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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022

Editorial ☺ Leia em 4 min.

Luciano Lannes
Especialista em Produtividade e Sinergia, Coach
Executivo, instigador de reflexões, facilitador de
aprendizagem organizacional, escritor e Editor na
Revista Coaching Brasil.
"Procurando sempre fazer, para de fato, saber"
lannes@RevistaCoachingBrasil.com.br

esse poder. O que fazemos é servir à vida e,

Que tema maravilhoso trazemos nessa edição.
Para mim, é especial a alegria, pois tenho
estudado e procurado sintonizar com o que as
emoções procuram me contar sobre o que
acontece comigo, entrelaçando passado,
presente e futuro.
Há muitos anos em um texto, fui apresentado
ao conceito de SOE, sistema de orientação
emocional, onde mostravam que as emoções
são sinalizadoras do que é realmente
importante para nós.
Emoções tem a ver com movimento, e nos
movem ou paralisam.
Convidei Mônica Alvarenga para coordenar
um dossiê sobre emoções com enorme
entusiasmo, pois sei o quanto este tema lhe é
importante e caro. De imediato ela trouxe a
ideia ampliada de falarmos sobre a “Ontologia
das Emoções”. Que maravilha!
Mônica reuniu um grupo de 14 autores e
autoras, que nos trazem um olhar analítico,
profundo e abrangente sobre o tema. Um
excelente ponto de partida para todo
profissional que deseja ampliar sua visão sobre
a importância e relevância das emoções sobre
o nosso ser, pensar e agir.
Mônica inicia assim seu texto de apresentação
desse dossiê: “Espero que você, leitor,
encontre, na contribuição de autores
profissionais e sensíveis, inspiração para
experiências que enriqueçam ainda mais o seu
trabalho. Não transformamos vidas: não temos
com esse intuito, lançamos mão de tudo o que
somos, sabemos e sentimos para apoiar nossos
clientes em sua jornada humana”.
Sobre a Ontologia, Káritas Ribas traz um artigo
muito profundo trazendo luz a este conceito.
Em seu texto ela diz: “...quando se diz que a
ontologia é o estudo do ser - como tantas vezes
ouvi responderem, com a certeza de quem
quer dar fim à pergunta – essa seja apenas uma
gota em um imenso oceano reflexivo, afinal
para que essa resposta faça sentido temos que
definir o que é “o ser” (esse que seria objeto de
estudo da ontologia) e ainda afirmar que ele
existe”.
A neurociência amplia a cada dia a importância
das emoções em nossas vidas. Hoje sabemos
que não existe aquela separação entre racional
e emocional, que a maioria das pessoas ainda
crê.
Somos seres emocionais, e compreender o
que são as emoções, como ocorrem, e o que
elas nos pedem, é fundamental para que
tenhamos maior controle sobre nossas
próprias ações.
Que estes textos possam inspirar e convidar
você a mergulhar neste instigante estudo.
Tenha uma excelente leitura.
Luciano Lannes

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
 -

2 – Editorial – Luciano Lannes

4 – Papo Rápido – Do que estamos cansados? - Marcell Garabito
5 – Um outro olhar – Ana Pliopas
7 – Empreenda&Venda – 7 passos da venda x4! – Demitrios de Souza
10 – Apresentação do Dossiê – Ontologia das Emoções – Mônica Alvarenga
12 – Dossiê 1 – Falemos de Ontologia - Káritas Ribas
16 – Dossiê 2 – Julgamento – Um caminho para as nossas emoções - André Monc, Cristina Delabary
e Sandra Regina de Lima
19 – Dossiê 3 – Manejando Estados de ânimo - Terezinha Camargo Lorenzon e Silvana Ribeiro
23 – Dossiê 4 – A importância de perceber nossas Emoções e Estados de Ânimo - Cárita Guedes, Lilian
de Sousa Costa Pohl e Roberto “Bob” Hirsch
26 – Dossiê 5 – Emoção e Linguagem – um olhar sobre o convívio social - Elizabeth Coronel, Luiz
Cesar de Miranda e Wlamir Stervid
29 – Dossiê 6 – A Neurociência dos Afetos - Eduardo Afonso
33 – Dossiê 7 – O desenho emocional e o poder de criar futuro - Margarita Morales
37 – Observatório do Coaching – A Tríade Sombria no Coachee e seu impacto na atuação do Coach -
Rosa R. Krausz
43 - Para Refletir - Os vínculos: o reflexo do meu ser - Felipe Mautone
45 - Eu, cada vez melhor - A melhor ferramenta de coaching é o COACH! - Maria Helena Anjos

Expediente
Revista Coaching Brasil Todas as edições da Revista Coaching Fale conosco
Brasil estarão disponíveis no site para Publisher
Publicação mensal da Editora Saraswati acesso exclusivo dos assinantes.
lannes@revistaCoachingbrasil.com.br
ano IX – num. 114 – novembro 2022
A responsabilidade pelos artigos
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assinados é dos autores.
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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Papo Rápido ☺ Leia em 4 min.

Do que estamos cansados?

Marcell Garabito
“Encorajando as pessoas a se comunicarem
com elas e com o mundo”
marcell.garabito@gmail.com

respeito e atitude pacífica como premissa

Nas últimas semanas uma frase/post apareceu
com recorrência em meus stories e feeds das
redes sociais e chamou a minha atenção. Ela
dizia mais ou menos assim: “Essa mistura de
fim de ano com fim de mundo tá cansativa viu.”
E quem realmente não está cansado? Então
proponho rápidas reflexões, por uma lente
integradora, que podem funcionar como
poderosos revigorantes nesse momento:
1. Perceba sua intenção e presença: Sim, tudo
começa com a própria capacidade de
perceber o nosso interior. Atenção para as
emoções, os pensamentos e sentimentos já
que muitas vezes a nossa percepção está
distorcida ou até com mecanismos de defesa
ativados. É importante ainda verificar os sinais
emitidos pelo nosso corpo e como
vivenciamos a nossa presença, garantindo
equilíbrio ao realizar as atividades cotidianas.
Então desacelere um pouquinho, olhe para
você e realize um autodiagnóstico.
2. Perceba a importância das suas conexões:
Nossa conexão com as outras pessoas se
fortalecem por meio da escuta e das
perguntas. É fundamental não considerar
apenas do conteúdo, o que nos aproxima ou
afasta, conforme acreditamos ou sabemos do
mundo. A linguagem, palavras e o tom de voz
utilizados devem ser sempre baseados em
fatos, sem julgamentos, exageros, apegos,
ilusões ou desejos individualistas. Manter o
básica garante menos esforço para semear e
cultivar as verdadeiras relações.
3. Perceba como manifesta suas ações: As
nossas ações são a manifestação do que
realmente acreditamos. Por isso é essencial
oferecer e contribuir de forma saudável e
inclusiva para a evolução. Não apenas
replicando ou impondo um pensamento ou
conhecimento originado da sua experiência.
Somar saberes para a melhor expressão da
vida certamente é a decisão mais acertada ao
criar ou materializar qualquer coisa.
Estamos cansados, mas vamos precisar
encontrar força para rever como tratamos
nossas questões. Tensões e conflitos sempre
existirão e são necessários para elevar a
consciência de ambos os envolvidos. Os sinais
interpretados do fim são apenas os primeiros
avisos dos nossos desafios futuros. Olhemos
de forma corajosa, para o que tem nos deixado
cansados, afetados e irritados. Para vencer o
cansaço, é preciso não virar pó. Para seguir feliz
nessa travessia, melhor é não estar só. Que seja
então, com amor, amor, amor e poesia.
Palavras-chave: presença, coragem, liderança,
valores, cansaço
Photo by Christopher Campbell on Unsplash

