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Resumo
Palavras-chave
Abstract
Keywords
846 Marco Túlio de URZÊDA-FREITAS. Do pensamento abissal à ecologia de saberes na escola: reflexões sobre uma...
da experiência cotidiana. O fato, no entanto, A partir dessa constatação, as autoras
é que os professores da educação regular recomendam a pesquisa colaborativa como
não devem “apenas querer ouvir o que os instrumento de diálogo entre pesquisadores
especialistas têm a dizer, e muito menos esperar e professores. Afinal, conforme salientam,
fórmulas prontas”, mas também “trazer suas chegamos a um ponto em que ou “investimos
ideias e trocar experiências com os colegas de na construção de uma narrativa polifônica com
sua profissão” (LEFFA, 2001, p. 363). O autor os professores de inglês, ou nos calamos” (p. 33,
conclui que a formação de professores de LE grifo das autoras).
competentes, críticos e comprometidos com a Em outra oportunidade, Cox e Assis-Peterson
educação é uma tarefa complexa e muito difícil (2008) fazem uma discussão sobre os fatores que
de ser realizada por completo em um curso de emperram o ensino de inglês nas escolas regulares
graduação, por envolver aspectos linguísticos e públicas do Brasil. Entre esses fatores, destacam:
políticos da natureza humana. a total desvalorização da profissão; a falta de
A formação de professores de LE tempo para estudar; a carência de programas de
politicamente situados requer uma compreensão formação continuada; o baixo status das LE na
de que a língua, seja ela qual for, está imersa em grade curricular; a incompatibilidade entre teoria
lutas sociais, econômicas e políticas. No caso do e prática; e a distância entre universidade e escola.
inglês, mais especificamente, Cox e Assis-Peterson Apoiando-se na ideia de que o mundo global
(2001) afirmam que não podemos deixar de avaliar fala inglês, as autoras ressaltam a importância
criticamente as implicações do nosso trabalho da disciplina de inglês na formação básica dos
na produção e reprodução das desigualdades alunos no mundo contemporâneo. Além disso,
sociais. Essa postura reflete as promessas de uma defendem a elevação dos professores à posição
pedagogia crítica no ensino de LE, em especial, de protagonistas dos projetos e propostas de
de inglês, o que parece distante da realidade de mudança, já que são eles que terão de colocá-los
muitos professores no Brasil. em prática nas escolas.
As autoras realizaram uma pesquisa com
20 professores de inglês que atuam na cidade Pesquisa colaborativa e
de Cuiabá (MT), tendo por objetivo investigar formação de professores
o grau de familiaridade que esses profissionais
tinham com a pedagogia crítica. Em linhas Segundo Telles (2002), há várias razões
gerais, o estudo mostra que a pedagogia crítica que levam à perpetuação do abismo que separa
parece estar sendo foco de especulações apenas universidade e escola, entre as quais: pouca
no mundo acadêmico, reforçando o abismo quantidade de alunos iniciados à pesquisa na
que separa pesquisadores e professores. Dito de graduação; falta de uma disciplina que oriente os
outra forma, a pedagogia crítica no ensino de alunos na prática da pesquisa; e falta de ênfase
inglês parece ser na dimensão ética da pesquisa em educação.
Consequentemente, a grande maioria dos
[...] vítima da grande divisão que, no pesquisadores formados em cursos de licenciatura
mundo capitalista, separa a pesquisa do chega às salas de aula com os seus equipamentos
ensino, a teoria da prática, aqueles que para unicamente estudar a prática dos professores.
pensam daqueles que ensinam, aqueles O autor acredita que investigações dessa natureza
que propõem daqueles que aplicam. Esse têm pouco a contribuir com a formação continuada
descompasso é o calcanhar de Aquiles da dos docentes e com o desenvolvimento da escola,
educação, instância em que os dois pólos pois continuam a reproduzir a ideia de que a
deveriam interagir ininterruptamente. universidade detém as respostas para todos os
(COX; ASSIS-PETERSON, 2001, p. 32) problemas da educação.
