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As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística

Proposta para Caldas da Rainha

ALEXANDRE JOSÉ NUNES NETO

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


ARQUITECTURA

Júri
Presidente: Prof. António Barreiros Ferreira
Orientador: Prof. Nuno Matos Silva
Vogal: Prof. Pedro Brandão

Setembro 2009
As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística
Proposta para Caldas da Rainha

Agradecimentos

Agradeço aos meus pais


que me garantiram as condições necessárias para desenvolver este trabalho,
e a todas as pessoas e entidades que me prestaram apoio,
particularmente a:
Nuno Matos Silva – orientador da dissertação
Pedro Ek Lopes
João Aboim
Mário Caeiro
Câmara Municipal de Caldas da Rainha

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Resumo Analítico

Neste trabalho é abordado o tema da iluminação no espaço público, em especial a vertente do


planeamento de iluminação, tendo por objectivo investigar possíveis estratégias de iluminação
para diferentes zonas de cidade.
Primeiramente procura-se compreender, de forma geral, a evolução, o estado actual, as
características da luz, e os processos e tendências do design de iluminação.
Numa segunda parte expõem-se estratégias de iluminação reconhecíveis em planos existentes
e desenvolve-se uma proposta de plano de iluminação para Caldas da Rainha apoiada nos
conhecimentos abordados na primeira parte.
Assim, no capítulo 1 – Evolução histórica – aborda-se a forma como a iluminação evoluiu ao
longo do tempo, nas técnicas, na satisfação das necessidades, nas tendências, na influência
sobre a sociedade.
No capítulo 2 – a Luz – são abordadas as características físicas da luz, e da sua relação com a
visão.
O capítulo 3 – Projectar Iluminação – aborda os processos e tendências actuais do design de
iluminação, nomeadamente o método de projecto, e os aspectos mais relevantes relativos á
iluminação do espaço público.
Na segunda parte do trabalho (capítulo 4) expõe-se o plano de iluminação proposto, onde se
desenvolveram estratégias de iluminação para diferentes zonas da cidade.
Conclui-se que foram inventariadas possíveis estratégias de iluminação para diferentes zonas
urbanas, tanto pela exposição das estratégias contidas em planos existentes (referentes a
zonas históricas), como pela proposta de outras, referentes a diferentes zonas da cidade de
Caldas da Rainha, exemplos estes eventualmente replicáveis noutros territórios.

Palavras Chave: luz, iluminação, luminotecnia, design, arquitectura, urbanismo

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha


Abstract

In this work, it is discussed the subject of Lighting in public space, especially the perspective of
lighting’s planning, aiming to investigate possible lighting strategies to apply in diferent city
areas.
Primarily, it is seek to understand, in general, the evolution, the actual state and lighting’s
characteristics, as much as the processes and tendencies of lighting design (and lighting
strategies presented in pre-existing plans); so that, secondarily, it is possible to develop a
lighting plan proposal for Caldas da Rainha, supported by the knowledge acquired during the
previous part of the work.
As such, chapter 1 – Historical Evolution – focuses on the way lighting has evolved along time,
on the techniques, needs’ satisfaction, tendencies and its influence over society.
The chapter 2 – The Light – tries to explain the physical characteristics of light, and its relation
to vision.
In chapter 3 – Creating Light – the processes and current tendencies of lighting design are
approached, namely the project method, and the most relevant aspects related to public space
lighting.
The next half of the work – chapter 4 – presents the lighting plan proposed, where were
developed lighting strategies to different city areas.
It is concluded that were summarized possible lighting strategies to diverse urban areas (of
different typologies), as much for the exposure of the strategies within the plans that existed
until now (restrict to historical areas), as for the proposal of others to different areas of Caldas
da Rainha, that eventually can be replicable in other territories.

Key-Words: Light, Lighting, Luminotechnics, Design, Architecture, Urbanism

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Índice

Lista de tabelas e figuras 0


Lista de abreviações 0
Introdução 1

1ªParte 3

Capítulo.1 – Evolução Histórica 3


… 3
Evolução da Iluminação no Espaço Público 3
A Iluminação Hoje 6
Tipos de iluminação presentes no espaço público 7

Capítulo.2 – a Luz 9
… 9
A física da Luz 9
Características da Luz e da Iluminação 9

Capítulo.3 – Projectar Iluminação 13


… 13
O projecto de iluminação 13
… 15
Intensidade da iluminação 15
Continuidade da iluminação 17
Tonalidade da Luz 17
Reprodução de cores 19
Reflexos nas Superfícies 20
A influência dos elementos atmosféricos 20
A dimensão cultural 21
Fontes de Luz 22
Equipamentos e Suportes 25
As questões Ecológicas 27
Luz e Segurança 29
Erros comuns 31
… 33
Novas tendências e visões para o Futuro 33

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2ª Parte 35

Capítulo.4 – Iluminação em Planeamento Urbano 35


Planos existentes 35

Plano de Iluminação para Caldas da Rainha 36


… 36
Caracterização da cidade 36
Estratégias e linhas de acção para Caldas da Rainha 40
Requalificação do centro urbano 43
A cidade pós requalificação (2013) 45
Propostas de Iluminação 49
Grelha de apoio ao projecto de iluminação 57

Conclusão 60

Bibliografia 64

Anexo 1 – Glossário de termos técnicos 66


Anexo 2 – Cronologia da Iluminação 68
Anexo 3 – Declaração para a Instituição Oficial da
Profissão do Designer de Iluminação de Arquitectura 71

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Lista de Tabelas e Figuras (autoria própria em todas as tabelas e fotos)

Tabela 1 – Tabela de Lâmpadas 24

Figura 1 – intensidade insuficiente 10


Figura 2 – contraste adequado 10
Figura 3 – intensidade excessiva 10
Figura 4 – Luzes brancas com diferentes temperaturas de cor 11
Figura 5 – diferenciação interior / exterior com luz de diferentes tonalidades 18
Figura 6 – reflexão difusa e especular 20
Figura 7 – luminária “Globo” 27
Figura 8 – esquema de luminária de corte total 27
Figura 9 – transversal mal iluminada 31
Figura 10 – transversal bem iluminada 31
Figura 11 – candeeiro frente a janela 32
Figura 12 – obstrução da paisagem pela luz 32
Figura 13 – esquema da estrutura de Caldas da Rainha 36
Figura 14 – Mapa de Caracterização Urbana 39
Figura 15 – Mapa de Estratégias Urbanas 42
Figura 16 – Mapa de Requalificação do Centro Urbano 44
Figura 17 – Mapa Centro Urbano pós-Requalificação 46
Figura 18 – Mapa Vivência Nocturna 48
Figura 19 – iluminação comercial desligada 50
Figura 20 – iluminação comercial ligada 50
Figura 21 – candeeiro de desenho “clássico” (1) 50
Figura 22 – candeeiro de desenho “clássico” (2) 50
Figura 23 – candeeiro de desenho “clássico” (3) 50
Figura 24 – divisão provocada pela ferrovia 51
Figura 25 - Mapa de Percurso com Iluminação Variável 53
Figura 26 – Praça da República 55
Figura 27 – Praça 5 de Outubro 55
Figura 28 – Praça 25 de Abril 55
Figura 29 – Mapa Propostas de Iluminação 56

Lista de Abreviações
IRC – Índice de Reprodução de Cores;
LED – Light Emitting Diode (Diodo Emissor de Luz).
OLED – Organic Light Emitting Diode (Diodo Emissor de Luz Orgânico)
RGB – Red/Green/Blue (Vermelho/Verde/Azul) – sistema de cores

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Introdução
Com o esbater do Sol no horizonte, ao cair da noite, a luz abundante que nos iluminava dá
lugar a um novo mundo de luz, predominantemente artificial, que iluminando as ruas da cidade
permite que o dia se estenda pela noite.
Narbori (2003) refere que ―A luz natural revela e engrandece a paisagem. A iluminação artificial
permite uma encenação complementar e autoriza outras leituras. Ao metamorfosear
completamente a paisagem diurna, estimula as sensações e desenvolve o nosso imaginário.‖
Assim, constata-se que a iluminação não só proporciona a própria ―existência‖ e
operacionalidade do espaço público1 durante a noite, como se mostra um instrumento capaz de
contribuir para a sua qualificação, revelando com deslumbre os diversos elementos que o
constituem (construídos e naturais), ou até sendo ela própria motivo de interesse como refere
Costa Lobo em ―Luzboa” (Caeiro et al. 2004) ―Para além da sua funcionalidade, a iluminação
tem forte capacidade estética e pode ser usada como objecto de arte.‖
A qualificação do espaço público pela luz é geralmente tratada a uma escala local, própria da
arquitectura e desenho urbano – rua, praça, largo, conjunto de edifícios, edifício singular,
jardim, etc. –, e raramente á escala da cidade, própria do planeamento urbano, apesar da sua
aplicabilidade (confirmada por alguns poucos exemplos) e potencial contributo positivo para a
imagem, organização, e compreensão da cidade.
O pouco desenvolvimento da iluminação em planeamento urbano é observado tanto no que
respeita á bibliografia existente como á efectiva produção projectual e concretização no
terreno.
Assim, acompanhando o crescimento da consciência do forte papel da iluminação no espaço
público, mostra-se pertinente integrar o seu estudo nos temas da cidade, designadamente no
planeamento urbano, onde apesar da aparente importância do seu contributo existe maior
escassez de estudos.
Neste sentido será fundamental compreender, ao nível do planeamento, que estratégias de
iluminação se poderiam desenvolver para as diferentes zonas de cidade? Esta é a principal
questão a que se pretende dar resposta neste trabalho.
Devido aos escassos conhecimentos prévios sobre o tema (apenas algum conhecimento
empírico; o tema não foi abordado durante a formação académica), sente-se necessidade de,
primeiramente, adquirir e aprofundar conhecimentos mais gerais sobre a iluminação do espaço
público, centrando depois a investigação na vertente mais específica de planeamento.
Assim, colocam-se como questões preliminares:
- Como evoluiu a iluminação?
- Falar de iluminação implica falar de luz. A luz, concretamente, o que é e como se define?

1
entendendo-se como espaço público ―o espaço que é fundador da forma urbana, o espaço “entre
edifícios” que configura o domínio da socialização e da vivência “comum”, como bem colectivo da
comunidade. Podendo em última análise, ser ou não de propriedade pública (e mesmo podendo ser não
apropriável, como o espaço aéreo), os espaços públicos devem ser sempre vistos como bens de
utilização livre, de acordo com um padrão de uso socialmente aceite‖ Brandão (2008)

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- Como desenvolver iluminação urbana?
Respostas a estas questões serão dadas ao longo da 1ª Parte do trabalho, respectivamente,
no Capítulo.1 – Evolução Histórica, Capítulo.2 – a Luz, e Capítulo.3 – Projectar
Iluminação, tendo como base a consulta de bibliografia relativa ao tema, da qual se destacam
―a Luz e a Paisagem― Narbori (2003), ―Luz e Sombra‖ Pinto Coelho (2000), ―Luzboa‖ Caeiro et
al. (2004), ―Made of Light‖ Major et al. (2005), ―Perception & Lighting‖ Lam (1977), e o contacto
com designers de iluminação e outros profissionais ligados á área, nomeadamente Fernando
Gusmão, Mário Caeiro, e Pedro Ek Lopes.
Na 2ª Parte, em resposta á questão principal, serão abordados planos existentes, e no
Capítulo 4 – Plano de Iluminação para Caldas da Rainha serão desenvolvidas estratégias
de iluminação para diversas zonas de cidade dum território concreto – Caldas da Rainha.
A proposta desenvolve-se com base no conhecimento sintetizado nos três primeiros capítulos,
nos conhecimentos de arquitectura e urbanismo adquiridos ao longo da formação académica,
no estudo do território em causa, e no processo de requalificação urbana aí em curso.
A opção pela cidade de Caldas da Rainha como base para a elaboração da proposta deve-se
ao interesse pessoal sobre a cidade, ao facto desta apresentar diferentes e representativas
zonas urbanas (a existência de zonas com características distintas permite uma maior
diversidade de soluções de iluminação, aumentando o interesse desta investigação para outros
territórios e circunstâncias), á existência dum plano de requalificação para o centro urbano (a
utilidade da proposta é reforçada pela possível utilidade prática), e ao conhecimento prévio do
território (permitindo agilizar o trabalho de reconhecimento deste e concentrar esforços nas
propostas de iluminação).
O desenvolvimento do Plano de iluminação inicia-se com o reconhecimento e caracterização
da cidade, seguiu-se o levantamento das estratégias e linhas de acção definidas pela câmara
municipal para a cidade (junto do vereador do pelouro do urbanismo – Arq. João Aboim), e das
zonas já intervencionadas e a intervencionar no processo de requalificação em curso. Partindo
destes dados, perspectivou-se o que será a cidade em 2013 (data em que todas as operações
de requalificação actualmente previstas estarão concluídas) no que diz respeito á estrutura, e á
vivência (diurna e nocturna). As estratégias de iluminação propostas foram desenvolvidas com
base nas estratégias e linhas de acção definidas pela câmara municipal, nas requalificações
previstas, e no que se perspectiva ser a cidade pós-requalificação (2013). De forma a
enquadrar e apoiar no desenvolvimento dos projectos de iluminação específicos para cada
local da cidade, desenvolveu-se uma grelha de apoio a projecto onde se refere a informação a
recolher, e interrogações e aspectos a ter presente durante a elaboração do projecto.

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1ª Parte

Capítulo.1 – Evolução Histórica



Inicia-se a investigação tentando compreender a forma como a iluminação evoluiu (nas
técnicas, na satisfação das necessidades, na forma de ser entendida, na imagem da cidade,
como afectou a sociedade, …), panoramas e tendências actuais

Evolução da Iluminação no Espaço Público


Desde sempre que o Homem tenta obter e controlar a luz para conseguir prolongar o dia na
noite. Primeiro adquirindo controlo sobre o fogo, que além de luz, lhe fornecia também calor e
protecção. Depois com dispositivos que continuando a funcionar com chama passam a ter
como principal objectivo a produção de luz. É o caso das tochas, desenvolvidas pelo Homem á
cerca de 32000 anos2 e mais tarde (3000AC) dos primeiros tipos de velas.
A iluminação pública (num conceito semelhante ao que hoje entendemos por iluminação
pública) surge pela primeira vez na antiga Roma, através da queima de azeite. No entanto,
esta vontade e capacidade para iluminar o espaço público desaparece com a queda do império
romano.
Ainda que a conotação das trevas á Idade Média seja abusiva em muitos sentidos, não é difícil
imaginar a correspondência com os ambientes nocturnos desses muitos séculos.
A interromper a escuridão que se verificava no exterior apenas a ténue luz lunar e o longínquo
brilho das estrelas. Fora isso apenas pontualmente uma tocha, o cintilar duma vela no interior
duma casa, e durante certas festividades, fogueiras e tochas, e mais tarde fogo-de-artifício, que
se acendiam para garantir luz e encanto.
Seriam precisos vários séculos até que voltasse a surgir uma iluminação pensada e
concretizada especificamente com o propósito de iluminar regularmente o espaço público.
Aconteceria em Londres, em 1414, forma ainda incipiente, através da queima de óleo em
recipientes colocados ao longo de algumas ruas. No ano seguinte (1415), também em Londres
é decretada a obrigação de pôr tochas aos portões das propriedades. O propósito destas
primeiras iluminações de rua é meramente de reduzir a insegurança que se verificava.
Paris e Berlim viriam também a introduzir iluminação em algumas das suas ruas com
recipientes de óleo, em 1524 e em 1679, respectivamente.
O primeiro sistema de iluminação com luminárias desenvolvidas propositadamente para o
efeito surge em Paris em 1667, utilizando velas dentro de luminárias de vidro.
Em 1736 é implementado em Londres um sistema de iluminação com 5000 luminárias,
abrangendo assim praticamente todas as ruas e espaços relevantes da cidade.

