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1.

1 Prevenção ESPECIAL (VON LISZT):

Ideia de evitar que algum tipo de indivíduo em específico no campo social cometa crimes
novamente. A origem de tal teoria se dá no positivismo naturalista, que tenta utilizar a natureza
para explicar as questões sobre a conduta humana delituosa.
O princípio da ação e reação (causa e efeito) de Newton teve papel nessa concepção naturalista,
que foi trazida para o Direito Penal por meio de Lombroso, Ferri e Garófalo, cujo determinismo
justifica os comportamentos criminosos de certos indivíduos em sociedade (Lombroso com as
causas genéticas e morfológicas da prática de crimes, já Garófalo e Ferri com as causas sociais,
qualificando os tipos de criminoso com as características comuns que apresentam).
Vendo a sociedade como uma máquina que, tal qual a natureza, pode ser controlada pelo homem,
Von Liszt qualifica, então, o criminoso como uma ameaça ao sistema social, podendo ser tratado
das seguintes formas pelo Direito Penal:

1.1.1. Prevenção ESPECIAL POSITIVA: observando aqueles que não têm características
intrínsecas a si que os tornem propensos ou até mesmo voltados naturalmente à prática de crimes, a
prevenção geral positiva visa ressocializar aquele que delinque.

1.1.2 Prevenção ESPECIAL NEGATIVA : quando, porém, for constatado que o indivíduo não
pode ser ressocializado, o tratamento destinados a este grupo de delinquentes deverá ser a
neutralização. É A ESTE GRUPO DE INDIVÍDUOS A QUE O DIREITO PENAL ESPECIAL
IRÁ SE DESTINAR

1.1.3. Críticas à teoria:


• Traz a concepção de punir alguém pelo que esta pessoa é, o que vai contra o princípio
democrático do respeito às diferenças
• Dita o modo certo de ser e de agir (arbitrariamente), buscando alterar a essência do
indivíduo, e o Estado não deve ter este poder.
MISSÃO DO DIREITO PENAL

1. HISTÓRICO

1.1 IMPÉRIO CAROLÍNGIO E IDADE MÉDIA EM GERAL:

Tinha-se nessa época uma cosmovisão teocêntrica, o que significa dizer, entre outras
coisas, que o homem vive em tal época em estado de completa submissão a Deus, aceitando
conformadamente a situação em que se encontra, vez que sua vida pertence a Deus e Ele é quem
decide o que será melhor para sua vida, de onde pode-se concluir que o corpo humano não era
valorizado na época, pois a primazia do homem se dava na alma, no espírito, o que era constatável
em vários ritos pelos quais passavam os indivíduos que delinquiam no período (ordálias, martírios
físicos, tortura, etc).
Mesmo se tratando de um período de descentralização do poder estatal (feudalismo) na
Europa Ocidental, houve momentos de maior concentração do poder em um núcleo mais forte, em
que o Direito Penal Romano era restaurado para regulamentar e julgar os crimes cometidos,
entretanto quando a desconcentração eventual do poder novamente trazia os padrões bárbaros-
germânicos do tratamento ao crime (vingança privada, ordálias, arbitramentos, etc.).
O período em que este Direito Penal Medieval se dá mostra um objetivo diferente do que
normalmente se tem para o Direito Penal atual. A punição por crimes e atos delituosos em geral
visava, acima de tudo, preservar a Igreja Católica e a nobreza, pilares do poder que dominavam
as populações e territórios à época, justificando tal poder na investidura divina, pois se Deus é
aquele que confere o poder de punir à nobreza e à Igreja, não há que se discutir o modo de punir
quem comete crimes, em uma sociedade em que o pecado é mau e o mau é crime. Havia nas mãos
desse binômio um poder punitivo ilimitado, pois o homem pertencia a Deus e Este teria o direito
de fazer o que bem entender com a sua “propriedade”.
O período medieval é marcado também pela vedação ao direito de autodisposição do
indivíduo, pois ele mesmo não tem propriedade de si mesmo. Como diz Foucault em Vigiar e Punir,
o Estado Medieval era uma entidade que faz morrer e deixa viver, convertendo várias condutas em
crime, punidas principalmente com morte, mas também convertidas em degredo. Obs: o Brasil
nasceu como uma colônia penal de Portugal; para cá eram mandados muitos daqueles que, na
Europa, eram sentenciados com pena de degredo.
Da concepção do Direito Penal para o homem medieval comum, pode se aferir que tal
regulamentador era desigualmente aplicado. Obviamente, pois aquele que tivesse bens o suficiente
(clero e nobreza, em geral) poderiam se safar da punição por meio do pagamento de multas,
privilégio este que não cabia à generalidade das pessoas, cuja condição de servidão e pobreza as
obrigava, por força das circunstâncias, a sofrerem as penas mais duras (punições físicas como a
morte e tortura).
O Direito Penal atual foi formado principalmente pelo que resultou na Revolução Francesa,
trazendo novas ideias ao homem comum, que já não se vê mais na mesma condição de
subordinação inquestionável perante seu senhor, seu rei, seu padre, seu Deus. Surge nesse momento
uma laicização do Direito Penal, que traz consigo a quebra da soberania estatal e religiosa
constatadas no medievo sobre o poder de punir.
O iluminismo teria sido um movimento intelectual dominante para a mudança da
cosmovisão do homem, vindo antes da Revolução Francesa e tendo sido um dos principais fatores
determinantes para o seu estopim, tal qual a arte, que muito embora não tenha sido causa direta da
mudança de valores, mostrou-se influente nesta, principalmente durante o Renascimento,
resgatando a cultura greco-romana para retomar o antropocentrismo como parâmetro de produção
artística, sendo o prenúncio do que se tornou o pensamento iluminista.
O pensamento cartesiano também contribuiria para a transformação da cosmovisão
humana. O homem, a partir de então, deixa de ser objeto de um poder absoluto, tornando-se um ser
que se valoriza, pois só existe porque pensa (“cogito ergo sum”), e não pode ser dividido em si
mesmo.
A partir de então, com o deságue do pesamento atomizado na Revolução Francesa, surgem
limites ao poder do Estado (seja ele o poder punitivo ou quaisquer outros). A partir de agora o
Estado existe para o indivíduo, e não o indivíduo que existe para o Estado. O novo momento
caracteriza-se pela concepção de que a origem do Estado está no povo, e não em Deus, que os
direitos do homem não vêm somente do rei, mas também do próprio status humano
(Jusnaturalismo – contrato social), garantidor de direitos como o de vida, liberdade, patrimônio e
igualdade.
A limitação aos poderes do Estado sobre o indivíduo fazem surgir os Direitos
Fundamentais de 1a Geração (direitos individuais), cujo garantidor é o Estado civil, entidade
originada no indivíduo.

2. FUERBACH

• Com ideias fundamentadas no pensamento contratualista e iluminista.


• O Direito Penal tem a missão de proteger direitos subjetivos (os direitos da vítima) de
quem teria direitos como a vida, patrimônio, integridade física e afins.
Obs: o Direito Penal é limitado em sua função punitiva, pois deve observar os direitos dos réus
(Princípio da Vedação de Excesso), bem como os direitos das vítimas (Princípios de Vedação de
Proteção Deficiente), que deverão ser protegidas suficientemente. Não há crime sem lei anterior
que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Há a ideia de que não retroage sobre os
antigos atos de um indivíduo a lei posterior a estes que os incrimine.

3. FOUCAULT

• Se o Estado Medieval é uma instituição que faz morrer e deixa viver, ele tem somente uma
agência para regulamentar a vida em sociedade, e esta acaba por ser o Direito Penal, em
regra, e este Direito Penal é faltante em muitos aspectos, já que trata de punir todo e
qualquer compportamento considerado pelo Estado e pela Igreja como desviante da ordem
normal esperada.]
• O Estado Moderno muda, trazendo um Estado que faz vive, e para isto ele necessita de
muitas agências que permitam tal resultado, fazendo surgir novas mecânicas de controle
para cada agência em específico (escolas hospitais, exército). Isso faz com que o Direito
Penal já não precise controlar tantos corpos quanto antes, e haja de modo a trazer punições
mais brandas, menos cruéis e desproporcionais como antes se fazia, vez que a punição
deixa de ser a única maneira de se controlar a sociedade, e deixa de provocar o terror que
provocava antes.

4. BIRN BAUM (1834) – Inventor da expressão “bem jurídico” (definido como um ente, um objeto
ou coisa)

• Trouxe ideia contrárias a Fuerbach


◦ Os direitos subjetivos não são os afetados pelo crime, pois eles não se perdem nem
deixam de existir após a prática de tal.
• O Direito Penal serve para proteger bens jurídicos a que os direitos subjetivos remetem
◦ “Todo direito é um direito a algo”, e esse “algo” é aquilo a que o Direito Penal tem a
missão de prteger, ou seja, são os bens jurídicos.
◦ Uma vez que os crimes são sempre contra coisas, e não diretamente a direitos subjetivos,
são estas as coisas que deverão ser alvo de proteção.

CRÍTICA: com esta visão perde-se a visão do sujeito no meio do caminho, o sujeito a que o crime
vem ofender, significando que o objeto eclipsa o sujeito.

OBSERVAÇÃO: bem jurídico hoje é um conceito difícil de se definir exatamente, visto que muitos
dos bens jurídicos surgidos no decorrer dos tempos possuem diferentes dimensões e facetas,
apresentando grande nebulosidade quanto ao que sejam de fato, o direito ao meio ambiente
preservado, bem como a manutenção e bom desenvolvimento da ordem econômica denotam isso –
não se sabe mais ao certo a quem tais bens jurídicos se destinam, quem deve garantir a sua
manutenção, e tantas outras questões.

