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MECÂNICA DOS SOLOS 1

MECÂNICA DOS SOLOS

Benedito de Souza Bueno


Orêncio Monje Vilar

Revisão e atualização: Claudio Henrique de Carvalho Silva

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

Atualizada em: 09/05/2016


MECÂNICA DOS SOLOS, Benedito Bueno & Orêncio Vilar 2

VIÇOSA – MINAS GERAIS


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

MECÂNICA DOS SOLOS

Benedito de Souza Bueno


Auxiliar de Ensino da U.F.V.

Orêncio Monje Vilar


Professor Assistente da E.E.S.C.U.S.P.

Composto e Impresso nas Oficinas Gráficas da


Imprensa Universitária da Universidade Federal de Viçosa
Viçosa – Minas Gerais – Brasil

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1980
INTRODUÇÃO

A nova orientação para o ensino da Mecânica dos Solos, defendida por alguns dos
maiores centros de ensino e pesquisa do mundo, estabelece que se devem reforçar, com real
ênfase, os conceitos fundamentais da disciplina, tendo como respaldo uma bibliografia que os
enfoquem de forma simples e objetiva.
Baseados no motivo acima e no fato de que há uma carência enorme de bibliografia de
Mecânica dos Solos de cunho didático, em língua portuguesa, resolvemos compilar uma obra,
que constitui a matéria da disciplina de Mecânica dos Solos I.
Neste trabalho, selecionamos uma sequência de capítulos que entendemos ser a mais
didática possível, procurando agrupar os conceitos universalmente conhecidos, às vezes, com
forma de tratamentos já apresentadas por outros autores.
Agradecemos ao Centro de Estudos Geotécnicos Arthur Casagrande – CEGAC, de
quem procuramos conservar o espírito de trabalho e pesquisa, em favor da Geotecnia, e a seus
membros, particulares amigos, pelo constante apoio.

Os autores.

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ÍNDICE

1. A MECÂNICA DOS SOLOS E A ENGENHARIA...............................................................8


1.1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................8
1.2. HISTÓRICO .............................................................................................................................9
1.3. A MECÂNICA DOS SOLOS E AS OBRAS CIVIS.............................................................................10
2. O SOLO PARA O ENGENHEIRO.......................................................................................12
2.1. CONCEITUAÇÃO....................................................................................................................12
2.2. TIPOS DE SOLOS QUANTO À ORIGEM.......................................................................................12
2.3. TAMANHO E FORMA DAS PARTÍCULAS .....................................................................................13
2.4. DESCRIÇÃO DOS TIPOS DE SOLOS...........................................................................................15
2.5. IDENTIFICAÇÃO VISUAL E TÁCTIL DOS SOLOS ..........................................................................17
3. PROPRIEDADES ÍNDICES..................................................................................................19
3.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................19
3.2. ÍNDICES FÍSICOS ...................................................................................................................19
3.2.1 Definições.....................................................................................................................19
3.2.2 Relações Entre os Diversos Índices .............................................................................21
3.2.3. Determinação dos Índices Físicos ..............................................................................23
3.3. GRANULOMETRIA..................................................................................................................26
3.3.1 Noções Sobre o Ensaio de Análise Granulométrica ....................................................27
3.3.2. Considerações sobre a Curva de Distribuição Granulométrica ................................28
3.4. PLASTICIDADE E ESTADOS DE CONSISTÊNCIA..........................................................................32
3.4.1. Noções sobre a Plasticidade dos Solos .......................................................................32
3.4.2. Estados de Consistência..............................................................................................32
3.4.3. Limites de Consistência...............................................................................................33
3.4.4. Índices de Consistência...............................................................................................36
3.5. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ......................................................................................................37
4. ESTRUTURA DOS SOLOS...................................................................................................46
4.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................47
4.2. ESTRUTURA DOS SOLOS GROSSOS..........................................................................................47
4.3. ESTRUTURA DOS SOLOS FINOS ..............................................................................................48
4.4. AMOLGAMENTO E SENSIBILIDADE DAS ARGILAS ......................................................................50
4.5. TIXOTROPIA ..........................................................................................................................50
5. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ..........................................................................................51
5.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................51
5.2. CLASSIFICAÇÃO POR TIPO DO SOLO .......................................................................................51
5.3. CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA GERAL ........................................................................................51
5.4. CLASSIFICAÇÃO GRANULOMÉTRICA .......................................................................................52
5.5. CLASIFICAÇÃO DO U.S. CORPS OF ENGINEERS (UNIFICADA)..................................................54
5.6 .CLASSIFICAÇÃO HRB............................................................................................................55
5.7. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ......................................................................................................62

6. O PRINCÍPIO DAS TENSÕES EFETIVAS ........................................................................65


6.1. DEFINIÇÕES .........................................................................................................................65

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6.2. IMPLICAÇÕES .......................................................................................................................66


6.3. MASSA ESPECÍFICA SUBMERSA .............................................................................................677
6.4. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ......................................................................................................68

7. TENSÕS ATUANTES NUM MACIÇO DE TERRA ..........................................................71


7.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................71
7.2. ESFORÇOS GEOSTÁTICOS.......................................................................................................71
7.3. PROPAGAÇÃO DE TENSÕES NO SOLO ......................................................................................73
7.3.1. A Solução de Boussinesq............................................................................................73
7.3.2. Extensão da solução de Boussinesq ............................................................................75
7.3.3. O gráfico de Newmark ................................................................................................82
7.3.4. A solução de Westergaard...........................................................................................83
7.3.5. Comparação entre as soluções de Boussinesq e Westergaard ...................................86
7.3.6. Limitações da Teoria da Elasticidade.........................................................................86
7.4. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ......................................................................................................87

8. PERMEABILIDADE DOS SOLOS ..................................................................................8989


8.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................89
8.2. LEIS DE DARCY E DE BERNOUILLI ......................................................................................8989
8.3. DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE .........................................................91
8.3.1 Métodos Diretos ...........................................................................................................92
8.3.2. Métodos Indiretos........................................................................................................94
8.4. FATORES QUE INTERFEREM NA PERMEABILIDADE ...................................................................94
8.5. FORÇAS DE PERCOLAÇÃO ......................................................................................................96
8.6. AREIA MOVEDIÇA ..................................................................................................................97
8.7. FILTROS DE PROTEÇÃO .......................................................................................................999
8.8. CAPILARIDADE ...................................................................................................................102
8.9. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ....................................................................................................104

9. COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO .................................................................107


9.1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1077
9.2. ANALOGIA E MECÂNICA DO PROCESSO DE ADENSAMENTO ...................................................1088
9.3. TEORIA DO ADENSAMENTO DE TERZAGHI .......................................................................110110
9.4. SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO FUNDAMENTAL DO ADENSAMENTO ...................................................113
9.5. PORCENTAGEM DE ADENSAMENTO ......................................................................................114
9.6. ENSAIO DE ADENSAMENTO ..................................................................................................116
9.7. TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO...........................................................................................118
9.8. DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE ADENSAMENTO (CV).................................................1200
9.8.1. Processo de Taylor................................................................................................12020
9.8.2. Processo de Casagrande.........................................................................................1222
9.9. CONSTRUÇÃO DA CURVA DE COMPRESSÃO DO SOLO NO CAMPO ..........................................1233
9.10. APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADENSAMENTO .......................................................................1233
9.11. CORREÇÕES DO RECALQUE DE ADENSAMENTO ...................................................................124
9.12. NOÇÕES SOBRE A COMPRESSÃO SECUNDÁRIA ...................................................................1266
9.13. RECALQUES POR COLAPSO ..............................................................................................1277
10. EXPLORAÇÃO DO SUBSOLO........................................................................................129

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10.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1299


10.2. INFORMAÇÕES EXIGIDAS NUM PROGRAMA DE PROSPECÇÃO ..............................................1299
10.3. TIPOS DE PROPECÇÃO GEOTÉCNICA ............................................................................129129
10.3.1. Processos Indiretos .............................................................................................13030
10.3.2. Processos Semidiretos.........................................................................................13030
10.3.3. Processos Diretos................................................................................................13030
10.4. PROSPECÇÃO GEOFÍSICA...............................................................................................13030
10.4.1. Processo da resistividade elétrica.......................................................................13030
10.4.2 Proccssos de sísmica de refração ......................................................................131131
10.5. MÉTODOS SEMIDIRETOS ..................................................................................................1333
10.5.1. Vane Test ...............................................................................................................1333
10.5.2. Ensaio de Penetração Estática do Cone ...............................................................1355
10.5.3. Ensaio Pressiométrico...........................................................................................1366
10.6. PROCESSOS DIRETOS .......................................................................................................1388
10.6.1. Poços .....................................................................................................................1398
10.6.2. Trincheiras ..............................................................................................................139
10.6.3. Sondagehs a Trado..................................................................................................139
10.6.4 - Sondagens à Percussão ou de Simples Reconhecimento.......................................139
10.6.5. Sondagem Rotativa.................................................................................................143
10.6.6. Sondagem Mista ....................................................................................................1444
10.7. AMOSTRAGEM .................................................................................................................1444
10.7.1. Introdução .............................................................................................................1444
10.7.2. Amostras Indeformadas.........................................................................................1455
11. COMPACTAÇÃO ..............................................................................................................150
11.1. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA...........................................................................................15050
11.2. CURVA DE COMPACTAÇÃO ............................................................................................15050
11.3. ENSAIO DE COMPACTAÇÃO ..............................................................................................1511
11.4. EQUIPANENTOS DE COMPCTAÇÃO ...................................................................................1544
11.5. CONTROLE DE COMPACTAÇÃO ........................................................................................1566
11.6. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ..................................................................................................160

BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................162

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CAPÍTULO 1
1. A MECÂNICA DOS SOLOS E A ENGENHARIA

1.1. Introdução
A Engenharia Civil procurou sempre acompanhar a evolução científica. A dificuldade de um
conhecimento profundo e abrangente em todo o seu campo de atuação exigiu sua divisão em
áreas específicas, consoante, principalmente, aos materiais objetos de estudo. Estas áreas não
tiveram um desenvolvimento paralelo, e algumas evoluíram mais cedo que outras.

-Historicamente, os ramos básicos que primeiro se desenvolveram e que foram, por isso mesmo,
os mais estudados e divulgados são a Teoria das Estruturas e a Hidráulica. O primeiro trabalha
com materiais selecionados, cujos comportamentos são bem conhecidos, entre os quais o
concreto, o aço e a madeira. Este campo utiliza, para solução dos seus problemas, modelos
simples, passíveis de tratamento matemático. A área da Hidráulica estuda os fluidos, em
particular a água, principalmente em ambientes naturais. Os fenômenos hidráulicos podem fugir
a um tratamento matemático, mas a utilização de ensaios em modelos reduzidos permite, quase
sempre, uma adequada análise de seus comportamentos.

Um dos campos básicos da Engenharia Civil que por último se desenvolveu foi a Mecânica dos
Solos. Ela estuda o comportamento do solo sob o aspecto da Engenharia Civil. O solo cobre o
substrato rochoso e provém da desintegração e decomposição das rochas, mediante a ação dos
intemperismos físico e químico. Assim, de maneira geral, por causa da sua heterogeneidade e das
suas propriedades bastante complexas, não existe modelo matemático ou um ensaio em modelo
reduzido que caracterize, de forma satisfatória, o seu comportamento. Para o engenheiro civil, a
necessidade do conhecimento das propriedades do solo vai além do seu aproveitamento como
material de construção, pois o solo exerce um papel especial nas obras de engenharia porquanto
cabe a ele absorver as cargas aplicadas na sua superfície, e mesmo interagir com obras
implantadas no seu interior.

De um modo geral, as características mecânicas do solo, em seu estado natural, devem ser
aceitas e só em casos particulares, com o auxílio de técnicas especiais, podem ser melhoradas.
Atualmente, a Mecânica dos Solos situa-se dentro de um campo mais envolvente que congrega
ainda a Engenharia de Solos (Maciços e Obras de Terra e Fundações) e a Mecânica das Rochas.
Esta área denominada Geotecnia tem como objetivo estudar as propriedades físicas dos materiais
geológicos, solos, rochas e suas aplicações em obras de Engenharia Civil, quer como material de
construção, quer como elemento de fundação.

A Mecânica dos Solos pode ser definida como uma aplicação das leis e princípios da Mecânica e
da Hidráulica aos problemas de Engenharia que lidam com o solo, e a Engenharia de Solos,
como uma utilização dos conceitos da Mecânica dos Solos aos problemas práticos de
Engenharia. Assim, a Engenharia de Solos abrange um campo mais amplo, pois é uma ciência
aplicada e não apenas puramente baseada em conceitos de física e matemática. Ela engloba
disciplinas, tais como: mecânica e dinâmica dos solos, geologia de engenharia, mineralogia das
argilas e mecânica dos fluidos, entre outras.

Pode-se dizer também que a Mecânica dos Solos ocupa, em relação aos solos, posição análoga
àquela que a resistência dos materiais ocupa em relação aos outros materiais de construção.

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Na prática usual, entretanto, os termos Mecânica dos Solos e Engenharia dos Solos geralmente
se confundem.

1.2. Histórico
A Mecânica dos Solos surgiu como ciência em 1925, quando Karl Terzaghi publicou a sua
extraordinária obra "Erdbaumechanik Auf Bodenphysikalisher Grundlage", título este que pode
ser traduzido como "Mecânica das Construções de Terra Baseada na Física dos Solos". Nela,
põe-se em evidência o papel desempenhado pela água, que preenche os poros, no
comportamento dos solos, Historicamente, porém, os precursores de Terzaghi remontam ao
período neolítico (idade da pedra polida: 5.000 a 2.000 anos a.C.) quando, então, se formavam
povoações lacustres apoiadas em estacas, as palafitas. Estas povoações possuíam passarelas que
permitiam a circulação das pessoas entre as habitações e faziam contato com a terra firme. As
passarelas tinham também a função de defesa da povoação em face dos inimigos e animais
vindos da terra, pois eram facilmente destruídas.

Deve-se ressaltar, também, o engenho e a arte encontrados, notadamente na área de fundações,


em obras monumentais executadas por povos das antigas civilizações. Nos palácios da
Babilônia, nas pirâmides do Egito, nos aquedutos romanos ou na muralha da China, o solo
desempenhou um papel de realce.

Durante muitos séculos, entretanto, o aproveitamento dos solos, como elemento de fundação e
materiais de construção, seguiu dentro do empirismo racional, e da observação de métodos
empregados com êxito, em obras similares.

Embora já houvesse tentativas da criação de métodos e processos de dimensionamento,


principalmente em muros de arrimo (pode-se citar as contribuições de Vauban, Bullet, Couplet e
Belidor) porém, somente em 1776 apareceu a primeira obra de valor. Neste trabalho apresentado
pelo engenheiro francês Coulomb são referenciados os parâmetros de resistência dos solos
(coesão e ângulo de atrito) e foram também enunciados os princípios básicos da resistência ao
cisalhamento dos solos. O trabalho de Coulomb abrange ainda análise da estabilidade de taludes,
escavações, barragens de terra e aterros e um estudo da estabilidade de muros de arrimo. A teoria
clássica de Coulomb é empregada ainda hoje em problemas de Engenharia.

Podem-se enumerar ainda importantes contribuições de vários pesquisadores, em ordem


cronológica:

Cauchy (1822) apresentou um estudo sobre o estado de tensão e deformação, em torno de um


ponto no interior de um maciço. Esse trabalho deu outro aspecto ao desenvolvimento das
análises de estabilidade, que até então utilizavam apenas os princípios da estática.

Poncelet (1840) aplicou a teoria clássica de Coulomb a muros de arrimo com paramentos
inclinados.

Alexandre Colin (1846) publicou um livro que continha observações de campo sobre o
deslocamento de camadas de argilas e a descrição de um aparelho capaz de medir a sua
resistência ao cisalhamento.

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A Mecânica dos Solos recebeu também contribuições de outras áreas. Em 1856, Darcy
estabeleceu a lei que define "o movimento da água em meios porosos". Esta lei é de suma
importância no estudo da percolação da água através dos solos. Neste mesmo ano, surge a
contribuição de Rankine. Nela são aplicadas as equações de equilíbrio interno de maciços
terrosos. Atterberg (1908) estabeleceu os limites de consistência dos solos argilosos, com
utilização na Agronomia. Os limites de Attterberg, tais como são conhecidos na Mecânica dos
Solos, foram introduzidos, tempos depois, por Karl Terzaghi.

Otto Mohr (1914) aplicou aos solos a sua teoria de ruptura dos materiais. Esta teoria lança a ideia
das curvas envolventes, que associadas às proposições de Coulomb, segundo as quais a
envoltória é uma reta, estabeleceu o critério de resistência de Moh-Coulomb, sem dúvida, o mais
utilizado, ainda hoje, na Mecânica dos Solos.

No início do século XX, graças ao avanço técnico alcançado pela Engenharia Civil,
principalmente na área da teoria das estruturas, houve a necessidade de se estudar a Mecânica
dos Solos de maneira mais sistemática. As catástrofes ocorridas em obras projetadas com
requinte em cálculo estrutural tiveram, quase sempre, como causa o mal dimensionamento das
fundações. Na Suécia e na Holanda, países que possuíam estradas e cidades situadas sobre
formações geológicas compressíveis, a necessidade e o interesse pela investigação geotécnica do
subsolo aumentou de tal forma que, em 1913, na Suécia, por exemplo, foi criada a famosa
Comissão Geotécnica das Estradas de Ferro da Suécia. Naquela ocasião, foi feita primeira alusão
ao termo "geotécnico".

Entre 1918 e 1926, Fellenius, célebre engenheiro sueco, inventou o método de estudo de
estabilidade de taludes, em que se considera superfície de escorregamento em forma cilíndrica.
Houve, nessa época, na Suécia, um admirável desenvolvimento na Mecânica dos Solos.

Neste clima de esforços isolados e das primeiras associações e comissões de estudo do


comportamento do solo, é que aparece Terzaghi.

Deve-se ressaltar, durante a fase inicial de desenvolvimento da Mecânica dos Solos, o trabalho
incansável de Terzaghi. Este trabalho não foi só intenso, mas também original. Terzaghi
preocupou-se em enfatizar a importância do estudo das tensões e deformações nos solos.
Estabeleceu a diferença entre pressões totais, efetivas e neutras. Criou a teoria do adensamento,
aplicada a solos saturados. Concebeu e esquematizou ensaios e a respectiva aparelhagem e,
sobretudo, fez sugestões para a interpretação dos resultados conseguidos e sua aplicação aos
diferentes problemas práticos enfrentados pela Mecânica dos Solos.

A Mecânica dos Solos apenas se impôs de forma definitiva a partir de 1936, época da realização
da I Conferência de Mecânica dos Solos na Universidade de Harvard. A partir desta época os
fundamentos e diversos aspectos teóricos da disciplina começaram a ser enunciados, porém
deve-se ressaltar que, a despeito do intenso trabalho já desenvolvido por inúmeros
pesquisadores, muito resta a ser explicado adequadamente. Dessa forma, por ser uma ciência
relativamente nova, a Mecânica dos Solos encontra-se em contínuo e intenso desenvolvimento.

1.3. A Mecânica dos Solos e as obras civis


A Mecânica dos Solos foi estabelecida com o propósito de estudar o comportamento dos solos,
segundo formulações teóricas de embasamento científico. Procurou-se, a partir de bases físicas,
modelos reológicos e observações de campo, elaborar teorias explicativas desse comportamento.
Algumas dessas teorias possuem um cunho determinístico, e outras, probabilístico. Embora as

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teorias determinísticas se prestem melhor a elaboração de doutrinas, que, sendo de fácil


apreensão, fornecem fundamentos racionais à explicação de fenômenos observados, a
heterogeneidade dos solos com propriedades variáveis, de ponto para ponto, tem conduzido a um
uso acentuado de teorias probabilísticas.

No estudo do comportamento dos solos, duas linhas de conduta têm sido utilizadas. A primeira
preocupa-se com as propriedades físico-químicas, forças intergranulares, efeito dos fluidos
intersticiais, para, a partir de tais fenômenos, explicar o comportamento dos solos. A segunda
apoia-se na hipótese que considera o solo como um meio contínuo, cuja relação tensão-
deformação fornece subsídios para previsão do comportamento do solo. Nos problemas
geotécnicos de ordem prática, o engenheiro civil deve ter consciência das limitações das teorias
utilizadas, e nunca esperar o valor exato nas grandezas obtidas, senão uma ordem de grandeza.

Neste ponto, um recurso utilizado na mecânica dos solos, como em todas as ciências é consultar
as soluções dadas a problemas análogos, como primeira referência à solução de um problema
proposto. Este recurso dá ao engenheiro a liberdade de escolha de soluções que deverão ser
adaptadas ao problema em estudo, pois nunca há repetição de condições anteriores. Os ensaios
de campo e laboratórios serão, portanto, necessários para fornecer as reais propriedades dos solos
e os dados exigidos nos cálculos de dimensionamento e verificação da solução adotada.

O QUADRO 1 fornece uma relação dos principais problemas pertinentes ao campo da Mecânica
dos Solos.

QUADRO I – ALGUMAS APLICAÇÕES DA MECÂNICA DOS SOLOS

Fundações rasas

Fundações profundas
O solo como fundação
Fundações em solos moles

MECÂNICA Fundações em solos expansivos

DOS Barragens de terra e enrocamento


O solo como material de
SOLOS construção
Estradas e aeroportos

Estabilidade dos solos Taludes e escavações

Estruturas de arrimo
Suporte dos solos
Silos

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CAPÍTULO 2
2. O SOLO PARA O ENGENHEIRO

2.1. Conceituação
A parte mais externa do globo terrestre, denominada crosta, é constituída essencialmente de
rochas que são agregados naturais de um ou diversos minerais, podendo, eventualmente, ocorrer
vidro ou matéria orgânica.

A ação contínua dos agentes atmosféricos e biológicos (intemperismo) tende a desintegrar e a


decompor essas rochas, dando origem ao solo.

O significado da palavra solo não é o mesmo para todas as ciências que estudam a natureza. Para
fins de Engenharia Civil, admite-se que os solos são misturas naturais de um ou diversos
minerais (às vezes com matéria orgânica) que podem ser separados por processos mecânicos
simples, tais como agitação em água ou manuseio. Numa conceituação mais simplista, o solo
seria todo material que pudesse ser escavado, sem o emprego de técnicas especiais, como, por
exemplo, explosivos.

Esse material forma a fina camada superficial que recobre quase toda a crosta terrestre e no seu
estado natural apresenta-se composto de partículas sólidas (com diferentes formas e tamanhos),
líquidas e gasosas. Os solos normalmente são caracterizados pela sua fase sólida, enquanto as
fases líquida e a gasosa são consideradas conjuntamente como porosidade. Entretanto, na análise
de comportamento real de um solo, há necessidade de se levar em conta as porcentagens das
fases componentes, bem como a distribuição dessas fases através da massa de solo.

2.2. Tipos de solos quanto à origem


Ao ocorrer a ação dos mecanismos de intemperização, o material resultante poderá permanecer
ou não sobre a rocha que lhe deu origem.

No primeiro caso, temos os chamados solos residuais. Estes são bastante comuns no Brasil,
sobretudo no Centro-Sul. Como exemplo, cite-se a decomposição dos basaltos que origina as
chamadas "terras roxas" ou a decomposição de rochas cristalinas que originam espessas camadas
de solo residual, como acontece freqüentemente na Serra do Mar.

A separação entre a rocha matriz e o solo residual não é nítida, mas sim, gradual. Pode-se
distinguir, pelo menos, duas faixas distintas entre o solo e a rocha: a primeira, localizada
imediatamente sobre a rocha matriz, denominada rocha alterada ou rocha decomposta e a
segunda, logo abaixo do solo, chamada de solo de alteração. A Figura 1 ilustra um perfil de
intemperização típico de rochas ígneas intrusivas.

Se, eventualmente, o produto de alteração for removido de sobre a rocha matriz por um agente
qualquer, tem-se os chamados solos transportados. Segundo os agentes de transporte, os solos
transportados podem ser aluviais (água), eólicos (vento), coluviais (gravidade) e glaciais
(geleiras).

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A capacidade de transporte dos agentes determina o tamanho das partículas e a homogeneidade


dos solos transportados. Sirva de exemplo um curso de água que tenderá a selecionar o tamanho
das partículas depositadas. Assim, próximo da cabeceira, em que a velocidade das águas é maior,
devem depositar-se os grãos mais grossos, e as partículas mais finas poderão ser transportadas a
longas distâncias, até que a velocidade da água diminua consideravelmente, e permita que haja
deposição.

Dessa forma, os depósitos de solos transportados apresentam geralmente maior homogeneidade


no tamanho das partículas constituintes, o que já não ocorre nos solos residuais, nos quais
aparece uma grande variedade de tamanho das partículas.

Os chamados solos orgânicos são formados pela mistura de restos de organismos (animais ou
vegetais) com sedimentos preexistentes. A ocorrência de solos orgânicos se dá em locais bem
característicos, tais como as áreas adjacentes aos rios, as baixadas litorâneas e as depressões
continentais.

FIGURA 1 - Perfil de solo residual.

2.3. Tamanho e forma das partículas


Em função dos agentes de intemperismo e de transporte, os depósitos de solos podem estar
constituídos de partículas dos mais diversos tamanhos. Em termos qualitativos, deve-se frisar
que o intemperismo físico (desintegração) é capaz de originar partículas de tamanhos até cerca
de 0,001 mm e somente o intemperismo químico (decomposição) é capaz de originar partículas

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de diâmetro menor que 0,001 mm. Solos cuja maior porcentagem esteja constituída de partículas
visíveis a olho nu ( < 0,074 mm) são chamados de solos de grãos grossos ou solos granulares.
As características e o comportamento desses solos ficam determinados, em última análise, pelo
tamanho das partículas, uma vez que as forças gravitacionais prevalecem sobre as outras.

Os solos de granulação grossa apresentam-se compostos de partículas normalmente


equidimensionais, podendo ser esféricas (solos transportados) ou angulares (solos residuais).

A forma característica dos solos de granulação fina ( < 0,074 mm) é a lamelar, em que duas
dimensões são incomparavelmente maiores que a terceira. Aparece, às vezes, a forma acicular,
em que uma das dimensões prevalece sobre as outras duas. A Figura 2 mostra duas partículas de
solo fino.

O mineral constituinte da partícula determina a sua forma, enquanto o comportamento desses


solos é determinado pelas forças de superfície (moleculares, elétricas e eletromagnéticas), uma
vez que a relação, entre a superfície da partícula e o seu volume é muito alta. Nos solos finos, a
afinidade pela água é uma característica marcante, e irá influenciar sobremaneira o seu
comportamento.

Para descrever o tamanho das partículas, é usual citar a sua dimensão ou fazer uso de nomes
conferidos arbitrariamente a certa faixa de variação de tamanhos. Nesse sentido, existem escalas
que apresentam os nomes dos solos juntamente com a dimensão que eles representam. A Figura
3 apresenta duas escalas elaboradas por duas instituições diferentes: a ABNT e o MIT.

Os solos de grãos grossos são subdivididos em pedregulhos e areias, e os de granulação fina em


siltes e argilas. A seguir, apresenta-se uma breve descrição dos principais tipos de solos
existentes, procurando-se ressaltar algumas características que permitam uma fácil identificação
desses solos.

FIGURA 2 – Duas partículas de solo fino: a) caulinita b) ilita.

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FIGURA 3 - Escalas granulométricas.

2.4. Descrição dos tipos de solos


PEDREGULHOS: Os pedregulhos são acumulações incoerentes de fragmentos de rocha, com
dimensões maiores que 2 mm (escala MIT). Normalmente, são encontrados em grandes
extensões, nas margens dos rios e em depressões preenchidas por materiais transportados pelos
rios.

AREIAS: Têm origem semelhante dos pedregulhos, entretanto, as suas dimensões variam entre
2 mm e 0,05 mm. As areias são ásperas ao tacto, e, estando isentas de finos, não se contraem ao
secar, não apresentam plasticidade e comprimem-se, quase instantaneamente, ao serem
carregadas.

SILTES: Os siltes são solos de granulação fina que apresentam pouca ou nenhuma plasticidade.
Um torrão de silte seco ao ar pode ser desfeito com bastante facilidade.

ARGILAS: São solos de granulação muito fina que apresentam características marcantes de
plasticidade e elevada resistência, quando secas. Constituem a fração mais ativa dos solos.

As argilas, quando secas e desagregadas, dão uma sensação de farinha, ao tacto, e, quando
úmidas, são lisas.

Quanto à constituição química das argilas, pode-se dizer que elas se compõem de silicatos de
alumínio hidratados, podendo ocorrer eventualmente silicatos de magnésio, ferro ou outros
metais, também hidratados.

A estrutura desses minerais é bastante complexa, com seus átomos dispostos em forma laminar,
a partir de duas unidades cristalográficas básicas: uma silícica e uma alumínica. A primeira
consiste numa unidade tetraédrica, com um átomo de silício ao centro, rodeado por quatro de
oxigênio, conforme se mostra na Figura 4. Aparece também nessa figura o símbolo utilizado
para representar essa unidade.

As lâminas alumínicas formam uma unidade octaédrica, com um átomo de Al ao centro,


envolvido por seis átomos de oxigênio ou por hidroxilas, como se esquematiza na Figura 5.

De acordo comas associações que essas unidades venham a ter, podem tornar-se vários tipos de
minerais argílicos, dos quais as caulinitas, as montmorilonitas e as ilitas constituem três grupos
básicos.

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As caulinitas estão formadas pela combinação alternada de uma lâmina silícica e de uma
alumínica, que se superpõem indefinidamente e com um vínculo tal entre suas retículas, que não
é possível a entrada de moléculas de água entre elas. A Figura 6 esquematiza esse arranjo.

Figura 4 - Unidade tetraédrica Figura 5 - Unidade octaédrica

Figura 6 - Arranjo esquemático da caulinita.

As montmorilonitas, grupo ao qual pertencem as bentonitas, são formadas pela superposição de


uma unidade alumínica, situada entre duas unidades silícicas, como se mostra esquematicamente
na Figura 7.

Diferentemente das caulinitas, a união entre os retículos é frágil, o que permite a penetração de
água com relativa facilidade. Assim, tais argilas, em presença de água, experimentam expansões,
fonte de inúmeros problemas para a engenharia de solos.

As ilitas apresentam um arranjo estrutural semelhante ao das montmorilonitas, entretanto, a


presença de íons não permutáveis faz com que a união entre os retículos seja mais estável e não
,

seja afetada fortemente pela água. Tais argilas são bem menos expansivas que as
montmorilonitas. A Figura 8 mostra o arranjo estrutural esquemático das ilitas.

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Figura 7 - Arranjo esquemático das montmorilonitas.

