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Direito Recuperacional

A nova legislação falimentar como já dito no início deste capítulo, tem por
objetivo a preservação da empresa.

Neste aspecto, são formas de recuperação aquela requerida em juízo, denominada


recuperação judicial, podendo ainda ser a recuperação na modalidade extrajudicial além
da recuperação especial para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (ME e EPP).
Recuperação Judicial

Conceito

A recuperação judicial é procedimento judicial que tem por objetivo proporcionar


ao empresário ou à sociedade empresária, a superação de uma crise econômico-financeira,
com o intuito maior de preservação da empresa, como fonte produtora, além da
preservação e manutenção dos empregos e dos interesses dos credores, promovendo,
assim, a continuidade da sua função social e do estímulo à atividade econômica.

Para Alexandre Alves Lazzarini:

“O princípio da preservação da empresa, acolhido na Lei n° 11.101/2005, dá uma


nova característica à empresa, deslocando-a de uma condição limitada ao interesse de
seus sócios, para a elevar ao patamar de interesse público, ou seja, passa a ser considerada
como uma instituição e não mais uma relação de natureza contratual. Deixa de ter a
dependência da vontade dos sócios para, no caso, passar a atender outros interesses (a
função social, os empregados, os credores etc.) que sobrepõe ao interesse dos sócios”.
(Alexandre Alves Lazzarini, Reflexos sobre a Recuperação Judicial de Empresas, p. 124.
Direito Recuperacional, Aspectos teóricos e práticos)

Corroboramos com os ensinamentos de Fábio Ulhoa Coelho quando estabelece


que “Nem toda empresa merece ou deve ser recuperada”. (Fabio Ulhoa Coelho, Curso de
Direito Comercial, Vol. I, p. 382)
.
Todavia, defendemos nessa obra que o princípio da preservação da empresa
deverá ser observado como forma de preservação da empresa como atividade, e não
apenas como preservação do empresário em si.

Em nosso modesto entender, o devedor (empresário ou sociedade empresária) será


evidentemente o primeiro beneficiado de um processo recuperacional juntamente com a
sua comunidade de credores, parceiros, empregados, colaboradores dentre outros,
todavia, caso não exista possibilidade de este devedor dar continuidade a sua atividade,
esta poderá ainda assim ser continuada, porém com a titularidade de outro empresário que
não será declarado seu sucessor.

Para Sérgio Campinho:

“...Enfatiza-se a figura da empresa sob a ótica de uma unidade econômica que interessa
manter, como um centro de equilíbrio econômico-social. É, reconhecidamente, fonte
produtora de bens, serviços, empregos e tributos que garantem o desenvolvimento
econômico e social de um país. A sua manutenção consiste em conservar o “ativo social”
por ela gerado. A empresa não interessa apenas a seu titular – o empresário -, mas a
diversos outros atores do palco econômico, como os trabalhadores, investidores,
fornecedores, instituições de crédito, ao Estado, e, em suma, aos agentes econômicos em
geral...”. (Sérgio Campinho, Falência e Recuperação de empresa: O novo regime da
insolvência empresarial, p. 122).

Assim, a recuperação judicial demonstra-se importante avanço do direito


brasileiro, que vê e classifica a empresa como ente de total importância ao
desenvolvimento econômico e social.

Em termos, a sua preservação, desde que preenchidos requisitos, acaba por


garantir e gerar maior segurança jurídica para aqueles que exploram e dependem da
atividade empresarial.
Requisitos – Capacidade para requerer recuperação judicial

Tal modalidade de recuperação poderá ser utilizada pelo empresário e pela


sociedade empresária, desde que cumpra aos requisitos descritos legais para legitimação,
quais sejam (Art. 48 LFR):

I) exercer regularmente as suas atividades há mais de 2 (dois) anos;


II) não seja falido, ou se o foi, que suas obrigações já estejam extintas;
III) não ter, há menos de 5 anos, obtido concessão da recuperação judicial;
IV) não ter, há menos de 8 anos, obtido a concessão da recuperação especial, para micro
e pequenas empresas;
V) não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por crime falimentar.