2
dados cronológicos retirados de ―Made of Light” Major et al. (2005); cronologia completa no Anexo 2

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Em Lisboa, a iluminação pública surge em 1780 com a instalação de luminárias de queima de
azeite.
Com o desenvolvimento de uma iluminação de rua consistente, a permanência na rua à noite
torna-se segura, agradável, ―possível‖. Passa a existir um tempo ―extra‖ para estar na rua, que
as pessoas dedicam essencialmente á socialização. A actividade comercial recebe um impulso
considerável, principalmente no que respeita aos cafés e botequins, tirando proveito de quem
se passeia pela cidade á noite.
O novo impulso a esta actividade nocturna viria com iluminação a gás, introduzida a partir de
1807 em Londres, 1819 em Paris, e 1826 em Berlim (Lisboa em 1848), cuja luz atingia níveis
de intensidade e uma qualidade de cor muito superiores a qualquer outra vista até então, e que
seria implementada em larga escala. Com cada vez mais população a desfrutar do tempo
―extra‖ da noite iluminada, aumenta a interacção, a socialização, a comunicação e troca de
ideias, levando a uma aceleração no crescimento e desenvolvimento de conhecimento em
quase todas as áreas, desde a política á ciência ou às artes.
Enquanto as ruas se iluminavam a gás, a grande revolução na iluminação dava os primeiros
passos; produzia-se luz a partir da electricidade. Pela primeira vez a luz não saía de uma
chama mas sim de uma lâmpada. A geração de luz era agora possível sem combustão, sem
fumo, cheiro, e risco de incêndio, uma vez que passa a estar separada da produção de
energia, ligando-se a esta apenas por fios metálicos condutores de electricidade. Humphrey
Davy, que em 1802 observara que um fio de platina era capaz de emitir luz quando
atravessado por uma corrente eléctrica, desenvolvia em 1808, a lâmpada de arco voltaico. Esta
tecnologia e muitas das que se seguiriam, embora viesse a ser aplicada em algumas
iluminações de rua, era ainda pouco eficiente, pouco durável, e cara.
A luz eléctrica só se viria a difundir em grande escala, quando Thomas Edison, a partir de
1879, desenvolve não só uma lâmpada incandescente com eficiência e durabilidade aceitáveis
para uso corrente, como todo um sistema, desde a geração de energia eléctrica até á produção
em massa das lâmpadas, que permite preços relativamente acessíveis e facilidade de
implementação3. Um ano antes, Joseph Wilson Swan tinha criado a primeira lâmpada
incandescente, mas a falta de todo o restante sistema, que Edison consegue desenvolver
rapidamente, ditou o insucesso de Swan e até o seu esquecimento para a História já que a
feito de criar a primeira lâmpada incandescente á geralmente atribuído a Edison.
O desenvolvimento da lamparina de gás invertida em 1897 (comercializada a parir de 1900),
mais compacta, robusta, e eficiente, viria a atrasar a implementação generalizada da
iluminação eléctrica. Tal, só vem a suceder a partir de 1910, quando William David Coolidge
desenvolve a lâmpada de filamento em tungsténio, capaz de emitir 10 lúmens por Watt. A
melhor qualidade – em cor e capacidade de reproduzir as cores mais fielmente – e a maior

3
Em alguns casos o sistema de iluminação a gás foi reaproveitado, substituindo-se o depósito central
pelo gerador eléctrico, e passando-se os cabos pela antiga tubagem de gás. Nos candeeiros bastava
alterar o interior da luminária, substituindo o queimador pela lâmpada.

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intensidade de luz conseguida por esta tecnologia, com apenas um terço da energia das
anteriores, faz com que a iluminação eléctrica se sobreponha definitivamente à concorrência do
gás. As luminárias a gás existentes são rapidamente substituídas pelas luminárias de lâmpada
eléctrica. Em Lisboa, apesar de terem sido feitas as primeiras instalações com iluminação
eléctrica em 1878, só se viria a generalizar o seu uso a partir de 1929, cerca de 100 anos
depois de Birgmingham se tornar a primeira cidade com iluminação pública eléctrica, utilizando
lâmpadas de arco voltaico.
A publicidade luminosa começa também a surgir, impulsionada pela lâmpada de néon criada
em 1907 por Georges Claude e Carl Linde, e ao ritmo cultural e económico dos anos 20 nos
EUA. Aos poucos vai invadindo as ruas, trazendo cor, brilho intenso, ritmo, e os primeiros
vestígios de criatividade e comunicação na iluminação presente no espaço público. O
desenvolvimento desta nova industria acelera, apoiando-se em todas as novas tecnologias que
surgem. A evolução e crescimento deste tipo de publicidade/iluminação são tão grandes que
4
alguns espaços – como Times Square – se tornam mais definidos e reconhecíveis pela
iluminação publicitária do que pelos seus edifícios.
A iluminação pública, em geral vai permanecer uma iluminação essencialmente utilitária,
projectada de forma a que tudo e em todo o espaço (indiscriminadamente) se torne tão visível
quanto possível. Tem-se como dado adquirido que mais luz é sempre melhor iluminação e
mais segurança.
No entanto, desde cedo surgiram outras formas de abordar e pensar a iluminação. Com a
Grande Depressão, profissionais da iluminação publicitária e da iluminação cénica, agora
desempregados, procuram trabalho noutras áreas, e alguns encontram-no na arquitectura. É
assim que os primeiros sinais de criatividade e de reflexão sobre o que iluminar (e o que não
iluminar) e como iluminar chega aos edifícios e pontualmente às ruas. Durante muito tempo
esta luz mais trabalhada é quase restrito a intervenções em interiores. Só muito pontualmente
se encontra uma intervenção em ambiente exterior, e estas serão em monumentos e marcos
na paisagem, alguns grandes projectos de arquitectura, e em algumas iluminações de carácter
efémero para grandes eventos como as exposições mundiais.
Tal como referido por Narbori (2003), só a partir do início dos anos 80, e em especial em
França, conheçam a surgir, de forma mais consistente, iluminações arquitectónicas no espaço
público. Primeiro em jardins, em fachadas de edifícios, e pontualmente em espaços de
referência como praças e centros históricos, acompanhando projectos de requalificação
urbana. A rápida evolução de tecnologias associadas á iluminação, em especial para eventos
como concertos musicais que passam a ser verdadeiros espectáculos oferecendo mais que
apenas musica, tem repercussões sobre a iluminação na cidade. Realizam-se espectáculos de
luz e espectáculos multimédia em que a luz é o tema central.

4
Nova York, EUA

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O entendimento sobre o que é o património construído também tem impacte sobre a
visibilidade e evolução da iluminação arquitectónica, pois agora que o património já não é
apenas o edifício singular ou o monumento mas sim o conjunto edificado que caracteriza
determinado local, a iluminação arquitectónica que antes valorizava apenas o edifício ou o
monumento passa a valorizar a rua ou a praça.
Algumas cidades apostam na luz arquitectónica como forma de requalificação urbana, e como
forma de alcançarem reconhecimento e projecção internacional – Lyon notabilizou-se por isso.
Assim, a iluminação arquitectónica que se desenvolve desde o princípio do séc.XX começa a
definir-se de forma consistente uma nova disciplina, reconhecida como design de iluminação
ou design de luz.

A Iluminação Hoje
Nas cidades de hoje, observa-se que a prática corrente continua a ser o recurso a uma
iluminação essencialmente operacional. Em locais relevantes a nível histórico, comercial, ou
turístico, é frequente um maior cuidado relativo ao sistema de iluminação pública, mas este
cuidado resume-se habitualmente a aumentar os níveis de iluminação (quase sempre de forma
exagerada, pouco reflectida e trabalhada) e à estética da luminária. Não passa portanto de um
esquema de iluminação standard, embora com mais luz e luminárias de desenho mais cuidado.
Esta tendência parece resultar não de uma opção consciente mas sim de desconhecimento
(generalizado e em especial por parte de decisores políticos e técnicos) relativamente às
capacidades (e até á economia) de uma iluminação pensada especificamente para o local, face
a uma iluminação standard (geralmente não mais que uma iluminação viária).
No entanto observa-se uma mudança nos últimos anos. A importância e as capacidades da
iluminação como matéria arquitectónica têm adquirido reconhecimento e protagonismo no
ambiente urbano.
Assim, o design de iluminação afirma-se cada vez mais como uma disciplina autónoma e com
características próprias. Com efeito, para a consolidar como tal, em 27 de Outubro de 2007, é
feita a declaração para o estabelecimento oficial da profissão/disciplina ―Architectural Lighting
Design‖5 na Professional Lighting Design Convention (PLDC), em sessão plenária que decorreu
em Londres. Em Portugal foi criado em 2006 o Centro Português de Iluminação (CPI).
Eventos como o ―luzboa‖ – bienal de luz realizada em Lisboa em 2004, 2006, e 2008 – e
algumas iluminações de qualidade que foram sendo implementadas um pouco por todo o país
(geralmente associadas a projectos de requalificação), demonstram também uma evolução e
uma tomada de consciência (ainda que não seja generalizada, mas em diversos sectores)
sobre o design de iluminação.

5
Anexo 3

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A sociedade em geral começa a olhar para as questões da iluminação essencialmente pela
vertente da ecologia. Esta apresenta-se hoje como uma das vertentes do design de iluminação,
a par com a operacionalidade e a estética e caracterização do local.
À disposição existem novos meios tecnológicos (em constante e rápida evolução) que vão
desde os simuladores computacionais, á fibra óptica, lightpipes, controladores digitais, e outros
equipamentos sofisticados, além de uma ampla gama de lâmpadas, em constante evolução e
de onde se destacam os LEDs (Light Emiting Diodes), apontados como a tecnologia de futuro
em termos de fontes de luz.
A evolução destes meios facilita a concretização dos esquemas de iluminação, dando maior
liberdade de criação aos designers, e possibilitando novas ―luzes‖ nas várias formas de
iluminação presentes no espaço público.

Tipos de iluminação presentes no espaço público


As iluminações de diversos géneros hoje presentes nas nossas ruas podem ser divididas em
directas e indirectas. Directas, aquelas que estão implementadas no espaço público e que
podemos classificar em Iluminação Pública, Iluminação Patrimonial, Iluminação Comercial,
Iluminação Operativa, Iluminação Artística, e Iluminação Efémera; indirectas, aquelas que
provêm de outros locais – por exemplo do interior de nossas casas – mas que tem também
incidência no espaço público.
A chamada Iluminação Pública é aquela que tem como função primordial garantir um nível de
luz das ruas, praças, vias, jardins, etc., que torne viável e confortável utilizar estes locais
durante a noite. É um tipo de iluminação com relevo urbanístico e arquitectónico pois, quando
devidamente trabalhada e articulada com as outras formas de iluminação tem capacidade para,
além de garantir níveis de iluminação suficientes para a utilização do espaço público, fomentar
percursos, assinalar pontos relevantes, distinguir locais, gerar interesse.
A Iluminação Patrimonial é a que incide sobre monumentos e edifícios relevantes (pela sua
história, arquitectura, ou pelas suas funções) de forma a enfatizar essa relevância e as suas
qualidades arquitectónicas e/ou esculturais. É uma iluminação com grande potencial artístico, e
de atracção. É sobre este tipo de iluminação que se debruçam a maioria dos trabalhos de
design de iluminação em exteriores.
A Iluminação Comercial está presente sobre a forma de reclamos luminosos, telas e placards
luminosos ou iluminados, ―mupis‖, montras, ecrãs e outros sistemas multimédia, num processo
de constante acumulação. É um importante contributo para o ambiente urbano pela diversidade
de cor, formas, ritmos e movimentos que introduz. A intensidade de luz que trás ás ruas
também é significativa, especialmente quando consideramos a iluminação das montras (estas
podem ser vistas como grandes reclamos luminosos). O conjunto das iluminações das montras
provoca frequentemente um acentuar do piso térreo dos edifícios ao longo das ruas.

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A Iluminação Comercial pode ser uma interessante forma de ―decorar‖ e compor o espaço
urbano. Mas também pode representar um enorme ruído visual, deturpar a imagem dos
edifícios e dos espaços públicos, obstruir vistas. Devido a esta circunstância, diversas cidades
têm vindo a desenvolver acções no sentido de restringir e regrar este tipo de iluminação,
principalmente em locais históricos. Noutras cidades e em certos locais – por exemplo Times
Square6 ou na baixa de Tóquio – esse ―excesso‖ é apreciado, e por isso mantido e amplificado.
A Iluminação Operativa abrange todos os sistemas luminosos que têm por função (única ou
principal) uma simples operação funcional. São exemplos, os semáforos, sinais de trânsito
luminosos, balizadores, de entre outros. Apesar de se tratar essencialmente dum sistema de
comunicação luminoso cuja iluminação é restrita e localizada, esta não deixa de ser relevante
na iluminação do espaço público.
Na Iluminação Artística, a luz e a iluminação são consideradas um fim em si mesmas, o
objecto de arte. Disto são exemplos as instalações de luz, os espectáculos de luz, ou as fontes
luminosas, onde a luz se associa á água com grande encanto quando bem sucedido.
A Iluminação Efémera é geralmente, e à excepção da iluminação provocada pelos
automóveis, uma iluminação festiva. Pode estar associada a épocas festivas como o Natal ou a
Passagem de Ano, a comemorações locais ou regionais, a eventos (eventos desportivos;
espectáculos culturais e de lazer de todos os géneros, de onde se destacam os concertos e os
espectáculos de luz). Pode ser concretizada por meio de iluminação eléctrica, mas também por
fogueiras, tochas, ou outros, não esquecendo o fogo-de-artifício.
A iluminação que incide sobre o espaço público de forma indirecta, por ser privada e interior,
será mutável ao longo da noite, não é controlável. Não é por esse facto menos relevante. A
imagem dos edifícios iluminados pelo interior contribui para a imagem nocturna do espaço
público. Por exemplo, a forma como as luminárias se encontram dispostas nos vários tectos
duma torre de escritórios e a tonalidade da cor da luz em cada piso, será mais apreciada a
partir do exterior (geralmente espaço público) que do interior.
Todos estes diferentes tipos de iluminação contribuem para a imagem nocturna da cidade de
hoje. No entanto, as iluminações dos tipos Público, Patrimonial, e Comercial, são as que
adquirem hoje maior relevância, sendo por isso as mais tratadas ao longo deste trabalho.

6
Nova York

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Capítulo.2 – a Luz


Para responder às questões que neste trabalho se procuram investigar torna-se necessária a
compreensão dos conceitos base sobre a luz e a visão. São estes aspectos que se abordam
no segundo capítulo

A física da Luz
De todo o espectro electromagnético que chega até nós, quer seja proveniente do Sol ou de
uma lâmpada, apenas conseguimos ver uma parte – frequências entre 430nm e 750nm. É a
essa parte do espectro para nós visível que chamamos luz. Ao analisarmos todo o espectro da
luz solar que chega á terra – que vai dos raio-X (comprimentos de onda mais curtos) até às
ondas rádio (comprimentos de onda maiores) – verifica-se que é na faixa do espectro para nós
visível que se regista a maior intensidade. ―Não é coincidência que os nossos olhos tenham
evoluído para poderem fazer uso da porção da radiação solar que é mais acessível‖ Lechner
(2007). Na continuação do espectro visível, com comprimentos de onda mais curtos,
encontram-se as radiações ultra-violetas, e com comprimentos de onda mais longos, encontra-
se a radiação infra-vermelha.

Características da Luz e da Iluminação


Cada fonte emite uma certa quantidade de luz, ou seja, uma certa quantidade de ondas
electromagnéticas dentro do espectro para nós visível. Para além destas pode também emitir
ondas em outros comprimentos. Por exemplo, as lâmpadas incandescentes transformam
grande parte da energia não em luz mas em calor (radiação infra-vermelha). Daí a sua baixa
eficiência energética relativamente à produção de luz.
Mas concentremo-nos apenas no espectro visível. A quantidade de luz emitida pela fonte
designa-se por fluxo luminoso. Este é medido em lúmenes (Lm). Conforme o fluxo luminoso
seja maior ou menor, dizemos correntemente ao olharmos para a fonte que há mais ou menos
luz, ou que uma lâmpada é mais forte ou mais fraca, mais ou menos potente.

Outro parâmetro de caracterização da luz é a intensidade luminosa, medida em candelas (cd).


A percepção sobre quantidade de luz existente (fluxo luminoso) é por vezes alterada devido á
intensidade da luz. Por exemplo, perante um candeeiro que concentre toda a luz apenas em
direcção ao solo (aumentando a intensidade nessa direcção), e um outro, equipado com uma
lâmpada semelhante mas que disperse a luz em todas as direcções (diminuindo a intensidade
em todas as direcções), o observador pode percepcionar (erradamente) que no primeiro caso

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está a ser emitida maior quantidade de luz, quando na verdade está apenas a ser concentrada
numa determinada direcção.
A percepção sobre a intensidade da luz parece não variar de forma linear com a sua real
variação. Lam (1977) refere que ―duplicar a quantidade de luz num espaço não o fará parecer
duplamente iluminado (apesar de ir consumir duas vezes mais energia)‖ e acrescenta que ―(…)
duplicar os níveis de luz produz o que experiencias tipicamente descrevem como ―apenas uma
diferença perceptível.‖‖

De facto, na percepção lumínica os valores relativos impõem-se sobre os valores absolutos.


Num quarto escuro a luz de uma simples vela pode encandear. A questão está no contraste, ou
seja, na diferença de intensidades que cria a imagem. A visão depende desta existência de
contraste, seja este pela diferença de intensidades de luz (diferencial entre iluminado e não
iluminado, ou luminoso e não luminoso), ou pela diferença de cores (diferença na intensidade
de cada zona do espectro), ou pela conjugação das duas.
Tornamo-nos tão ―cegos‖ na ausência, como na total submersão em luz. O correcto ajuste do
contraste revela as formas com precisão, enquanto o excesso ou a escassez de luz as
esbatem.

É o trabalhar do contraste que possibilita mostrar um detalhe e ―esconder‖ outro, enfatizar um


ponto na paisagem ou num edifício, criar um ritmo, ou expor uma textura, pelo que a ausência
de luz – a sombra – mostra-se tão relevante quanto a luz. Como referido por Faria em ―Luzboa‖
(Caeiro et al. 2004) ―Luz e sombra são indissociáveis. A luz divide com a sombra os méritos
pelo nosso conhecimento das formas e dos espaços. Revelam os limites através do contraste.
Num espaço de luz absoluta, em que a sombra é ausente, os limites espaciais e a
tridimensionalidade dos objectos são esbatidos.‖

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Acresce que a percepção sobre a luminosidade das superfícies (própria ou reflectida), e logo,
do contraste entre elas, não depende exactamente da quantidade de luz (e do espectro) que
cada uma dessas superfícies emite, mas sim de como é percebida pelo observador. O modo
como a luz é percebida varia conforme o posicionamento relativamente às superfícies, e varia
ainda de pessoa para pessoa dependendo das suas capacidades visuais. Isto será facilmente
compreensível se pensarmos num espelho á luz de projector; a luz que este espelho recebe e
que, por sua vez, emite, tem um certo valor constante. No entanto, conforme o nosso
posicionamento relativamente á superfície do espelho poderemos ficar ou não encandeados
pela luz que este reflecte, e diferentes pessoas (ou até a mesma pessoa em diferentes
momentos) serão mais ou menos sensíveis que outras a tal efeito. A densidade da luz de uma
superfície, recebida pelo observador, é mensurável pela luminância.
Luminância refere-se á razão entre a intensidade de luz emitida por uma superfície (luz própria
ou reflectida) e a área dessa superfície que é visível para os olhos. Isto é, depende da posição
do observador. A unidade de medida é a candela por m2 (cd/m2).