A identificação dos minerais do tipo argila, presentes num solo, e feita por meio de processos
bastante aprimorados, tais como a análise termo diferencial e a microscopia eletrônica.

Um processo de identificação bastante simples e expedito consiste na utilização de corantes


orgânicos, os quais mudam de coloração, quando em contato com a argila. Os corantes mais
utilizados são a benzidina, a safranina Y e o verde malaquita. Para maiores minúcias a respeito
das técnicas de identificação de minerais da espécie argila, consultar a referência 25.

Além desses quatro tipos fundamentais de solos existem outros com nomes característicos, tais
como: os loess, os saibros e as turfas, contudo, em verdade, nada mais são do que ocorrências
particulares ou combinações dos tipos já citados.

As turfas ou solos turfosos merecem realce, por serem depósitos de solos orgânicos bastante
compressíveis e que trazem problemas para a Engenharia de Solos. Consistem no primeiro
estágio de formação do carvão e iniciam-se pelo acúmulo de detritos vegetais em depressões,
como, por exemplo, num lago. A sua coloração varia, desde amarela até castanho-escura, e
normalmente apresentam-se com alto teor de umidade.

2.5. Identificação visual e táctil dos solos


Existem alguns testes rápidos que permitem, a partir das características apresentadas pelos solos,
a sua identificação. Como na natureza os solos normalmente são uma mistura de partículas dos
mais variados tamanhos, busca-se determinar qual o tamanho que ocorre em maior quantidade, e
depois as demais ocorrências. É usual também, na identificação de um solo, citar a sua cor.
Assim, por exemplo, alguns nomes que poderiam ocorrer seriam: argila arenosa vermelha; silte
argiloso pouco arenoso marrom; areia grossa, com pedregulhos, cinza, etc. Os testes mais
comuns são:

a - Sensação ao tacto: esfrega-se uma porção de solo na mão, buscando sentir a sua
aspereza. As areias são bastante ásperas ao tacto, e as argilas dão uma sensação de
farinha, quando seca ou de sabão, quando úmidas.

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b - Plasticidade: tenta-se moldar pequenos cilindros de solo úmido e, em seguida, busca-se


deformá-los. As argilas são bastante moldáveis, enquanto as areias e, normalmente
também os siltes, não são moldáveis.

c - Resistência do solo seco: por causa das forças interpartículas que se desenvolvem nos
solos finos, um torrão de solo argiloso apresenta elevada resistência, quando se tenta
desagregá-los com os dedos. Os siltes apresentam alguma resistência, enquanto as areias,
quando puras, sequer formam torrões.

d - Mobilidade da água intersticial: consiste em se colocar na palma da mão uma porção


de solo úmido. Fazendo-se bater essa mão fechada, com o solo dentro, contra outra,
verifica-se o aparecimento da água na superfície do solo. Nos solos arenosos, graças à
sua alta permeabilidade, a água aparece rapidamente na superfície. Ao abrir a mão, a
superfície brilhante desaparece nesses solos arenosos, e eles frequentemente trincam. Nos
solos argilosos, a superfície brilhante permanece por bastante tempo e não ocorrem
fissuras, quando se abre a mão.

e - Dispersão em água: coloca-se uma amostra de solo seco e desagregado numa proveta
(100 ml) e, em seguida, água. Agita-se a mistura e verifica-se o tempo para deposição das
partículas. As areias depositam-se rapidamente, enquanto as argilas tendem a turvar a
suspensão e demoram bastante tempo para sedimentar.

O Quadro II procura sintetizar esses procedimentos comuns normalmente utilizados para


identificar os solos:

Tabela II - Identificação visual e táctil dos solos

Tipos de Solos Procedimentos e Características

Areias e solos arenosos. Tacto - (áspero) observação visual incoerente.

Tacto - pequena resistência do torrão seco (esfarela


Areias finas, siltes, areias facilmente), torrão seco desagrega rapidamente quando
siltosas ou pouco argilosas. submerso; dispersão em água (sedimenta rápido e a água
permanece turva, por pouco tempo).

Tacto (úmidos: saponáceos; secas: farináceas; torrão seco


Argilas e solos argilosos. bastante resistente, e não desagrega quando submerso;
plasticidade; mobilidade da água intersticial.

Turfas e solos turfosos (solos Cor - geralmente cinza, castanho-escura, preta; partículas
orgânicos) fibrosas, cheiro característico de matéria orgânica em
decomposição; inflamáveis, quando secos, e de pouca a média
plasticidade.

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CAPÍTULO III
3. PROPRIEDADES ÍNDICES

3.1. Introdução
Os solos em a natureza apresentam-se compostos por elementos das três fases físicas, em maior
ou menor proporção.

O arcabouço do solo, constituído do agrupamento das partículas sólidas, apresenta-se


entremeado de vazios, os quais podem estar preenchidos com água e/ou ar. O ar é extremamente
compressível, e a água pode fluir através do solo, portanto, quando da avaliação quantitativa do
comportamento do solo, há necessidade de se levar em conta as ocorrências dessas fases físicas.

Para efeito dessa apostila, considera-se como propriedades índices, determinadas características,
tanto da fase sólida, como das três fases, em conjunto, passíveis de mensuração, seja mediante
relações entre as fases ou por meio da avaliação do comportamento do solo, ante algum ensaio
convencional

A determinação das propriedades índices aplica-se na classificação e identificação do solo, uma


vez que elas podem ser correlacionadas, ainda que grosseiramente, com características mais
complexas do solo, como, por exemplo, a compressibilidade.

Neste capítulo, descreve-se as seguintes propriedades índices: Índices Físicos, Granulometria e


Estados de Consistência.

3.2. Índices físicos

Os Índices Físicos são relações entre as diversas fases, em termos de massas e volumes, os quais
procuram caracterizar as condições físicas em que um solo se encontra.

A Figura 9a, apresenta um elemento de solo, constituído das três fases, tal como poderia ocorrer
em a natureza. Para melhor visualização e para facilitar as deduções referentes às relações entre
os diversos índices, o elemento de solo é mostrado esquematicamente, com divisão das três
fases, na Figura 9b.

No lado esquerdo da Figura 9b, as fases estão separadas em volumes, e no lado direito, em,
massas.

3.2.1 Definições

As três relações de volumes mais utilizadas são: a porosidade, o índice de vazios e o grau de
saturação.

A porosidade (n) á definida pela relação entre o volume de vazios (Vv) e o volume total da
amostra (V).

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Vv
n
V

O índice de vazios (e) vazios é definido pela relação entre o volume de vazios (Vv) e o volume
de sólidos (Vs), isto é:

Vv
e
Vs

O grau de saturação (Sr) representa a relação entre o volume água (Vw) e o volume de vazios, ou
seja:

Vw
Sr 
Vv

A relação entre as massas mais utilizadas o teor de umidade (w), que á a relação entre a massa de
água (Mw) e a massa de sólidos (Ms) presentes na amostra:

Mw
w
Ms

Figura 9 – Representação das fases presentes num elemento de solo.

Esses índices físicos, como se vê, são adimensionais e, com exceção do índice de vazios (e),
todos os demais são expressos em termos de porcentagem.

As relações entre massas e volumes mais usuais são a massa específica natural, a massa
específica dos sólidos e a massa específica da água.

A massa específica natural (s) ó a relação entre a massa do elemento e o volume desse elemento:

M
 
V

Por sua vez, a massa específica dos sólidos (s) é determina dividindo-se a massa de sólidos pelo
volume ocupado por estes sólidos, ou seja:

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Ms
s 
Vs

e, por extensão, a massa específica da água (w) define-se como:

Mws
w 
Vw

que, na maior parte dos casos práticos, é tomada como w = 10 kN/m3.

O Quadro III apresenta os limites extremos de variação desses índices físicos.

QUADRO III - LIMITES DE VARIAÇÃO DOS ÍNDICES FÍSICOS

10 <  < 25 kN/m3


25 < s < 40 kN/m3
0 < e < 20
0 < n < 100 %
0 < Sr < 100 %
0 < w < 1500 %

3.2.2 Relações Entre os Diversos Índices

Atribuindo ao volume de fase sólida - o valor unitário (Vs = 1) é possível relacionar os diversos
índices físicos com o índice de vazios. Se VS = 1, então, e = Vv e Vw = Sr.e, e dessa forma tem-
se na Figura 10, o elemento esquemático de solo, em que as massas agora são expressas em
termos de produto entre os volumes e as massas específicas das diversas fases.

Figura 10 - Massas e volumes das diversas fases quando Vs = 1.

A partir dos dados da Figura 10, é possível obter as novas expressões para os diversos índices
físicos, conforme as seguintes relações:

Mw S r e w
w 
Ms s

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Vv e
n 
V 1 e

M  s  S r e w
 
V 1 e

Em função da quantidade de água presente no solo, pode-se definir a massa especifica saturada
(sat), que ocorre quando todos os vazios do solo estão preenchidos com água, ou seja, Sr =
100 %.

 s  e w
 sat 
1 e

Da mesma forma, quando o solo se encontra completamente seco (Sr = 0%) sem nenhuma água
em seus vazios, temos a massa específica seca (d):

s
d 
1 e

É importante notar que essas duas novas relações estão referidas ao volume natural da amostra
(1 + e), isto é, admite-se, quando se faz matematicamente Sr = 0 % ou Sr = 100 %, que o solo
não experimenta variações de volume. Isto não é o que realmente ocorre na natureza, pois os
solos, ao serem secados ou saturados normalmente passam por variações de volume. A massa
específica natural relaciona-se com a massa específica seca por intermédio da seguinte
expressão:

M  s  S r e w   w
   s  s
V 1 e 1 e 1 e

Tanto , como d estão referidos ao volume da amostra natural.

Dessa forma, é possível colocar a expressão anterior, em termos de massas, o que é bastante útil,
sobretudo em ensaios de laboratório.

M = Ms (1 + w)

Para relacionar os índices com a porosidade, faz-se, para facilidade de cálculo, V = 1. Da mesma
forma que na Figura 10, temos agora na Figura 11 as massas e volumes para a nova situação.
Como V = 1, tem-se n = Vv e Vw = Sr . n.

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Figura 11 - Massas e volumes das diversas fases quando V = 1.

Assim, pode-se colocar os índices físicos de acordo com novas relações:

Vv n
e  ;
Vs 1  n

Mw S n
w  r w ;e
M s (1  n)  s

M
   (1  n)  sr S r n  w
V

3.2.3. Determinação dos Índices Físicos

Os índices físicos são determinados em laboratório ou mediante fórmulas de correlação,


desenvolvidas no item anterior. Em laboratório são determinados a massa específica natural, o
teor de umidade e a massa específica dos sólidos. A seguir, descreve-se resumidamente o
procedimento para determinação desses três índices físicos.

a) Massa Específica Natural

Toma-se um bloco de solo de forma cúbica, tendo cerca de 8 cm de lado e procura-se torneá-lo
de maneira que se transforme num cilindro. Para tanto, utiliza-se um berço para alisar a base e o
topo, e em seguida o corpo de prova é levado a um torno, onde lhe é dada a forma ci1índrica.

As determinações que se fazem são as medidas do diâmetro e da altura do cilindro para cálculo
do volume e a pesagem do corpo de prova.

Deve-se se salientar que a massa específica natural normalmente é determinada em corpos de


prova já talhados para os ensaios usuais de Mecânica dos Solos, isto é, não se talha de prova para
medir unicamente, a sua massa específica natural.

b) Teor de Umidade

Toma-se uma porção de solo (cerca de 50 g), colocando-a numa cápsula de alumínio com tampa.

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O conjunto: solo úmido mais cápsula, é pesado com precisão de 0,01 g e, em seguida, a cápsula
destampada é levada a uma estufa para secagem até constância de peso. O tempo de permanência
da cápsula varia em função do tipo de solo; como ordem de grandeza, os solos arenosos
necessitam de cerca de 6 h e os solos argilosos, às vezes, até de 24 horas.

Pesa-se o conjunto solo seco mais cápsula e com a tara da cápsula, determinada de início, pode-
se calcular o teor de umidade por meio da seguinte expressão:

M 2  M1
w
M1  M 0

em que M2 é a massa do solo úmido mais cápsula, M1 é a massa do solo seco mais cápsula, e M0
é a tara da cápsula.

c) Massa Específica dos Sólidos

Este índice é determinado, usualmente, empregando um frasco de vidro chamado picnômetro


(balão volumétrico). Coloca-se uma porção de solo (cerca de 80 g para solos argi1osos e 150 g
para solos arenosos) no picnômetro e, em seguida, preenche-se o frasco com água destilada até a
marca de referência.

Pesa-se o conjunto picnômetro, água e solo, determina-se a temperatura da suspensão e mediante


a curva de calibração do picnômetro, determina-se o peso do picnômetro preenchido com água
destilada para a temperatura do ensaio.

A Figura 12 ilustra o cálculo da massa específica dos sólidos.

Figura 12 - Esquema de cálculo de s

A massa de água correspondente ao volume deslocado pelos sólidos será:

M 2 - M 1  M 'w  M s  M w ou

M w - M 'w  M 1 - M 2  M s  M w

Portanto o volume dos sólidos corresponde a:

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M w
Vs 
w

e, finalmente, a massa específica do sólidos pode ser assim obtida:

Ms Ms Ms
s   w ; s  w
Vs M w M1  M 2  M s

Deve-se frisar que normalmente são feitas de três a quatro determinações, fazendo-se variar a
temperatura e acertando o nível de água na marca de referência, com vistas à obtenção de um
valor médio consistente.

Embora a determinação da massa específica dos sólidos seja simp1es, muitas vezes adota-se um
valor médio para resolução de problemas, uma vez que a faixa de variação para os solos de
maior ocorrência é pequena. Para solos arenosos, pode-se adotar s= 26,70 kN/m3
(correspondente ao quartzo) e para solos argilosos s= 27,50 – 29,00 kN/m3.

d) Demais Índices

Como já foi salientado, os demais índices são determinados mediante fórmulas de correlação. A
Tabela III mostra algumas destas correlações disponíveis.

TABELA III – CORRELAÇÕES ENTRE OS DIVERSOS ÍNDICES FÍSICOS

 sat d '  s


0< Sr<100 Sr=100 % Sr=0 % Sr=100 %

 s  S r e w  s  e w s s w  d (1  e)
1 e 1 e 1 e 1 e

 s  ( s  S r  w )n s  (s w)n  s (1  n) (1  n)( s   w ) d


(1  n)

 d (1  w)  s (1  w)  s (e  w) S r e w
1 e (1  e) e w

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TABELA III – CORRELAÇÕES ENTRE OS DIVERSOS ÍNDICES FÍSICOS


(CONTINUAÇÃO)

Sr e n w

w s s e S r e w
1
e w d 1 e s

1 n  s n d nS r  w
w 1
n w 1 n s (1  n) s

 s d w  sw  sw S r  w ( s   d )
 w ( s   d ) Sr w Sr w   s w  s d

3.3. Granulometria

A medida do tamanho das partículas constituintes de um solo é feita por meio da granulometria e
a representação dessa medida se dá usualmente por intermédio da curva de distribuição
granulométrica.

A Figura 13 apresenta curvas de distribuição granulométrica de alguns solos. Pode-se notar que
as curvas são desenhadas em gráfico com escala semi-logarítmica. Nas abscissas tem-se o
logaritmo do tamanho das partículas e nas ordenadas, à esquerda, a porcentagem retida
acumulada, ou seja, a porcentagem do solo em massa, que é maior que determinado diâmetro: à
direita, tem-se a porcentagem que passa, isto é, a porcentagem do solo, em massa, que e menor
que determinado diâmetro.

Para a determinação do tamanho dos grãos de um solo grosso, recorre-se ao ensaio de


peneiramento, no qual se faz passar por uma bateria de peneiras, de aberturas sucessivamente
menores, certa quantidade de solo, determinando-se as porções retidas em cada peneira. Para um
solo de graduação fina o peneiramento se torna impraticável. Neste caso, faz-se uso do ensaio de
sedimentação que consiste basicamente em medir indiretamente a velocidade de queda das
partículas em água.

O calculo do tamanho das partículas finas e feito utilizando-se a lei de Stokes, que estabelece ser
a velocidade de queda de uma partícula esférica de peso específico s, num fluido de viscosidade
 e peso específico w, proporcional ao quadrado do diâmetro dessas partículas, ou seja:

s w 2
v D
18

Como foi salientado, as partículas finas de solo têm formas bastante diferentes de uma esfera.
Assim, quando se utiliza a lei de Stokes, as partículas finas têm suas dimensões representadas
por um diâmetro equivalente.

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Ressalta-se ainda que as partículas coloidais (diâmetro inferior a 0,0002 mm) não sedimentam,
por causa da ação de forças repulsivas entre elas, o que origina o movimento browniano, de
tratamento bastante complexo.

Como, freqüentemente, os solos são uma mistura de partículas dos mais diversos tamanhos,
costuma-se conduzir conjuntamente os ensaios de peneiramento e sedimentação, ou seja, faz-se
uma análise granulométrica conjunta, para determinação dos diâmetros e das respectivas
porcentagens de partículas que ocorrem num solo.

3.3.1 Noções Sobre o Ensaio de Análise Granulométrica

À experiência tem mostrado que a amostra a ser ensaiada deve conter de 40 a 70 g de sólidos,
passando na peneira #l00 (0,15 mm). Como as partículas finas de solo tendem a aglutinar-se, há
necessidade de dispersá-las com o auxílio de um defloculante (silicato de sódio, hexametafosfato
de sódio, etc.), para que o resultado de ensaio seja efetivamente representativo dos tamanhos de
partículas que ocorrem no solo.

A mistura solo e defloculante é peneirada, com o auxilio de lavagem, na peneira #100. O


material que passa é recolhido numa proveta graduada para 1000 ml e será destinado ao ensaio
de sedimentação.

O material retido, após secagem em estufa, e passado por uma bateria de peneiras, com o auxílio
de vibração. Determina-se a massa retida em cada peneira e, em seguida, calculam-se as
porcentagens retidas e as acumuladas. Com esses valores pode-se determinar a parte da curva
granulométrica relativa à fração grossa do solo, utilizando o logaritmo de abertura da peneira e a
porcentagem retida acumulada nessa peneira.

No ensaio de sedimentação, a velocidade de queda da partícula é obtida indiretamente,


determinando-se densidade da suspensão, em intervalos de tempos espaçados. Agita-se a
suspensão contida na proveta para homogeneizá-la, em seguida, são feitas leituras periódicas de
densidades, ao longo do tempo. A leitura do densímetro (i) é correlacionada com a queda da
partícula (z), ou seja, a distância entre a superfície da suspensão e o centro de volume do bulbo
(Figura 14).

Figura 13 - Altura de queda no ensaio de sedimentação.

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Dessa forma, a velocidade de uma partícula de diâmetro D, que percorreu uma distância z, num
tempo t, pode ser determinada pela lei de Stokes:

s w 2 z
V  D 
18 t

Resulta então, que:

18 z
D
s w t

Se admitirmos a uniformidade da suspensão, é óbvio que, após o tempo t, todas as partículas com
diâmetro maior que D, dado pela fórmula anterior, deverão estar a uma profundidade abaixo de
"z" ou, em outras palavras, acima de "z" não haverá partículas de diâmetro maior que D.
Chamando de N a porcentagem de partículas de diâmetro menor que D, pode-se demonstrar que:

s V
N ( i   w )
s w M

em que: V é o volume da suspensão (1000 ml, geralmente); M é a massa total de sólidos; i é a


leitura do densímetro e w é a massa específica da água.

Se fizermos V = 1000 ml e w = 1 g/cm3 (~l0 kN/m3), teremos:

 s Lc
N 100 % , em que Lc = 1000 (i. - 1).
s w M

Assim, com os valores de diâmetro D e N, porcentagem que passa (porcentagem de partículas


com diâmetro menor que D) é possível traçar a curva correspondente à fração fina do solo e que
complementa a curva obtida do ensaio de peneiramento.

3.3.2. Considerações sobre a Curva de Distribuição Granulométrica

A curva de distribuição granulométrica de um solo, freqüentemente, é representada por dois


parâmetros. São eles o diâmetro efetivo (De ou D10) e o coeficiente de não uniformidade (Cu ).

Dado que as partículas finas são as que mais interferem no comportamento do solo, definiu-se o
diâmetro no sentido de dar medida dessa característica do solo. Assim, o diâmetro efetivo é o
diâmetro tal que 10 % do solo, em massa, tem diâmetros menores que ele. A Figura 14 mostra
quatro curvas granulométricas e para o solo representado pela curva 3 pode-se notar que o
diâmetro efetivo (De) é de 0,12 mm. O coeficiente de não uniformidade (Cu) dá uma ideia da
inclinação da curva granulométrica, e é definido como:

D60
Cu 
D10

sendo que D60 tem definição análoga ao diâmetro efetivo. Para a curva 2 da Figura 13,

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0,12
Cu   46
0,026

Um solo em que Cu = 1, é composto de partículas de mesmo tamanho (mal graduado). Por outro
lado, valores de Cu maiores do que a unidade indicam uma variedade no tamanho das partículas,
podendo o coeficiente de não uniformidade atingir valores da ordem de 300 ou 400, no caso dos
solos residuais, sem que isso signifique que o solo seja bem graduado. Um solo bem graduado
apresenta uma distribuição proporcional do tamanho de partículas, de forma que os espaços
deixados pelas partículas maiores sejam ocupados pelas menores. Tais solos, quando bem
compactados, normalmente apresentam alta resistência, o que é de bastante interesse para
aplicações práticas em engenharia.

Deve salientar-se que o diâmetro efetivo e o coeficiente de não uniformidade não são suficientes
para representar sozinhos a curva de distribuição granulométrica, uma vez que curvas distintas
podem ter os mesmos De e Cu , como facilmente é possível visualizar pelas curvas 2 e 4 da
Figura 13. Assim, resulta que somente a curva de distribuição granulométrica pode identificar
um solo quanto à sua textura.

A curva de distribuição granulométrica encontra aplicação pratica na classificação do solo


quanto à textura, na estimativa do coeficiente de permeabilidade e no dimensionamento de filtros
de proteção.

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Figura 14 – Curvas granulométricas de alguns solos

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3.4. Plasticidade e estados de consistência

3.4.1. Noções sobre a Plasticidade dos Solos

Desde épocas remotas, sabe-se que alguns solos ao serem trabalhados e fazendo variar a sua
umidade, atingem um estado de consistência característico denominado estado de consistência
plástico. Em cerâmica, tais solos são chamados de argilas palavra que foi incorporada à
Mecânica dos Solos com o mesmo significado.

Sabe-se também que a forma lamelar das partículas é a responsável pelas características de
plasticidade e de compressibilidade dos solos finos. Por sua vez, a forma dessas partículas é
determinada, em ultima análise, pelo mineral argila, presente, ou seja, ela depende da estrutura
cristalina de cada argilo-mineral Como a estrutura cristalina é própria de cada mineral, seria
lícito supor, que, em função do argilo-mineral presente, cada solo apresentasse distintas
características de plasticidade.

Isso é o que realmente ocorre em a natureza, com os argilo-minerais de estrutura cristalina mais
complexa, tais como as montmorilonitas, apresentando maior plasticidade.

A plasticidade pode ser definida em Mecânica dos Solos, como a propriedade que um solo tem
de experimentar deformações rápidas, sem que ocorra variação volumétrica apreciável e ruptura.

Para que essa propriedade possa manifestar-se, compreende-se que a forma característica das
partículas finas permita que elas deslizem uma por sobre as outras, desde que haja quantidade
suficiente de água para atuar como lubrificante. Entretanto, se a quantidade de água for maior
que a necessária para que tal ocorra, é evidente que se formará uma suspensão, com
características de um fluido viscoso. Ocorreu, portanto, uma alteração do estado de consistência
do solo, assunto que será tratado no próximo item.

Em resumo, pode-se dizer que a plasticidade está associada aos solos finos, e depende do argilo-
mineral e da quantidade de água no solo.

3.4.2. Estados de Consistência

A plasticidade, portanto, é um estado de consistência circunstancial, que depende da quantidade


de água presente no solo.

Assim, em função da quantidade de água presente no solto, podem-se ter vários estados de
consistência, os quais, em ordem decrescente de teor de umidade, são:

a - estado líquido: o solo apresenta as propriedades e a aparência de uma suspensão e,


portanto, não apresenta nenhuma resistência ao cisalhamento;

b - estado plástico: no qual ele apresenta a propriedade de plasticidade;

c - estado semi-sólido: o solo tem a aparência de um sólido, entretanto, ainda passa por
variações de volume, ao ser secado;

d - estado sólido: não ocorrem mais variações de volume, pela secagem do solo.

A Figura 15 ilustra os diversos estados de consistência de um solo.

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Figura 15 – Estados de consistência.

3.4.3. Limites de Consistência

A passagem de um estado para outro não é repentina, mas sim, gradual o que torna difícil
estabelecer um critério, para demarcar os limites entre os diversos estados. De fato, esses limites
são estabelecidos arbitrariamente, a partir de ensaios padronizados. Os limites de consistência
são também conhecidos como limites de Atterberg que foi quem primeiro se preocupou em
estabelecê-los. As idéias iniciais de Atterberg, baseadas em conceitos estritamente empíricos
permaneceram, entretanto, houve necessidade de realizar algumas modificações na técnica de
obtenção dos limites para que se tivesse um resultado padronizado.

a. Limite de Liquidez (LL ou wL)

A fronteira convencional entre o estado líquido e o estado plástico (teor de umidade - w) foi
chamado por Atterberg de limite de liquidez (LL ou wL) e a sua obtenção foi padronizada por
Casagrande. A Figura l6 mostra o aparelho de Casagrande, com as dimensões-padrão, para
determinação do limite de liquidez.

A técnica do ensaio consiste em colocar na concha do aparelho uma pasta de solo, que passou na
peneira #40. Faz-se com o cinzel uma ranhura e, em seguida, gira-se a manivela, à razão de duas
revoluções, por segundo, fazendo com que a concha caia em queda livre e bata contra a base do
aparelho.

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Figura 15 - Aparelho para determinação do limite de liquidez.

Conta-se o número de golpes para que a ranhura se feche, numa extensão de 12 mm, e, em
seguida, determina-se o teor de umidade do solo. O processo é repetido, para diferentes teores
de umidade. Os valores obtidos são lançados em um gráfico semilogarítmico em que as
ordenadas representam os teores de umidade e as abscissas o número de golpes.

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Traça-se a reta nédia, que passa por esses pontos, e determina-se o teor de umidade
correspondente a 25 golpes, o qual será o limite de liquidez do solo. A Figura 17 ilustra a forma
de obtenção do limite de liquidez.

b. Limite de Plasticidade (LP ou wP)

O teor de umidade que determina a fronteira entre o estado plástico e o estado semi-sólido é
chamado de Limite de Plasticidade (LP ou wP).

Para sua determinação, faz-se uma pasta com o solo que passa na peneira #40, e em seguida
procura-se rolar essa pasta, com auxilio da palma da mão, sobre uma placa de vidro esmerilhado,
a fim de formar pequenos cilindros. Quando o cilindro assim formado atingir um diâmetro de 3
mm, e começar a apresentar fissuras, interrompe-se o ensaio e determina-se o teor de umidade do
solo formador do cilindro.

Repete-se a operação algumas vezes, para se obter um valor médio do teor de umidade, o qual
será o limite de plasticidade do solo.

Neste ensaio, se o solo estiver com muita água, obtêm-se cilindros com diâmetros inferiores a 3
mm sem que ocorram fissuras. Será necessário então remoldar o solo e rolá-lo novamente, para
que se vá eliminando a água. até que se consiga o resultado desejado. Em caso contrário (solo
muito seco) é necessário acrescentar água e reiniciar o ensaio, até que se consiga "rolinhos" de
solo que fissurem com um diâmetro de 3 mm.

c. Limite de Contração (LC)

A fronteira convencional entre o estado de consistência semi-sólido e o sólido é chamada de


limite de contração (LC).

A observação de que a maior parte dos solos não apresenta redução de volume, quando
submetidos a secagem abaixo do limite de contração, permite determinar esse limite mediante
medida de massa e do volume de uma amostra de solo completamente seca. Quando tal ocorre, o
limite de contração corresponde ao teor de umidade, que satura os vazios da amostra de solo. A
Figura 18 esquematiza a determinação do limite de contração, nesse caso:

Figura 18 - Obtenção de LC à partir de uma amostra completamente seca.

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Mw M V 1
LC  ; M w  (V  s ) w ; e LC   w (  )
Ms s Ms s

É óbvio que para tal determinação é necessário conhecer a massa específica dos sólidos do solo.
A determinação padronizada deste limite em laboratório é feita, partindo-se de uma pasta de solo
(cujo teor de umidade (w) corresponde, geralmente, a 10 golpes no aparelho de Casagrande) que
é colocada num recipiente do qual se conhece o volume (V).

Em seguida, o solo é deixado secar lentamente, à sombra, e depois é levado à estufa até
constância do peso (Ms). Determina-se o volume do solo seco (V1), utilizando o recipiente
esquematizado na Figura 19, em que se obtém o peso de mercúrio deslocado (MHg):

MH g
V1 
13,6

Figura 19 – Determinação do volume do Corpo de Prova.

O limite de contração é obtido por meio da seguinte expressão:

V  V1
Lc  w  w
Ms

Como é possível observar, o LC assim determinado depende do teor de umidade inicial (w) do
ensaio.

3.4.4. Índices de Consistência

A partir dos limites de consistência, são calculados vários índices, dentre os quais sobressaem os
índices de plasticidade (IP) e de consistência (IC) por causa de sua maior utilização na prática.

O índice de plasticidade é definido como a diferença entre o limite de liquidez e o de


plasticidade, ou seja:

IP  LL  LP

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Tal índice tenta medir a maior ou menor plasticidade do solo, e fisicamente representaria a
quantidade de água que seria necessário acrescentar a um solo, para que ele passasse do estado
plástico ao líquido.

O índice de consistência procura colocar a consistência de um solo em função do teor de


umidade (w) e é definido como:

LL  w
IC 
LL  LP

Esse índice busca situar o teor de unidade do solo no intervalo de interesse para a utilização na
prática, ou seja, entre o limite de liquidez e o de plasticidade. Entretanto, tem-se notado que tal
índice não acompanha, com fidelidade, as variações de consistência de um solo, fazendo com
que esteja gradativamente caindo em desuso.

3.5. Exercícios resolvidos


Usaremos o diagrama abaixo (Figura 09 b) para os cálculos dos exercícios resolvidos 1, 2 e 3.

