Você está na página 1de 17

JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p.

49-65

Exame andrológico do cão


Breeding soundness evaluation of male dog
Isabel Candia Nunes da Cunha1

Resumo
O aumento do interesse na reprodução canina parece oferecer um futuro
brilhante à medicina veterinária, sendo assim, se faz necessário o
conhecimento das técnicas e dos parâmetros mínimos de avaliação da
fertilidade do cão. Desta forma, os proprietários de cães e os grandes
criatórios poderão desfrutar brevemente, e em larga escala, das novas
biotecnologias propostas pelos pesquisadores da área de reprodução em
pequenos animais. O objetivo desta revisão é atualizar os conceitos,
principais tópicos e a metodologia a ser empregada para a realização do
exame andrológico de cães.
Palavras chave: exame andrológico, avaliação do sêmen, cão.

Abstract
The increasing interest in canine reproduction offers a great future in
veterinary medicine. To achieve this goal, the understanding of new
technologies available for the male dog reproduction evaluation is
mandatory. With these advances, new technologies will be offered in the
small animal reproduction field and they will be available to dog owners and
kennels, in the coming future. The aim of this paper is review the concepts,
main topics and methodology to perform male reproductive examination.
Key words: Breeding soundness evaluation, semen evaluation, dog.

1
Médica veterinária. Professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Núcleo
de Apoio a Reprodução de Carnívoros – Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético
Animal/CCTA. Email: cunhaicn@uenf.br

49
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

Introdução

A determinação das I - Exame andrológico


características seminais é um
recurso importante para se predizer 1 - Anamnese
o potencial fertilizante de um Deve ser realizada uma
macho. Deve ser comumente posta anamnese cuidadosa do animal
em prática para avaliação da para que o clínico obtenha uma
capacidade reprodutiva dos animais história completa, partindo de todos
domésticos1. os órgãos antes de investigar o trato
reprodutivo. Doenças de outros
A realização do exame órgãos ou sistemas podem,
andrológico em cães, prévio à sua secundariamente, afetar o trato
seleção e/ou utilização em um reprodutivo por extensão direta,
esquema de reprodução artificial, é devido a infecções ou neoplasias,
de grande importância, sendo ainda ou indireta, por alteração dos
indicada em outras circunstâncias padrões normais de secreção
como: compra ou venda de hormonal (testosterona, FSH, LH ou
reprodutores, seleção de doadores GnRH). Devemos ainda considerar
para uso em programas de a adição exógena de drogas (ex:
inseminação artificial ou diagnóstico corticóides), condições de estresse,
de patologias do sistema genital traumas ou doenças sistêmicas
masculino2,3,4,5. prévias5 .

Primeiramente, é necessário 2 - Exame Físico


realizar uma boa anamnese e um Um exame físico completo é
exame físico completo do animal, tão importante quanto uma história
observando-se a possibilidade da completa. O reconhecimento de
existência de doenças sistêmicas problemas crônicos de outros
que podem interferir na esfera sistemas, assim como o
reprodutiva. Após isso, o trato reconhecimento de defeitos
reprodutivo do macho deve ser genéticos, são importantes para um
completamente avaliado. bom direcionamento e avaliação de

