et al. Medidas de associação em estudo transversal com
delineamento complexo: razão de chances e razão de prevalência. Rev. Bras.
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 PEREIRA, J. C. R. Bioestatística em outras palavras. São Paulo: Edusp,
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 WROCLAWSKI, E. R.; GLINA, S. Revendo conceitos de urologia baseada
em evidências empregando exemplos de uro-oncologia. São Paulo:
Dentrix Edição e Designe Ltda., 2007.

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