Exercício 1:
Um corpo de prova cilíndrico de um solo argiloso apresenta altura H = 12,5 cm, diâmetro d =
5,0 cm e massa m = 478,25 g a qual, após secagem, reduz a 418,32 g. Sabendo-se que a massa
específica dos sólidos, , é 26,49 kN/m3, determinar:
a) A massa específica aparente seca ( );
b) O índice de vazios ( );
c) A porosidade ( );
d) O grau de saturação ( );
e) O teor de umidade ( ).

Resolução:

Dados:

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a) massa específica aparente seca ( );

b) índice de vazios ( );

logo,

c) porosidade ( );

d) grau de saturação ( );

e) teor de umidade ( );

Exercício 2:
Calcular a porosidade, n, para um solo que apresenta Sr = 60%, γs = 27,00 kN/m3 e w = 15 %.
Qual é o peso específico desse solo?

Resolução: Consideramos para calcular as massas e os volumes relativos.

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Com os índices acima calculados é possível obter a porosidade ( ) e a peso específico ( ) do


solo.

Exercício 3:
Uma amostra de solo apresenta n = 48 %, w = 21 % e γs = 26,19 kN/m3. Calcular os demais
índices físicos.

Resolução: Consideramos para calcular as massas e os volumes relativos.

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Tendo todas essas massas e volumes, podemos calcular o restante dos índices físicos.

Exercício 4:
Um solo apresenta LP = 10%, IP = 15% e γd = 17,17 kN/m3. Determinar a quantidade de água
que 1 tonelada desse solo absorve ao passar do estado plástico para o líquido.
Resolução:
Mw
w ; W=0,10; 0,10 x Ms = Mw.
Ms
Mtotal = Mw + Ms; Mtotal = 1,10 x Ms;
1000 kg = 1,1 x Ms; Ms = 909,09 kg; Mw = 90,91 kg;
Estado plástico para estado líquido absorve 15% da massa de sólidos em água (IP = 15%).
0,15 = Mwabsorvida/Ms; Mwabsorvida = 0,15 x 909,09; Mwabsorvida = 136,36 kg.

Exercício 5:
Uma lama, γ = 11,67 kN/m3, contendo 25 % em massa de sólidos, é colocada em um reservatório
para deposição dos sólidos. Após a sedimentação total, uma amostra indeformada do sedimento é
retirada tendo o volume de 36,0 cm3 e massa de 53,0 g. Após a secagem em estufa a amostra
pesou 23,5 g. Determinar:
a) Massa específica dos sólidos.
b) Índice de vazios e a porosidade da lama.
c) Relação entre o volume do sedimento depositado e o volume inicial da amostra.

Resolução:

Em 1 m³, 11,67 kN respresenta a Mtotal, que é Ms + Mw. Sendo 25% é massa de sólidos,
resulta que:

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Ms = 2,9175 kN; Mw = 8,7525 kN;


Vtotal = Vw + Vs, uma vez que o solo está saturado.
Mw 8,7535
w   Vw   0,8922 kN / m ³
Vw 9,81
Vs = Vtotal – Vw; Vs = 1 – 0,8922; Vs = 0,1078 m³;
Ms 2,9175
a)  s  ; s    s  27,06kN / m³
Vs 0,1078

Vv 0,8922
b) e    8,276
Vs 0,1078

Vv 0,8922
n   89,22%
V 1
c) O material sedimentado tinha Ms = 23,5 g, teoricamente isso representaria 25 % da Mtotal,
nesse caso Mtotal inicial seria igual a 94 g. Levando em consideração os dados fornecidos:
γ = 11,67 kN/m3 (1,1896 g/cm³).
M inicial 94
   Vlama   79,02cm ³
Vlama 1,1896

Vsed 36 Vsed
  0,4556;
Vlama 79,02 Vlama

Exercício 6:

Classificar uma areia, quanto à compacidade, sabendo-se que emáx = 1,20 e emin = 0,42. Sabe-se
que uma cápsula com uma amostra da areia saturada cuja massa foi de 68,959 g e que depois de
seco o conjunto (solo e cápsula) passou a ter a massa de 62,011 g. A tara da cápsula é de 35,046
g e o valor da massa específica dos sólidos, γs, é igual a 26,00 kN/m3. Calcular a porosidade, o
teor de umidade e a massa específica seca.

Resolução:

n
,onde e =
1 n .

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Exercício 7:
Uma amostra de areia de praia, saturada com água do mar, tem volume de 87,00 cm3 e uma
massa de 180 g. A massa específica dos grãos, γs, é de 26,39 kN/m3. Admitindo-se γsal = 12,75
kN/m3 (massa específica da água salgada) calcular:

a) ; b) ; c) ;
Onde: Mw = massa da água pura;
M = massa do sal;
Ms = massa dos sólidos.
Resolução:
s = 26,39 kN/m³ (2,69 g/cm³); sal = 12,75 kN/m³ (1,30 g/cm³);
180 = 2,69 x A + 1,30 x B; A + B = 87 cm³; A = 87 – B;
(87 – B) x 2,69 +1,30 x B = 180; 1,39 x B = 54,03; B = 38,87 cm³; A = 48,13 cm³;
Mw + M = 38,87 x 1,30; Mw + M = 50,531 g;
Ms = 48,13 x 2,69; Ms = 129,47 g;
Mw = 50,531/1,30; Mw = 38,87 g;
M = 50,531 – 38,87; M = 11,66 g;

Mw 38,37
a)   0,300 ;
M s 129,47

M w  M 50,531
b)   0,390 ;
Ms 129,47

Mw 38,37
c) Mw   0,275
M s  M 129,47  11,66 .

Exercício 8:
Um solo cujo γ = 17,17 kN/m3 e w = 45% foi deixado secar até que γ = 14,72 kN/m3. Admitindo
que não houver variação de volume e que o peso específico dos sólidos, γs, é 27,52 kN/m³, pede-
se determinar:
a) O novo teor de umidade do solo (w).
b) Os demais índices físicos (Sr, n, e, γd).

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Resolução:
γantes = 17,17 kN/m3; W = 45%; γdepois = 14,72 kN/m3; γs, = 27,52 kN/m³;
Wantes = Mw/Ms; 0,45 x Ms = Mw;
Mtotal = Mw + Ms; Mtotal = 1,45 x Ms;
Para 1 m³ de solo temos 17,17 kN, logo:
Ms = 17,17/1,45; Ms = 11,8414 g;
Como podemos perceber γ = Ms x (1 + W);
a) γdepois/Ms = (1 + W); (14,72/11,8414) – 1 = W; W = 24,31%;

b) Sr = Vw/Vv; Vw = (14,72 – 11,8414)/9,81; Vw = 0,2934;


Vv = 1 m³ - Vs; Vs = 11,8414/27,52; Vs = 0,4303
Vv = 1 – 0,4303; Vv = 0,5697;
Sr = 0,2934/0,5697; Sr = 51,51%;
n = Vv/Vtotal; n = 0,5697/1; n = 56,97%;
e = Vv/Vs; e = 0,5697/0,4304; e = 1,324;
γ d = Ms/Vtotal; γd = 11,8414/1; γd = 11,84 kN/m³;

Exercício 9:
Supondo que um solo com IP = 22% passou do limite de liquidez para o limite de plasticidade,
que quantidade de água foi retirada desse solo (admita que 1 m3 desse solos pese 1520 kgf).
Dado γs = 27,47 kN/m3.

Resolução:

γs = 27,47 kN/m3 (2800 kgf/m³); γw = 9,81 kN/m3 (1000 kgf/m³)


1520 kgf/m³, onde o m³ é composto por uma mistura parte sólida (B) e parte água (A).
1520 = 2800 x A + 1000 x B (:1000); A + B = 100%; A = 1 - B;
2,8 x (1 – B) + B = 1,52; 1,8 x B = 1,28; B = 71,11%; A = 28,89%;

22% da massa de sólido é a quantidade de água que foi retirada desse solo, logo:
Ms = 0,2889 x 2800; Ms = 808,89 kg;
Mw = 808,89 x 0,22; Mwretirada = 177,96 kg;

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Exercício 10:
Calcular a quantidade de solo e de água que devem ser utilizados para moldar um corpo de prova
cilíndrico de 10,0 cm de diâmetro e 20,0 cm de altura, sabendo-se que o solo se encontra com um
teor de umidade de 9% e que o corpo de prova deverá ter γ = 20,11 kN/m3 e W = 18%.

Resolução:

γ = 20,11 kN/m3 (2,0499 g/cm³)


Vtotal = 20 x π x 5²; Vtotal = 1570,796 cm³;
M
   M total  2,0499  1570,796  M total  3220,05 g
V

Mw
w  M w  0,18  M s  M total  M w  M s  M total  1,18  M s
Ms
Ms = Mtotal/1,18; Ms = 3220,05/1,18; Ms = 2728,86;
Agora encontramos a massa total caso o solo estivesse:
W = 0,09; Ms x 0,09 = Mw; Mtotal` = (Mw + Ms) = 1,09 x Ms;
Mtotal` = 1,09 x 2728,86; Mtotal` = 2974,45, essa é a massa total utilizada do solo com 9%;
Com W = 18%, temos Mw = Mtotal – Ms; Mw = 3220,05 – 2728,86; Mw = 491,19;
Com W = 9%, temos Mw` = Mtotal` – Ms; Mw` = 2974,45 – 2728,86; Mw` = 245,59;
A quantidade de água adicionada é a diferença entre Mw – Mw’,
Mw = Mw’ – Mw; Mw = 245,60 g.

Exercício 11:
Deseja-se construir um aterro com volume de 100.000 m3, γ = 17,66 kN/m3, W = 15%. A área de
empréstimo apresenta um solo com γs = 26,49 kN/m3 e n = 58%. Qual o volume a ser escavado
para se construir o citado aterro?

Resolução:

Mw
w  M w  0,15  M s  M total  M w  M s  M total  1,15  M s
Ms
Msaterro = Mtotal/1,15; Mtotal = 100.00 m³ x 17,66 kN/m³; Mtotal = 1766000 kN;

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Msaterro = 1766000/1,15; Msaterro= 1535652,17 kN;


nemp = Vvemp/Vtotal; nemp = 0,58; Consideremos Vtotal = 1m³, temos:
Vvemp = 0,58 m³ Vtotal = Vvemp + Vsemp; Vsemp = 0,42;
γd = Msemp/Vtotal; Msemp = Vsemp x γs; Msemp = 0,42 x 26,49;

Msemp = 11,1258 kN γd = 11,1258 kN/m³;


O volume total do solo de empréstimo será:
Vtotal = Msaterro/ γd; Vtotal = 1535652,17/11,1258 Vtotal = 138026.22 m³.

12. Uma amostra de solo úmido tem volume de 52,3 cm3 e pesa 74,2 g. Depois de seca em estufa
passa a pesar 63,3 g. Adotar γs = 26,19 kN/m3 e calcular: Sr, w, e e.

Resolução:

γs = 26,19 kN/m³ = 2,67 g/cm³

M w 10,9
w   0,1721  17,21%
M s 63,3

Vw 10,9
Sr    0,3811  38,11%
Vv 28,6

M M 63,3
   Vs    Vs  23,70cm³
Vs  2,67

Vv 52,3  23,70
e   1,206
Vs 23,70

13. Uma amostra indeformada de uma argila orgânica saturada tem um volume de 17,4 cm3 e
massa 29,8 g; após secagem em estufa a 105oC o seu volume passou a 10,5 cm3 e a massa a
19,60 g. Calcular:

a) Teor de umidade, w;
M 29,8  19,6 10,2
w w    0,52  52%
Ms 19,6 19,6

b) Índice de vazios da amostra saturada, e;

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Vw = 10,20-(17,4-10,5) = 3,3cm³
Vs = 10,5-3,3 = 7,2 cm³
V 10,2
e v   1,417
Vs 7, 2

c) Massa específica dos sólidos, γs;

M s 19,60
s    2,722 g/cm³  s = 26,71 kN/m³
Vs 7, 2

d) Massa específica aparente seca, γd;

M s 19,60
d    1,1264 g/cm³  d = 11,05 kN/m³
Mt 17,4

e) Massa específica do solo seco, γ;

M t 19,60
    1,867 g/cm³  = 18,31 kN/m³
Mt 10,5

f) Massa específica saturada, γsat;

M s 29,80
 sat    1,713 g / cm³  sat = 16,80 kN/m³
Vs 17,4

g) Índice de vazios do solo seco, e.

Vv 3,3
e   0,46  46%
V s 7, 2

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CAPÍTULO IV
4. ESTRUTURA DOS SOLOS

4.1. Introdução
Define-se a estrutura do solo como a forma pela qual estão dispostas as suas partículas,
formando um agregado. Na verdade a estrutura constituiria a propriedade que proporciona a
integridade do solo, o que torna o conceito mais amplo e abrangente. Dentre os principais
componentes da estrutura do solo, destacam-se então: a mineralogia, o tamanho e arranjo físico,
bem como as proporções relativas das partículas; tamanho dos poros e distribuição das fases
fluidas nesses poros; a química das três fases constituintes do solo, com ênfase nas forças
existentes entre as partículas.

4.2. Estrutura dos Solos Grossos


No caso das areias, supondo-as formadas de grãos esféricos e uniformes, compreende-se
facilmente que a disposição dos grãos só poderá variar entre uma estrutura fofa e uma estrutura
compacta, conforme se vê na Figura 20.

Figura 20 - Estruturas dos dolos grossos.

Essas estruturas são chamadas do tipo intergranular e a força que atua (prevalece) quando do
processo da sedimentação, é a de gravidade (peso próprio dos grãos).

O comportamento mecânico desses solos grossos fica determinado fundamentalmente pela


condição de compacidade com que ele se encontra. Para medir essa condição foi introduzido o
conceito de compacidade relativa (Dr) e definida por:

emax  enat
Dr  100 %
emax  emin

Nessa expressão: emax é índice de vazios correspondente ao estado mais fofo possível; emin é o
índice de vazios correspondente ao estado mais compacto possível e; enat é o índice de vazios
natural. A compacidade relativa pode ser obtida em laboratório, se bem que existe uma série de
divergências acerca da forma do executar o ensaio. Um dos mais utilizados métodos atualmente,
é o D 2049-69 da ASTM (ASTM Test for Relative Density of Cohesionless Soils – ref. 01).

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4.3. Estrutura dos Solos Finos


Em se tratando dos solos finos, a situação torna-se muito mais complexa, uma vez que agora
passa a interferir uma série de fatores, tais como as forças de superfície entre as partículas e a
concentração de íons, no líquido em que se deu a sedimentação.

As concepções clássicas acerca da estrutura dos solos finos devem-se a Terzaghi que sugeriu a
estrutura alveolar e a floculenta.

Na estrutura alveolar, característica de solos com partículas da ordem de 0,02 mm, a força da
gravidade e as forças de superfície quase se equivalem. As partículas sedimentando em água ou
em ar podem aderir-se tendendo a formar uma estrutura semelhante a um favo de mel de abelhas,
conforme se mostra na Figura 21.

No caso de partículas menores que 0,02 mm, estas não sedimentam isoladamente por causa do
seu pequeno peso. Entretanto, estas partículas ainda em suspensão podem vir a tocar-se e unir-se,
formando grumos de peso maior que podem vir a sedimentar. Comp1etada a sedimentação, o
diversos grumos formam a chamada estrutura floculenta, semelhante alveolar, nas agora os
alvéolos são com postos por esses grumos, conforme se mostra na Figura 22.

Figura 21 - Estrutura alveolar. Figura 22 - Estrutura floculenta.

Como em a natureza o processo de sedimentação envolve partículas dos mais diversos tamanhos,
as estruturas anteriormente descritas raramente ocorrem isoladamente.

A estrutura composta formada por grãos grossos e por conjuntos de partículas finas que
proporcionam uma ligação entre as diversas partículas. A estrutura mostrada na Figura 23 ocorre
freqüentemente quando a sedimentação se dá em ambiente marinho ou lacustre, com acentuada
concentração de sais.

Interpretações mais recentes sugerem novas idéias sobre o mecanismo de formação da estrutura
floculada.

Imaginando partículas de solo fino sedimentado em meio aquoso, tem-se que essas partículas
carregadas negativamente podem estar envolvidas por cátions, os quais estarão livres (os mais
distantes) ou adsorvidos. Isso gera potenciais de atração e de repulsão que tendem a variar com a
distância, com a concentração de íons e com a temperatura. Dessa forma, em função desses
potenciais de atração e repulsão, podem originar-se situações distintas, como a que ocorre no

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MECÂNICA DOS SOLOS, Benedito Bueno & Orêncio Vilar 49

estado disperso, em que as forças de repulsão fazem com que as partículas se sedimentem
separadamente, e adotem uma disposição paralela.

Quando os potenciais de atração prevalecem, as partículas tendem a aglutinar-se formando o


estado floculado. Tal pode se dar quando ocorre a sedimentação em água salgada, pois a
concentração de íons tende a aglutinar as partículas, formando os flóculos, que agora
sedimentam, sob a ação da gravidade, e originam a estrutura floculada.

Figura 23 - Estrutura composta (Casagrande).

Entretanto, como foi salientado, podem ocorrer situações intermediárias, em virtude da


concentração de íons. A Figura 24 mostra três estruturas que ocorrem por causa da concentração
de íons. No caso (a) tem-se uma estrutura floculada constituída em ambiente salino de
sedimentação (35 g/l de NaCl); em (b), a estrutura floculada constituída em ambiente não salino
e em (c) estrutura dispersa.

a) floculação salina b) floculação não salina c) dispersão

Figura 24 - Estrutura de sedimentos.

Como é fácil visualizar, nota-se que as estruturas dos solos finos, dada a forma e a disposição das
partículas que as compõem, são bastante porosas, isto é, possuem um grande volume de vazios, o
que confere a esses solos uma considerável compressibilidade. O aumento de peso graças à

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MECÂNICA DOS SOLOS, Benedito Bueno & Orêncio Vilar 50

disposição de novas camadas, faz com que seja reduzido o volume de vazios, com a conseqüente
expulsão da água contida nesses vazios.

Compreende-se intuitivamente, que qualquer acréscimo de cargas (por causa de uma construção,
por exemplo) sobre um solo deste tipo, tenderá a provocar uma diminuição do volume de vazios,
dada a expulsão da água, uma vez que para a faixa de pressões normalmente utilizadas na
prática, as partículas sólidas do solo são praticamente incompressíveis. Tal fenômeno, de
particular interesse para a Engenharia, constitui o fenômeno de adensamento do solo, que será
tratado futuramente (CAPITULO IX).

4.4. Amolgamento e sensibilidade das argilas


Entende-se por amolgamento a operação de amassamento da argila em todas as direções, sem
que ocorra alteração do teor de umidade. O amolgamento tende a destruir a estrutura original do
solo, Isto é, elimina as ligações existentes desde a sua formação, e provoca uma redução da
resistência.

A maior ou menor perda de resistência de uma argila, que ocorre pelo amolgamento, é medida
pela sensibilidade dessa argila que é definida, como a relação entre resistências à compressão
simples (CAPITULO XIII) do estado indeformado e do estado amolgado, isto é:

Rc
St 
Rc'

em que St é a sensibilidade, Rc resistência à compressão simples da amostra indeformada e Rc' é a


resistência à compressão simples da amostra amolgada.

As argilas, quanto à sensibilidade, classificam-se em:

St  1 sem sensibilidade
2  St  4 pequena a média sensibilidade = 1
St  8 extra sensíveis

Uma amostra amolgada comprime mais que a amostra indeformada, embora o seu índice de
compressão (CAPTTULO IX) seja menor. O que realmente ocorre e que o amolgamento elimina
o pré-adensamento do solo e este passa agora a comprimir-se sob efeito de seu próprio peso.
Outra alteração importante é com referência à permeabilidade, que se torna menor, quando o
solo é amolgado.

4.5. Tixotropia
A recuperação da resistência perdida pelo efeito do amolgamento recebe o nome de tixotropia.
Quando se revolve a argila, desequilibra-se as forças interpartículas, porém, permanecendo a
argila em repouso, gradualmente, os potenciais de atração e repulsão tendem a um estado de
equilíbrio mais estável, de maneira a recompor parte da resistência inicial.

O efeito da tixotropia é mais flagrante nas argilas montmoriloníticas. Tal propriedade encontra
grande utilização na prática como, por exemplo, na estabilização dos furos de paredes diafragma,
dos furos de sondagens e de poços de petróleo por meio do emprego de1amas bentoníticas.

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CAPÍTULO V

5. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

5.1. Introdução

Tem havido na Mecânica dos Solos um considerável esforço no sentido de criar um sistema de
classificação que, de fato, permita o agrupamento de solos dotados de características similares,
quer sob o aspecto genético, quer de comportamento. A grande variedade de sistemas de
classificação existente procura, quase sempre em bases mais ou menos arbitrárias encontrar um
princípio qualificador universal que possibilite agrupar a grande variedade de solos existentes em
classes, com o objetivo de não só facilitar os estudos de caracterização, senão também antever o
comportamento diante das solicitações, a que serão submetidos.

Diferentemente das outras ciências deve interessar à Mecânica dos Solos um sistema de
classificação que prefira o comportamento dos solos à sua constituição, à origem, à formação etc.
Não se quer, com isso, criar um desinteresse por estes últimos aspectos. Eles terão uma
considerável importância à medida que interferirem de forma significativa no comportamento do
solo.

Sob o aspecto mais prático pode-se dizer que é necessário haver várias classificações, que
possam atender mais especificamente aos vários campos da Geotecnia. Pode-se imaginar que
um sistema de classificação que atenda aos interesses da área de estradas não pode atender com a
mesma eficiência a área de fundações.

Em resumo, devem-se utilizar os sistemas de classificação existentes, com certa reserva, tendo
em conta para que fim o sistema foi proposto e sobre que solos o processo foi elaborado. Ainda
sob este último aspecto pode-se dizer que nós brasileiros devemos ter um cuidado maior, visto
que os países criadores destes sistemas de classificação possuem climas bem diferentes do nosso,
e portanto solos com condições particulares.

Vale ainda lembrar os comentários de Nogami, referentes aos sistemas de classificação. Segundo
este autor, nos países de origem, geralmente do Hemisfério Norte com climas temperados, a
fração areia e silte é quase totalmente composta por quartzo, enquanto nos solos tropicais pode
ocorrer minerais como feldspatos, micas, limonitas, magnetita, ilmenita etc., além de fragmentos
de rochas e concreções lateríticas e que, por vezes, o mineral quartzo pede mesmo estar ausente
da fração areia de muitos destes solos.

De acordo com o que se espera dos sistemas de classificação, eles devem obedecer aos seguintes
quesitos.

a. ser simples, facilmente memorizável e permitir uma rápida determinação do grupo a que
o solo pertence, permitindo a classificação por meio de processos simples de análise
visual e táctil;
b. ser flexível, para tornar-se geral ou particular, quando o caso exigir;
c. ser capaz de permitir uma expansão a "posteriori", permitindo subdivisões.

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MECÂNICA DOS SOLOS, Benedito Bueno & Orêncio Vilar 52

Dentre os vários sistemas de classificação existentes vale citar:

 classificação por tipos de solos;


 classificação genética geral;
 classificação granulométrica;
 classificação unificada (U.S. Corps of Engineers)
 classificação HRB (Highway Research Board).

5.2. Classificação por tipo do solo

É um sistema de classificação descritivo em que o reconhecimento a que determinado grupo


pertence é baseado em análise visual e táctil (Capítulo II).

5.3. Classificação Genética Geral

Ë um sistema de classificação também de natureza descritiva, sendo necessário para a sua


utilização um conhecimento da gênese dos solos ou do uma forma que seja mais simples, fazer
uma análise da sua macroestrutura, cor e da posição de coleta da amostra no perfil do subsolo.

Foi proposta com a finalidade de ser usada em problemas de estradas; divide os solos em três
categorias, a saber::

a. solo superficial : solo que constitui o horizonte superficial , normalmente contendo


matéria orgânica. Nesse horizonte concentra-se o campo de estudo da pedologia. Possui
estrutura, cor e constituição mineralógica diferentes das camadas inferiores. A espessura
varia de alguns decímetros a alguns metros.
b. solo de alteração : solo proveniente da decomposição das rochas graças aos processos de
intemperismo. Em condições normais, acha-se subjacente ao solo superficial. É um solo
residual e pode, freqüentemente, no Brasil, atingir até dezenas de metros. São solos de
granulometria crescente com a profundidade.
c. c. solo transportado : solo originado do transporte e deposição do material, por meio
dos processos geológicos de superfície. A granulometria é mais ou menos uniforme, de
acordo com o agente transportador. Em condições normais, pode constituir as camadas
aflorantes ou estar subjacente ao solo superficial. Atinge, por vezes, espessuras de
centenas do metros.

5.4. Classificação granulométrica

A composição granulométrica do solo, como foi visto no Capítulo III. não só corresponde à sua
aparência visual e sensível, como determina, especialmente para os solos grossos, as
características de seu comportamento.

A determinação da curva granulométrica de um solo é tarefa simples o os métodos atuais


conduzem a uma exatidão razoável. Nela os solos são designados pelo nome da fração
preponderante.

Atualização:09/05/2016
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Esta última afirmação deve ser analisada com maior rigor, pois sabe-se que as definições não
deveriam ser baseadas simplesmente nas frações preponderantes, porquanto nem sempre são elas
que ditam o comportamento de um solo. Neste caso, preferindo-se agrupar os solos quanto ao
comportamento em detrimento da constituição, a classificação deveria denominá-lo de acordo
com a fração mais ativa, no seu comportamento.

Embora hoje recomendada mais para os solos grossos, a classificação granulométrica tornou-se
universalmente empregada. Não existe entretanto uma concordância entre os geotécnicos quanto
ao intervalo de variação dos diâmetros de cada uma das frações que compõem os solos. A Figura
25 dá uma idéia deste fato.

Além das escalas granulométricas, foram grandemente utilizados no passado os diagramas


triangulares (triangulo de FERET), Figura 26, em que o solo é dividido em três classes, isto é,
areia, silte e argila. A soma das porcentagens destas três frações é 100 %, e conduzem a um
ponto no interior do triângulo. Este ponto cai em áreas, nas quais o triângulo é dividido, e que
fornece a classificação do solo.

Figura 25 – Escalas granulométricas

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Figura 26 – Diagrama triangular (triângulo de FERET)

5.5. Clasificação do U.S. Corps of Engineers (Unificada)

Esta classificação apresentada por Arthur Casagrande, em 1942, visava classificar os solos com
o propósito de utilizá-los na construção de aeroportos, razão pela qual é conhecida também como
classificação para aeroporto. Foi depois adotada pelo U.S. Corps of Engineers que lhe deu o
nome e a divulgou.

Além da granulometria, os limites de consistência são utilizados como elementos qualificadores.

Cada solo é representado por duas letras: um prefixo e um sufixo. O prefixo é uma das
subdivisões ligada ao tipo; o sufixo, às características granulométricas e à plasticidade.

Os materiais terrosos são divididos em duas grandes classes: material grosso (solos tendo mais
de 50 % retidos na # 200) e material fino (solos tendo mais de 50 % passando na # 200).

A classe dos materiais grosseiros foi dividida em dois grupos: pedregulhos e areias,
representados pelos prefixos G (gravel) e S (sand) - iniciais de suas classificações em Inglês,
respectivamente.

Cada um destes dois grupos foi dividido em quatro subgrupos, representados pelos seguintes
sufixos:

 W (well) - material limpo, bem graduado

 P (poor) - material limpo, mau graduado

 C (clay) - material bem graduado com bom aglutinante argiloso

 F (fine) - material com excesso de finos

Os materiais do tipo "W" possuem diferentes coeficientes de não uniformidade, Cu, com valores
até acima de 20 e os materiais do tipo "P", geralmente inferiores a 5.

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Podem-se obter por meio da combinação destas letras os seguintes subgrupos: GW; GP; CC; GF;
SW; SP; SC; SF.

A classe dos materiais finos foi dividida em três grupos:silte e areia muito fina, argila inorgânica
e silte e argilas orgânicas, representados pelo prefixo M (Mo); C (Clay) e O (Organic),
respectivamente. Cada um destes grupos é subdividido em dois subgrupos representados pelos
sufixos:

 H (High) - solos com alta compressibilidade, apresentando LL > 50.

 L (Lo) - solos com baixa compressibilidade, apresentamdo LL < 50

Pode-se obter com a combinação destas letras os seguintes subgrupos: ML; MH: CL; CH: OL; e
OH.

Alem dos subgrupos já citados existe um outro tipo de solo que não se enquadra em nenhum
deles, e são os solos turfosos, contendo elevado teor de matéria orgânica, e tendo alta
compressibilidade. Este subgrupo foi designado pela sua abreviatura em Inglês Pt (Peat).

Para uma visualização mais fácil da classificação dos solos finos, pode-se lançar mão da carta de
plasticidade. Nela, apresenta-se uma variação do limite de liquidez, abscissas, e, em função do
índice de plasticidade, ordenadas, A carta é dividida em regiões limitadas por duas linhas. A
primeira, linha A com a equação: IP - 0,73 (LL-20) separa os solos orgânicos dos inorgânicos. A
segunda, Linha B, paralela ao eixo das ordenadas, tem equação: LL = 50. À sua direita situam-se
os solos de alta compressibilidade; à sua esquerda, os de baixa compressibilidade.

Quando um material cai em uma zona fronteiriça, entre duas regiões pode-se classificá-lo com
letras dobradas (como CL - ML por exemplo), urna vez que ele não possui características
específicas de determinada região. Os Quadros IV, V e VI resumem a classificação U.S. Public
Roads (Unificada) e a Figura 27 mostra a carta de plasticidade.

5.6 . Classificação HRB

A classificação HRB provém de uma adaptação da classificação do U.S. Public Roads. Ela
fundamenta-se na granulometria, limite de liquidez e índice de plasticidade dos solos. Tal como
a classificação do Public Roads, ela foi proposta com o objetivo de ser usada na área de estradas.
Algumas modificações foram introduzidas na classificação original, entre as quais a criação do
chamado índice de grupo, número inteiro com intervalo de variação entre 0 e 20.

Quadro IV – Classificação Unificada

Quadro V – Classificação Unificada

Quadro VI – Classificação Unificada

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Figura 27 - Carta de plasticidade

O índice de grupo estabelece a ordenação das solos dentro de um grupo, conforme suas aptidões.
sendo pior o solo que apresentar maior índice de grupo, como, por exemplo, o solo A4(7) é
melhor do que o solo Á4(9).

Pode-se determinar o IC por meio da fórmula abaixo ou com o uso dos gráficos da Figura 28.

