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Educação Matemática, Máquinas de Calcular e Computadores

Aury de Sá Leite - aury@feg.unesp


Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP/Campus de Guaratinguetá
Av. Dr. Ariberto P. Cunha, 333 - CEP 12500-000 Guaratinguetá - S.P.

Palavras Chave: Educação Matemática; Máquinas de Calcular; Computadores, Softwares Educativos.


Categoria: Relato de experiência ("Position Paper")
Nível de Escolarização: 1o/2o/3o Graus

RESUMO:
Este é um "position paper" sobre o uso de computadores nas salas de aula. O que se faz ao longo
deste artigo é buscar subsídios científicos e subsídios colhidos na prática escolar que foram sendo
incorporados à experiência do autor, para se analisar o uso dos computadores nas salas de aula e, disto,
poder tirar de forma lógica e conseqüente uma série de conclusões e emitir algumas sugestões.

Neste artigo vai-se analisar o papel do professor como aquele que decide sobre o conteúdo a ser
exposto e planeja como deverá expô-lo; vai-se analisar o professor como sendo aquele que deveria poder
escolher o material, ou mais, o ferramental a ser utilizado em seu trabalho docente; vai-se discutir a
dicotomia existente entre o discurso pedagógico dos educadores e a prática pedagógica; vai-se analisar o
ferramental disponível para auxiliar a docência, desde os mais comuns até os mais sofisticados, o que
finalmente, incluirá o computador. Sobre o ferramental auxiliar à docência vai-se discutir o papel das
máquinas de ensinar, o papel das calculadoras, o papel dos computadores. Vai-se propor uma metodologia
para a análise de softwares educacionais e vai-se analisar o processo de criação e manutenção de um
Laboratório de Informática.

O artigo está dividido em 9 itens, a saber:

1.- INTRODUÇÃO - Onde se discute o que seja um "position paper", ou um "artigo de


posicionamento", e se expõe os objetivos gerais do artigo.

2.- O PAPEL DO PROFESSOR - onde se procede a uma análise do papel do professor tanto do
Ensino Fundamental, Médio e Superior, como aquele que elabora o "plano de ensino" de
sua disciplina a partir do Projeto Pedagógico da escola em que trabalha. Analisa-se ainda
o poder que os professores têm no tocante à escolha do material ou ferramental auxiliar à
docência, o que parte da escolha do tipo de lousa a ser utilizado, se quadro negro e giz
colorido ou quadro branco com pincel atômico, até se chegar aos computadores, passando-
se pelo uso das máquinas de ensinar e pelas calculadoras científicas com a capacidade de
traçar gráficos.

3.- SOBRE O DISCURSO PEDAGÓGICO - onde se aponta a discrepância entre o discurso teórico
dos educadores, que nem sempre coincide com aquilo que se passa a praticar, ou seja, o
conteúdo veiculado pelo discurso educacional adotado por grande número de professores e
educadores pouco significa quando se trata de levá-lo para a prática.

4.- SOBRE O FERRAMENTAL AUXILIAR À DOCÊNCIA - onde se lista o ferramental a ser


utilizado como auxiliares docentes, o que acaba incluindo os computadores. Busca-se na
Pasicologia Cognitivista, ou mais exatamente no Construcionismo, que afirma que "as
pessoas aprendem efetivamente quando elas estão envolvidas na criação, no contato ou
manipulação de artefatos ou de objetos pessoalmente significativos", as bases para se falar
sobre as máquinas de ensinar, sobre as calculadoras eletrônicas programáveis e com
capacidade de exibição de gráficos e sobre o uso dos computadores em sala de aula, de
forma comparativa.