5. BINDING (1870) – TEORIA MONISTA ESTATAL

• Sua teoria é contrária à de Birn Baum:


◦ O fato de um bem se tornar jurídico se dá por causa do Direito, que vem do Estado.
◦ Um bem só é jurídico quando há uma norma que o define como tal.
◦ O crime é aquele ato que ofende o indivíduo, afetando seu (s) bens jurídicos
◦ Portanto, o crime é algo que acaba por violar a norma estatal, que o Estado produz.
Se o que o crime ofende/viola é a norma estatal, daí pode-se aferir que quem se ofende pelo
crime cometido por alguém é o Estado (vítima do crime praticado), uma vez que o bem jurídico
aqui levado em consideração é a norma que el produziu, e esta sim foi violada.

6. VON LISZT (1881/2) – CONCEPÇÃO SOCIOLÓGICA

• A missão do Direito Penal é proteger direitos individuais e coletivos essenciais para a


vida em comunidade.

OBS.: o crime desvalora condutas humanas, pois elas violam bens jurídicos (trazendo dano ou
perigo de dano). Há dois possíveis Direitos Penais existentes, quanto à desvaloração das condutas
humanas:
Desvalor de ação: avaliam e punem pela ação e si, pouco importando o que dela venha a resultar.
Desvalor de resultado: têm foco nas consequências da conduta praticada, dando carga negativa
para elas.

Para Liszt, se não houver resultados decorrentes das ações praticadas, não há que se falar na atuação
do Direito Penal, portanto o autor defende um Direito Penal de desvalor de resulutado, pois
defende que se deve evitar os efeitos nocivos à comunidade derivados da prática criminosa.

7. HANS WELZEL – TEORIA FINALISTA

• O Direito Penal só atua depois que o bem jurídico já foi lesionado.


• Há um acordo civilizatório por trás de qualquer sociedade, cultura, comunidade, etc., que
vem para indicar que direitos devem ser respeitados (com o auxílio dos valores, costumes e
afins da sociedade em questão)
• Conduta humana é um fazer guiado por um fim (IDEIA FUNDANTE) – conceito finalista
de conduta humana.
◦ Por isso, o que o crime viola não são os bens jurídicos das vítimas, mas violam o acordo
civilizatório que vem antes da própria violação do bem jurídico.
◦ Quando se comete um crime, o que se está comunicando é o pouco caso para com esse
acordo civilizatório, que todos, em tese, se comprometeram em cumprir, mas que o
criminoso violou, demonstrando que não se compromete com a manutenção da
sociedade. As consequências, nesse caso, pouco importam, pois o mais precioso bem já
teria sido violado antes delas virem a ser conhecidas.
◦ Se é a ação a responsável por quebrar o acordo civilizatório, então é por ela que o
indivíduo que delinque deve ser punido pelo Direito Penal, e por isso a teoria de Welzel
é de desvalor de ação.
PERGUNTA: O Código Penal Brasileiro desvalora a ação criminosa ou o resultado dela?
R: em regra, ele é voltado ao desvalor de resultado, mas há exceções.
EXEMPLOS:
• A tentativa de homicídio é criminalizada no Brasil (desvalor de ação), mas a pena para ela
é reduzida em relação ao homicídio em si (desvalor de resultado), porque no segundo caso
houve, de fato, a morte de um indivíduo, e no primeiro só existiu o risco de morte (art. 14,
II)
• A doutrina é tendenciosa a afirmar que quanto mais a prática se aproximou do resultado,
mas este não se concretizou, maior a redução da pena (maior desvalor de resultado do que
de ação)
◦ Art. 17 – crime impossível: o CP não criminaliza um ato se o meio de atingir o seu
resultado é ineficaz, ou é impróprio o objeto a que ele se destina, como, por exemplo,
passar a faca na garganta de uma pessoa que já estava morta, mesmo que tal atitude
tenha sido resultado da intenção de matar, embora não se soubesse que a possível vítima
já não tinha vida no momento.
• Dolo e cupa, no Código Penal, são características de um sistema punitivo de predominante
desvalor de ação.
CRÍTICA A WELZEL: os códigos vão compondo seu conteúdo e não adotam necessariamente só
uma linha de punição. O desvalor de ação, por exemplo, pode trazer um Direito Penal autoritário,
que pune muito mais (se mais ações, sem os seus resultados, são punidas, torna-se muito mais fácil
punir), e isso limita as liberdades individuais, pois se houvesse nese campo também um desvalor
de resultado que atuasse no julgamento dos crimes, não todas as ações praticadas, mas também as
suas consequências é que seriam vistas negativamente.

8. JAKOBS
• A missão do Direito é punir o indivíduo pelo rompimento de papéis sociais que a sua
atitude causou.
• Todo aquele que sai do seu papel social causa um abalo nas expectativas sociais sobre um
dado tipo de indivíduo, e a punição vem para reestabilizar as expectativas de
comportamento.
• Desvalor de ação puro: é a sua única convergência com a teoria de Welzel, de quem foi
aluno.
CRÍTICA: esse modo de pensar levaria ao autoritarismo, pois punir-se-ia muito mais pelas ações
do que pelos resultados destas.
Obs.: perigo de dano também é um desvalor de resultado.

9. CLAUS ROXIN
• O Direito Penal serve hoje para proteger subsidiariamente o bem jurídico, ele atua
somente quando as outras esferas do direito não conseguiram assegurar os direitos que
foram violados na esfera individual.
◦ Fragmentariedade do Direito Penal.
• Desvalor de resultado: ideia de que ele somente irá atuar após o resultado negativo
proveniente da insuficiência de outras esferas em resolver os problemas apresentados.
Obs.: os dois autores acima são funcionalistas, porque dizem qual é a função do DP (diferente em
cada um)

10. O DIREITO PENAL E A SUA RELAÇÃO COM A SOCIEDADE DE RISCO

O risco, a antecipação de um fato ruim, é criado na mente humana, e se for causado, será
ocasionado por um ato humano. Perigo é a antecipação de um fato ruim, tanto quanto o risco, porém
este fato ruim deverá resultar necessariamente de uma evento que não decorrerá de um ato humano.
Vivemos em uma modernidade reflexiva (Ulrich Beck), e o Direito Penal vem criando
penas para condutas cujo efeito é tão somente o risco de dano, uma característica da
SOCIEDADE DO RISCO em que se vive hoje.

PRINCÍPIOS JURÍDICO-PENAIS
(para contenção do poder punitivo estatal em relação aos direitos do réu; pró-réu)

Surgidos após a limitação do poder punitivo estatal com o pensamento iluminista, a


Revolução Francesa e a Independência Norte-Americana, e com o movimento
republicanista/constitucionalista (séculos XVIII e XIX) que daí saiu para apregoar o império da
lei. É um âmbito de confluência entre o Direito Penal e o Direito Constitucional, já que é nas
Constituições que as contenções ao poder estatal se veem registradas. A Constituição revela o
contrato feito pela sociedade e os limites pelos quais o povo confere ao Estado que o povo cria o
exercício do poder de punir. O poder é concedido ao Estado pelo povo na medida em que o povo
ache que é adequado. Não é à toa que as Constituições estão repletas de restrições ao poder punitivo
estatal, sendo tais restrições representadas por princípios jurídico-penais.

1. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL (indica que “algo” está reservado à lei, e este “algo” é a
função de prever crimes e penas.)

CF/88, art. 5o, XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação (pena prevista em tese) legal – igual à redação do CP, art. 1o.

“Só posso criminalizar alguém por um ato cometido se ao tempo daquele ato havia previsão legal
para determinar aquele comportamento como criminoso”
“Que não haja surpresa para aquele cidadão, que haja segurança jurídica”

Nasceu como princípio-regra: enquanto que os princípios são fontes de direito que
admitem ponderações, as regras não as admitem. O Princípio da Reserva Legal surgiu, entretanto,
como uma exceção, existindo sem a possibilidade de ser ponderado, por isso o caráter de regra que
ele recebe.
Tem como bases históricas a Revolução Francesa e a Independência Norte-Americana, e
bases filosóficas no Iluminismo, cada uma produzindo seus documentos próprios, sendo a
Declaração dos Direitos do Cidadão a contribuição da primeira e a Constituição Norte-amercana a
contribuição da última. Há, no entanto, quem aponte as origens históricas do Princípio da Reserva
Legal como advindas de um tempo mais antigo ao já referido. A Magna Carta Libertatum, do Rei
João Sem-Terra, de 1215, em que seu irmão teria ido às Cruzadas, deixando o posto real vago
durante o período, tempo que João utilizou para tomar o poder, invadindo a atual Normandia (ele
era normando, não inglês nato) e fazendo um acordo com os nobres, que só o deixariam tomar o
poder se o fizesse. Tal acordo incluía condições sobre o poder de punir do monarca: ele não teria o
poder de criar crimes, estes continuariam sendo aqueles previstos nas leis das terras Law of the
Land, em contrapartida o rei teria o poder de estabelecer o rito processual. Crítica a esse
pensamento pode ser colocada a partir da afirmação de que a Magna Carta assegurava não os
direitos do povo em relação ao poder punitivo do Estado, mas sim os direitos dos senhores feudais
em relação às suas terras e as normas a elas atribuídas, excluindo o povo como elemento importante
nesse período.
O pai dogmático do princípio foi Feuerbach (1799 – Prolegôminos de Direito Penal; 1801 –
Tratados de Direito Penal Comum Alemão, reeditado até 1829), embora Cesare Beccaria já tenha
falado sobre isso em seu tempo.
• Teoria da Coação Psicológica: para que haja coação psicológica a não cometer crimes, a lei
deve existir prevendo o crime antes que ele aconteça, por isso não há crime sem lei anterior
que o defina. Sem lei anterior, a pena não tem como fazer coação psicológica e prevenção
Respeitadas as geral negativa.
quatro • Nullum crimen, nulla poena, sinne lege: não há crime, não há pena sem lei
ramificações, 1. lex PRAEVIA (anterioridade)
temos o 2. lex STRICTA (vedação à analogia “in malam partem”)
princípio da 3. lex SCRIPTA (vedação dos costumes como fonte de estipulação de crimes e penas)
reserva legal 4. lex CERTA (Princípio da Taxatividade da Lei Penal)
respeitado
1.1. Dimensão formal do Princípio da Reserva Legal