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022

Nosso coach João nos traz o seguinte caso:
estou trabalhando junto a um cliente que quer
tomar um passo deliberado em sua carreira.
Frequentemente ele declara “hoje me
arrependo e me pergunto, como teria sido se
tivesse aceitado a oferta daquela organização
há 5 anos”, ou “talvez devesse ter
empreendido quando era mais jovem e não
tinha as obrigações financeiras de hoje”. Isso
chamou minha atenção e temo que ele, no
futuro, se arrependa da decisão sobre carreira
que tomará agora. Há algo que possa fazer?
João, em geral processos de coaching de
carreira são bastante estruturados, seguindo
fases como autoconhecimento, ambições e
desejos, possibilidades e escolhas, elaboração
de perfil, identificação de pessoas para
network, abordagens, entrevistas
negociações. As etapas variam segundo as
profissionais ou organizações responsáveis
pelo processo de coaching. Há um enorme
benefício em ter passos determinados no
processo de coaching de carreira porque é
comum que quando uma pessoa pense em
oportunidades de carreira ela mesma se
boicote. Por exemplo, uma pessoa pode
cogitar abrir um negócio e ao mesmo tempo
sabotar sua própria ideia pensando que
empreender pode ser arriscado demais, sem
antes de fato analisar os riscos. O arcabouço de
coaching de carreira traz contenção ao
processo e a cliente lida com uma etapa de
cada vez, tendo menor chance de boicotar
oportunidades ou ideias.
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
☺ Leia em 6 min.
Ana Pliopas, PhD, MCC
Coach executiva e de carreira, professora
universitária e pesquisadora, supervisora de
coaches
ana.pliopas@icloud.com
Se de um lado há benefícios nas etapas
estruturadas de coaching de carreira, por outro
é importante que a coach tenha sensibilidade
e flexibilidade. Sua atenção aos
arrependimentos de seu cliente, João,
evidencia que você está atendo à pessoa, que
em todo processo de coaching é muito maior
que etapas. Vale lembrar que seu cliente está
em um processo de coaching exatamente para
tomar uma decisão deliberada, diminuindo
assim a chance de se arrepender da escolha
que fizer. De qualquer forma, nesse momento
há a oportunidade para que vocês, cliente e
coach, trabalharem no que significa fazer uma
escolha.
Embora seja obvio que qualquer escolha
implica em renunciar a outras alternativas,
e pode ser útil, no caso que você apresenta,
marcar que algumas alternativas podem de
fato não estar mais disponíveis no futuro. Uma
forma de marcar alguma renúncia que seu
cliente possa estar fazendo é lançar mão de
rituais de término, cujo objetivo é acolher a dor
e a tristeza que sentimos quando perdemos
algo. Abaixo listo alguns rituais de término que
podem ser instrumentais no caso que você
traz.
Escrever uma carta que retrate a perda
e a dor que tal escolha traz. A carta
pode ser queimada como parte dessa
cerimônia.
5
 Elaborar um desenho, colagem, marcante. Depois de honrar o tema, é possível
cartaz, mandala ou poema. Na mesma que vocês possam dar os próximos passos no
linha da carta, essa manifestação processo de coaching de carreira.
artística, dá significado ao sofrimento
da renúncia.
Desejo ótimo coaching para seu cliente e para
você!
Assistir a algum filme que trate de
escolhas, renúncias e perdas. Há uma
infinidade de possibilidades. Como
ponto de partida você pode assistir a Referências:
Capitão Fantástico (2016) ou Questão
de Tempo (2014) para ver se faz Curtis, R. (2013). About Time [Film]. United
sentido como ferramenta no caso que Kingdom; Universal Pictures.
você apresenta. Ross, M. (2016). Captain Fantastic [Film].
United States; Bleecker Street (United States)
Entertainment One (International).
Meditação e/ou visualização. Nessa
prática a pessoa pode meditar por
alguns minutos e depois visualizar a
despedida da qual abre mão:
agradecer, reconhecer o papel que a
ideia dessa oportunidade teve na vida
da pessoa e finalmente dizer adeus à
possibilidade. Palavras-chave:
Coaching de carreira – etapas de coaching –
sensibilidade – flexibilidade – escolha –
Reforço, João, que sua sensibilidade para renúncia – rituais - encerramento
entender a relevância que o tema
arrependimento tem para seu cliente é

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Empreenda&Venda ☺ Leia em 10 min.

7 passos da venda x4!

Demitrios de Souza
Mentor de Vendas. Criador do método Vender Sem
Vender. Designer, publicitário e especialista em
marketing de serviços pela FGV/SP.
falecom@demitrios.com.br
www.demitrios.com.br

bom? Mostrou pra que serve? Então agora

Se você coach, também criou infoprodutos,
grupos, workshops, palestras e seminários,
além do seu programa de coaching, saiba que
te ensinaram apenas UMA forma de vender,
mas você está vendendo 3 ou 4 coisas
diferentes, aos olhos do comprador.
Então decidi fazer o artigo desse mês um
pouco mais explicativo, para que você mesmo
reavalie cada passo do seu processo de
vendas, e veja em qual dos seus produtos ou
serviços cada sequência se encaixa. Então
vamos lá:
Sequência 1 = Produto barato (varejo, por
exemplo):
1 - Planejamento: O que você está vendendo?
Quais são seus pontos mais atraentes? Seus
diferenciais? Sua estratégia de preço?
2 - Atração: não existe prospecção, você não
vai ligar ou fazer anúncio chamando cada
pessoa, mas sim, fazer um chamariz para que o
maior volume de pessoas se sinta a atraída a
comprar. Gere desejo.
3 - Necessidades: Atraiu o cliente pra sua loja
ou site? Agora convença-o a PRECISAR seu
produto! Atraia falando de benefícios, e gere
necessidade falando de características.
4 - Apresentação: Aqui você soma o trio desejo
+ necessidade + oferta! Mostrou como ele é
convença o cliente a levar AGORA! Gatilhos de
venda à vontade!
5 - Objeções: Tá caro? Já vi melhor? Será que
é pra mim? Tenha a resposta na ponta da
língua, e se for no site, ANTECIPE as objeções
mais comuns.
6 - Fechamento: Me dá seu dinheiro! Gatilhos
de venda específicos...
7 - Pós-venda: Indicações, avaliações positivas,
vendas casadas, aumento de ticket médio,
transformar o cliente em freguês, growth
hacking etc.
Essa é a sequência que eu usaria para vender
infoprodutos ou grupos baratos, abaixo de mil
reais, pois o público enxerga esses produtos
como commodities, comparando promessas e
PREÇOS para decidir sua compra.
Sequência 2 = Produto caro (carros, por
exemplo):
1 - Planejamento: QUEM vai cuidar do
marketing? É muito diferente vender um carro
do que vender um celular, pois a
concessionária NÃO FAZ propaganda de
carro, já percebeu? Ela fala de coisas diferentes
(atendimento personalizado, por exemplo) na
sua propaganda, ao invés de falar dos bancos
de couro de um modelo qualquer, portanto
todo o planejamento de posicionamento de

