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tomada de decisão
em tempos de incerteza
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#RuimPraQuem? A corrida da inovação:
uma prova que acontece
A necessária reforma com ou sem crise!
tributária do Estado
Mastodôntico Estratégias inovadoras
a partir de ambientes
Saia da mesa, arregace disruptivos
as mangas e mãos à obra!
Da iluminação à
Por que convivemos inovação: as organizações
com tantas incertezas? descobrem a mindfulness
A inteligência emocional As grandes pensam
pode dar a você uma grande!
visão além do alcance!
Do Brasil para o
O PES mostra o caminho! mundo: por que
O que é e como funciona investir no exterior?
a Lógica Fuzzy Planejamento
Abordagem sistêmica metropolitano e
no processo decisório rede de cidades: o
da empresa futuro passa por aqui!
Estratégia
shut terstock
O
império Inca é conhecido por sua evolu-
ção tecnológica e seu vasto território, que
englobava desde o norte do Equador, o sul da
Colômbia, o Peru e a Bolívia, até o noroeste
da Argentina e o norte do Chile. Evidências arqueológi-
cas publicadas pela revista Proceedings of the National
Academy of Sciences, em julho de 2013, comprovam que
há 500 anos, antes da chegada dos espanhóis, os incas
já praticavam as “Capacochas”, que no idioma quechua
representam as cerimônias de sacrifício humano. Esses
cerimoniais celebravam eventos solenes como a morte
do imperador, a vitória de uma grande batalha e os even-
tos bienais do calendário inca. Os sacrifícios eram reali-
zados com a crença e a expectativa de parar ou prevenir
secas, terremotos, erupções vulcânicas e epidemias.
De forma semelhante aos rituais dos incas, as orga-
nizações realizam cerimoniais de planejamento com
base em crenças que geram resultados diferentes das
expectativas. As crenças e condições vigentes nos últi-
mos 20 anos não prevalecem mais, por isso hoje senti-
mos o mundo mais complexo e imprevisível.
A convergência de novas forças atuantes (descontinui-
dade, volatilidade e hiperconectividade) está mudando
rapidamente a economia global com reflexos significa-
tivos nas organizações e nas pessoas. A maior parte das
crenças que nos serviram no passado se torna irrelevante. produção social de riquezas é acompanhada sistemati-
Estamos frente a mudanças com implicações extraordi- camente pela produção social de riscos. Esse cenário é
nárias para os líderes empresariais, como detalha o artigo apresentado no artigo “Sentidos do risco: interpretações
Management intuition for the next 50 years, publicado na teóricas”, publicado na Revista Bibliográfica de Geografía
McKinsey Quarterly, em setembro de 2014. No cenário con- Y Ciencias Sociales, em maio de 2008. O texto mostra que
temporâneo a realidade não é mais como ela costumava ser. há “uma nova forma de capitalismo, uma nova forma de
Precisamos ter uma nova “caixa de ferramentas ana- economia, uma nova forma de ordem global, uma nova
lítica”, conforme afirma o sociólogo polonês Zygmunt forma de sociedade e uma nova forma de vida pessoal”.
Bauman, professor da London School of Economics. Para Até meados do século 20, o objetivo do pensamento
qualificar o mundo em que vivemos, Bauman cunhou científico da racionalidade clássica era a descoberta das
o termo “modernidade líquida”. Em entrevista ao Portal leis universais da natureza com uma abordagem reducio-
Ciência & Vida, ele justifica que o uso da palavra “liqui- nista, ou seja, estudando as partes, entendia-se o todo.
dez” como sendo “a incapacidade de reter sua forma por O pensamento complexo que representa melhor a reali-
muito tempo e sua propensão a mudar de forma sob a dade atual surgiu nos anos de 1970 e está em curso de ela-
influência de mínimas, fracas e ligeiras pressões é ape- boração. Nele, as partes integram o todo, mas não perdem
nas o traço mais óbvio e também a característica mais suas características individuais, conforme exemplifica a
consequente de nossa atual condição sociocultural”. metáfora de Edgar Morin: os fios compõem o tapete. Este só
Para o sociólogo alemão Ulrich Beck, professor da é tapete por causa dos fios, mas o que o constitui é a relação
Universidade de Munique e da London School of Econo- entre os fios de sua contextura e o conjunto da tapeçaria.
mics, vivemos em uma “sociedade de risco”, na qual a Aceita r que conv ivemos com a i ncer teza e a
latinstock
Tomada de decisão nas organizações
Gestores devem tomar decisões economicamente Gestores são incapazes de tomar decisões
viáveis com alto grau de certeza totalmente racionais ainda que queiram
Fonte: Tomada de decisão nas organizações: uma visão multidisciplinar, coordenação de Abraham Sin Oih Yu
(Editora Saraiva, 2011). Figura adaptada pelo autor.