Somente a lei ordinária, que passe pelo devido processo legislativo, pode prever crimes
e penas.
Pode-se criar crimes e penas por meio de um ato do Poder Executivo ou Judiciário (Decreto
Legislativo, Medida Provisória, decisão do Presidente do STF/STJ, etc.)?
R: Não, pois não há crime sem lei anterior que o defina, e a lei é ato do Poder Legislativo produzida
em coautoria com o povo, que passa pelo processo legislativo um procedimento que sofre a
participação popular (CCJ – Câmara – Senado – Presidente da República – Publicação – vacatio
legis ou não). Deve existir garantia da participação do povo no processo legislativo. O povo é que
deve decidir sobre a criação de normas proibitivas e mandamentais (não matarás, prestarás
socorro), pois estas têm como fonte única e exclusiva a lei em sentido estrito, a que passa pelo
processo legislativo. O único modo de se criar crimes e penas é por meio da lei ordinária emanada
do Congresso Nacional a partir do devido processo legislativo, que é a única maneira de garantir a
participação popular.
Todo poder emana do povo e só cabe ao povo se autolimitar. Durante o Regime Militar
existia o Decreto-lei, que ao contrário da Medida Provisória, se não fosse aprovada pelo Congresso
dentro do prazo estipulado, entraria em vigor, o oposto da Medida Provisória, que caduca em caso
de não aprovação pelo Congresso dentro do prazo, e esses Decretos-lei poderiam veicular matéria
penal. Quando a Medida Provisória surgiu, não havia previsão expressa de que ele não poderia
versar sobre matéria penal, regulamentação que veio por Emenda Constitucional anos depois.

ATENÇÃO
Como norma permissiva, pode um ato do Poder Executivo ou Judiciário exercer sua
criação, ou até mesmo os costumes, uma vez que estejam ampliando a liberdade do povo.

1.2. Dimensão material do Princípio da Reserva Legal


É a prática por trás da reserva da lei em criar crimes e penas, a função de garantia da
norma penal (Francisco de Assis Toledo), de garantir o direito do réu em face do direito de punir
do Estado, para conter o poder punitivo estatal, realizado pela norma penal, e que se dá por quatro
formas, vistas a seguir.

1.3. LEX PRAEVIA Princípio da Anterioridade da Lei Penal

Jamais uma lei penal irá retroagir em desfavor do réu (CF, art 5o, XL), ou seja, a lei penal
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Tal princípio serve para que nós saibamos o que
podemos ou não fazer, e o que acontece se fizermos o que não pode ser feito, garantindo a
segurança jurídica.
Penas novas para crimes anteriores a elas não podem ser aplicadas, já que o criminoso
deixará de saber ao certo as consequências exatas surgidas para ele após uma ação que ele cometeu,
e que seja proibida.
ANTERIORIDADE NÃO É O MESMO QUE RESERVA LEGAL! (Roxin)
• Na legislação alemã da Segunda Guerra Mundial, em 1935, entrou em vigor uma
norma que dizia ser crime qualquer ato escrito em seu código penal, bem como
aquele que ferisse ao são sentimento do povo. Supondo-se que em 1938 um
indivíduo fosse preso e condenado por ter ferido o são sentimento do povo, tal
situação demonstraria uma quebra ao Princípio da Reserva Legal, e no entanto não
iria ferir a lex praevia. Por que??? Porque embora a lei preveja que é crime ferir o
são sentimento do povo, ela não fala como esse sentimento é ferido, qual conduta,
comportamento específico fere o são sentimento do povo, tornando a lei muito
ampla, subjetiva, tornando difícil a sua aplicação simultânea à segurança jurídica,
pois assim o agente criminoso não tem parâmetros concretos para se embasar sobre
uma conduta realmente criminosa ou não, e o que acontece se fizer o que não pode.
• É possível obedecer a anterioridade sem, contudo, obedecer à Reserva Legal

1.4. LEX STRICTA Vedação da analogia in malam partem

Tal face do Princípio da Reserva legal pressupõe que só se pode punir exatamente nos
termos em que o texto de lei prescreve o comportamento, punir alguém por aquilo que a lei
exatamente previu. NÃO SE PODE PUNIR POR ANALOGIA
ATENÇÃO: não é o mesmo que interpretação analógica. A interpretação analógica
pressupõe que haja uma lei, mas que no entanto essa lei, para ter sua aplicação feita com plenitude,
seja relacionada analogamente a outra cujo conteúdo complemente a primeira. A analogia se usa na
completa falta de lei. Usa-se a analogia como um modo de integração de lacuna para preencher
buracos legislativos, quando não há lei prevendo um determinado assunto, e pode ser feita de duas
maneiras:
1. Analogia legis: pegar uma lei produzida pelo Poder Legislativo que trate do tema mais
similarmente possível, e estender o tratamento que esta der para o assunto à situação em
análise (característica do Civil Law), não prevista em lei.
2. Analogia iuris: estender, por analogia, o tratamento jurídico de uma decisão judicial anterior
que tratasse sobre caso parecido (característica do Common Law) à situação em análise.

Em contrapartida, a analogia utilizada para ampliar os direitos de quem agiu, ela é permitida.
PODE-SE FAZER ANALOGIA IN BONAM PARTEM para ampliar a liberdade do agente.
Exemplo da parteira que mesmo não tendo feito medicina teve de acudir uma grávida em apuros,
prestes a ter seu bebê, que não será punida caso tenha causado a morte da mãe no procedimento do
parto, já que agiu de maneira emergencial.
Na interpretação analógica não só há uma lei, como essa analogia feita pela interpretação
relacionada entre um texto de lei, e a situação concreta pode ser utilizada em desfavor do réu, mas a
lei que será invocada para se estender à situação que necessita complementação deve ter seu
enunciado expressamente permitindo a analogia, é quando a lei permite ao intérprete invocar
situações análogas a partir de uma previsão expressa de seu texto: pode ser contra ou a favor do
réu, já que nesse caso é a própria lei que prevê, e não qualquer outra fonte
•  § 2° Se o homicídio é cometido:
◦ III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
◦ IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossivel a defesa do ofendido;

Sempre que a situação constatada for análoga a essas, como nos trechos grifados, a pena aplicada
será a mesma a que se refere o parágrafo 2o : pena de reclusão de 12 a 30 anos

1.5. LEX SCRIPTA Costumes não podem ser fonte de estipulação de crimes e penas

O costume derroga ou ab-roga a lei penal? (ab-rogação é revogação total de uma lei pelo
advento de uma lei posterior, a derrogação é revogação parcial de uma lei pelo surgimento de oura,
tornando a primeira parcialmente sem efeito).
Pode um costume revogar uma lei penal? NÃO, somente uma lei penal revoga outra lei
penal. O jogo do bicho, por exemplo, é um costume e no entanto a sua prática não revoga a lei que
o proíbe, punindo aqueles que forem pegos praticando. A cafetinagem pode ser um costume, mas a
sua prática reiterada não revoga a lei penal que proíbe tal conduta. O consumo de drogas pode ser
um costume para certos tipos de pessoas, e no entanto não pode revogar a lei penal que proíbe o uso
de entorpecentes.
Os costumes podem, entretanto, ser fonte de norma permissiva, mas dentro de dados
contextos concretos e particulares dentro da norma penal que em geral o comportamento é proibido.
Exemplo é o da circuncisão para o povo judeu, que dentro da legislação poderia ser considerada
lesão corporal, mas que acaba por ser permitida pelo fato de que os costumes judaicos no tocante à
circuncisão de recém-nascidos já são uma prática enraizada na cultura. O que, em verdade, não
pode ser feito, é utilizar um dado comportamento proibido e revogar a lei que proíbe a sua prática
somente pelo fato de ele estar sendo praticado costumeiramente, pois isto implicaria na invalidação
da lei em todos os seus contextos, e não a invalidação de uma parte da lei. Por isso não é possível
revogar a lesão corporal pelo costume, alegando-se que o costume agora é resolver “tudo no braço”,
por exemplo.
Tipos penais não raro carregam em si cargas culturais, variando de cultura para cultura, de
época e de lugar. E nesse contexto é que entrariam os costumes, utilizados para que seja possível o
entendimento de determinados elementais dos tipos (termos próprios do texto legal que definem
um comportamento como criminoso – matar alguém; subtrair coisa alheia móvel)
• Ato obsceno: sua definição penal pode variar de cultura para cultura (ex. Praticar ato
obsceno no Oriente Médio não chega a ser considerado prática de ato obsceno no Brasil; ato
obsceno no Brasil não é interpretado hoje da mesma maneira como se definia há 50 anos
atrás), o que significa que os costumes auxiliam na interpretação de tipos penais de
acordo com o contexto cultural em que estão inseridos. O problema do Direito é que ele
pretende assumir uma linguagem técnica que lhe proteja das outras áreas, para que estas não
se apoderem dos termos do Direito, mas o fato é que a origem e legitimação do Direito está
no povo por meio do texto da Constituição, levando à ideia fundamental de que o Direito
tivesse em seu conteúdo a maior clareza possível, a fim de não escapar do entendimento e
acesso do seu principal destinatário: o povo.

