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https://novaescola.org.br/conteudo/12358/estamos-preparados-
para-incorporar-as-competencias-socioemocionais-da-bncc
Pesquisa Aplicada
A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apontou aspectos da escola que
sempre existiram, mas não eram explicitados nos currículos brasileiros. Formar alunos
que sejam assertivos, que se autoconheçam, que sejam responsáveis, que possam
respeitar o outro e se sentir respeitado são competências tão importantes quanto o
domínio lógico-matemático ou a leitura e a escrita. Alguém discorda? A questão é:
como equacionar tudo isso? Como é que professores darão conta dessas
competências se muitas vezes não têm ideia do que seja, de fato, trabalhar com as
questões afetivas?
LEIA MAIS Competências socioemocionais de A a Z
Perguntamos para o professor, por exemplo: o quão importante eles achavam que era
“mostrar indignação frente a uma situação de injustiça cometida entre os alunos”.
Obtivemos as seguintes respostas: 25% disseram considerar muito importante, 40%
importante, 20% pouco importante e 15% nada importante. Aparentemente, muitos
professores compreendem o tema da afetividade como ser carinhoso com os alunos
como se não fosse adequado corrigi-los ou mesmo demonstrar sentimento de
desagrado frente a um problema.
Parece que alguns professores sabem da necessidade de que haja espaços para que as
crianças falem o que sentem, mas não quais são os melhores para isso. É preciso
lembrarmos que não se expõem os sentimentos infantis a todos. Falar de si não deve
ser uma obrigatoriedade em roda e para todo mundo. Fazendo isso, invadimos a
“fronteira natural da intimidade” que a criança está ainda construindo.
Em outra questão: “Comentar em sala a atitude errada de algum aluno, para colocar
como exemplo”, tivemos 0% para muito importante, 22% para importante, 38% para
pouco importante e 40% para nada importante. Notemos que 22% dos educadores
parecem acreditar que a moral possa ser formada pelo exemplo e não por um
processo de autorregulação. Somado a isso, há ainda a mesma perspectiva anterior
que não devemos expor a criança.
Finalmente, as questões sobre a última das relações: consigo mesma. Perguntamos aos
professores sobre “incentivar e oferecer oportunidades de a criança ficar só, consigo
mesma” e quase 50% disseram considerar a questão “pouco ou nada importante”. Por
certo, há um cuidado em jogo quando essas crianças são pequenas. No entanto, o fato
de que metade se refira a “não” oferecer oportunidades de ficar só valida a concepção
de que, muitas vezes, não entendemos que as crianças também precisam de espaços
para “quererem” estar consigo mesmas e que essa é uma oportunidade valiosa de
construir o autoconhecimento.
1.
ELKIND, David. Alguns equívocos sobre o modo como as crianças aprendem. In: Crianças e
adolescentes. Ensaios interpretativos sobre Jean Piaget. Rio de Janeiro, Zahar, 1975.
piaget, j. Las relaciones entre la inteligencia y la afectividad en el desarrollo mental del niño In:
DELAHANTY, G. PERRËS (comp). Piaget y el psicoanálisis. México: Universidade
Autonoma Metropolitana, 1952/1994, p. 181 –290.
RIBEIRO, M.L.; JUTRAS, F. Teachers’ social representations about affectivity. In: Revista
Estudos de Psicologia. Campinas, janeiro-março 2006, volume 23, p. 39-45.