848 Marco Túlio de URZÊDA-FREITAS. Do pensamento abissal à ecologia de saberes na escola: reflexões sobre uma...
[...] o estado de tensão que existe entre Federal de Goiás (UFG) e uma professora da rede
o claro reconhecimento da exigência estadual de ensino de Goiânia (Vera). Na época da
de integração da pesquisa na formação pesquisa, eu trabalhava como professor substituto
e no trabalho do professor e a falta de na Faculdade de Letras da UFG, ministrando aulas
clareza sobre os caminhos para cumpri-la. de inglês intercultural e português intercultural
(LÜDKE, 2012, p. 641-642) no curso de licenciatura intercultural do Núcleo
Takinahaky de Formação Superior Indígena. Além
Tendo como base as reflexões da autora, disso, desenvolvia minha pesquisa de mestrado em
entendo que a pesquisa colaborativa pode ser Letras e Linguística, cujo tema versava a respeito
um caminho para amenizar o referido estado de da formação crítica de professores de inglês na
tensão. De acordo com Ibiapina (2008, p. 19), mesma universidade.
a colaboração pressupõe a participação ativa Já a professora Vera, formada em
de pesquisadores e professores na reflexão Letras, com habilitação em inglês, especialista
acerca de problemas educacionais, levando- em ensino de língua inglesa e participante
os a construir teorias sobre as suas práticas, assídua de cursos oferecidos por universidades,
a negociar crenças e valores e a interpretar escolas de idiomas e secretarias de educação,
“reflexiva e dialeticamente com os pares [as] estava completando 15 anos de docência na
suas compreensões a respeito da questão de rede estadual em Goiânia. No período em que
investigação proposta”. o estudo foi realizado, ela cumpria mais de 40
Essa característica possibilita a inferência horas semanais: de manhã, ministrava aulas de
de que a pesquisa colaborativa concilia inglês para 15 turmas; à noite, era responsável
duas dimensões no contexto pedagógico: a pela biblioteca da escola.
construção de saberes e a formação contínua O contexto em que foi realizada a
de professores. Trata-se de uma “atividade de pesquisa foi o colégio no qual a referida
co-produção de conhecimento e de formação professora trabalhava. Apesar de lecionar em
em que os pares colaboram entre si [para] uma das escolas estaduais mais antigas e de
resolver conjuntamente problemas que maior prestígio da capital goiana, a professora
afligem a educação” (IBIAPINA, 2008, p. 25). Vera enfrentava problemas como falta de
Nas palavras de Magalhães (2002, p. 48), a material e recursos para as aulas de inglês e falta
pesquisa colaborativa cria um espaço em que de disciplina e interesse por parte dos alunos.
teorias e práticas “possam ser repensadas à luz As informações foram geradas de agosto
de novas compreensões e reconstruídas [...] de 2010 a agosto de 2011. Nesse período, a
através de negociações”. professora Vera e eu procuramos, em colaboração:
1) refletir sobre o papel dos professores de inglês
Uma breve descrição do estudo na escola; 2) identificar aspectos e desafios do
ensino de inglês na rede estadual de ensino; 3)
Este estudo se caracteriza como uma mapear a motivação dos alunos para aprender
pesquisa colaborativa (IBIAPINA, 2008), tendo inglês; 4) elaborar estratégias humanísticas de
por objetivo refletir acerca dos aspectos e combate à indisciplina; 5) planejar atividades que
desafios da colaboração entre um pesquisador despertassem o interesse e a consciência crítica
e uma professora. Configura-se, ainda, como dos alunos; e 6) refletir sobre as possibilidades de
uma pesquisa de natureza emancipatória transformação social a partir das aulas de inglês.
(TELLES, 2002), abrindo espaço para a produção Discutimos, ainda, textos teóricos sobre
colaborativa de saberes no contexto investigado. ensino de inglês na educação regular pública
Os participantes do estudo foram um e sobre formação de professores no Brasil. Os
pesquisador (o autor deste artigo) da Universidade textos discutidos foram O drama do ensino de
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ela afirma que ser professora de inglês na rede fazer a diferença na vida dos alunos. (QP
pública de ensino é “um desafio muito grande”, – professora Vera)
pois se trata de uma profissão que envolve
problemas como baixa remuneração salarial, Essa visão contrasta com as minhas
despreparo profissional e desinteresse dos experiências de colaboração na universidade:
alunos em aprender uma língua estrangeira.