5.- A EDUCAÇÃO AUXILIADA POR COMPUTADORES - onde se propõe estender as


possibilidades do uso dos computadores sugeridas para uso na Educação Matemática para
a educação em geral, onde se analisam as várias formas de se utilizar esta máquina desde
que munidas dos softwares adequados.
6.- SOBRE OS SOFTWARES EDUCACIONAIS - onde se analisa a importância dos softwares
dedicados à educação e aos conteúdos pedagógicos e onde se propõe, ainda, forma de
análise que norteiem a adoção e utilização dos mesmos nas salas de aula.
7.- CONCLUSÃO - O artigo é concluído com duas idéias fundamentais sobre o uso dos
computadores nas salas de aula: (1a ) não basta apenas introduzir-se os computadores nas
salas de aula, são necessários os softwares apropriados; (2a) a utilização de um laboratório
de informática só se justifica num primeira fase de aprendizagem, a da aprendizagem sobre
o uso dos computadores, a partir disto, o usuário deveria passar a possuir a sua própria
máquina. Acrescenta-se ainda uma análise sobre a criação, utilização e manutenção de
laboratórios de informática.
9.- BIBLIOGRAFIA - onde estão relacionados alguns livros recentemente editados nos Estados
Unidos e outros traduzidos no Brasil que indicam o uso pedagógico de calculadoras
científicas e de CAS (Computer Analytic Systems), tais como o Maple, o Mathematica e o
Derive, como oráculos nas disciplinas de Cálculo, Física, Geometria Analítica, Cálculo
Vetorial e Cálculo Numérico.

1.- INTRODUÇÃO
Este é um "position paper" sobre o uso de computadores nas salas de aula. Um "position paper", ou
um "artigo de posicionamento", é um artigo científico destinado a marcar a posição de um pesquisador ou de
um grupo de pesquisadores sobre um determinado assunto. Geralmente, um "position paper" nasce da
necessidade de se analisar ou de se estabelecer conclusões sobre assuntos polêmicos ou que causam
perplexidade em muitos de nós devido ao alto grau de complexidade. Um "position paper" normalmente
reflete a experiência do autor sobre o que está ocorrendo em seu campo de pesquisa, objetivando reunir de
forma organizada as informações e, ao fazê-lo, provocar uma rediscussão do assunto, colher sugestões e,
possivelmente, encaminhar sugestões ou até mesmo propor soluções.
O que se pretende fazer ao longo dos próximos parágrafos é buscar subsídios científicos e subsídios
colhidos na prática escolar que foram sendo incorporados à experiência do autor, para se analisar o uso dos
computadores nas salas de aula e, disto, poder emitir de forma lógica e conseqüente algumas sugestões e tirar
várias conclusões.
Neste artigo vai-se analisar o papel do professor como aquele que decide sobre o conteúdo a ser
exposto e planeja como deverá expô-lo; vai-se analisar o professor como sendo aquele que deveria poder
escolher o material, ou mais, o ferramental a ser utilizado em seu trabalho docente; vai-se discutir a dicotomia
existente entre o discurso pedagógico dos educadores e a prática pedagógica; vai-se analisar o ferramental
disponível para auxiliar a docência, desde os mais comuns até os mais sofisticados, o que finalmente, incluirá
o computador. Sobre o ferramental auxiliar à docência vai-se discutir o papel das máquinas de ensinar, o
papel das calculadoras, o papel dos computadores. Vai-se propor uma metodologia para a análise de softwares
educacionais e vai-se analisar o processo de criação, utilização e manutenção de um Laboratório de
Informática.
2.- O PAPEL DO PROFESSOR
Seja no primeiro, segundo ou terceiro graus, o professor é quem elabora o sílabo do curso (do grego
syllabé, parao latim syllabus, o mesmo que "programa de um curso escolar" ou "plano de ensino") de sua
disciplina a partir do Projeto Pedagógico da escola em que trabalha [Sá Leite et alii 1994]. É também ele que,
ao longo do processo educacional, planeja e adota os procedimentos didáticos, julgados adequados à sua
clientela, no exato momento da ação pedagógica. É ele em última instância quem escolhe ou estabelece o
ferramental a ser utilizado na prática pedagógica: quadro negro e giz colorido, lousa branca e pincel atômico,
mapas, cartazes, globo terrestre, mimeógrafo e papel sulfite, projetores de slides, gravadores eletrônicos, toca-
discos, retroprojetores e transparências, livros textos, apostilas, textos programados, textos contendo estudos
dirigidos, séries de exercícios, material concreto, modelos em escala, jogos pedagógicos, dicionários,
enciclopédias, máquinas de calcular, máquinas de ensinar, computadores.
Não há dúvida que um professor deveria poder se utilizar todo e qualquer material dos acima
mencionados como auxiliares ao trabalho docente. No entanto, enquanto o professor é aquele que pode
determinar não somente os passos pedagógicos a serem dados, como também a prática didática a ser
implementada, a realidade é bastante perversa quando se trata da escolha do ferramental que deveria, não
somente auxiliar, mas tornar mais eficiente o seu trabalho docente. A título de ilustração vai-se citar aqui um
exemplo bastante conhecido: há muitas escolas, geralmente escolas públicas, onde até o giz colorido "acaba"
lá pelo mês de outubro e o professor, se não providenciar ele mesmo a compra daquele giz, passará a ter que
ministrar aulas utilizando somente o giz branco, assim mesmo, quando este também não tem que ser
racionado. Partindo deste exemplo trivial e corriqueiro, poderíamos perguntar: e em se tratando de
computadores nas salas de aula, o que vem ocorrendo em termos, por exemplo, de despesas com material de
consumo e manutenção dos mesmos, se é que eles já estão nas salas de aula?
3.- SOBRE O DISCURSO PEDAGÓGICO
Os movimentos educacionais sempre correram o perigo de serem artificialmente conduzidos "através
do emprego de práticas fundamentadas em suposições, na retórica e em crença naquilo que deveria ser"
[Reiman 1999]. Mesmo quando os movimentos educacionais são fundamentados em teorias até bastante
sólidas e testadas, resta de forma bastante concreta a possibilidade de que o discurso teórico nem sempre
venha a coincidir com aquilo que se passa a praticar. A literatura está repleta de citações [Codo 1999; Reiman
1999; Werneck 1998; Apple 1997; Lima 1996; Becker 1998; Candau 1988] que podem nos ajudar a
comprovar o que vai sintetizado nesta nossa frase: Na maioria das escolas o discurso é cognitivista, mas a
prática ainda é behaviorista.
Melhor explanando o que foi dito até aqui: o conteúdo veiculado pelo discurso educacional adotado
por grande número de professores e educadores pouco significa quando se trata de levá-lo para a prática. O
discurso da maioria dos professores é Cognitivista, possivelmente até incluindo falas sobre o Construtivismo
e, mais recentemente, incluindo idéias sobre o Construcionismo, no entanto, a prática na sala de aula acaba
sendo Behaviorista, o que inclui práticas educacionais das mais retrógradas e censuráveis.

