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LUIZ, Gabriel Amaro. Fichamento do texto de MACIEL, Carlos Alberto: Arquitetura, projeto e conceito.

Segundo Maciel, o projeto de arquitetura segue premissas postas anteriormente à


criação do desenho. O programa, o sítio e o sistema construtivo são balizadores entre o
abstrato e o concreto (MACIEL, 2003). As premissas de projeto não são axiomas
(proposições aceitas sem a necessidade de provação), ao contrário, devem possuir
contexto e justificação.

Tem sido recorrente o processo de projeto ser induzido por um conceito alheio às
premissas ditadas anteriormente, como uma: “uma ficção, analogia, metáfora ou discurso
filosófico que, servindo como ponto de partida, daria relevância ao projeto e milagrosamente
articularia todos os condicionantes em uma forma significativa” (MACIEL, 2003). Este
conceito tira o protagonismo das premissas originais, sendo capaz de resultar numa
implantação indiferente ao contexto do projeto, pois:

(...) a busca de ficções legitimadoras isoladas como algo que confira


qualidade à arquitetura tem sido uma estratégia usual tanto entre arquitetos
que ocupam posições dominantes no cenário internacional como na
produção local, prática e acadêmica. (MACIEL, 2003).

O autor em oposição ao paradigma apresentado acima, propõe pensar:

(...) o conceito como o esforço do arquiteto em compreender , interpretar e


transformar os dados pré-existentes do problema arquitetônico, que se
constituem em fundamento para seu trabalho: o lugar, o programa, e a
construção. (MACIEL, 2003).

Ao propor reflexão sobre a ideia de conceito, sua intenção não é determinar um


procedimento lógico e racional na metodologia de projeto, pois isso extrairia a subjetividade
do arquiteto. Entretanto, é necessário um posicionamento lógico e racional do profissional
diante das premissas para tomadas de decisões. Este ato depende da experiência (vivência
do autor do projeto), do conhecimento (análise da problemática) e do momento histórico
(tecnologias à disposição). “(T)oda compreensão é histórica e emerge da situação
existencial e da experiência vivida por aquele que se propõe à tarefa de compreender ou
interpretar alguma coisa” (BRANDÃO apud MACIEL, 2003)1.

Assim, a subjetividade é um elemento indispensável no processo de criação, pelo


contrário, é o ponto chave para a riqueza do projeto, porém não deve-se desvencilhar do
programa, sítio e construção.

Lugar

A problemática do lugar é um aspecto que demanda esforço de observação,


pesquisa e análise do arquiteto. Os elementos são:

1
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Linguagem e arquitetura: o problema do conceito. Revista de Teoria e
História da Arquitetura e do Urbanismo. vol.1, n.1, novembro de 2000. Belo Horizonte: Grupo de Pesquisa
"Hermenêutica e Arquitetura" da Escola de Arquitetura da UFMG. Disponível: <http://www.arq.ufmg.br/ia>.
Acesso em 25 jun. 2003.

1
LUIZ, Gabriel Amaro. Fichamento do texto de MACIEL, Carlos Alberto: Arquitetura, projeto e conceito.

A geografia, a topografia e a geometria do terreno, sua conformação


geológica, a paisagem física e cultural, a estrutura urbana, o sol, os ventos
e as chuvas e ainda a legislação de uso e ocupação do solo são dados
pré-existentes que podem ser extraídos de uma análise cuidadosa do lugar.
(MACIEL, 2003).

As análises do lugar sob olhar técnico devem levar em consideração a boa relação
com o clima e a natureza, trazendo à luz, boa habitabilidade, para evitar remendos
posteriores impertinentes. Ao pensar no projeto de uma habitação, por exemplo, deve-se
observar a orientação solar e dos ventos dominantes para a disposição dos ambientes e
aberturas, com intuito de economizar energia com formas passivas de conforto térmico e
lumínico.

Sob o olhar conceitual, a relação com o entorno deve ser observada para que não
haja incompatibilidade na implantação com as preexistências.

Programa

O programa consiste nas demandas e atividades que o projeto deve abrigar. O autor
também destaca que o programa deve-se observar o âmbito econômico, que impõe restrições
ao projeto. Sendo “(...) um aspecto geralmente desconsiderado ou subestimado pelos
arquitetos” (MACIEL, 2003).