São problemas como esses, também apontados [Eu] sempre tive a oportunidade de me
por Cox e Assis-Peterson (2008), que, em meu reunir com os colegas para discutir as
ponto de vista, levam muitos professores, minhas ações em sala de aula. Por isso,
entre os quais Vera, a desacreditar sua própria não sinto muita falta [da colaboração]. No
capacidade de teorizar sobre a educação e de Centro de Línguas [um projeto de ensino,
transformar a realidade na qual estão inseridos pesquisa e extensão da UFG], a gente
(TELLES, 2002). sempre costumava comentar, contar para
Entre os problemas mencionados, o que os colegas o que a gente estava fazendo e
mais parece incomodar a professora Vera é o também o que acontecia nas nossas aulas.
desinteresse dos alunos em aprender inglês: E muitas vezes a gente também elaborava
atividades em conjunto, compartilhava
Durante muitos anos, eu venho buscan- atividades e depois discutia sobre as aulas.
do um caminho para que a maioria deles (DC – pesquisador)
[dos alunos] aprenda um pouco que seja.
Quantas e quantas vezes já saí chorando A necessidade do trabalho em conjunto
da sala de aula, frustrada com os alu- parece ser um dos aspectos que mais contribuí-
nos, decepcionada com o trabalho feito?! ram para a realização dessa experiência, já que
Precisamos descobrir uma forma de fazer a professora Vera alegava não ter muitas opor-
o trabalho que nos é pedido para ser cum- tunidades de reflexão colaborativa na escola. E,
prido de uma maneira que vai cativar os de acordo com Magalhães e Fidalgo (2010), a
alunos. (QP – professora Vera) colaboração é uma ferramenta essencial na for-
mação contínua de professores, visto que abre
Essa fala nos permite observar não espaço para a produção de novos significados e
apenas o interesse, mas o comprometimento realidades para a educação.
da referida professora com a formação de Também no QP, Vera menciona um de
seus alunos (CELANI, 2001). Todavia, embora seus maiores conflitos como professora de
acredite que é possível ensinar e aprender inglês inglês no ensino regular público: o que fazer,
na escola regular pública, ela destaca a falta como fazer e por que fazer em aulas de inglês.
de colaboração entre os colegas como um dos Todavia, em nossa primeira sessão reflexiva, ela
grandes obstáculos à implementação de práticas afirma ter chegado a uma conclusão importante:
mais efetivas em seu contexto de trabalho:
Eu tenho percebido, depois desses 15
Aqui no colégio, há certos tipos de anos, que não há uma receita pronta. Cada
trabalho que faço sozinha, pois a religião sala é diferente, é uma forma que você