Se a prática educacional apresenta-se com tais problemas o que dizer sobre o ferramental a ser
utilizado como auxiliares da prática docente?
4.- SOBRE O FERRAMENTAL AUXILIAR À DOCÊNCIA
De acordo com os conceitos da Psicologia Cognitivista, na sala de aula, o professor deve criar
oportunidades de aprendizagem com o intuito de veicular e fixar o conteúdo pedagógico. Este processo de
criação de oportunidades de aprendizagem, que é baseado em sua experiência didática e em sua criatividade,
acaba por precisar envolver um ferramental auxiliar ao seu trabalho, material este, que permita a criação de
artefatos e objetos significativos para o aprendiz. O Construcionismo afirma que as pessoas aprendem
efetivamente quando elas estão envolvidas na criação, no contato ou manipulação de artefatos ou de objetos
pessoalmente significativos [Harel & Papert 1993; Papert 1993]. Este processo, o de criação de oportunidades
de aprendizagem com a utilização de materiais significativos para o aprendiz, não dispensam as discussões
pedagógicas e didáticas entre os aprendizes e o professor, as quais envolvem, geralmente, a necessidade de
exemplificações, contra-exemplificações, proposta e resolução de exercícios e de problemas.
Neste processo, o da criação de oportunidades de aprendizagem, o objetivo básico a ser atingido seria
o de se poder ensinar mais, mais rapidamente e melhor. Para se atingir este ideal seria necessário
disponibilizar-se para uso, de forma fácil e continuada ao longo do ano escolar, um ferramental auxiliar ao
trabalho docente (mimeógrafos, gravadores, videocassetes, filmadoras, retroprojetores, projetores de slides,
modelos em escala, etc.) bem como os suprimentos necessários (giz colorido, papel, tinta, fitas magnéticas,
transparências, filmes fotográficos, etc.). Em se tratando de computadores, que é uma das mais sofisticadas
ferramentas que podem vir a auxiliar o trabalho docente, há que se prever, não somente a simples compra de
um computador, mas dos softwares, dos periféricos, como impressora, scanner, datashow e retroprojetores,
bem como dos suprimentos, tais como cartuchos de tinta preta e colorida, disquetes, papel para impressão,
transparências, etc. Assim, não basta apenas levar os computadores para as salas de aula, são necessários
conjuntos de softwares dedicados, além dos periféricos, e mais, de pessoal especializado para a manutenção
das máquinas e divulgação e ensino das novas técnicas que vão surgindo a cada instante na área de
Informática, isto sem se falar da necessidade de treinamento dos docentes, não somente nestas técnicas, mas
de embasá-las nos conceitos e procedimentos preconizados pela Psicologia Cognitivista.
4.1.- As Máquinas de "Ensinar"
Os manuais de instrução programada foram durante os anos 50 e início dos anos 60 uma forma de
apresentação de textos pedagógicos. A instrução programada, além de poder ser apresentada sob a forma de
livros textos poderia ainda ser automatizada através do uso das máquinas de ensinar proposta por Skinner, em
1950, onde o aprendiz estudava uma determinada matéria através de uma seqüência de módulos, respondendo
a questionários preestabelecidos, completando lacunas, escolhendo melhores respostas, classificando
conceitos etc. Já nesta época se vislumbrava a aplicação do computador como ferramenta auxiliar do trabalho
docente que poderiam ser utilizados como substitutos, e com muitas vantagens, das máquinas de ensinar.
Assim, surgiram os primeiros sistemas computacionais que receberam a denominação genérica de CAI/IAC
(Computer Aided Instruction/ Instrução Auxiliada por Computador). Estes sistemas atuavam de forma linear e
os computadores atuavam praticamente como mera mídia alternativa às suas antecessoras, as máquinas de
ensinar, que utilizavam papel. Atualmente, os sistemas educativos evoluíram para sistemas munidos de