Créditos incluídos

Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido


de recuperação judicial, mesmo que tais créditos ainda não estejam vencidos. (Art. 49
LFR)

Não estão sujeitos à recuperação judicial (Art. 49, § 3° LFR):


a) os créditos titularizados pelo proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis;
b) o crédito do arrendador mercantil;
c) o crédito de proprietário do promitente vendedor de imóvel onde contenham os
contratos cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações
imobiliárias;
d) o crédito do proprietário do bem em contrato de reserva de domínio;

Nesses casos não teremos a inclusão desses créditos na recuperação judicial, pois
os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais não serão alterados,
além, os citados créditos contém legislação específica que os regulamenta.
Também não estará incluso na recuperação judicial os valores decorrentes da
importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de
adiantamento a contrato de câmbio para exportação. (Art. 49, § 4°, c/ art. 86, II, LFR)

Não estarão sujeitos à recuperação judicial os créditos tributários, como impostos,


taxas e contribuições. (Art. 191-A do CTN)

Créditos excluídos da recuperação judicial


• Tributários;
• Créditos decorrentes da alienação fiduciária;
• Créditos decorrentes do arrendamento mercantil;
• Créditos decorrentes da promessa de compra e venda;
• Créditos do bem em contrato de reserva de domínio;
• Créditos decorrentes de adiantamento de câmbio para exportação

Processo de Recuperação Judicial

Na visão de Fábio Ulhoa Coelho (Curso de Direito Comercial, Vol. I, p. 406), o


processo de recuperação judicial divide-se em três períodos:
I) Fase postulatória;

II) Fase deliberativa;

III) Fase de execução.

Fase Postulatória

Pedido de Recuperação

O empresário que atravessa crise econômico-financeira poderá requerer


recuperação judicial, que poderá ocorrer como contestação do pedido de falência, ou a
qualquer momento, desde que preenchidos os requisitos estudados acima.

O pedido de recuperação judicial deverá estar elaborado dentro de petição inicial


que deve conter todos os requisitos do art. 51 da LFR, assim a petição deverá conter:
I – A exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da
crise econômico-financeira;

II – As demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as


levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância
da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:

a) balanço patrimonial;

b) demonstração de resultados acumulados;

c) demonstração do resultado desde o último exercício social;

d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;

III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer
ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor
atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos
e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;

IV – A relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários,


indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de
competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;

V – Certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato


constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;

VI – A relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do


devedor;

VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais


aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou
em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;

VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do


devedor e naquelas onde possui filial;
IX – A relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure
como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores
demandados.

A petição inicial, como já mencionado deverá conter todos os documentos


especificados acima, devendo ser ingressado tal pedido no juízo do principal
estabelecimento do devedor, como já no princípio do capítulo.

A recuperação judicial tem como um dos princípios primordiais que a norteia o


princípio da transparência.

Sobre a quantidade de documentos que o pedido de recuperação judicial


determina, aduz Alexandre Alves Lazzarini:

“...as exigências constantes do artigo 51 da Lei n° 11.101/2005 não representa o


formalismo excessivo, mas afirma a necessidade de que a empresa, que busca a
renegociação de sua dívida, apresente aos seus credores a sua situação real. Isso para que
estes possam analisar se o plano de recuperação tem substância real e efetiva ou se trata
de simples retórica técnica de modo a protelar uma decretação da falência, como
costumeiramente se fazia na concordata”. (Alexandre Alves Lazzarini, Reflexos sobre a
Recuperação Judicial de Empresas, p. 127)

Corroboramos com esse entendimento, visto que os credores, como veremos, são
aqueles que efetivamente vão deliberar sobre aprovação ou rejeição do plano de
recuperação judicial, para isso entendemos ser necessária a existência de segurança,
sendo esta adquirida a partir do momento que detém o credor todas as informações
pertinentes ao devedor em recuperação.