da colega não permite, ela não se sente tem de chegar e explicar. E aí eu venho
bem, não gosta de se envolver nesses observando que a minha angústia, que o
trabalhos, e com isso os alunos dela meu sofrimento de muitos anos, se esse
também não participam. E isso é ruim! método é melhor, outro não é... Mas, na
Precisamos nos unir para fazer um bom verdade, eu estou chegando à conclusão de
trabalho, de modo que o inglês possa que a gente deve passar por um pouquinho
852 Marco Túlio de URZÊDA-FREITAS. Do pensamento abissal à ecologia de saberes na escola: reflexões sobre uma...
prática, tentando explorar mais o conhecimento Para reforçar a ideia de que os próprios
dos alunos, ela declarou: alunos podem buscar respostas para suas dúvi-
das, resolvi compartilhar outra experiência:
Mas [eu] tenho aquele medo de errar, parece
que eu vou puxar as coisas dos alunos e eu Os alunos, eu lembro que eles me
tenho que escrever [em inglês] no quadro perguntavam assim: “Teacher, how do I say
o que eles pensam, o vocabulário que eles ‘tal coisa’ in English?”, como se a gente
querem usar. [...] O conteúdo poderia fluir fosse um dicionário andante. E eu falava
na sala, mas a gente fica com vergonha assim: “Olha, eu não sei”. E, muitas vezes,
de errar ou de dizer que não sabe. (SR2 – também, eu sabia, mas eu via que o aluno
professora Vera) estava me testando. E, quando eu percebia
esse teste, eu falava: “Olha, você vai
Tendo por objetivo problematizar a pesquisar e contar pra turma na próxima
declaração da professora, compartilhei com ela aula”. Então, assim, é bom jogar na mão
uma experiência pessoal: deles também, porque isso ajuda a gente a
lidar com essa limitação do conhecimento
Lembra de eu te contar da minha professora, e promove a autonomia dos alunos. (SR2
do que eu aprendi com ela? Porque, na – pesquisador)
universidade, a gente tem a visão de que
os professores sabem tudo. E não sabem! Durante as sessões de reflexão colabo-
Ninguém sabe ou tem que saber tudo. E rativa, pude observar que a cobrança da pro-
aí a gente chega lá com essa visão e ela fessora Vera em relação a si mesma, bem como
[a referida professora], de repente, fala: a sua dificuldade em lidar com as limitações
“I don’t know”. Então, isso, pra mim, foi do conhecimento em sala de aula, refletiam as
libertador, e eu aprendi que a gente não tem cobranças que são diariamente feitas aos pro-
que saber tudo, se cobrar pra saber tudo, fessores do ensino regular público no Brasil.
porque ninguém sabe. (SR2 – pesquisador) O sistema não lhes deixa outra saída: além
de enfrentarem problemas e conflitos de toda
Ao reconhecer que o medo de cometer ordem, ainda precisam realizar o seu trabalho
erros e de não saber tudo poderia limitar a im- com perfeição. Tal fato nos remete às reflexões
plementação de ações pedagógicas mais efeti- de Zagury (2009) segundo as quais os profes-
vas na escola, Vera passou a refletir a respeito sores estão de mãos atadas perante os alunos
de como ela poderia melhorar a sua prática: e a sociedade, muitas vezes impossibilitados de
trabalhar pela transformação de suas próprias
[...] eu tenho que pensar, me organizar em realidades socioeducacionais.
casa, pensar que eu vou fazer isso com os Toda essa discussão nos leva a considerar
meninos, e isso ali que surgiu e eu não os entraves do ensino de inglês na escola regular
souber, se tiver como a gente pesquisar pública. Ao discutir o texto de Cox e Assis-
na hora, a gente olha na hora e coloca o Peterson (2008), a professora Vera compartilhou
vocabulário no quadro. E, se não tivermos uma reflexão importante:
na hora, a gente fala que não tem a resposta
nos nossos livros de apoio, mas que vamos Aconteceram as mudanças, mas ainda não
verificar em casa, vamos consultar outros teve o sucesso esperado. Eu até participei
livros, consultar a internet, e dizer que eles da última reforma do Ensino Médio, e
também podem procurar e trazer a resposta a gente, quando se depara com aquela
na próxima aula. (SR2 – professora Vera) situação, a gente pensa: agora, sim, o
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Além de reforçar a ideia da professora não a partir de uma hierarquia, mas de nossos
Vera, essa fala contribuiu para estabelecer um respectivos saberes e experiências.
nível de colaboração ainda mais intenso entre Já no segundo tema, vimos a consolidação
o pesquisador e a professora. Ao afirmar que da parceria entre a professora Vera e eu, motivada
eu estava tendo a minha primeira experiência pelas reflexões compartilhadas acerca do ensino
como professor-pesquisador no ensino regular de inglês na escola e em outros contextos
público com a professora, eu disse, com ou- educacionais. Tendo em vista as cobranças que
tras palavras, que eu estava ali para aprender a professora fazia de si mesma, tentamos refletir,
com ela, e não para ensiná-la ou para dizer com base em nossas respectivas experiências,
o que era bom e correto no ensino de inglês, a respeito das limitações do conhecimento
como inicialmente ela parece ter pensado. Foi docente e das possibilidades de aprendizagem a
essa postura que, a meu ver, possibilitou-nos partir dessas limitações. Nossa parceria se deu
desenvolver um trabalho mais colaborativo basicamente no compartilhamento de reflexões
na escola e, por conseguinte, caminhar juntos acerca de temas como as dificuldades do ensino
na análise de problemas educacionais diver- de inglês na educação básica e o abismo que
sos e na implementação de possíveis mudan- separa universidade e escola. O resultado foi o
ças (MAGALHÃES, 2002; IBIAPINA, 2008; estabelecimento de uma aliança colaborativa,
MATEUS, 2009). por meio do entrecruzamento de nossas vozes
e reflexões acerca de questões diversas. Essas
Discussão e reflexões finais reflexões, ancoradas nos princípios dialógicos
da colaboração, possibilitaram a interação e a
As percepções e análises apresentadas interdependência entre os saberes, colocados em
anteriormente permitem concluir que a colaboração diferentes lados pelas classificações hegemônicas
entre a professora Vera e este pesquisador, apesar da ciência moderna (SANTOS, 2010).