inteligência denominados ITS - Intelligent Tutoring System (STI - Sistema de Tutoria Inteligente) que são
altamente adaptativos ao tipo ou modelo de estudante e são capazes de resolver e justificar situações
conflituosas. No entanto estes sistemas ainda estão em fase de experimentação e não chegaram às salas de
aula. O que se pode afirmar sobre a instrução programada é que tanto os livros textos como as máquinas de
ensinar não passam hoje de curiosidades, tanto como os CAIs, por não responderem as necessidades da
educação moderna, geralmente baseada em conceitos da Psicologia Cognitivista.
4.2.- As Máquinas de Calcular
O uso de calculadoras nas escolas, estranhamente, nunca foi recomendado como é recomendado o
uso dos computadores. Todos falam dos computadores como a solução final para os problemas da educação.
Vamos partir da hipótese bastante simplista, de que "os computadores são ótimos para a Educação
Matemática", ou seja, que eles podem vir a ser utilizados como uma ferramenta potencialmente válida para
criar oportunidades de aprendizagem de tópicos de matemática. Poderíamos, a partir desta hipótese, colocar
algumas perguntas com a finalidade de provocar uma discussão inicial:
1a.) O que os computadores têm a oferecer à Educação Matemática que uma calculadora
científica programável e com a capacidade de plotar gráficos não tenha?
2a.) Comparando a diferença de custos de um computador e o de uma calculadora científica das
mais sofisticadas, numa análise de custo-benefício, qual delas se sairia melhor?
3a.) Em termos de Educação Matemática, qual destas duas ferramentas exigiria um treinamento
mais demorado tanto dos professores como dos estudantes?
4a.) Qual destas ferramentas tem uma porcentagem de rejeição maior quando analisadas ora do
ponto de vista dos professores, ora do ponto de vista dos estudantes?
5a.) Qual destas ferramentas exigiria uma adaptação metodológica mais ampla (ou menos
ampla) para permitir o seu uso eficientemente na sala de aula e de forma adequada aos objetivos
pedagógicos?
4.3..- Os Computadores
Se formos apenas abordar o uso dos computadores do ponto de vista da Educação Matemática
podemos colocá-lo, de plano, e no mínimo, como um oráculo destinado à verificação dos cálculos
matemáticos, desde os mais simples até os mais complexos. O uso dos sistemas computacionais denominados
CAS (Computer Analytic Systems), tais como o Maple, o Mathematica e o Derive, como oráculos nas
disciplinas de Cálculo, Física, Geometria Analítica, Cálculo Vetorial e Cálculo Numérico, é o que
modernamente vem sendo recomendado por muitos dos livros editados nos Estados Unidos nestas
especialidades [DeVries et alii 1994; Grossman 1995; Sullivan 1996; Hoffamann & Bradley 1999; Anton
2000].
Uma outra aplicação dos computadores em Educação Matemática é o uso do mesmo para
programação. Algoritmos lógico-matemáticos ou simbólicos podem ser simulados ou testados
computacionalmente de forma bastante eficiente desde que se saiba programar os computadores.
Tanto as calculadoras científicas como os computadores podem ser utilizados em Educação
Matemática. O que cabe observar é que cada uma destas ferramentas necessita de uma pedagogia apropriada e
de uma metodologia a ser estudada e implementada. Várias investidas neste sentido vêm sendo tentadas por
educadores nos Estados Unidos e no Brasil e os resultados já começaram a aparecer, como sugestão para a
resolução de certos tipos de exercícios e problemas, mas não de todos, nos livros didáticos de Matemática.
5.- A EDUCAÇÃO AUXILIADA POR COMPUTADORES
Pode-se, no entanto, utilizar-se os computadores de forma bastante ampla na educação. Desde que
não se exagere em atribuir uma importância que ele não tem e não se exija dele aquilo que ele não pode fazer
nunca ou, a não ser, quando munido do software adequado.

