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tomada de decisão
em tempos de incerteza
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#RuimPraQuem? A corrida da inovação:
uma prova que acontece
A necessária reforma com ou sem crise!
tributária do Estado
Mastodôntico Estratégias inovadoras
a partir de ambientes
Saia da mesa, arregace disruptivos
as mangas e mãos à obra!
Da iluminação à
Por que convivemos inovação: as organizações
com tantas incertezas? descobrem a mindfulness
A inteligência emocional As grandes pensam
pode dar a você uma grande!
visão além do alcance!
Do Brasil para o
O PES mostra o caminho! mundo: por que
O que é e como funciona investir no exterior?
a Lógica Fuzzy Planejamento
Abordagem sistêmica metropolitano e
no processo decisório rede de cidades: o
da empresa futuro passa por aqui!
Mundo corporativo
E
ra uma manhã fria em Tóquio. Lembro-me ao que estava ao meu redor, embarquei em um usual
de estar sentado em um banco no parque divagar entre estar ali em corpo, mas com a mente em
Ueno, um dos mais frequentados parques algum lugar do passado ou do futuro.
públicos do Japão. Estava sozinho e decidi De repente, me vi resgatado subitamente para o aqui
parar com as fotos e sentar-me um pouco. e agora. Senti uma presença ao meu lado e percebi que
A ideia era relaxar e apreciar as pessoas e a paisa- era o monge. Quando o vi, cumprimentei-o com um
gem. Entretanto, meu pensamento insistia em mui- meneio de cabeça e voltei minha atenção para o par-
tas vezes voltar ao Rio de Janeiro e passar por Paris, que. Já o monge retribuiu o cumprimento com um sor-
cidade em que estaria em três semanas, antes do meu riso e uma tangerina. Aceitei a oferta e, orgulhoso de
voo de retorno ao Brasil. Percebi um monge zen-bu- meu escasso japonês, disse:
dista não muito distante que também parecia ter me
avistado. Aos poucos, voltei minha atenção ao par- — Arigatou gozaimasu! (obrigado, dito formalmente
que, esquecendo-me do monge. Sem perceber, alheio em japonês).
shut terstock
— Estava boa?
— Muito gostosa!
— Tinha semente?
— Sim.
— Quantas?
— Não muitas. Poucas. Mas estava uma delícia!
— Quantas?
— Uma... não, acho que duas.
— Vamos praticar de novo? Coma mais um gomo — disse
o monge.
latinstock
— Mindful Eating! — completou o monge, como um con-
vite para eu permanecer consciente e focado no presente.
Nesse momento, lembrei de Mestre Yoda, do filme Mestre Yoda, de Guerra nas estrelas, faz um alerta
Guerra nas estrelas, falando sobre Luke Skywalker, que para Luke Skywalker: ”Nunca poderei treiná-lo, pois
nunca poderia treiná-lo, já que sua mente estava sem- sua mente está sempre distraída, seja no futuro ou no
passado, mas nunca no presente”
pre distraída, seja no futuro ou no passado, e nunca no
presente.
Eu, positivamente impactado pela minha recém-des- seu objeto de atenção” — conforme definição descrita por
coberta identidade de padawan (“aprendiz Jedi”, segundo Ronald D. Siegel, Christopher K. Germer e Andrew Olend-
a terminologia do famoso filme) do monge, comecei zky, no livro Clinical handbook of mindfulness, de Fabrizio
novamente a me ver no futuro, contando esta história Didonna (Editora Springer Science, 2008).
para meus amigos no Brasil, quando mais uma vez tive No Brasil, mindfulness é usualmente traduzido como
meus pensamentos interrompidos pelo generoso monge atenção plena e está associado tanto a um construto teórico,
que repentinamente fala sobre o seu gomo: uma habilidade cognitiva, um traço psicológico, quanto
a um meio ou conjunto de práticas meditativas para se
— Uma semente! desenvolvê-la — como demonstram os artigos Mindfulness:
theoretical foundations and evidence for its salutary effects
Mindfulness: origem e conceituação (publicado por Kirk Warren Brown, Richard M. Ryan e J.
Buda não imaginaria — talvez — que um de seus ensinamen- David Creswell, em 2007) e Mindfulness: method and pro-
tos centrais, como caminho para a iluminação, mindful- cess (de Steveb C. Hayes e Kelly G. Wilson, 2003).
ness, seria estudado e praticado por pessoas tão distantes A definição clássica de mindfulness é dada por Jon
no tempo e na cultura de sua época. O termo mindfulness é Kabat-Zinn, no livro Wherever you go, there you are:
derivado da palavra sati, que em Pali (dialeto indiano falado mindfulness meditation in everyday life (Editora Hype-
no tempo de Buda) significa “recordar-se continuamente do rion, 1994): “habilidade cognitiva de prestar atenção de
Há três anos, Noah Shachtman fez a seguinte e inovação nas organizações parecem estar relacionadas
afirmação na revista Wired: ”A contemplação é vista entre si, como variáveis em um modelo causal.
como uma nova cafeína, um combustível que liberta Devemos evitar posicionar a prática de mindfulness
a produtividade e impulsiona a criatividade”
como uma solução mágica para a questão da inovação
nas empresas. Mindfulness deve ser apresentado como
registraram um melhor desempenho na interpretação mais um recurso que pode impulsionar o potencial ino-
inovadora de situações e na identificação de soluções vador das organizações. Afinal, se funciona para Google
simples, em relação ao grupo de não meditantes. e Apple, talvez possa funcionar para sua empresa.
Em outro estudo relacionado à criatividade, Lorenza
S. Colzato, Ayca Ozturk e Bernhard Hommel investiga- Vamos praticar?
ram o impacto da meditação de monitoramento amplo Praticar a consciência do momento presente sem julga-
(Open-Monitoring — OM, um dos tipos de meditação mind- mentos é acima de tudo uma jornada de (re)descobrimento
fulness) com tarefas de criatividade. Intitulado Meditate to de si mesmo e da forma como vemos e sentimos o mundo.
create: the impact of focused-attention and open-monitoring Existem muitas formas de praticar mindfulness. Mas a
training on convergent and divergent thinking, esse levan- simplicidade das instruções não deve confundir o leitor.
tamento apresentou evidências de que a OM permite à Trata-se de um treinamento mental, que demanda prá-
mente produzir o pensamento divergente, que estimula tica e constância para obtermos resultados mais efetivos.
o surgimento de muitas novas ideias em um contexto no Então, mãos à obra: fique em uma posição confortável.
qual mais de uma solução é correta. Comece a se conectar ao presente estabelecendo uma
O fato é que inovação é a bem-sucedida implementação conexão com o seu corpo. Repare nos movimentos da
de ideias criativas dentro de uma organização, e a criati- respiração. Sensações, emoções e pensamentos surgirão.
vidade é condição necessária, porém não suficiente, para Observe-os e retorne “gentilmente” sua atenção à respira-
uma inovação ocorrer, como descreveu Teresa M. Ama- ção. Coloque-se aberto agora às sensações de seu corpo.
bile no artigo Creativity and innovation in organizations, Comece pela parte superior da cabeça e desça lentamente
em 1996. Entretanto, diante das evidências já encontra- até os pés. Faça um escaneamento detalhado. Não reaja,
das, podemos argumentar que mindfulness, criatividade apenas observe, sem julgar a sensação como boa, ruim,