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
marca é diferente de vender um produto 2 - Atração: Aqui também não existe
barato! prospecção, você não vai ligar ou fazer anúncio
chamando cada pessoa, mas sim, fazer um
2 - Atração: Aqui também pode existir
chamariz para que o maior volume de pessoas
prospecção! Você pode telefonar ou enviar
se sinta a atraída a comprar. Gere desejo.
mensagens a contatos para conhecer o novo
espaço da concessionária, ou ficar por dentro 3 - Desejos: A palavra aqui muda porque as
dos lançamentos do ano, por exemplo. necessidades são óbvias (dor de dente, por
exemplo), então o foco cai nos desejos (preço,
3 - Necessidades: O cliente não veio na sua loja
distância, velocidade de agendamento). Aqui
porque seu carro É MELHOR que o carro do
também tem o passo que mais DIFERE do
concorrente vizinho! Ele veio pelo PREÇO! As
serviço caro: A pessoa NÃO COMPRA o
necessidades dele começam por aí, mas estão
profissional! Qual foi a última vez que você
longe de ser SOMENTE isso! Os outros passos
pediu pra secretária te passar pro dentista pra
não diferem muito...
conversar com ele antes de fechar a primeira
4 - Apresentação: Aqui você soma o trio desejo visita?
+ necessidade + oferta! Mostrou como ele é
4 - Apresentação: Aqui você soma o trio desejo
bom? Mostrou pra que serve? Então agora
+ necessidade + oferta! Mostrou como ele é
convença o cliente a levar AGORA! Gatilhos de
bom? Mostrou pra que serve? Então agora
venda à vontade!
convença o cliente a levar AGORA! Gatilhos de
5 - Objeções: Tá caro? Já vi melhor? Será que venda à vontade!
é pra mim? Tenha a resposta na ponta da
5 - Objeções: Tá caro? Já vi melhor? Será que
língua, e se for no site, ANTECIPE as objeções
é pra mim? Tenha a resposta na ponta da
mais comuns.
língua, e se for no site, ANTECIPE as objeções
6 - Fechamento: Me dá seu dinheiro! Gatilhos mais comuns.
de venda específicos...
6 - Fechamento: Me dá seu dinheiro! Gatilhos
7 - Pós-venda: Indicações, avaliações positivas, de venda específicos...
vendas casadas, aumento de ticket médio,
7 - Pós-venda: Indicações, avaliações positivas,
transformar o cliente em freguês, growth
vendas casadas, aumento de ticket médio,
hacking etc.
transformar o cliente em freguês, growth
hacking etc.
Acredito que essa sequência 2 não se aplica
muito ao mercado de coaching, mas achei
Uma palestra ou curso já é considerado um
interessante pontuar aqui as diferenças entre
serviço, partindo do pressuposto que um item
as sequências a seguir...
físico não será entrega, então a sequência 3 já
demonstra diferenças nítidas sobre as outras
Sequência 3 = Serviço barato (dentista, por sequências para produtos. Mas a diferença
exemplo): maior fica para a próxima, para serviços de alto
valor:
1 - Posicionamento: Não existe muitas dúvidas
sobre o que você vende, nem as motivações
do cliente, então o posicionamento e a
diferenciação são mais relevantes do que o
planejamento em si.

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Sequência 4 = Serviço PREMIUM (coaching e
mentoria, por exemplo):
1 - Posicionamento e planejamento: Existem
dúvidas sobre o que você vende, sobre o tipo
de entrega, sobre a diferenciação, sobre as
motivações do cliente, então o mais comuns. Um truque interessante: Na
posicionamento e a diferenciação são tão
importantes quanto o planejamento.
2 - Prospecção: Aqui começa a ficar TUDO
diferente: Nosso cérebro NÃO COMPRA um
serviço de alto valor APENAS com uma copy
bem-feita! Você nunca viu alguém ligar para
um cirurgião plástico e comprá-lo apenas por
causa do site da clínica, viu?
3 - Desejos e necessidades: O que seu cliente
quer? O que ele PRECISA? São coisas distintas
e que ele provavelmente NÃO SABE
diferenciar, portanto cabe a você ensiná-lo
(talvez o ponto mais deferente entre todos os
tipos de venda acima).
4 - Apresentação e AUTORIDADE: Aqui você
soma o trio desejo + necessidade + oferta!
Aqui NÃO FUNCIONA a maioria dos gatilhos
de venda que te ensinaram. Aqui vem o mais
difícil: Convencer o cliente de que ele
realmente precisa do serviço, e que VOCÊ é o
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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
profissional mais qualificado para oferecer a
solução!
5 - Objeções: Tá caro? Já vi melhor? Será que
é pra mim? Tenha a resposta na ponta da
língua, e se for no site, ANTECIPE as objeções
minha mentoria de vendas Premium eu ensino
como NÃO negociar!
6 - Fechamento: Aqui a frase “Me dá seu
dinheiro” não funciona! Aqui o que vale é a
inversão de demanda! O único gatilho que
funciona se chama “gatilho da necessidade de
compra”!
7 - Pós-venda: Indicações, avaliações positivas,
vendas casadas, aumento de ticket médio,
transformar o cliente em freguês, growth
hacking etc.
Obviamente alguns os passos são iguais a
todas as sequências, mas estude qual se
encaixa melhor à sua entrega e verá uma
diferença substancial na atração e no
engajamento dos seus prospects!
Boa sorte e boas vendas!
Apresentação do Dossiê ☺Leia em 6 min.

Ontologia das Emoções

Mônica Alvarenga
Diretora do EvolUCoaching – programa de Teoria U
aplicada e presidente da Associação Brasileira de
Coaching Ontológico Profissional (ABCOP)
monica@monicaalvarenga.com