Serventias dos costumes:


1. Auxiliam na interpretação de elementais dos tipos / elementos normativos (ex. Ato
obsceno)
2. Criar standards de comportamento em crimes culposos, pois criam o standard de
comportamento para dada circunstância, que é definido por meio da conduta que
costumeiramente se pratica, definindo o que é o adequado a se fazer em dada situação Isso
significa que a partir dos costumes já é possível definir o que seria uma conduta descuidada,
e portanto culposa. Ex. Patada de cavalo levada no peito por um menino, que deveria ter
sido evitada, já que o dono do cavalo deveria ter previsto, ter tomado cuidado com o perigo
que o animal representa a uma criança, pode ser definida como homicídio culposo.
3. Servem para arredar certos aspectos da norma penal, aplicado-se a lei ao caso concreto,
de condutas em geral proibidas (circuncisão p/ judeus não é crime de lesão corporal, pois é
costume), embora não possa servir para usar)

1.6. LEX CERTA – Princípio da Taxatividade da Lei Penal

Que a lei seja clara: princípio voltado ao Legislador. O Legislador deve elaborar leis claras e
precisas, com os elementos fundantes do tipo de injusto, proibindo incriminações vagas e incertas e
não deixando dúvidas, com o objetivo de indicar taxativamente aquilo que é penalmente lícito e o
que é proibido. Também deverá fazê-las de modo a tornar as leis inteligíveis por todos os cidadãos,
vez que é ao povo que o Legislador se dirige. Os legisladores não devem deixar margens a dúvidas
nem abusar do emprego de normas muito gerais ou tipos incriminadores genéricos, vazios. Isso
permitiria uma maior arbitrariedade ao Judiciário no momento de julgar, algo contrário ao objetivo
desse princípio.

Zaffaroni – Exemplos de violação da Lex Certa

a) Ocultação de Verbos: é o mais grave violador, pois trata-se de criar falsos verbos na lei, que
dizem o que é proibido, mas não explicam o termo empregado no texto
Cometer adultério: mas o que é adultério? Como se comete? Em que situação? Com quem?
b) Imprecisão semântica dos termos: falta de elementos que definam com exatidão o termo
utilizado no tipo penal. As simples palavras não são suficientes.
Praticar ato obsceno: o que é ato obsceno? Como se configura? Contra quem? Em quais
circunstâncias? (além de tudo, essa conduta pode ser interpretada de maneiras diferentes de lugar
para lugar e temporalmente)
Feminicídio: crimes de razões da condição de sexo feminino (MAS QUE PORRA É ESSA?  é
possível que qualquer homicídio contra vítima mulher venha a ser capitulado nesta categoria, pois
falta precisão terminológica.
c) Tipos abertos: aqueles em que o legislador não esgota a punição do crime, os parâmetros a
serem seguidos para a aplicação da pena
Crimes culposos: não é possível definir todas as situações de descuido possíveis que levam ao
cometimento de um crime culposo

Exemplo de lex certa na legislação brasileira

• Homicídio: “matar alguém” (definição clara)


◦ Alguém – ser humano já nascido, que respirou fora do útero
◦ Ainda assim é problemático: não é consenso quando se inicia a vida para o Direito,
surgindo discussões sobre a criminalização ou não do aborto.

2. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE – Nulla poena sine culpa


2.1. Acepções

1) Vedação da responsabilidade objetiva pura no Direito Penal (necessidade de


responsabilidade subjetiva – dolo e culpa - , um desvalor de ação, e não somente de
resultado)

Não é dado ao Estado punir alguém pelos puros elos causais que levaram a sua conduta a ser
criminosa, excluindo-se os elementos subjetivos. Ninguém pode ser punido penalmente sem antes
ter sido constatado dolo ou culpa por trás da prática da conduta.

NEXO CAUSAL Dolo e culpa


(objetivo) + (subjetivo)
No Código Penal Brasileiro, só 21 crimes admitem forma culposa: os crimes culposos só
existem de forma expressa na lei, significando que o silêncio da lei sobre forma culposa ou dolosa
do crime significa dizer que o crime só admite forma dolosa.
CP, art 18, p. único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente.

O Código de Hamurabi, por exemplo, somente utilizava a pura responsabilidade


objetiva, desvalor de resultado somente, não levando em conta a responsabilidade subjetiva, mas
somente a objetiva, considerando no nexo causal somente os fatos físicos, e não os psíquicos. Ou
seja, tal ordenamento não levava em conta o aspecto culposos, para dar tratamento jurídico diferente
quando ele fosse constatado.

Por que há 3 mil anos só se considerava a responsabilidade objetiva pura?


R: visão de mundo teocêntrica – se o agente causou um crime, foram os deuses que quiseram que a
pena fosse aplicada a ele, já que os homens são pré-determinados pelos deuses. Tal cosmovisão
mudou, e a religião católica trouxe a perspectiva do livre-arbítrio (individualização). Mais tarde,
Descartes (“cogito, ergo sum”) valorizou ainda mais o individualismo do pensamento humano.
Kant, com o imperativo categórico, trouxe a ideia de autonomia, na qual o pensamento racional
proporciona as ferramenta de produção das próprias leis de cada homem, devendo ser universal
(SURGE UM PENSAMENTO GERAL QUE VALORIZA A RESPONSABILIDADE
SUBJETIVA).

Hoje no panorama constitucional brasileiro usa-se a responsabilidade objetiva pura na lei


anticorrupção, aplicando-se à prática do peculato, por exemplo, mas esta não se estende ao âmbito
penal.
Culpa: deriva de um descuido, e também é punida no Direito Penal, mas tem excludentes
Excludentes * Caso fortuito: fato imprevisível (advindo de ações humanas)
de culpa *Força maior: fato irresistível (advindo da natureza: vulcões, furacões, tornados,
enchentes, etc.)

Exemplo prático:

Construtor faz uma casa para seu cliente e a casa posteriormente desaba, matando o dono dela e
toda sua família.
Tinha a intenção de matar o
morador

CONSTRUTOR Não construiu da maneira certa


(possibilidades)
Seria condenado à morte nas 3
situações, pois só o fato de ter sido Desconhecia o fato de que um
ele o construtor da casa já levou o lençol freático passava por
morador dela à morte. baixo das fundações da casa
Código Penal brasileiro (ainda no item 1)

Art. 18 (dolo e culpa)


Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado culposamente

Modalidades de crimes qualificados pelo resultado:


• Dolo/dolo: crimes que, quando praticados com dolo possuem uma pena, e quando o
seu resultado tiver sido planejado com dolo aumentam a pena
• Dolo/culpa (CRIMES PRAETER DOLOSOS): aqueles em que, no antecedente há
dolo – intenção de cometer o crime - , mas que no consequente há culpa
(negligência, imprudência ou imperícia), aumentando a pena. Além do resultado
comum (x), gerou um resultado inusitado (y).
◦ Versari in re illicita: assume-se a responsabilidade pelas escolhas que foram
feitas - “mexer com coisa errada”
▪ Se o cometimento intencional de um crime levar a um resultado que o agente
não planejou/previu, a pena será aumentada, pois entende-se que ele não
deveria ter se envolvido na situação que ensejou o crime, para começar a
história.

Exemplos:
Aborto com morte da mãe: não admite dolo/dolo, porque a pena, nesse caso, seria
mais branda, embora seja um crime mais grave. (médico com a intenção de praticar o aborto e com
a intenção de matar a mãe por meio do procedimento) – para que a pena aplicada ao médico seja
agravada, deve-se constatar que ele deveria saber que poderia matar a mãe com o procedimento do
aborto (negligência, imprudência ou imperícia), caso contrário ele responderá por homicídio, e não
aborto seguido de morte, já que para este a pena é maior.
Lesão corporal seguida de morte: para ter a pena agravada, o agente deve ter dolo em
lesionar corporalmente a vítima, e culpa em matá-la em seguida (acidentalmente, independente de
sua vontade)
“fui dar uma paulada no cara e acabei matando ele” - dolo/culpa (pena
É diferente de homicídio agravada)
culposo, pois nesse caso o
ato não nasce de uma
intenção de lesionar. “fui dar uma paulada no cara PARA MATAR ELE” - homicídio

Latrocínio: pena equiparada ao dolo/dolo (art. 19 cc 157)

2) Culpabilidade como reprovabilidade – é vedada a punição de uma pessoa que não seja
culpável/censurável/reprovável

“Juízo de reprovação/desvalor que recai sobre o agente quando comete um injusto jurídico-penal,
desde que seja capaz de compreender a norma e de agir conforme ela”

a) Alguém é culpado quando faz algo ruim. O que é um injusto, afinal?

CONDUTA
HUMANA
TÍPICA CULPÁVEL
ANTIJURÍDICA
Tipicidade e atijuridicidade
configuram o ato como
injusto

Menores e deficientes mentais podem praticar um injusto, sendo culpáveis, mas não reprováveis.
Para ser culpável, o agente deve ter consciência do caráter negativo de seus atos, quando
comete um injusto. Só é possível reprovar alguém que tenha capacidade de compreensão da
norma/ilicitude, e que tenha a possibilidade de agir de livre vontade.

Alguém que viola a norma, podendo compreendê-la e


segui-la, violenta a norma

“Alguém que errou quando poderia acertar”


“Alguém que poderia ter agido de outro modo”

b) O agente cometeu um injusto porque fez uma escolha, então ele tem livre-arbítrio
Concepção antropológica de ser humano.
Direito Penal de ato que abole um Direito Penal de autor, que pune alguém por aquilo que
se é e não pelo que se fez. O DP de autor nega que o ser humano é livre.
NÃO SE PODE PUNIR ALGUÉM PELO QUE É.
No século XVIII vigia o positivismo naturalista, regido pela causa e efeito
• Lombroso: crimes teriam causas genéticas
• Ferri e Garófalo: crimes teriam causas ambientais

A democracia pressupõe respeito às diferenças, e o positivismo naturalista acaba por negar que
quem delinque escolheu ter delinquido, justamente porque o ato não foi causado por uma
deliberação interna.