É importante distinguir iluminância de luminância.


Iluminância refere-se á razão entre a quantidade de luz que chega a uma superfície e a área
desta. A medição é feita pontualmente e geralmente a distribuição não será uniforme. A
unidade de medida é o lux (Lux).

Outro parâmetro de caracterização da luz é a Temperatura de Cor, medida em graus Kelvin


(ºK), que se refere a tonalidade da luz branca. Narbori (2003) diz-nos que a Temperatura de
Cor ―É um dos critérios máximos da apreciação de uma iluminação e de uma imagem nocturna,
porque a tonalidade da luz
qualifica a impressão visual
experimentada – quente ou
fria – e permite precisar o
grau de coloração da luz
branca emitida‖. Este
parâmetro baseia-se na
Teoria do Corpo Negro, em
que um corpo negro quando
aquecido ao rubro,
apresentará diferentes cores
dependendo da temperatura.
Começará por apresentar tons vermelhos, laranjas, amarelos, passando para branco, verde,
azul, lilás, á medida que a temperatura aumenta. Do mesmo modo, luzes com temperaturas de
cor mais altas adquirem tonalidades mais frias, como verde, azul, lilás, ou apenas branca.
Designam-se por luzes frias.

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Já as luzes com temperaturas de cor mais baixas apresentam tonalidades mais quentes, de
amarelos, dourados, laranjas, sendo assim designadas por luzes quentes.
Considera-se que a separação entre luzes quentes e luzes frias se situa aproximadamente nos
3000ºK, e que a luz é apenas branca (sem qualquer tonalidade) quando a temperatura de cor
se situa entre 6000 a 7000ºK.

A luz, conforme o seu espectro, terá maior ou menor capacidade de reproduzir correctamente
as cores das superfícies que ilumina. Depende das características da fonte. Lam (1977) refere
que ―para a apreciação precisa da cor é necessária luz de espectro contínuo: luz que é
produzida por fontes de “corpo negro” aquecido como um filamento duma lâmpada
incandescente ou o Sol.‖
O Índice de Reprodução de Cores (IRC), também por vezes denominado Índice de
Reconstituição de Cores, diz-nos, de forma aproximada, dessa capacidade. É uma escala de 0
a 100, onde 100 corresponde a uma reprodução de cores semelhante á da luz natural
(considerada a reprodução perfeita) para as cores testadas. Há que ter em atenção que para
esta classificação, é testado apenas um número reduzido de cores (8), que embora sejam
demonstrativas para uma gama de cores mais alargada, não garante que uma luz com
IRC=100 seja equiparável á luz natural para todas as cores.
Não cabendo a um arquitecto a quantificação e domínio de todos estes conceitos, a sua
apreensão é contudo vital para os intervenientes no projecto de iluminação.

É ainda de registar que a luz apenas se torna visível na fonte e ao incidir sobre a matéria. No
espaço, no vazio, a luz não se revela. Logo, a iluminação terá necessariamente de ser pensada
na perspectiva de iluminar as superfícies, não o espaço.

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Capítulo.3 – Projectar Iluminação


Este capítulo abordará a forma de projectar iluminação para o espaço público, desde a
metodologia de projecto em design de iluminação, aos aspectos mais relevantes a ter em
consideração neste tipo de projecto.

O projecto de iluminação
O projecto de iluminação é, essencialmente, a definição do que se ilumina e do que não se
ilumina, e como. Tal implica escolhas, que não deverão ser aleatórias mas sim apoiadas na
arquitectura e urbanismo – ―Os Designers de Iluminação são parte integrante do
desenvolvimento do projecto de Arquitectura. Estes cooperam coordenando a sua actividade
profissional junto das outras especialidades relevantes no mesmo projecto, actuando como
7
garante do seu sucesso integral‖ – bem como na história e na cultura. No entanto, a
iluminação não será sempre entendida apenas como produto da arquitectura ou do urbanismo.
Pode responder (de forma independente ou simultânea) a outros factores (operacionais,
culturais, climatéricos, etc.) e assim introduzir novos estímulos que poderão ser um contributo
para a arquitectura e urbanismo.

A metodologia de projecto adoptada no design de iluminação é semelhante á dum projecto de


arquitectura. Requer um reconhecimento aprofundado das características da zona a
intervencionar, actuais (por observação e levantamento), passadas (através de investigação
histórica), e futuras (pelo conhecimento e entendimento do programa e do projecto de
arquitectura/urbanismo quando este exista), a partir do qual se desenvolve um processo de
análise que vai permitir compreender as fragilidades, as potencialidades, e as necessidades do
local. Conhecer profundamente o local e programa revela-se essencial, pois a dificuldade dum
projecto não reside tanto em encontrar soluções mas mais em encontrar e ―dissecar‖
correctamente os problemas. Uma vez tomada consciência dos verdadeiros problemas que se
põem sobre o local e programa, as soluções mais adequadas revelar-se-ão de forma quase
espontânea. Pelo contrário, sem um bom entendimento do problema a resposta dificilmente
será a correcta. Esta fase determinará grande parte das opções de iluminação.
A partir da correcta compreensão das fragilidades, potencialidades, e necessidades patentes
no local, são estabelecidos objectivos. É a definição do é pretendido para o local.

7
Artigo 3 da declaração da profissão

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Com base nestes objectivos estabelecem-se as estratégias de intervenção. Ou seja, os
conceitos e as linhas de acção que vão guiar o desenvolvimento do projecto na sua forma mais
concreta.
Passa-se então duma fase de projecto conceptual para uma fase de projecto que permitirá
concretizar uma iluminação.
É desenvolvido um esquema de iluminação – onde se define concretamente o que se ilumina e
o que não se ilumina, e de que forma – com o objectivo de concretizar as estratégias
anteriormente definidas.
Se o processo de projecto fosse linear, o esquema de iluminação levaria á definição das fontes
necessárias, e estas á definição dos suportes. ―A escolha da composição nocturna e dos
efeitos desejados determina a escolha dos meios técnicos (aparelhos de iluminação, lâmpadas,
formas de implementação dos pontos de luz e de alimentação).‖ Narbori (2003)
Mas na verdade cada uma destas escolhas pode provocar (e geralmente provoca) alterações,
de maior ou menor impacte, nas escolhas feitas em etapas anteriores. Esta fase do projecto
desenvolve-se, portanto, em ciclos.

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Durante as fases de definição concreta da iluminação, o conhecimento pormenorizado sobre
outros projectos, e a execução de testes de iluminação no local (que Phillips (2002) refere ser
importante para a correcta percepção da iluminação que está a ser proposta, tanto por parte do
projectista como por parte do cliente) mostram-se de grande relevância para a correcta
afinação de todos os aspectos, para uma melhoria global do projecto, e para uma maior
correspondência entre projecto e iluminação concretizada no local.

A tendência actual é de que o projecto de design de iluminação seja resolvido em ordem a três
vertentes principais: operacionalidade; estética e caracterização do local; ecologia.
Na operacionalidade estão compreendidos os aspectos mais básicos da iluminação como
sejam, garantir níveis de iluminância que permitam a circulação (pedonal ou viária) e a estadia
no espaço público de forma confortável e segura.
A estética e caracterização do local é a vertente que responde aos aspectos da concepção e
imagem dos locais iluminados, e de percepção e entendimento (organização, hierarquização,
de actividade, históricos, etc.) sobre esses locais.
A vertente da ecologia relaciona-se essencialmente com três aspectos: consumo energético, e
as consequentes emissões de gases poluentes; e a poluição luminosa, inibidora da vista do
céu estrelado nas cidades, que se deve á refracção da luz na atmosfera; produção e fim de
vida das lâmpadas, equipamentos, e suportes. Estes pontos serão tratados de forma mais
aprofundada em ―As questões ecológicas‖.

Um projecto de iluminação para o espaço público ganhará em não se debruçar apenas sobre a
iluminação pública e patrimonial. Como já foi referido, existem outros tipos de iluminação no
espaço público – Iluminação Comercial, Operativa, Efémera, Artística, e formas de iluminação
indirecta – que contribuem para a imagem nocturna da cidade.
Logo, todos deverão ser devidamente ponderados no projecto, podendo-se propor articulações
entre diversos tipos de iluminação (ainda que alguns sejam de difícil controlo por parte do
projectista, e alguns tenham maior expressão e relevância que outros) com resultados
tendencialmente mais satisfatórios.


Em seguida serão tratados diversos aspectos de iluminação, relevantes no desenvolvimento
dum projecto, em especial no que se refere á iluminação do espaço público

Intensidade da iluminação
Geralmente é tido por certo que mais iluminação é melhor iluminação e que tudo deve ser
iluminado com o máximo de intensidade possível, como uma reprodução da luz solar durante a

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noite. Geralmente é também tido por certo que a iluminação define a segurança do espaço
público à noite, e que só uma iluminação intensa e geral (uniforme) torna o espaço público
seguro.
Contudo, nem a segurança é determinada pela iluminação (este tema será aprofundado em
―Luz e Segurança‖) nem a iluminação é geralmente melhor devido a ser mais uniforme ou mais
intensa. É necessário garantir determinados níveis de intensidade de iluminação que se
prendem com a própria utilização do espaço – trânsito pedonal e automóvel e outras
actividades, e nível de actividade – e com a imagem e ambiente pretendidos mas, como refere
Costa Lobo em ―Luzboa‖ (Caeiro et al. 2004) ―demasiada intensidade de luz pode porém retirar
relevo e sublinhado às formas que as sombras produzem.‖
A sombra, que tal como a luz apresenta diversos níveis de intensidade, contribui em paridade
com esta para a imagem nocturna. Narbori (2003) refere que ―a obscuridade, a penumbra, o
negro, as sombras e os contrastes devem ser considerados, da mesma forma que a
iluminação, como elementos de corpo inteiro da encenação.‖
A conjugação entre diversas intensidades de luz e diversas intensidades de sombra mostra-se
importante para expor correctamente um elemento, criar padrões e ritmos, hierarquizar
espaços ou elementos, induzir o ambiente nocturno pretendido, etc., para que no final a
iluminação resulte simultaneamente a várias escalas: local, de enquadramento, paisagem. Por
exemplo, um ―landmark‖ que se pretenda destacar através da iluminação, deve ser iluminado
com intensidade suficiente para sobressair na paisagem e para ter ênfase durante a
aproximação a partir da rua, sem no entanto estar demasiado iluminado para localmente ser
apreciado na sua forma e relevo.
Tal será conseguido com a correcta afinação do contraste, tanto na iluminação do elemento
como na relação desta com a iluminação do espaço envolvente. Caso contrário, o elemento em
causa poderá perder leitura em algumas das escalas a que pode ser observado, ou o espaço
envolvente pode ser remetido á aparente escuridão.

A intensidade da iluminação (como também o esquema, a cor, etc.) pode variar ao longo do
tempo – ao longo da noite ou até sazonalmente – adaptando-se às actividades e ao nível de
actividade. Esta solução, normalmente associada à poupança energética, pode também ser
encarada como uma forma de mutação da imagem nocturna do espaço e da percepção que
temos sobre este.

Tal como observado anteriormente, no espaço público estão presentes diversos tipos de
iluminação, sendo os mais relevantes ao nível da intensidade, a iluminação pública,
patrimonial, e comercial. A intensidade destas últimas é frequentemente bastante elevada,
observando-se facilmente situações em que, isoladamente ou conjugadas, apresentam
intensidades claramente superiores á iluminação pública, e superiores ao níveis considerados
necessários. Assim, ―em certas situações, poderá a iluminação dos edifícios urbanos permitir a

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abolição da iluminação das ruas através de candeeiros‖ Costa Lobo ―Luzboa‖ (Caeiro et al.
2004). Também a iluminação comercial (ou a conjugação desta com a iluminação patrimonial)
poderá permitir a diminuir ou abolir da iluminação pública, desde que salvaguardada a sua
permanência em funcionamento ao longo de todo o período nocturno.
Relativamente á iluminação patrimonial substituir a iluminação pública, ―é de referir o caso de
Edimburgo (zona antiga da cidade) em que a iluminação feita para destacar as fachadas, com
projectores, é suficiente para garantir uma iluminação geral considerada razoável, favorecendo
os edifícios cujo valor estético se deseja destacar‖ idem.

Continuidade da iluminação
A continuidade do esquema de iluminação ao longo de um espaço – rua, praça, largo – mostra-
se de extrema importância para que a iluminação seja compreendida como una e inerente a
esse espaço. Diversas soluções ao longo de um mesmo espaço, ainda que possam ser
soluções de qualidade, tenderão a parecer apenas uma acumulação desconexa e confusa,
tornando a iluminação no seu todo, desinteressante.
A continuidade da iluminação não se prende com a sua uniformidade. Variações ao longo do
espaço – de ritmo, tonalidade, intensidade, etc. – mostram-se perfeitamente válidas e
compatíveis com uma leitura una, desde que estas sigam regras ou padrões perceptíveis.
Numa analogia com o som poderíamos dizer que a iluminação deve ser um conjunto de sons
que resulte numa música e não em ruído.

Tonalidade da luz
A luz pode ser colorida, ou branca com determinada tonalidade.
A luz de cor é capaz de provocar ambientes e sensações bastante fortes. Pode alterar
drasticamente a cor e aparência dos objectos sobre os quais incide, causando surpresa. Como
tudo o que é de grande exuberância e impacte está a um curto passo entre o excelente e o
medíocre, e as reacções que gera podem ser antagónicas, uns ficarão deslumbrados e outros
acharão detestável, uns sentir-se-ão embebidos num ambiente fantástico e outros
desconfortáveis. Com alguma frequência, as iluminações de cor intensa, após um impacte
inicial positivo, tornam-se monótonas ou cansativas. Talvez por isso, como se refere em Made
of Light (Major et al., 2005), o uso de luz colorida em nossas casas se mantenha mais contido e
subtil.
É de referir ainda o grande consumo energético que geralmente está associado a uma
iluminação de cor. Isto porque a maioria das fontes não emite luz de uma única cor, com
excepção das fontes monocromáticas (geralmente LEDs), mas sim uma luz com um espectro
mais abrangente, á qual se fazem subtracções através de filtros, chegando-nos apenas a luz
na frequência correspondente á cor desejada. Assim, para a luz colorida atingir a mesma

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intensidade de uma luz branca será geralmente necessário despender de uma maior
quantidade de energia.
Por estas razões, a iluminação colorida é intensamente utilizada para iluminações efémeras, e
menos para iluminações permanentes, embora nestas últimas existam também casos de
excelente qualidade.

A própria luz branca pode ser totalmente branca ou apresentar tonalidades diversas. Como
anteriormente referido, recorre-se à classificação por temperatura de cor (em Graus Kelvin (ºK))
para fazer referência às diferentes tonalidades da luz, que se dividem em ―quentes‖ – tons de
laranja, amarelo, dourado, correspondentes a temperaturas de cor mais baixas – e ―frias‖ –
tons de verde, azul, lilás, correspondentes a temperaturas de cor mais altas.

A correcta combinação das diversas


tonalidades de cor da luz apresenta-se como
um dos maiores desafios e simultaneamente
uma das maiores qualidades na iluminação de
um local ou elemento. A combinação entre
diversos tons permite geralmente uma subtil e
eficaz diferenciação entre as superfícies
iluminadas. Assim é possível diferenciar
diferentes elementos de um edifício, vários
planos de uma encosta, uma praça das ruas
que nela desembocam, a iluminação viária da
iluminação das zonas pedonais, entre muitas
outras possibilidades, sem recurso a
iluminação colorida que pode trazer vários
problemas já referidos. Também a ambiência
local pode ser diferenciado pela temperatura
de tonalidade da luz branca. As luzes mais
―quentes‖ estão geralmente associadas a ambientes mais ―aconchegantes‖, confortáveis,
tranquilos, de contemplação, de estada, enquanto as luzes mais ―frias‖ tendem a induzir-nos
numa sensação de maior actividade. Assim, conforme a função a desempenhar pela
iluminação ou no local iluminado, existirão diferentes necessidades relativas á temperatura de
cor da luz. Por exemplo, para local para actividades desportivas será geralmente mais
adequada uma luz fria, e no recanto intimista do banco de jardim será geralmente mais
adequada uma luz quente. No entanto não existe uma relação determinística entre a
Temperatura de Cor da luz e o tipo de ambiente criado por esta.

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A conjugação de luzes com diferentes tonalidades pode também realçar a tridimensionalidade,
frequentemente esbatida em objectos sob um foco de luz. A iluminação rasante, e o jogo entre
dois focos com tonalidades diferentes ajudam a manter o volume e relevo dos objectos
iluminados. Por exemplo, uma árvore iluminada por um lado com uma luz completamente
branca, e pelo lado oposto por uma luz branca quente, será percepcionada com toda a sua
tridimensionalidade.

