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Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri

IV Encontro Universitário da UFC no Cariri


Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012

CARACTERIZAÇÃO GOTÉCNICA DE SOLOS


PARA SUBSÍDIO AO PROJETO DE BARRAGEM DE TERRA

Ana Patrícia Nunes Bandeira1


José Robson de Lima Feitosa 2

1. Introdução/Desenvolvimento
Entende-se por barragem qualquer estrutura artificial de barramento de um curso
d’água com a finalidade de acumular, controlar ou regularizar uma vazão. Para a construção
de uma barragem de terra faz-se necessário escolher o material adequado, que se comprometa
com tais funções. Como relata MASSAD (2003): “Antes de tecer considerações quanto à
escolha do tipo de barragem mais adequado a um local, seja de terra ou não, convém destacar
a importância dos aspectos geológico-geotécnicos”.
Para realizar projetos de barragens devem ser feitos estudos geotécnicos, os quais
buscam em primeiro lugar, a identificação de jazidas de materiais de construção, para as quais
devem ser retiradas amostras e realizados de ensaios de laboratório, afim da obtenção das
características do solo a ser utilizado no corpo da barragem, tanto no maciço, nos filtros e na
proteção dos taludes. A Figura 1 ilustra uma situação de exploração de jazida.
Os estudos das jazidas variam de região para região. Eles dependem de uma série de
fatores e envolvendo profissionais das mais diversas áreas de conhecimento. Os profissionais
buscam escolher o material mais adequado para atender a necessidade de determinada obra, o
que proporcionalmente garante um maior fator de segurança para a população como um todo
através do conhecimento do meio físico, do solo. Na construção do maciço de uma barragem
de terra serão utilizados os materiais investigados nas jazidas, cujas propriedades venham a
atender as características técnicas pré-selecionadas para execução do mesmo (DNOCS, 1981).
O presente trabalho registra os resultados dos ensaios básicos de caracterização
geotécnica realizados no Laboratório de Mecânica dos Solos da UFC/Cariri para subsidiar o
projeto de uma barragem de terra a ser localizada no sitio Canto Escuro, interior do município
de Serrita-PE.

2. Metodologia/Resultados

Para a realização deste trabalho, realizou-se uma campanha de investigação de


laboratório de forma a obter conhecimento das características do solo. Amostras deformadas
foram entregues no Laboratório de Mecânica dos Solos da UFC/Cariri, voltadas para ensaios
de granulometria, Limites de Atterberg e ensaios de compactação. Foram analisadas amostras
de três locais, denominados de: Topo, Meio e Base. Os ensaios de caracterização foram
realizados conforme as Normas Brasileiras. Os subitens a seguir descrevem a metodologia e
os resultados de cada etapa da caracterização.

1
Professora do curso de Engenharia Civil da UFC- Juazeiro do Norte, CE, anabandeira@cariri.ufc.br
2
Graduando em Engenharia Civil, UFC- Juazeiro do Norte, CE, robimwolf@hotmail.com
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Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012

Figura 1: Ilustração de Estudo de Jazida para Construção de Barragem de Terra

2.1 Preparação das amostras

A Preparação das amostras foi realizada com secagem prévia ao ar, segundo a NBR
6457/84. As amostras de solos foram submetidas à secagem prévia até a umidade
higroscópica, sendo posteriormente destorroada e homogeneizada. O destorroamento foi feito
utilizando o almofariz e mão-de-grau emborrachada, com esforço mínimo, para evitar quebra
excessiva de grãos. A homogeneização foi sempre realizada por quarteamento. Após este
procedimento iniciou-se os ensaios propriamente dito.

2.2 Ensaios de Granulometria

A avaliação da composição granulométrica se deu por peneiramento e por


sedimentação, conforme a norma NBR 7181/1984. O peneiramento foi realizado com as
partículas de solo de maiores dimensões (superiores a 0,074 mm). Para este ensaio foram
utilizados 2000g de solos. O material foi peneirado e lavado na peneira de 2,0mm (No 10). O
material retido nesta peneira foi colocado na estufa até obter a constância do peso, para então
realizar o peneiramento na série de peneiras recomendada pela norma. Para o ensaio de
sedimentação tomou-se 120g de solo passado na peneira de 2,0 mm. A porção de solo foi
colocada juntamente com água destilada e defloculante (solução de hexametafosfato de sódio)
no aparelho dispersor, para ação durante cerca de quinze minutos. Após a mistura, a dispersão
foi transferida para a proveta para a leitura do densímetro. A Figura 2 apresenta as curvas
granulométricas das amostras realizadas e as Tabelas 1 e 2 apresentam o resumo dos
resultados.
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Figura 2: Curvas Granulométricas das Amostras