Todavia, o empresário em crise econômico-financeira, tende a não ter toda a


documentação pertinente totalmente em ordem, assim importante os aspectos fundados
em nossa jurisprudência a respeito da falta dos documentos previstos no artigo 51 da LFR.
“Art. 51 da Lei n. 11.101/2005. O legislado estabeleceu rigorosa e completa instrução da
petição inicial, admitindo, por força da aplicação subsidiária das normas do CPC (art.
189), a dilação prevista no art. 284 do Diploma Processual para emenda ou
complementação”. TJSP. (Ap. Cív. N. 581.807-4/6-00, rel. Des. Boris Kauffmann, j.
27.8.2008).

Despacho de deferimento da recuperação judicial

Se o pedido de recuperação judicial demonstrar que o empresário preenche todos


os requisitos para obtenção da recuperação judicial (art. 48 LFR) e estiver em plena
conformidade com a determinação legal (art. 51 LFR) o juiz através de despacho deverá
deferir o processamento da recuperação judicial.

O despacho que autoriza o processamento da recuperação judicial deverá conter


obrigatoriamente (Art. 52 LFR):

a) nomeação do administrador judicial;

b) determinação para dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor


exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento
de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios;

c) ordem de suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art.


6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas
as ações previstas nos §§ 1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei (processamento de demandas
ainda ilíquidas, pedidos de habilitações e divergências de crédito e execuções de natureza
fiscal) e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei
(credores excluídos da recuperação judicial, já visto no item 8.3 deste capítulo);

d) determinação para que o devedor efetue a apresentação de contas demonstrativas


mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus
administradores;
e) ordem de intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas
Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver
estabelecimento.

f) o juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial, que conterá
(Art. 52 § 1o LFR)

I – O resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da


recuperação judicial;

II – A relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a


classificação de cada crédito;

III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7 o, §
1o, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial
apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei.

A suspensão das ações e execuções que descrevemos acima como item “c”, em
hipótese alguma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do
deferimento do processamento da recuperação. (Art. 6° §1° LFR)

Sobre o mencionado prazo, manifesta-se Sergio Campinho no sentido de que:

“...Em nenhuma hipótese permite a lei seja ele excedido. Automaticamente, ante
sua consumação, fica restabelecido o direito dos credores de iniciar ou prosseguir em suas
ações e execuções, independentemente de qualquer pronunciamento judicial a respeito”.
(Sérgio Campinho, Falência e Recuperação de empresa: O novo regime da insolvência
empresarial, p. 148).

Caberá ao devedor comunicar os respectivos juízos do qual figuram as ações e


execuções suspensas em virtude da recuperação judicial (Art. 52, § 3° LFR)

A suspensão das ações e execuções pelo período de 180 (cento e oitenta) dias
deverá contemplar literalmente todas as ações, inclusive as ações de natureza trabalhista.
Neste enfoque julgados recentes do STJ já apontam o entendimento sobre a
matéria neste sentido mencionado, pois o a recuperação judicial terá como objetivo fazer
com que o empresário possa superar a crise, sendo competente o juízo da recuperação
para definir qual melhor destinação terá o patrimônio do devedor. (CC 68173/SP, Conflito
de competência 2006/0176543-8, Relator Ministro Luís Felipe Salomão).

Os credores que porventura não constarem da relação de credores publicada na


imprensa oficial, deverão então habilitar ou impugnar os seus créditos, obedecendo o
procedimento de habilitação e divergência de crédito que estudaremos mais a frente
quando tratarmos da falência.

Fase deliberativa

Plano de recuperação judicial

O despacho que deferi o processamento da recuperação judicial é de suma


importância ao empresário não apenas pela concessão em si, mas por ser a partir da
publicação deste na imprensa oficial que se inicia a contagem de prazo para apresentação
do plano de recuperação judicial.