IG  0,2 a  0,05 a c  0,01 b d

 a - porcentagem do solo que passa na malha 200 (ASTN) menos 35. Se a porcentagem for
menor do que 35, adota-se 33 e se for maior do que 75 adota-se 75. Desta forma. estabelece-
se um número inteiro cujo intervalo de variação é de 0 a 40.

a  (%  #200)  35

 b - porcentagem do solo que passa na malha 200 (ASTM) menos 15. Se a porcentagem for
menor do que 15, adota-se 15, e se for maior do que 35, adota-se 35. Desta forma, cria-se um
número inteiro com intervalo de variação entre O e 40.

b  (%  200)  15

 c - valor do limite de liquidez do material menos 40. Se o valor de LL for maior que 60,
adota-se 60 e se for menor que 40, adota-se 40. Assim, cria-se um número inteiro, variando
de O a 20.

c  LL  40

 d - valor do índice de plasticidade do material menos 10. Se este valor for menor do que 10,
adota-se 10 e se for maior do que 30, adota-se 30. Estabelece-se, deste modo, um número
inteiro com intervalo de variação entre O e 20.

d  IP  10

Os solos são classificados em 7 grupos, de acordo com a granulometria (# 10, 50, 100, 200) e de
conformidade com os intervalos de variação dos limites de consistência e índice de grupo.

O Quadro VII fornece um resumo das características de cada grupo. A classificação é feita da
esquerda para a direita do quadro, e pode-se notar os seguintes aspectos:

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 Os solos grossos foram divididos em três grupos. Ai; A2 e A3.

 Grupo AI: Pedregulho e areia grossa bem graduados, com pouca ou nenhuma plasticidade.

 Grupo A2: Pedregulho e areia grossa bem graduados, com material cimentante de natureza
friável ou plástica.

 Grupo A3: Areias finas não plásticas.

 b. Os solos finos foram divididos em quatro grupos, A4,AS,A6 e A7.

 Grupo A4: Solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e de argila.

 Grupo AS: Solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e de argila, rico cm
mica e diatomita.

 Grupo A6: Argilas siltosas medianamente plásticas com pouco ou nenhum material grosso.

 Grupo A7: Argilas plásticas com presença de matéria orgânica.

Caso o solo se enquadre no grupo A-7, deve-se verificar se ele pertence ao subgrupo A-7-5 ou A-7-6.

Se IP ≤ LL - 30 : solo pertence ao subgrupo A-7-5

Se IP > LL - 30 : solo pertence ao subgrupo A-7-6

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Tabela para classificação de solos HRB

Classificação Geral Materiais Granulares Materiais siltosos e argilosos


(35 % ou menos passando pela peneira nº200) (mais de 35 % passando pela peneira #
200

A-1 A-2 A-7

Grupos A3 A-4 A-5 A-6


A-1-a A-1-b A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7 A-7-5
A-7-6

Porcentagem que passa nas


peneiras de abertura
nominal
2,00 mm 50 máx
0,42 mm 30 máx 50 máx 51 mín
0,074 mm 15 máx 25 máx 10 máx 35 máx 35 máx 35 máx 35 máx 36 mín 36 mín 36 mín 36 mín
Características da fração que
passa na peneira 0,42 mm
Limite de Liquidez (%) - - - 40 máx 10 máx 41 mín 10 máx 40 máx 11 mín 41 mín 11 mín
Índice de Plasticidade (%) 6 máx 6 máx NP 40 máx 10 máx 41 mín 10 máx 40 máx 11 mín 41 mín 11 mín
Índice de Grupo (IG) 0 0 0 0 0 <4 <4 <8 < 12 < 16 < 20
Materiais predominantes Pedra britada, Areia Areia e areia siltosa ou argilosa Solos siltosos Solos argilosos
pedregulho e areia fina
Comportamento geral como Excelente a bom Regular a mau
subleito
Caso o solo se enquadre no grupo A-7, deve-se verificar se ele pertence ao subgrupo A-7-5 ou A-7-6.
Se IP ≤ LL - 30 : solo pertence ao subgrupo A-7-5
Se IP > LL - 30 : solo pertence ao subgrupo A-7-6

Atualizada em: 09/05/2016


Mecânica dos Solos 62

5.7. Exercícios resolvidos


Exercício 1: Abaixo se encontram os dados sobre uma amostra do solo, encontre os dados
necessários e responda o que se pede:
Peneiramento do Solo Fino
Peneiras Material % que passa
Retido Que passa
# Diâmetro (mm) g g
10 2.000 0.00 71.65 100.00
16 1.200 0.00 71.65 100.00
30 0.600 0.36 71.29 99.50
40 0.420 0.52 71.13 99.27
50 0.300 0.70 70.95 99.02
100 0.150 2.04 69.61 97.15
200 0.074 11.64 60.01 83.75

Limites de consistência
Limite de Liquidez (LL)
Determinação nº 1 2 3 4 5
Cápsula nº 80 95 32 100 5
Massa bruta úmida g 18.956 15.134 15.140 16.812 16.271
Massa bruta seca g 15.098 12.391 12.438 13.796 13.386
Tara da cápsula g 9.950 8.565 8.515 9.333 8.896
Teor de umidade %
Número de golpes 15 20 26 30 35
Limite de Plasticidade (LP)
Determinação nº 1 2 3 4 5
Cápsula nº P02 P52 64 23 7
Massa bruta úmida g 13.015 10.717 9.157 8.800 7.813
Massa bruta seca g 12.838 10.506 9.018 8.642 7.683
Tara da cápsula g 12.407 9.998 8.677 8.249 7.360
Teor de umidade %
Calcular o teor de umidade médio para determinar LL, LP e IP e com esses dados, classificar o
solo utilizando os sistemas HRB e USC.

Atualizada em: 09/05/2016


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA LIMITES DE


Departamento de Engenharia Civil CONSISTÊNCIA
Laboratório de Geotecnia

LLP 011 - 091


Viçosa - MG. 36570-000 tel.: (31) 3899 - 3104

Interessado CIV 336 - Exercício resolvido Data da amostragem


Procedência Mina Cafofo Data do ensaio 06/06/2011
Amostra IND 02 Profundidade 0.00-0.60 m Operador Giovani
Sondagem Obs.

RESULTADOS
LL 69 % LP 41 % IP 28 %

Limite de Liquidez (LL)


Determinação nº 1 2 3 4 5
Cápsula nº 80 95 32 100g 5
Massa bruta úmida g 18.956 15.134 15.140 16.812 16.271
Massa bruta seca g 15.098 12.391 12.438 13.796 13.386
Tara da cápsula g 9.950 8.565 8.515 9.333 8.896
Teor de umidade % 74.94 71.69 68.88 67.58 64.25
Número de golpes 15 20 26 30 35

Limite de Plasticidade (LP)


Determinação Nº nº 1 2 3 4 5
Cápsula Nº nº P02 P52 64 23 7
Massa bruta úmida g 13.015 10.717 9.157 8.800 7.813
Massa bruta seca g 12.838 10.506 9.018 8.642 7.683
Tara da cápsula g 12.407 9.998 8.677 8.249 7.360
Teor de umidade % 41.07 41.54 40.76 40.20 40.25
78.0

76.0

74.0
Teor de umidade (%)

72.0

70.0

68.0

66.0

64.0

62.0
10 Número de golpes 100

Calculado por : Verificado por : CHCS

IP = (LL-LP) = (69.5 – 40.8) = 28.7%


IG  0,2 a  0,05 a c  0,01 b d (determinar o IG – Índice de Grupo)

Atualização:09/05/2016
MECÂNICA DOS SOLOS, Benedito Bueno & Orêncio Vilar 64

a  (%  #200 )  35 b  (%  200)  15 c  LL  40 d  IP  10
a = 75-35 = 40 b=55-15 = 40 c=60-40 = 20 d=29-10 = 19
IG=0.2*40+0.005*40*20+0.01*40*19 = 19.0  Solo A-7

 Classificação utilizando sistema do Highway Research Board (H.R.B – Quadro VII).


Analise granulométrica - % passando na malha 200 é 83.75 > 35;
Características referentes aos limites de consistências: LL é 69.5% > 40%, LP é 40.8% > 10,
IG é 19.0 < 20.
Conclui-se que o solo pertence a classe A-& : solos argilosos cujo comportamento como
camada do pavimento é de regular a mau.

 Classificação utilizando o sistema unificado USC (Quadro IV).


% de partícula com diâmetro < 0.074mm 83.75% > 50%, LL 69.5 > 50;
Analisando a Figura 27: Carta de plasticidade, ele se encontra abaixo da Linha A. Como
sabemos que o solo tem siltes inorgânicos, caímos no símbolo MH.
O solo classificado como MH de acordo com a Tabela VI, é considerado de má qualidade
para ser trabalhado como material de construção e má valor de fundação, é semipermeável a
impermeável quando compactado, resistência quando compactado e saturado baixa a regular,
compressibilidade compactada e saturada alta e características de drenagem regular a má.

Atualização:09/05/2016
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CAPÍTULO VI

6. O PRINCÍPIO DAS TENSÕES EFETIVAS

6.1. Definições

O comportamento do um solo quando submetido a carregamentos, pode ser mais bem


visualizado, quando se imagina o solo composto das três fases (sólida; líquida e/ou gasosa
ocupando os poros). De imediato, decorre que as tensões de cisalhamento induzidas pelos
carregamentos deverão ser suportadas pelo esqueleto sólido, uma vez que a água e o ar não
oferecem resistência ao cisalhamento.

Por outro lado, as tensões normais , que se desenvolvem em qualquer plano, serão suportadas,
parte pelo esqueleto sólido e parte pela fase fluida. Particularmente. no caso dos solos saturados,
teríamos uma parcela da tensão normal atuando nos contactos interpartículas e a outra parcela
atuando como pressão na água existente nos vazios.

A pressão que atua na água intersticial chamada de poropressão (u) e a sua origem pode-se dar
pelas mais variadas razões, algumas delas bastante complexas, como, por exenp1o, pelo
cisalhamento ou adensamento de solo. A situação mais simples é a que ocorre pela submersão do
solo, Figura 29.

Figura 29 - Perfil de solo submerso

Neste caso, como os poros se interligam, a água intersticial está em contato com a água situada
sobre o solo e, portanto, a poropressão em qualquer ponto do plano a - a será igual à pressão
hidrostática.

u   w hw   w (h1  h2 )

A pressão que atua nos contactos interpartículas é denominada tensão efetiva (') e é a que
responde por todas as características de deformação e resistência do arcabouço sólido do solo.

A seguinte relação constitui um princípio da Mecânica dos Solos e vale para qualquer solo
saturado, independente da área de contacto entre as partíu1as:

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'  u

Portanto, a tensão efetiva (') corresponde à diferença entre a tensão total () e a poropressão
(u).

Vale ressaltar ainda que as considerações aqui feitas, se aplicam somente ao caso em que não
haja movimento de água no solo e que a poropressão é hidrostática, i.e., tem a mesma
intensidade em qualquer direção.

6.2. Implicações

As principais conseqüências da distinção entre as tensões totais e as tensões efetivas estão


diretamente ligadas à compressibilidade e à resistência do solo.

Seja o elemento de solo da Figura 30, comprimido por tensões iguais, em todas as faces.

Figura 30 – Elemento de solo comprimido

A variação de volume a que o elemento de solo estará sujeito não fica determinada pela tensão
normal total () aplicada, como poderia ser à primeira vista, mas sim pela tensão efetiva. Isso
pode ser exposto por meio da seguinte expressão:

V
 C (  u )
V

sendo V/V a variação de volume e, C a compressibilidade do esqueleto do solo.

Como se pode notar, uma variação de volume pode ocorrer sem que haja aumento de tensão total
sabre o solo; basta que haja uma variação da poropressão. Tal conclusão permite explicar os
recalques a que estão sujeitas estruturas apoiadas sobre solos de baixa permeabilidade, e que
ocorrem ao longo do tempo. A tensão total aplicada pelo peso da estrutura é suportada
primeiramente pela água intersticial, e só à medida que esse acréscimo de pressões na água for
dissipado (pela expulsão da água dos vazios.que se dá lentamente) é que o arcabouço sólido
passa a suportar as tensões. Assim, ocorre uma variação na poropressão, o que provoca uma
variação de volume do solo e, conseqüentemente, o recalque da estrutura (Capítulo IX).

No tocante à resistência dos solos (Capítulo XIII), tem-se que ela é diretamente influenciada pelo
atrito que se desenvolve nos contatos interpartículas. Tal atrito, é obviamente função das forças
normais interpartículas em vez de força normal total (que atua também na água intersticial).

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6.3. Massa específica submersa

Seja o perfil de solo esquematizado na Figura 29.Á tensão total () no plano a – a se deverá à
contribuição do peso de água e do peso de solo:

   w h1   sat h2

A poropressão (u) no plano considerado corresponde à pressão hidrostática:

u   w (h1  h2 )

Dessa forma a tensão efetiva será:

 '    u   w h1   sat h2   w (h1  h2 )

 '  ( sat   w ) h2   ' h2

A massa específica submersa ou efetiva ('), que corresponde à diferença entre a massa efetiva
saturada do solo e a massa específica da água, permite calcular a tensão efetiva, em qualquer
plano de um solo submerso.

O valor de ' pode ser obtido, também, tendo em conta o Princípio de Arquimedes. Veja a Figura
31 em que se fez o volume da amostra igual a 1.

Figura 31 - Elemento de solo

A massa de sólidos é (1 - n) s e a massa de água deslocada pelo volume de sólidos é (1 - n) w.

Dessa forma, temos, pelo Princípio de Arquimedes:

 '  (1  n)  s  (1  n)  w ou  '  (1  n)( s   w )

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6.4. Exercícios resolvidos


Exercício 1:
Encontre a tensão efetiva (' ) e a tensão total (.

0_____________________________________________________
Areia siltosa variegada
 W = 19%, e = 0,86
3- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - \/ - N.A.
 s = 26,18 kN/m³, Sr =100%
5______________________________________________________

Areia siltosa cinza

 s = 27,00 kN/m³, Sr = 100%, W = 40%


11_____________________________________________________
= M/V, s = Ms/Vs, w = Mw/Vw, e = Vv/Vs, W=Mw/Ms, e = Vv/Vs, = i x Zi,
u = w x Zi, ' = iui

Resolução:

 Prof. 0-3 m
Ms
s  , analisando um volume de 1m³ (Vs), temos 26,18 kN (Ms),
Vs

W x Ms = Mw; Mw = 0,19 x 26,18; Mw = 4,97 kN;

Mtotal = 26,18 + 4,97; Mtotal = 31,15 kN;

Vv V
e  0,86  v  Vv  0,86m³
Vs 1m³
Vtotal = Vs + Vw + Var; Vtotal = 1m³ + 0,51m³ + 0,35m³; Vtotal = 1,86m³;
Mw
w= 9,81 KN/m³ (1g/cm³);  w  ;  Vw = 4,97/9,81; Vw = 0,51 m³;
V twl

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Mws 4,97
w= 9,81 KN/m³ (1g/cm³);  w   Vw   0,51m ³
Vw 9,81

M total 31,15
    16,75kN / m³
V total 1,86

 Prof. 3-5 m
Analisando novamente um volume de 1m³ (Vs), temos Ms = 26,18 kN, e como Sr = 100% temos
que Vv=Vw;
Logo Vw = 0,86 m³,
Mw
w  ; Mw = 0,86 x 9,81; Mw = 8,43 kN,
V twl

Mtotal = 26,18 + 8,43; Mtotal = 34,6 kN,


Vtotal = 1m³ + 0,86m³; Vtotal = 1,86m³,
M 34,6
2   2= 18,61 KN/m³.
V 1,86

 Prof. 5-11 m

Tomando como base um valor de Vs = 1m³, temos Ms = 27,00 x 1; Ms = 27 kN,


Mw
W  ; Mw = 27 * 0,40; Mw = 10,8 kN,
Ms

Mw
w  ; Vw = 10,8/9,81; Vw = 1,10 kN/m³,
Vw
Novamente Vw=Vv,
Vv + Vs = 1,10 + 1,0; Vtotal = 2,10 m³,
Mtotal = 10,8 + 27,0; Mtotal = 37,8 kN,
M 37,8
3   ; 3= 18,00 KN/m³.
V 2,10

Tensão total () e tensão efetiva (').


 Cota -3
= 16,75 x 3 = 50,25 kPa
u = 10 x 0 = 0 kPa
' = 50,25 – 0 = 50,25 kPa

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 Cota – 5
= 50,25 + 18,61 x 2 = 87,47 kPa
u = 0 + 10 x 2 = 20 kPa
' = 87,47 – 20 = 67,47 kPa

 Cota – 11
= 87,47 + 18,0 x 6 = 195,47 kPa
u = 20 + 10 x 6 = 80 kPa
' = 195,47 - 80 = 115,47 kPa

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CAPÍTULO VII

7. TENSÕES ATUANTES NUM MACIÇO DE TERRA

7.1. Introdução

Os esforços no interior de certa massa de solo são produzidos, genericamente, pelas cargas
externas aplicadas ao solo e pelo peso do próprio solo. As considerações acerca dos esforços
introduzidos por um carregamento externo são bastante complexas e o seu tratamento,
normalmente se dá, a partir das hipóteses formuladas pela teoria da elasticidade.

7.2. Esforços geostáticos

No caso das tensões ocasionadas pelo peso próprio do solo (tensões geostáticas), é fácil verificar
que, se a superfície do terreno for horizontal, as tensões totais, a uma profundidade qualquer, são
obtidas considerando apenas o peso do solo sobrejacente (Figura 32 a).

Sendo a superfície do terreno horizontal, não existem tensões de cisalhamento nos planos
horizontais, e dessa forma a tensão vertical total gerada pelo solo é uma tensão principal.

Freqüentemente, a massa específica varia com a profundidade. Se o solo é estratificado e a massa


específica de cada estrato é diferente (Figura 32.b), pode-se calcular as tensões verticais totais da
seguinte forma:

 v   i zi

O valor de i considerar será a massa específica natural ou a saturada, dependendo das condições
em que o solo se encontre.

Estando o solo submerso, pode-se calcular a tensão total (), a poropressão (u) e a tensão efetiva
(') conforme se mostrou no ítem 3 do Capítulo VI.

Vale lembrar que a tensão efetiva (') num plano qualquer. poderá ser calculada diretamente,
utilizando as massas específicas submersas dos solos sobrejacentes ao plano considerado.

É de fundamental importância notar que no elemento de solo (da Figura 32 a), além da tensão
vertical, por causa do peso próprio, também ocorrem tensões horizontais, que sã uma parcela da
tensão vertical atuante, ou seja:

 h  K v

na qual K é denominado coeficiente de empuxo.

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Quando não ocorrem deformações na massa de solo, tem-se o coeficiente de repouso (K = K0)
que pode ser determinado pela Teoria da Elasticidade, admitindo o solo como homogêneo e
isótropo. Veja a Figura 32 a.

Figura 32 – Perfil de solo homogêneo e estraficado

Se não ocorrerem deformações horizontais, então pode-se escrever por exemplo:

 v h  h
x     0
E E E

em que  é o coeficiente de Poisson, E é o módulo de elasticidade do solo e h=K0v.

Substituindo o valor de h e reescrevendo a expressão anterior obtém-se:

 v K 0 h  K 0 v 
   0 portanto: K0 
E E E 1 

O conhecimento do coeficiente de empuxo é de fundamental importância para a resolução de


muitos problemas de Engenharia de Solos (muros de arrimo, escavações, etc), pois permite
determinar as tensões horizontais na massa de solo e, por extensão, a resultante dessas tensões é
comumente denominada de empuxo. O estudo dos empuxos será efetuado em outro capítulo.

No caso da superfície do terreno não ser horizontal, considerando o caso de talude infinito, como
mostrado na Figura 33 (a), tem-se que o peso da coluna de solo (P) tem a mesma linha de ação
da resultante R, uma vez que Fe e Fd são iguais por estarem à mesma profundidade e terem a
mesma linha de ação para que haja equilíbrio estático. Disso resulta que R=P.

O Valor de P, considerando largura unitária no plano normal ao papel, será:

P=Bh

Porém, como b = b0 cos(i), P= b0 h cos(i)

Tem-se ainda que:

N= P cos(i) e T = P sen(i)

Tais forças agem numa seção de lado b0 e extensão unitária, portanto (Figura 33b):

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P
v  ;  v   h cos(i)
b0
N
h  ;  h   h cos 2 (i)
b0
T
 ;    h sen(i ) cos(i)
b0

Figura 33 - Talude infinito

7.3. Propagação de tensões no solo

Os carregamentos aplicados à superfície de um terreno induzem tensões que se propagam no


interior da massa de solo. A distribuição desses esforços é calculada, empregando as soluções
obtidas a partir da Teoria da Elasticidade.

Conquanto sejam muitas as críticas que se levantem às hipóteses formuladas na Teoria da


Plasticidade (TP), a sua aplicação aos casos práticos é bastante freqüente, dada a sua
simplicidade, quando comparadas a outros tipos de solução.

Existem soluções para uma grande variedade de tipos de carregamento, entretanto, serão
considerados apenas os casos mais freqüentes, sem preocupação com o seu desenvolvimento
matemático.

7.3.1 - A Solução de Boussinesq

Os esforços induzidos por uma carga concentrada atuando na superfície horizontal de um semi-
espaço infinito homogêneo, isótropo e elástico linear foram calculados primeiramente por
Boussinesq, em 1885.

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A Figura 34 representa a carga concentrada P. atuando num ponto O, que é a origem de um


sistema cartesiano ortogonal. O ponto A em que se deseja calcular as tensões, tem coordenadas
x, y e z, sendo r a distância radial de A' O ; R o vetor posição de A, e  o ângulo entre R e z.

As tensões verticais, radiais e de cisalhamento serão:

5

3P   r  
5 3 2
3P cos  3P z 2
z    1    
2 z 2 2 R 5 2z 2   z  

P  r2z  R  z 
r  3 5  (1  2 ) 
2 
2  R  R r 

3P r z 2 z
 rz  ; cos  
2 R 5 x2  y2  z2

Figura 34 – Carga concentrada aplicada à superfície do terreno

É fácil verificar pela fórmula de z, que há uma distribuição simétrica de tensões em cada plano
horizontal, no interior da massa de solo. Em determinado plano, a uma profundidade z, a tensão
máxima ocorre na mesma vertical de aplicação de P ( = 0º); por outro lado, à medida que se
distancia horizontalmente do ponto de aplicação de P (aumento de r) diminui a intensidade das
tensões aplicadas, até um ponto em que a carga P, praticamente não exerce mais influência. Esta
situação é esquematizada na Figura 35, para alguns planos horizontais.

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Figura 35 - Propagação de tensões no interior do solo

Unindo-se os pontos da massa de solo solicitados por igual tensão, conforme esquematizado na
Figura 36, tem-se ar ISÓBARAS. O conjunto de isóbaras representado no espaço 3D forma o
que se chama de bulbo de tensões.

Figura 36 - Bulbo de tensões

As tensões se propagam até grandes profundidades, entre tanto, para fins práticos, costuma-se
arbitrar que o solo e efetivamente solicitado até a profundidade delimitada, pela isóbara de 10 %
da carga aplicada à superfície.

7.3.2. Extensão da solução de Boussinesq

Além da carga concentrada, soluções para outros tipos de carregamentos, muito freqüentes na
prática, foram obtidas a partir da solução proposta por Boussinesq.

a. Carregamento uniformemente distribuído sobre uma placa retangular

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Para o caso de uma área retangular de lados a e b uniformemente carregada (Figura 37), as
tensões em um ponto situado a uma profundidade z, na mesma vertical do vértice O são dadas
pela seguinte formula.

 2 2
1
2 2 2 2
1 
 2mn(m  n  1) m  n  2  arctg 2 m n (m  n  1) 
P 2 2
z 
4  m2  n2  m2 n2  1 m2  n2  1 m2  n2  m2 n2  1 
 

a b
em que m  e n
z z

Figura 37 - Placa retangular uniformemente carregada

À mesma expressão pode ser escrita adimensionalmente, resultando:

z
 I  , sendo I igual ao segundo termo da expressão anterior.
p

Os valores de I podem ser determinados em um gráfico, em função m e n. Esse gráfico é


apresentado na Figura 38 e dessa forma, para calcular z em um ponto, sob um vértice de uma
área uniformemente carregada, basta determinar a e b e os valores de m e n, e obter I do
gráfico.

É importante salientar que todas as deduções estão referenciadas a um sistema de coordenadas,


no qual o vértice O coincide com a origem. Para calcular o acréscimo de tensões em um ponto
que não passe pela vertical por O, deve-se adicionar e subtrair convenientemente áreas
carregadas ao problema em questão. Uma situação desse tipo é esquematizada na Figura 39.

Seja calcular a tensão vertical no ponto R produzida pela placa carregada ABDE:

I R  I ACGR  I BCHR  I DFGR  I EFHR

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Figura 38 – Fatores de influência para placa retangular uniformemente carregada


(Ábaco de Fadum, 1948)

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Figura 39 – Esquema para cálculo de z no ponto R

A Figura 40 mostra o bulbo de tensões para uma placa quadrado uniformemente carregada.

Figura 40 – Bulbo de tensões para placa quadrada (fonte ref. 05)

b - Carregamento unifome sobre uma placa retangular de comprimento infinito (Sapata


Corrida)

Em se tratando de uma placa retangular em que uma das dimensões e muito maior que a outra
(como por exemplo, no caso das sapatas corridas, fundação bastante comum em residências), os
esforços introduzidos na massa de solo podem ser calculados por meio da fórmula desenvolvida
por Carothers e Terzaghi. Veja o esquema da Figura 41, em que a placa tem largura 2 h, e está
carregada uniformemente com uma carga p. As tensões num ponto A situado a uma
profundidade z e distante x do centro da placa são dadas pelas seguintes expressões:

P
z  [  sen ( ) cos (2  )]

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P
x  [  sen ( ) cos (2  )]

P
 xz  [ sen ( ) sen (2  )]

Figura 41 – Placa retangular de comprimento infinito

O bulbo de pressões correspondentes a esse tipo de carregamento é mostrado na Figura 42.

c – Carregamento uniformemente distribuído sobre área circular

Os esforços produzidos por uma placa uniformemente carregada, na vertical que passa pelo
centro da placa, podem ser calculados por meio da integração da equação de Boussinesq, para
toda a área circular.

Tal integração foi realizada por Love, e na Figura 43 tem-se as características geométricas da
área carregada.

À tensão efetiva vertical produzida no ponto A situado a uma profundidade z é dada por:

 3 
   2

   
 z  1  
1  
 2 
  r  
 1   z   
   

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Figura 42 – Bulbo de tensões para placa retangular de comprimento (fonte ref. 5)

Figura 43 - Placa circular uniformemente carregada

Essa expressão, na prática é simplificada com a introdução de um fator de inf1uência, o qual é


tabelado em função da variável adimensional r/z. Dessa forma, a expressão para o cálculo de z
fica:
3
  2
 
 1 
 z  p I , sendo I  1 
 2
1   r  
  z  

No Quadro VIII têm-se alguns valores de I para distintas re1açõe r/z.

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QUADRO VIII – Fatores de influência para placa circular

r/z 0,10 0,25 0,50 0,75 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00

I 0,014 0,087 0,284 0,488 0,646 0,829 0,910 0,949 0,968

r/z 3,50 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 

I 0,979 0,986 0,992 0,995 0,997 0,9980 0,9986 0,999 1,00

d - Carregamento triangular de Comprimento Infinito

A solução para este tipo de carregamento encontra grande aplicação na avaliação de tensões
produzidas no interior de certa massa de solo por aterros, barragens e etc. Conquanto existam
soluções para diversas formas geométricas de carregamento (triângulos retângulo. escaleno;
trapézios, etc.), serão apontados a solução para o caso de carregamento em forma de um
triângulo isósceles e em forma de um trapézio retângulo.

À solução para esses casos foi proposta por Carothers, e a disposição geométrica do
carregamento triangular é mostrada na Figura 44.

Figura 44 - Carregamento em forma de triângulo isósceles de comprimento infinito

A Figura 45 apresenta a geometria cio carregamento, em forma de trapézio retângulo de


comprimento infinito. O acréscimo de tensão provocado pelo carregamento será:

P x 
z  1   2  (1   2 )
 b 

P x 2 z  r1 r 2 
x  1   2  (1   2 )  ln 
  b b  r 02 

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Figura 45 - Carregamento em forma de trapézio retângulo

7.3.3. O gráfico de Newmark

Baseado na equação de Love, que fornece o acréscimo de tensões geradas por uma placa circular
uniformemente carregada, Newmark desenvolveu um método gráfico que permite obter os
esforços verticais produzidos por qualquer condição de carregamento uniforme, atuando na
superfície do terreno.

À aplicação deste gráfico é bastante útil e simples, sobretudo quando se tem várias placas, de
diferentes formas, as quais aplicam ao terreno diferentes carregamentos. A equação de Love
pode ser escrita da seguinte forma:
3
  2
 
z  1 
 1  I
p  2 
1   r  
  z  

Para construir o gráfico de Newmark atribuem-se valores para I e calcula-se o raio da placa
necessário para produzir o acréscimo de pressões à profundidade z. Exemplificando: ao fazer
I = 0,1 resulta que r/z =0,27, ou seja, tendo-se um círculo de raio r = 0,27 z (Figura 46) este
produziria num ponto A, situado na vertical que passa pelo centro, um acréscimo de tensão:

 z  0,1 p

Se o círculo de raio r = 0,27z for dividido em partes iguais (nas cartas de Newmark, geralmente
20 partes), cada uma delas contribuirá com a mesma fração para o esforço final z; no caso de 20
partes, cada uma delas contribuirá com:

0,1 p
z   0,005 p
20

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Fazendo I = 0,2, resultaria r/z = 0,40, ou seja, para que no ponto A haja uma tensão z = 0,2 p é
necessário que a área carregada tenha r = 0.4 z.

Na Figura 46, concêntrico com o círculo anterior pode-se desenhar outro círculo de r = 0,40 z.
Como o primeiro círculo produzia um acréscimo de 0.1 p, é evidente que a coroa circular agora
gerada produz outro acréscimo igual a 0,1 p. Prolongando-se os raios que dividiam o primeiro
círculo em partes iguais, teremos a coroa circular dividida em partes cuja influência é também
0,005 p. A parcela de contribuição de cada uma das partes é chamada de unidade de influência,
e no exemplo dado vale 0,005.

Na Figura 47 apresenta-se um gráfico de Newmark com a respectiva escala (z) a partir do qual
foi construído.

Para calcular o acréscimo de tensões geradas por placa uniformemente carregada, faz-se
coincidir o centro do gráfico de Newmark com o ponto em que se deseja calcular esse acréscimo.
A área carregada é desenhada numa escala tal que a profundidade, em que se deseja conhecer o
acréscimo, fique representada pelo valor de z, a partir do qual foi elaborado o gráfico. Em
seguida, contam-se as unidades de influência englobadas pelo contorno da área, e calcula-se a
tensão vertical,que é dada por:

z  pNI

em que: N é o número de fatores de influência e I é o valor da unidade de influência (geralmente


I=0,005).