Tabela 1: Composição Granulométrica das Amostras

Tabela 2: Percentual que Passa nas Peneiras

2.3 Limites de Atterberg – Ensaios de Limites de Liquidez e Limites de Plasticidade

Para os Limites de Liquidez (LL) e de Plasticidade (LP) seguiram-se as


recomendações das normas brasileiras NBR 6459/1984 (LL) e NBR 7180/1984 (LP). Foram
utilizados 70g e 50g de solos respectivamente, passando na peneira com abertura de malha de
0,42mm. O Limite de Liquidez (LL) foi determinado através do aparelho de Casagrande
elétrico e o de Plasticidade em placa de vidro rugosa. Cada ensaio foi realizado com, no
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mínimo, 05 teores de umidade diferentes. No Limite de Plasticidade (LP) foi observado a


variação admissível da média das umidades ( ± 5 % ). A Tabela 3 apresenta os resultados
desses ensaios. Dessa tabela observa-se que a amostra da Base é fracamente plástica, assim
como a do ponto Médio; já a amostra do Topo apresentou-se medianamente plástica (IP entre
7% a 15%).

Tabela 3: Resultados dos Ensaios de Limites de Atterberg

2.4 Ensaios de Compactação Proctor Normal

A amostra previamente preparada foi umedecida e colocada em um saco plástico por


um período de no mínimo 12 horas em câmara úmida, sendo a seguir compactada. A energia
utilizada foi a normal. Para este ensaio foi adotada a metodologia prescrita na NBR
7182/1986, sendo utilizado o cilindro pequeno, com 26 golpes do soquete pequeno,
distribuídos em três camadas (ensaio de Proctor Normal). Após a moldagem, o corpo-de-
prova foi extraído e fracionado; e então foram obtidas três cápsulas para determinação do teor
de umidade. Como a quantidade de amostras não foram suficientes para a realização dos
ensaios sem reuso do solo, a compactação foi realizada com reaproveitamento. A Figura 3
apresenta as curvas de compactação e a Tabela 5 apresenta o resumo dos resultados obtidos.

Figura 3: Curvas de Compactação das Amostras

Tabela 5: Umidades Ótimas e Massas Específicas Secas Máximas na Energia Normal


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3. Conclusões

Através da análise dos ensaios de caracterização geotécnica realizados, verificou-se


que as amostras de solos podem ser classificadas, conforme a Classificação Unificada dos
Solos, como: silte de baixa plasticidade-ML (Base); silte de baixa plasticidade-ML (Médio);
argila de baixa plasticidade-CL (Topo). Para escolha da jazida que melhor se enquadre para as
características de material do corpo de uma barragem de terra, recomenda-se o uso de um solo
mais argiloso, reduzindo a possibilidade infiltrações excessivas. Sendo assim, a jazida
recomendada para retirada de material para construção do maciço da barragem de terra, no
sitio Canto Escuro, interior do município de Serrita-PE, seria a localizada na posição “Topo”.
Vale salientar que os ensaios aqui apresentados são básicos; sendo necessário avaliar se a
amostra argilosa, mesmo após a sua compactação, apresenta comportamento
expansivo/colapsível, o que poderia inviabilizar a sua utilização em caso de constatação desse
comportamento.

Agradecimentos
Agradecemos à Pró-Reitoria de Extensão da UFC pelo apoio financeiro através da
bolsa de extensão, assim como ao Laboratório de Mecânica dos Solos da UFC/Cariri, sem o
qual este trabalho não seria realizado.

Referências

DNOCS. Instruções gerais a serem observadas na construção de barragens de terra. 2.ed.


Fortaleza:1981.

MASSAD, Faiçal. Obras de terra: curso básico de geotecnia. São Paulo: oficina de textos,
2003.

NBR 6457/1986. Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de


caracterização.

NBR 7181/1984. Análise Granulométrica

NBR 6459/1984. Limite de Liquidez

NBR 7180/1984. Limite de Plasticidade

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