O que é preciso considerar, ainda, e de forma enfática, é que o computador é uma ferramenta de uso
pessoal e que cada usuário deveria ter o seu computador, ou seja, um computador fica melhor e pode ser
melhor utilizado num escritório ou numa residência, quando então é utilizado por um único indivíduo, do que
numa sala de aula quando a proposta é o seu uso coletivo e compartilhado por muitos. Quando se trata da
aprendizagem do uso de computadores, possivelmente, um laboratório de informática seja adequado, mas
após a aprendizagem, o estudante deveria poder ter o seu próprio computador. Isto acontece nos países de
primeiro mundo, mas não ainda, e não se sabe por quanto tempo, no Brasil.
Além do que já se disse sobre o uso de computadores em Educação Matemática, pode-se utilizá-lo de
muitas outras formas na educação como um todo. A seguir vamos propor algumas destas forma de
utilização mais simples:
(1) Computadores Utilizados como uma Biblioteca:
Este tipo de utilização poderá sedar a partir da aquisição e utilização de: (i) livros eletrônicos
em CD-ROM, tais como: enciclopédias e dicionários, atlas (geográficos, botânicos, históricos etc.);
revistas eletrônicas especializadas; bem como através da aquisição e uso de CD-ROMs com gravuras,
mapas, fotografias para copiar e colar em trabalhos escolares.
(2) Computadores Utilizados como Ferramentas no Preparo de Textos e Apostilas:
Os computadores podem ser utilizados de forma prática e útil com a finalidade da geração e
reutilização (reuso com modificações ou adaptações) de textos pedagógicos, através da utilização dos
editores de texto e editores de figuras.
(3) Computadores Utilizados como Ferramentas Oraculares:
Muitos softwares permitem aos usuários a sua forma de utilização de forma oracular, ou seja,
respondendo a consultas sem a necessidade de justificar suas ações. Estes softwares são os tradutores, os
plotadores/editores gráficos funcionais, os Sistemas Analíticos Computacionais (CAS - Computer
Analytic System). Neste caso, muitas de suas respostas precisam ser retrabalhadas para poderem ser
melhor compreendidas, pois nem sempre as respostas são exatamente aquelas desejadas ou esperadas.
(4) Computadores Utilizados como Ferramentas de Autoria de Aulas Eletrônicas:
Há muitas ferramentas de autoria que permitem o preparo de aulas multimídia (com texto,
hipertexto, som, imagem, animação, filmes digitalizados, etc.). Só para citar alguns exemplos: o
ToolBook e algumas linguagem visuais como o Visual Basic e o Delphi, vêm sendo muito utilizadas com
este propósito.