Figura 46 – Elaboração do gráfico de Newmark

7.3.4. A solução de Westergaard

Nos depósitos sedimentares em que aparecem entremeadas camadas de material fino e lentes de
areia, a solução de Boussinesq não se aplica, uma vez que estes depósitos têm capacidade de
oferecer grande resistência à deformações laterais. Para simular esta condição de anisotropia,
Westergaard introduziu um novo modelo matemático, baseado nas mesmas condições de

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carregamento de Boussinesq (Figura 48), e no qual as deformações laterais são totalmente


restringidas. Segundo Westergaard. a tensão vertical a uma profundidade z é dada por:

P (1  2 ) /(2  2 )
z  , em que  é o coeficiente de Poisson.
2 z 2  2 33
r 
(1  2 ) /( 2  2 )    
  z  

Quando  = 0 (materiais incompressíveis), a equação se simplifica para:

P 1
z  2 32
2 z  r 
2
1  2  
  z  

Figura 47 - Gráfico de Newmrk

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Figura 48 - Carga concentrada aplicado à superfície do terreno

Da mesma forma que ocorreu na solução de Boussinesq, a de Westergaard pode ser estendida
para outros tipos de carregamento. A Figura 49 mostra os bulbos de tensão para placa quadrada e
retangular de comprimento infinito, de acordo com Westergaard.

Figura 49 – Bulbos de tensão para placa quadrada e placa retangular de comprimento infinito,
segundo Westergoord (fonte ref. 5)

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7.3.5. Comparação entre as soluções de Boussinesq e Westergaard

Na comparação das duas soluções, para acréscimo de tensões verticais, pode-se concluir que:

a. para pequenas relações r/z. a solução de Boussinesq fornece valores maiores;

b. para o valor de r/z de cerca de l,8, as duas soluções fornecem valores aproximadamente
iguais;

c. c. para r/z maior que l,8 , a equação de Westergaard fornece valores maiores;

d. para uma placa retangular uniformemente carregada, quando a maior dimensão (l) for
maior que três vezes a menor dimensão (b) (l > 3b), pode-se considerar essa placa como
de comprimento infinito:

e. e. para uma profundidade (z) maior que três vezes a largura da placa uniformemente
carregada (z > 3h), pode-se considerar a carga concentrada atuando no centro de
gravidade da placa e calcular o acréscimo de tensões aplicando a fórmula de Boussinesq
para carga pontual.

Para obtenção de estimativas de geração de tensões ao longo da profundidade, pode-se admitir


que haja uma distribuição uniforme de tensões em áreas que aumentam progressivamente com a
profundidade.

Costuma-se arbitrar que essas tensões se propagam segundo uma inclinação de 2:1 ou segundo
algum ângulo (geralmente 30º).

De acordo com a Figura 50, admitindo-se uma distribuição de, 2:1, as tensões seriam:

P P
 z  q  , no caso de placa de forma quadrada: q 
( B  z )( L  z ) (B  z) 2

Figura 50 – Propagação de tensões pelo método 2:1

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7.3.6. Limitações da Teoria da Elasticidade

Ao tratar da aplicação das soluções da Teoria da Elasticidade ao problema de propagações de


tensões no solo, deve-se atentar para três discrepâncias que surgem das hipóteses daquela teoria
quando se refere a solos:

a. O solo pode ser admitido como elástico somente para pequenas deformações.
Dessa forma não há proporcionalidade exata entre tensão e deformação, sobretudo
quando as deformações são grandes. Nesse caso, necessário dividir o
carregamento que provoca a deformação, em estágios sucessivos e obter para
cada carregamento parâmetros elásticos diferentes. Portanto, para a aplicação da
Teoria da Elasticidade, é necessário que os acréscimos de tensão sejam pequenos
e que o estado final de tensões esteja muito aquém da ruptura.

b. O solo não apresenta um comportamento isotrópico, conforme estipulado nas


hipóteses da Teoria da Elasticidade. Geralmente, os módulos de elasticidade são
diferentes nas várias direções, em se tratando de solos.
Essa anisotropia não se prende ao fato de o subsolo ser constituído por camadas
de diferentes solos, visto que solos essencialmente diferentes, como por exemplo,
uma argila rija e uma areia compacta podem apresentar um comportamento
elástico semelhante. A restrição que se faz à homogeneidade do solo é que nos
solos arenosos, a resistência aumenta com o confinamento (e portanto com a
profundidade); o mesmo ocorre nas argilas normalmente adensadas, e dessa forma
é fácil notar que o modulo de elasticidade varia com a profundidade, o que
elimina as características de homogeneidade destes solos.

c. Segundo a Teoria da Elasticidade, o solo deve constituir um semi-espaço infinito


homogêneo. Essa condição pode ser satisfeita, quando o solo se apresenta
uniforme numa área compreendida por distâncias de cerca de quatro a cinco vezes
a menor dimensão da placa carregada.

7.4. Exercícios resolvidos


Exercício 1.

Encontre os valores para tensão no solo para os pontos dados na figura abaixo:
100 kN

1m

0,5m

1m

1,5m

2m

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Resolução:

Por Boussinesq

5 2

3P   r 2 
z  1    
2 z 2   z  

Para os pontos de 1-8


5 2 5 2

3 x100   1   3 x100   1  
2 2

1. z  1      3,42kN / m 2. z  1      8,44kN / m


2 (0,5) 2   0,5   2 (1) 2   1  
5 2 5 2

3 x100   1   3 x100   1  
2 2
                   
3. z  1      8,46kN / m 4. z  1      6,83kN / m
2 (1,5) 2   1,5   2 ( 2) 2   2  
5 2

3 x100   0  
2
           
5. z  1      190,99kN / m
2 (0,5) 2   0,5  
5 2 5 2

3 x100   0   3 x100   0  
2 2
 
6. z  1      47,74kN / m 7. z  1      21,22kN / m
2 (1) 2   1   2 (1,5) 2   1,5  
5 2

3 x100  0 2
          
8. z  1      11,94kN / m
2 (2) 2   2  

 
 

Dados Resultado
Pontos z (m) r (m) z
1 0,5 1 3,42
2 1 1 8,44
3 1,5 1 8,46
4 2 1 6,83
5 0,5 0 190,99
6 1 0 47,74
7 1,5 0 21,22
8 2 0 11,94

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CAPÍTULO VIII

8. PERMEABILIDADE DOS SOLOS

8.1. Introdução

Como já se viu, o solo é constituído de uma fase sólida e de uma fase fluida (água e/ou ar). A
fase fluida ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas que compõem o esqueleto do solo.
Particularmente, em se tratando da água, esta pode estar presente no solo sob as mais variadas
formas.

Nos solos grossos em que as forças de superfície são inexpressivas, essa água se encontra livre
entre as partículas, podendo estar sob equilíbrio hidrostático ou podendo fluir sob ação da
gravidade, desde que haja uma carga hidráulica.

Para os solos finos, a situação se torna mais complexa, uma vez que passam a atuar forças de
superfície de grande intensidade. Assim, nesses solos, existe uma camada de água adsorvida, a
qual pode estar sujeita a pressões muito altas, por causa das forças de atração existentes entre as
partículas. Próximo às partículas, essa água pode se encontrar solidificada, mesmo à temperatura
ambiente, e à medida que vai aumentando a distância, a água tende a tornar-se menos viscosa,
graças ao decréscimo de pressões. Esses filmes de água adsorvida propiciam um vínculo entre as
partículas, de forma que lhes confira uma resistência intrínseca chamada "coesão verdadeira".

O restante de água existente nesses solos finos se encontra livre, podendo fluir por entre as
partículas, desde que haja um potencial hidráulico para tal.

A maior ou menor facilidade que as partículas de água encontram para fluir por entre os vazios
do solo, constitui a propriedade chamada permeabilidade do solo.

8.2. Leis de Darcy e de Bernouilli


Existem dois tipos de escoamento para os fluidos reais, laminar e o turbulento, os quais são
regidos por leis diferentes da Mecânica dos Fluidos.

No âmbito da Mecânica dos Solos, interessa apenas o escoamento laminar, no qual as partículas
do fluido se movem em camadas segundo trajetórias retas e paralelas. O escoamento laminar fica
determinado por uma velocidade crítica, abaixo da qual toda a tendência à turbulência é
absorvida pela viscosidade do fluido. Verificou-se, experimentalmente, que a velocidade crítica,
para escoamento em tubos, corresponde a um número de Reynolds de cerca de 2000.

A lei de Darcy, válida para escoamento laminar, pode ser expressa da seguinte forma (Figura
51):

v = K . i,

na qual v é a velocidade de descarga, K é o coeficiente de permeabilidade de Darcy, i=H/L é o


gradiente hidráu1ico e representa a perda de carga (H) que decorreu da percolação da água
numa distancia L.

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Figura 51 – Escoamento de água através do solo.

Essa lei pode ser expressa, também, da seguinte forma:

QKi A

na qual, A é a área normal (secção) à direita do escoamento.

É importante notar que a velocidade (v) da lei de Darcy representa a velocidade de descarga e
não a velocidade de percolação (v) da água através dos poros do solo. Conquanto haja algumas
restrições quanto à sua aplicação, essa lei é utilizada, com muita freqüência, em muitos tópicos
da Mecânica dos Solos, dada a sua simplicidade e razoável precisão.

A lei de Bernouilli resulta da aplicação do princípio de conservação de energia ao escoamento de


um fluido, e, em nosso caso a água. A energia que um fluido incompressível em escoamento
permanente, possui, consiste em parcelas geradas pela pressão (piezométrica), pela velocidade
(cinética) e pela posição (altimétrica). Assim, na direção do escoamento, é possível sintetizar o
princípio de conservação da energia, por meio da seguinte expressão, que constitui a lei de
Bernouilli:

u v12 u2 v 22
Ht    z1    z2  cte
w 2g w 2g

Nesta expressão têm-se uma altura de carga de pressão ; uma carga cinética e uma
carga altimétrica .

A Figura 52 mostra um esquema da carga total atuante em determinada secção de um


escoamento.

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Figura 52 – Cargas atuantes numa secção de um escoamento.

Nos solos, a velocidade de percolação da água é pequena: a parcela de carga cinética é quase
desprazível, assim a carga total existente numa determinada seção é igual à soma das parcelas de
carga de pressão e de carga altimétrica:

u
H z
w

Por outro lado, quando da percolação ocorre uma perda de carga (H) por causa do atrito viscoso
da água com as partículas do solo. Este atrito proporciona o aparecimento das chamadas forças
de percolação, as quais serão ventiladas mais adiante. Assim a equação de Bernouilli se resume
a:

u1 u2
H  z1   z 2  H
w w

A Figura 53 mostra uma linha de fluxo de água através de um solo.

Dessa forma, entre as duas secções (1) e (2) ocorre uma perda de carga por causa do atrito
viscoso igual a:

u  u 
H   1  z1    2  z2 
w  w 

8.3. Determinação do coeficiente de permeabilidade

O coeficiente de permeabilidade de um solo pode ser obtido por meio, de métodos diretos e
indiretos. Os métodos diretos baseiam-se em ensaios de laboratório sobre amostras
representativas ou ensaios de campo. Os métodos indiretos se utilizam de correlações com
características do solo facilmente determináveis.

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Figura 53 - Cargas numa linha de fluxo através de um solo.

8.3.1 Métodos Diretos

Dentre os métodos diretos destacam-se os permeâmetros que são aparelhos destinados a medir a
permeabilidade dos solos em laboratório, e o ensaio de bombeamento, que é realizado "in situ”.
Ambos utilizam a lei de Darcy, para o cálculo do coeficiente de permeabilidade.

A Figura 54 mostra um esquema do ensaio de permeabilidade, à carga constante. O corpo de


prova, convenientemente colocado no permeâmetro, submetido a uma carga hidráulica de altura
h (diferença de nível entre o reservatório superior e inferior) e tem área A e altura L.

A água percolada pelo corpo de prova é recolhida numa proveta graduada, tomando-se a medida
de tempo.

Pela lei de Darcy:

V H
Q  K i A , mas i  então
t L

V H V L
K A , donde K 
t L Aht

Figura 54 - Permeâmetro de carga constante.

Este tipo de ensaio é empregado para solos de permeabilidade alta (areias e pedregulhos), uma
vez que nos solos pouco permeáveis, o intervalo de tempo necessário para que percole uma

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quantidade apreciável de água é bastante grande. Neste caso, utiliza-se o ensaio, à carga variável,
que está esquematizado na Figura 55.

Figura 55 – Permeâmetro de carga variável.

Anota-se o tempo necessário para o nível de água ir no tubo de área (a), de h0 até h1.

O volume de água em virtude de uma variação de nível (dh), será:

dv  a dh d

Pela Lei de Darcy, o volume correspondente à água que percolará pela amostra, será:

h
dv  K i A dt onde i 
L

Dessa forma:

h
 a dh  K A dt
L

Integrando entre (h0,t0) e (h1,t1) tem-se:


h1 t
dh KA 1 h KA
 a   dt donde a ln( )  t
h
h L t
h1 L
0 0

Assim:

aL h
K ln( 0 )
A t h1

Ou, como é mais frequente:

aL h
K  2,3 log( 0 )
A t h1

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É frequente, também, obter o coeficiente de permeabilidade diretamente, em laboratório, no


ensaio de adensamento, obedecendo basicamente ao mesmo princípio do permeâmetro de carga
variável.

Deve-se frisar que tais ensaios são realizados sobre amostras de pequenas dimensões, as quais
não representam as características gerais do solo no campo, com suas descontinuidades e
particularidades. A maneira mais realista de obter o coeficiente de permeabilidade é mediante
ensaios "in situ", tais como o ensaio de perda de água sob pressão (bombeamento), que é
bastante utilizado para o estudo da permeabilidade de maciços rochosos que servirão de
fundação para barragens.

A descrição mais pormenorizada de alguns métodos para obtenção do coeficiente de


permeabilidade "in situ" pode ser encontrada nas referências 7 e l5.

8.3.2. Métodos Indiretos

Pode-se estimar o coeficiente de permeabilidade de areias por intermédio de diversas fórmulas,


como, por exemplo, a desenvolvida por Hazen:

K  C De2 (cm / s)

em que: D é o diâmetro efetivo do solo, em centímetros e C é um coeficiente que varia entre 90 e


120, sendo 100 um valor frequentemente utilizado.

Uma restrição que se impõe para utilização dessa fórmula é a de que o coeficiente de não
uniformidade (Cu) seja menor que 3.

Em se tratando de siltes e argilas, pode-se obter o coeficiente de permeabilidade indiretamente,


por meio de dados fornecidos pelo ensaio de adensamento (CAPÍTIULO IX):

T H d2
K mv  w
t

em que: T é o fator tempo, para a porcentagem de adensamento; Hd é a distância de drenagem; t


é o tempo necessário para que ocorra a porcentagem de adensamento; mv é o coeficiente de
deformação volumétrica; e w é a massa específica da água.

8.4. Fatores que interferem na permeabilidade

Os fatores que exercem papel decisivo na permeabilidade de um solo estão ligados às


características do fluido, que está percolando e ao tipo de solo.

O peso específico e a viscosidade (normalmente a água) são duas propriedades do fluido que
exercem influência significativa. Sabe-se que essas duas propriedades variam, em função da
temperatura, entretanto, a viscosidade é muito mais afetada. Quando se determina o coeficiente
de permeabilidade de um solo, costuma-se apresentá-lo em referência à temperatura de 20ºC,
para padronizar o efeito da variação da viscosidade com a temperatura, por meio da expressão:

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T
K 20  KT
 20

em que: K20 é o coeficiente de permeabilidade a 20°C; KT é o coeficiente de permeabilidade a


TºC;  é a viscosidade da água a 20ºC; e a viscosidade da água a 20ºC.

As principais características do solo que afetam a permeabilidade são o tamanho das partículas, o
índice de vazios, o grau de saturação e a estrutura. Pode-se notar que qualquer tentativa no
sentido de procurar avaliar o efeito isolado de cada uma das características enumeradas é difícil,
porquanto elas, geralmente são interdependentes.

A título de informação, são apresentados alguns aspectos qualitativos, referentes à interferência


das características citadas:

a. tamanho das partículas: a permeabilidade varia grosseiramente com o quadrado do


tamanho das partículas (K = f (D2)). Tal constatação apoia-se na lei de Poiseuille, e foi
utilizada por Hazen, para avaliar o coeficiente de permeabilidade das areias a partir do
diâmetro efetivo;

b. índice de vazios: constatações experimentais e mesmo a equação de Kozeny-Carman


parecem mostrar que o coeficiente de permeabilidade pode ser colocado como uma reta,
em função do índice de vazios:

e3 e2
K a K  K   e2
1 e 1 e

tem-se notado que a relação e x log K aproxima-se bastante de uma reta, para quase
todos os tipos de solos;

c. grau de saturação: quanto maior o grau de saturação do solo que está sendo ensaiado,
maior será a sua permeabilidade, pois a presença de ar nos vazios tende a impedir a
passagem da água;

d. estrutura: amostras do mesmo solo, com mesmos índices de vazios tenderão a


apresentar permeabilidades diferentes, em função da estrutura. A amostra no estado
disperso terá uma permeabilidade menor que a amostra de estrutura floculada. Tal pode
ser aplicado ao caso dos maciços compactados (barragens de terra, por exemplo) em que
o arranjo das partículas condiciona a permeabilidade. Neste caso, verifica-se que a
permeabilidade na direção horizontal é maior que na vertical.

Finalizando este item, são apresentadas as equações de Poiseuille e de Kozeny-Carman, as quais


auxiliarão a entender a influência das características citadas.

A lei de Poiseuille aplica-se ao escoamento através de tubos capilares e foi estendida aos solos
por Taylor, com a fórmula:

 e3
K  CDs2
 1 e

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em que: K é o coeficiente de permeabilidade de Darcy; C é um fator de forma; Ds é um diâmetro


efetivo das partículas;  é o peso específico do fluido;  é a viscosidade do fluido; e é o índice de
vazios do solo.

A equação de Kozeny-Carman aplica-se à avaliação da permeabilidade dos meios porosos:

1  e3
K
ko S 2  1  e

em que: ko é um fator que depende da forma dos poros e da tortuosidade da trajetória da linha de
fluxo; S é a superfície específica.

8.5. Forças de percolação


Havendo um movimento de água através de um solo, ocorre uma transferência de energia da
água para as partículas sólidas do solo, por causa do atrito viscoso que se desenvolve. A energia
transferida é medida pela perda de carga e a força correspondente a essa energia é chamada de
força de percolação. Tal força transfere-se de grão a grão (é, portanto, uma força efetiva) e tem o
mesmo sentido do fluxo de água.

O conhecimento do mecanismo e a determinação do valor dessa força é de fundamental


importância para a Engenharia, uma vez que ela é responsável, muitas vezes, por problemas de
instabilidade em cortes, aterros e barragens. Deve-se ainda a essa força o aparecimento dos
fenômenos de "piping" e de areia movediça, bem como a instabilidade do fundo de escavações
em areias ("heave").

A Figura 56 permite visualizar como a energia se transmite para as partículas de solo. A amostra
de areia de comprimento (L) e de área (A) está submetida à força P1 graças à carga (h1) do
reservatório da esquerda e à força (P2), em virtude de (h2).

As forças P1 e P2 serão:

P1   w h1 A e P2   w h2 A

A força resultante, que deve ser consumida por atrito, será:

F p  P1  P2   w A (h1  h2 )

Figura 56 - Aparecimento das forças de percolação.

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Na Figura 56, o gradiente hidráulico é:

h1  h2 H
i 
L L

Portanto a força de percolação será:

Fp   w i A L   w i v

a qual é aplicada uniformemente num volume (V) igual a A x L. Dessa forma, a força por
unidade de volume corresponderá a:

w i A L
fp  ou fp iw
AL

Surge agora uma nova alternativa para o cálculo do equilíbrio estático de massa de solo sujeita à
percolação de água. Assim duas opções podem ser seguidas:

a. utilizar o peso total do elemento de solo combinado com a força da poropressão atuante
na superfície desse elemento;

b. utilizar o peso efetivo combinado com a força efetiva, por causa da percolação, aplicada
ao elemento de solo, no sentido do fluxo.

Essas duas alternativas serão utilizadas no item seguinte, referente às areias movediças.

8.6. Areia movediça


As tensões efetivas são as que realmente controlam todas as características de deformação e
resistência dos solos. No caso dos solos arenosos, é a tensão efetiva, atuando em determinado
plano, que determina a resistência ao cisalhamento desses solos (CAPÍTULO XIII). Essa tensão
efetiva ('), multiplicada pelo correspondente coeficiente de atrito (tg ') fornece a resistência ao
cisalhamento do solo (s).

s   ' tg ( ' )  (  u) tg ( ' )

O fenômeno da areia movediça pode ocorrer sempre que a areia esteja submetida a um fluxo
ascendente de água de forma que a força de percolação gerada venha a igualar ou superar a força
efetiva graças ao solo. A Figura 57 mostra um esquema explicando como isso poderá ocorrer.

Atualização:09/05/2016
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Figura 57 - Esquema para mostrar a aparecimento de areia movediça.

A areia está submetida a um fluxo ascendente de água, ou seja, a água percola do ramo da
esquerda para a direita, em virtude da carga h, que é dissipada por atrito na areia. A tensão total
no ponto A é;

 A   w h1   sat L e a poropressão vale: u   w (h  h1  L)

Ora, se a altura da carga (h) for aumentada até que a poropressão se iguale à tensão total,
obviamente a tensão efetiva será zero ( s  (  u) tg ( ' )  0) . A partir daí o solo terá as
propriedades de um líquido, não fornecendo condições de suporte, para qualquer sólido que
venha a se apoiar sobre ele.

O valor da carga h nesse instante, é denominado de altura de carga crítica (h), e para sua
obtenção basta igualar a tensão total e a poropressão:

 w h1   sat L   w (hc  h1  L)

hc ( sat   w )  '
ic   
L w w

O valor do gradiente hidráulico crítico (i = hc/L) será, fazendo w = 1 g/cm3, numericamente


igual à massa específica submersa.

O mesmo valor poderá ser obtido, pensando em termos de tensões efetivas, ou seja, combinando
a força efetiva graças ao solo, com a força de percolação atuando no sentido ascendente:

F '  ( sat   w )A L   ' v

A ocorrência da areia movediça pode ser evitada pela construção de algum elemento que
proporcione um acréscimo de tensões efetivas, sem que haja aumento das poropressões. Tais
elementos denominados filtros são normalmente compostos por camadas de solos granulares e
devem aumentar a tensão efetiva e manter as partículas da areia em suas posições originais.

Atualização:09/05/2016
MECÂNICA DOS SOLOS, Benedito Bueno & Orêncio Vilar 99

8.7. Filtros de proteção


Frequentemente, há necessidade de drenar a água que percola atrás de um solo, e isso origina
forças de percolação, fonte de sérios problemas.

Dentre esses problemas, destaca-se a erosão que pode conduzir a situações catastróficas, como
no caso de ruptura de barragens por "piping". Portanto, quando da drenagem de solos passíveis
de erosão, há necessidade de protegê-los construindo camadas de proteção, que permitam a livre
drenagem de água, porém mantenham em suas posições as partículas de solo. Tais camadas,
denominadas filtros de proteção, devem ser construídas com materiais granulares (areia e
pedregulho) e satisfazer duas condições básicas, a saber:

a. os vazios do material de proteção devem ser suficientemente pequenos, de forma que


impeça a passagem das partículas de solos a ser protegido.

b. os vazios do material devem ser suficientemente granulares de forma que propiciem a


livre drenagem das águas e o controle das forças de percolação, impedindo-o
desenvolvimento de altas pressões hidrostáticas, isto é, a carga dissipada no filtro deve
ser pequena.

Para atender a essas condições básicas, Terzaghi estipulou duas relações bastante empregadas
para a escolha de um material de filtro.

A condição (a) é satisfeita por:

D15 f  4 a 5 D85 s

e a combinação (b) por:

D15 f  4 a 5 D15 s

Na Figura 58, tem-se um exemplo de como escolher a curva granulométrica de um filtro, para
proteger um solo, do qual se conhece a curva granulométrica.

Atualização:09/05/2016
MECÂNICA DOS SOLOS, Benedito Bueno & Orêncio Vilar 100

Figura 58 - Escolha da faixa de variação granulométrica do filtro (Terzaghi).

Estabelecidos os limites para D15f (pontos A e B) devem-se desenhar curvas granulométricas do


coeficiente de não uniformidade, aproximadamente igual ao do solo a ser protegido. Um solo
que se situe nessa faixa assim determinada pode servir de filtro para o solo a ser protegido.

É importante notar que o critério de Terzaghi não fornece as dimensões do filtro, mas apenas
uma faixa de variação para a sua composição granulométrica. Para estabelecer as dimensões é
necessário atentar para as condições hidráulicas do problema.

A Figura 59 apresenta dois casos de utilização de filtros. No caso a, temos uma barragem de terra
através da qual há um fluxo de água, graças às diferenças de carga entre montante e jusante. Com
o intuito de proteger a barragem do fenômeno de erosão interna (piping) e para permitir uma
rápida drenagem da águia que percola através da barragem, usa-se construir filtros, como, por
exemplo, o filtro horizontal esquematizado no desenho.

Figura 59 - Utilização de filtros.

No caso b, a água percola através do solo arenoso da fundação do reservatório. Pelo desenho,
pode-se notar que próximo à face de jusante das estacas-prancha, o fluxo é vertical e ascendente,
o que pode originar o fenômeno de areia movediça. Para combater esse problema, faz-se
construir um filtro de material granular, que tenderá a contrapor-se às forças de percolação, pelo
aumento do peso efetivo, e que permitirá a livre drenagem das águas.

Após o critério de Terzaghi, foram estipulados outros critérios, alguns dos quais são listados a
seguir:

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 U.s. Arny

D15 f  5 D85 s

D50 f  25 D50 s

Esse critério presta-se a qualquer tipo de solo, exceto para as argilas médias a altamente
plásticas. Para essas argilas D15f pode chegar até 0.4 mm, e o critério de D50 pode ser desprezado.
Entretanto, o material de filtro deve ser’ bem graduado para evitar segregação e para tanto é
necessário um coeficiente de não uniformidade menor que 20.

 Sherard

Quando o material a proteger contiver pedregulhos, o filtro deverá ser projetado com base na
curva correspondente ao material menor que 1" (25,4 mm).

 Araken Silveira

Este critério, baseado numa concepção diferente das tradicionais, utiliza a curva de distribuição
de vazios do filtro, obtida estatisticamente a partir da curva de distribuição granulométrica, para
os estados fofo e compacto.

A partir da curva de vazios, determina-se a possibilidade de penetração das partículas do solo no


material de filtro. Estabelecidas as probabilidades de penetração, para determinados níveis de
confiança, é possível determinar uma espessura de filtro capaz de reduzir ao mínimo a
possibilidade de passagem das partículas do solo pelo material de filtro.

Atualmente, tem crescido a utilização de mantas sintéticas, como material de filtros, sobretudo
na execução de drenos longitudinais, em estradas, Figura 60. Em que pese não ter havido tempo
suficiente para um teste completo desse material, o comportamento tem sido satisfatório e o seu
uso tende a generalizar-se.

É desnecessário frisar que, havendo necessidade de o filtro ser construído por duas ou mais
camadas de materiais diferentes. deve-se obedecer aos critérios estabelecidos para duas camadas
adjacentes.

Figura 60 - Drenos longitudinais em estradas.

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8.8. Capilaridade
Denomina-se capilaridade à propriedade que os líquidos apresentam de atingirem, em tubos de
pequeno diâmetro níveis acima do nível freático. O nível freático é a superfície em que atua a
pressão atmosférica e, na Mecânica dos Solos, é tomada como origem do referencial, para as
poropressões, e no nível freático a poropressão é igual a zero.

Os fenômenos de capilaridade estão associados diretamente à tensão superficial, sendo a que


atua em toda a superfície de um líquido, como decorrência da ação da energia superficial livre.

Um líquido, e no caso a água, por causa da atração existente entre suas moléculas, tende a atrair
qualquer molécula que se encontre à superfície, para o seu interior, originando uma tendência
para diminuir a sua superfície (e isso explica a forma esférica das gotas de líquido).

A energia superficial livre é definida como o trabalho necessário para aumentar a superfície livre
de um líquido em 1 cm2.

Quando em contato com um sólido uma gota de líquido tende a molhar o sólido dependendo da
atração molecular entre o líquido e o sólido.

No caso da água, esta molha o vidro, dando origem a meniscos. Pode-se provar que, por força da
tensão superficial, a pressão no lado côncavo de um menisco é maior que a do lado convexo, e
que a diferença dessas pressões está relacionada com a tensão superficial, de acordo com a
seguinte expressão:

2 Ts
p  T
a

sendo Ts a tensão superficial e a o raio de curvatura do menisco.

Como decorrência dessa diferença de pressões, tem-se a ascensão de água num tubo capilar.

Segundo a Figura 61 a, para que haja equilíbrio, a água tem que se elevar no tubo capilar até uma
altura hc, tal que a pressão hidrostática equilibre a diferença de pressões:

2Ts r 2Ts cos( )


p    w hc , sendo a  segue que: hc 
a cos ( ) w r

Para o caso de água pura e vidro limpo, o ângulo de contato () é zero e a expressão para a altura
de ascensão capilar fica:

2Ts
hc 
w r

A mesma expressão para hc pode ser obtida de outra forma. Considere a Figura 6l c: fazendo o
equilíbrio de forças verticais, e como pa é o referencial para as poropressões vem:

 2Ts cos ( )
2 r Ts cos ( )   r 2 u  0 e resolvendo para u: u 
r

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Veja o ponto a da Figura 63 c. As pressões têm que ser equilibradas, para que não haja fluxo;

 2Ts cos ( ) 2T cos ( )


 w hc   p atm  0 e resolvendo para hc: hc  s
r w r

Na Figura 6l b, tem-se o diagrama de poropressões e pode-se notar aí um importante efeito por


causa da capilaridade. A poropressão devido à ascensão capilar é negativa pois como atua patm
no lado côncavo do menisco, e esta é tomada como origem do referencial para medida das
poropressões, decorre que u < 0, porquanto as pressões no lado convexo são menores que as do
lado côncavo.

Figura 61 - Ascenção capilar.

No caso dos solos, pode-se imaginar os seus poros interligados e formando canalículos, que
funcionam como tubos capilares. Assim, pode-se explicar a ocorrência de zonas saturadas dentro
da massa de solo que estão situadas acima do lençol freático.