50
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

qualquer desordem reprodutiva6. 3.2 - Testículos


Deverá ser solicitado o exame de Nos cães, a ”descida” dos
brucelose (figura 1) além da testículos geralmente se completa
verificação de outros processos aos 10 dias de vida, e ambos os
patológicos que podem ser testículos podem ser palpados após
transmitidos sexualmente ou por seis semanas de vida. Somente
contato direto (no caso de animais após seis meses de vida do animal
que realizarão a monta natural). é que a ausência dos testículos no
saco escrotal pode sugerir
3 - Exame específico do trato criptorquidismo. Em cães jovens,
reprodutivo do cão contudo, a retração temporária do
O trato reprodutivo do cão testículo no canal inguinal ou lateral
deve ser completamente avaliado, ao pênis pode ocorrer devido a
partindo-se da bolsa escrotal, agitação ou excitação do animal8.
testículos, epidídimo, prosseguindo
para o pênis e, finalmente, Os testículos devem ser
examinando-se a glândula palpados e avaliados quanto ao
prostática. Durante o exame deve- tamanho, forma e consistência. O
se observar principalmente os testículo esquerdo é geralmente
seguintes aspectos2,3,4,5,7: caudal ao direito. Apesar do
testículo dos cães ter um tamanho
3.1 - Bolsa escrotal médio de 2 a 4cm de comprimento
Deve ser esparsamente e de 1,2 a 2,5cm de diâmetro, as
recoberta de pêlos, apresentar diferenças de tamanho entre as
espessura uniforme, ser diversas raças excluem um padrão
relativamente fina e macia ao toque rígido com referência a todos os
e apresentar-se móvel em relação tamanhos de cães. Entretanto, o
ao testículo. O animal não deve profissional deve atentar para uma
apresentar dor à palpação. A grande diferença de tamanho entre
inspeção visual do escroto tem os dois testículos.
como objetivo verificar sinais de
inflamação, trauma, alterações de O par de testículos deve ser
volume ou cicatrizes (figura 2). oval, com contorno fino e regular, e
estar posicionado dorsoventralmente. A

51
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

palpação de irregularidades, como cordão espermático devem ser


nódulos ou aderências, pode sugerir palpados para observar prováveis
inflamação crônica, infecção ou áreas de espessamento ou
neoplasias. aumento de volume.

A palpação do testículo não 3.4 - Pênis e prepúcio


deve ser dolorosa quando realizada Sem a ereção, o prepúcio
gentilmente. A dor à palpação cobre completamente o pênis
sugere orquite aguda ou torção, canino normal. Devemos nos
especialmente se o testículo estiver preocupar com descargas
aumentado de volume. Além disso, purulentas, sangue ou urina. O
deve ter consistência firme pênis deve ser facilmente removido
(semelhante à de bíceps semi- do prepúcio e completamente
flexionado) e não ser duro à exposto. O prepúcio deve ser
palpação. Uma consistência macia tracionado caudalmente e o bulbo
ou pastosa sugere degeneração da glande exposto. Quando há falha
testicular, enquanto uma na exposição do pênis, devemos
consistência endurecida sugere suspeitar de estreitamento do óstio
neoplasia ou orquite. prepúcial (fimose) ou aderência
entre o pênis e prepúcio.
3.3 - Epidídimo e cordão
espermático Depois de exposto, o pênis
O epidídimo é fixado deve ser totalmente avaliado para a
dorsolateralmente à superfície do presença de inflamações,
testículo, com a cabeça e a cauda hematomas, trauma, fraturas,
localizadas nos pólos cranial e corpos estranhos ou massas
caudal respectivamente. O tumorais (figuras 3 e 4).
epidídimo continua como ducto
deferente, localizado dentro do A mucosa peniana deve ser
cordão espermático, que contém: rósea clara, fina e indolor ao toque.
ducto deferente, artéria Uma balanopostite normal é vista
espermática, veias do plexo como uma descarga mucopurulenta
pampiniforme, linfáticos, nervos e média cobrindo a mucosa peniana.
músculo cremaster. O epidídimo e o O pênis deve ser palpado para