TESE liberal,
ANTÍTESE determinista,
Exemplo: punir alguém por ter olhos castanhos.
SÍNTESE ideia de liberdade contida às circunstâncias – nem um determinismo absoluto,
nem uma liberdade plena.

c) Direito Penal de periculosidade Vs. Direito Penal de autor

Afasta a culpa e
responde o autor Nega que o ser
com tratamentos humano é livre
que previnam
futuras ocorrências
d) Atualmente há pesquisas demonstrando que as ações humanas já estão biologicamente
determinadas antes do ato, ou seja, momentos antes de alguém praticar um ato, o cérebro já decidiu
o que será. Essa conclusão é problemática ao Direito Penal, bem como ao Direito por inteiro, pois
nega que o ser humano tem liberdade de escolha sobre qualquer coisa.
Solução: mesmo que uma máquina diga que não somos livres, a cultura mantém o direito,
ela não deixa que ele seja destruído.

3) Princípio da Proporcionalidade

Se alguém que cometeu um crime, é alguém que errou quando poderia ter acertado, o
tamanho da punição tem que ser proporcional ao erro. A pena tem que ser proporcional ao erro, ao
ato errado. A pena é proporcional à medida da culpa que há no ato/erro, a pena não ultrapassa a
medida da culpa (Roxin)
É uma garantia para o réu, pois o juiz não pode, por razões de prevenção geral negativa,
aumentar a pena para um crime, mesmo que ele tenha intenção de fazer justiça, constatando que ele
é praticado reiteradamente.
O juiz pode, entretanto, rebaixar a pena por motivos de prevenção geral ou especial.
O juiz pode ir aquém da pena, mas nunca além dela

Ex. Garçom que chama comparsa para assaltar casal no carro depois que saírem do restaurante,
dando uma porcentagem dos ganhos do roubo ao comparsa. A pena para quem planejou será maior
(garçom) do que a do comparsa – o garçom tem maior carga de culpa no ato do que o comparsa.

3. PRINCÍPIO DA LESIVIDADE – Nulla poena sine injuria

O Estado só pode punir alguém se houver lesão a um bem jurídico, mediante dano ou perigo de
dano: só o perigo de dano já caracteriza a lesão a um bem jurídico.
Exemplo: Tentativa de sequestro Vs. Sequestro efetivo

3.1. Consequências

1a consequência: Cogitationes poena nemo partitur. Ninguém padece pena pelo pensamento, pois
o simples pensar em cometer um ato criminoso não fere nenhum bem jurídico.

2a consequência: exige TRANSCENDÊNCIA na conduta

Os efeitos da conduta têm que passar de uma esfera a outra, da esfera do agente à da vítima. Por
isso, por exemplo, não se pune:
• Tentativa de suicídio, embora a indução ao suicídio seja punível, pois transcende à esfera
individual.
• Ferir a si mesmo
O livre consentimento da vítima quebra a ideia de transcendência, e por consequência a ideia de
lesividade, mas há ressalvas:
• Vender o próprio rim é proibido, mesmo que o dono do órgão queira vendê-lo por ter
necessidade de dinheiro: pode se entender que ele não agiu de livre vontade, já que foi
obrigado a fazer isso pela falta de dinheiro. O Estado poderia interferir, em tese, quando há
uma suficiente gravidade da limitação de liberdade.
◦ O Estado deve suprir a falta de liberdade quando houver uma grave debilitação dela.

3a consequência: exige LESÃO NO CASO CONCRETO ou PERIGO DE LESÃO


Princípio da insignificância: se o toque no bem jurídico for ínfimo, insignificante, não há
que se considerar que houve lesão. O Direito Penal não deverá ser chamado quando isso ocorrer.
Ele é muito utilizado no campo dos crimes patrimoniais. O MAIS FAMOSO FILHO DO
FUNCIONALISMO DE ROXIN (se o toque ínfimo a um bem jurídico for criminalizado, o Direito
Penal não cumpre a sua função)

Prova alert! “Porque o princípio da insignificância é decorrente do funcionalismo?”


“O princípio da insignificância é decorrente do funcionalismo? Sim ou não? Se sim, qual e por
que?
R: sim, é uma decorrência do funcionalismo, pois o funcionalismo coloca a função
do Direito Penal como ideia fundante do sistema, e no caso de Roxin, a função do Direito Penal
é a proteção subsidiária de bens jurídicos, portanto toda conduta que não viole bens jurídicos
significativamente
não pode ser crime.

De minima nom curat praetor: toques mínimos no bem jurídico não admitem reação punitiva
• Furto de folha de caderno

• Deve ter desvalor de ação e resultado baixos


• Se a função do DP é proteger bem jurídico subsidiariamente (Roxin), não pode o
Direito Penal punir quando não houver ofensa significativa ao bem.
◦ Princípio de um DP de orientação funcionalista, calcado em um DP de desvalor
de resultado
1) Não se pode desconsiderar totalmente o desvalor de ação, pois assim, por mais
grave que seja a ofensa a um bem jurídico (colocar arma na boca da vítima para
só levar 1 real dela), o juiz daria como insignificante de qualquer maneira, por
maior que tenha sido o trauma do roubo.
2) Depende de vários fatores (especificamente ao furto), entre eles:
1. Não se pode lidar com limitadores objetivos e fixos (ex. Abaixo de 1 sal.
Mínimo é insignificante), pois depende das características da vítima
2. Não se pode considerar só o valor econômico das coisas (ex. Furto de uma
fotografia, bijouteria)
3. Não se pode ignorar a existência continuada de crimes insignificantes (ex.
Roubar todos os dias um shampoo do mercado)
• Porte de drogas para consumo pessoal transcende? SIM (Zaffaroni entende que não é
crime)
Apesar de seu tratamento no Direito Penal extinguir a punibilidade de quem pratica, apenas
convertendo a pena em prestação pecuniária ou tratamento psicossocial, a droga não compete só a
quem consome:
◦ Ajuda a “girar a roda do tráfico”
◦ Impacta a vida dos próximos (familiares mortos, ameaçados, roubados, em
TRANSCENDE! sofrimento)
◦ Impacta a coisa pública (recursos públicos empregados somente prevenir o
tráfico e consumo, para o tratamento e reabilitação de viciados, etc.)
4. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL - WELZEL

Orientado pelo desvalor de ação, oriundo de Welzel, que acha que a missão do Direito Penal é
inclinada, diretamente ligada ao desvalor de ação (criminalizar condutas que tragam em si uma
carga negativa) – por consequência, toda conduta que é socialmente adequada tem em si uma
CARGA POSITIVA, e por isso não pode ter punição.
Exemplo:
• Furar a orelha de uma menina (bebê), mesmo doendo, sangrando, podendo inflamar, tem
desvalor de ação socialmente adequado, pois a dor é suportada por uma questão de
ornamento, aceito pela comunidade, e, assim, não pode punir por lesão corporalmente
Distorção: mãe sádica que quer ver a filha sentir dor e pega um martelo e um prego e fura a
orelha da filha, fazendo a orelha sangrar e a criança gritar – aqui há crime, embora nesse
caso haja o mesmo desvalor de resultado, mas um desvalor de ação visto de modo diferente
pela sociedade, podendo configurar a conduta como crime de lesão corporal, pois não é
socialmente adequado.

4.1. Crimes de Perigo

Diz respeito a uma classificação dos crimes entre os vários possíveis (diferentes critérios) –
aqui a classificação é
Quanto à forma de lesar o bem jurídico:
1. Crimes de dano: aqueles que geram uma efetiva redução do bem jurídico, menoscabo do
bem jurídico.
Homicídio: afeta o bem “vida” (relação de disponibilidade entre alguém e a sua vida)
Lesão corporal: afeta o bem “integridade física” (relação de disponibilidade entre o sujeito e sua
integridade física)

2. Crimes de perigo: somente o risco, ou perigo (não são sinônimos, mas só nesse momento!)
de redução do bem jurídico, mas não há a redução efetiva.

Toda tentativa de crime: disparar cinco tiros na direção de alguém e errar todos – já houve desvalor
de resultado, embora seja menor. Se não houvesse desvalor de resultado não teria como punir a
tentativa, já que ela “não fere o bem jurídico”, e toda vez que uma tentativa fosse punida, o
princípio da lesividade seria violado.
• Vítima da tentativa de homicídio: pode ficar com trauma psiquiátrico, embora não tenha
perdido a vida, ou seja, já sofreu considerável lesão ao bem jurídico.

PERIGO JÁ É UMA FORMA DE LESIVIDADE PARA O DIREITO PENAL, a outra é o dano


efetivo. O patamar de lesividade da tentativa de crime é mais brando, o desvalor de resultado é
menor, e a pena é menor (art. 14, II , p. único. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa
com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços). Se houvesse só
desvalor de ação, a tentativa não seria punível

O DIREITO PENAL PROTEGE BENS JURÍDICOS EM ESCALA: tentativa de lesão ao bem


jurídico punido mais brandamente do que a lesão concreta.
Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente – é crime!
Diferente da tentativa de homicídio, pois a intenção no homicídio é matar, e a
intenção no artigo 132 é somente expor a perigo
Atirar ao lado da cabeça de alguém, só para dar susto – a intenção é só
assustar, expor a perigo
Simular atropelamento, somente para assustar um desafeto – a intenção não
era matar, mas somente assustar, expor a perigo.
4.1.1. Tipos de crimes de perigo: ambos fazem a presunção de que o comportamento em análise é
perigoso, a diferença é o modo de se presumir.

a) ABSTRATO: é presunção absoluta, que não cede (iuris et de iure) diante de prova em
contrário ou dúvida, fixada pelo legislador ex ante factum (antes do fato – exige expressa
previsão legal para haver confirmação judicial.
Não cita o bem jurídico na redação do tipo.

b) CONCRETO: é presunção relativa (iuris tantum) que pode ceder diante da prova em
contrário, que o legislador fixou ex post factum , que precisa de uma confirmação judicial
após o fato ocorrido
Cita o bem jurídico na redação do tipo.