A tonalidade da luz branca fará realçar determinados tons das superfícies sobre as quais
incide. Assim, não surpreenderá que a tonalidade da luz escolhida possa dar um agradável
realce ao elemento que ilumina ou, pelo contrário, adulterar a sua aparência.

A escolha das tonalidades mostra-se um factor decisivo na imagem das superfícies iluminadas
e do conjunto, e a minúcia necessária para um resultado de qualidade, sublinha a importância
dos testes de iluminação no local e do conhecimento sobre iluminações anteriormente
realizadas.

Reprodução de cores
A luz, como já referido em ―Características da Luz e da Iluminação‖, pode reproduzir as cores
das superfícies com maior ou menor fidelidade, dependendo das características da fonte.
Na maioria das situações, uma iluminação capaz de reproduzir as cores das superfícies com
grande fidelidade – sejam estas de edifícios, pavimentos, árvores, ou de outros elementos
existentes no espaço público – mostra-se vantajosa, tanto a nível estético como perceptivo.
A iluminação corrente nas nossas cidades assenta essencialmente nas lâmpadas de sódio a
alta e a baixa pressão, devido aos baixos e equilibrados custos implementação, manutenção, e
energéticos. As de baixa pressão (luz de tonalidade bastante amarela), com fraquíssima
capacidade de reprodução de cores (IRC=20), são vulgarmente utilizadas em zonas
consideradas menos ―nobres‖ (estacionamentos, algumas vias, túneis, etc.). Nos restantes
locais, recorre-se geralmente às lâmpadas de sódio a alta pressão (luz branca com tonalidade
amarela), com melhor (mas ainda baixa) capacidade de reproduzir as cores (IRC até 60).
Sob uma luz com fraca capacidade de reprodução de cores, materiais como a pedra ou o
azulejo (entre outros) podem sofrer uma grande descaracterização, tornando-se pouco
expressivos. O mesmo pode acontecer a produtos expostos nas montras que, frequentemente,
para além da iluminação própria das montras, sofrem a incidência da iluminação pública.

Observa-se também alguma relação entre a sensação de segurança e a reprodução de cores


conseguida pela iluminação. Sob uma iluminação com baixa fidelidade na reprodução de cores,
estas tornam-se mais indiferenciadas, perdendo-se pormenor – percebemos se a cor é clara,
escura, ou um tom médio, mas não distinguimos bem um automóvel vermelho de um castanho,

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uma roupa preta de uma azul. Nestas condições a sensação de insegurança tende a aumentar,
uma vez que não se percepciona com clareza o que nos rodeia.

Nem sempre a opção tomada é a de reproduzir correctamente as cores do que se pretende


iluminar. Por vezes, a opção de projecto recai sobre a alteração da imagem do local. Uma
opção será ―mostrar‖ de forma quase monocromática um local extremamente colorido á luz do
dia, revelando apenas as suas formas e não a coloração. Uma outra opção, inversa, será
―aplicar‖ cor a uma construção monocromática através da incidência de luz colorida.

Reflexos nas Superfícies


Ao incidir numa superfície, parte da luz será absorvida, parte será transmitida (conforme o grau
de transparência do material), e parte será reflectida.
A reflexão da luz é feita de forma distinta conforme as características da superfície, fazendo
com que o modo como percepcionamos determinada luz não seja indiferente ao tipo de
superfície sobre a qual esta incide.
A reflexão da luz pode ser feita de forma mais especular – caso de superfícies altamente
reflectoras e brilhantes, como
o azulejo vidrado ou as
chapas de metal polido –, de
forma mais difusa –
superfícies não brilhantes
como uma parede caiada,
pedra não polida, madeira
sem acabamento brilhante.
Superfícies com cores claras
reflectem a maior parte da luz
que nelas incide, enquanto as
superfícies com cores
escuras absorvem maior quantidade de luz.
Quanto às texturas e relevo de uma fachada, estas revelar-se-ão com grande expressividade
sob uma luz rasante, ou pelo contrário, serão atenuadas caso a luz seja perpendicular á
superfície.

A influência dos elementos atmosféricos


Sabe-se que as condições atmosféricas influenciam a iluminação. ―A chuva aumenta a
luminância do solo iluminado e desempenha um papel de filtro que apenas deixa passar uma
certa proporção de luz artificial. As neblinas e os nevoeiros irisam as luzes artificiais e anulam
as sombras projectadas, enquanto que a neve no solo as redifunde e apaga as sombras

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projectadas, desmultiplicando a luminância do solo.‖ Narbori (2003). É de referir ainda o vento,
capaz de agitar os candeeiros, introduzindo movimento nos suportes e na própria iluminação.
Se estes fenómenos são pontuais e imprevisíveis, não apresentam grande relevância. No
entanto, se forem constantes, ou previsíveis para determinadas épocas ou horas, podem ou
devem (conforme o caso) ser considerados aquando de um projecto de iluminação, do mesmo
modo que se consideram quaisquer outros elementos de projecto. Não será o mesmo propor
um ritmo de alternância entre luz e escuridão num local seco ou num local onde os nevoeiros
constantes vão dissipar a luz e esbater o contraste.
Ainda no caso da existência de nevoeiro, o cuidado de não obstruir a paisagem com a
iluminação deverá ser redobrado devido á dissipação da luz, que inevitavelmente aumentará a
obstrução (tal como no automóvel, vê-se melhor em médios que em máximos).
Do mesmo modo não será indiferente a existência de neve durante o inverno quando se
pretende trabalhar as sombras criadas com a iluminação.
O vento, e o balançar que este provoca nos poste e candeeiros, pode ser o mote para se
propor uma iluminação propositadamente com movimento, como um bailado ao sabor do
vento.
O impacte dos elementos atmosféricos pode, portanto, ser grande, e deles poder-se-á tirar
partido em proveito do projecto. Estes poderão potenciar e imprimir carácter á iluminação.

A dimensão cultural
Por outro lado, é impossível não atender á dimensão cultural da luz. No Ocidente a luz tem
conotações com a pureza e com a divindade, e é por isso objecto de contemplação. No Japão
tradicional contemplam-se os locais que permanecem na penumbra, tidos como locais de
meditação. Aqui, como refere Tanizaki (1933), pequenos brilhos – de trabalhos em dourado ou
dos vidrados cerâmicos – de outro modo imperceptíveis, ganham realce na profundidade da
sombra.
Já no Japão contemporâneo (de certo modo ocidentalizado), existe uma adoração pela luz.
Mas não pela visão da luz ―divina‖ ou ―pura‖ dos ocidentais. Parece ser a luz como sinónimo de
actividade que provoca essa adoração – a publicidade luminosa em constante mutação, os
néons e os seus ritmos de acendimento, o strobe da discoteca.
Esta dimensão cultural tem em alguns aspectos relação com o clima. Isto torna-se evidente ao
nos apercebermos de que ― (…) no hemisfério norte, luz quente parece ser a escolha natural no
inverno enquanto que em climas mais quentes o uso de fluorescentes frias é mais usual‖
(Major et al., 2005).
Também os materiais utilizados nos revestimentos das construções, a forma como estes
reflectem a luz, tem em parte uma génese cultural e ambiental. Nos países mediterrânicos,
onde o Sol brilha de forma intensa, os edifícios são revestidos com materiais baços que tornam
a luz mais difusa. Já na Europa Central, os gradeamentos, ornamentos dos edifícios, e cúpulas

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douradas, são uma constante, no que parece ser uma tentativa de ―arrancar‖ algum brilho à luz
difusa de um céu geralmente nublado.
Atender às diferenças culturais e as diversas perspectivas existentes sobre a luz e a sombra,
conforme o meio em que o projecto se vai inserir, pode ser um importante contributo para uma
base mais sólida nas opções de projecto e para uma maior receptividade deste por parte dos
utilizadores. De outro modo a iluminação proposta poderá não ser entendível pela população
local, ou adquirir um significado diferente do pretendido.

Fontes de Luz
As lâmpadas, origem da luz artificial, interessam ser estudadas especialmente no que se refere
às características da luz emitida e aplicabilidade á iluminação do espaço público. Na tabela 1
expõem-se as características e as vantagens e desvantagens das lâmpadas mais usuais.
Destaca-se que as lâmpadas mais utilizadas em ambiente exterior – sódio a baixa e a alta
pressão; iodetos metálicos – têm pouca aplicação em interior devido a geralmente
necessitarem de um tempo de reacendimento (pouco prático) e a potências luminosas
demasiado altas para a maioria das aplicações. Acrescenta-se, no caso das lâmpadas de
sódio, a fraca qualidade na reprodução de cores.
Por outro lado, as lâmpadas mais utilizadas em ambiente interior – incandescentes, de
halogéneo – são pouco utilizadas em ambiente exterior devido à baixa eficiência energética8 e
a potências luminosas demasiado baixas para muitas das aplicações em exterior.
As lâmpadas fluorescentes, embora com maior utilização em espaços interiores e pouca
utilização na iluminação pública, contribuem frequentemente para a iluminação do espaço
público através das iluminações comerciais.

Destaque ainda para a tecnologia LED – Ligth Emitting Diode (em português, diodo emissor
de luz) – que se apresenta como uma das mais promissoras, tanto para uso em espaços
interiores como em exterior, assistindo-se nos últimos anos a investigação e desenvolvimento
nesta tecnologia, devido às vantagens que apresenta em diversos aspectos e ao potencial de
desenvolvimento que se lhe reconhece.
Os aspectos em que os LEDs apresentam vantagens, prendem-se com:
-A sua reduzida dimensão. Os LEDs são lâmpadas de pequena dimensão capazes de emitir
um pequeno fluxo luminoso. Assim, uma luminária é geralmente constituída por várias dezenas
de LEDs, que podem ser dispostos em inúmeras combinações. Este facto permite novas
configurações até agora impossíveis (além de outras mais tradicionais), capazes de responder
mais eficazmente a diversas situações;
-A durabilidade. Possuem um longo tempo de vida (entre 25.000 a 50.000 horas) apenas
superado pelas lâmpadas de indução (cerca de 60.000 horas);

8
Razão entre a luz emitida e a energia eléctrica consumida

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 22


-A resistência a impactos, muito superior a qualquer outra lâmpada, facilita a montagem e
manutenção, e permite que sejam colocados em locais onde antes não era possível ou
aconselhável;
-A luz emitida reproduzir as cores com elevada fidelidade (IRC de 80 a 90);
-Uma ampla gama de temperaturas de cor disponível (entre os 2500 e os 8000ºK);
-Possibilidade de gerarem cores sem o recurso a filtros. A combinação de três LEDs, um
vermelho, um verde, e um azul, permite a obtenção de cores RGB. Assim, uma única luminária
pode permitir a variação entre diversas cores, incluindo o branco. Esta possibilidade, aliada a
sistemas controlo computacional abre possibilidades surpreendentes como letreiros dinâmicos,
ecrãs gigantes, ―fachadas multimédia‖, iluminação pública variável, entre outras;
-Possibilidade de regulação da intensidade da luz – conhecida por ―dimming‖ – tornando
possível o seu ajuste ao longo da noite, conforme a hora, condições climatéricas, eventos, etc;
-Não possui gases ou metais pesados, com vantagem ao nível ambiental;

Apesar das vantagens expostas, subsistem algumas desvantagens que ainda não permitem
uma utilização generalizada desta tecnologia, principalmente em ambiente exterior:
-Elevado custo de produção devido ao custo dos materiais utilizados (os mesmos materiais
semicondutores utilizados em micro-chips). Este é actualmente o principal obstáculo a uma
maior utilização de LEDs;
-Eficiência energética. Embora tenham uma boa eficiência quando comparados com as
lâmpadas incandescentes e de halogéneo e possam rivalizar com as fluorescentes, quando
comparadas com as lâmpadas mais utilizadas em exteriores (sódio a alta e baixa pressão, e
iodetos metálicos), os LEDs ficam em clara desvantagem. Actualmente, a utilização de LEDs
na iluminação pública em grande escala faria aumentar consideravelmente o consumo
energético;
-Dificuldade na obtenção de potências elevadas devido á dificuldade de arrefecimento;
No entanto, a eficiência energética dos LEDs tem aumentado continuamente, e o
desenvolvimento de LEDs orgânicos (OLEDs), que por serem feitos em materiais à base de
carbono terão um custo de produção muito inferior, tem avançado significativamente.
Não é previsível que os LEDs substituam por completo as outras tecnologias existentes, mas é
expectável a sua utilização em larga escala, sobrepondo-se as restantes tecnologias em
diversas situações e oferecendo novas possibilidades no modo de iluminar.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 23


Equipamentos e Suportes
Depois de definido o esquema de iluminação e as fontes de luz necessárias, será necessário
definir as luminárias9 (ou outros tipos de equipamentos) e os suportes.
As luminárias têm grande influência na iluminação uma vez que direccionam o fluxo de luz,
determinam em grande parte o nível de eficácia energética, e podem alterar algumas
propriedades da luz (por exemplo a tonalidade). A escolha da luminária vai determinar os
ângulos do feixe de luz, aspecto essencial para a concretização do esquema de iluminação
proposto.

Como referido por Phillips (2002), muitos equipamentos têm uma presença visual significativa,
especialmente durante o dia.
Verifica-se que este impacte pode ser explorado favoravelmente. Mencionando alguns casos:
os postes podem ser elementos de organização espacial (contribuindo para a coerência visual
dum local10; induzindo divisões entre locais; contribuindo, pelas suas dimensões, para definir a
escala do lugar), alguns suportes são simultaneamente balizadores (exercendo funções de
delimitação do espaço), e encontram-se projectores encastrados a fazer parte do desenho do
pavimento.

Para qualquer que seja a situação mostra-se necessário avaliar quais os locais mais favoráveis
para a colocação dos equipamentos de modo a ser atingido o efeito pretendido da forma mais
conveniente. Ou seja, para se atingir um determinado efeito luminoso podem existir várias
localizações possíveis para a colocação do equipamento, e de entre estas deverá ser avaliada
qual a mais favorável.
É possível que mesmo a melhor localização (ou a única disponível) tenha um impacte muito
negativo sob outro aspecto importante no projecto. Nesse caso será necessário ponderar o
interesse e necessidade da manutenção no projecto dessa parte do esquema de iluminação.

Além da presença visual dos equipamentos, observa-se ser importante ter em atenção
aspectos de conservação, manutenção, e de segurança para pessoas e equipamentos. Assim,
é de evitar a colocação de equipamentos em locais que acelerem a sua deterioração ou em
locais de difícil ou perigoso acesso, e muitos não devem estar acessíveis aos transeuntes. Por
exemplo, um projector de elevada potência não deve estar colocado junto de um passeio, sob
o risco de, por um lado poder provocar encandeamento ou queimaduras a quem se aproxime e
por outro lado poder ser facilmente danificado.

9
Termo usado para referência ao equipamento que permite o funcionamento da lâmpada, normalmente
composto pelo encaixe, reflector, ventilador, e caixa. Anteriormente eram mais vulgarmente designadas
de ―armaduras‖.
10
Venturi (1977) assinala a importância da regularidade dos postes de iluminação pública no meio da
exuberante diversidade luminosa de Las Vegas.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 25


Com a evolução da tecnologia, tanto lâmpadas como suportes (principalmente os
projectores/luminárias) têm vindo á apresentar menores dimensões, tendência que se parece
manter para o futuro (especialmente com a tecnologia LED), tornando-se assim cada vez mais
fácil fazer uma boa integração do equipamento no local.
Não obstante, e apesar de existir uma enorme diversidade equipamentos e suportes
disponíveis no mercado (luminárias, postes, hastes, poleias, etc.), e é também possível (e por
vezes necessário) desenvolver equipamentos e suportes específicos para a concretização da
iluminação pretendida.
Os materiais em que estes são construídos e as suas características de construção, são
factores relevantes para a escolha dos suportes. A adequação dos materiais ao nível de
agressividade do clima, as necessidades de manutenção, e o isolamento á sujidade e á água,
e a capacidade de ventilação/arrefecimento, revelam-se os aspectos mais importantes.

Além dos equipamentos e suportes mais comuns – candeeiros em poste ou balançados,


projectores de fachada, projectores encastrados no piso, balizadores – existem outras opções
com interesse e utilidade.
A fibra óptica possibilita a condução de luz até a pontos onde seria difícil colocar uma fonte de
luz – por exemplo, na iluminação do Mosteiro dos Jerónimos, desenvolvida por Maria João
Pinto Coelho, recorreu-se a esta tecnologia para colocar uma pequena luz a surgir da boca de
cada gárgula. Outra aplicação é a colocação iluminação dentro de água sem recorrer a
projectores estanques (mais dispendiosos), ou para a iluminação de jactos de água, pois o
emissor de luz tem que ser muito pequeno e tem que estar dentro de água.
Outra tecnologia é a dos tubos de luz, conhecidos como ―lightpipes‖. Permite que a luz emitida
ao longo de um tubo seja ―libertada‖ para o exterior apenas nos pontos pretendidos. Torna
possível a emissão de luz em vários pontos a partir de uma única fonte, e permite criar linhas
de luz semelhantes a uma lâmpada fluorescente tubular de grandes dimensões.
É de referir ainda as mangueiras de LEDs, muito práticas de aplicar, e muito úteis para marcar
percursos, silhuetas, ou criar volumes de luz.