52
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

tamanho e conformação. Uma A presença de tamanho e


deformação congênita ou fratura consistência anormais, assimetria
pode resultar em desvio e entre lobos ou dor à palpação
inabilidade em retrair o pênis suporta a presença de disfunção
completamente para a bainha prostática e indica a necessidade de
prepucial. Igualmente, uma um diagnóstico complementar para
diminuição congênita do osso a avaliação da glândula.
peniano pode causar uma
excessiva flacidez da ponta do 4 - Avaliação do sêmen
pênis e uma habilidade de cópula A análise do sêmen deve ser
prejudicada. incluída na avaliação andrológica
para detectar possíveis problemas
3.5 - Glândula prostática de infertilidade ou sub-fertilidade,
A glândula prostática é a além de fazer parte da rotina pré-
única glândula acessória em cães. cobertura ou inseminação em cães.
Normalmente localiza-se
cranialmente à pélvis, porém, a 4.1 - Técnicas para a obtenção do
disposição cranial pode estar sêmen
alterada no abdômen devido à A coleta do sêmen pode ser
distenção da bexiga por urina. A realizada excitando-se o macho na
glândula prostática rodeia o colo da presença ou ausência de uma
bexiga, a porção cranial da uretra e fêmea no cio, por estimulação
a porção terminal do ducto manual do pênis (figura 5) ou,
deferente. Um septo médio divide a ainda, em casos excepcionais, por
glândula em dois lobos iguais, finos meio de eletroejaculação3.
e firmes, que podem casualmente
ser palpados pelo reto. Em cães Todo o material que será
grandes, a porção caudal da utilizado para a coleta e exame do
próstata é palpável. O tamanho e o sêmen deverá ser de vidro ou
peso da glândula prostática são plástico aquecido a 37ºC, sendo
dependentes da idade, raça e peso que o material plástico minimiza os
corpóreo do cão. riscos de acidentes envolvendo o
animal e o coletador durante a
coleta7.

53
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

O ejaculado canino reflui retrogradamente para a bexiga


apresenta três frações distintas e, ou é eliminado pelo orifício externo
9
segundo Heidrich (1977) , foi da uretra em quantidades variando
Freiberg, em 1935, o primeiro a de pequenas gotas até muitos
identificar o fracionamento no mililitros, dependendo do tamanho
ejaculado do cão, chamando a prostático7.
primeira fração de uretral ou pré-
espermática, a segunda, de fração De acordo com Feldman e
rica em espermatozóides, e a Nelson (1996)5, as freqüências de
terceira, de fração prostática ou coletas de sêmen para o cão podem
pós-espermática. ser: 1) uma coleta a cada 48 horas;
2) uma coleta ao dia durante 3 dias
A primeira fração (ou pré- consecutivos e um repouso de 2
espermática) apresenta um aspecto dias ou 3) duas coletas ao dia e
aquoso, cujo pH varia de 6,2 a 6,5 repouso de 2 dias, podendo ocorrer
com um volume médio de 2,4 ± um aumento na concentração total
1,8ml. A segunda fração (ou de espermatozóides após alguns
espermática) apresenta um aspecto dias de repouso sexual.
de cremoso a aquoso, sua
coloração fisiológica varia de branco 4.2 - Avaliação macroscópica do
opalescente ao marfim, o pH situa- sêmen
se entre 6,3 a 6,6 e o volume médio
varia de 0,5 a 3,5ml. A última fração a) Volume:
do ejaculado é de origem prostática, O volume mensurado através
apresenta um aspecto aquoso e seu da graduação do tubo coletor e a
7,10,11,12
pH oscila entre 6,5 e 7,0 . O quantidade de ejaculado obtida
volume desta fração é diretamente podem variar de acordo com a
proporcional à atividade secretória idade, tamanho, freqüência de
da glândula prostática, sendo seu coletas, método e duração das
volume médio 6,48 ± 4,32 ml13,4. coletas. O volume normal vai de 1 a
40ml por ejaculado2,3,5. Aguiar et al.
O fluido prostático é (1994)4, citaram valor de 5,98 ±
produzido continuamente nos 2,3ml para ejaculado total de cães
machos caninos não castrados e de até 20 kg.