1) CP (fictício) diz: dirigir embriagado – pena : 1 a 3 anos – CRIME DE PERIGO ABSTRATO

Promotor só precisa provar que a pessoa está bêbada, e ela será condenada de qualquer jeito, não se
admitindo prova em contrário, presunção ABSOLUTA. Protege mais o cidadão, passível de sofrer
os perigos da direção perigosa do bêbado

2) CP (fictício) diz: dirigir embriagado de modo a causar riscos à incolumidade pública – pena: 1 a
3 anos – CRIME DE PERIGO CONCRETO

Promotor precisa provar não somente que a pessoa estava bêbada, mas que também dirigiu de modo
a colocar em risco a incolumidade pública (ziguezagueou, bateu em carros parados, dormiu na
direção, bateu em posto) – provar que pelo fato da embriaguez, causou perigo. Em caso de prova
em contrário ou dúvida (que ele conseguiu, apesar de embriagado, dirigir normalmente), a
presunção de perigo cede, portanto é RELATIVA e depende de uma constatação ex post factum por
parte do juiz. Favorece mais a defesa do réu.

Há quem diga que o perigo abstrato fere o princípio da lesividade,


pois nesse caso há punição sem lesão.
Ser punido somente por dirigir embriagado,
mas sem ferir o patrimônio público, fere o princípio da lesividade.

Professor diria que não, pois há potência de


lesão na conduta que a qualquer momento pode
aflorar, derivada de 3 argumentos, filtros
legitimadores:
1 – Regras de experiência: pessoas que de
acordo com a vivência, sabem que esse tipo de
conduta não raro deságua em tragédia
2 – Estatística: sólidos dados que relacionam
acidentes de trânsito à embriaguez
3 – Ciência: medicina afirma que o sistema
nervoso central fica debilitado com a
embriaguez, não respondendo adequadamente
5.PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA ou SUBSIDIARIDADE

O Direito Penal deve ser usado com parcimônia, já que é a forma mais rigorosa de punição,
portanto outras vias de correção de estabilização da ordem e correção de conduta devem ser usados
antes de se apelar ao Direito Penal como solução, majoritariamente o:
• Direito Civil Quando deixarem de ser
• Direito Administrativo suficientes, o Direito Penal
passa a atuar
Nesse sentido é que há fragmentariedade no Direito Penal, por sancionar condutas que outras
esferas do Direito já apreciaram anteriormente, mas que em um dado caso não foram suficientes
para reestabelecer a ordem e corrigir a conduta com efetividade.

5.1. Destinatário do Princípio:

PRIMARIAMENTE: Legislador

SECUNDARIAMENTE: Juiz

O legislador obedece ao Princípio da Intervenção Mínima?

1) Cria normas demais sobre matérias penais, dificultando sua aplicação: quanto maior a
regulamentação do Direito de Punir, menor é a liberdade do Estado em punir o indivíduo
2) Torna, muitas vezes, o Direito Penal um braço de apoio ao Direito Administrativo, deixando de
ser a última ratio para auxiliar um ramo do Direito que deveria trazer preferencialmente soluções
aos problemas postos em cena
Multa de trânsito: não é primariamente judicial, mas sim executiva (sanção administrativa),
não protegendo necessariamente bens jurídicos (missão do DP para Roxin), mas servindo de
elemento ordenador da vida das pessoas.
Declínio do poder Direito Administrativo: faz com que o Direito Penal acabe sendo trazido
para esse campo.
• Direito Ambiental: é crime a ter a propriedade de motossera sem a devida
licença do órgão competente: nota-se, aqui, que o crime é a falta de licença,
elemento próprio do Direito Administrativo, perdendo-se o objetivo de
proteção do bem jurídico no Direito Penal, nesse caso

3) Cria normas no Direito Penal que deixam de ser penais e tornam-se meramente administrativas.
Dá suporte ao Direito Administrativo, deixando a esfera penal e tornando-se administrativo
Perda do conteúdo material de injusto.
Direito Penal limita o Direito Administrativo

6. PRINCÍPIO DA SECULARIZAÇÃO DO DIREITO PENAL


Originado na Idade Média, essa palavra designa a transferência de bens para fora da propriedade da
Igreja Católica – aqui, o poder (de punir, no caso) foi secularizado, passou das mãos da Igreja e foi
para as mãos do Estado.
O Direito Penal não serve para proteger ideologias, bandeiras políticas, religiões, crenças, mas sim
para proteger bens.
Ideia de Estado Laico produzindo leis, que não se deixa levar por tendências de caráter religioso,
ideológico, etc.
Distorção: Congresso Nacional na atualidade em muitas cadeiras pela bancada evangélica, cuja
pretensão é criar normas penais que legitimem crenças religiosas.
7. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DAS PENAS – vedação do suplício, vergonha e
degradação

Vedação de:
Penas cruéis: aquelas executadas mediante a aplicação de suplícios
Penas infamantes: aquelas que geram vergonha, humilhação, trazem uma imagem negativa ao
apenado, diminuindo sua imagem
Crítica: na atualidade, pode-se dizer que o uso de tornozeleira para alguém que esteja
cumprindo regime aberto traz uma imagem negativa para o condenado, pois a sociedade em geral
sabe o motivo pelo qual ele estaria usando o dispositivo.
Penas degradantes: aquelas cuja execução causam no condenado a diminuição das capacidades do
corpo e do espírito, a médio prazo..
Exemplo: Guantanamo – prisão de suspeitos de terrorismo, com interrogatórios e torturas
frequentes.

Talvez não haja bonomia por trás dessa maneira de pensar o Direito Penal, mas sim uma
evolução – docilização dos corpos, uma herança iluminista (Foucault).

Zaffaroni: com ele é que se vedou a aplicação de


• Gravames físicos permanentes(exemplos):
◦ Mutilação
◦ Morte (exceção p/ guerra declarada)
• Gravames jurídicos permanentes (exemplos):
◦ Morte civil: perda irreversível da capacidade de exercer direitos pelo resto da vida
(diferente da incapacidade absoluta ou relativa, que dá ao incapaz, como representante, o
curador)
◦ Prisão perpétua
◦ Banimento
◦ Degredo

8. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE DA PENA/INTRANSCENDÊNCIA

A PENA NÃO ULTRAPASSA A PESSOA DO RÉU, não pode afetar a terceiros não envolvidos.
Exemplo: Tiradentes, pela conjuração mineira, recebeu pena de morte por enforcamento e
também punição até a terceira geração de sua família por infâmia.

“Declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa
em que vivia em Villa Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique e não sendo própria será
avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados e no mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve
em memória a infâmia deste abominável Réu”

Penas de multa: se o apenado morre, o espólio não é afetado pela multa. A morte extingue a
punibilidade. A mesma lógica se estende aos descendestes do condenado, seja qual for a pena:
morto o condenado, sua condenação não é transferida a seus filhos e netos.
Observação pertinente: fazer empréstimos ao apenado para que este reúna condições de
pagar a própria fiança é lícito, pois a pena aplicada a ele diz ser necessário somente que ele dê um
valor em troca de sua liberdade
Segunda observação pertinente: arrimo de família, quando preso, não tem mais como
fornecer sustento à sua família, e portanto nesse caso a pena não tem como não afetar a terceiros
não envolvidos indiretamente.

8.1. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e o Princípio da Pessoalidade


Pergunta de prova: o que o Princípio da Pessoalidade coloca como obstáculo para a
responsabilidade penal da Pessoa Jurídica? Como superar isso?
SE FALA DA PUNIÇÃO DE UMA EMPRESA QUE ACABA ATINGINDO, POR EXEMPLO,
SÓCIOS NÃO DETENTORES DE DIREITO A VOTO, E NAS AÇÕES ORDINÁRIAS NÃO HÁ
DIREITO A VOTO (posicionamento contrário à responsabilidade penal da PJ) - está incorreto
porque o reflexo da pena nas pessoas jurídicas é indireto contra terceiros, análogo ao arrimo de
família.
Se a Pessoa Jurídica, seja por quaisquer um dos seus representantes, cometer crime, ela deve ser
punida?
O simples fato de um representante da Pessoa Jurídica ser punido por um crime que a própria PJ
cometeu já não é uma violação ao Princípio da Pessoalidade?
Respostas:
1) TEORIA DA IDENTIFICAÇÃO (britânica) - no Direito saxão, a PJ sempre foi punida pelos
crimes
PESSOA FÍSICA = PESSOA JURÍDICA
Vem do latim idem (“igual”)
(na hora em que ela comete um crime)
Ocorre quando um gerente, sócio, diretor, etc., comete um crime no exercício de seu cargo. Nesses
casos, entende-se que se está cometendo o crime em nome da pessoa jurídica, por conta da pessoa
jurídica (na legislação francesa).

2) TEORIA DA “IMESMAÇÃO” (Italiana)

A pessoa física é o mesmo que a pessoa jurídica na hora em que ela pratica o crime, e vice-versa,
pois a pessoa física atuou em nome da pessoa jurídica, por conta dela e nos interesses dela.
Portanto, não há violação do princípio da Pessoalidade quando se pune uma PJ pelo crime
cometido por um sócio.
Exemplo: problema com passagem aérea cancelada - gravação do representante se
manifestando a respeito (nesse momento, ele é a empresa dando seu parecer sobre a situação, e se o
cliente quiser gravá-lo falando, por exemplo, terá legitimidade, já que não é a imagem da pessoa
física sendo exposta contra a sua vontade, mas a da pessoa jurídica, que tem a obrigação, nesses
casos, de se evidenciar justificando suas condutas.