Mas sendo a iluminação o ponto fulcral (não o aparelho), ―é importante recordar que os
aparelhos de iluminação não aceitam todos os tipos de lâmpadas. A maioria não tolera mesmo
mais que um tipo e este para uma dada potência; daí resulta a necessidade para qualquer
designer de luz definir, para o seu projecto de iluminação, primeiro a lâmpada e só depois o
aparelho de iluminação adequado‖ Narbori (2003). E anteriormente á definição da lâmpada,
será necessário definir a luz.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 26


As Questões Ecológicas
Como já havia sido mencionado anteriormente, a ecologia é uma das vertentes mais relevantes
na iluminação, a par com a operacionalidade, e a estética e caracterização do local.
São de referir três assuntos principais no que respeita ao impacte da iluminação sobre o
ambiente: poluição luminosa; consumo energético; produção e fim de vida de lâmpadas e
equipamentos.
A poluição luminosa refere-se aos impactes negativos que a iluminação pode ter sobre as
pessoas e sobre o meio ambiente.
A cada vez menor visibilidade do céu estrelado nas
cidades é seguramente dos impactes negativos mais
notórios. Tal deve-se ao excesso de luz que é enviado em
direcção ao céu e que, pela refracção na atmosfera, nos
bloqueia a vista das estrelas – se à noite observarmos
uma cidade ao longe, veremos sobre esta um halo
provocado por este efeito. Grande parte desta luz provém
directamente das luminárias que, apesar de terem por
objectivo iluminar o solo, emitem parte da luz em direcção
ao céu. O caso mais flagrante é o dos candeeiros
designados por ―globos‖, muito comuns nas nossas ruas, e
que emitem para o solo menos de 50% da luz gerada,
sendo a restante luz (mais de 50%) emitida para o céu.

A iluminação, especialmente a luz desperdiçada para o céu, parece interferir também com os
ciclos naturais de animais e plantas, bem como com as rotas de migração.
Uma das formas de reduzir o
consumo energético, e
simultaneamente o excesso
de luz direccionado ao céu,
prende-se com a utilização de
luminárias de corte total. Ou
seja, as que não permitem
que a luz seja emitida acima
do plano horizontal,
direccionando-a para o solo
de forma eficaz.

Outras situações de poluição luminosa acontecem quando as luminárias são colocadas em


sítios indevidos. Por vezes provocam obstrução à paisagem devido à posição e direcção com

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 27


que a luz é emitida (de dia, a presença da luminária também pode ser prejudicial à paisagem).
Outras vezes são colocadas luminárias em frente às janelas dos edifícios, provocando uma
iluminação não desejada no interior destes, por vezes perturbadora do sono dos residentes.

O desperdício de luz em direcções erradas, para além dos efeitos prejudiciais acima referidos,
afecta directamente o consumo energético que, como é sabido, tem implicações na emissão de
gases poluentes para a atmosfera, devido á produção de energia eléctrica depender em grande
parte da queima de combustíveis fosseis.
O consumo da iluminação pública é uma parcela menor na electricidade total consumida em
Portugal (cerca de 3%) e das emissões de CO2 (750.000t/ano, correspondentes sensivelmente
a 3% das emissões provocadas pela electricidade e a 1,25% das emissões totais do país). O
impacte das possíveis reduções no consumo desta não será, por si só, suficiente para uma
clara melhoria ao nível das emissões totais. Mas pode ser um contributo significativo e um
exemplo. Como refere Major (et al., 2005) ―Sendo uma das mais visíveis formas de consumo
de energia, a luz eléctrica tem que ser usada mais cuidadosamente para atingir um equilíbrio
entre celebração, utilidade e a exploração dos recursos naturais da Terra.‖
O nível de eficiência das lâmpadas é geralmente apontado como o factor decisivo na eficiência
energética da iluminação. Muito tem sido falado em torno da substituição das lâmpadas
incandescentes pelas fluorescentes (compactas) e da eventual proibição das incandescentes.
É de referir que a energia transformada pelas lâmpadas incandescentes em calor, não é
sempre uma forma de desperdício. No interior de edifícios que sejam permanentemente
aquecidos, como é normal acontecer em climas frios, a lâmpada incandescente passa de uma
fonte de luz com baixa eficiência (energética) para uma fonte de luz+calor altamente eficiente.
Noutros climas, onde as necessidades de aquecimento não sejam constantes, as lâmpadas
fluorescentes surgem frequentemente como uma opção de maior eficiência. Mas não em todas
as situações, pois as características da luz gerada por um e outro tipo de lâmpadas são
diferentes, sendo que a luz de uma fluorescente pode não ser adequada ao local e ambiente
pretendido.
No que se refere á iluminação pública, verifica-se que algumas medidas relativamente simples
e sem custos elevados como a substituição de luminárias de baixa eficácia, nomeadamente os
―globos‖ por luminárias de corte total, a substituição das lâmpadas de mercúrio por tecnologias
mais eficientes e a variação dos níveis de iluminação ao longo da noite – conforme o nível de
utilização do espaço, o tipo de actividade, ou até o luar – podem reduzir significativamente o
consumo energético. No Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética refere-se que a
implementação de sistemas de regulação de fluxo deverá reduzir o consumo da iluminação
pública entre 30 a 40%.
Em qualquer caso, a principal forma de atenuar o impacte negativo da iluminação sobre o
ambiente será iluminar apenas onde e quando necessário, e com não mais que a quantidade

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 28


suficiente de luz. Como refere Phillips (2002), a primeira decisão sobre a iluminação será
sempre a de iluminar ou não iluminar.

O impacte dos sistemas de iluminação sobre o ambiente não se limita á sua fase de utilização.
Também os materiais e o consumo energético necessários na produção e após a vida útil dos
equipamentos e lâmpadas, (para reutilização, reciclagem, ou nenhum reaproveitamento),
representam um impacte sobre o ambiente.
A maioria das lâmpadas contém gases ou metais pesados altamente prejudiciais á saúde
humana e a todo o meio ambiente, frequentemente libertados antes ou sem que as lâmpadas
entrem num processo de reciclagem. Relativamente a este aspecto, os OLEDs são apontados
como uma das melhores soluções, uma vez que não possuem gases ou metais pesados, e são
biodegradáveis.

Luz e Segurança
Segurança prende-se com controlo sobre o espaço e as acções. A iluminação contribui para o
controlo visual sobre o espaço e as actividades que nele se encerram. Logo, pode contribuir
para a segurança. No entanto, é de ressalvar que a iluminação não é o único factor a contribuir
para o nível de segurança, nem um factor determinístico. Sobre isto, Pinto Coelho (1995) diz-
nos que ―A iluminação urbana também não é o único factor a considerar quando pretendemos
avaliar das causas de vandalismo e segregação de determinadas áreas da cidade, dado que a
configuração espacial do sistema urbano oferece potenciais oportunidades e padrão de
movimento e, por isso, a iluminação não poderá ser unicamente a responsável por esse tipo de
comportamentos (…)‖.

A iluminação do espaço público relaciona-se com a segurança em dois níveis distintos –


segurança ―operativa‖ e segurança contra o crime e vandalismo.
A segurança operativa é relativa ao nível do ―ver e ser visto‖. A iluminação deve garantir que de
forma razoável se consegue ver o caminho e os obstáculos, bem como ser visto por outros
(transeuntes e condutores). Alguns elementos podem carecer de sinalização ou serem
iluminados com maior intensidade – degraus, escadas, passadeiras para peões, barreiras.
O outro nível é a segurança contra actos criminosos e vandalismo. Aqui há que distinguir
segurança efectiva e percepção de segurança. O nível de segurança efectiva é aquele que
realmente existe em determinado local, enquanto a percepção de segurança é a sensação de
segurança ou insegurança que temos sobre esse mesmo local. As duas são necessárias, e a
iluminação pode interferir na segurança efectiva e na percepção de segurança.
A probabilidade de um determinado local se tornar mais inseguro ou maior gerador de
insegurança, aumenta quando este é fracamente ou mal iluminado (não contando só o nível de
iluminação mas também a forma como a iluminação é feita).

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 29


O mesmo acontece ao nível da percepção de segurança. A intensidade da iluminação
contribui, até certo ponto, para aumentar a sensação de segurança. Um espaço pouco
iluminado tenderá a parecer mais seguro se o nível de iluminação for intensificado até que
consigamos ter sobre este uma visão clara e integral. Mas a partir desse ponto, o contributo
dos aumentos na intensidade da iluminação para a percepção de segurança serão diminutos
ou mesmo nulos. Como se verificou em muitos aspectos, mais luz não corresponde sempre e
directamente a melhor luz. Observa-se que também no que se refere á segurança que o mais
relevante é a forma de iluminar e não apenas a intensidade. Por exemplo, se numa praça onde
a intensidade de iluminação é uniforme e suficiente, a iluminação da zona central for
fortemente intensificada, a zona limite parecerá então escura. ―A sensação de escuro, relativa,
pode surgir da simples transição de um espaço muito luminoso para outro muito menos
iluminado‖ Narbori (2003).
Nesse momento, a noção dos limites do espaço onde nos encontramos já não será clara e
imediata. Este facto tenderá a criar um sentimento de desconforto ou insegurança.
Também as descontinuidades ao longo de uma rua, caso gerem ―poços‖ de escuridão (por
efectiva insuficiência de luz ou devido a forte contraste), podem gerar um sentimento de
alguma insegurança. A este propósito, Pinto Coelho (1995) diz-nos que ―O que mais de
importante teremos de salvaguardar não são os níveis de iluminância mas a uniformidade ao
longo do segmento axial, dado que a reacção a este factor parece ser mais relevante.‖ No
entanto pode ser útil, do ponto de vista da segurança, aumentar pontualmente a intensidade da
iluminação – becos, recantos, arcadas, quaisquer locais sobre os quais a nossa visibilidade
seja diminuta. O contrário, a diminuição pontual da intensidade de iluminação, gerará ―poços‖
sobre os quais não teremos visibilidade.
Noutras situações, a forma de iluminar será ainda mais decisiva. Por exemplo, contribui para o
nosso sentimento e para a efectiva segurança, uma boa percepção da actividade em
galerias/arcadas que existam ao longo de uma rua. Uma vez que devido aos pilares não
teremos bom domínio visual sobre essa actividade, mostra-se importante que o tenhamos
através das sombras. Tal não será conseguido apenas pela intensidade mas sim iluminando as
galerias a partir do interior. Geralmente, este é também o modo de iluminar mais interessante a
nível estético.

Em ruas transversais a uma rua principal é habitual a iluminação ser menos intensa. Poderá
ser a solução correcta, mas ressalvando que na zona de entroncamento das ruas, a transversal
possua uma intensidade de iluminação semelhante à da rua principal. Caso contrário, essas
transversais serão vistas, ao longo da rua principal, como reentrâncias escuras onde a
actividade não controlamos visualmente.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 30


Observa-se que também o tipo de luz exerce influência sobre a nossa sensação de segurança.
Luz com uma boa reprodução de cores tende a aumentar essa sensação, uma vez que nos
permite uma maior distinção de cores (e logo de pormenor) os elementos constantes nesse
espaço.

Erros comuns

Iluminação viária dentro da cidade.


A generalidade da iluminação nas ruas das nossas cidades é pensada como uma pura
iluminação viária, sem se levar em consideração que uma rua não é o mesmo que uma
estrada. Se numa estrada, a iluminação deve ser um factor de segurança para os automóveis –
e por isso a luz deve incidir sobre a estrada e as bermas –, numa rua a iluminação deve ser um
factor de segurança e conforto principalmente para os peões. Os automóveis possuem luz
própria, suficiente para que a circulação dentro da cidade (onde as velocidades praticadas são
baixas) seja segura desde que as bermas, passeios, e determinados pontos de maior perigo
como cruzamentos, rotundas, ou passadeiras, estejam bem iluminados. Assim, a iluminação
deverá incidir sobre as vias (para que os peões sejam vistos ao atravessarem) mas
especialmente sobre os passeios/bermas e pontos acima referidos.

Candeeiros em frente a janelas.


É outro dos erros comuns provocados pela aplicação literal da iluminação viária às zonas
urbanas. Um dos objectivos máximos deste tipo de iluminação é a uniformidade da luz ao longo
do pavimento. Como forma de atingir este objectivo são colocados luminárias de X em X
metros, sem que se atente á integração destes com o meio urbano. Com alguma frequência,
uma luminária fica posicionada frente a uma janela, provocando os diversos problemas
referidos anteriormente. Ora, nem a iluminação numa cidade tem que ser uniforme, nem é
necessário que as luminárias estejam exactamente á mesma distância para criarem uma

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 31


iluminação uniforme. Na maioria dos casos
bastará deslocar a luminária 1 ou 1,5m para
que esta não fique em frente a uma janela, e
este deslocamento poucas alterações
provocará na uniformidade da iluminação ao
nível do pavimento, bem como ao ritmo visual
que os postes possam estar a criar.

Obstrução da paisagem pela iluminação.


É relativamente comum, em locais onde podemos apreciar uma paisagem distante, termos a
vista para essa paisagem parcialmente obstruída ou prejudicada pela iluminação. Isto pode ser
devido á intensidade de iluminação no local em que estamos ser demasiado alta, provocando o
―apagar‖ da paisagem no escuro (a partir dum local iluminado teremos dificuldade em ver o que
está num local mais escuro; em zonas com
muita humidade o efeito será mais gravoso
devido ao aumento da refracção da luz), ou
porque as fontes de luz estão posicionadas
entre nós e a paisagem. Os miradouros
deveriam ser locais apenas levemente
iluminados (o que nem sempre acontece),
para que se pudesse apreciar a paisagem
longínqua sem interferências da luz próxima.

Demasiada intensidade e uniformidade.


É um dos erros mais observados. O aumento de intensidade e uniformização da iluminação
produz resultados positivos até se atingir o nível adequado ao local (conforme as suas
características e actividades presentes). Posteriores aumentos dificilmente trarão efeitos
positivos. Provavelmente retirarão pormenor a alguns elementos - os elementos iluminados
ficam totalmente iluminados sem sombras que revelem as texturas e pormenores – e
dificultarão a possibilidade de hierarquizar elementos, edifícios, ou espaços. Para que essa
hierarquia seja possível, serão necessários novos aumentos de intensidade sobre os
elementos a destacar, prejudicando novamente a leitura destes.
Também o aumento do contraste entre espaços – por exemplo entre uma praça sobre
iluminada e as ruas que lhe dão acesso – tornará a leitura e operacionalidade do espaço mais
difícil e poderá ter consequências negativas ao nível da segurança.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 32


Interferências entre iluminações.
Tal como por vezes a iluminação pública e a iluminação comercial interferem negativamente na
imagem dos edifícios, também por vezes interferem negativamente em iluminações próprias
dos edifícios. A incidência directamente sobre estes desvirtua as suas iluminações.


Nos pontos anteriores abordaram-se diversos aspectos da iluminação de forma individualizada.
Ao atender individualmente a cada aspecto, observa-se que a melhor forma de dar resposta a
um nem sempre será a mais adequada (por vezes será mesmo incompatível ou contraditória) a
um outro. Por exemplo: as lâmpadas energeticamente mais eficientes podem não ser as que
emitem o tipo de luz pretendido para a estética ou caracterização do local; a uniformidade, por
vezes a melhor solução no que diz respeito á segurança, será contraditória ao acentuar dum
percurso ou elemento.
Uma vez que a iluminação para um determinado local terá que responder simultaneamente a
vários aspectos, mostra-se necessário avaliar a importância de cada um – e a importância
destes será variável conforme o local e programa –, para que a iluminação proposta, que se
pretende una, dê uma resposta ponderada, adequada e simultânea aos diversos aspectos que
se mostrem necessários atender, mantendo a sua unidade.

Novas tendências e visões para o Futuro


Segundo o que se consultou e observou, é possível antever algumas tendências para o futuro.
A mais significativa parece ser a consolidação do Design de Iluminação como uma disciplina
autónoma com características próprias, bem como a sua afirmação, reconhecendo-se cada vez
mais a importância da iluminação para a qualificação dos espaços, nomeadamente do espaço
público.

Outra tendência será, possivelmente, o reforço do papel da ecologia no design de iluminação,


como parece suceder dum modo geral em todas as áreas.
Por razões ecológicas e de carácter estético, antevê-se que mais frequentemente se assista a
uma redução dos níveis de iluminação e à instalação de sistemas de intensidade variável,
assim como será muito provável que se assista, nas luminárias correntes, á progressiva
substituição das actuais por luminárias de corte total. Prevê-se também um maior recurso a
luminárias com sistemas de produção de energia integrados (solar/eólico), especialmente em
locais ainda não cobertos pela rede eléctrica, onde a implementação destes sistemas se
mostra frequentemente mais vantajosa (inclusive economicamente). Isto mostra-se
especialmente relevante em países emergentes, onde extensas áreas não possuem rede
eléctrica.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 33


Os LEDs, principalmente os de constituição orgânica – OLEDs – são sem dúvida a tecnologia
emergente e, caso atinjam os níveis esperados de eficiência e de custo de produção,
perspectiva-se que venham a ter uma grande utilização na generalidade das aplicações. Assim
são espectáveis novas formas de iluminar, e luminárias/candeeiros substancialmente diferentes
das actuais.