54
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

geralmente é originária de
O volume de um ejaculado ferimentos ocorridos no pênis ereto
canino está diretamente ligado à ou de processos patológicos da
quantidade de líquido prostático glândula prostática2,3,5.
eliminado durante a ejaculação e,
como descrito anteriormente, a 4.3 - Avaliações microscópicas
próstata canina tende a aumentar do sêmen
com o avanço da idade como
resultado de uma hiperplasia a) Motilidade e Vigor:
prostática benigna. A maioria dos A motilidade e o vigor são
animais não castrados e com mais avaliados subjetivamente colocando-se
de cinco anos apresenta a próstata uma gota de sêmen sobre lâmina
aumentada de volume e aquecida (35-37 ºC), sendo esta
posicionada na região recoberta por lamínula. O exame é
abdominal7,14. realizado sob microscopia de
contraste de fase. O resultado
b) Cor e aspecto: obtido deve ser expresso em
A cor e o aspecto devem ser porcentagem (0-100) para a
mensurados por meio de análise motilidade e um escore de zero a
subjetiva. A cor do ejaculado canino cinco (0-5) para o vigor6.
pode variar de branco opalescente
ao turvo. Esta variação é decorrente A avaliação da motilidade
de alterações na concentração espermática é definida como o
espermática e o aspecto vai do percentual de espermatozóides
leitoso ao aquoso, dependendo da móveis de um ejaculado e o vigor
quantidade de fração prostática representa a intensidade com a qual
coletada. as células espermáticas se
locomovem. O conjunto destas duas
A cor amarelada de um avaliações é um importante
ejaculado canino sugere a presença parâmetro da qualidade e
6
de urina; a cor verde com ou sem viabilidade do sêmen .
grumos, é sugestiva de pus e de
infecção do trato reprodutivo; a cor O movimento retilíneo
vermelha sugere hemorragia, que progressivo é considerado normal

55
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

em cães e reflete habilidade e Utilizando-se o sistema


viabilidade para fertilizar o computadorizado podemos avaliar a
2,3,5,15 4
óvulo . Aguiar et al. (1994) qualidade do movimento. Dentre as
observaram valores médios de possíveis avaliações ressalta-se:
68,91 ± 12,38% para motilidade motilidade espermática total (MT),
espermática e de 3,19 ± 0,76 para o motilidade total progressiva (MP),
vigor espermático em cães com padrão médio de velocidade
peso corpóreo de, no máximo, espermática (VAP), velocidade de
20kg. deslocamento em linha reta (VSL),
velocidade de deslocamento
A avaliação subjetiva do curvilíneo (VCL), sobreposição do
movimento espermático é muito deslocamento retilíneo e do
importante e deve ser realizada deslocamento curvilíneo VSL/VCL
rotineiramente. No entanto, por ser (STR) e, ainda, a linearidade do
realizada por um técnico, pode estar movimento, ou seja a proximidade
sujeita a um grande número de da linha de deslocamento com uma
variações, principalmente no que linha linear (LIN) dos
16
diz respeito ao grau de habilidade e espermatozóides .
experiência do avaliador.
Ellington et al. (1993)17
Para que estas variações apresentaram resultados médios de
sejam minimizadas, uma avaliação 73 ± 9% para a motilidade
computadorizada do movimento espermática de cães através de
espermático pode ser realizada. avaliação computadorizada. Eles
16
Iguer-Ouada e Verstegen (2001) concluíram que a motilidade
propuseram a padronização de um progressiva pode variar
método computadorizado de consideravelmente entre indivíduos,
avaliação do movimento e que a associação da motilidade
espermático∗, que apresentou progressiva e da concentração
ótimos resultados na avaliação de espermática caracteriza, na prática,
espermatozóides da espécie de modo satisfatório, o potencial
canina. fertilizante de uma amostra de
sêmen.
∗ ∗
(HTR-IVOS10 analyzer, Hamilton Thorn
Research, Beverly, Mass, USA)