Ontológico Profissional (FICOP) que reuniu,

Quando fui convidada para coordenar esse
dossiê, meus olhos brilharam e senti no corpo
aquele entusiasmo que impulsiona bons
movimentos. O Coaching Ontológico, pra
mim, é tão importante e transformador que
dediquei a ele parte importante dos últimos 6
anos da minha vida com o trabalho para a
fundação da Associação Brasileira de
Coaching Ontológico Profissional, filiada a
uma entidade internacional. Esse movimento
nasceu de arrebatamento e crenças
compartilhadas no primeiro simpósio realizado
pela Federação Internacional de Coaching
pela primeira vez, em 16 anos, os pais do
Coaching Ontológico, Rafael Echeverria e Júlio
Olalla. Éramos um grupo de mais de 20
brasileiros nesse evento em Buenos Aires que,
movidos pela mesma emoção, começamos a
sonhar a possibilidade dessa disciplina, que
nos mobiliza pelo potencial de transformar
vidas e criar realidades, ter um espaço de
crescimento no Brasil.
Então, a emoção que senti com o convite para
contribuir com essa edição conecta-se àquela
que impulsionou o movimento que tenho a
honra de liderar, por ora, em nosso País.
Evidente que, tanto num caso quanto no outro,
a emoção foi seguida de muitas conversas que
consolidaram na linguagem, o que
desejávamos, e resultaram em coordenação
de ações. A ABCOP foi fundada em 20 de maio
de 2020. E o dossiê, você está tendo a
oportunidade de ler agora. Para mim,
coordenar este dossiê significa o coroamento
desse esforço em prol do Coaching
Ontológico: estamos criando uma realidade
onde a emoção revela possibilidades incríveis.
A emoção, sem dúvida, é o primeiro passo
para os impulsos de ações transformadoras.
Perceber a ontologia das emoções em nossas
vidas e na vida de nossos clientes permite que
realidades que antes não estavam presentes
possam se materializar. Estamos falando de

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
atuar a partir do futuro que emerge, citando
aqui uma metodologia que também me
mobiliza, que é a Teoria U. Trata-se dessa
conexão com o nosso ser integral que se dá,
num primeiro momento, a partir dessa
peculiaridade humana que norteia todas as
nossas interações conscientes ou não. Ainda
assim, falar de emoção não é tão trivial e ainda
causa estranheza em muitos âmbitos.
Nos processos de Coaching, contribuir para
que o cliente reconheça suas emoções permite
o acesso a isso que, na Teoria U, chamamos de
futuro emergente, ou seja, às diferentes
possibilidades que estão no campo. Devo
confessar que, no set de Coaching, trabalhar
com a emoção do cliente exige de mim maior
conexão com minhas próprias emoções.
Percebo, em mim e em meus colegas, que,
quanto maior nosso estado de presença,
maiores as possibilidades de o cliente com sua
emocionalidade, perceber essas
possibilidades.
Pensando no desenvolvimento contínuo que
essa prática demanda de nós, coaches,
aproveitei a experiência atual e bem-sucedida
do Grupo de Estudos Ontológicos (GEO), da
ABCOP, para organização desse dossiê. O
foco do GEO – em sua segunda edição - tem
sido as emoções sob a perspectiva de
diferentes autores. Não perdemos de vista
nosso compêndio principal, o livro “Ontologia
da linguagem”, de Rafael Echeverría, e
complementamos com outras leituras, para o
11
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
estudo e aprofundamento do tema. Através
dessa experiência coletiva, estamos evoluindo
em nossa prática profissional. Então, essa
edição é a possibilidade de compartilharmos
nossas descobertas com colegas de diferentes
formações, que seguem buscando a
excelência no afã de servir cada vez melhor e
efetivamente a outros seres humanos em seus
respectivos processos de desenvolvimento e
transformação.
Espero que você, leitor, encontre, na
contribuição de autores profissionais e
sensíveis, inspiração para experiências que
enriqueçam ainda mais o seu trabalho. Não
transformamos vidas: não temos esse poder. O
que fazemos é servir à vida e, com esse intuito,
lançamos mão de tudo o que somos, sabemos
e sentimos para apoiar nossos clientes em sua
jornada humana. Nessa edição, reunimos um
time de coaches experientes e reconhecidos
em sua área de atuação, que se prontificaram a
compartilhar tempo e conhecimento através
de artigos que desvendam a Ontologia das
Emoções. Sou muito grata a todos os que
aceitaram o convite e espero que você possa
desfrutar tanto quanto eu dessa cocriação.
Um abraço carinhoso,
Mônica Alvarenga
Dossiê 1 ☺ Leia em 13 min.

Falemos de Ontologia
Káritas Ribas
Fundadora do Appana Território de Aprendizagem
Karitas_ribas@appana.com.br

além de parcial e contextual, é um exercício

Muito do encantamento pelo mundo que não
reflexivo que se desdobra para além da
raro nos atravessa se dá pelo fato de, como
pergunta.
seres humanos, podermos vivenciá-lo e
experimentá-lo por meio dos sentidos e, ao
mesmo tempo, pensarmos sobre ele criando
Então, afinal, o que é ontologia?
explicações que se propõe a expressar o que
se produz em nós a partir das vivências. Cada vez que começamos a pensar sobre um
determinado tema ou conceito, é como se
É assim que as grandes narrativas são geradas,
estivéssemos diante de um rio que tem na
tanto aquelas que contam – pela ótica do
superfície sua área mais acessível, e que
narrador - algo que aconteceu, como fazem os
raramente se dá a conhecer ou expõe suas
historiadores e os jornalistas, como aquelas
belezas na primeira aproximação. Só
que criam ou incrementam a realidade, como
conseguiremos conhecer nuances, formatos,
as contadas pelos escritores, cujos estilos
velocidades, intensidades e profundidades, na
literários envolvem e apresentam realidades
experiência com suas águas, no contato, na
muitas vezes inimagináveis.
observação curiosa, na medida em que
A filosofia tem um papel que se assemelha e se entramos nele e sem que jamais sejamos
distingue neste contexto, pois, se de um lado capazes de descrever sua totalidade. Amanhã
também cria realidades muito concretas ele será outro e nossa próxima experiência
quando propõe um conceito - como por com ele será acrescida da experiência anterior,
exemplo o de justiça - ela assume para si, possibilitando novos olhares.
dentre tantas outras tarefas, a de aprofundar
A superfície tem seu valor, pois ela costuma ser
discussões que nem sempre têm espaços na
o que primeiramente encanta e seduz, abrindo
vida cotidiana, possibilitando a ampliação da
espaços para explorações. Ela pode ser
envergadura de nosso pensamento.
insuficiente para quem tem curiosidade e
consegue manter o interesse, mesmo depois
do primeiro contato. Para aquelas pessoas que
A importância das superfícies
não permitem que a proximidade ou que uma
Tenho a tarefa hercúlea de responder à única resposta, traduza uma multiplicidade.
pergunta pela ontologia, que farei de forma Somos muitos em nós, os rios são muitos em si.
bastante parcial, tanto pelo recorte temático
Com isso justifico que quando se diz que a
deste texto, como por sua extensão, além de
ontologia é o estudo do ser - como tantas vezes
também acreditar que toda resposta filosófica
ouvi responderem, com a certeza de quem