O mencionado plano deverá ser apresentado em juízo no prazo improrrogável de


60 (sessenta) dias contados da publicação do despacho de deferimento da recuperação
judicial. (Art. 53 LFR)

Para Fábio Ulhoa Coelho:

“A mais importante peça do processo de recuperação judicial é, sem sombra de


dúvidas, o plano de recuperação judicial (ou de “reorganização da empresa”)...” “...se o
plano de recuperação é consistente, há chances de a empresa se reestruturar e superar a
crise em que mergulha...”. (Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova Lei de Falências e
de recuperação de empresas, p. 158).
O prazo de 60 (sessenta) dias é muito criticado pela doutrina, pois, o citado
período é improrrogável, e sua falta implica na convolação da recuperação judicial em
falência. (Art. 53 cumulado com art.73, II LFR)

Corroboramos de tal crítica, e defendemos a alteração legislativa que poderia


estabelecer um prazo mais razoável para a entrega do plano, ou alteração que
estabelecesse a possibilidade de prorrogação do mencionado prazo quando do
preenchimento de certos requisitos, como capacidade econômica e amplitude do devedor.

Todavia, na atualidade não existe essa possibilidade, visto ser taxativa a legislação
ao mencionar o citado prazo e não existir possibilidades de sua prorrogação.

Conteúdo técnico do plano de recuperação judicial

A legislação determina que o plano de recuperação seja apresentado naquele prazo


já descrito, devendo o plano conter obrigatoriamente (Art. 53 LFR):

I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme


o art. 50 desta Lei, e seu resumo;

II – demonstração de sua viabilidade econômica; e

III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito


por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

Como já supracitado, preza a recuperação judicial pelo princípio da transparência,


sendo assim a explicação detalhada de sua aplicabilidade se demonstra condição
necessária para boa compreensão do plano junto à comunidade de credores.

Já a demonstração de sua viabilidade econômica tem por objetivo demonstrar que


tecnicamente o plano tem condições de viabilizar a continuidade daquela atividade
empresarial.

O laudo econômico-financeiro e de avaliação de bens subscrito por profissional


habilitado tem a função de comprovar a valoração do patrimônio do devedor, buscado dar
segurança aos credores no sentido de que, mesmo não havendo recuperação os créditos
destes estarão garantidos de forma total ou parcial em virtude daqueles bens patrimoniais.

Conteúdo do plano quanto aos meios de recuperação

O artigo 50 da legislação recuperacional contém rol meramente exemplificativo


de modalidades de planos que o devedor poderá se utilizar. São formas que se valem de
atributos administrativos, financeiros e jurídicos que o devedor poderá se utilizar.

Todavia, como dito, trata-se de rol exemplificativo, que poderá o devedor se valer
de uma daquelas modalidades, de um conjunto delas, ou de nenhuma delas, visto ser o
plano de conteúdo livre.

São modalidades contempladas pela legislação como forma de recuperação


judicial (Art. 50, LFR):

a) concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou


vincendas;

b) cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária


integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da
legislação vigente;

c) alteração do controle societário;

d) substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus


órgãos administrativos;

e) concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder


de veto em relação às matérias que o plano especificar;

f) aumento de capital social;

g) trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos


próprios empregados;
h) redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva;

i) dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de


garantia própria ou de terceiros;

j) constituição de sociedade de credores;

k) venda parcial dos bens;

l) equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo


como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se
inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;

m) usufruto da empresa;

n) administração compartilhada;

o) emissão de valores mobiliários;

p) constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos


créditos, os ativos do devedor.

Algumas das formas de recuperação judicial prescindem do atendimento de


algumas especificações legais contidas em outras normas.

Assim, se o plano contiver as operações societárias como forma recuperacional,


devem ser obedecidos os requisitos previstos nos artigos 226 a 229 da LSA, além dos
artigos 1.113 a 1.122 do Código Civil.

Já quando versar o plano sobre o aumento de capital social deverá ser então
obedecido o disposto nos artigos 166 e seguintes da LSA, quando tratar-se a sociedade
devedora de uma sociedade por ações, ou os dispositivos dos artigos 1.081 a 1.084 do
Código Civil.
Proteção do plano aos credores trabalhistas

No que se refere ao plano de recuperação, os credores trabalhistas e provenientes


de acidente do trabalho são detentores uma proteção dada pela legislação.