de ainda refletir certo grau de dependência do Ambos os temas de análise mostram
saber acadêmico para compreender e resolver que a pesquisa colaborativa pode reduzir o
problemas educacionais, foi uma experiência abismo que separa pesquisadores e professores,
bastante produtiva para ambas as partes. na medida em que abre espaço para uma
No primeiro tema, vimos alguns dos ecologia de saberes (SANTOS, 2010) na escola.
aspectos que marcaram o início da pesquisa, tais As principais características dessa ecologia ou
como a abertura da professora para o diálogo entrecruzamento de saberes são, a meu ver, a
e as suas expectativas em relação à minha humildade e a confiança: a primeira refere-se
presença na escola. Foi muito difícil convencê-la à postura que os participantes, especialmente
de que os seus saberes e experiências também os pesquisadores, devem adotar mediante o
eram importantes para mim. Foi ainda um trabalho colaborativo; a segunda refere-se ao
desafio fazê-la acreditar que eu estava ali não nível de colaboração entre os participantes.
para dizer o que era certo ou errado, mas para No caso deste estudo, por exemplo, o
compartilhar experiências e, sobretudo, para nível de colaboração chegou a tal ponto que nos
ouvi-la e aprender com ela. A desestabilização sentimos à vontade para compartilhar angústias
das linhas abissais que nos separam foi possível muito particulares, as quais estão intimamente
a partir das reflexões compartilhadas em relacionadas a quem somos e às nossas posturas
nosso primeiro encontro, as quais englobaram pedagógicas. Esse nível de colaboração fez com
questões como o papel dos professores de inglês que a professora Vera compartilhasse comigo
na escola e as possibilidades de ensino dessa as suas três maiores frustrações como docente-
língua na rede pública. Ao refletirmos a respeito aprendiz. A primeira delas ocorreu quando uma
dessas questões, começamos a nos posicionar professora de leitura e redação, após corrigir
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mera inversão de papéis, forças ou hierarquias na sobre questões educacionais, deslegitimando,
produção de conhecimentos pedagógicos, já que assim, a voz dos pesquisadores.
o mais interessante na proposta de colaboração é Aliás, penso que a palavra autoridade não
o fato de pesquisadores e professores trabalharem tem muito a contribuir para essa discussão, visto
juntos para compreender e melhorar a educação. que ela aponta diretamente para a construção
Não se trata de dar voz aos professores e/ou reafirmação de uma hierarquia, o que,
e silenciar os pesquisadores, como tenho visto a meu ver, não deve, sob nenhuma hipótese,
alguns colegas sugerirem. Ao fazê-lo, estamos integrar os objetivos da pesquisa colaborativa
simplesmente invertendo a matriz que tem nas escolas. Ainda que a voz dos pesquisadores
excluído a voz dos professores da produção de e a dos professores estejam, independentemente
conhecimentos. Além disso, como já dito, há um da nossa vontade e dos nossos esforços,
fato do qual não podemos escapar: universidade inscritas em diferentes matrizes de poder e
e escola estão intimamente relacionadas nas saber – como pudemos observar em alguns
tessituras do sistema educacional – pois é a pontos da experiência analisada neste texto. É
universidade que forma professores para atuar precisamente no sentido de conversão de forças
na complexa realidade da educação regular e entrecruzamento de saberes que aponto a
pública. É inútil, portanto, afirmar que os colaboração como alternativa para desestabilizar
professores têm mais autoridade para falar as linhas do pensamento abissal na educação.
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