56
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

b) Concentração espermática: esfregaço. Os resultados devem ser


A concentração é expressos em porcentagem e
determinada através da contagem registrados individualmente.
das células espermáticas em
Câmara de Neubauer, após diluição Feldman e Nelson (1996)5 e
de 1:20 em água, e o número de Johnston et al. (2001)20
espermatozóides é expresso em classificaram as alterações da
mm3. Aguiar et al. (1994)4 morfologia espermáticas de cães
confirmaram ser normal para cães como: 1) primárias (aquelas
de até 20 kg de peso corpóreo, a advindas de defeitos na
concentração espermática de 47,73 espermatogênese) e 2) secundárias
± 12,20 x 106 / ml de ejaculado. (aquelas surgidas durante o trajeto
entre o testículo e o epidídimo, no
c) Avaliação da morfologia interior do epidídimo ou devido a
espermática: manipulação do sêmen). Segundo
Uma das metodologias que estes autores, reprodutores normais
pode ser utilizada para a avaliação devem apresentar 70% de células
da morfologia espermática é a espermáticas com morfologia
coloração dos esfregaços de sêmen normal. Dentre as células
pelo método Karras modificado18, espermáticas consideradas
incluindo-se a etapa de fixação dos alteradas poderão haver, no
esfregaços de sêmen canino por máximo, 10% de alterações
imersão em solução salina aquecida morfológicas primárias e 20% de
19
a 37ºC . A coloração com alterações morfológicas secundárias.
6
Vermelho Gongo e Cristal Violeta
também possibilita a coloração de De acordo com o Manual
esfregaços de sêmen de cão. Após para Avaliação Andrológica do
a coloração, os esfregaços devem CBRA6, as alterações morfológicas
ser avaliados em microscopia de dos espermatozóides dos
campo claro com aumento de reprodutores caninos devem ser
1000x, observando-se as estruturas classificadas como: 1) defeitos
da cabeça, colo, peça intermediária maiores (aqueles de maior impacto
e cauda. Devem ser avaliadas 200 sobre a fertilidade) e 2) defeitos
células espermáticas em cada menores (aqueles que traduzem

57
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

menor impacto para a fertilidade da intracelular) seja alcançado. Para


21
célula espermática) . Ainda que o equilíbrio seja alcançado
segundo este manual, os ocorre um aumento de volume
reprodutores podem apresentar, no intracelular, já que a célula
máximo, 20% de defeitos menores espermática deverá “diluir” o seu
e 10% de defeitos maiores em seus meio intracelular até que a condição
ejaculados. hiposmótica do meio externo seja
atingida. Este processo fisiológico
22
Oettlé (1993) afirmou que a induz ao edema da cauda dos
avaliação da morfologia espermatozóides, que pode ser
espermática é o teste que facilmente verificado através de
apresenta maior correlação com a microscopia óptica pelo
fertilidade, após verificação de que enrolamento das caudas dos
cães com mais de 60% de espermatozóides. Este mecanismo
espermatozóides normais simples de defesa da célula
apresentaram taxa de fertilidade de espermática gerou um método de
61%, enquanto outros, com menos avaliação da integridade das
de 60% de espermatozóides membranas celulares denominado
normais, uma taxa de fertilidade de teste hiposmótico (HOS), que logo
apenas 13%. foi incluído na rotina de vários
laboratórios de andrologia23,24.
d) Avaliação da integridade das
membranas espermáticas: O teste hiposmótico pode ser
A manutenção da integridade considerado mais do que uma
das membranas espermática é de avaliação da morfologia e da
fundamental importância para que integridade da célula espermática.
uma célula espermática finalize sua Ele também é um indicativo da
função primordial que é a capacidade funcional da membrana
fertilização. A membrana de uma em realizar trocas com o meio
célula espermática intacta realiza extracelular, que é uma das
transporte seletivo de fluidos e em principais necessidades no
condições de hiposmolaridade. momento da capacitação e posterior
Estas trocas continuam até que um fecundação, principal objetivo de
ponto de equilíbrio osmótico (extra e uma célula espermática23,24.

58
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

classificados como reativos ao HOS


Para realização do teste quando apresentarem cauda
hiposmótico, os espermatozóides enrolada e o resultado deve ser
são incubados em uma solução expresso em porcentagem (%).
hiposmótica (150mOSM) e
posteriormente avaliados quanto à Um outro método que pode
sua morfologia sob contraste de ser utilizado para a verificação da
fase. As células espermáticas integridade das membranas
íntegras apresentam enrolamento espermáticas de cães é a uma
de caudas, evento que pode ser associação das sondas
visualizado através de microscopia fluorescentes – Iodeto de Propídio e
de contraste de fase. A Carboxifluoresceína –, descrita por
porcentagem de espermatozóides Harrison e Vickers (1990)26 e
com enrolamento de cauda, ou seja, modificada por Cunha et al.
íntegros, pode então ser (1996)27. Para a execução do teste,
computada24. 10µl de sêmen são acrescidos de
40µl da solução de trabalho,
Um novo teste hiposmótico composta por: 960 µl de solução de
para o sêmen do cão utilizando a citrato de sódio a 3 %; 10 µl solução
água como solução hiposmótica foi de iodeto de propídio (10 mg de
desenvolvido25, verificando alta iodeto de propídio + 20 ml solução
correlação entre o HOS e a fisiológica); 20ml solução de
motilidade espermática. Para a carboxifluoresceina (9,2m g
realização deste teste, uma parte de carboxifluoresceina + 20ml
sêmen deve ser misturada a quatro DMSO); 10µ l solução 1:80 de
partes de água, obtida diretamente formalina a 40%. As amostras
da torneira, e incubada em banho- deverão ser avaliadas sob
maria a 37°C por 5 minutos. O iluminação epifluorescente
resultado do HOS deve ser (400x) e deverão ser contadas
verificado sob microscopia óptica 200 células que serão classificadas
comum utilizando-se câmara de como: íntegras (as células emitindo
Neubauer, onde 200 fluorescência verde) ou lesadas (as
espermatozóides devem ser células com o núcleo emitindo fluorescência
avaliados. Estes devem ser vermelha).