O plano de recuperação judicial poderá contemplar o pagamento dos credores


trabalhistas e provenientes de acidente do trabalho vencidos até a data do pedido de
recuperação, admitindo inclusive a modalidade de parcelamento, todavia, caso estes
credores estejam contemplados no plano de recuperação, o prazo para pagamento deles
não poderá exceder ao período de 1 (um) ano.

Como aludido por Fábio Ulhoa Coelho:

“A contrário sensu, o plano pode estabelecer quaisquer condições para as


obrigações trabalhistas que se vencerem após a distribuição do pedido de recuperação
judicial, mesmo desconsideradas as balizas acima. Se forem aprovadas pelas instâncias
da Assembleia Geral de Credores, elas valem como se integrassem o contrato de
trabalho”. (Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova Lei de Falências e de recuperação
de empresas, p. 163).

Já os créditos referentes a salários em atraso, relativos aos 3 (três) meses anteriores


ao pedido de recuperação judicial, podem ser contemplados no plano, desde que pagos
no prazo de no máximo 30 (trinta) dias, desde que obedecido limite de até 5 (cinco)
salários-mínimos por trabalhador.

Manifestação dos credores quanto ao plano de recuperação judicial

Apresentado em juízo o plano de recuperação judicial, qualquer dos credores,


independentemente da classificação do seu crédito ou de seu valor poderá manifestar-se
em juízo quanto à eventual objeção do plano de recuperação judicial.

O prazo para a referida objeção quanto ao plano será o de 30 (trinta) dias. (Art. 55
LFR).
Ocorrendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz
convocará a assembleia geral de credores que deverá deliberar sobre o plano,
determinando ainda a legislação, que tal assembleia não poderá exceder a 150 dias do
deferimento do processamento da recuperação judicial. (Art. 56 § 1º LFR)

A assembleia geral de credores deverá ser realizada nas condições já estudadas


anteriormente (item 6.7.), sendo tal assembleia competente para aprovar ou rejeitar o
plano de recuperação, podendo inclusive alterar tal plano, desde que haja o consentimento
expresso do devedor, e que não venha a diminuir algum direito de credores ausentes.

Importe a observação prevista no item quanto à forma alternativa de aprovação do


plano de recuperação judicial (cram down). (item 6.7.8.)

Aprovação do Plano de Recuperação Judicial

A recuperação judicial será concedida, caso venha a ser aprovada por seus
credores.

A aprovação poderá ocorrer de forma tácita, ou seja, quando os credores,


devidamente cientes de que o plano de recuperação foi apresentado silenciaram no que
tange as objeções que poderiam apresentar.

Todavia, como já explicitado, em havendo objeções, os credores serão


convocados para a assembleia-geral de credores, e em havendo aprovação, com
obediência de quóruns já estudados, teremos então a denominada aprovação expressa da
recuperação judicial.
Concessão da Recuperação Judicial

Havendo aprovação do plano, tanto na modalidade tácita quanto na expressa, o


devedor para que exista a sua concessão mediante sentença deverá apresentar em juízo,
após a juntada do plano devidamente aprovado pela assembleia-geral de credores, ou da
comprovação do decurso de prazo sem manifestação em contrário, certidões negativas de
débitos tributários. (Art. 57 LFR)

As certidões negativas de tributos podem ser substituídas, se for o caso, por


certidões positivas com efeito de negativas.

Todavia, se demonstra o requisito processual um exagero, que em muitas vezes


poderá impedir que exista a recuperação judicial e a preservação da empresa.

Em virtude de crise econômico-financeira, o empresário por vezes acaba


tornando-se impontual com suas obrigações, isso ocorre nas relações comerciais (com
fornecedores) e nas relações trabalhistas (com empregados), todavia, na maioria dos
casos, o primeiro credor que é “abandonado” pelo devedor é o fisco.

Sendo assim, necessário se faz a existência de refinanciamento tributário, o que


não existe de forma permanente em nosso ordenamento.