latinstock
A busca dos líderes é ser extremamente racional para O cérebro do Capitão Kirk é uma máquina de sobrevivência
decidir com base em análises igualmente racionais. e garante que ele sinta primeiro e pense depois. Entre fatos
Daí surge a síndrome do Dr. Spock, o personagem que e sentimentos, o sentimento carrega um peso maior, como
personifica o raciocínio lógico, sem manifestar emoções afirmam os estudiosos da cognição
são desenvolvidas quando os especialistas aprendem a A nossa formação profissional – ou bagagem de conhe-
reconhecer elementos familiares em uma nova situação cimento adquirido por treinamentos – foi construída
e agem de uma forma apropriada para isso. com base na teoria clássica do modelo da Racionalidade
Quando somos confrontados com um problema, a Ilimitada, que é essencialmente normativa, ou seja, ela
máquina do pensamento intuitivo faz o melhor que pode. dita regras e tem por abordagem a lógica, que por sua vez
Se uma pessoa tem experiência relevante, ela reconhece a tem por base a racionalidade do indivíduo. Além disso,
situação, e a solução intuitiva que vem à sua mente parece tem como pano de fundo um contexto em que a certeza
ser a correta. Mas nem sempre a intuição surge da verda- predomina. Com esse enfoque surge a crença de que “a
deira experiência e não reconhecemos as próprias heu- ordem só pode ser estabelecida na Terra à força e não
rísticas nas decisões. Quando a questão é difícil e a solu- por meio da persuasão, por seres humanos armados de
ção prática não está disponível, a intuição ainda corta o razão”, como aponta o sociólogo polonês Zygmunt Bau-
caminho, e uma resposta pode vir à mente rapidamente man, no Portal Ciência & Vida. A ideia que prevalece é
– mas essa não é a resposta da questão original. “Esta é a “aquilo que não é medido, não é controlado”.
essência da heurística intuitiva: quando confrontados Com o passar do tempo, os pesquisadores começaram
com uma questão difícil, nós frequentemente responde- a se aproximar da realidade das organizações com uma
mos com uma questão mais fácil no lugar, habitualmente abordagem mais descritiva. Por exemplo, no livro Rápido
sem perceber a substituição”, explica Kahneman. e devagar: duas formas de pensar (Editora Objetiva, 2012),
Kahneman comenta: “Eu costumo me encolher todo
quando dizem que meu trabalho demonstra que as esco-
Os líderes devem aceitar que a lhas humanas são irracionais, quando na verdade nossa
racionalidade é limitada e os sentimentos pesquisa apenas mostrou que os humanos não são bem
descritos pelo método do agente racional”. Já Herbert A.
estão presentes nas decisões. Não dá Simon criou o conceito da Racionalidade limitada, no qual
para agir sempre como o Dr. Spock afirma que somos incapazes de termos uma abordagem
latinstock
Mudanças de mercado já geraram o desaparecimento de aprenderam a selecionar o que é relevante, mas não têm
gigantes, como a Xerox, que tinha excelentes executivos, todas as informações referentes ao problema.
mas não soube reconhecer, a tempo, que o que era relevante
É possível entender, então, que mudanças rápidas do
para ela deixou de ser para os seus clientes
mercado geraram o desaparecimento de verdadeiros
gigantes, como a Xerox, Compaq, Kodak, que com cer-
completa de todas as variáveis representativas da situação teza tinham excelentes executivos, mas estes não sou-
analisada. Para entender a diferença dessas duas aborda- beram reconhecer a tempo que o que era relevante para
gens que geram diferentes modelos mentais, veja o quadro eles deixou de ser para o mercado. Por exemplo: a Kodak
“Tomada de decisão nas organizações”, na página anterior. chegou a lançar máquinas digitais. Porém as receitas dos
Nos momentos de incertezas, a nossa intuição nos leva a filmes e suas revelações reduziram com a populariza-
pensar de forma extremamente racional na busca de obter ção da fotografia digital, e a companhia não adequou os
o controle de todas as variáveis da situação vivenciada. Essa custos e o modelo de negócio à nova realidade.
visão não contempla o pensamento complexo, e surge a Ao tomar decisões, normalmente nos contentamos
nossa dificuldade de entender a realidade em que vivemos. com um conjunto suficiente de condições e não um con-
Além das mudanças e das incertezas, há também junto eficiente de condições. Simon cunhou o termo satis-
uma maior aversão ao risco. A busca dos líderes é ser ficing, ou seja, “satisficiência”, combinação entre os verbos
extremamente racional para decidir com base em aná- to satisfy (satisfazer) e to suffice (bastar). A palavra designa
lises igualmente racionais. Daí surge a síndrome do Dr. exatamente esse modelo de decisão no qual a satisfação de
Spock! Simplesmente porque o personagem do seriado um determinado critério já é por si só suficiente para que
Star trek (Jornada nas estrelas) personifica o raciocínio a decisão seja considerada eficiente, de acordo com o livro
lógico próprio, sem manifestar emoções. Como as decisões realmente acontecem, de James G. March
Para aliviar as tensões geradas pela síndrome do Dr. (Leopardo Editora, 2010).
Spock, vale lembrar que não é possível, para um ser A síndrome de ser o Dr. Spock é natural. Afinal, durante
humano, levantar todas as informações e analisar todas a formação acadêmica, “os teóricos e pesquisadores não
as variáveis que envolvem um problema. Sim, a experiên- acabam por reforçar e confirmar a prática alimentada
cia e a competência de alguns profissionais ajudam para pela crença de que é mais importante e produtivo coi-
que tenham bom nível de assertividade. Por outro lado, sificar e quantificar do que singularizar e humanizar?”,