59
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

Referências bibliográficas
1. FOOTE, R. H. Factors influencing the quantity and quality of semen harvested
from bulls, rams, boars and stallion. Journal of Animal Science, n. 2, 1978.
2. MIES FILHO, A. Reprodução dos animais e inseminação artificial,
Inseminação artificial nos cães. 6 ed. Porto Alegre: Sulina, 1987. 750p.
3. CHRISTIANSEN, J. Reprodução no cão e no gato. São Paulo: Manole, 1988.
361p.
4. AGUIAR, P.H.P.; COSTA, M.E.L.T.; ABREU, J.J.; ABREU, C.P. Coleta e
avaliação de sêmen canino. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e
Zootecnia, v. 46, n. 5, p.537-544, 1994.
5. FELDMAN, E.C., NELSON, R.W. Canine and feline endocrinology and
reproduction. Philadelphia: WB Saunders, 1996. 487p.
6. CBRA - COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANINAL. Manual para
exame andrológico e avaliação de sêmen animal. Belo Horizonte. 1996.
7. JOHNSTON S.D.; ROOT M.V.K.; OLSON, P.N.S. Disorders of the canine
testes and epididymes. In: Canine and Feline Theriogenology, Philadelphia:
WB Saunders, 2001. p. 312-332.
8. MEMON, M.; TIBARY, A. Recent Advances in Small Animal Reproduction.
International Veterinary Information Service. <http://www.ivis.org>. Acesso em
2001.
9. HEIDRICH, S. Ein beitrag zur tiefgefrierung von rudensperma. 1977. 110 p.
Dissertação (Doctor Medicinae Veterinarie) - Klinik fur Klauentierkrankheiten
und Fortpflanzungskunde der Freien Universitat. Berlin.
10. GÜNZEL-APEL, A.R. Fertilitatskontrolle und samenubertragung beim
hund. Hannover: Gustav Fischer Verlag Jena, 1994. p.20-84.
11. SILVA, L.D.M.; ONCLIN, K.; LEJEUNE, B.; VERSTEGEN, J.P. Comparisons of
intravaginal and intrauterine insemination of bitches with fresh or frozen semen.
Vet Rec, v.138, p.154-157, 1996.
12. PEÑA, A.I. Supervivencia y fertilidad del semen canino sometido a
congelacion-descongelacion. 1997. Lugo. Tese de doutorado, Universidade
de Santiago de Compostela.
13. MORTON, D.B., BRUCE, S.G. Semen evaluation, cryopreservation and factors
relevant to the use of frozen semen in dogs. J Reprod Fertil, n. 39, p.311-16,
1989.
14. DI SANTIS, G.W.; AMORIM, R.L.; BANDARRA, E.P. Aspectos clínicos e
morfológicos das alterações prostáticas em cães – revisão. Revista de
Educação Continuada do CRMV-SP, v.4, n.2, p.46-52, 2001.