Com base nisso, de grande valia os entendimentos jurisprudenciais sobre o assunto


no sentido de que não havendo essa possibilidade permanente de parcelamento quanto
aos débitos tributários, o princípio da preservação da empresa acaba sendo prejudicado.

Neste enfoque manifestou-se a jurisprudência:

“A recuperação judicial deve ser concedida, a despeito da ausência de certidões fiscais


negativas, até que seja elaborada Lei Complementar que regule o parcelamento do débito
tributário procedente de tal natureza, sob risco de sepultar a aplicação do novel instituto
e, por consequência, negar vigência ao princípio que lhe é norteador” (AI n.
1.0079.06.288873-4/0001 (I), rel. Des. Dorival Guimarães Pereira, j. 29.5.2008)

Também neste sentido:

“Recuperação judicial – Certidões negativas de débitos tributários (Art. 57 da Lei


11.101/2005) – Inadmissibilidade – Exigência abusiva e inócua – Meio coercitivo de
cobrança – Necessidade de se aguardar, para o cumprimento do disposto no art. 57, a
legislação específica a que faz referência o art. 68 da Nova Lei, a respeito do parcelamento
de crédito da Fazenda Pública e do INSS. Dispensa da juntada de tais certidões” (AI n.
507.990-4/8-00, rel. Des. Romeu Ricupero, j. 1.8.2007).

Comprovada a aprovação do plano de recuperação judicial, superada a fase de


apresentação das certidões (cuja dispensa poderá ocorrer), o juiz mediante sentença irá
conceder a recuperação judicial ao devedor.

Qualquer credor, ou o Ministério Público poderá da decisão que conceder a


recuperação judicial, interpor recurso de agravo, que ao nosso entendimento, não pode
ser outro, senão por instrumento. (Art. 59 §2º LFR)

“O objeto do recurso só pode dizer respeito ao desatendimento das normas legais


sobre convocação e instalação da Assembleia ou quórum de deliberação. Nenhuma outra
matéria pode ser questionada nesse recurso, nem mesmo o mérito do plano de recuperação
aprovado”. (Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova Lei de Falências e de recuperação
de empresas, p. 169).

Sentenciada a concessão da recuperação judicial teremos o término da fase


deliberativa e o início da fase executiva de uma recuperação judicial.

Na sentença o juiz também determinará a expedição de ordem para que a Junta


Comercial do Estado para que proceda a anotação da recuperação judicial no registro
correspondente, assim, o empresário terá ao final do seu nome empresarial a inclusão da
expressão “em recuperação”. (Art. 69 LFR)
Fase Executiva

Após a concessão da recuperação judicial mediante sentença, permanecerá o


devedor em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no
plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial.
(Art. 61 LFR)

Durante esse período de 2 (dois), eventual descumprimento do pactuado no plano


de recuperação judicial acarreta a convolação em falência, de acordo com o art. 73, IV da
LFR. (Art. 61 §1º LFR)

Em caso de convolação em falência, os credores terão seus direitos reconstituídos


nas condições originalmente contratadas, devendo os valores pagos serem deduzidos.
(Art. 61 §2º LFR)

Todavia, decorrido o período acima citado, o descumprimento do plano de


recuperação judicial enseja ao credor a possibilidade de execução específica de seu
crédito em procedimento próprio (ação de execução), ou o pedido de falência com base
no art. 94, III, “g”. (Art. 62 LFR)

Encerramento ou decretação da falência.

Cumprido o plano de recuperação judicial no lapso citado (dois anos), juiz


mediante sentença determinará o encerramento da recuperação judicial.

A sentença além de encerrar a recuperação determinará:

I – O pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, após a devida


aprovação de suas contas, assim como aprovação de relatório sobre a execução do plano
de recuperação;
II – A apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas;

III – a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo


máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo
devedor;

IV – A dissolução do Comitê de Credores (caso exista) e a exoneração do administrador


judicial;

V – A comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis, como


a retirada da expressão “em recuperação” de seu nome empresarial.

Paulo Roberto Bastos Pedro

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