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
quer dar fim à pergunta – essa seja apenas uma
gota em um imenso oceano reflexivo, afinal
para que essa resposta faça sentido temos que
definir o que é “o ser” (esse que seria objeto de
estudo da ontologia) e ainda afirmar que ele
existe.
O que existe abaixo da superfície
Portanto, é desencorajador tentar responder à
pergunta “o que é a ontologia?”, por ser uma
pergunta demasiadamente ampla e também
por se tratar de uma meta-pergunta, ou seja,
aquela que pergunta o que é para quem,
justamente, tenta formular uma resposta sobre
o que é.
Para que se tenha uma compreensão sobre a
ontologia, é preciso sistematicamente dar
voltas reflexivas inserindo-a em um contexto
maior dos grandes temas de interesse do
filosofar, que ao longo do tempo foram se
tornando disciplinas filosóficas. Temas
relevantes e grandiosos como a epistemologia,
a política, a moral, a estética e a ética.
Cada grande tema se debruça sobre a tentativa
de responder algumas perguntas primordiais
como: o que é o belo, como podemos
conviver, como se conhece e o que devo fazer?
Nenhuma dessas perguntas será fácil ou
rapidamente respondida, sendo que as
reflexões sobre elas se entrelaçam.
A pergunta central da ontologia é: o que é?
Quando pergunto “o que é uma cadeira?”
estou perguntando por sua ontologia. A
resposta “uma cadeira é um objeto que serve
para nos sentarmos”, usa a utilidade do objeto
como seu fundamento.
Porém, se pergunto: “o que é um gato?”, talvez
já não consigamos responder por sua utilidade
e utilizaremos então a taxonomia biológica
para elaborar a resposta. Podemos perceber
desta feita que a resposta pela ontologia de
uma coisa diz o que ela é e principalmente, o
que ela não é. Traça os limites do que se inclui
e do que se exclui como aquela coisa,
13
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
conforme os critérios escolhidos, ou seja, se o
objeto não serve para nos sentarmos não é
cadeira e se o animal não pertencer à
determinada família, gênero e espécie não é
um gato.
Como começar a descer, a importância da
lentidão
Essa questão se torna um mais complexa
quando deslocamos a pergunta para o campo
do humano. O que pode ser o humano? Será
que o fato de pertencermos à uma família
taxonômica nos torna automaticamente
humanos? Se assim fosse, por que
precisaríamos falar sobre humanização (do
trabalho, das relações, da medicina)?
Um gato continua sendo gato, mesmo sendo
criado com cachorros desde seu nascimento,
sem nunca ter tido contato com outro gato. Um
gato nunca vai latir ou levantar a pata para fazer
xixi no pneu do nosso carro. Diferentemente
disso, um humano certamente não viverá ou se
comportará como um ser humano se não for
humanizado.
A densidade – ontologia do humano
O que humaniza o humano, o que faz um
humano ser o que é? Qual a ontologia do
humano?
Por milênios a humanidade se pergunta sobre
o que é, afinal, ser humano. Das respostas
dadas por Platão e Aristóteles, à refundação
dos limites do pensamento realizada por Kant
no século XIX, vimos várias ondas de reflexão
sobre o humano, esse observador que é, ao
mesmo tempo, constantemente observado;
um sujeito que tenta conhecer a si mesmo e,
portanto, torna-se objeto para seu saber:
“soberano submetido, espectador olhado”,
como (d)enunciou Foucault.
Cada onda lidou com diferentes problemas e,
para as novas respostas criadas,
descortinaram-se outras tantas dúvidas.
Deslocamos a pergunta sobre a definição do
humano (o que é o ser humano?) para o
problema sobre como (re)conhecer nossa
humanidade, o “modo de ser do humano” em
um domínio que lhe seja próprio e específico.
Nessa operação, ainda em curso, constatamos
que ser humano envolve, antes, um processo
de “humanização”.
A proposta aqui é a de apresentar as origens
do humano e das relações sociais sob a
perspectiva da biologia do conhecer, que
enfatiza a relevância do observador e a relação
entre a linguagem e o mundo em que vivemos,
isto é, a linguagem como fenômeno biológico-
relacional intrínseco à condição humana.
O pensamento do cientista chileno Humberto
Maturana guia os caminhos reflexivos para
pensarmos a natureza do humano e o que
significa “humanizar”, nesse contexto. Suas
teorias são provenientes de pesquisas no
campo das ciências naturais e são, ao mesmo
tempo, reflexões filosóficas.
Para problematizar a “humanização” de
atividades propriamente humanas, como as
práticas em saúde e as relações de trabalho
produtivo, é relevante fazermos emergir a
discussão sobre o que nos torna humanos, e
sobre os espaços relacionais que podem
autorizar e colaborar para a emergência do
que fortalece a existência humana. Em outras
palavras, nos resta testar quais são os limiares
para que as alterações em nossas estruturas, da
linguagem e do mundo, ainda constituam uma
organização humana; quais são as condições
de possibilidade para que o humano seja,
ainda e finalmente, humanizado.
que têm sido negados ou negligenciados, seja
como episódios transitórios, seja como
alienações culturais.
A vida humana é cultural, social, relacional.
Ocorre no entrelaçamento entre o linguajar -
modo que Humberto Maturana usa para
expressar a interação humana na linguagem - e
o emocionar. Dessa forma, viver em redes de
conversações adquire um aspecto central para
a criação e a manutenção do viver humano.
É inumana, portanto, a negação da alteridade
por meio de um modo de vida carente de uma
trama efetivamente dialógica. Ainda assim,
sendo biologicamente capaz de atos violentos
e extremos, o ser humano pode cultivar
conversações de agressão, guerra, ódio,
controle e obediência servil, gerando uma
cultura que alimenta esses domínios de ações
e o distancia de sua condição humana. A
preocupação dessa reflexão ética é a de
estabelecer a distinção entre um diálogo que
faz justiça ao ser autônomo e dialógico do
humano, e as outras interações que não são
celebradas em condições de simetria e de
reconhecimento do outro como verdadeiro
outro. Apreender essa distinção é investigar
um modo de enfrentar a vida que requer de
nós aprendizagem: aprender a ser humano,
humanizar o fazer(-se) humano.
Por ser, além de poiético, poético, o tema
comove e espanta por sua amplitude
transdisciplinar e por estabelecer um diálogo
estreito com a imensidão das pequenas coisas.

#ontologia #humanização
Na profundidade usamos outros sentidos
O modo de viver que adotamos, nossas
escolhas e não-escolhas, tem cobrado um alto
preço, e reclama nosso esforço de nos Photo by Allec Gomes on Unsplash
diferenciarmos por meio dos fundamentos
esquecidos do humano, dos fundamentos que
nos deram origem, como seres humanos, e

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Dossiê 2 ☺ Leia em 12 min.

Julgamento – Um caminho para as nossas

emoções
André Monc
Estilista de Pensamento & Coach Ontológico
Acreditado pela
ABCOP/FICOP. Atimizador na Atma Genus.
"Pai da Anna, ciclista e um eterno apaixonado
pela busca do humano.”
andre@atmagenus.com.br

Cristina Delabary
Coach associada a ABCOP e credenciada PCC pela ICF
(International Coach Federation).
“Prezo família, trabalho, voluntariado, autodesenvolvimento e a
liberdade. Princípios que se conectam com o meu propósito de
Desenvolvimento Humano”.
cristinadelabary@gmail.com

