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METODOLOGIA

CIENTÍFICA

Disciplina Institucional
Modelo Digital

PROFESSOR
D R . A L B E RTO D E V I T TA
Pesquisa experimental
Objetivos de Aprendizagem

Compreender o conceito de pesquisa experimental;

Identificar os principais elementos da pesquisa experimental;

Identificar os tipos de pesquisa experimental e suas vantagens e


desvantagens.

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Introdução

Uma pesquisa científica é um processo de investigação em que se interessa


descobrir as relações existentes entre os aspectos que envolvem os fatos,
fenômenos, situações ou coisas. A pesquisa pode ser diferenciada quanto à natureza,
aos métodos (ou abordagens metodológicas), quanto aos objetivos e quanto aos
procedimentos.

As classificações são baseadas nas obras de diversos autores, objetivando


contemplar linhas de pensamento comuns (GIL, 2009; MARCONI & LAKATOS, 2017).
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos (GIL, 2009), a pesquisa científica pode
ser bibliográfica, documental, experimental, levantamento, estudo de caso, expost-
facto, pesquisa-ação, epidemiológica e participante.

Neste texto base será abordada a pesquisa experimental e, ao final deste


conteúdo você deve apresentar os seguintes aprendizados:

Compreender o conceito de pesquisa experimental;

Identificar os principais elementos da pesquisa experimental;

Identificar os tipos de pesquisa experimental e suas vantagens e


desvantagens.

Bons estudos!

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Pesquisa experimental
Quando um indivíduo pensa em pesquisa científica, prontamente ele lembra
de um cientista realizando experimentos em laboratório. A pesquisa experimental é
só um dos métodos utilizados para que isso aconteça.

Gil (2009) apresenta a seguinte definição: “O método experimental consiste


essencialmente em submeter os objetos de estudo à influência de certas variáveis,
em condições controladas e conhecidas pelo investigador, para observar os
resultados que a variável produz no objeto.”

Por meio do método científico, o pesquisador escolhe um tema de estudo,


determina as variáveis capazes de influenciar o objeto de estudos, controla e observa
a interação entre o objeto e a variável e os seus efeitos, e, finalmente, retira
conclusões e reflexões.

Nesse tipo de estudo, ou seja, na pesquisa experimental, segundo Gil (2009)


e Marconi & Lakatos (2017), o pesquisador tem uma participação ativa, podendo ser
realizada tanto em laboratório quanto no campo, desde que apresente as seguintes
propriedades:

a) O pesquisador tem que manipular pelo menos uma das características dos
elementos estudados, ou seja, realizar a manipulação das variáveis;
b) O pesquisador deve ter controle sobre o experimento, sobretudo criando um
grupo de controle;
c) o pesquisador deve escolher aleatoriamente os elementos dos grupos
experimentais e de controle.

Este tipo de pesquisa, de acordo com Gil (2009) e Marconi & Lakatos (2017),
apresenta alguns princípios básicos como:

1. Há uma ideia de relação causa-efeito;


2. Acredita-se que existe uma relação entre a construção da causa e a construção
do efeito;
3. Há formulações de hipóteses a serem testadas;
4. Existem vários tratamentos (variáveis independentes);
5. Executa-se o experimento e observa-se a saída (variáveis dependentes);
6. Se o experimento foi corretamente elaborado, podemos formular conclusões a
respeito da relação causa-efeito para a hipótese estabelecida.

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Depois que o pesquisador considerou os princípios básicos e os elementos
fundamentais de uma pesquisa experimental, quais são as principais etapas para o
seu desenvolvimento? Na Figura 1 é possível observar as diversas etapas da
pesquisa experimental.

Figura 1: Etapas da Pesquisa Experimental

Fonte: O Autor - Adaptada/baseada em Gil, 2009; Marconi & Lakatos, 2017; Marconi & Lakatos, 2021.

A primeira etapa é a definição do problema de pesquisa. Para tal, este deve


ser claro, preciso e objetivo.

A segunda é a formulação das hipóteses, que é o estabelecimento das


relações causais entre as variáveis.

A terceira etapa é operacionalização das variáveis, em que o pesquisador


deve esclarecer o que se pretende investigar, definir claramente a variável, identificar
o procedimento correto para análise e mensuração da variável, definir o procedimento
de mensuração da variável e critério para avaliar a medida.

A quarta etapa é o plano experimental, na qual o pesquisador define suas


variáveis e escolhe a técnica de amostragem. Os principais planos experimentais
podem ser visualizados, a seguir, de acordo com Fontelles (2012) e Marconi &

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Lakatos (2021). O plano experimental com grupos aleatórios (randomized groups
design) pode ser visualizado na Figura 2.