A água em contato com o solo também tenderá a formar meniscos. Nos pontos de contato dos
meniscos com os grãos (Figura 62) evidentemente, agirão pressões de contato, tendendo a
comprimir os grãos. Essas pressões de contato (poropressões negativas) somam-se às tensões
totais:

 '    (u)    u

fazendo com que a tensão efetiva realmente atuante seja maior que a total. Esse acréscimo de
tensão proporciona um acréscimo de resistência conhecido como coesão aparente, responsável,
por exemplo, pela estabilidade de taludes em areia úmida e pela construção de castelos com areia
úmida nas praias. Uma vez eliminada a ação das forças capilares (por exemplo, pela saturação)
desaparece o efeito da coesão aparente.

Outra decorrência importante refere-se às argilas quando submetidas à secagem. À medida que
se processa a secagem, diminui consideravelmente o raio de curvatura dos meniscos, fazendo
com que as pressões de contato aumentam e tendam a aproximar as partículas, o que provoca
uma contração do solo.

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Figura 62 - Capilaridade produz pressões de contato.

8.9. Exercício Resolvido


Observe as ilustrações. Calcule o gradiente hidráulico ( i ). Calcule a posição e coluna d’água no
ponto A. Dados: RN= ? (como explico isso melhor?); seta azul= fluxo de água; cotas= cm.
a)

PONTOS Hpos(posição) Hpiez(?) Htotal H


1 180 120 300
300
2 60 -60 0

No ponto 1:

H 300
i   2,5
L 120

No ponto1em relação a A:
h
i   h  i  L  h  2,5  90  225cm
L
Portanto no ponto A temos

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HA = H - h = 300 – 225 = 75 cm. (Coluna d’água).

H = Hpos + Hpiez
75 = 90 + Hpiez
Hpiez = -15 cm. ( posição)

b)

PONTOS Hpos(posição) Hpiez Htotal H


1 -150 270 120
120
2 -30 30 0

No ponto 1:

H 120
i  1
L 120

No ponto1em relação a A:
h
i   h  i  L  h  1  30  30cm
L

Portanto no ponto A temos:

HA = H - h = 120 – 30 = 90 cm (Coluna d’água).


H = Hpos + Hpiez
90 = -120 + Hpiez
Hpiez = 210 cm. (posição)

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c)

PONTOS Hpos(posição) Hpiez Htotal H


1 -150 270 120
120
2 -150 150 0
No ponto 1:

H 120
i  1
L 120

No ponto1em relação a A:
h
i   h  i  L  h  1  90  90cm
L
Portanto no ponto A temos

HA = H - h = 120 – 90 = 30 cm (Coluna d’água).


H = Hpos + Hpiez
30 = -150 + Hpiez
Hpiez = 180cm (posição).

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CAPÍTULO IX

9. COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO

9.1. Introdução

Todos os materiais existentes na natureza se deformam, quando submetidos a esforços. A


estrutura multifásica característica dos solos gera um comportamento tensão-deformação
próprio, o qual normalmente depende do tempo.

Um esforço de compressão aplicado a um solo fará com que ele varie seu volume, o qual poderá
ser devido a uma compressão da fase sólida, e a uma compressão da fase fluida ou a uma
drenagem da fase fluida dos vazios.

Até a grandeza dos esforços aplicados na prática e admitindo-se o solo saturado, tem-se que
tanto a compressibilidade da fase sólida como a da fase fluida serão quase desprezíveis e a única
razão, para que ocorra uma variação de volume, será uma redução dos vazios do solo com a
consequente expulsão da água intersticial.

Evidentemente, a saída dessa água dependerá da permeabilidade do solo: no caso das areias, em
que a permeabilidade é alta, a água poderá drenar com bastante facilidade e rapidamente; nas
argilas porém, essa expulsão de água dos vazios necessitará de algum tempo, até que se conduza
o solo a um novo estado de equilíbrio, sob as tensões aplicadas. Essas variações volumétricas
que se processam nos solos finos, ao longo de tempo, constituem o fenômeno do adensamento, e
são as responsáveis pelos recalques a que estão sujeitas estruturas apoiadas sobre esses soles.

Na realidade, o recalque final de uma estrutura será composto de outras parcelas, como o
recalque imediato ou elástico, estudado na Teoria da Elasticidade. Como não existe uma relação
tensão-deformação-tempo capaz de englobar todas as particularidades e complexidades do
comportamento real do solo, as parcelas de recalque do solo são estudadas separadamente. Neste
capítulo, serão apresentados os fundamentos das variações volumétricas, que se processam no
decorrer do tempo, e que se devem a uma expulsão de água dos vazios do solo.

Para o cálculo do recalque total, AH, que uma camada de solo compressível de espessura, H, que
passou por uma variação do índice de vazios, e, considere-se o esquema da Figura 63.

Figura 63 - Elemento de solo submetido à compressão.

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Admitindo que a compressão seja unidirecional e que os sólidos sejam incompressíveis, tem-se:

V  V  V  Vv  V v

porém,

Vv Vv
ei  e ef 
Vs Vs

V  ei V s  e f V f  e V s

e, como a compressão só se dá na direção vertical, a área (A) da amostra de solo permanece


constante:

A H  e A H s e segue que: h  e H s

contudo,

Vv H  H s
ei  
Vs Hs

Assim,

e
H  H
1  ei

9.2. Analogia e mecânica do processo de adensamento


O processo de adensamento, entendido como a variação de volume que se processa num solo,
devido à expulsão gradual da água de seus vazios, pode ser bem visualizado, quando se utiliza o
modelo esquematizado na Figura 64.

Figura 64 - Analogia mecânica do processo de adensamento.

Imaginando o solo saturado, tem-se que a mola representa o esqueleto sólido (que vai suportar as
tensões efetivas); a água, admitida incompressível, representará a água presente nos vazios do
solo (que vai suportar a poropressão) e a torneira representará a permeabilidade do solo (a maior

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ou menor facilidade com que a água sairá dos vazios). O elemento de solo está em equilíbrio sob
um carregamento  0' , e nesse instante a poropressão vale u0, e a tensão efetiva vale ', (Figura
64 a).

Ao aplicar um acréscimo de tensões, ', (Figura 64 b), estando a torneira fechada, todo o
acréscimo será suportado pela água, porém, se a torneira for aberta gradativamente, a água
começará a drenar, e ocorrerá uma variação de volume. Quando isso ocorre, o acréscimo '
será suportado, parte pela água e parte pela mola, que agora é solicitada (Figura 63.c).

A medida que vai se dando o processo, mais agua vai saindo, até um ponto em que toda a sobre
pressão na água é dissipada e o carregamento ' é suportado integralmente pela mola (Figura
64 d). Nesse instante, completa-se o processo de adensamento, e o sistema novamente fica em
equilíbrio, com um volume menor. Portanto, o processo de adensamento corresponde a uma
transferência gradual do acréscimo de poropressão (provocado por um carregamento efetivo)
para tensão efetiva. Tal transferência se dá ao longo do tempo, e envolve um fluxo de água com
correspondente redução de volume do solo.

A Figura 65 representa, qualitativamente, as variações de tensões e de volume que se processam


ao longo do fenômeno de adensamento.

Figura 65 - Variações de tensões e de volume durante o adensamento.

O andamento do processo de adensamento pode ser acompanhado por meio da seguinte relação,
denominada porcentagem de adensamento:

Vt
Uz 
Vt 

Nessa expressão, Vt representa a variação de volume após um tempo t; Vt=∞ representa a
variação total de volume, após completado o adensamento . Uz representa a porcentagem de
adensamento de um elemento de solo situado a uma profundidade z num tempo t.

A porcentagem de adensamento pode ser assim expressa

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Vt u t u u
Uz    i
Vt  u t  u i  u 0

em que ut e ut=∞ são as poropressões após um tempo t e após t=∞ ; ui a sobrepressão
hidrostática, logo após a aplicação do acréscimo de carga '; u a sobrepressão num tempo t e u0
a poropressão existente na água. Se u0 for igual à zero.

u
U z  1
ui

9.3. Teoria do adensamento de Terzaghi

O estudo teórico do adensamento permite obter uma avaliação da dissipação das sobrepressões
hidrostáticas (e, consequentemente, da variação de volume) ao longo do tempo, a que um
elemento de solo estará sujeito dentro de uma camada compressível. Tal estudo foi feito
inicialmente por Terzaghi, para o caso de compressão unidirecional, e constitui a base pioneira,
para afirmação da Mecânica dos Solos como ciência.

A partir dos princípios da Hidráulica, Terzaghi elaborou a sua teoria, tendo, entretanto, que fazer
algumas simplificações, para o modelo de solo utilizado.

As hipóteses básicas de Terzaghi são:

a. solo homogêneo e conpletamente saturado;

b. partículas sólidas e água intersticial incompressíveis;

c. adensamento unidirecional;

d. escoamento de água unidirecional e validez da lei de Darcy;

e. determinadas características, que na realidade variam com a pressão, assumidas como


constantes;

f. extensão a toda massa de solo das teorias que se aplicam aos elementos infinitesimais;

g. relação linear entre a variação do índice de vazios e a das tensões aplicadas.

Ao admitir escoamento unidirecional de água, algumas imprecisões aparecem, quando se tem o


caso real de compressão tridimensional, entretanto, a hipótese condicionante de toda a teoria é a
que prescreve a relação linear entre índice de vazios e variação de pressões. Admitir tal hipótese
significa admitir que toda variação volumétrica se deve a expulsão de água dos vazios, e que se
afasta em muitos casos da realidade, pois ocorrem juntamente com o adensamento, deformações
elásticas e outras, sob tensões constantes, porém crescentes com o tempo (creep). As demais
hipóteses podem facilmente ser reproduzidas em laboratório ou se aproximam bem da realidade.

Para a dedução da equação fundamental do adensamento, considere-se a massa de solo


representada na Figura 66.

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Figura 66 - Massa de solo adensado.

Veja o elemento de solo situado à profundidade z. As equações regentes do processo de


adensamento serão:

a. equilíbrio estático;

 v   z   '

b. relação tensão-deformação:

e
 av
 v'

em que av denominado coeficiente de compressibilidade e de acordo com a hipótese de Terzaghi:

e
av  
 v'

c. equação de continuidade do fluxo unidirecional:

K  2 u dV
 
 w z 2 dt

A combinação dessas três equações permite obter a equação fundamental do adensamento.

Considere-se a Figura 66. No instante de aplicação da carga, a sobrepressão hidrostática, na face


u
superior do elemento, será, e na face inferior: u  dz .
z

h
O gradiente hidráulico é: i   , e pela Lei de Darcy, a velocidade de fluxo será:
z

h
v  k i  K
z

Porém, a sobrepressão hidrostática (u) corresponde a u   w h , portanto:

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K u
dV  
 w z

Para obter a variação de vo1ume do elemento de solo, de área unitária, basta considerar a
diferença entre o volume de água que entra e que sai num intervalo de tempo dt:

K u
entra (face inferior): dV1   dt
 w z

K  u  2 u 
sai (face superior): dV2     dz  dt
 w  z z 2 

K   2u 
dV1  dV2    2 dz dt  dV
 w  z 

Por outro lado, admitindo compressão unidirecional, essa mesma variação de volume pode ser
expressa da seguinte forma:

de de a
dV  dz , mas como a v   , então: dV   v d v' dz
1 e d v'
1 e

Como a tensão total é constante, tem-se:

   v'  u  cte

Diferenciando, tem-se: d v'   du

av
o que permite obter: dV  du dz
1 e

Igualando as expressões, tem-se:

av K  2u K (1  e)  2 u u
du dz  dz dt , ou: 
1 e  w z 2 av  w z 2 t

Esta é a equação fundamental do adensamento, que permite calcular as sobrepressões


hidrostáticas num ponto dentro da massa de solo sujeita a um processo de adensamento
unidirecional.

Denomina-se coeficiente de adensamento (Cv) à propriedade do solo, admitida como constante


para cada acréscimo de tensões, que reúne todas as características do solo que interferem na
velocidade de adensamento.

K (1  e) K
Cv  
av  w mv  w

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av
em que mv  é denominado coeficiente de deformação volumétrica.
1 e

A equação fundamental do adensamento pode ser assim expressa como:

 2 u u e 1
cv 2  sendo mv 
z t  v' 1  e

Para a resolução da equação fundamental, deve-se atentar para as condições de contorno


inerentes à camada de solo compressível e ao carregamento. Evidentemente, cada condição de
contorno particular afetará a solução.

9.4. Solução da equação fundamental do adensamento

A solução que será apresentada refere-se às seguintes condições de contorno:

a. a camada compressível está entre duas camadas de elevada permeabilidade, isto é, será
drenada por ambas as faces. Definindo-se distância de drenagem (Hd) como a máxima
distância que uma partícula de água terá que percorrer, até sair da camada compressível,
tendo-se nesse caso Hd = H/2 (Figura 7.a) .
No caso da Figura 67 b, Hd =H, pois uma partícula de água situada imediatamente sobre a
rocha teria que percorrer toda a espessura da camada de argila até atingir uma face
drenante;

b. a camada de argila receberá uma sobrecarga que se propaga linearmente, ao longo da


profundidade (como um carregamento ocasionado por um aterro extenso, por exemplo);

c. imediatamente após a aplicação do carregamento, a sobrepressão hidrostática inicial, em


qualquer ponto da camada de argila, será igual ao acréscimo de tensões (u = '), tal
como se viu na analogia mecânica do adensamento.

Figura 67 - Distância de drenagem.

Matematicamente, tais condições podem ser expressas da seguinte forma:

a. para z = 0, u = 0

b. para z = H = 2 Hd, u = 0

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c. para t = 0, u = ui = '

Aplicando essas condições à equação fundamental, obtém-se o valor da sobrepressão hidrostática


que resta dissipar em uma camada em processo de adensamento. O desenvolvimento matemático
será aqui obtido, podendo-se consultar as referências 2 e 27, para maiores minúcias.


 2u M z   M 2Tv
u    i sen e
m 0  M H d 

 cv t
Nesta expressão, M  ( 2m  1) , m é inteiro, e Tv 
2 H d2

é um fator adimensional, chamado de fator tempo. Tal fator exclui da solução todas as
características do solo que interferem no processo de adensamento.

9.5. Porcentagem de adensamento

Para se obter a porcentagem de adensamento (Uz) de um elemento situado a uma cota z, após
decorrido um intervalo de tempo t, basta substituir na expressão de Uz o valor de u obtido acima:

ui  u u 
 2 M z   M 2Tv
Uz   1   1    sen e
ui ui m0  M H d 

Atribuindo valores a z/Hd e a Tv, pode-se construir um gráfico (Figura 68) que ilustra bastante o
processo de adensamento.

Pode-se notar que o processo de adensamento é simétrico com relação ao centro da camada, e
que ele se processa mais rapidamente junto às faces drenadas (topo e base da camada
compressível).

Para se obter a porcentagem média de adensamento de toda a camada de argila, basta integrar a
porcentagem de adensamento, ao longo de toda a camada de solo:
2Hd
1
U
2 Hd U
0
z dz

Substituindo o valor de Uz, obtém-se:



2 (  M 2Tv )
U  1  2
e
m 0 M

Na prática, interessa a determinação da porcentagem média de adensamento (ou recalque) de


toda a camada compressível para o cálculo das deformações a que determinada obra estará
sujeita por efeito do adensamento. O Valor de U pode ser colocado ainda da seguinte forma:


U  , sendo  o recalque parcial, após um tempo t, e H o recalque total da camada.
H

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Figura 68 - Porcentagem de adensamento.

Como é possíve1 verificar, a porcentagem média de adensamento de toda a camada é função


apenas do fator tempo. Pode-se, portanto, a partir das condições de contorno de cada situação,
estabelecer U = f(Tv).

No caso da solução aqui apresentada, de sobrepressão hidrostática variando linearmente com a


profundidade, tem-se a curva 1 na Figura 69, que representa o gráfico U = f(Tv).

Figura 69 - Curvas de adensamento segundo a teoria de Terzaghi.

Os valares dessa função são apresentados no Quadro IX, a seguir.

QUADRO IX - FATOR TEMPO PARA O CASO 1

U (%) 0 10 20 30 40 50
Tv 0,000 0,008 0,031 0,071 0,126 0,197

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U (%) 60 70 80 90 95
Tv 0,287 0,403 0,567 0,848 1,127

Vale ressaltar que a equação teórica U=f(Tv) é expressa com bastante aproximação pelas
seguintes re1ações empíricas:
2
 U 
Tv    para U  60%
4  100 

Tv  1,781  0,933 log (100  U ) para U  60%

Aparecem ainda na Figura 69 outras curvas U = f(Tv) para os casos de sobrepressão inicial
assinalados. A curva 2 representa o caso de sobrepressão inicial de forma senoidal, e a curva 3
pode ser entendida como uma distribuição que combine os casos 1 e 2.

9.6. Ensaio de adensamento

O ensaio de adensamento ou de compressão unidirecional confinada pretende determinar


diretamente os parâmetros do solo necessários para o cálculo de recalques.

A realização do ensaio consiste basicamente em se instalar dentro de um anel de latão (ou aço)
uma amostra de solo de pequena espessura (geralmente 2,5 cm). O corpo de prova drenado, pelas
faces superior e inferior, com o auxílio de pedras porosas, conforme se mostra na Figura 70.

Figura - Esquema do ensaio de adensamento.

O conjunto é levado a uma prensa na qual são aplicadas tensões verticais ao corpo de prova, em
vários estágios de carregamento. Cada estágio permanece atuando até que cessem as
deformações originadas pelo carregamento (na prática, normalmente 24 horas). Em seguida,
aumenta-se o carregamento (em geral, aplica-se o dobro do carregamento que estava atuando
anteriormente. Por exemplo: 1º estágio: 0.25 kgf/cm2; 2o: 0,50; 3o: 1,00 e assim sucessivamente).

As medidas que se fazem usualmente são as de deformação do corpo de prova (pela variação de
altura) ao longo do tempo, em cada estágio de carregamento. Pode ser determinado ainda o
coeficiente de permeabilidade do solo diretamente, fazendo percolar água através do corpo de
prova.

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O resultado do ensaio é normalmente apresentado num gráfico semilogarítmico (Figura 71) em


que nas ordenadas se têm as variações de volume (representadas pelos índices de vazios finais
em cada estágio de carregamento) e nas abscissas, em escala logarítmica, as tensões aplicadas.

Figura 71 – Curva e x log  ' .

Pode-se distinguir nesse gráfico três partes distintas: a primeira, quase horizontal; segunda, reta e
inclinada e a terceira parte ligeiramente curva.

O primeiro trecho representa uma recompressão do solo, até um valor característico de tensão,
correspondente à máxima tensão que o solo já experimentou em a natureza; de fato, ao retirar a
amostra indeformada de solo, para ensaiar em laboratório, estão sendo eliminadas as tensões
devido ao solo sobrejacente, o que permite a amostra um alívio de tensões e, consequentemente,
uma ligeira expansão.

Ultrapassado o valor característico de tensão, o corpo de prova principia a comprimir-se sob


tensões superiores às tensões máximas já suportadas na natureza. Assim, as deformações são
bem pronunciadas e o trecho reto do gráfico que as representa é chamado de reta virgem de
adensamento. Tal reta apresenta um coeficiente angular denominado índice de compressão (Cc).

e1  e2 e
Cc  
log  2  log  1 2
log
1

O índice de compressão é muito útil para o cálculo de recalque em solos que se estejam
comprimindo, ao longo da reta virgem. O recalque total (H) por causa de uma variação do
índice de vazios (e), numa camada de espessura H, é dado por:

e  'f
H  H, porém e  C c log
1  ei  i'

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C H f '

H  c log '
1  ei i

Por último, o terceiro trecho corresponde à parte final do ensaio, quando o corpo de prova é
descarregado gradativamente e pode experimentar ligeiras expansões.

9.7. Tensão de pré-adensamento

O valor característico da tensão, anteriormente citado, a partir do qual o solo principia a


comprimir-se, ao longo da reta virgem de adensamento, denomina-se tensão de pré-adensamento
(  a' ) e representa a máxima tensão a que o solo já esteve submetido em a natureza.

Submetendo uma amostra de solo a ciclos sucessivos de carregamento e descarregamento, tal


qual se mostra na Figura 72, pode-se observar que a curva de recompressão aproxima-se
fielmente da curva inicial, e após ultrapassar um valor de tensão (  1' ) o solo volta a comprimir-se
ao longo da reta virgem. O valor obtido, quando se carrega o corpo de prova pela primeira vez, é
a tensão de pré-adensamento.

FIGURA 72 - Corpo de prova submetido o ciclos de carregamento e descarregamento.

Fica patente que o conhecimento da tensão de pré-adensamento é de fundamental importância


para o cálculo de recalques, pois, para acréscimos de tensões, que não superassem essa tensão, as
deformações a se esperar seriam quase desprezíveis.

Os procedimentos mais uti1izados para determinação da tensão de pré-adensamento se devem a


Casagrande e a Pacheco Silva (IPT) e são explicados a seguir, de acordo com o convencionado
na Figura 73.

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Figura 73 - Curva e x log ' e procedimentos paro determinação da tensão de pré-adensamento.

A construção gráfica de Casagrande parte do ponto de maior curvatura (a) da curva e x log ' ;
por a traçam-se uma horizontal (h) e uma tangente (t) e em seguida determina-se a bissetriz (b)
do ângulo formado. A abscissa do ponto c, que é a intersecção entre a bissetriz (b) e a reta
virgem (v) é o valor da tensão de pré-adensamento.

Pelo processo de Pacheco Silva, prolonga-se a reta virgem (v) até encontrar a horizontal que
passa pelo índice de vazios natural do solo (e0), determinando o ponto p. A vertical por p
encontra a curva e x log 'em q; a horizontal por q determina sobre a reta virgem (v) o ponto r
cuja abscissa é a tensão de pré-adensamento.

Determinada a tensão de pré-adensamento, e comparando-a com a tensão que age na atualidade


sobre o ponto do qual foi retirada a amostra, pode-se ter três situações distintas. A primeira delas
ocorre quando a tensão ocasionada pelo solo sobrejacente (  0' ) ao local de onde foi retirada a
amostra é igual à tensão de pré-adensamento (  a' ). Neste caso, diz-se que o solo é normalmente
adensado, isto é, a máxima tensão que o solo já suportou corresponde ao peso atual do solo
sobrejacente. A Figura 74.a esquematiza essa situação.

Pelo gráfico da Figura 74.a, pode-se notar que qualquer acréscimo de tensões fará com que a
argila normalmente adensada recalque ao longo da reta virgem.

A segunda situação corresponde ao caso em que  0'   a' , isto é, o peso atual do solo
sobrejacente é menor que o máximo já suportado (Figura 74.b). Neste caso, diz-se que a argila é
pré-adensada e qualquer acréscimo de carga, sobre esse solo, de modo que  0'   '   a'
implica recalques insignificantes, por se estar no trecho quase horizontal da curva e x log '.

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Figura 74 - Condições de adensamento das argilas.

Muitos fatores podem tornar um solo pré-adensado podendo-se destacar a erosão, que, com a
retirada de solo, diminui a tensão que age atualmente, bem como o seu ressecamento.

Por último, tem-se o caso em que  0'   a' , isto é, a argila ainda não terminou de adensar, sob o
efeito de seu próprio peso. Quando isso ocorre, tem-se uma argila parcialmente adensada (Figura
74.c).

9.8. Determinação do coeficiente de adensamento (Cv)

Quando, em caso de estágio de carregamento registram-se as deformações do corpo de prova, ao


longo do tempo, busca-se determinar o coeficiente de adensamento por meio de analogia com as
curvas teóricas U=f(Tv) apresentadas na Figura 69.

Esse coeficiente, admitido constante para cada incremento de tensão, determina a velocidade de
adensamento.

No caso do ensaio de adensamento usual, tem-se duas faces drenantes (pedras porosas no topo e
base do corpo de prova); assim as medidas realizadas durante o ensaio serão comparadas com a
curva 1 da Figura 69, que apresenta essas condições.

Os dois processos gráficos mais utilizados são os de Taylor e o de Casagrande.

9.8.1. Processo de Taylor

Este processo utiliza as medidas de deformação colocadas em função da raiz quadrada do tempo.
Isso deve-se ao fato de que, para porcentagens de adensamento (U) menores que 60 %, a relação

teórica U x Tv é aproximadamente parabólica e, de fato, há a relação empírica: Tv  U 2 , para
4
U < 60%, que é uma parábola. Trabalhando com a relação U x Tv , modificam-se as
coordenadas, obtendo-se uma relação linear. Por outro lado, observando-se a curva teórica
U x Tv , nota-se que a reta unindo os pontos de 0 % a 90 % do recalque marcam, ao longo do
eixo Tv, valores 15 % maiores que a reta que marca os pontos de 0 a 60 % U. O processo

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consiste, basicamente, em determinar o ponto referente a 90 % do recalque, e obter o tempo t90


necessário para tal recalque. Isso é mostrado na Figura 75.

Figura 75 - Obtenção do coeficiente de adensamento pelo processo de Taylor.

Tem-se nessa Figura o gráfico de deformações versus T em minutos, obtidos para determinado
estágio de carregamento, em que a leitura inicial do extensômetro era l0 e final, após completada
toda a compressão do corpo de prova, foi de lf.

Busca-se o primeiro trecho reto da curva, marcando-se nela a abscissa m de um ponto qualquer.
Acrescenta-se 0,15m ao valor de m, que fornecerão um ponto por onde passa a reta que une os
pontos de 0 a 90 % de U. A intersecção dessa reta com a curva deformação x T dá as
coordenadas l90 e t90, que permitem calcular cv, para este estágio de carregamento.

cv t H d2
Tv  cv  Tv
H d2 t 90

Tv90 é o fator tempo (tabelado para 90 % do adensamento); Hd é a distância de drenagem (no


ensaio de adensamento normalmente Hd=H/2), e t90 é determinado no ensaio para cada estágio.

Assim,

H d2
cv  0,848
t 90

Alguns aspectos devem ainda ser observados na Figura 75. Pode-se notar que a reta de 0 a 60 %
de U, intercepta o eixo das ordenadas num ponto d0 diferente da leitura inicial l0. Por outro lado,
a ordenada que corresponde a 100 % (l100) do recalque teórico pode ser assim determinada:

1
l100  l90 (d 0  l90 )
9

Esta ordenada (l100) não coincide com a leitura final do estágio (lf).

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A compressão que corresponde a (10 – d0) é chamada de compressão inicial, e se dá quase


instantaneamente quando da aplicação da carga; a compressão (d0 - t100), chamada de primária, é
a parcela de compressão estudada pela Teoria de Terzaghi e a compressão (l100 – lf) é chamada
de secundária.

A rigor, estas parcelas, em determinadas etapas, ocorrem juntamente e não seguindo a separação
que se faz na Figura 75. A compressão inicial, decorre, por exemplo, da má colocação do corpo
de prova no anel, porém acontece normalmente no caso dos solos não saturados, em que ocorre
uma parcela de compressão dos poros sem expulsão de água dos vazios.

9.8.2. Processo de Casagrande

Utilizando um gráfico semilogarítmico, Casagrande admitiu encontrar a ordenada


correspondente a 100 % do adensamento pela intersecção entre a assíntota e a tangente da curva
deformação x log t, como se mostra na Figura 76.

Figura 76 - Obtenção do coeficiente de adensamento pelo processo de Casagrande.

A ordenada d0 correspondente ao início do recalque tratado por Terzaghi é obtida utilizando-se a


relação parabólica da primeira parte da curva de adensamento. Busca-se determinar tempos na
relação 1:4, e obtém-se a diferença de ordenadas desses pontos, a qual é transferida para cima da
curva. A reta média dos pontos assim determinados fornece a ordenada d0.

A partir das ordenadas d0 e t100 é possível obter a ordenada correspondente a 50 % do recalque


(l50):

1
l50  d 0  ( d 0  l100 ) e, consequentemente, t50.
2

O coeficiente de adensamento é dado agora por:

H d2 H d2
cv  Tv 50 ou cv  0,197
t 50 t 50

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Pode-se notar também, nessa construção, a presença da compressão inicial (l0 - d0); da
compressão primária de Terzaghi (d0 – l100) e da compressão secundária (l100 - lf).

9.9. Construção da curva de compressão do solo no campo

Para o cálculo de recalques, pode-se reproduzir a curva de adensamento virgem do solo no


campo, o que é feito a partir da curva obtida em laboratório, e seguindo-se a recomendação de
Schmertmann.

Esta construção aplica-se ao caso dos solos normalmente adensados. Primeiramente, determina-
se a tensão de pré-adensamento (  a' ) que corresponde ao peso do solo sobrejacente ao ponto
considerado no campo.

Na Figura 77, localiza-se o ponto B que corresponde às características do solo em suas condições
naturais, ou seja, e0 – índice de vazios natural e  a'   0' – tensão de pré-adensamento (  a' )
igual à tensão gerada pelo solo sobrejacente (  0' ).

Figura 77 - Construção da curva de compressão virgem no campo.

O ponto C corresponde à intersecção da reta virgem obtida em laboratório com o valor do índice
de vazios igual a 0,42 e0. Desenha-se a curva BC R, que corresponde à curva de adensamento do
solo no campo. Para o caso de solos pré-adensados, essa construção passa por ligeiras
modificações (ver ref. 31).

9.10. Aplicação da teoria do adensamento

As deduções efetuadas encontram grande aplicação na prática, pois possibilitam estimar os


recalques a que determinada estrutura estará sujeita quando esta aplica um acréscimo de tensões
efetivas numa camada de solo compressível.

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Estabelecidos os parâmetros de compressibilidade (  a' - tensão de pré-adensamento: Cc - índice


de compressão e cv - coeficiente de adensamento), podem-se calcular os recalques totais e os
recalques parciais da camada.

Para uma camada de espessura H, uma variação do índice de vazios e provocará um recalque
total: DH, que é dado por;

e Cc H  2'
H  H  log '
1  ei 1  ei 1

No caso das argilas normalmente adensadas, se o acréscimo sobre a tensão de pré-adensamento


for ', os valores  1' e  2' ficam;

 1'   a' e  2'   a'   '

Evidentemente, torna-se necessário calcular o acréscimo ' ao longo de toda a camada de solo,
o que pode ser feito utilizando as fórmulas de propagação de tensões desenvolvidas na Teoria da
Elasticidade (CAPÍTULO VII).

Tomando-se a variação linear do acréscimo de tensões ao longo da camada compressível.


costuma-se calcular o acréscimo na cota média e admití-lo como representativo de toda a
camada.

Conhecido o acréscimo ' pode-se calcular o recalque total da canada. Havendo necessidade
de calcular o recalque parcial, após determinado tempo t, deve-se avaliar o fator tempo (Tv)
correspondente.

t
Tv  C v
H d2

Com o valor de Tv , determinar a porcentagem média de recalque – U:


U  , sem o  o recalque parcial após um tempo t e H o recalque total da camada.
H

Para o cálculo de U, pode-se utilizar as relações empíricas apresentados no item 5.