É previsível, com um forte contributo da tecnologia LED, que os equipamentos prossigam num
processo de miniaturização, com consequente aumento da facilidade em trabalhar a luz. Com
consequência, a ênfase estará cada vez menos nos suportes e mais na luz.

Sistemas luminosos variáveis e multimédia (com controlo computacional e a cujos os LEDs têm
fácil associação) como ecrãs gigantes, reclamos mutáveis, ou fachadas dinâmicas, são cada
vez mais utilizados e no futuro a sua presença poderá aumentar. No entanto, assiste-se a uma
cada vez maior limitação da publicidade luminosa (bem como da publicidade em geral) em
determinados locais. Noutros assiste-se a uma proliferação das iluminações patrimoniais. No
futuro, estas e outras tendências poderão continuar ou ser invertidas, sofrer alterações, ficar
limitadas a determinadas zonas. Não se vislumbra uma tendência que se possa considerar
mais plausível que outra. Vislumbra-se sim uma maior relevância do planeamento de
iluminação, onde estas e outras estratégias serão definidas e hierarquizadas relativamente a
cada local.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 34


2ª Parte

Capítulo.4 – Iluminação em Planeamento Urbano

Planos existentes
A generalidade dos projectos de iluminação incide sobre locais específicos da cidade como
uma rua, praça, largo, jardim. Nestes são desenvolvidas estratégias – como dar ênfase aos
elementos mais relevantes (edifícios, fontes, monumentos), fomentar um certo percurso, ou
simbolizar um acontecimento histórico – mas sempre pontuais e de pequena escala.
A iluminação, tal como os outros elementos urbanos, pode ser planeada á escala da cidade, e
algumas cidades já possuem planos de iluminação há várias décadas. No entanto, a quase
totalidade destes planos foram desenvolvidos numa perspectiva essencialmente viária e
securitária, sendo levados em conta apenas os níveis de utilização viária e pedonal, e o nível
de segurança em cada troço ou zona, e definindo-se apenas níveis de intensidade de
iluminação e índices de uniformidade.
O planeamento de iluminação desenvolvido numa perspectiva verdadeiramente urbanística –
pensamento arquitectónico á escala da cidade – é uma realidade recente, que se mostra pouco
desenvolvida e com pouca implementação. Relativamente a Portugal tomou-se conhecimento
de dois planos de iluminação de cariz arquitectónico/urbanístico – Plano de iluminação do
Centro Histórico de Évora, e Plano de iluminação para a Vila de Sintra11. Estes incidem apenas
sobre zonas históricas e a sua concretização é, quando muito, parcial.
O Plano de iluminação do Centro Histórico de Évora a principal estratégia centra-se em
reconstituir, durante a noite, através da iluminação pública, a antiga estrutura urbana do centro
histórico da cidade. Trata-se de uma restituição histórica através de uma alteração apenas
visual e não física na estrutura da cidade, a partir da qual são expectáveis alterações nos
movimentos pedonais durante a noite.
No Plano de iluminação para a Vila de Sintra, o principal objectivo é hierarquizar espaços e
edificado evidenciando, na estrutura urbana e na paisagem, os edifícios mais relevantes do
ponto de vista histórico e/ou arquitectónico. Para tal é proposta uma iluminação no perímetro
destes edifícios com tonalidade de luz diferenciada da iluminação na restante malha urbana.

11
ambos pela Arq. Maria João Pinto Coelho

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 35


Plano de Iluminação para Caldas da Rainha


O Plano de Iluminação proposto em seguida debruça-se sobre o território de Caldas da Rainha,
desenvolvendo-se com base nos conhecimentos adquiridos ao longo da investigação exposta
nos capítulos anteriores.
Os objectivos base da proposta são:
-adequar a iluminação do espaço público da cidade às estratégias e linhas de acção definidas
pela Câmara Municipal, às requalificações previstas e á previsível situação da cidade após
2013 (data de conclusão das intervenções previstas);
-melhorar o funcionamento e a imagem nocturna da cidade;
-contribuir para uma maior e melhor vivência nocturna da cidade, e sua dinamização
económica;
-contribuir para uma melhor compreensão e orientação no território;
-garantir que as opções tomadas são ecologicamente equilibradas;

Método:
1º - reconhecimento e caracterização da cidade;
2º - levantamento das estratégias definidas pelo município, das requalificações previstas e das
requalificações já concretizadas;
3º - definição dum cenário, com base no reconhecimento e levantamentos realizados, para a
cidade pós-requalificação;
4º - desenvolvimento de estratégias de iluminação com base em todos os elementos
anteriores;
5º - desenvolvimento duma grelha de apoio a projectos de iluminação enquadrados no plano;

Caracterização da cidade
De forma simplificada e generalista12 a cidade
de Caldas da Rainha pode ser esquematizada
(Fig. 13) por um centro urbano constituído
pelas zonas histórica (1) e central (2), envolto
por uma zona residencial (3) e uma periferia
multifuncional (4).
A zona central (2) corresponde á expansão da
área inicial da cidade (zona histórica) até á
estação ferroviária (forte ―motor‖ de

12
Os limites das diferentes zonas referidas não são estanques. Verificam-se áreas de sobreposição.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 36


desenvolvimento a partir do final do sec.XIX e durante várias décadas) e caracteriza-se por ser
a zona de concentração do comércio e serviços, além de uma quantidade considerável de
habitação.
A linha-férrea (5) (Linha do Oeste) atravessa a cidade, mantendo grande parte da zona de
cidade residencial (3) desligada do centro urbano ou, dito de outra forma, separada por esse
obstáculo da linha de comboio.

A zona residencial (3) é constituída maioritariamente por habitação, mas também por algum
comércio e serviços, principalmente de proximidade, e diversos equipamentos. É uma zona
claramente identificável como cidade devido á sua estrutura compacta e ordenada, em
continuidade com o centro urbano.
Na zona de periferia multifuncional (4) o edificado não se enquadra numa estrutura clara mas
antes em aglomerados e zonas de dispersão que se sucedem sem articulação. Observam-se
áreas exclusivamente residenciais, aglomerados de equipamentos e equipamentos dispersos,
infraestruturas, o grande comércio a retalho e industria armazenista.

Mais pormenorizadamente (ver Fig. 14 – ―Mapa de Caracterização Urbana‖) observa-se que a


zona central fica contida (sensivelmente) entre a estação de comboios, a ―praça dos poderes‖
(Tribunal/Câmara Municipal/Igreja Matriz), o Centro Cultural e (de) Congressos (CCC), a Praça
5 de Outubro (antigo mercado do peixe e hoje principal zona de animação nocturna), e a zona
histórica.
Na zona central encontram-se as principais avenidas, que se estendem da estação de
comboios à Praça 25 de Abril (praça dos poderes) e daquela ao Hospital Termal (passando
pela ―rua direita‖ e ―praça da fruta‖).

Na zona histórica, no eixo estação/Hospital Termal, encontra-se a ―praça da fruta‖ (Praça da


Répública), onde se realiza o mercado diário de frescos13. É um elemento de referência14 na
cidade, gerador de grande actividade, economia, e atractividade turística. O comércio lojista
desenvolve-se em torno do mercado e estende-se até ao Largo da Rainha Dona
Leonor/Hospital Termal (um dos principais pontos da cidade, que remete para a história da
fundação desta).
Mais a Sul encontra-se uma zona habitacional que conjuntamente com a zona do Hospital
Termal constitui o núcleo inicial da cidade.
Ainda na zona histórica, encontra-se o Parque D. Carlos I, construído no final do sec.XIX, e um
dos elementos mais marcantes na imagem da cidade. Inserido no parque encontra-se o museu
José Malhoa e a Sul, em continuidade ao parque, o museu da Cerâmica, e o Centro de Artes

13
único mercado ao ar livre no país a realizar-se diariamente durante todo o ano
14
De antiquíssima origem, por ventura anterior à própria cidade. Ponto de encontro e comércio num
terreno fronteira entre os foros do Convento de Alcobaça e da Rainha (Óbidos)

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 37


que integra o Atelier-Museu António Duarte, Atelier-Museu João Fragoso, e Museu Barata
Feyo. 15
É de referir que o parque e uma parte considerável do território da zona histórica e evolvente
(Termas, Largo da Copa, Paços da Rainha e parte da zona envolvente, e Mata Real) são
propriedade e estão sobre gestão do Centro Hospitalar, não da Câmara Municipal.

Abrangendo parte da zona histórica e parte da zona central, encontra-se a principal zona
comercial (essencialmente comércio lojista e o já referido mercado de frescos). Esta zona de
comércio intenso estende-se sensivelmente entre as três principais praças – Praça da
República (praça da fruta), Praça 5 de Outubro (praça de diversão nocturna), e Praça 25 de
Abril (praça dos poderes). O comércio lojista é a principal actividade económica da cidade e
uma das suas imagens de marca.
Existe um outro pólo de comércio, a Sul do centro urbano, constituído pelo recente centro
comercial ―Vivaci‖ e algum comércio lojista na sua envolvente.
Prevê-se ainda a construção de um outro centro comercial (―Bordalo‖) a Norte do centro
urbano, criando um terceiro pólo comercial.

Nos últimos anos intensificou-se um processo de requalificação urbana com o objectivo de


aumentar e melhorar a vivência da área central da cidade e dinamizar o tecido económico
nesta área, nomeadamente o comércio e os serviços.
As requalificações realizadas implicaram a redução ou eliminação do estacionamento á
superfície, e restrições á circulação automóvel. Estas medidas foram possíveis com a gradual
alteração do sistema de trânsito dum esquema centrífugo e de atravessamento para um
esquema centrípto – anteriormente a circulação fazia-se chegando ao centro a partir das
entradas Norte e Sul, irradiando depois até às zonas periféricas; actualmente a circulação
desenvolve-se em torno da cidade (através da circular externa) para depois se infiltrar na
malha urbana (através de radiais) em direcção á zona central – e com a adopção de um
sistema de transportes públicos urbanos.

15
artistas notáveis com fortes ligações às Caldas, activos na segunda metade do sec. XX

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 38


Estratégias e linhas de acção para Caldas da Rainha
(definidas pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha)
(ver fig.15)

-Estratégia Global – Melhorar e aumentar a vivência do centro da cidade e simultaneamente


dinamizar a economia local, através da requalificação do espaço público, com vista á criação
de condições para um maior e melhor usufruto pedonal da cidade.
Melhorar as condições para os peões implica restrições ao trânsito automóvel e
estacionamento de superfície no centro da cidade, o que implica uma alteração do sistema
viário e a existência duma rede de transportes públicos urbanos, pelo que estes pontos
integram a estratégia global.

-Centro Comercial ao Ar Livre


A estratégia para a zona de maior intensidade de comércio e serviços consiste em introduzir
algumas características comuns em centros comerciais (sinalização, boa mobilidade pedonal,
limpeza, segurança, mobiliário e equipamentos), bem como aumentar a consistência visual e
funcional, aumentando a coesão e tornando a zona um conjunto identificável como centro
comercial ao ar livre.

-Interligação dos pólos comerciais


Este objectivo consiste em melhorar a articulação entre os centros comerciais – ―Vivaci‖ a Sul e
―Bordalo‖ a Norte (este último ainda em projecto) – e a zona de central de comércio – futuro
―centro comercial ao ar livre‖ –, de modo a existir uma mútua potenciação destes três pólos
comerciais.

-Eixo Cultural
Consiste na melhoria dos percursos de ligação entre os principais pontos de actividade cultural
(Centro Cultural e (de) Congressos, Museu do centro hospitalar, Museu do Ciclismo, (futuro)
Museu Nacional da Cerâmica, Museu José Malhoa, Centro de Artes), criando um eixo de
equipamentos culturais facilmente identificável e percorrível.

-Ferrovia e Estação
Consiste na melhoria das ―margens‖ do caminho-de-ferro e das ligações entre estas,
conjuntamente com a requalificação da Linha do Oeste. Os objectivos são melhorar a
circulação viária, e melhorar a ligação entre as duas partes da cidade divididas pela linha,
especialmente a ligação pedonal. Para tal aposta-se na melhoria física e aumento das ligações
viárias e pedonais (via de dois sentidos ao longo da linha; nova ligação viária e pedonal sob a

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 40


linha; nova ligação pedonal sobre a linha; nova estação com ligação entre os dois lados da
linha através de uma galeria comercial), e melhoria da imagem global da zona.

-Circulação automóvel e transportes


Redução do trânsito automóvel dentro da cidade – através de alterações à circulação e da
expansão do serviço de transportes públicos – e redução do estacionamento á superfície –
com a construção de estacionamentos subterrâneos –, tendo como objectivo a melhoria da
mobilidade pedonal.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 41


Requalificação do centro urbano

As estratégias e linhas de acção apresentadas resultam, entre outras medidas, na


requalificação do espaço público nas zonas central e histórica, com o objectivo de melhorar a
mobilidade pedonal, a imagem da cidade, a sua vivência, e dinamizar as actividades
económicas que aí se desenvolvem.
Alguns locais da cidade já haviam sido requalificados e integram-se agora no plano de
requalificação (ver fig. 16 – requalificação do centro urbano), permitindo unir as diversas áreas
já requalificadas (actualmente algo dispersas) e abranger toda a área central da cidade bem
como algumas zonas (ainda) não centrais.
Perspectiva-se que após o processo de requalificação, o centro urbano se expanda e a
economia local seja dinamizada.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 43


A cidade pós-requalificação (2013)

Tendo em conta as estratégias e linhas de acção definidas para a cidade, as requalificações


previstas e a natural dinâmica de condensação urbana, é previsível uma expansão do centro
urbano. Assim é previsível que este se estenda até aos dois novos pólos comerciais – centros
comerciais ―Vivaci‖ e ―Bordalo‖ –, abrangendo a zona histórica, toda a área do Parque D.
Carlos I e Centro de Artes, possivelmente alcançando alguns pontos da cidade a Oeste do
caminho-de-ferro.
Previsivelmente esta expansão do centro urbano será acompanhada da dinamização do
comércio e serviços – expansão da zona de comércio/serviços mais intensa que se define
como centro comercial ao ar livre, e também de zonas de comércio/serviços menos intensas –
como se mostra na Fig. 17 – ―Centro Urbano pós-Requalificação‖.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 45


A vivência da cidade altera-se com a noite, dependendo da hora e época do ano. Tendo em
conta as observações da vivência nocturna da cidade efectuadas entre as 18h e as 20h (noite
em horário laboral, durante o Outono/Inverno) e entre as 20h e as 02h (horário pós laboral; até
ás 21h30 ainda é dia durante parte da Primavera/Verão), o actual desenvolvimento da cidade e
o desenvolvimento previsível, perspectivou-se a vivência da cidade (para os mesmos horários)
após a requalificação urbana em curso (com término em 2013). Na fig. 18 – ―Mapa Vivência
Nocturna‖ assinala-se a branco as áreas onde se observa uma consistente vivência urbana
nocturna (para os dois horários definidos) e a tracejado a expansão prevista para estas áreas.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 47


Propostas de Iluminação

As propostas de iluminação apresentadas em seguida foram desenvolvidas no sentido de


contribuírem para a concretização das estratégias urbanísticas definidas e responder ao que se
perspectiva ser a cidade após a reabilitação urbana atingir as metas estabelecidas para 2013,
produzindo uma melhoria no ambiente nocturno e na imagem da cidade, contribuindo para a
dinamização económica, e simultaneamente considerando as questões ecológicas associadas
á iluminação.

As iluminações propostas pretendem num primeiro plano evidenciar o centro urbano,


reforçando a sua presença de modo a atrair massa crítica que garanta um reforço da actividade
nocturna no espaço público.
Assim, propõe-se a aplicação de luz de tonalidade branca em todo o centro urbano.
Nas restantes áreas da cidade e periferia propõe-se a continuidade da luz branca de tonalidade
amarela proveniente de lâmpadas de sódio (a alta e baixa pressão), que se mostram
adequadas á iluminação pretendida para as zonas não centrais, garantindo simultaneamente
um baixo consumo energético. Propõe-se que as luminárias existentes nestas zonas sejam
progressivamente trocadas por outras de maior eficácia e de corte total.
A opção pela luz branca para o centro urbano prende-se com a maior sensação de actividade
que esta luz é geralmente capaz de induzir, sendo também uma forma de dar continuidade á
iluminação aplicada em algumas das requalificações do espaço público já executadas.
Por seu lado, para que a iluminação pública não provoque interferências negativas sobre cor
dos edifícios ou de outros elementos, ou sobre produtos expostos nas montras, propõe-se que
esta garanta uma elevada qualidade na reprodução de cores.
Estas são as definições primárias da iluminação para o centro urbano. No entanto, não se
propõe que a iluminação do centro urbano seja toda igual, mas antes diversa e adaptada a
cada zona que o constitui, como será proposto em seguida.

Para a zona de Iluminação A, correspondente á zona central (ver Fig.29 – Propostas de


Iluminação) propõe-se que a luz seja de tonalidade totalmente branca (6500ºK) e de elevada
qualidade na restituição de cores (opções que se prendem com as razões acima explicadas), e
que se opte por luminárias de corte total sempre que não existe uma forte razão em contrário.