Sandra Regina de Lima

Mestre em Educação e Coach Ontológico Acreditado
pela ABCOP
"Uma apaixonada pela educação e que quer contribuir
para a felicidade da pessoa, com mudanças que
transformem o seu ser“.
sandralimacoach@gmail.com

tema muito relevante para o Coaching e, ao

Você já parou para pensar de que forma
acontece conosco de viver emoções
completamente diferentes, em simultâneo? Às
vezes, uma ideia, um pensamento ou até
mesmo uma fala solta, nos influencia
drasticamente ao ponto de nos bloquear para
agir diante de alguma situação da vida.
Foi o que aconteceu quando recebemos o
convite para escrever um artigo que
relacionasse as emoções humanas com os
julgamentos. Nós três, os autores, ficamos com
um misto de emoções que ressoaram ao
compartilharmos. Nos sentimos empolgados
com a possibilidade de contribuir com um
mesmo tempo, com medo diante da tarefa de
expor nossas ideias para o mundo.
Apesar de sermos pessoas completamente
diferentes, temos uma coisa em comum: o
receio de nos expor, acompanhado pelo
julgamento de não sermos bons escritores, em
especial em um contexto como esse, onde
nossas ideias alcançarão várias pessoas pelo
Brasil afora.
Por isso, queremos caminhar com você,
explorando esses dois domínios que são parte
íntima da nossa existência. Queremos fazer
isso de forma leve e prazerosa e, ao mesmo

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
tempo, disruptiva, desafiando o que
comumente pensamos sobre as emoções e os
julgamentos. E aí, topa vir com a gente?
Se seguiu lendo, é porque algo até aqui
chamou a atenção, então, “bora lá”!
Escolhemos iniciar essa conversa com uma
história que apoiará nosso entendimento
sobre os julgamentos e as emoções.
“Um executivo, demitido e em transição
de carreira, chega a uma sessão
descrevendo a seguinte cena: naquela
manhã o filho de nove anos pediu a ele
que fossem fazer um programa na
piscina. Com trajes de banho, estavam
no elevador animados para o programa.
O elevador para em um andar abaixo e
entra um vizinho com terno alinhado,
pasta executiva e celular nas mãos,
checando mensagens. Após ter descrito
a cena, disse: ‘Senti vergonha... Sou um
atoa, ocioso. Meu humor mudou e toda
a empolgação se diluiu naquela hora...
Os pensamentos se voltaram para as
entrevistas que não estavam
acontecendo, ações que estava
postergando.’”
Por que esse momento de felicidade e alegria
simplesmente desapareceu magicamente
numa fração de segundos? O leitor mais atento
pode perceber que o que aconteceu com o
nosso coachee, nessa história, é um clássico
caso de como um julgamento pode construir
ou destruir realidades. Os julgamentos são
constitutivos dos seres humanos e surgem
constantemente. Julgamos a nós mesmos, os
outros e as situações que vivemos.
Ops!
Dando um passinho atrás... Acreditamos
intensamente que a fala não apenas descreve
as coisas, ela efetivamente cria realidades. No
exemplo acima, percebe-se o quanto a
realidade do executivo se torna outra depois
do julgamento “atoa” e “ocioso”. O entusiasmo
inicial de passar algumas horas com o filho
desapareceu. Em outras palavras, esses
16
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
julgamentos fecharam a possibilidade de
desfrutar plenamente dos momentos
planejados com o filho.
Um julgamento é, de forma metafórica, a cor
que imprimimos nas experiências que temos a
toda hora. Várias e várias coisas vão acontecer
conosco; a diferença é de que lugar
observamos o que acontece. Talvez você já
tenha vivido algo semelhante, alguma situação
ruim ou difícil que foi transformada quando
você decidiu olhar para ela de outra forma. Na
prática, o que você fez foi modificar o
julgamento que estava fazendo. Nossa
dificuldade é que normalmente fazemos isso
de forma inconsciente.
Já sabemos que um julgamento dá a “cor” ao
que vivemos e que, a partir disso, vamos
construindo a nossa realidade. Mas tem mais
coisas envolvidas. Assim como qualquer ação,
o julgamento tem suas características próprias.
A primeira que queremos mostrar tem a ver
com autoridade. A depender da autoridade
que concedemos a alguém ou a alguma
situação, um julgamento pode ser válido ou
inválido.
Sempre será válido se você conceder
autoridade a quem emite o julgamento. Por
exemplo, um de nós, os autores, gosta muito
de ciclismo. Se alguma pessoa aleatória fala
algo sobre seus movimentos ao pedalar, soa
muito diferente do que a fala do seu treinador.
Um deles tem autoridade, o outro não.
Outra característica importante é que um
julgamento pode ser fundamentado ou não-
fundamentado. Existe uma sequência de
perguntas que você pode fazer para
fundamentar um julgamento que você faz ou
recebe. Por exemplo: O que lhe leva a afirmar
que é grosseiro? Que fatos garantem que não
vai conseguir? No caso do exemplo inicial,
muito provavelmente, ao se questionar e olhar
sua trajetória passada, teria chegado a encarar
sua condição de forma situacional
(preocupação com o desemprego),
ressignificando os rótulos citados.
Muitas vezes nossas ações são determinadas num fluxo contínuo e ininterrupto que
por julgamentos que não pertencem a nós conhecemos como emocionar.
mesmos, e sim ao contexto (cultura, família,
Ou seja, a cada momento da nossa vida
trabalho, religião, escola, política, idioma) em
estamos imersos em uma ou outra emoção
que vivemos. Nesse caso, arriscamos perder
que faz com que algumas possibilidades se
nossa autonomia e dignidade, vivendo de
abram e outras se fechem. No caso que
acordo com julgamentos que não nos
contamos no começo do texto: a possibilidade
pertencem.
de curtir um momento íntimo com o filho,
E aqui apontamos quatro riscos relacionados deixou de existir.
com a nossa identidade. Primeiro, quando não
cuidamos dos nossos próprios julgamentos,
podemos cair na inautenticidade. Nada alegra
mais do que julgamentos positivos e deprime
mais que os negativos.
Segundo, quando tratamos os julgamentos
como características permanentes. Passamos a
ser intolerantes e rígidos, restringindo as
possibilidades de vivermos uma vida mais
satisfatória.
Terceiro, quando não fundamentamos os
julgamentos, podemos nos deparar com
decepções permanentes ao se comparar com
os outros numa visão idealista e fictícia,
impossibilitando projetar futuros saudáveis.
Por último, quando passamos a não ver os
julgamentos. A partir daí, as coisas passam a
“ser como são”, ou seja, passamos a viver a vida
com um leque de opções fixas por essa É muito diferente se estamos andando
convicção. calmamente por um lugar que adoramos, que
pode ser uma trilha, uma biblioteca antiga,
Lembramos que, independentemente de o
uma praia no Nordeste ou um evento grande
julgamento ser fundamentado ou não, ele
com música alta e muitas pessoas; ou se
segue exercendo seu papel de criar, ou dar
estamos numa situação que avaliamos ser
cor, para a realidade que construímos. Além
ruim. Tudo muda! Esse é o papel das emoções
disso, os julgamentos têm uma dimensão
na nossa vida, elas criam possibilidades e
temporal. Baseiam-se em ações que ocorreram
impossibilidades de ação a todo instante. O
no passado, que fundamentam os juízos que
que somos capazes de fazer na raiva é bem
fazemos no presente e traçam nossa rota para
diferente do que somos capazes de fazer na
o futuro. Nessa perspectiva, o julgamento nos
alegria ou no erotismo, por exemplo.
ajuda a desenhar aprendizagens e evita que
nos tornemos prisioneiros do passado. O que observamos com muita frequência é
que em cada transição de um espaço
E como tudo isso se relaciona com a emoções?
emocional a outro, normalmente, tem um
O nosso espaço emocional ocorre nas
julgamento presente. E, não raro, eles caem na
conversas e relações que temos com as
nossa cegueira com frases do tipo: “As coisas
pessoas e com o nosso ambiente. Vivemos
são assim mesmo”, ou “Esse é o meu jeito, eu
transitando de um espaço desse para outro,
já me conheço”. Passamos a acreditar que