Na avaliação da distância de drenagem da camada, pode-se considerar como camada drenante a


que apresentar coeficiente de permeabilidade acima de dez vezes o coeficiente da camada
compressível.

Por último, deve-se frisar que no cálculo do recalque total o valor de H a ser utilizado é a
espessura total da camada, quaisquer que sejam as faces drenantes, e na avaliação dos recalques
parciais emprega-se a distância de drenagem (Hd) que pode ser igual a H drenante), ou a H/2
(duas faces drenantes).

9.11. Correções do recalque de adensamento

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Em função das limitações próprias da teoria do adensamento, os valores de recalques obtidos


devem ser corrigidos para determinadas situações não previstas na teoria.

a. Recalques ocasionados por um carregamento lento

Esta correção refere-se ao fato de que na prática nenhum carregamento é aplicado


instantaneamente, como se prescreve na teoria ou como se faz no ensaio de adensamento.

A rigor, qualquer construção vai carregando o terreno gradativamente. Para levar em conta tal
efeito, existe uma construção gráfica (Gilboy) que permite obter a curva tempo-recalque para o
carregamento lento, a partir da curva de carregamento instantâneo.

A construção é baseada na hipótese de que o recalque, no final da construção (tempo tc) é igual
ao recalque no tempo tc/2, quando se considera o carregamento aplicado instantaneamente.

A variação do carregamento é linear com o tempo, e é dada por:

t
   0 em que 0 é a tensão final originada pelo carregamento.
tc

Nesta circunstância, a relação entre os recalques instantâneos e lentos será proporcional a t/tc.

A Figura 78 esquematiza a construção gráfica. Para se obter o recalque num tempo t basta
determinar o recalque instantâneo no tempo t/2, traçar uma horizontal que interceptará e vertical
por t, no ponto A. Unindo-se A à origem O, esse segmento AO intercepta a vertical em t no
ponto B, que será o recalque ocasionado pelo carregamento lento. Pelas hipóteses formuladas:

t t
MN  PQ e   0 P' Q '  M 'N '
tc tc

Após o tempo t = tc, os demais pontos são obtidos, deslocando a curva de carregamento lento de
tc/2.

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Figura 78 - Recalques durante um carregamento lento.

b. Interferência de efeitos tridimensionais

As soluções apresentadas referem-se ao caso de compressão unidirecional. Há casos em que a


espessura da camada é muito maior que a área carregada, quando então os efeitos tridimensionais
podem afetar a velocidade e a magnitude do recalque.

Uma consideração semi-empírica, para levar em conta tais efeitos, foi proposta por Skempton e
Bjerrum e admite que a despeito dos efeitos tridimensionais o recalque é ainda unidimensional.

Essa correção utiliza os parâmetros de poropressão A e B de Skempton (CAPÍTULO XIII):

u  B 3  A( 1   3 )

A Figura 79 apresenta os valores do fator de correção () a serem multiplicados pelos recalques
obtidos quando se considera compressão unidirecional:

H cor   H

Figura 79 – Correção do recalque de adensamento.

9.12. Noções sobre a compressão secundária

A compressão secundária corresponde à variação adicional de volume que se processa após a


total dissipação da sobrepressão hidrostática. Conquanto nas construções gráficas de Taylor e de
Casagrande se separem as diversas parcelas de compressão, não é verdade que a compressão
secundária principie logo após terminar a compressão primária, pois uma parte dessa compressão
secundária deve ocorrer enquanto se processa a parcela de compressão tratada pela teoria de
Terzaghi.

Ainda que as leis que determinam o processo de compressão secundária sejam bastante
complexas e não totalmente explicadas na atualidade, pode-se atribuir o fenômeno às
acomodações que ocorrem entre as partículas e suas interligações, sob efeito das tensões
impostas ao solo. Admite-se que na compressão secundária, também chamada de “creep”, as
acomodações interpartículas sejam originadas por deformações visco-elásticas da fase sólida. A
Figura 80 mostra um esquema de um modelo reológico visco-elástico.

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Na Figura 80, o comportamento elástico representado pela mola, de constante elástica E, a qual é
acoplada em paralelo com um pistão que contém um f1uido incompressível de viscosidade . O
acréscimo de tensão  é suportado primeiramente pelo fluido incompressível no pistão e, a
medida que se processa o fluxo (viscosidade ), a mola passa a ser solicitada. A deformação
estabiliza-se, quando todo o acréscimo de tensões () passa a ser absorvido pela mola.

A compressão secundária normalmente se estende por um grande período de tempo (compressão


secular de Buissman) e não ocorre de maneira significativa em todos os tipos de solos, parecendo
ser mais flagrante nas turfas e solos orgânicos.

Figura 80 – Modelo reológico visco-elástico.

9.13. Recalques por colapso

Um pormenor curioso, que ocorre em vastas áreas da região Centro-Sul do País refere-se ao caso
dos solos superficiais porosos. Tais solos, quando estão sujeitos a carregamentos e por uma razão
qualquer (infiltração de águas de chuva, rompimentos de condutos de água ou esgoto, etc.) têm o
seu grau de saturação aumentado, passam por uma repentina variação de volume manifestada por
uma redução do índice de vazios.

O fenômeno deve-se ao fato de a entrada de água na estrutura instável desses solos, tender a
eliminar as causas do equilíbrio (pequena cimentação interpartículas; coesão aparente ocasionada
pela capilaridade) provocando um colapso da estrutura do solo, razão pela qual tais solos são
chamados de colapsíveis.

Residências com fundações diretas, apoiadas sobre esses solos na região de São Carlos -
Araraquara (SP), tem apresentado acentuadas trincas, quando ocorrem infiltrações sob as
fundações.

A Figura 81 mostra ensaios de adensamento com inundação realizados sobre amostras de solo
poroso de São Carlos.

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Figura 81 - Ensaios de adensamento com e sem inundação dos corpos de prova.

Pode-se notar que a inundação provoca uma redução repentina do índice de vazios sem aumento
de carga, o fenômeno parece desaparecer após determinada tensão, quando então o simples
acréscimo de cargas é suficiente para romper as ligações precárias interpartículas.

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CAPITULO X

10. EXPLORAÇÃO DO SUBSOLO

10.1. Introdução

As obras civis só podem ser convenientemente projetadas depois de um conhecimento adequado


da natureza e da estrutura do terreno em que vão ser implantadas. Em obras nas quais os solos
aparecem como material de construção, como o caso de aterros e barragens, há que se conhecer
também as características geotécnicas dos solos dos empréstimos.

As obras de maior porte e requinte de projeto exigem um melhor conhecimento dos solos
envolvidos. A história da Engenharia Civil registra casos em que a inobservância de certos
princípios de investigação ou mesmo a negligência diante da obtenção de informações acerca do
subsolo têm conduzido a ruínas totais ou parciais e, neste caso, a prejuízos incalculáveis tanto de
tempo como de recursos para a recuperação das obras.

O custo de um programa de prospecção bem conduzido situa-se entre 0,5 a 1 % do valor da obra.

O engenheiro geotécnico deve ter uma consciência crítica acentuada das limitações e um
conhecimento profundo dos instrumentos disponíveis para a prospecção geotécnica de tal forma
que possa, mediante informações obtidas por seu intermédio, realizar os projetos dentro dos
padrões de segurança e economia exigidos.

10.2. Informações exigidas num programa de prospecção

As informações básicas que se busca num programa de exploração do subsolo são:

a. A área em planta, profundidade e espessura de cada camada de solo identificado;

b. A compacidade dos solos granulares e a consistência dos solos coesivos;

c. A profundidade do topo da rocha e as suas características, tais como: litologia, área em


planta, profundidade e espessura de cada estrato rochoso; mergulho e direção das
camadas, espaçamento de juntas, planos de acamamento. presença de falhas e ação do
intemperismo ou estado de decomposição;

d. A localização do nível d’água e a quantificação do artesianismo, se existir:

e. A coleta de amostras indeformadas, que possibilitem quantificar as propriedades


mecânicas do solo com que trata a Engenharia; compressibilidade, permeabilidade e
resistência ao cisalhamento.

10.3. Tipos de propecção geotécnica

Os tipos de prospecção utilizados correntemente na Engenharia Civil são:

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10.3.1. Processos Indiretos

 Resistividade elétrica
 Sísmica de refração

São processos de base geofísica. Não fornecem os tipos de solos prospectados, mas tão somente
correlações entre estes e suas resistividades elétricas ou suas velocidades de propagação de ondas
sonoras.

10.3.2. Processos Semidiretos


 Vane test
 Cone de penetração estática (CPT, CPTU)
 Ensaio pressiométrico (PMT).

Fornecem apenas características mecânicas dos solos prospectados. Os valores obtidos por meio
de correlações indiretas possibilitam informações sobre a natureza dos solos.

10.3.3. Processos Diretos

 Poços
 Trincheiras
 Sondagens e trado
 Sondagens de simples reconhecimento
 Sondagens rotativas
 Sondagens mistas

São perfurações executadas no subsolo. Nestas, pode-se fazer uma observação direta das
camadas em furos de grandes diâmetros ou uma análise por meio de amostras coletadas de furos
de pequenas dimensões.

10.4. Prospecção geofísica

Dentre os vários processos geofísicos de prospecção existentes, o da resistividade elétrica e o da


sísmica de refração são os de uso mais frequente na Engenharia Civil. Estes processos de
prospecção apresentam a vantagem de serem rápidos e econômicos, principalmente em obras de
áreas extensas ou de grande comprimento linear. Além disso, fornecem informações numa zona
mais ampla e não apenas em torno de um furo como nos processos diretos, porém a interpretação
destas informações exige, quase sempre, que se leve a efeito as prospecções diretas.

Em geral, estes processos só propiciam resultados satisfatórios, se se pretende determinar as


profundidades do substrato rochoso recoberto por solo, ou para descobrir descontinuidades e
para delimitar camadas de solo constituídas por materiais bem diferenciados.

As cartas geofísicas obtidas por um trabalho de prospecção facilitam o planejamento e


localização de furos de sondagens, pois evidenciam com boa aproximação a zona prospectada. O
uso dos processos indiretos na prospecção no Brasil encontra-se em franco desenvolvimento,
podendo-se prever sua grande utilização num futuro próximo.

10.4.1. Processo da resistividade elétrica

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Este processo fundamenta-se no princípio de que os diferentes materiais do subsolo possuem


valores característicos de resistividade elétrica.

Os dispositivos de medida na determinação da resistividade são constituídos de quatro eletrodos


colocados na superfície do terreno. Os dois eletrodos externos, de corrente, são conectados a uma
bateria e a um amperímetro. Os centrais, de potencial, são ligados a um voltímetro. As posições
relativas entre estes eletrodos conduzem a diversas técnicas de prospecção. Na configuração de
Wenner, os eletrodos são equi-espaçados, e na de Schlumberger, a distância entre os eletrodos de
potencial varia de 1/50 a l/25 da distância entre os eletrodos de corrente.

A resistividade elétrica é medida, a partir de um campo elétrico gerado artificialmente pela


aplicação de uma corrente elétrica no subsolo por meio dos eletrodos externos, cuja diferença de
potencial é detectada pelos elétrodos internos, Figura 82.

A área abrangida pelo campo elétrico induzido é função do espaçamento entre os eletrodos.
Quanto maior este espaçamento maior será a área, consequentemente, maior será também a
profundidade atingida. Portanto, o perfil estratigráfico de um subsolo pode ser obtido, variando-
se continuamente o espaçamento L entre os eletrodos, e registrando-se a resistividade elétrica.

10.4.2 Proccssos de sísmica de refração

Os processos de geofísica à base de sísmica de refração apoiam-se no principio de que a


velocidade de propagação de ondas sonoras em corpos elásticos é função, entre outros, do
módulo de elasticidade do material, de seu coeficiente de Poisson e de sua massa específica.
Produzindo-se uma emissão sonora do terreno, por meio de explosivos ou pancadas, registra-se
em geofones instalados à superfície o tempo gasto entre o instante da explosão e o da chegada
das ondas aos geofones. Existem três tipos de ondas sonoras: as diretas, as refratadas e as
refletidas.

Figura 82 – Resistividade elétrica - configuração Wenner.

Quando uma onda que se propaga com velocidade V1 em um meio a incide na interface entre
este e um meio b, ou esta onda se reflete com a mesma velocidade Vi ou ela se refrata e se
propaga no meio b com uma velocidade e em uma direção que depende do ângulo de incidência
e das velocidades VI e V2, conforme a Figura 83.

Pela lei de Snell, pode-se notar que haverá um ângulo particular, chamado de angulo crítico de
incidência, para o qual 2 = 90º, ou seja, a onda refratada propagar-se-á segundo uma direção
coincidente com a interface.

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Figura 83 - Ondas refratadas e refletidas.

V1
Para 2 = 90º ,  crit 
V2

Chama-se de onda critica a que se propaga segundo a interface por ter incidido num ângulo igual
a crit. À medida que esta onda crítica se propaga pela interface novas ondas emergirão dela em
direção à superfície fazendo um ângulo crit com a vertical, conforme a Figura 84.

Por meio de formulações matemáticas, consegue-se medir a espessura da camada conhecendo-se


o tempo gasto para que as ondas de chegada direta e as refratadas atinjam os geofones instalados,
convenientemente à superfície, conforme se mostra no gráfico da Figura 85.

1 1 l V2  V1
t R  2h  2 e h
2
V1 V2 2 V2  V1

Figura 84 - Esquema de propagação de ondas no solo.

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Figura 85 – Distância x tempo para as ondas direta e refratada.

10.5. Métodos semidiretos

Os processos semidiretos de prospecção foram desenvolvidos por causa da dificuldade de


amostrar certos tipos de solos, como areias puras e argilas moles. Não fornecem o tipo de solo,
mas somente certas características de comportamento mecânico das camadas obtidas mediante
correlações com grandezas medidas em suas execuções. Em resumo, os processos semidiretos
são ensaios "in situ". As dificuldades de se dispor de amostras realmente indeformadas e a
complexidade estrutural dos maciços terrosos, quando comparados com as amostras, têm
conduzido a uma utilização crescente desses ensaios.

10.5.1. Vane Test

O Vane test ou ensaio de palheta foi originalmente desenvolvido por engenheiros escandinavos,
para medir a resistência ao cisalhamento não drenada de argilas "in situ".

O ensaio consiste na cravação de uma palheta, Figura 86, e em medir o torque necessário para
cisalhar o solo segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve ao redor da
palheta, quando se aplica ao aparelho um torque tal que a velocidade seja constante e igual a 6
graus por minuto.

Algumas hipóteses devem ser feitas, a fim de que o valor medido possa representar a resistência
ao cisalhamento rápida e não drenada do solo:

a. Drenagem impedida.
b. Ausência de amolgamento do solo durante a operação de cravação do equipamento.
c. Coincidência da superfície de ruptura com a geratriz do cilindro formado pela rotação da
palheta.
d. Uniformidade da distribuição de tensão ao longo de toda superfície de ruptura quando o
torque atingir o seu valor máximo;

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e. Isotropia do solo.

O ensaio fornece também uma ideia da sensibilidade da argila. Pode-se lançar em um gráfico
torque x rotação os valores em seus estados indeformado e amolgado, Figura 87. Para este caso,
considera-se o amolgamento do solo, após sua ruptura, quando se dão dez rotações no
equipamento à uma velocidade bem rápida.

Figura 86 – Aparelho de Vane.

Figura 87 – Resistência de uma argila no estado indeformado e amolgado.

O aparelho pode ser cravado diretamente no solo até a profundidade a ser ensaiada, ou em furos
de sondagens. Neste caso, é aconselhável que a sondagem se processe até uma distância de
aproximadamente 0,50 m acima da cota de ensaio.

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Para o cálculo de resistência não drenada da argila considera-se a palheta esquematizada na


Figura 86.b. No instante da ruptura, o torque aplicado se iguala à resistência ao cisalhamento da
argila, representada pelos momentos resistentes do topo e da base do cilindro de ruptura e pelo
momento resistente desenvolvido ao longo de sua superfície lateral, ou seja:

T  M L  2M B

Em que T é o torque máximo aplicado à palheta; ML é o momento resistente desenvolvido ao


longo da superfície lateral de ruptura; e MB momento resistente desenvolvido no topo e na base
dado cilindro de ruptura. I

mas

1 2D 3
M L  D 2 Hcu e MB   cu
2 12

Em que cu é a resistência não drenada da argila; D é o diâmetro do cilindro de ruptura; e H é a


altura do cilindro de ruptura;

ou,

T
cu  ; se H  2 D
H D
D (  )
2

2 6

6 T
cu  
7  D3

O Vane test tem mostrado fornecer resultados bem próximos dos reais, embora haja necessidade
de usar fatores corretivos em função das características plásticas do solo. Em argilas médias e
duras, a perturbação causada pela cravação do aparelho afeta sensivelmente a estrutura do solo e
invalida os resultados obtidos.

10.5.2. Ensaio de Penetração Estática do Cone (CPT e CPTu)

O ensaio de penetração estática do cone, também conhecido como "deep sounding" ou


"diepsoundering", foi desenvolvido na Holanda com o propósito de simular a cravação de
estacas.

O aparelho consta de um cone móvel, com um ângulo no vértice de 60º, com área transversal de
10 cm2. O cone é acionado por hastes metálicas. O esforço estático de cravação é transmitido
por cilindros hidráulicos situados à superfície e ancorados no terreno. A Figura 88 mostra a
forma esquemática de aplicação e medição das cargas e um corte transversal do cone.

A resistência lateral é obtida pela diferença entre a resistência total, correspondente ao esforço
estático necessário para penetração do conjunto numa extensão de aproximadamente 25 cm, e a
resistência de ponta, quando se crava somente a ponta móvel do cone num comprimento de
aproximadamente 4 cm.

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Figura 88 - Ensaio de penetração continua.

Portanto, a cada 30 cm de profundidade podem-se ter valores das resistências lateral e de ponta,
que lançados em um m gráfico “versus” a profundidade toma o aspecto da Figura 89.

Analisando-se as variações relativas das resistências especificadas de ponta e lateral, pode-se ter
uma ideia da natureza dos solos prospectados. O Quadro X seguinte da uma forma de
interpretação dos solos atravessados pela cravação do penetrômetro.

No ensaio de cone o processo de cravação cria em torno da ponta níveis de tensão muito
elevados e as tensões no cisalhamento estão muito além dos níveis encontrados rotineiramente
nas obras civis. Neste processo, coexistem fenômenos de compressão e de ruptura por
cisalhamento.

Os dados obtidos no ensaio de cone quando usados em correlações fornecem boas indicações das
propriedades do solo como: ângulo de atrito interno de areias, coesão e consistência das argilas.
Tais dados são facilmente utilizáveis no dimensionamento de estacas cravadas.

10.5.3. Ensaio Pressiométrico (PMT)

O ensaio pressiométrico foi desenvolvido pelo engenheiro francês Menard, com o objetivo de
medir o módulo de elasticidade e a resistência ao cisalhamento dos solos e rochas "in situ".

O aparelho compõe-se de uma célula que é introduzida em furos de sondagem e está ligada a um
aparelho de medida de pressões e volume. A Figura 90 representa um esquema do pressiômetro
de Menard.

A célula é constituída de três elementos metálicos vazados, cujas paredes são vedadas por uma
membrana de borracha. Mediante um dispositivo de injeção de água, situado na superfície do
terreno, a membrana é pressurizada e expande-se, podendo atingir até o dobro de seu volume
inicial. Os elementos das extremidades, chamados de células de guarda, são inflados com gás
carbônico a uma pressão igual ao do elemento central, para reduzir o efeito do topo. O elemento
central recebe um volume aproximado de cerca de 700 a 750 cm3 de água. O efeito da aplicação
da água na célula central produz uma pressão radial nas paredes do furo. A carga é aplicada em

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estágios, e para cada um, registra-se a deformação correspondente. O processo desenvolve-se até
a ruptura do solo.

Figura 89 - Resultado de um ensaio de penetração contínua.

Figura 90 - Esquema do Pressiômetro.

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A partir dos pares de valores pressão aplicada versus variação de volume pode-se traçar um
gráfico tendo o aspecto da Figura 91 em que é possível perceber os seguintes trechos:

1. Intervalo da curva em que há reposição das tensões atuantes (na abertura do furo);
2. Fase pseudo-elástica:
3. Fase plástica;
4. Fase de equilíbrio limite.

Figura 91 - Curva pressão aplicado x variação de volume obtida com a pressiômetro.

O módulo de elasticidade é obtido na fase pseudo-elástica da curva pela expressão:

dv
EK
dp

em que o quociente dv/dp expressa uma variação do volume da membrana com a pressão
aplicada, e K é uma constante que depende das dimensões da célula.

Com pressiômetros dotados de células normais pode-se chegar à pressões de 45 kgf/cm2,


registrando um módulo de elasticidade da ordem de l04 Kgf/cm2.

O ensaio pressiométrico tem o inconveniente de medir a compressibilidade somente segundo um


plano horizontal, mas exatamente por isso, aparece como um bom equipamento para medir as
tensões horizontais em repouso e logo o coeficiente Ko.

10.6. Processos diretos

Os métodos diretos de investigação permitem o reconhecimento do solo prospectado mediante


análise de amostras provenientes de furos executados no terreno por processos de perfuração
expeditos. As amostras deformadas fornecem subsídios para um exame visual-táctil das
camadas, e sobre elas pode-se executar ensaios de caracterização (teor de umidade, limites de
consistência e granulometria). Há casos em que é necessário a coleta de amostras indeformadas,

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para obter-se informações seguras sobre o teor de umidade, resistência ao cisalhamento e


compressibilidade dos solos.

Pode-se obter com os processos diretos a delimitação entre as camadas do subsolo, a posição do
nível do lençol freático e informações sobre a consistência das argilas e compacidade das areias.
Nota-se então, que as principais características esperadas de um programa de prospecção são
alcançadas com o uso destes processos. Em todos eles há o inconveniente de oferecer uma visão
pontual do subsolo.

10.6.1. Poços

Os poços são perfurados manualmente, com o auxílio de pás e picaretas. Para que haja facilidade
de escavação, o diâmetro mínimo deve ser da ordem de 60 cm. A profundidade atingida é
limitada pela presença do N.A. ou desmoronamento, quando então se faz necessário revestir o
poço.

Os poços permitem um exame visual das camadas do subsolo e de suas características de


consistência e compacidade, por meio do perfil exposto em suas paredes. Permitem também a
coleta de amostras indeformadas em forma de blocos.

10.6.2. Trincheiras

As trincheiras são valas profundas, feitas mecanicamente com o auxílio de escavadeiras. Permite
um exame visual contínuo do subsolo, segundo uma direção e, tal como nos poços, permite a
retirada de amostras indeformadas.

10.6.3. Sondagehs a Trado

O trado é um equipamento manual de perfuração. Compõe- se de uma barra de torção horizontal


conectada por uma luva T a um conjunto de hastes de avanço, em cuja extremidade se acopla
uma cavadeira ou uma broca, geralmente em espiral.

A prospecção por trado é de simples execução, rápida e econômica. No entanto, as informações


obtidas são apenas do tipo de solo, espessura de camada e posição do lençol freático. As
amostras colhidas são deformadas e situam-se acima do N.A.

Por ser um processo geralmente manual (existem equipamentos mecânicos) e certos tipos de
solos serem de perfuração difícil, o uso do equipamento tem suas limitações. Para o caso de
areias compactas, argila dura e pedregulho, a profundidade atingida é da ordem dos l0 m.

É bastante usado em reconhecimento preliminar, principalmente de áreas de empréstimo.

10.6.4 - Sondagens à Percussão ou de Simples Reconhecimento

10.6.4.1 - Introdução

O método de sondagem à percussão é o mais em pregado no Brasil, principalmente em


prospecção do subsolo para fins de fundação. Dentre as vantagens que apresenta, pode-se
enumerar: o seu baixo custo, a simplicidade de execução, a possibilidade de colher amostras, a
determinação da posição do lençol freático e a obtenção de informações sobre a consistência e
compacidade dos solos. A sondagem é executada por meio de uma perfuração no terreno,

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acompanhada da extração de amostras, permite, em geral, a obtenção do perfil estratigráfico do


subsolo.

10.6.4.2 - O equipamento

O equipamento de sondagem à percussão é composto de um tripé equipado com roldana e


sarrilho que possibilita o manuseio de hastes metálicas ocas, em cuja extremidade inferior se fixa
um trépano biselado ou um amostrador-padrão, Figura 92.

No processo de perfuração, as paredes de furo podem mostrar-se instáveis, havendo a


necessidade de revesti-las com tubos metálicos de diâmetro nominal superior ao da haste de
cravação. Este tubo metálico é denominado tubo de revestimento.

Na parte superior do conjunto haste-tubo de revestimento, há dispositivos de entrada e saída d’


água, conectada por meio de mangueiras a um reservatório e a um conjunto motor-bomba.
Fazem ainda parte do equipamento um martelo de cravação com peso padronizado (dotado, na
base, de um coxim de madeira), um mostrador bi-partido de paredes grossas e trados-cavadeira e
espiral.

Figura 92 - Vista geral de um equipamento pra sondagens à percussão.

10.6.4.3. Perfuração

A perfuração é feita com um trado-cavadeira até a profundidade do nível d’ água ou até que seja
necessário o revestimento do furo, por causa da instabilidade de suas paredes. Embora existam

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em diâmetros de 3", 4" e 6", é o de 2 ½" que se usa com mais frequência, pelo fato de ser mais
econômico e de fácil manusei0. A partir do ponto em que se introduz no furo o revestimento, a
perfuração deve prosseguir, com o uso de um trado espiral; a cota do N.A. será a profundidade
limite desta técnica de prospecção. Abaixo deste plano faz-se a perfuração por intermédio do
processo de lavagem com circulação d'água, que permite um avanço rápido do furo, sendo por
isso preferido pelas equipes de perfuração, em detrimento dos processos manuais. Nele, a água é
bombeada para o fundo do furo, através da haste oca e retorna pelo espaço anelar existente entre
a haste e o tubo de revestimento. O trépano de lavagem biselado contém dois orifícios laterais,
para a saída d'água e escava o furo nos movimentos de percussão feitos na haste pelo sondador.
Os detritos da escavação são carregados pela água no seu movimento ascensional.

O processe de circulação de água dificulta a determinação da posição do N.A. e altera as


características geotécnicas dos solos. Por esta razão, os furos são abertos a trado, até alcançar o
N.A., e as operações de amostragem exigem que o avanço do furo por lavagem seja interrompido
a cerca de 50 cm da cota de colheita da amostra.

10.6.4.4. A amostragem

A cada metro de profundidade são coletadas amostras pela cravação dinâmica de amostradores-
padrão. Estas amostras são deformadas e prestam-se a caracterização dos solos. Os amostradores
são tubos metálicos bi-partidos de parede grossa, com ponta biselada, constituídos de duas meia
canas solidarizadas entre as extremidades por conexões rosqueadas, Figura 93.

O sistema de percussão consiste na queda do de um peso padronizado de uma altura também


padronizada, de forma que a energia de cravação seja sempre constante, durante processo de
amostragem.

No Brasil, existem três tipos de amostradores-padrão, distinguidos pelas diferentes dimensões do


tubo e pela energia de cravação empregada.

Figura 93 - Amostrador Terzaghi.

Deve-se ressaltar que a NBR 6484-86 normaliza a metodologia de execução deste ensaio e
descreve as dimensões do amostrador-padrão tipo Terzaghi (Figura 93). Os amostradores tipo
Mohr-Geotécnica e IPT foram grandemente empregados no Brasil, porém hoje estão quase em
desuso.

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Nome do Diâmetro interno Diâmetro Peso Altura de


amostrador (polegadas) externo (kg) queda (cm)
(polegadas)

Terzaghi-Peck 2 3 65 75
1
SPT 8

Mohr-Geotécnica 5 1 65 75
1
IRP 8

IPT 13 1 60 75
1 1
16 2

10.6.4.5. Índice de resistência à penetração

Paralelamente à amostragem do subsolo, pode-se obter o Índice de resistência à penetração. Na


cravação dinâmica do amostrador, anota-se o número de golpes do martelo necessários para
efetuar a cravação de cada 15 centímetros do amostrador.

Para os amostradores tipo TERZAGHI, o índice de resistência à penetração refere-se ao número


de golpes necessários para a cravação dos últimos 30 centímetros do amostrador, desprezando-se
os golpes correspondentes à cravação dos 15 centímetros iniciais. Este índice é conhecido como
SPT, iniciais de sua designação em inglês, “Standard Penetration Test”.

Para os amostradores Mohr-Geotécnica e IPT, o índice de resistência à penetração refere-se ao


número de golpes para a cravação dos 30 cm iniciais do amostrador.

O índice de resistência a penetração, ou número N, como é comumente chamado, ainda que não
seja um ensaio de campo preciso (pois é muitas vezes influenciado por fatores ligados à forma de
execução e pelo equipamento empregado), pode dar uma indicação razoável dos estados de
compacidade e consistência dos dolos. As Tabelas a seguir (Terzaghi e Peck, 1948) fornecem a
consistência, a compacidade para os solos arenosos, e a consistência para os solos argilosos, em
função do número de golpes, NSPT.

Tabela XI – Compacidade de solos arenosos em função do NSPT

Número de golpes, NSPT Compacidade


0–4 Muito fofa
4 – 10 Fofa
10 – 30 Média
30 – 50 Compacta
> 50 Muito compacta

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Tabela XII – Consistência de solos argilosos em função do NSPT

Número de golpes, NSPT Consistência


0–2 Muito mole
2–4 Mole
4–8 Média
8 – 15 Rija
15 - 30 Muito rija
> 30 Dura

As correlações existentes entre o índice de resistência à penetração e a consistência das argilas,


principa1mente das argilas sensíveis, podem estar sujeitas a erros grosseiros, em razão da
diferença de comportamento da argila, em face de cargas estáticas e dinâmicas, e ainda pelo fato
do amolgamento da argila destruir sua estrutura, e, consequentemente, modificar sua resistência
à penetração.

É importante notar, como mencionado anteriormente, que resistência à penetração de uma


camada pode apresentar diferentes valores, se sobre ela forem executadas sondagens por firmas
distintas. Há erros originados da carência de normalização quando se executam sondagens, além
daqueles advindos do estado de conservação dos amostradores. Estes, por serem mais
dificilmente controláveis, exigem maior atenção por parte do engenheiro.