A Iluminação B sobrepõe-se a parte das zonas de Iluminação A e C, e corresponde ao


―centro comercial ao ar livre‖. Propõe-se que, complementarmente á iluminação pública, toda a
iluminação das montras e dos reclamos luminosos se mantenha acesa durante o período da
noite em que existe significativa quantidade de pessoas nas ruas (até ás 02h). Após este
período e até de manhã a iluminação principal das montras e reclamos seria desligada,
mantendo-se apenas uma luz de presença em cada montra (utilizando lâmpadas de alta

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 49


eficiência energética), e a iluminação pública, até aí em funcionamento com intensidade
reduzida, seria intensificada de modo a produzir a compensação necessária. Esta medida
criaria uma imagem de actividade constante e contribuiria para uma imagem mais consistente

da zona comercial, evidenciando o conjunto como ―centro comercial ao ar livre‖. Mais


importante, tornaria a zona mais apelativa á vivência nocturna, com ganhos para a comunidade
– melhoria da fruição do espaço público e provável aumento da segurança – e para o comércio
– maior tempo de exposição dos produtos; maior actividade no ramo da restauração; provável
aumento da segurança). O gasto extra em energia, feito pelo comércio, seria assim um
pequeno investimento e não um simples aumento de despesa.

Para a zona de Iluminação C, correspondendo á zona histórica, propõe-se luz branca de


tonalidade mais ―quente‖ (3000ºK), criando uma suave diferenciação e adaptando-se mais
convenientemente ao ambiente tranquilo e não comercial desta zona. Aqui propõe-se que as
luminárias utilizadas sejam as de desenho ―clássico‖ já existentes na zona (e pontualmente
também noutras zonas da cidade. Seriam concentradas apenas na zona histórica).

Estas luminárias não são contemporâneas do edificado desta zona da cidade, e outras
luminárias, por ventura de aspecto mais simples e minimalista poderiam perfeitamente ser

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 50


utilizadas nesta zona com grande qualidade estética. No entanto, estas luminárias de estética
―clássica‖ já adquiriram uma imagem de pertença á zona histórica, pelo que opta por manter
essa ligação.
Para melhoria da iluminação de redução do consumo energético, propõe-se que sejam
restauradas, actualizando-se o interior de forma a aumentar a eficácia luminosa.

A Iluminação D corresponde á iluminação no Parque D. Carlos I. Sendo parte não edificada da


zona histórica, propõe-se o recurso ao mesmo tipo de luz branca ―quente‖ proposta na
Iluminação C, para os percursos principais (percurso periférico e percurso em torno do lago),
que se perspectivam ser os de maior usufruto durante a noite.
Propõe-se também que parte do perímetro arbóreo (a parte com maior contributo na imagem
da cidade) seja iluminado a partir do seu interior, com luz de diversas tonalidades de branco ou
mesmo colorida, por forma a dar realce às diferentes tonalidades da vegetação.
Propõe-se ainda que alguns dos edifícios (os mais relevantes) existentes no interior do parque
sejam iluminados. A paisagem nocturna do Parque completa-se com uma iluminação
específica (a desenvolver) para o lago. Imagina-se, como possibilidade para esse projecto de
iluminação a desenvolver mais especificamente, ―nenúfares de luz‖, através de projectores
emitindo luz de tonalidade verde a partir do fundo do lago (direccionados para cima),
pontuando a superfície com círculos de luz.

A Iluminação F, assinala os principais edifícios que, pela sua história, qualidade


arquitectónica, actividades que neles se desenvolvem, ou contribuição para paisagem urbana,
se assumem como essenciais e prioritários iluminar.
Outros poderiam também ser iluminados, com vantagem para a imagem dos próprios edifícios,
para as organizações que eventualmente neles funcionem e para a cidade. Os proprietários de
outros edifícios com reconhecida qualidade arquitectónica e/ou histórica poderiam ser
incentivados a introduzir iluminação exterior nesses edifícios, especialmente aquando de
processos de reabilitação.

Na zona da Estação/Linha ferroviária


pretende-se salientar as ligações entre os
dois lados da cidade (separados pela linha)
de modo a que a iluminação contribua para
dinamizar a ligação entre estes, e
simultaneamente acentuar o carácter especial
da infraestrutura e zona.
Assim, na Iluminação E, propõe-se que a
iluminação das travessias seja um
prolongamento da iluminação da zona central (luz branca ―fria‖) até e ―amarrando-se‖ aos

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 51


pontos mais relevantes da cidade a oeste da ferrovia. E que ao longo das margens desta, a
iluminação assuma um carácter invulgar (concordante com o carácter especial da zona) sendo
capaz de realçar as travessias pelo contraste com a iluminação destas – propõe-se uma
iluminação com luz azul intensa.

Propõe-se que em determinados troços (ver Fig.25 – Mapa de Percurso com Iluminação
Variável) seja possível controlar cada luminária de forma individualizada no que respeita á
intensidade, cor, e acendimento (por meio de controlo computacional e utilização de LEDs), por
forma a que se possa variar os ritmos, cores, e intensidades da iluminação nesses troços,
assinalando-se percursos até certos pontos da cidade – Praça 25 de Abril, Praça da República,

O sistema de trânsito é alterado de um sistema centrífugo e de atravessamento para um


sistema centrípto apoiado numa circular externa e ligações radiais de ligação ao interior da
cidade. Esta alteração leva a que a circulação se faça através das zonas periféricas, onde a
orientação e compreensão sobre o território se tornam difíceis (especialmente para utilizadores
não habituais) devido á falta de uma estrutura de cidade claramente identificável, bem como de
pontos de referência. Durante a noite a situação é agravada pela diminuição da legibilidade do
território e sinalética.
Estes factos justificam que este sistema viário tenha uma identificação e sinalização próprias
que contribuam para uma melhor orientação dentro do sistema. Sobre este tema uma ideia
anterior16 apontava para um sistema de identificação/sinalização para a circular e radiais,
semelhante ao sistema utilizado no Metropolitano. Com inspiração nessa ideia e considerando
que a iluminação pode contribuir nesse sentido, propõe-se uma Iluminação G, consistindo na
identificação da circular externa e na marcação das principais ligações ao interior da cidade
(radiais), assinalando-se os percursos até aos principais parques de estacionamento.
Uma vez que na envolvente á circular toda a iluminação é de tonalidade amarela (lâmpadas de
sódio), uma iluminação branca na circular terá uma leitura clara e identificativa (não se
confundindo com a iluminação do centro urbano uma vez que não são próximas).
Para marcação dos acessos radiais ao interior da cidade/parques de estacionamento, propõe-
se a identificação através de sinalética luminosa de cor intensa (uma cor identificativa para
cada radial), e que o percurso seja assinalado com reflectores de piso na mesma cor.
Para que este sistema de identificação/sinalização tenha idêntica eficácia durante o dia,
sugere-se que sejam desenvolvidas medidas complementares que não se prendam
directamente com a iluminação como, por exemplo, a sinalética ou outros elementos ao longo
dum destes percursos (separadores de via, postes, balizadores) adquirirem a cor
correspondente.

16
pelos arquitectos Pedro Brandão e Jorge Mangorrinha

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 52


A marcação do eixo cultural através da iluminação, que numa primeira abordagem poderia
parecer interessante, constata-se ser de fraca utilidade uma vez que a maioria dos ―pontos de
ligação‖ são museus e estes raramente estarão abertos ao público durante a noite (geralmente
encerram às 17/18h).

Considera-se importante a iluminação ser distinta entre as três principais praças da cidade –
Praça da República (praça da fruta), Praça 5 de Outubro (praça de diversão nocturna), e Praça
25 de Abril (praça dos poderes) – acompanhando a identidade própria de cada uma, no que
respeita á sua morfologia, história, e actividades.
Assim propõe-se:

-Na Praça da República (praça da fruta), inserida nas zonas de Iluminação C e B, a


manutenção do actual esquema de iluminação – candeeiros de poste ao centro e candeeiros
em consola no perímetro, todos de desenho ―clássico‖ –, acrescentando-se a iluminação
comercial ligada em permanência como definido para a zona de Iluminação B, iluminação de
fachada nos edifícios arquitectónica e/ou historicamente mais relevantes, e selectiva
iluminação das árvores. A iluminação pública deve responder às especificações definidas para
a zona de Iluminação C e deverá resultar a mais expressiva.

-Na Praça 5 de Outubro (praça de diversão nocturna), integrada na zona de Iluminação


A, uma iluminação ―contagiada‖ pelo ambiente de diversão que pode ser encontrado durante a
noite, entrando em sintonia com este através de esquemas de iluminação que apelem á
actividade, á diversão, e ao espectáculo. Poderiam ser utilizadas diversas tonalidades de luz e
esquemas de iluminação dinâmicos e variáveis, incidindo nos diversos elementos e volumes
existentes na área central da praça. Alguns edifícios, nomeadamente o conjunto de três
edifícios de interessante qualidade arquitectónica e artística existente no topo norte, poderiam
ser iluminados.

-Na Praça 25 de Abril (praça dos poderes), inserida na zona de Iluminação A, uma
iluminação que dê uma clara definição do espaço da praça e, simultaneamente, evidencie os
três edifícios principais. Sugere-se a iluminação destes três edifícios principais, complementada
pela iluminação das fachadas e galerias dos restantes edifícios que formam o perímetro, estas
últimas iluminadas a partir do seu interior.
Propõe-se que também o relógio de água previsto para o centro da praça possua iluminação.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 54


Poderá ser necessária iluminação adicional a partir de luminárias em postes (cuja luz deverá
ser branca e capaz de elevada restituição de cores, conforme definido para a zona de
Iluminação A) mas deve ser garantido o destaque dos edifícios e relógio de água.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 55


Grelha de apoio ao projecto de iluminação
Grelha elaborada com base nos conhecimentos adquiridos sobre design de iluminação no
espaço público (expostos na primeira parte do trabalho) e no Plano de Iluminação proposto,
com o objectivo de auxiliar os projectos de iluminação a serem desenvolvidos para locais
abrangidos pelo Plano. Aponta a principal informação a recolher para a elaboração dum
projecto de iluminação e sugestões de iluminação para os diversos elementos – ponto 1 – e
diversas interrogações e aspectos a ter presente durante o desenvolvimento deste – ponto 2.

1 Informação a recolher Formas usuais de iluminar


1.1 zona do plano de iluminação em que o
local se insere e características defendas
para a iluminação nessa zona.

1.2 história do local e dos conjuntos, edifícios


e outros elementos nele existentes.

1.3 elementos a iluminar

1.3.1) edifícios com relevância histórica, destaque dos principais elementos;


arquitectónica, ou funções especiais iluminação rasante ou próxima á fachada;
destaque das silhuetas ou volumes;
marcação do ritmo das fenestrações ou
outros elementos; iluminação a partir do
interior; evidenciando o seu
enquadramento paisagístico

1.3.2) monumentos evidenciando a sua forma, volumes,


relevos, texturas; evidenciando o seu
significado; evidenciando o seu
enquadramento paisagístico

1.3.3) elementos vegetais de baixo para cima, rasante ao tronco e


iluminando a copa; realçando as cores do
elemento através da tonalidade da luz; a
partir do interior de um maciço vegetal

1.3.4) existência de água (lagos, jogos de iluminação da água em movimento;


água, fontes) marcação das margens

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 57


1.3.5) percursos que seja importante diferenciação pela tonalidade da
assinalar iluminação, intensidade, ritmo; pontuação
com sinalizadores de piso

1.3.6) galerias/arcadas iluminação a partir do seu interior

1.4 existência de iluminação comercial


1.5 existência de edifícios com iluminação
própria do seu exterior

2 Interrogações e aspectos a ter presente


2.1 a iluminação do espaço público não deve incidir sobre o interior dos edifícios.

2.2 a possibilidade de encandeamento deve ser evitada.

2.3 verifica-se que durante a noite é habitual a existência de grandes níveis de humidade e
nevoeiros, especialmente nas zonas periféricas.

2.4 a iluminação proposta tem a intensidade adequada a cada ponto ou local? Isto é, tem
intensidade suficiente sem ser excessiva para o local e para cada ponto dentro desse
local?

2.5 estão a ser propostas luminárias de corte total?


2.5.1) sim.
2.5.2) não. → Existe uma razão, que não o custo, para não serem aplicadas luminárias
de corte total?

2.6 será adequado implementar um sistema de variação de intensidade de iluminação?

2.7 existem edifícios, monumentos, ou outros elementos a iluminar que sejam vistos a
diferentes distâncias (vista próxima/ao longe no enquadramento de uma rua/na
paisagem)?
2.7.1) não.
2.7.2) sim. → A iluminação proposta deve ser adequada às diversas distâncias a que o
elemento pode ser visto.

2.8 Existe ou é previsível que venha a existir iluminação comercial?

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 58


2.8.1) não.
2.8.2) sim. → Qual o contributo dessa iluminação para o ambiente urbano?

2.9 os suportes podem contribuir para a caracterização do espaço?

2.10 prever e evitar impactes negativos dos suportes sobre a imagem e funcionalidade do
espaço público, edifícios, e outros elementos relevantes. Tendencialmente, este
impacte será mais relevante durante o dia, quando todos os suportes são visíveis.

2.11 ter presente toda a informação recolhida.


2.11.1) A síntese feita pelo projecto reforça ou anula as partes? Isto é, o todo sai
reforçado relativamente á soma das partes, ou pelo contrário, o todo anula o potencial
das partes?

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 59


Conclusão

No Capítulo 1 – Evolução histórica – procurou-se compreender ―Como evoluiu a iluminação?‖


Constatou-se que a existência de iluminação nas ruas de forma constante durante a noite
provocou alterações profundas á vida quotidiana – generalizada vivência nocturna da cidade;
mais tempo dedicado á socialização – com consequências ao nível social, económico e cultural
– diversas actividades económicas foram prolongadas pela noite e verificou-se uma
dinamização do conhecimento, especialmente nas artes, nas ciências, e na política. Constatou-
se também que a evolução das técnicas possibilitou cada vez maior diversidade de soluções
bem como maior liberdade e facilidade em explorar a composição de luz, e que o entendimento
sobre a iluminação no espaço público se alterou ao longo do tempo, duma perspectiva que se
prendia essencialmente com a segurança até á actual tendência de iluminação de cariz
arquitectónico designada por design de luz, passando por uma perspectiva (ainda prática
corrente) de iluminação ligada essencialmente á operacionalidade e segurança viária.
Observou-se que hoje existem diversos tipos de iluminação presentes no espaço público, que
se classificaram em: Iluminação Pública, Iluminação Patrimonial, Iluminação Comercial,
Iluminação Operativa, Iluminação Artística, Iluminação Efémera, e Iluminação Indirecta.
Conclui-se que, a crescente procura de qualificação do património edificado, do espaço público
e da cidade em geral, o cada vez maior usufruto da noite, a consciencialização ambiental e a
crescente diversidade de meios disponíveis, levarão seguramente a um crescente
reconhecimento do design de iluminação e a uma maior intervenção desta disciplina no
desenho e planeamento do espaço público.

No Capítulo 2 – a Luz – em resposta á questão ―A luz, concretamente, o que é e como se


define?‖, regista-se que esta corresponde a parte visível do espectro electromagnético e que é
caracterizável pelos parâmetros: fluxo, intensidade, temperatura de cor, e reprodução de cores.
Registam-se outros parâmetros relevantes: contraste, luminância, e iluminância.
Por outro lado regista-se que a luz apenas se torna visível quando incide sobre a matéria,
donde se conclui que a iluminação terá necessariamente de ser pensada na perspectiva de
iluminar as superfícies e não o espaço.

No Capítulo 3 – Projectar Iluminação – procurou-se compreender ―Como desenvolver


iluminação urbana?‖.
Foram abordados os processos e tendências actuais do design de iluminação, nomeadamente
o método de projecto, e diversos aspectos relativos á iluminação, especialmente no que
respeita á iluminação do espaço público.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 60


Relativamente ao design de iluminação, verificou-se que a tendência actual é de que o projecto
seja resolvido em ordem a três vertentes principais: operacionalidade; estética e caracterização
do local; ecologia.
Sobre o método de projecto, identificaram-se seis fases principais:
-reconhecimento e análise do local e programa
-estabelecimento de objectivos
-definição de estratégias
-desenvolvimento do esquema de iluminação
-definição das fontes de luz
-definição dos equipamentos e suportes

Dos diversos aspectos da iluminação abordados, destacam-se:

-a Intensidade e Contraste
Demonstrou-se que o aumento da intensidade duma forma generalizada não corresponde
obrigatoriamente a uma melhoria na iluminação, uma vez que a existência de contraste se
mostra fundamental para a correcta apreciação das formas e texturas. Sendo o contraste
criado pelas diferenças de luz e escuridão (a escuridão, tal como a luz, também pode ter
diferentes intensidades), conclui-se que a sombra é tão relevante quanto á luz. Ou seja, a
iluminação constrói-se tanto de luz como de sombra.

-as Tonalidades da Luz


Expuseram-se as vantagens e desvantagens da iluminação de cor – verifica-se que podem ser
obtidos resultados surpreendentes, mas geralmente tão próximos da excelência como da
mediocridade, e que correm com facilidade o risco de se esgotarem e rapidamente tornar
cansativas – tendo-se concluído ser uma iluminação ―arriscada‖ mas que pode em
determinadas circunstâncias originar resultados extremamente positivos.
Expôs-se a capacidade da luz branca apresentar diferentes tonalidades e mostrou-se como a
conjugação dessas diferentes tonalidades pode contribuir para a caracterização do local,
nomeadamente para diferenciar, hierarquizar, ou assinalar diferentes elementos, edifícios,
percursos, ambientes, e espaços.