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
temos acesso especial à verdade. Esse vício emoções. São como uma bússola que orienta
nos dificulta ou impede de questionar (ou o nosso caminho e os nossos próprios
fundamentar) os julgamentos que fazemos padrões. Aprender a distinguir e examinar os
sempre, a todo tempo e que, de uma maneira julgamentos e sua relação com as emoções, é
bem prática, condiciona nossa qualidade de um poder para criamos os nossos futuros com
vida, incluindo nossas relações. mais clareza e satisfação.
Atualmente vivemos em um contexto Referências:
altamente dinâmico e acelerado, onde se
Rafael Echeverria – Ontologia del Linguaje,
busca respostas rápidas, mágicas, idealizadas;
cap. 4
resultados mais do que relações; falta escuta e
presença no nosso trajeto. Não enxergamos Fernando Flores- Conversaciones-para-la-
significado no que realmente nos importa, Acción
gerando uma crise de sentido e afetando
nossa saúde mental. Transitar neste cenário
com sanidade, passa por gerenciar nossas Foto de Pop & Zebra en Unsplash
emoções e realizar uma análise crítica de
nossos julgamentos.
Olhamos para os julgamentos como aliados
para aprendermos a cuidar das nossas

18
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Dossiê 3 ☺ Leia em 9 min.

Manejando Estados de Ânimo

Terezinha Camargo Lorenzon
É coach e facilitadora de processo de desenvolvimento de liderança
e equipes. Certificada em Habilidades Básicas para Navegar em
Estados de Ânimo. É entusiasmada pelo poder das dinâmicas
relacionais como meio para transformar a forma como convivemos.
tcamargoloren@gmail.com

Silvana Ribeiro
É coach ontológica e facilitadora de processos de
desenvolvimento humano e organizacional. Certificada
em Habilidades Básicas para Navegar em Estados de
Ânimo. É encantada com a dança que a ontologia traz
para o mundo relacional.
Silvannaribeiro@gmail.com

coloração que damos ao mundo que nos

Para falar sobre manejar estados de ânimo,
primeiro é importante entendermos a
distinção entre estados de ânimo e emoções.
Embora estejam diretamente relacionados, as
emoções são manifestações biológicas e
corporais decorrentes de experiências
especificas vivenciadas nas relações que
estabelecemos com o outro ou em
decorrência de fatos que atravessam nosso
cotidiano. Assim, as emoções tendem a ser
pontuais e passageiras. Já os estados de ânimo
surgem a partir do nosso cognitivo, ou seja, da
forma como pensamos ou refletimos sobre
algo, sendo mais permanentes, se configuram
como predisposições à ação ou não ação. Ou
seja, os Estados de Ânimo também podem nos
colocar em total letargia.
Fernando Flores, professor, pensador
contemporâneo e precursor da Ontologia da
Linguagem, aponta que os estados de ânimo
impregnam nossos mundos, são nossa sintonia
afetiva com nosso contexto vivido, seja no
âmbito individual ou coletivo. Eles são a
rodea.
Os estados de ânimo estão ancorados nos
nossos juízos, os quais se formam nas nossas
experiências. Geralmente se manifestam de
forma automática, ou seja, não somos
conscientes dos nossos estados de ânimo de
forma natural, por isso eles ajudam a moldar
nossa forma de estar no mundo e viver nossa
vida. Como dizemos no coaching ontológico,
é ele que dá a liga na coerência corpo, emoção
e linguagem. Sempre estamos em algum
estado de ânimo, sejam eles expansivos ou
restritivos.
Então, se queremos sustentar uma coerência
ontológica, ou seja, uma autenticidade, um ser
em constante transformação, o primeiro passo
é aprender a navegar pelos estados de ânimo.
Navegar, significa aprender a aprender a
navegação entre os estados de ânimo
restritivos, aqueles que limitam nossas ações,
para os expansivos, que nos tira dos nossos
aprisionamentos e nos apontam possibilidades
de ação. Esse aprendizado tem a ver com

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
desenvolver novas habilidades para
descontruir crenças e hábitos que adquirimos
a partir das nossas experiências passadas.
Os estados de ânimo nos informam sobre
possibilidades futuras, isto significa que
podemos vislumbrar ou não possibilidades
Como navegar por nossos Estados de Ânimo
Na formação Navegar Estados de Ânimo
(NEA), organizada pelo professor Fernando
Flores e sua equipe, aprendemos não só a
perceber e reconhecer os estados de ânimo
restritivos e expansivos, mas também a
desenvolver “musculatura” para sustentar
estados de ânimo expansivos, quando o nosso
cognitivo só consegue se mover em estados
de ânimo restritivos, fechando todas as
possibilidades de ação.
Da experiência vivenciada, apresentamos aqui
uma prática simples, mas profunda para ajudar
o coachee a liberar energias e gerar ações mais
favoráveis para obter o que deseja. Sugerimos
que o coach a pratique consigo mesmo
primeiramente para avaliar a aplicabilidade
com outras pessoas. Os passos são os
seguintes:
1 - Escolha uma situação na qual você
reconhece que poderá estar em um estado de
ânimo restritivo ou dificultador, escolha algo
que realmente seja importante para você.
Descreva de forma suscinta o contexto e as
pessoas envolvidas, talvez você até possa dar
um título para essa situação. Embora um
estado de ânimo possa surgir em diferentes
situações é importante você ter em mente uma
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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
para cuidar do que nos importa. Vejamos dois
exemplos de estados de ânimos expansivos e
restritivos, entendendo que eles se manifestam
nos mais variados contextos das relações
humanas.
situação específica, pois ao explorá-la você
descobrirá se o estado de ânimo está sendo
favorável ou desfavorável para obter o que é
importante para você.
2 - Identifique e nomeie em qual estado de
ânimo você se encontra nessa situação
3 - Explore um pouco mais seus julgamentos
ou juízos. Quais avaliações faço sobre essa
situação? Porque julgo esta situação dessa
maneira. Quais acontecimentos passados me
ensinaram a julgar essa situação dessa
maneira?
4 - O que é importante para mim nessa
situação? O que está em risco aqui?
5 - De que maneira esses julgamentos são úteis
para cuidar do que me importa?
6 - De que outra maneira eu poderia cuidar
disso que é importante para mim?
7 - Qual seria um novo estado de ânimo que
me abriria outras possibilidades?
8 - Como farei para cultivar esse novo estado
de ânimo? Como posso cultivar essa nova
disposição de ação?
9 - Qual será meu plano de ação para cuidar do
que é importante para mim nessa situação?
Especifique suas primeiras ações, colocando
datas para realizá-las.
Essa prática é bastante útil para treinarmos
nossa sensibilidade para nos tornarmos mais
conscientes dos nossos estados de ânimo, pois
como dissemos eles são estados automáticos
no nosso jeito de estar na vida. E nós coachs
sabemos que consciência gera escolha e
escolher novos jeitos e praticá-los, criam
hábitos.
De maneira resumida, navegar estados de
ânimo envolve quatro etapas básica:
1 - Identificar/ tornar-se consciente do estado
de ânimo restritivo
2 - Explorar o que é importante, o que nos
importa cuidar
3 - Identificar e eleger outro estado de ânimo
que seja expansivo
4 - Cultivar esse estado de ânimo expansivo
Cultivar é uma prática fundamental no
processo de Navegar Estados de Ânimo e essa
prática tem relação direta com a abertura para
aprender a aprender. Essa abertura pressupõe
que também existem predisposições
desfavoráveis ou que nos fecham ou nos
limitam.
Gloria Flores em seu livro Aprender a Aprender
y la Navegación de los Estados de Ánimo,
elenca de forma suscinta um quadro dos
estados de ânimo condizentes para o
aprendizado contínuo, que pode ser um bom
mapa para apoiarmos nossos coachees. Este
mapa segue os parâmetros da curva Dreyfus
de Aprendizagem, muito comum para nós
coachs.