Fatores ligados à execução da sondagem:

o Erro na contagem do numero de golpes.


o Limpeza deficiente do furo.
o Furo não alargado suficientemente, para a livre passagem do amostrador.
o Variação da energia de cravação.
o Diferentes interações solo-amestrador.
o Emprego de técnica de avanço por circulação de água acima do N.A.

Fatores ligados ao equipamento:

o Dimensões e estado de conservação do amostrador.


o Estado de conservação das hastes: uso de hastes de diferentes pesos unitários.
o Martelo não calibrado ou sem coxim de madeira.

10.6.5. Sondagem Rotativa

A sondagem rotativa empregada na perfuração de rochas, de solos de alta resistência e de


matacões ou blocos de natureza rochosa.

O equipamento compõe-se de uma haste metálica rotativa, dotada na extremidade, de um


amostrador que dispõe de uma coroa diamantada.

Atualização:09/05/2016
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O movimento de rotação da haste é proporcionado pela sonda rotativa, que se constitui de um


motor, de um elemento de transmissão e um dispositivo que imprime às hastes os movimentos de
rotação, recuo e avanço. A haste é oca e, por injeção de água no seu interior, consegue-se atingir
o fundo da escavação, por meio de furos existentes no amostrador. Esta água tem a função de
refrigerar a coroa diamantada e carrear os detritos da perfuração no seu movimento ascensional.

Tal como no processo, à percussão, quando as paredes do furo mostrarem-se instáveis, pondo em
risco a coluna de perfuração, que poderia ficar presa, usa-se um tubo de revestimento metálico,
com diâmetro nominal superior ao das hastes. Em outras ocasiões, emprega-se o revestimento do
furo, quando, atravessando camadas permeáveis ou bastante fraturadas, houver grande perda de
água de circulação.

As coroas são peças de aço especial, com incrustações de diamante ou vídia nas suas
extremidades. O efeito abrasivo da coroa desgasta a rocha e permite a descida do furo de
revestimento e o alojamento do testemunho, no interior do amostrador.

Dentre os diâmetros mais utilizados em Engenharia Civil, pode-se enumerar:

Denominação furo (mm)  do testemunho (mm)


EX 35 20
AX 49 29
BX 76 54
NX 60 41

10.6.6. Sondagem Mista

A sondagem mista é a conjugação do processo, à percussão, associado ao processo rotativo.

Quando, por exemplo, nas sondagens à percussão, os processos manuais forem incapazes de
perfurar solos de alta resistência, matacões ou blocos de natureza rochosa, usa-se o processo
rotativo como instrumento complementar. As sondagens mistas são, pois, associações dos dois
métodos, não importando a ordem de execução.

10.7. Amostragem

10.7.1. Introdução

A Mecânica dos Solos teórica apoia-se em características de comportamento mecânico dos


maciços terrosos medidas em averiguações experimentais em amostras representativas. A
obtenção de amostras de fato representativas tem sido uma preocupação de investigadores das
mais diversas partes do mundo.

No final da década de 50, entre os congressos de Mecânica dos Solos de Londres (1957) e o de
Paris (1961), um grupo de pesquisadores começou a atuar no sentido de dar uma nova dimensão
ao problema da amostragem. Este grupo, o IGOSS - Internacional Group on Soil Sampling,
surgiu do esforço de alguns pesquisadores que notaram um progresso acentuado nos métodos de
cálculo e nas técnicas experimentais da Mecânica dos Solos, sem ter havido um progresso

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paralelo das técnicas de amostragem. Aliás, este fato vem ressaltar uma importante conclusão a
que deve chegar o principiante: De que adianta possuir processos de cálculo e técnicas
laboratoriais de alto requinte, se não é possível contar com boas amostras? Toda a potencialidade
dos métodos e das técnicas perdem-se diante de amostras pouco representativas.

A nova tendência da Mecânica dos Solos, a partir do trabalho do IGOSS, é classificar as


amostras em cinco categorias, distintas:

 CLASSE 1: Amostras que não passaram por distorção nem alteração de volume e que,
portanto, apresentam compressibilidade e características de cisalhamento inalteradas.

 CLASSE 2: Amostras em que o teor de umidade e a compacidade não experimentaram


alterações, porém foram distorcidas e, portanto, as características de resistência ficaram
alteradas.

 CLASSE 3: Amostras em que a composição granulométrica, e o teor de umidade não


experimentaram alterações, mas a massa específica passou por alteração.

 CLASSE 4: Amostras em que a composição granulométrica, foi respeitada, mas o teor de


umidade e massa específica experimentaram alteração.

 CLASSE 5: Amostras em que até na composição granulométrica houve alteração, por


causa da perda de partículas finas ou por esmagamento das partículas maiores.

No decorrer do texto, podem-se notar quais características dos solos são mais bem obtidas com
as diversas classes de amostra. Desde já, pode-se observar que amostras da classe 5 prestam-se
apenas, para dar uma ideia de sequência das camadas.

Houve, em seguida, por parte dos investigadores, preocupação de conceber tipos diferentes de
amostradores, de fato capazes de permitir amostras indeformadas. Está claro que além do tipo
do amestrador ut1izado, a obtenção de amostras, dentro de determinada classe, é função de
outros parâmetros tais como: tipo do solo e de seus estados de compacidade e consistência,
posição do lençol freático, em relação à cota de coleta da amostra e dos fatores já citados,
relativos à execução da sondagem.

No dizer de alguns autores, a amostragem indeformada é um ideal almejado, porém jamais


alcançado, pois, ainda que se consiga uma amostra que tenha todas as características da camada,
pelo menos o estado de tensão da amostra retirada é sensivelmente diferente daquele que ela
possuía quando pertinente ao maciço.

Folque afirma que a amostra indeformada não está sujeita ao mesmo estado de tensão que a
solicitava "in situ" e sugere um procedimento para quantificar esta alteração, o qual pode ser
visto na ref. 9.

10.7.2. Amostras Indeformadas

a. Blocos

A coleta de amostras indeformadas, para serem analisadas em laboratório, será necessária


quando os dados fornecidos pelos processos de investigação utilizados mostrarem-se
insuficientes na análise do problema em foco. São colhidas com amostradores ou em caixas

Atualização:09/05/2016
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metálicas. As superfícies expostas das amostras são parafinadas, e transferidas com cuidado, para
os laboratórios e ali armazenadas em câmara úmidas, até o instante de serem ensaiadas.

Para as amostras superficiais, usa-se a forma de amostragem apresentada a seguir, Figura 94.

Em camadas subsuperficiais, situados acima do N.A., os poços e as trincheiras permitem a coleta


de amostras indeformadas, em forma de blocos e anéis.

As sondagens de simples reconhecimento, quando executadas com diâmetro de 4" e 6",


possibilitam também a coleta de amostras indeformadas. Neste caso exige-se o uso de
amestradores especiais e um processo de cravação em que o amostrador é forçado contra o
terreno, num movimento contínuo e rápido com o auxílio de um dispositivo de reação acoplado
ao revestimento ou com macaco hidráulico.

Figura 94 - Retirada de amostras indeformadas.

b. Amostras especiais

Em solos coesivos e de consistência de mole a média o amostrador de paredes finas, tipo Shelby,
é grandemente empregado. É composto de um tubo de latão ou de aço inoxidável de espessura
reduzida. Preferem-se os de 1atão aos de aço, por serem mais resistentes à corrosão. Quanto mais
finas as paredes do amostrador, menor será o amolgamento da amostra, entretanto, deverá haver,
em função do diâmetro, uma espessura mínima, para que o amostrador não flambe ou amasse
durante a amostragem. Este inconveniente é evitado, quando se tem amostradores com relação de
área inferior a l0 %, Figura 95.

Para que haja uma redução do atrito entre a amostra o as paredes do tubo, projetam-se os
amostradores com uma folga interna de 1 %, Figura 95.

Uma folga maior facilitaria a entrada da amostra no amostrador, mas aumentaria o risco desta
cair, quando da operação de retirada da amostra do furo de sondagem. Uma quantificação do

Atualização:09/05/2016
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amolgamento poderia ser dada pela porcentagem de recuperação da amostra: relação entre o
comprimento cravado da amostra e o comprimento cravado do amostrador, dado em
porcentagem. Quando esta re1ação for maior do que 100 % significam um deslocamento do solo,
por causa da espessura das paredes do amostrador ou do desenvolvimento de atrito lateral
interno, insuficiente para resistir à tendência de inchamento da amostra, resultado do alívio de
tensões experimentadas por ela. Por outro lado, para porcentagens menores que 100 %, a causa
pode ser o atrito lateral interno excessivo. Uma porcentagem ideal seria um pequeno intervalo
de variação em torno de 100 %.

Figura 95 - Amostrador tipo “Shelby".

Apesar de serem bastante empregados no Brasil, os amostradores de parede fina, tipo Shelby,
não permite um controle da porcentagem de recuperação. Dentre os tipos usuais mais
empregados nos processos de amostragem pode-se enumerar:

- Amostradores de Pistão

A porcentagem de recuperação conseguida com amostradores de pistão, mesmo em solos de


difícil amostragem pode facilmente atingir 100 %. O amostrador é um tubo de paredes finas,
equipado com um pistão que corre no seu interior. Este possui uma haste que se prolonga até a
superfície do terreno, por dentro da haste oca do amostrador. A presença do pistão favorece a
amostragem, pois não permite o encurtamento da amostra por ação do atrito entre esta e as
paredes do amostrador, sem que haja a criação de vácuo no topo da amostra. Além disso, este
vácuo é capaz de reter a amostra de solos não coesivos, na operação de retirada do amostrador do
furo de sondagem, Figura 96.

- Amostrador Sueco

O amostrador sueco permite uma sondagem contínua do subsolo, não sendo preciso retirar o
amostrador, aproximadamente a cada meio metro de avanço do furo. Possui um pistão que
permanece fixo durante o processo de amostragem. Nele se fixam as pontas de tiras de papel de
alumínio que são montadas em carretéis dentro de uma peça especial, e que se distribuem ao
longo de todo o perímetro do amostrador. A presença do papel alumínio reduz o atrito entre a
amostra e as paredes do tubo, e permite a obtenção de amostras com vários metros de
comprimento. Figura 97.

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- Amostrador Deninson

O amostrador Deninson destina-se amostragem de 50 solos resistentes, em que não se consegue


uma amostragem por cravação. Pode ser fixado às sondas rotativas. O equipamento consiste em
dois cilindros, sendo um interno e um externo rotativo, ambos dotados de sapata cortante. A
amostra obtida pela rotação do cilindro externo penetra no cilindro interno, sendo suportada pelo
atrito das paredes e por mola retentora. Para a perfuração usa-se o processo de circulação de
lama que ajuda na estabilização das paredes do furo, Figura 98.

Figura 96 - Amostrador de pistão. Figura 97 - Amostrador sueco.

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Figura 98 - Amostrador Deninson.

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CAPÍTULO XI

11. COMPACTAÇÃO

11.1. Definição e importância

A compactação é entendida como ação mecânica por meio da qual se impõe ao solo uma redução
de seu índice de vazios. Embora seja um fenômeno similar ao adensamento, no uso diário dos
termos, têm sido dadas conotações diferentes. Enquanto no adensamento a redução de vazios é
obtida pela expulsão da água intersticial, num processo natural ou artificial, que ocorre ao longo
do tempo, e que podem durar centenas de anos; na compactação esta redução ocorre, em geral,
pela expulsão do ar dos poros, num processo artificial de pequena duração.

O efeito da compactação resulta na melhoria das qualidades mecânicas e hidráulicas do solo, e


entre elas, o acréscimo de resistência ao cisalhamento e a redução da compressibilidade e da
permeabilidade.

O índice final de vazios do solo é decorrente do tipo e estado do solo, antes da compactação e da
energia aplicada durante o processo.

Os tipos de compactação usuais podem ser manuais ou mecânicos. Nos processos manuais,
utilizam-se soquetes, em que a energia é aplicada mediante golpes sobre a camada. Nos
processos mecânicos, empregam-se soquetes mecânicos, rolos estáticos (lisos ou dentados) ou
vibratórios, em que a energia aplicada depende da tensão aplicada e do número de passadas que
se dá sobre a camada. Historicamente, as técnicas de compactação evoluíram em face dos
problemas de estabilidade e estanqueidade de maciços de barragens e pela imposição da ausência
de recalque em pavimentos rodoviários. Nos dias atuais, é também usada como método de
melhoria da capacidade de suporte dos solos superficiais.

11.2. Curva de compactação

A primeira contribuição significativa ao estudo da compactação foi dada por Ralph Proctor, em
1933. Ele descobriu a re1ação existente entre a massa específica seca, o teor de umidade e a
energia de compactação. Para uma energia fixa, a massa específica seca aumenta com o teor de
umidade até atingir um valor máximo e decresce daí em diante, Figura 99.

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Figura 99 – Curva de compactação.

O teor de umidade que proporciona massa específica máxima é denominado teor ótimo.

Pode-se, de uma forma geral, explicar o fenômeno da compactação levando em conta a grande
influência que a água intersticial exerce, principalmente sobre o comportamento dos solos finos.
No ramo seco da curva de Proctor (à esquerda do teor ótimo de umidade) tendo o solo baixo teor
de umidade, a água de seus vazios está sob o efeito capilar. As tensões de capilaridade tendem a
aglutinar o solo mediante a coesão aparente entre suas partículas constituintes. Isto impede a sua
desintegração e o movimento relativo das partículas para um novo rearranjo. Este efeito é
reduzido à medida que se adiciona água ao solo, uma vez que ela destrói os benefícios da
capilaridade, tornando este rearranjo mais fácil. No ramo úmido da curva de Proctor, sendo
elevado o teor de água em forma de água livre, esta absorve parte considerável da energia de
compactação aplicada. Como a água é incompressível, parte desta energia é dissipada.

A aplicação de energias de compactação maiores produz uma redução do teor ótimo de umidade
e uma elevação do valor da massa específica seca máxima, A Figura 100 dá uma ideia deste fato.

As curvas de compactação de materiais granulares bem graduados possuem um máximo bem


caracterizado e apresentam maior massa específica máxima e menor teor ótimo de umidade do
que os solos de granulometria uniforme ou argilosos. Nestes, a curva não possui um máximo
bem definido.

Os solos siltosos ocupam uma posição intermediária. A Figura 101 dá uma ideia deste fato.

11.3. Ensaio de compactação

O ensaio de compactação desenvolvido por Proctor foi normalizado pela associação dos
departamentos rodoviários americanos, AASHO. (American Association of State Highway
Officials) e conhecido como Ensaio de Proctor Normal ou como AASHO Standard. (Entre nós,
ele foi normalizado pela ABNT por meio da NBR 7182 e tomou o nome de Ensaio Normal de
Compactação).

O ensaio consiste em compactar uma porção de solo em um cilindro de 1000 cm3 de volume com
um soquete de 2,5 kg caindo em queda livre de uma altura d 30 cm, Figura 102.

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Figura 100 - Curvas de compactação para solos para energias diferentes.

Figura 101 - Curvas de compactação para solos diferentes.

O solo é colocado dentro do cilindro, em três camadas. Sobre cada uma se aplicam 26 golpes do
soquete, distribuídos uniformemente sobre a superfície do solo. As espessuras finais das três
camadas devem ser quase iguais. Após a compactação de cada uma delas, a superfície é
escarificada com o propósito de dar uma continuidade entre as camadas. O topo da terceira
camada, após a compactação, deverá estar rasante com as bordas do cilindro.

Figura 102 - Equipamento usado no ensaio de compactação.

A energia aplicada pelo ensaio normal de compactação e dada pela fórmula:

pl n N
E
V

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em que: E = energia aplicada ao solo, por unidade de volume; p = peso do soquete; l = altura de
queda do soquete; n = número de camadas; N = número de golpes aplicados a cada camada e; V
é o volume do cilindro

Por causa do aparecimento de equipamentos de grande porte dotados de elevada energia


específica de compactação para atender aos prazos de cronogramas demandados pelas grandes
obras implicando na compactação de grandes volumes dos aterros com elevada velocidade de
construção, foi criado o ensaio Proctor Modificado. Neste ensaio, a energia de compactação foi
aumentada; deixou-se constante o numero de golpes por camada, e elevou-se o peso do soquete
para 4,5 kg, o número de camadas para 5 e a altura de queda para 45 cm.

O solo a ser ensaiado deverá apresentar um teor de umidade cerca de 5 % inferior ao ótimo
previsto. Após a compactação, deve-se anotar a massa do corpo de prova para determinação da
massa específica e retirar três porções do solo, colocá-las em cápsulas e levá-las para secagem
em estufa para determinação do teor de unidade. Em seguida, adiciona-se uma quantidade de
água ao solo, suficiente para elevar o seu teor de umidade em cerca de 2 % em relação ao ponto
anterior, Toda a técnica descrita neste parágrafo deve ser repetida para os demais pontos da
curva de compactação.

O ideal será tomar de 4 a 5 pontos de forma que se possam ter dois pontos abaixo e dois acima
do teor ótimo. De posse dos pares de valores, massa específica do solo e teor de umidade, pode-
se calcular a massa específica seca mediante a conhecida relação:


d 
1 w

Com os pares de valores d x w, traça-se a curva de compactação e determina-se o teor ótimo e a


massa específica seca máxima, Figura 103. Traçam-se também as curvas de saturação, que
podem ser calculadas a partir da fórmula:

 s Sr w
d 
Sr w   s w

Além da técnica de compactação com reuso do material, em que se utiliza apenas uma porção de
solo, que é destorroado e homogeneizado, após cada operação de compactação, pode-se também
realizar o ensaio, tomando amostras iguais com o mesmo teor de umidade inicial, para a
determinação de cada ponto da curva. Pode haver uma pequena variação no resultado obtido
com os dois processos, sendo que os solos mais argilosos são mais sensíveis ao fenômeno.

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Figura 103 – Curva de compactação e curvas de saturação.

11.4. Equipanentos de compctação

Pode-se classificar os equipamentos de compactação em três categorias:

Soquetes

 Manuais
 Mecânicos

b. Equipamentos estáticos

 Rolos dentados
 Rolos pneumáticos
 Lisos

c. Equipamentos vibratórios

 Placas
 Rolos

I)escreve-se a seguir os principais tipos de equipamentos e suas utilizações, tendo como base as
recomendações do NAVDOCKS DM-7 (Departament of the Navy, Bureau of Yards Docks).

a. Soquetes: São utilizados em locais de difícil acesso, como no apiloamento de valas e


trincheiras, e para pequenas espessuras de camada. Possuem um peso mínimo de 15 kg. A
espessura da camada compactada, se em solos finos, deve ter de 10 a 15 cm, e se em solos
grossos, 15 cm. Os soquetes podem ser mecânicos ("sapos") ou manuais.

h. Rolos estáticos

b.1 - Rolo pé-de-carneiro: constituído de um tambor metálico em que são solidarizadas


protuberâncias de forma tronco-cônica com altura de 18 a 25 cm. Geralmente não são
autopropulsivos e são arrastados por tratores. Pela forma de aplicação das cargas, são

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recomendados para compactação de solos argilosos. São particularmente empregados na


compactação de núcleos de barragens, em que se exige um perfeito entrosamento entre as
camadas. A espessura da camada compactada deve situar-se em torno de 15 cm. O número de
passadas deve ser de 4 a 6, aproximadamente, para solos finos e de 6 a 8 para solos grossos.

As dimensões e o peso do equipamento devem ser tomados em relação ao tipo de solo.

Tipo de solo Área de contato da pata Pressão de contato da pata


(cm2) (kg/cm2)

Solos finos (IP <30) 32 a 77 17 a 33

Solos finos (IP > 30) 45 a 90 15 a 27

Solos grossos 04 a 90 10 a 17

Para maior eficiência na compactação dos solos com teor de umidade situado acima do teor
ótimo a pressão de contaco deve ser menor do que se estes solos estivessem situados abaixo do
teor ótimo.

b.2 - Rolo Liso

Compõe-se de um cilindro de aço oco, podendo ser preenchido com areia ou pedregulho, para
aumento da pressão aplicada. São apresentados com uma roda, duas rodas em tandem ou três
rodas.

Por causa de sua pequena superfície de contato são utilizados na compactação do capeamento e
em base de estradas. São indicados também para compactar camadas finas de 5 a 15 cm de
espessura.

Os rolos tipo tandem são indicados para a compactação de bases e subleitos de estradas em que
as espessuras a serem compactadas variam de 20 a 30 cm, sendo que 4 passadas são geralmente
suficientes. São apresentados nos pesos de 1 a 20 toneladas.

Os rolos com três rodas são utilizados para a compactação de solos finos. Os pesos
recomendados são de 6 a 7 ton. para materiais de baixa plasticidade e de 10 ton. para materiais
de alta plasticidade. Em geral, 8 passadas são suficientes para compactar uma camada de 15 a 20
cm de espessura.

b.3 - Rolos Pneumáticos

São eficientes para a compactação de capas asfálticas, e têm grande aplicabilidade em bases e
sub-bases de estradas. Aplicam-se também em solos grossos sem coesão, com 4 a 8 % passando
na malha 200, cuja espessura de camada deve estar em torno de 25 cm, dando-se de 3 a 5
passadas. Podem também ser utilizados em solos finos ou em solos grossos bem graduados que
tenham mais de 8 % passando ria malha 200, em camadas de 15 a 20 cm de espessura, e
aplicando-se de 4 a 6 passadas. O uso de rolos com cargas elevadas proporciona bons resultados,
entretanto, são capazes de considerável penetração no solo, e isto gera grande deslocamento do
solo superficial que pode causar o aparecimento de fendas e ruptura da camada.

c. Placas e rolos vibratórios

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São utilizados para compactar solos grossos com menos de 12 % passando na malha 200. São,
no entanto, mais adequados para solos com 4 a 8 % passando na malha 200. A espessura da
camada compactada deve situar-se em torno de 20 a 25 cm, e com cerca de três coberturas
atinge-se uma boa compactação.

De modo geral podem ser empregados na compactação de solos granulares, uma vez que atuam
no sentido de destruir temporariamente a resistência ocasionada pelo ângulo de atrito interno do
solo.

11.5. Controle de compactação

O solo trazido das áreas de empréstimos deve ser espalhado uniformemente sobre a área a ser
aterrada, em espessuras tais que, após a operação de compactação, atinjam as especificadas.
Geralmente, quanto mais finas, haverá melhoria não só da compactação como também do
controle, uma faixa ideal de espessura deve situar-se entre 20 a 30 cm, chegando a um máximo
de 45 cm. A escolha do tipo de equipamento e do número de passadas pode ser feita em aterros
experimentais, os quais podem mesmo ser as primeiras camadas da obra a ser construída.

Uma vez definidos a espessura da camada, o tipo de equipamento e o número de passadas,


restaria apenas manter o solo tanto quanto possível perto da umidade ótima, a fim de que se
pudesse obter uma alta eficiência na operação de compactação.

Tem repercussões bastante sérias , sob o aspecto de comportamento, o fato de a eficiência de


compactação não atingir as vizinhanças do ponto máximo. Ocorre, às vezes, que o par de valores
conseguido (d x w) situa-se muito à esquerda ou muito à direita do ponto máximo (dmax x wot).
No primeiro caso, a deficiência de água faz com que a água absorvida encontre-se com elevadas
tensões neutras negativas, fazendo com que o solo apresente uma alta resistência e pequena
deformabilidade. Entretanto, a saturação do solo pode fazê-lo perder estas características de
comportamento, passando a ter baixa resistência e alta deformabilidade. Ela tem expressiva
importância na estabilidade dos maciços, quer pelas consequências geométricas, quer pela
grandeza das tensões neutras induzidas. Portanto, este fato tem grande significância em aterros
de barragens. No segundo caso, não haverá uma diferença no seu comportamento final, visto que
inicialmente sua resistência ao cisalhamento será baixa e sua deformabilidade alta. Diante disso,
nota-se a importância de obter-se uma compactação de campo que se aproxime da máxima
especificada no laboratório, ou, em outros termos, mostra que se deve criar um intervalo de
variação para d e w, em função de dmax e wot, a ser conseguido no campo.

d
GC  100 e w  w  wot
 d max

O coeficiente GC, chamado de grau de compactação, é a relação entre a massa específica seca do
aterro compactado e a massa específica seca máxima obtida no ensaio de compactação realizado
em laboratório.

O valor w, conhecido como desvio de umidade, e a diferença entre o teor de umidade do aterro
compactado e o teor de umidade ótimo de laboratório.

Na prática, o projetista, em face de sua experiência e das especificações existentes, estabelece


determinado grau de compactação e um desvio de umidade (GC = 95 % do ensaio de Proctor

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Normal e w = ± 2% em torno da umidade ótima, por exemplo) que devem ser conseguidos no
campo.

A verificação das especificações estabelecidas é conhecida como controle de compactação. É


importante frisar que apenas é possível lançar uma nova camada no aterro, após ter-se
conseguido, na camada anterior, os valores de GC e w especificados.

A obtenção da massa específica do aterro pode ser determinada, cravando-se no aterro um


cilindro biselado, de volume conhecido, registrando-se o seu peso, ou ainda, abrindo-se um furo
sobre a camada com a pesagem do material escavado e medição indireta do volume do furo
aberto. Para isso preenche-se o furo com areia de massa específica conhecida ou com um líquido
introduzido no interior de uma membrana deformável. A determinação do teor de umidade w, do
aterro, com secagem do material em estufa, pode exigir várias horas de espera, fato incompatível
com o ritmo de trabalho das grandes obras. Para superar este impasse, têm-se utilizado processos
rápidos aproximados, como o de secar o solo em uma frigideira ou o de atear fogo em uma
mistura de solo e álcool, ou ainda, por meio do “speedy moisture tester”. Neste ensaio, certa
quantidade de solo é inserida no interior de uma garrafa, que contenha carbureto. A água
absorvida ao reagindo com o carbureto resulta numa pressão que atua em membrana deformável,
acionando um manômetro. Esta pressão è correlacionada com o teor de umidade. Existem ainda
equipamentos não destrutivos, que se utilizam da radiação . Esta radiação difundida na camada
passará por uma dispersão proporcional ao numero de partículas de H2O existentes no meio. O
inconveniente destes aparelhos é a necessidade de contínuas calibrações.

Outro método de controle rápido aproximado foi desenvolvido por Jack Hilf. Permite obter
informações do grau de compactação e do desvio de umidade, sem a necessidade de secar o
material. O teor de umidade é calculado apenas como verificação posterior.

Para efeito ilustrativo do método, imagine-se uma camada de um aterro com massa específica
seca da e teor de umidade wa. Se se tomar uma porção deste solo, compactando-se no cilindro
de Proctor, obtém-se o valor de dc que pode ser diferente do valor de da uma vez que as energias
empregadas não são, em geral, iguais.

 a   da (1  wa ) e  c   dc (1  wa )

 da (1  wa )  da
GC    E
 dc (1  wa )  dc

O grau de compactação do solo pode ser encontrado de forma análoga, a partir das massas
específicas úmidas, se se conhecer o valor de dmax (1+wa) pois, de fato:

 da (1  wa )  da
GC  
 d max (1  wa )  d max

Pode-se converter o valor da massa específica seca máxima dmax(1+wa) em uma expressão que
incorpore o teor de umidade do aterro dmax (l + wa), dividindo-se essa expressão por :

(1 + wot) / (1 + wa)•. Assim:

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 d max (1  wot )
  d max (1  wa )
1  wot
1  wa

1  wot w  wa
A expressão  1  ot  1 z
1  wa 1  wa

wot  wa
em que z 
1  wa

representa uma quantidade de água adicionada amostra, em relação ao seu peso, quando seu teor
de umidade era wa. Para dar-se conta deste fato, basta multiplicar ambos os membros de z pelo
valor do peso seco da amostra.

O gráfico da Figura 104 apresenta duas curvas. A superior, a das massas específicas úmidas,
representa o resultado de compactar-se, no cilindro de Proctor, amostras retiradas do aterro, com
valores crescentes do teor de umidade. A curva inferior resulta de uma conversão das massas
específicas de campo, colocadas em função do teor de umidade do aterro.

Figura 104 - Massa específica úmida e convertida em função da variação do teor de umidade.

Sendo o valor de (1 + wa) uma constante, o ponto de máximo da curva inferior será o valor de
dmax, uma vez que a única variável é d. Portanto,

 da (1  wa ) d
GC  
 d max (1  wa )  d max

Para a obtenção do grau de compactação pelo método de Hilf, determina-se em primeiro lugar, a
massa específica do aterro. Em seguida. Compactam-se, no cilindro de Proctor, amostras com
valores crescentes ou decrescentes de z, sendo z uma quantia fixa de água tomada em relação ao
peso do solo inicial. De posse de vários valores de z e das massas específicas convertidas,
obtém-se o valor de dmáx (1 + wa).

A obtenção do valor de w é conseguida substituindo o valor da ordenada zm correspondente á


massa específica seca máxima do ensaio Proctor. Ou,

wot  wa  z m (1  wa ) mas,

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wot  wa
1  zm  1  , portanto,
1  wa

1  wot
wot  wa  z m
1  wa

As duas equações que fornecem a diferença de umidade dependem da estimativa do valor de wa


ou do valor de wot. Entretanto, mesmo que se cometa um erro na avaliação do teor ótimo de
umidade, o erro resultante da diferença de umidade será desprezível, Para efeito prático uma
estimativa baseada em correlações que envolvam as massas específicas máximas o os teores
ótimos de umidades serão perfeitamente aceitáveis. Existe entre nós uma correlação apresentada
por Kuczinski, que se baseia em mais de mil amostras de solo de todo o território brasileiro.

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11.6 Exercícios Resolvidos


Exercício 1.

Dada a curva de compactação da Figura $,$, traçar as linhas de saturação de 100%, 90% e 80%
para valores de umidade localizados no ramo úmido da curva de comapctação.

Interessado Thiago Pinto Trindade Massa do soquete 2500 g Amostra Solo A-7-5 (20)
Obra Tese de Doutorado Número de camadas 3 Data da amostragem 22/11/2002
Energia de Energia Normal – Cilindro Golpes por camada 26 Operador Tiago P. Trindade
Compactação Pequeno

Figura 105 – Curva de compactação de um solo de textura argilo-silto-arenosa, compactado na


energia do ensaio Proctor normal.

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Sugere-se elaborar uma tabela com os pares de valores (W, γd), que poderão ser
calculados a partir da seguinte relação:

 s  Sr   w
d 
Sr   w    s  W 
Dados: γs = 27,5 kN/m³ e γw = 10 kN/m³

Resolução:

W (%)
30,0 31,5 33,0 34,5 36
Sr (%) γd (kN/m³)
100 15,07 14,74 14,42 14,11 13,82
90 14,35 14,01 13,69 13,39 13,10
80 13,53 13,20 12,88 12,58 12,29

Atualização:09/05/2016
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Atualização:09/05/2016

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