Figura 2: Plano experimental com grupos aleatórios (randomized groups design)

Fonte: Adaptada pelo Autor

Neste plano há um elevado controle experimental, validade interna e a


composição dos grupos é aleatória. O grupo controle (GC) e grupo experimental (GE)
são idênticos na partida. O grupo controle é importante pelo fato de fornecer uma
referência que possibilita mensurar o efeito do experimento. Neste plano pode-se
utilizar uma ou mais variáveis independentes e, caso isso ocorra, há necessidade de
aumentar os grupos experimentais (HULLEY et al., 2008).

O plano experimental com grupos aleatórios (pre-post randomized groups


design) pode ser visualizado na Figura 3. As principais características desse plano
são a realização do pré-teste (mensuração de variável dependente) e a escolha
aleatória dos elementos do grupo experimental e controle (HULLEY et al., 2008).

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Figura 3: Plano experimental com grupos aleatórios (pre-post randomized groups design)

Fonte: Adaptada pelo Autor

O plano experimental com desenho de medidas repetidas com duas medidas


pode ser visualizado na Figura 4. Neste plano os elementos da pesquisa
desempenham o papel de blocos (aleatórios), envolvem vários tratamentos ou apenas
um único tratamento, o efeito do tratamento é avaliado ao longo de um determinado
período e permite maior precisão ao se usar cada sujeito como seu próprio controle
(HULLEY et al., 2008).

Figura 4: Plano experimental com desenho de medidas repetidas com duas medidas

Fonte: Adaptada pelo Autor

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A quinta etapa é a determinação dos sujeitos, ou seja, a escolha deve
representar a população a ser estudada. Para tal, algumas características são
fundamentais, como por exemplo: o sexo, idade, instrução e nível socioeconômico.
Esta etapa é importante pelo fato de estar diretamente relacionada à generalização
dos resultados de um experimento.

A sexta etapa é a determinação do ambiente (laboratório ou campo), que


deve proporcionar as condições básicas para a manipulação da variável
independente e verificar seus efeitos no sujeito.

A sétima etapa é da coleta de dados, em que o pesquisador obtém as


informações da realidade por meio de documentos, observação, entrevista,
questionário, formulário, recursos mecânicos, elétricos e eletrônicos.

A oitava etapa é análise e interpretação dos dados, sendo que, na análise


são utilizados procedimentos estatísticos, enquanto na interpretação é necessário
realizar a fundamentação teórica.

Finalmente, o pesquisador fará a redação do relatório, composto de


introdução, justificativa, objetivos, material e métodos, resultados e discussão,
conclusão e referências.

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Apontamentos a serem considerados

Outros pontos importantes que o pesquisador deve considerar são:

1. Mascaramento ou cegamento:

A alocação dos elementos nos grupos experimentais e controle devem


ocorrer sem o conhecimento dos pesquisadores e dos sujeitos do estudo.

O cegamento é considerado tão importante quanto a randomização, pois


elimina o confundimento gerado por meio de cointervenções e reduz vieses na
avaliação e na atribuição dos desfechos.

O cegamento pode ser classificado em:

1) cego, quando os participantes desconhecem a alocação dos sujeitos


nos grupos;
2) duplo-cego, quando os participantes e a equipe de pesquisa
desconhecem a alocação dos sujeitos nos grupos;
3) triplo-cego, quando pesquisadores, participantes e responsáveis pela
análise e alocação dos resultados desconhecem a distribuição dos
sujeitos nos grupos;
4) quadruplo-cego, quando além dos pesquisadores, participantes e
membros responsáveis pela análise e alocação dos resultados, o
responsável pela redação final do relatório de pesquisa também
desconhece a alocação dos sujeitos até o texto estar finalizado
(HULLEY et al., 2008).

2. Controle de variáveis interferentes

Em qualquer experimento, o pesquisador deve ter controle de outras variáveis


presentes no ambiente que podem interferir na variável dependente. Para isso, é
necessário controlar o ambiente e manter as demais variáveis constantes durante o
experimento.

Dessa maneira, os seus efeitos são isolados, não interferindo na relação das
duas variáveis que realmente se quer observar no estudo. Este controle é mais fácil
de ser feito em laboratório, em um ambiente artificial (HULLEY et al., 2008).

