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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE SÃO PAULO


FORO CENTRAL
19° VARA CÍVEL

SENTENÇA

Processo Digital n°: 0000000-00.0000.0.00.0000


Classe – Assunto: Procedimento Comum – Resolução Contratual e Indenização
Requerente: Ricardo Salvo
Requerido: Global Viagens Ltda.

Juiz(a) de Direito: Dr(a). (nome a definir)

Vistos.

Cuida-se de ação de resolução contratual com pedido de


indenização por danos morais e materiais e tutela de urgência antecipada, ajuizada por
RICARDO SALVO em face de GLOBAL VIAGENS LTDA.

Alega-se, em síntese, que o serviço de hospedagem


contratado com a requerida restou prejudicado ante não ter sido efetuada a reserva do hotel,
fato que teria impossibilitado o requerente de se hospedar ao chegar ao local de destino, qual
seja a Croácia. Alega, ainda, o requerente, que ao saber que não havia reserva no hotel
contratado, “Muquifo Inn”, entrou em contato com a requerida que teria se negado a prestar
auxílio para a resolução do impasse, tendo negligenciado atendimento, razão pela qual não
teria restado alternativa tendo, o requerente, que se hospedar em outro hotel de última hora
custando-lhe R$ 15.000,00 (quinze mil reias).
Requer o autor a condenação da ré ao pagamento de
indenização à título de danos materiais de R$10.000,00 (dez mil reais), à título de danos
morais o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e a concessão definitiva da tutela de urgência
antecipada para que seja anulada a obrigação do autor de pagar a segunda e última parcela
do pacote contratado com a Ré no valor de R$ 12.500,00 (doze mil e quinhentos reais).

A ré foi citada e apresentou contestação a fls. 66/74. Afirma


que havia estipulação em contrato que em havendo overbooking (excesso de reservas)
poderia haver um redirecionamento de reserva à outro hotel. Que, com relação aos serviços
que foram contratados, todos foram efetivamente prestados, inclusive a reserva no hotel
“Muquifo Inn”. Que, mesmo o problema tendo ocorrido com o hotel, quando o autor entrou
em contato, prestou todos os esclarecimentos, inclusive contratuais, e indicou para qual hotel
o autor poderia ir, sem ter qualquer novo custo e que por lá ficaria por apenas 1 (um) dia
enquanto trabalhariam para resolver o problema com o hotel “Muquifo Inn”. Por fim,
postulou pelo reconhecimento de ilegitimidade passiva ou subsidiariamente o chamamento
ao processo do hotel “Muquifo Inn”.

O hotel “Muquifo Inn” foi chamado ao processo fls.


105/106 e apresentou sua defesa a fls. 127/133.

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

As partes estão bem representadas. Presentes as condições


da ação e pressupostos processuais. Os fatos e documentos acostados são suficientes para o
deslinde da lide, prescindindo-se de outras provas, pelo que passo ao julgamento da lide.

Preliminarmente, a relação jurídica entre as partes deve ser


analisada sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, que de acordo seu artigo 2° e 3°,
resta claro que as partes estão classificadas como consumidor e prestador de serviços.

Ainda, em relação ao chamamento do hotel Muquifo Inn ao


processo, vale ressaltar o exposto no artigo 7°, Parágrafo Único do CDC, in verbis:
Art. 7 [...]
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de
consumo.

Restou comprovado pelas provas produzidas e juntadas


nesse processo, que não houve, conforme alegado pelo Requerente, má-fé por parte da ré
no que se relaciona à reserva na hospedagem contratada.

Ao contrário, havia estipulação em cláusula contratual, que,


em havendo imprevistos como, por exemplo, o overbooking poderia ocorrer um
redirecionamento de reserva a outro hotel da mesma rede, situação que não traria
qualquer nova onerosidade ao Autor.

A requerida demonstrou documentalmente a efetivação da


prestação dos serviços contratados com o requerente. O pacote contratado englobava as
passagens áreas de ida e volta cujo valor foi de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), e a
hospedagem de 7 dias no hotel Muquifo Inn cujo valor foi de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), totalizando o pacote o valor de R$ 25.000,00.

Com relação às passagens aéreas, resta indubitavelmente


comprovado que não houve qualquer problema, tanto que sequer foi alegado pelo autor.
Ademais, com relação à ausência de reserva na hospedagem, apesar de, evidentemente,
ter havido overbooking no hotel contratado esse imprevisto estava regulado em cláusula
contratual.

Ficou comprovado, ainda, que a ré prestou todos os auxílios


que lhe cabiam, tendo no momento em que foi contatada pelo autor explicado toda a
questão contratual, bem como direcionado para qual hotel o autor poderia ir e lá ficar por
1 (um) dia, sem qualquer custo, até que toda a situação fosse solucionada.

Assim, reputo injustificado o pedido de indenização por


danos materiais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), posto que o autor, por sua livre
e espontânea escolha, preferiu hospedar-se em outro hotel ao invés de seguir as
orientações que lhe foram passadas e que não lhe trariam qualquer novo custo.
Condenar a ré ao pagamento relativo à danos materiais
neste valor, sendo certo que foi comprovado a prestação dos serviços e auxílios
necessários, traria evidente iniquidade, fomentando o enriquecimento sem causa do autor
em prejuízo da ré.

É, no entanto, justificável que haja a indenização por danos


materiais no valor correspondente a 1 (um) dia de hospedagem no hotel Muquifo Inn,
haja vista que este teria sido o único dia que o autor teria de se hospedar em outro local.

É também justificável o pedido de indenização por danos


morais, haja vista, que na posição de consumidor, este se planejou e contratou um pacote
de viagens já tendo a confiança de que tudo daria certo e conforme o esperado. Ainda que
houvesse cláusula contratual à respeito do overbooking nunca é esperado, pelo
consumidor, passar pelos transtornos que ocorrem ao chegar em um país diverso e
deparar-se com a ausência de reserva no hotel que contratou.

Todavia, o valor pleiteado é exacerbado, uma vez, que lhe


foi dado todo o auxílio necessário para que, o quanto antes, fosse solucionada toda a
situação, razão pela qual o valor será ajustado.

Por fim, verifico que não merece prosperar a procedência


total dos efeitos da tutela de urgência antecipada, que concedeu até o final julgamento do
mérito a anulação da obrigação de pagar a segunda e última parcela do pacote contratado
no valor de R$ 12.500,00 (doze mil e quinhentos reais).

Conforme já exposto, não houve qualquer problema com as


passagens aéreas. Estas, por sua vez, correspondiam ao valor de R$ 15.000,00 (quinze
mil reais). Portanto, sequer as passagens foram efetivamente quitadas pelo autor.

Por essa razão, a tutela deverá ser concedida apenas no


valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) que corresponde somente ao valor da hospedagem,
tendo o autor que quitar o valor remanescente de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos
reais) referente às passagens aéreas.
Ante o exposto, nos termos do artigo 487, inciso I, do
Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente
ação e condeno a Ré à título de indenização por danos materiais o valor correspondente à
1 (um) dia de hospedagem, bem como ao pagamento à título de indenização por danos
morais o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Anulo a concessão inicial da tutela de
urgência antecipada postulada pelo autor, devendo este pagar à ré o valor de R$ 2.500,00
(dois mil e quinhentos reais) correspondente ao que falta das passagens aéreas, sendo
anulada, portanto, a obrigação de pagar apenas o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
que corresponde à hospedagem.

Além, do pagamento sucumbencial recíproco, sendo 10%


do valor da condenação para honorários advocatícios e custas processuais.

P.R.I

São Paulo/SP, xx de mês de 2019.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI


11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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