Sobre este aspecto o autor cita que: “Desconsiderar as definições relativas às


limitações econômicas ou entendê-las como uma restrição à criação é recorrer à exclusão do
problema para buscar uma solução mais simples e fácil” (MACIEL, 2003), proporcionando:

(..) a simplificação decorrente da exclusão de problemas como uma


estratégia para assegurar uma pré-determinação da forma. Contrapõe a
essa tendência a necessidade da busca por uma complexidade que inclua
efetivamente na resolução da forma às diversas demandas que
comparecem no processo de projeto. (VENTURI apud MACIEL, 2003)2.

O domínio das dimensões é o segundo aspecto citado pelo autor. As dimensões


servem como balizadores para a definição do uso e conforto dos ambientes.

O domínio efetivo das dimensões permite a atuação ativa do arquiteto


sobre a construção a fim de definir espaços qualitativamente distintos. A
definição da ambiência de um espaço de permanência ou de um percurso e
a demarcação de seu caráter público ou privado são diretamente
determinados pelas suas dimensões. Portanto o dimensionamento é
fundamental, em primeira instância, para um domínio das demandas de
espaço a que correspondem às diversas atividades e, em segunda
instância, para a definição de hierarquias e demarcação de diferenciações
claras entre os espaços de naturezas distintas. (MACIEL, 2003).

2
Cf. VENTURI, Robert. Complexidade e Contradição em Arquitetura. Tradução Álvaro Cabral. São Paulo: Martins
Fontes, 1995.

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LUIZ, Gabriel Amaro. Fichamento do texto de MACIEL, Carlos Alberto: Arquitetura, projeto e conceito.

Além de observar as questões utilitárias, sob o aspecto funcional, o arquiteto


também deve observar o quotidiano (tradição) dos usuários, propondo, paulatinamente, um
projeto funcional, adequado e íntimo à realidade das pessoas.

Outro ponto apresentado pelo autor é a demarcação de territórios, que “com


caracterizações distintas em suas relações de privacidade evoca a premissa de que a
arquitetura se funda na necessidade de mediação das relações humanas” (MACIEL, 2003).
Desta forma, este aspecto considera o caráter dos ambientes. Em uma habitação, por
exemplo, os compartimentos são classificados em: íntimo, social ou de serviço. Ao
conceber a planta, leva-se em consideração a setorização da natureza dos ambientes.

Construção

Não compete ao arquiteto somente a criação do projeto observando as formas e


relações pretendidas, mas também os materiais e a tecnologia construtiva.

A definição das fundações, da estrutura, das proteções contra as


intempéries, das instalações complementares, dos processos construtivos e
dos detalhes, bem como a eleição dos materiais, são escolhas do arquiteto
que visam a viabilizar a realização do espaço imaginado e resultam na
forma arquitetônica. (MACIEL, 2003).

A concepção de um projeto está ligada à linguagem pretendida (arquitetura),


porém, é essencial ao arquiteto estudar formas para o que se pretende, seja executado. O
sistema estrutural e a tecnologia construtiva são fatores preponderantes na arquitetura, não
concerne apenas à engenharia.

O conhecimento da construção é a única possibilidade de se viabilizar


concretamente a ideia do objeto arquitetônico. Sua desconsideração é a
garantia da falência da arquitetura – e do arquiteto -, na medida em que
deixa para outro a responsabilidade fundamental das definições que em
última instância implicam na geração da forma visível e tangível do edifício,
e na definição da ambiência e da conformação do espaço interior destinado
à vida humana. (MACIEL, 2003).

Desenho

O desenho (representação gráfica), é colocado pelo autor como a intermediação


“entre a ideia e a sua realização concreta, a construção” (MACIEL,2003). Não é uma
ferramenta que apresenta o produto final, mas também auxilia na construção da ideia e no
processo de criação. Num ato de “tentativa e erro”, o desenho é um instrumento para que o
arquiteto estude hipóteses e encontre resoluções para os problemas da implantação do
projeto.

Bibliografia
MACIEL, Carlos Alberto. Arquitetura, projeto e conceito. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 043.10, Vitruvius,
dez. 2003. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.043/633. Acesso em: 07 set. 2021.

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