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3. Variação da causa

A variação da causa é outro procedimento fundamental do método


experimental.
Ao observar um efeito entre as variáveis, retire a Variável Independente (VI)
do ambiente e continue observando. Anote os resultados. Depois, insira novamente
a VI no ambiente da Variável Dependente (VD), mas com outras configurações.
Será que VD sofre efeito da VI em qualquer circunstância ou somente em
uma configuração específica?
Este procedimento é a obtenção de provas científicas do efeito estudado pela
pesquisa.
Outra maneira de observar se o efeito é produzido pela VI é comparar os
efeitos com outro grupo VD. Ou seja, aplicar a modalidade de dois grupos
homogêneos no trabalho. Assim, utiliza-se um grupo experimental VD, que recebe a
VI, e um grupo controle VD, que não recebe a VI (HULLEY et al., 2008).

4. Medição do efeito observado

A medição do efeito consiste em medir o efeito de VI sobre VD de maneira


fidedigna e válida, utilizando-se de instrumentos de medida apropriados para o objeto
de estudo da pesquisa (HULLEY et al., 2008).

As pesquisas experimentais apresentam vantagens e limitações (GIL, 2009;


MARCONI & LAKATOS, 2017; MARCONI & LAKATOS, 2021).

Entre as vantagens podem ser citados os seguintes pontos:

• Os experimentos são valiosos para o pesquisador conseguir formular e testar


hipóteses que estabelecem relações de causa e efeito entre as variáveis.
• As pesquisas experimentais garantem grande controle da relação de causa-
efeito da variável independente sobre a variável dependente, do que qualquer
outro delineamento.
Em contrapartida, a pesquisa experimental apresenta várias limitações, tais
como:

• Quando há utilização de um grande número de variáveis, há dificuldade de


controle e manipulação das mesmas.

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• Uma série de características humanas, tais como idade, sexo ou histórico
familiar, não podem ser conferidas às pessoas de forma aleatória.
• Outra limitação consiste no fato de que muitas variáveis que poderiam ser
tecnicamente manipuladas estão sujeitas às considerações de ordem ética que
proíbem sua manipulação.
• Não se pode, por exemplo, submeter pessoas a atividades estressantes com
vistas a verificar alterações em sua saúde física ou mental.

Considerando suas vantagens e limitações, a pesquisa experimental trata-se


de uma importante ferramenta para a pesquisa nas diversas áreas do conhecimento,
pois habilitam o pesquisador a descartar a maioria das hipóteses que não são
verdadeiras, identificar o efeito de uma nova intervenção comparada com uma
intervenção padrão ou com a ausência de intervenção, são os mais indicados quando
se deseja estudar uma relação de causa e efeito e sua relevância assenta-se na
valoração da evidência produzida e na possibilidade de aplicação ampla na prática
profissional.

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Considerações Finais
Neste texto base apresentou-se uma forma de realizar pesquisa científica,
descrevendo-se os conceitos, objetivos, características, vantagens e desvantagens e
as etapas para o desenvolvimento da pesquisa experimental.

As pesquisas experimentais são um procedimento de investigação indicados


para a formulação de conclusões a respeito da relação causa-efeito para a hipótese
estabelecida e, a relevância desse desenho de pesquisa assenta-se na valoração da
evidência produzida e na possibilidade de aplicação ampla nas diversas áreas do
conhecimento.

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REFERÊNCIAS
FONTELLES, MAURO JOSE. Bioestatística Aplicada à Pesquisa Experimental
(Volume 2). Editora Livraria da Física; 1ª edição, 2012.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2009. 175 p.

HULLEY, S. B; CUMMING, S. R.; BROWNER, W. S; GRADY, D. G; HEARST, N. B;


NEWMAN, T. B. Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica.
3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.

MARCONI, Marina de Andrade & LAKATOS, Eva Maria Marconi. Fundamentos de


metodologia científica. Editora Atlas, 9ª Edição, 2017.
MARCONI, Marina de Andrade & LAKATOS, Eva Maria Marconi. Técnicas de
Pesquisa. Atlas; 9ª edição, 2021.

MATERIAL RECOMENDADO

APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia científica. São Paulo, SP: Cengage, 2016.


(Disponível no acervo da Minha Biblioteca)

CERVO, Amada Luiz, BERVIAN, Pedro Alcino & SILVA, Roberto. Metodologia
científica. 6ª Ed. Editora Pearson, 2007. (Disponível no acervo da Minha Biblioteca).

RAMOS, Albenides. Metodologia da pesquisa científica: como uma monografia


pode abrir o horizonte do conhecimento. São Paulo: Atlas, 2009. (Disponível no
acervo da Minha Biblioteca)

WILL, D. E. M. Metodologia da pesquisa científica. Livro digital. 2ª ed. Palhoça.


Unisul Virtual, 2012.

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