Classe – Assunto: Procedimento Comum – Resolução Contratual e Indenização Requerente: Ricardo Salvo Requerido: Global Viagens Ltda.
Juiz(a) de Direito: Dr(a). (nome a definir)
Vistos.
Cuida-se de ação de resolução contratual com pedido de
indenização por danos morais e materiais e tutela de urgência antecipada, ajuizada por RICARDO SALVO em face de GLOBAL VIAGENS LTDA.
Alega-se, em síntese, que o serviço de hospedagem
contratado com a requerida restou prejudicado ante não ter sido efetuada a reserva do hotel, fato que teria impossibilitado o requerente de se hospedar ao chegar ao local de destino, qual seja a Croácia. Alega, ainda, o requerente, que ao saber que não havia reserva no hotel contratado, “Muquifo Inn”, entrou em contato com a requerida que teria se negado a prestar auxílio para a resolução do impasse, tendo negligenciado atendimento, razão pela qual não teria restado alternativa tendo, o requerente, que se hospedar em outro hotel de última hora custando-lhe R$ 15.000,00 (quinze mil reias). Requer o autor a condenação da ré ao pagamento de indenização à título de danos materiais de R$10.000,00 (dez mil reais), à título de danos morais o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e a concessão definitiva da tutela de urgência antecipada para que seja anulada a obrigação do autor de pagar a segunda e última parcela do pacote contratado com a Ré no valor de R$ 12.500,00 (doze mil e quinhentos reais).
A ré foi citada e apresentou contestação a fls. 66/74. Afirma
que havia estipulação em contrato que em havendo overbooking (excesso de reservas) poderia haver um redirecionamento de reserva à outro hotel. Que, com relação aos serviços que foram contratados, todos foram efetivamente prestados, inclusive a reserva no hotel “Muquifo Inn”. Que, mesmo o problema tendo ocorrido com o hotel, quando o autor entrou em contato, prestou todos os esclarecimentos, inclusive contratuais, e indicou para qual hotel o autor poderia ir, sem ter qualquer novo custo e que por lá ficaria por apenas 1 (um) dia enquanto trabalhariam para resolver o problema com o hotel “Muquifo Inn”. Por fim, postulou pelo reconhecimento de ilegitimidade passiva ou subsidiariamente o chamamento ao processo do hotel “Muquifo Inn”.
O hotel “Muquifo Inn” foi chamado ao processo fls.
105/106 e apresentou sua defesa a fls. 127/133.
É O RELATÓRIO.
FUNDAMENTO E DECIDO.
As partes estão bem representadas. Presentes as condições
da ação e pressupostos processuais. Os fatos e documentos acostados são suficientes para o deslinde da lide, prescindindo-se de outras provas, pelo que passo ao julgamento da lide.
Preliminarmente, a relação jurídica entre as partes deve ser
analisada sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, que de acordo seu artigo 2° e 3°, resta claro que as partes estão classificadas como consumidor e prestador de serviços.
Ainda, em relação ao chamamento do hotel Muquifo Inn ao
processo, vale ressaltar o exposto no artigo 7°, Parágrafo Único do CDC, in verbis: Art. 7 [...] Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Restou comprovado pelas provas produzidas e juntadas
nesse processo, que não houve, conforme alegado pelo Requerente, má-fé por parte da ré no que se relaciona à reserva na hospedagem contratada.
Ao contrário, havia estipulação em cláusula contratual, que,
em havendo imprevistos como, por exemplo, o overbooking poderia ocorrer um redirecionamento de reserva a outro hotel da mesma rede, situação que não traria qualquer nova onerosidade ao Autor.
A requerida demonstrou documentalmente a efetivação da
prestação dos serviços contratados com o requerente. O pacote contratado englobava as passagens áreas de ida e volta cujo valor foi de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), e a hospedagem de 7 dias no hotel Muquifo Inn cujo valor foi de R$ 10.000,00 (dez mil reais), totalizando o pacote o valor de R$ 25.000,00.
Com relação às passagens aéreas, resta indubitavelmente
comprovado que não houve qualquer problema, tanto que sequer foi alegado pelo autor. Ademais, com relação à ausência de reserva na hospedagem, apesar de, evidentemente, ter havido overbooking no hotel contratado esse imprevisto estava regulado em cláusula contratual.
Ficou comprovado, ainda, que a ré prestou todos os auxílios
que lhe cabiam, tendo no momento em que foi contatada pelo autor explicado toda a questão contratual, bem como direcionado para qual hotel o autor poderia ir e lá ficar por 1 (um) dia, sem qualquer custo, até que toda a situação fosse solucionada.
Assim, reputo injustificado o pedido de indenização por
danos materiais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), posto que o autor, por sua livre e espontânea escolha, preferiu hospedar-se em outro hotel ao invés de seguir as orientações que lhe foram passadas e que não lhe trariam qualquer novo custo. Condenar a ré ao pagamento relativo à danos materiais neste valor, sendo certo que foi comprovado a prestação dos serviços e auxílios necessários, traria evidente iniquidade, fomentando o enriquecimento sem causa do autor em prejuízo da ré.
É, no entanto, justificável que haja a indenização por danos
materiais no valor correspondente a 1 (um) dia de hospedagem no hotel Muquifo Inn, haja vista que este teria sido o único dia que o autor teria de se hospedar em outro local.
É também justificável o pedido de indenização por danos
morais, haja vista, que na posição de consumidor, este se planejou e contratou um pacote de viagens já tendo a confiança de que tudo daria certo e conforme o esperado. Ainda que houvesse cláusula contratual à respeito do overbooking nunca é esperado, pelo consumidor, passar pelos transtornos que ocorrem ao chegar em um país diverso e deparar-se com a ausência de reserva no hotel que contratou.
Todavia, o valor pleiteado é exacerbado, uma vez, que lhe
foi dado todo o auxílio necessário para que, o quanto antes, fosse solucionada toda a situação, razão pela qual o valor será ajustado.
Por fim, verifico que não merece prosperar a procedência
total dos efeitos da tutela de urgência antecipada, que concedeu até o final julgamento do mérito a anulação da obrigação de pagar a segunda e última parcela do pacote contratado no valor de R$ 12.500,00 (doze mil e quinhentos reais).
Conforme já exposto, não houve qualquer problema com as
passagens aéreas. Estas, por sua vez, correspondiam ao valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). Portanto, sequer as passagens foram efetivamente quitadas pelo autor.
Por essa razão, a tutela deverá ser concedida apenas no
valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) que corresponde somente ao valor da hospedagem, tendo o autor que quitar o valor remanescente de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) referente às passagens aéreas. Ante o exposto, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente ação e condeno a Ré à título de indenização por danos materiais o valor correspondente à 1 (um) dia de hospedagem, bem como ao pagamento à título de indenização por danos morais o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Anulo a concessão inicial da tutela de urgência antecipada postulada pelo autor, devendo este pagar à ré o valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) correspondente ao que falta das passagens aéreas, sendo anulada, portanto, a obrigação de pagar apenas o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) que corresponde à hospedagem.
Além, do pagamento sucumbencial recíproco, sendo 10%
do valor da condenação para honorários advocatícios e custas processuais.