3) MODELOS DE RESPONSABILIDADE PARA A PESSOA JURÍDICA


Autoresponsabilidade
Representantes cometendo crimes paralelamente à pessoa jurídica: aí então há que se considerar o
crime dele e o crime dela, uma coautoria criminosa.
PF=PJ
Aqui há a discussão sobre a responsabilidade penal da PJ, porque no segundo caso
(heterorresponsabilidade), a PJ de fato cometeu seu próprio crime.
Para justificar tal posicionamento, pode-se dizer, de acordo com a Teoria da Imesmação, que a PF
ERA a PJ no momento da prática do crime

Heteroresponsabilidade
Afirmada quando a Pessoa jurídica transfere a responsabilidade para a pessoa física.
A responsabilidade da pessoa jurídica é afirmada por alguém que é diferente dela.
Cada pessoa (física e jurídica) comete seu próprio crime, e é responsável por ele.
Aqui não há problemas para o Princípio da Pessoalidade, pois cada um (PF e PJ) tem
responsabilidade sobre seu próprio crime.
PF≠PJ

8. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

É muito ligado à execução da pena, fala da necessidade de ajustar a dosagem da pena e a execução
às características do sentenciado
• Dosagem
• Execução
• Discussão sobre o cabimento de benefícios
Exemplo: pena de prestação de serviço comunitário a um pedreiro. Não é adequado designar
a ele uma tarefa que não confere com a personalidade do agente nem com suas atividades
corriqueiras, como fazer trabalhos em cumputador.

9. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE EXCESSO

Trata-se da proibição de que o Estado se exceda em face do réu, de modo que ele não seja
autoritário, tirano, que resguarde as garantias de cidadania do imputado em matéria penal.. É um
super princípio que amarra todos os demais princípios relativos à proteção dos direitos do réu em
face do poder de punir do Estado.
Há, como visto nos princípios anteriores, um grande cinturão de garantias que impedem o
Estado de punir arbitrariamente o indivíduo (herança iluminista), e isso demonstra a conquista de
direitos do sujeito sobre o Estado, e não do Estado sobre o sujeito.

10. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE PROTEÇÃO DEFICIENTE

Veda-se ao Estado a omissão em face das vítimas que ele se comprometeu em proteger
(da mesma forma que os bens jurídicos respectivos). Relativo à vítima, e nesse ponto é um
princípio diferenciado, que não visa atender às necessidades do réu em face do imenso poder do
Estado.
Pode ser evidenciado na atualidade brasileira: o STF decidiu que já pode começar a
execução penal após a sentença em 2o grau de jurisdição, e não mais após o trânsito em julgado. A
ideia aqui é de que a clara decisão de duas instâncias jurisdicionais no sentido de condenar o réu já
demonstram que este representa grau considerável de perigo à vítima e à sociedade (juízes se
depararam com muitas situações parecidas, em que a execução penal se postergava pelos recursos
ou nunca vinha a existir, pela prescrição da execução, e decidiram modificar a postura do Direito
Brasileiro com relação a isso.
Não e um conflito com princípio anterior, pois a concepção iluminista de limitação do poder
de punir do Estado não só limita, mas também fundamenta o poder punitivo, dizendo ser vedado
ao Estado praticar diversas condutas, mas legitimando-o dentro dos limites a ele estabelecidos pois,
de acordo com a herança contratualista, o homem passa do estado de natureza para o estado civil
criando o Estado para ser protegido por este Estado que ele cria. Preconiza-se que ele seja exercido,
embora limitadamente, pois o monopólio de fazer justiça passa a ser do Estado.

DIREITO HUMANOS
(situações em que eles são agredidos)
Através do Estado: vedação da
Contra o Estado: vedação proteção deficiente. Existência de
de excesso limites positivos. (2a e 3a g. de
DFs)
Entre Estados: também pode Direitos humanos considerados
alterar interferir na vida das bens jurídicos
pessoas. Guerras Aplicável nas relações entre
particulares.
*Relações verticais: assédio, maus
tratos, redução à condição análoga
10.1. Imperativos de tutela à escravidão, etc.
*Relações horizontais: lesão
corporal, homicídio, ameaça, etc.
São tipos de ordens dadas ao Estado para que este não interfira em excesso
*Relaçõesna entre
esferaPJdo réu, a fim
e particulares
de que se estabeleça quais são as prioridades dadas ao Estado para tutelar penalmente as questões.

10.2. Cláusulas Constitucionais Criminalizadoras

No texto constitucional também constam dispositivos que dão limites positivos ao poder de punir
estatal, como, por exemplo:
• Art. 5o: afirma que racismo é crime imprescritível (aumenta o poder punitivo) – DF da
vítima
• 227, p. 4o abusos praticados contra crianças e adolescentes serão severamente punidos
• Punição mais severa a crimes hediondos
• Punição a grupos armados, paramilitares

10.3. Relação entre Direito Penal e Direito Constitucional

A Constituição traz limites negativos e positivos ao Direito Penal:


• Limita: p. da lesividade, adequação social, reserva legal, humanidade das penas, etc.
• Reforça: cláusulas constitucionais criminalizadoras, por exemplo determinam um DP mais
severo “Quem limita, fundamenta”
◦ Exemplo: foro privilegiado para certos cargos da vida pública (102, CF) é uma maior
regulamentação para ser possível a punição do indivíduo
Cláusulas Constitucionais Criminalizadoras implícitas – exemplos: PROVA ALERT
• Presidente da República decide baixar um decreto abolindo o homicídio do rol dos crimes.
Posteriormente uma ADIN é movida pelo MP, e o STF passará a buscar na própria
Constituição o que há de explícito sobre a criminalização do homicídio.
• Alemanha (1975) – promulgação de lei autorizando a realização do aborto feito até o 3o mês
da gestação. Uma ADIN é impetrada, levando a Suprema Corte a averiguar se havia de fato
algo na Constituição que explicitamente proibisse o aborto. A decisão foi que, mesmo não
havendo explicitamente na Constituição a criminalização do aborto, era implícito em seu
texto a proibição da prática. (depois outra decisão modificou esta)
• Doutrina Italiana (Marinucci): afirma que não existem cláusulas constitucionais
criminalizadoras implícitas. O que há são valores ou bens que a Constitucional resguarda,
como a vida, a liberdade, etc. Mas que ela não obriga explicitamente que sejam protegidos
por meio do Direito Penal. A escolha de utilizar o Direito Penal para proteger o bem é uma
escolha do legislador infraconstitucional, dependendo de sua vontade.
10.4. Relação entre Direito Penal e Direito Administrativo

Direito administrativo Direito Penal

Não requer devido processo legal Requer devido processo legal


judicial, mas somente o judicial
administrativo Precisa do Poder Judiciário, que
Autoexecutoriedade da sanção impõe o processo e ao final
prevista no regulamento absolve ou condena, impondo ou
Poder de polícia (vigilância não a pena.
sanitária, IAP, etc.) “nulla poena sine judici, nulla
poena sine juditio”

Processo penal: também é distinto do Direito Penal, instrumentalizando o que este declara em seus
dispositivos.

Roubo: reclusão de 4 a 10 anos só depois do devido processo legal


• Procedimento:
◦ Delegacia de furtos e roubos
◦ Auto de prisão em flagrante
◦ Oitiva da vítima, das testemunhas e do preso
◦ Inquérito policial (poderia se iniciar pela petição, notícia – criminis, portaria do
delegado, etc)
◦ Ensaminhamento ao MP, que pode:
▪ Arquivar
▪ Devolve por falta de provas ou complementar as provas por si mesmo
▪ Descola a competência (ex. Ver que é federal)
▪ Oferece denúncia
◦ Juiz recebe
◦ Juiz recebe novamente: designa audiência de instrução e julgamento
◦ Requerimentos das partes
◦ Alegações finais
◦ Conclusão para sentença: pode sentenciar, declarar nulidade (repetição dos atos)
◦ Cabe apelação
▪ Apelação
▪ Contrarrazões
◦ Instância superior
◦ Acórdão
◦ Cabem mais recursos (Stj – infraconstitucional; STF – constitucional)
Dois tipos de prisão:
1. Prisão cautelar (flagrante, preventiva, temporária): anteriores à sentença que servem para
assegurar a ordem pública, econômica, a aplicação da lei penal, evitando fugas, e assegurar a
instrução criminal, evitando, por exemplo, que uma testemunha seja ameaçada.
2. Prisão pena: cumprimento da pena após o trânsito em julgado.

A regra é responder em liberdade, pois presume-se a inocência até o trânsito em julgado.


A exceção é a aplicação de prisão cautelar.
TEORIA DA PENA
1. CONCEITO

Norma penal: estabelece crimes, penas e condições de aplicação


Se divide em 2 grupos:
a) Incriminadoras/criminalizadoras: estabelecem crimes e penas
b) Não incriminadoras: estabelecem condições de aplicação

2. Normas incriminadoras – como o roubo, furto, no CP

I. Estabelecem crimes: preceito primário (ou somente “preceito”)


II. Estabelecem penas: preceito secundário (ou “sanção”)

2.1. Preceito Primário – técnica legislativa (como o legislador cria o preceito primário) –
orientado pelo desvalor de resultado, vide primeiro passo da produção legislativa abaixo (poderia
ser de outra forma, dando primazia ao desvalor de ação)

1. Estabelecer o bem jurídico de proteção: desvalor de resultado sobre o ato que atente a ele.
Bem jurídico é a relação de disponibilidade do sujeito com o objeto, como a vida.
2. Criar norma para proteger o bem jurídico: como “não matar”
3. Inverter o comando da norma: obtém-se o tipo legal (é o contrário da norma) - “matar
alguém”
O texto do tipo é a norma invertida, e isso se faz para proporcionar a colagem facilitada da norma
ao caso concreto, facilitando o trabalho do juiz. Marca-se esta concepção pela época ideológica
segundo a qual juiz é a “boca da lei” - ver em Carl Binding