6.- SOBRE OS SOFTWARES EDUCACIONAIS


Além dos problemas de ordem pedagógica que já se mencionou acima e do problema relativo ao
custo benefício de cada uma das tecnologias aplicáveis à educação, o que inclui desde o giz colorido até o
computador, um outro problema, diz respeito aos temores dos professores no tocante ao desconhecido. Isto é
mais grave quando se considera a adoção de computadores nas escolas [Valente 1993, 1999] e ao fenômeno
que pode ser denominado “problema da prateleira de softwares” (problema muito citado por vários técnicos
em educação, técnicos em informática educativa e por educadores participantes do “Workshop em
Informática Educativa” realizado na UFES em julho de 1998, como parte das atividades de encerramento de
um curso de treinamento de professores-multiplicadores patrocinado pelo Governo Federal) com o que se
pretendia indicar que estes softwares não somente estão numa prateleira, mas ali acabam permanecendo, sem
utilização, por não serem reconhecidos ou meramente assumidos como “úteis ao trabalho docente”, pela
maioria dos professores que poderia vir a utilizá-los.
Mas, assim como as máquinas de ensinar de Skinner não foram adotadas e nem mesmo exploradas
de forma ampla e até atingir-se os seus limites mais notáveis, por educadores, o mesmo parece ter acontecido
com as máquinas de calcular e parece estar começando a acontecer com relação aos computadores. Todos
deveríamos ler um artigo publicado na revista Veja que fala sobre o uso dos computadores na sala de aula
[Castro 2000]. O autor nos fala de sua desilusão quanto ao papel dos computadores nas escolas e afirma: "Os
computadores chegaram às escolas (sic) mas ainda não trouxeram quase nada à educação".
Assim como um projetor de slides precisa dos slides, um retroprojetor precisa de transparências, os
computadores precisam de softwares para poder funcionar. No entanto, enquanto os slides e transparências
podem ser produzidos por praticamente todos os professores, os softwares, não.
6.1.- Análise de Softwares Educacionais
Como os educadores, na maioria dos casos, não conseguem ainda produzir seus próprios softwares,
adaptados à sua prática e conhecimentos pedagógicos, vai-se, a seguir, propor uma série de perguntas que
devem ser respondidas ao se adotar um software educativo ou educacional nas escolas [Sá Leite, Fernandes &
Omar 1996]:
1) O conteúdo educacional do software está bem organizado? É compatível com o currículo da
escola? No caso de não coincidência curricular, o professor poderá adaptar-se genuinamente a
este novo currículo com competência e, não somente com fingida boa vontade?
2) O Professor “adotou” o software educacional sem restrições? Pode-se ter a certeza de que
ele irá usá-lo, indicá-lo e, em especial, usá-lo nas suas aulas e com seus alunos?
3) O conteúdo do software está montado e é apresentado de forma politicamente correta com
relação àqueles aprendizes?
4) O software ensina de forma correta ou utiliza artifícios danosos ou mesmo condenáveis para
expor o conteúdo do domínio?
5) As abordagens didáticas do software é correta e adequada? O software expõe o conteúdo de
forma clara e precisa?
6) Quando necessário, o software tem a capacidade de reexpor o mesmo conceito ou conteúdo
em outros níveis de abstração e através de outras perspectivas ou outras abordagens didáticas?
7) Qual o nível de aprendizagem proporcionado pelo software? Quais as oportunidades criadas
e suportadas pelo software que permitem a fixação do conteúdo aprendido?
8) O software gera e apresenta exercícios que possibilitem a transferência do aprendizado?
9) O software só faz avaliações quantitativas da aprendizagem e do desempenho, ou também
faz avaliações qualitativas?