-a Reprodução de Cores
Expôs-se que a capacidade da luz reproduzir as cores com maior ou menor fidelidade afecta
significativamente a imagem e percepção que temos das superfícies, logo, de todos os
elementos presentes no espaço público. Conclui-se que na maioria das situações uma
iluminação com elevada capacidade de reprodução de cores se mostra vantajosa e que tal
será melhor conseguido com recurso a lâmpadas de espectro contínuo.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 61


-Elementos Atmosféricos
Demonstra-se a influência que podem exercer sobre a iluminação, e conclui-se que podem (e
em determinados casos devem) ser considerados como um dado de projecto, podendo-se
integrar e manipular favoravelmente a acção destes sobre a iluminação.

-a dimensão cultural
Expõe-se como as diferenças culturais influenciam o significado e a percepção sobre a luz –
por exemplo, em climas frios observa-se uma preferência por luzes com tonalidades ―quentes‖
enquanto em climas quentes se observa uma preferência por luzes com tonalidades ―frias‖ – e
conclui-se sobre a importância de integrar este factor na elaboração do projecto, por forma a
que a iluminação implementada seja compreendida e pela população local conforme idealizada
pelo projectista, obtendo-se o efeito desejado.

-a Ecologia
Expõem-se os três principais temas da ecologia no que respeita á iluminação – poluição
luminosa; consumo energético (por associação ás emissões de gases poluentes); produção e
fim de vida de lâmpadas, equipamentos e suportes – concluindo-se que existem diversas
melhorias que podem ser implementadas com facilidade e baixo custo, não esquecendo que a
principal forma de atenuar o impacte negativo da iluminação sobre o ambiente é iluminar
apenas onde e quando é necessário, e com apenas a quantidade suficiente de luz.

-a relação entre Luz e Segurança


Demonstra-se que a luz pode ter influência sobre a segurança percebida e segurança efectiva,
mas que não existe uma relação determinística. Demonstra-se também que o contributo da
iluminação para a segurança não se prende apenas com intensidade e uniformidade da luz
mas sim com todos os aspectos relativos á iluminação, em especial com a forma como se
ilumina.

Relativamente ao desenvolvimento dum projecto, conclui-se que, para uma iluminação


adequada ao local e programa, será necessário ponderar e responder de forma simultânea e
una aos diversos aspectos abordados.

Na segunda parte do trabalho, abordou-se a iluminação em planeamento – em resposta á


principal questão colocada ―Ao nível do planeamento, que estratégias de iluminação se
poderiam desenvolver para as diferentes zonas de cidade?‖ –, expondo-se as estratégias de
iluminação encontradas nos planos de iluminação para o centro histórico de Évora e para a Vila

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 62


de Sintra (incidentes exclusivamente sobre zonas históricas) e desenvolvendo-se um plano de
iluminação para Caldas da Rainha (incidente sobre diversas zonas de cidade).
As estratégias encontradas nos planos observados foram, respectivamente: reconstituir,
durante a noite, através da iluminação pública, a antiga estrutura urbana do centro histórico da
cidade; hierarquizar espaços e edificado, evidenciando na estrutura urbana e na paisagem os
edifícios mais relevantes do ponto de vista histórico e/ou arquitectónico, através da iluminação
do perímetro destes edifícios com uma tonalidade de luz diferenciada da iluminação na
restante malha urbana.

O plano desenvolvido para Caldas da Rainha seguiu a metodologia explicitada na introdução –


reconhecimento e caracterização da cidade; levantamento das estratégias e linhas de acção
definidas pelo município, das zonas já intervencionadas e a intervencionar no processo de
requalificação; perspectivação da cidade pós-requalificação; desenvolvimento de estratégias de
iluminação; desenvolvimento duma grelha de apoio a projectos de iluminação.
As estratégias desenvolvidas tiveram como objectivo promover: a diferenciação e adequação
da iluminação às diferentes zonas e locais da cidade; a paisagem urbana nocturna; a
dinamização do centro urbano, em especial a zona comercial; as ligações urbanas em zonas
de ―corte‖; a orientação urbana; assinalar e qualificar os edifícios arquitectónica e/ou
historicamente relevantes; a conjugação entre diferentes tipos de iluminação – pública,
comercial, patrimonial – para o desenho da iluminação no espaço público.
Na grelha de apoio a projectos de iluminação faz-se apontamento da principal informação a
recolher, sugerem-se possíveis iluminações para diversos elementos, e colocam-se diversas
interrogações e aspectos a ter presente durante o desenvolvimento dum projecto,
enquadrando-o no plano de iluminação.

Em conclusão, ao se ter reunido um conjunto de possibilidades de iluminação para diferentes


zonas de cidade (como era objectivo do trabalho) ficou demonstrada a complementaridade da
iluminação em relação às estratégias urbanísticas, apresentando-se assim como uma valiosa
ferramenta de planeamento.
Uma ferramenta comparativamente pouco exigente em recursos, especialmente considerando
que a existência de iluminação na cidade é incontornável, não uma opção, e que entre a
iluminação pouco cuidada que habitualmente se observa e uma iluminação de qualidade, a
diferença de recursos pode ser mínima.
Já o efeito alcançado pode ser bastante positivo, pelo que a aposta em iluminação de
qualidade é perfeitamente justificada na relação entre meios necessários e efeitos produzidos.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 63


Bibliografia

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As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 65


ANEXO 1 – Glossário de termos técnicos

Balastro – Estabilizador de corrente usado para as lâmpadas fluorescentes;

Candeeiro – designação dada ao conjunto formado pela luminária e suporte;

Candela (cd) – Unidade de medida no sistema internacional (SI) para a intensidade luminosa;

Dimming – capacidade de variação da intensidade de iluminação duma fonte de luz;

Fluxo luminoso – quantidade de luz. Unidade de medida no sistema internacional (SI) – Lm


(lúmen);

Iluminância – razão entre a quantidade de luz que incide sobre uma superfície (a medição é
feita pontualmente e em geral a distribuição não será uniforme) e a sua área. Unidades SI –
Lux (lux);

Índice de Reprodução de Cores ou Índice de Restituição de Cores (IRC) – parâmetro que


informa sobre a fidelidade com que a luz emitida por determinada fonte consegue reproduzir as
cores. É utilizada uma escala de 0 a 100, onde 100 corresponde á maior fidelidade;

Intensidade luminosa – densidade da luz. Unidades SI – cd (candela);

Lúmen (Lm) – Unidade de medida no sistema internacional (SI) para o fluxo luminoso;

Luminância – razão entre a quantidade de luz emitida por uma superfície (própria ou reflectida)
e a área dessa superfície que é visível para o observador (área medida no plano vertical
perpendicular á visão). Unidades SI – cd/m2 (candela por metro quadrado);

Luminária ou Armadura – equipamento onde é acoplada a lâmpada e que permite o seu


funcionamento e a orientação da luz emitida. Geralmente é constituída por encaixe da
lâmpada, reflector, ventilador, e caixa;

Luminária de corte total (em inglês, Full Cutof) – suporte de fonte de luz que garante que não é
emitida luz acima do plano horizontal;

lux (Lux) – Unidade de medida no sistema internacional (SI) para a iluminância. 1 Lux = 1
Lm/m2;

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 66


Luz – espectro de radiação visível ao olho humano. Frequências entre 430nm e 750nm;

Suporte – estrutura que sustém a luminária.

Temperatura de Cor – parâmetro que dá conta da tonalidade da luz branca através da


referência a uma temperatura (correspondente á temperatura a que se teria de elevar um corpo
negro para atingir essa tonalidade). Unidades de medida – ºK (graus Kelvin);

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ANEXO 2 – Cronologia da Iluminação
(dados retirados de ―Made of Light‖ Major (2005))

32 000AC – Tocha

3000AC – Vela

2000AC – Vidro

1500AC – Luminárias a óleo

900 – Pólvora chega á Europa (tinha surgido na China por volta do ano 350)

1414 – Iluminação pública pela queima de óleo em recipientes, nalgumas ruas de Londres. O
mesmo vem a suceder em Paris e Berlim mas bastante mais tarde (1524 e 1679
respectivamente)

1415 – ―Lanthorns‖ obrigação de colocar tochas aos portões das grandes propriedades de
Londres

1667 – Iluminação das ruas de Paris com velas dentro de luminárias de vidro

1669 – Jan van der Heyden desenvolve lanternas de rua a óleo, utilizadas primeiro em
Amesterdão

1736 – Iluminação das ruas de Londres de forma generalizada. Foi a primeira cidade a faze-
lo, utilizando cerca de 5000 luminárias

1783 – Aimé Argand desenvolve a primeira lamparina a óleo ―científica‖ baseando-se nas
descobertas de Lavoisier sobre a combustão. Consegue uma luz cerca de 12 vezes mais forte
que a de uma vela, mais constante, e com menos fumo

1790 – Champs-Elysées, Paris, são iluminados com candeeiros a óleo

1792 – William Murdoch inventa a iluminação a gás e ilumina a sua casa, loja, e troço de rua
em frente a estas com gás canalizado a partir de um depósito de carvão

1796 – Alessandro Volta cria a primeira pilha eléctrica

1802 – Humphrey Davy descobre que um fio de platina pode produzir luz quando
atravessado por uma corrente electrica

1807 – Primeira rua iluminada a gás a partir de depósito central em Londres (sistema criado
por Frederick Winsor), rua em Paris em 1819, rua em Berlim 1826

1808 – Primeira lâmpada de arco, por Humphrey Davy

1827 – Invenção do fósforo por John Walker

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1831 – Descoberta da indução electromagnética por Michael Faraday, o que permite a
produção de electricidade de forma mais barata, e também o desenvolvimento do primeiro
transformador

1841 – Daniel Collodon demonstra que a luz pode ser guiada através de um jacto de água.
Este princípio viria a dar origem á fibra óptica (1954)

1845 – Patente sobre luz electromagnética em coluna de vácuo por John Starr. A partir
1848, Joseph Swan começa a sua pesquisa sobre a lâmpada de filamento incandescente
baseando-se nestes desenvolvimentos de Starr

1849 – Armand Fizeau define a velocidade da luz no vácuo em 300.000Km por segundo

1856 – Michael Faraday observa o brilho provocado por uma descarga eléctrica em diversos
gases rarefeitos. Esta viria a ser a base para as lâmpadas eléctricas de descarga

1859 – Alexandre Becquerel faz experiências sobre fluorescência

1864 – James Maxwel Clark formula teorias e fórmulas sobre electricidade e sobre
magnetismo que permitirão criar o motor eléctrico, entre outros desenvolvimentos

1878 – Joseph Swan cria a primeira lâmpada de filamento incandescente e faz a sua patente
no Reino Unido

1879 – Thomas Edison faz a patente de uma lâmpada de filamento incandescente, muito
semelhante à de Swan, nos Estados Unidos da América

1893 – Nicola Tesla inventa a lâmpada de descarga a baixa pressão

1895 – Wilhelm Roentgen descobre os raios-X

1897 – Surge a lamparina de gás invertida. Esta é mais compacta, robusta, e eficiente.
Começa a ser comercializada a partir de 1900, obtendo grande sucesso e abrandando assim a
implementação da luz eléctrica durante vários anos

1903 – Primeiro isqueiro (Carl Auer von Welsbach)

1907 – Lâmpada de néon por Georges Claude e Carl von Linde

1910 – William David Coolidge cria a lâmpada incandesce com filamento em tungsténio
(também denominado por volfrâmio), bastante mais eficiente que as existentes até então.
Elimina definitivamente a concorrência da iluminação a gás.
É o tipo de lâmpada incandescente que ainda hoje é utilizada

1924 – A electricidade é agora mais barata que a parafina ou as lamparinas a óleo

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 69


1930 – Johannes Ostermeir cria o ―flash‖

1932 – Lâmpada de sódio a baixa pressão

1934 – Lâmpada de mercúrio a alta pressão

1935 – Primeira lâmpada fluorescente (tubular) viável para comercialização. Começa a ser
produzida em 1936

1954 – Fibra Óptica por Narinder Kapany

1959 – Lâmpada de halogéneo

1960 – Laser por Theodore Maiman

1962 – LED por Nick Holonyak

1964 – Lâmpada de (alta pressão de mercúrio com) halidos metálicos

1964 – Lâmpada de sódio a alta pressão

1973 – Grandes melhorias introduzidas nas lâmpadas fluorescentes

1980 – Fluorescente compacta é introduzida no mercado pela Phillips

1985 – ―dimming‖. O balastro da Phillips com variação entre 1 e 10 volts começa a ser
comercializado e torna-se standard

1990 – Lâmpada de indução

1994 – Grandes melhorias nas lâmpadas de halidos metálicos

1999 – Começam a surgir os controlos digitais

1999 a 2009 – Relativamente aos últimos 10 anos verifica-se uma proliferação dos controlos
digitais, uma maior preocupação ambiental também no que diz respeito á iluminação, a uma
progressiva substituição das lâmpadas incandescentes por fluorescentes compactas (cuja
performance melhorou), um grande desenvolvimento na tecnologia LED, e uma consolidação e
maior reconhecimento da disciplina de Design de Iluminação, com avanços na vertente de
planeamento.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 70


ANEXO 3 – Declaração para a Instituição Oficial da Profissão do Designer de Iluminação
de Arquitectura

Reconhecida e declarada em Sessão de Plenário da Convenção de Design de Iluminação


Profissional (PLDC), em Londres, Reino Unido, a 27 de Outubro de 2007.
A 27 de Outubro de 2007, a sessão de plenário da PLDC (a Convenção de Design de
Iluminação Profissional) reconheceu e anunciou a Declaração para a Instituição Oficial da
Profissão do Designer de Iluminação de Arquitectura, conteúdo que consta no seguinte texto.
No seguimento deste marco histórico, a sessão de plenário apela a todas as associações,
organizações e publicações, directa e indirectamente relacionadas com a Iluminação, para que
divulguem o texto da Declaração, e para que a publicitem junto de todas as instituições
educativas, escolas dos diversos ramos do Design e dos cursos de Arquitectura e Engenharia,
bem como junto dos respectivos membros dessas associações e instituições.

Prefácio
Reconhecido que está, que são as qualidades especificas, o conhecimento e o saber, a perícia
e a experiência que constituem a instituição da profissão;
Visto que o conhecimento sobre Luz e Iluminação, sobre as suas ferramentas, o seu controlo e
manipulação se desenvolveu de forma complexa e diversificada;
Reconhecido que está, que o impacte que a Luz tem nos seres humanos é do elementar senso
comum, e que tem hoje bem mais ramificações para além da área visual e perceptiva,
complexa esta à partida;
Visto que as responsabilidades daqueles que lidam com o Design e a especificação de
Iluminação para o ambiente humano se desenvolveram de forma muito significativa;
Assim e consequentemente, a Sessão de Plenário da Convenção de Design de Iluminação
Profissional anuncia que a Declaração para a Instituição Oficial da Profissão do Designer de
Iluminação de Arquitectura é um facto a ser oficializado por cada um dos Governos Nacionais e
por todas as instituições internacionais que lidem com o reconhecimento de profissões e
actividades independentes.

Artigo 1 O Design de Iluminação é a arte e ciência de Iluminar o ambiente humano. Designers


de Iluminação são aqueles profissionais que têm a capacidade de aplicar esta arte e ciência a
projectos, ajudando ao sucesso destes.

Artigo 2 O Design de Iluminação é uma profissão e uma disciplina distinta de todas as outras
da área da Arquitectura, do Design de Interiores e de Equipamento, do Paisagismo, do
Urbanismo bem como da Engenharia Electrotécnica.

As Luzes da Cidade – Iluminação Arquitectónica e Urbanística. Proposta para Caldas da Rainha 71


Artigo 3 Os Designers de Iluminação são parte integrante do desenvolvimento do projecto de
Arquitectura. Estes cooperam coordenando a sua actividade profissional junto das outras
especialidades relevantes no mesmo projecto, actuando como garante do seu sucesso integral.

Artigo 4 Os Designers de Iluminação são responsáveis pelo design de uma parte do ambiente
humano e assim responsáveis pela forma como esse mesmo design é apresentado e pelas
suas consequências sobre o design de terceiros. São responsáveis pelo bem-estar das
pessoas que usufruem destes espaços submetidos ao processo de design, pelo garante da
forma adequada como se deverão sentir nestes espaços, pela eficácia dos utilizadores em
levar a cabo tarefas de elevada exigência visual, bem como pela garantia de segurança, todas
estas dentro dos limites de influência que uma Iluminação submetida ao processo de design
oferece, ao espaço e aos seus usuários, ou aos objectos iluminados e os seus utilizadores.

Artigo 5 Os Designers de Iluminação são tidos com responsáveis pela sustentabilidade do seu
projecto de design.

Artigo 6 Os Designers de Iluminação não são parte da cadeia de fornecedores de um projecto


de arquitectura, no entanto, estes tem uma forte ligação a este processo. Os Designers de
Iluminação cooperam com todos os intervenientes desta cadeia, desde fabricantes,
empreiteiros, representantes oficiais e instaladores, dentro dos limites do seu código de ética,
com o objectivo de fazer beneficiar o utilizador final, o cliente e o projecto na sua totalidade.

Artigo 7 O Design de Iluminação tem todas as qualificações exigidas para o seu


reconhecimento oficial. Este é leccionado a nível académico, é composto por massa crítica de
profissionais que o praticam, é sujeito a códigos de deontologia bem como a uma prática
profissional efectiva.

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