Lei é diferente de norma: a lei é uma roupagem da


norma

2.1.1. Comandos normativos

a) De abstenção: determina que haja a abstenção para não haver o crime


Vêm de norma proibitiva
*”não matar” - norma proibitiva com comando de abstenção (do que? De matar.)
Violação acontece pela ação do agente, quando ele age, ele descumpriu o comando
Tipos legais ativos/comissivos: de onde deriva a norma proibitivas

b) De ação: determinam que o sujeito haja para não ter cometido crime
Vêm de normas mandamentais/ordinatórias/preceptivas
*omissão de socorro
Violação acontece pela omissão do agente, quando ele deixa de agir como foi mandado
Tipos legais omissivos

Obs.: os crimes ativos são mais comuns (quando a pessoa faz aquilo que não deveria ter feito),
apesar de que o tipo legal ativo demanda mais esforço por parte do agente, que ele saia da inércia
para não incorrer em conduta criminosa omissiva. A norma proibitiva é mais fácil de obedecer:
basta não agir.
• “Não matar” - proibitiva que exige ação para ser descumprida = mais fácil de ser obedecida
• “Preservar a vida” - mandamental que exige a ação do agente, maior esforço, para que ele
incorra em crime

Obs 2: o exagero em normas mandamentais diminui a possibilidade do agente em cuidar de si, já


que deve ficar mais tempo se preocupando com terceiros ao invés de olhar para as próprias
necessidades, com maior peso sobre as costas (sociedade solidária); o exagero em normas
proibitivas aumenta demais o cuidado de si, tirando do agente a visão das necessidades e esferas
alheias (sociedade egoísta) – o equilíbrio é problemático

Obs 3: normas mandamentais têm crescido ao longo do tempo, influenciadas pela sociedade de
risco
• Direito Ambiental Parecem obrigar os agentes a realizarem
• Direito do Consumidor tarefas para garantir uma vida mais segura,
diminuindo a liberdade destes.

Prova alert! “Qual é a relação da sociedade de risco com os tipos omissivos?”


O risco nas sociedade de risco protagoniza tomadas de decisões político-
criminais, sendo a tendência nesse tipo de sociedade a redução dos patamares de
risco, aumentando os encargos de quem gerencia tecnologias de risco com a
aplicação de normas mandamentais, de modo que a tendência será o uso cada
vez maior de crimes omissivos, sendo mais fácil ao “agente omisso” figurar
como réu deles do que dos crimes comissivos, pois nos tipos normas penais
mandamentais, para que o agente obedeça ao comando, ele deverá despender
maior esforço do que nas normas penais proibitivas.

2.1.2. Normas penais

INCOMPLETAS
a) Tipo aberto Iguais no sentido de faltarem em
b) Norma penal em branco conteúdo, mas diferentes em
relação ao modo de
complementá-lo – problema para
o princípio da Lex Certa,
faltando clareza na norma

a)Tipo aberto: aquela cujo conteúdo deverá ser completado pelo juiz e promotor no caso
concreto, na denúncia e na sentença (da maneira que conseguirem, “se virem”)
Standard de comportamento: exemplos
Ver qual deveria ser a técnica • Crimes na realização de cirurgia cardíaca
utilizada pelo agente, que evitasse o
fato criminoso, para comprovar o
descuido
• Crimes na construção civil

Advogado poderá defender o réu com base em uma denúncia que não fechou o tipo.

b)Norma penal em branco: aquela cujo conteúdo é completado por outra norma penal
• Modo de complemento:
◦ Norma de complementação homogênea/homóloga/lato sensu/sentido amplo: a fonte que
completa a lei é outra lei (igual, de mesma hierarquia) – complementação mais lenta,
que não se atualiza, não dá voz ao especialista LATO SENSU
▪ Art. 236: contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente […] - o
Código Civil, com as disposições sobre o casamento, informa quais são os erros
essenciais, fatores impeditivos do casamento.
▪ Art. 178. emitir conhecimento de depósito ou warrant em desacordo com a lei:
quando está de acordo com a lei: Lei de Títulos de Crédito
▪ Não é a verdadeira norma penal em branco, porque não conta com a
especialização de técnicos que preencham com a devia fluidez e eficiência o seu
conteúdo – ela só pode ser entendida como norma penal em branco em um único
sentido: de que ela está incompleta e recorre a outra lei para ver seu conteúdo
completado.
◦ Norma de complementação heterogênea/heteróloga/strictu sensu/sentido estrito: a fonte
que completa a lei é diferente da lei – existe para facilitar a atualização legislativa, a
especialização do conhecimento (dar voz a especialistas), pois só o legislador não dá
conta de preencher a lei com os dados técnicos que lhe faltam. STRICTU SENSU
▪ Tráfico de drogas: é a portaria 344 da ANVISA que dá o rol de drogas (norma
inferior e complementar) – portarias, resoluções, decretos, etc.
▪ O Executivo, como no exemplo acima, edita leis penais anomalamente, ou seja, em
casos excepcionais nos quais a norma penal requer isso.
▪ Essa é a verdadeira norma penal em branco, porque conta com especialistas e
vem de outro Poder (Executivo)
Obs: a licença para vender motossera não é norma penal em branco, pois, nesse caso, o seu texto
não incita nenhuma dúvida, o conteúdo está completo (é crime vender motossera sem registro ou
licença da autoridade competente)

Prova alert! Qual é a relação do Princípio da Reserva Legal com as normas penais de complementação
heterogênea?
R:”se o princípio diz que não há crime sem lei anterior que o defina, e a lei só pode ser editada pelo
Poder Legislativo, as normas penais de complementação heteróloga encontram aí uma aparente
barreira de atuação, uma aparente violação do Princípio da Reserva Legal, pois um pedaço de seu
conteúdo
] não vem do Legislativo, portanto esse princípio sofre muito diante das normas penais em
branco de complementação heterogênea, pois o seu modo de ser completada traz uma fonte diferente da
lei para ser efetuado. Além disso, se a norma faltou em conteúdo, não é uma Lex Certa, pois está
incompleta. Há limites ao reenvio das normas a outro Poder”

Cláusula de remissão inversa: só pode ser reenviado dado técnico ao


legislador que solicitou complemento para a norma em branco. O reenvio de
verbos, sujeitos, matéria de proibição e pena NÃO PODEM SER
REENVIADOS AO LEGISLADOR (LEI PENAL AO REVÉS – proibida
em nosso ordenamento, pois fere a Reserva Legal). Essa cláusula não é
obrigatória, mas ajuda a entender e aplicar melhor a norma penal
PENA Preceito secundário não prevê
SANÇÃO

Internação

PENA MEDIDA DE
SEGURANÇA
2.2. Preceito secundário ou “sanção’ - estipulação da pena para o crime
Tratamento
Pode prever: ambulatorial
• Pena restritiva de liberdade
Privação de
• Multa Restrição de Multa
liberdade
• Ambas acima direitos
• Ambas acima cumuladas
• Ambas acima alternadas Preceito
Não prevê: secundário não
• Pena restritiva de direitos prevê
2.2.1. Tipos

a) Normas penais remissivas: prevê a pena, mas em outro dispositivo


Art. 299: a pena dele remete à pena do 304 (falsidade ideológica e uso de documento falso)
b) Normas penais imperfeitas: não tem pena prevista
p. 3o e 4o da Lei de Abuso de Autoridade: pena para ela está no artigo 6o, embora esta não seja
expressamente referente aos outros dois.

3. Normas Não incriminadoras – não têm pena cominada

I. Diretivas: aquelas que, junto a si, têm no enunciado um princípio


Art, 1o e 2o do Código Penal
II. Permissivas: permitem uma conduta (em regra, a parte especial não tem normas não
incriminadoras permissivas)
Art. 25 – legítima defesa
Art. 24 – estado de necessidades
Art. 23 – estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito
Art. 128 – aborto permitido se for de estupro ou oferecer risco à visa da mãe (vida já desenvolvida
vale mais do que a potencial)
III. Interpretativas/Explicativas/de exegese/definitórias: servem para explicar outra norma
Art. 327 – define quem é funcionário público para efeitos criminais
Art. 150, p. 4o – define o que, penalmente, é “casa”
Importância das explicativas: torna a LEX mais CERTA
Direito Penal nuclear
Direito Penal médico

IV. de aplicação: servem para aplicar outras normas


Art. 68, com norma de aplicação no 33 e no 109 cc 110
INTERPRETAÇÃO DA NORMA
1. Quanto ao autor
1. Doutrinárias: hoje não é mais fonte de Direito, como era na Idade média com os
glosadores
2. Jurisprudenciais: formas repetidas e decidir situações semelhantes colocadas dentro de
um padrão, com o objetivo de uniformizar o entendimento correto sobre certo tema
◦ Podem divergir, exceto em súmulas vinculantes, cuja obediência pelo juiz é obrigatória,
independentemente de sua pretensa decisão
1. Autênticas: feita pelo próprio legislador través das normas explicativas/definitórias/de
exegese. Legislador faz o crime e ele mesmo explica no texto legal. Sempre se faz por
meio de articulado(o legislador por um artigo explicando outro artigo ou pedaço dele)
◦ Normas explicativas: que só são autorizadas se houver o artigo de uma lei vinculado a
outro artigo, da mesma lei ou de outra
Exemplo: quem é funcionário público para efeitos penais(CP, 327); o que penalmente é “casa” (CP,
150, P.4O)

2. Quanto ao alcance (igual em teoria do direito e em D Constitucional)


1. Extensiva
2. Restritiva
3. Declaratória

3. Quanto ao método (igual em teoria do direito e direito constitucional)


1. Semântica
2. Teleológica: no Direito Penal, acaba caindo no Bem Jurídico
3. Sistemática: dentro do contexto (diferentes graus de ampliação da visão contextual)
4. Histórica

In dubio pro reo: cabe em matéria de direito? Não, só cabe em


matÉria de fato, na ponderação do juiz entre as provas
produzidas – o juiz deve esgotar todos os meios de
interpretação anteriores primeiro para depois conjecturar sobre
a escolha que favoreça mais ao réu. PROBLEMA

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