10) O software vai do básico para o complexo de forma suave ou pelo menos adequada à idade
e habilidade dos aprendizes? A linguagem e o vocabulário utilizado no software é adequado sem
deixar de ser científico, quando necessário?
11) A apresentação gráfica é adequada à idade do aprendiz, é tremendamente infantil, é de mau
gosto, ou é politicamente incorreta. O software permite a seleção do tamanho das letras e
disposição das janelas de apresentação do material educativo?
12) O software requer intervenções constante por parte do educador? Permite ou solicita a
intervenção de um tutor humano, quando necessário ou quando o processo educacional o exige?
Recolhe sugestões e/ou reclamações, tanto do educador como do aprendiz?
13) O software é eficiente? O software consegue remodelar conceitos errôneos trazidos pelo
aprendiz ou mal interpretados a partir de informações incompletas dadas pelo próprio software?
14) O software dá chance, ou permite, que o educando aprenda a partir de um erro cometido?
15) Qual a capacidade do software de justificar as suas ações, raciocínios e maneiras de
resolver situações de conflito?
7.- CONCLUSÃO
Pelo que se pôde ler até aqui, dois fatos extremamente relevantes devem ser considerados quando se
pensa nos computadores nas salas de aula: (1o) não basta apenas os computadores, são necessários os
softwares apropriados; (2o) a utilização de um laboratório de informática só se justifica num primeira fase de
aprendizagem, a da aprendizagem sobre o uso dos computadores, a partir disto, o usuário deveria passar a
possuir a sua própria máquina e deveria passar a "colecionar" ou adquirir os seus próprios softwares, pois os
computadores são ferramentas pessoais e possivelmente intransferíveis, cada pessoa deveria ter o seu próprio
computador e os periféricos, adaptados às suas necessidades.
Quando se considera a instalação, utilização e manutenção de um laboratório de informática em
escolas de primeiro, segundo ou terceiro graus, dever-se-ia perguntar o seguinte: os estudantes treinados
poderão continuar usando os computadores após a fase de treinamento ou o treinamento se destina a levá-los
imediatamente e diretamente para o mercado de trabalho? No caso dos estudantes necessitarem usar os
computadores ao longo de sua vida escolar, haverá máquinas suficientes para atender à demanda? O material
de consumo (papel, tinta, disquetes) será fornecido pela escola ou trazido pelos estudantes? Haverá um
pessoal técnico (técnicos em manutenção de hardware e software) alocado ou ligado diretamente aos
laboratórios? Haverá instrutores, estagiários que possam atender às dúvidas dos usuários fora do horário
escolar? Haverá prioridade de uso e atendimento para os alunos envolvidos em projetos escolares ou em
projetos de final de curso? Haverá bibliografia e material de consulta (manuais, livros, apostilas) disponível
no laboratório ou na biblioteca da escala? Haverá um grupo de professores ligados diretamente ao
laboratório? Há um responsável pelo funcionamento do laboratório, pelo estabelecimento e garantia de
prioridades e horários de utilização para aulas ou para o desenvolvimento de trabalhos escolares? Onde serão
buscados os recursos para a manutenção e atualização das máquinas?
Outras perguntas bastante pertinentes poderão ser feitas ainda: os mesmos computadores serão
utilizados por professores, alunos e funcionários da escola (funcionários da secretaria) indiferentemente? Os
computadores serão utilizados apenas para gerar textos pedagógicos e trabalhos escolares? Os computadores
serão utilizados para a aprendizagem de programação? Os Computadores serão utilizados apenas como
oráculos? Eles se destinam à utilização em Educação Matemática?

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