60
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

15. ROTA, A.; STRÖM, B.; LINDE-FORSBERG, C.; RODRIGUEZ-MARTINEZ, H.


Effects of equex paste on viability of frezen - thawed dog spermatozoa during in
vitro incubation at 38ºC. Theriogenology, v.47, p.1093-1101, 1997.
16. IGUER-OUADA, M.; VERSTEGEN, J.P. Validation of the sperm quality
analyzer (SQA) for dog sperm analysis. Theriogenology, v.55, p.1143-58,
2001.
17. ELLINGTON, J.; SCARLETT, J.; MEYERS-WALLEN, V.; MOHAMMED, O.H.;
SURMAN, V. Computer-assisted sperm analysis of canine spermatozoa motility
measurements. Theriogenology, v.40, p.725-733, 1993.
18. PAPA, F.O.; ALVARENGA, M.A.; BICUDO, S.D.; LOPES, M.D.; RAMIRES,
P.R.N. Coloração espermática segundo Karras modificado pelo emprego do
Barbatimão (Sthyphnodendrum barbatiman). In: CONGRESSO DE BIOLOGIA
CELULAR, 5, 1986, Rio de Janeiro, 1986, p.86.
19. CUNHA, I.C.N.; LOPES, M.D. Estudo do processo de refrigeração do sêmen
canino utilizando-se diluidores a base de leite e glicina-gema. Revista de
Educação Continuada do CRMV SP, v. 3, n. 1, p. 37-42, 2000.
20. JOHNSTON, S.D. Performing a complete canine semen evaluation in small
animal hospital. Vet Clin North Am Small Anim Pract, v.21, p.545-51, 1991.
21. BARTH, A.D.; OKO, R.J. Abnormal morphology of bovine spermatozoa.
Ames, U.S.A.: Iowa State University Press, 1989.
22. OETTLÉ, E.E. Sperm morphology and fertility in the dog. J Reprod Fertil, n.
47, p.257-260, 1993.
23. JEYENDRAN, R.S.; VAN DER VEM, H.H.; ZANEVELD, L.J.D. The hipoosmotic
swelling test: an update. Archive of Andrology, v.29, p.105-16, 1992.
24. KUMI- DIAKA, J. Subjecting canine semen to the hypo-osmotic test.
Theriogenology, v.39, p.1279-1289, 1993.
25. SILVA, K.V.G.C.; CUNHA, I.C.N.; LOPES, B.V.; ROCHA, A.A. Padronização de
um novo teste hiposmótico (HOS) para a avaliação espermática na espécie
canina. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE TRANSFERÊNCIA
DE EMBRIÕES, 2005, Angra dos Reis, 2005.
26. HARRISON, R.A.P.; VICKERS, S.E. Use of fluorescent probes to asses
membrane integrity in mammalian spermatozoa. Journal of Reproduction and
Fertility, v. 88, p.343-352, 1990.
27. CUNHA, I.C.N.; LOPES, M.D.; ZÚCCARI, C.E.S.N. Padronização da técnica
fluorescente para a avaliação da integridade de membranas espermáticas na
espécie canina. In: CONGRESSO PANAMERICANO DE CIÊNCIAS
VETERINÁRIAS, 15, 1996, Campo Grande, 1996, 411p.

61
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

Figura 1: Cão. Bolsa escrotal. Orquite. 1- Acúmulo de


líquido que levou ao aumento de volume da bolsa
escrotal causado por brucelose canina.

Figura 2: Cão. Bolsa escrotal. Orquite. 1- Ulcerações e


aumento de volume da bolsa escrotal.

62
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

Figura 3: Cão. Pênis. 1- Hematoma peniano.

Figura 4: Cão. Pênis. 1- Base do pênis; 2- Tumor


venéreo transmissível.

63
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

Figura 5: Cão. Coleta de sêmen por meio


de estimulo manual do pênis.

Figura 6: Cão. Espermatozóides. 1 – Espermatozóide


íntegro; 2- Espermatozóide parcialmente lesado; 3-
Espermatozóide lesado. 1000x. Carboxifluoresceína e
Iodeto de propídio.

64
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2008 v. 1, n. 1, p. 49-65

Recebido em: Novembro de 2007


Aceito em: Junho de 2008
Publicado em: Abril / Maio / Junho de 2008

65

Você também pode gostar