gerando novos mundos para nós mesmos e

Quando falamos em aprender, nos alinhamos
para o nosso entorno.
com a essência do Coaching Ontológico, que
traz para o contexto do coaching uma
perspectiva de constante descoberta,
identificando estados de total cegueira para
descobertas profundas. Nesse processo,
aprendemos a desenvolver novas lentes que
nos possibilite olhar e interpretar o mundo,

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Referências:
Livro Aprender a Aprender y la Navegación de
los Estados de Ánimo – Gloria P. Flores
https://latam.pluralisticnetworks.com, fundada
Photo by Kees Streefkerk on Unsplash
em 2009 por PhD Fernando Flores Labra
Palavras chaves: estados de ânimo, ação,
emocionalidade, linguagem, corporalidade,
cuidar do que importa, atenção.

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Dossiê 4 ☺ Leia em 12 min.

A importância de perceber nossas Emoções e

Estados de Ânimo
Cárita Guedes
Psicóloga, Coach e Especialista em Desenvolvimento de
Pessoas:
caritaguedes@gmail.com

Lilian de Sousa Costa Pohl

Psicóloga Organizacional e Coach Ontológica
lilian.pohl@gmail.com

Roberto “Bob” Hirsch

Psicólogo Coach Ontológico,
Mentor e Supervisor de Coaches.
bobhirsch@opusinstituto.com.br
“Somos pessoas inspiradas pelo
potencial humano”

constitua os seres humanos como o tipo de ser

O Coaching Ontológico é um processo de
que somos, não podemos prescindir dos dois
aprendizagem transformacional. Nos permite
outros domínios primários em nossa
como observadores que somos, perceber
existência.” Sendo eles o domínio do corpo e o
quando alguém amplia a consciência sobre si
domínio da emocionalidade. Portanto, o que
e seu mundo e assim se transforma. Há um
acontece em um desses domínios tem forte
provérbio Hindu que diz “Nada se transformou.
influência nos demais. Ele reforça que
Somente eu me transformei. Portanto, tudo se
“Posturas físicas, emocionalidade e linguagem
transformou.” E esse é o principal
se comportam entre si de maneira congruente
direcionamento da linha ontológica na
e se influenciam mutuamente... Na medida em
interação de coaching, na qual, em um
que posturas físicas, emocionalidade e
processo dialógico, oportuniza-se ao ser
linguagem se correspondem, podemos
humano coachee, ter um olhar para dentro de
acessar cada um deles através dos demais.
si, conectando-se com o que é mais essencial,
Chamamos este processo de tradução de
ampliando a percepção de si e se
reconstrução”.
transformando.
Em outras palavras, há uma conexão entre a
O autor traz informações relevantes para uma
emoção, linguagem e postura física ou
melhor compreensão de como o ser humano
corporalidade, podendo haver impactos
pode realizar um processo reconstrutivo.
positivos ou negativos. E quando há
Echeverría diz que “embora a linguagem

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
compreensão sobre esses domínios abrem-se parâmetros que tal estado de ânimo determina
possibilidades de atuação para que mudanças em nós”.
aconteçam. Para o processo de coaching, é
Um exemplo: observar meu estado de ânimo
fundamental ao coach impulsionar o Ser,
quando estou no trabalho, ou com a minha
coachee, a entender seus domínios, impactos,
família, entre outras situações diferentes. Cada
ou seja, traduzir em consciência de si mesmo,
contexto se apresenta de uma maneira
além de perceber como pode realizar de fato
diferente. Posso estar relaxado em um, tenso
uma reconstrução efetiva.
em outro, ansioso, sereno, ...
Um exemplo de mudança de emoção, é
A emoção é transitória, depende de alguma
quando um cliente (coachee) contrata um
circunstância, já o estado de ânimo é
importante projeto, ou quando recebemos
permanente, uma coisa é eu estar triste um dia
aquela promoção esperada,
no meu trabalho por alguma
e que pode gerar boas
situação desafiadora, outra
emoções relacionadas ao
coisa é eu ir trabalhar triste
futuro, como otimismo,
todos os dias. Cabe
esperança, alegria etc. Outro
relembrar que não
exemplo é quando estamos
escolhemos nossas emoções,
com boas perspectivas no
porém podemos escolher
trabalho, mas ao invés de
como vamos agir frente a essa
crescimento há uma
emoção que se apresenta.
demissão inesperada, isso
Os estados de ânimo têm
pode gerar emoções como
forte influência, inclusive em
angústia, tristeza. Deste
grupos. Alguns exemplos:
modo, cada vez que há
lugares com alto índice de
mudança dentro do nosso
criminalidade, estados de
espaço de possibilidades,
ânimos em lugares de lazer
emoções são geradas.
onde se espera alegria do ambiente, entre
Para ampliar ainda mais a compreensão da outros.
emoção, também é trazido pelo Echeverría o
E a depender de como está o estado de ânimo,
conceito de “Estado de Ânimo”, que é
uma conversa pode ter um rumo, como pode
diferente do conceito de emoções. Os estados
ter outro. Uma conversa é sempre um
de ânimo vivem no contexto a partir do qual
entrelaçamento de dois fatores básicos:
atuamos. As emoções têm a ver com a forma
Linguagem e Emoções.
em que a ação modifica nosso horizonte de
possibilidades. Com os estados de ânimo, ao Geralmente, não há uma observação sobre os
contrário, nos ocupamos da forma em que o sentimentos, sobre “como estou”, “como
horizonte de possibilidades no qual nos chego para esta reunião”, “como a equipe se
encontramos, correspondente ao estado de sentiu com a decisão tomada”, “como me senti
ânimo em questão, condiciona nossas ações. na reunião familiar”, “como o liderado se sentiu
com o feedback concedido”, dentre várias
Ele diz que “Independentemente do lugar
situações.
onde nos encontramos e do que façamos, os
seres humanos, sempre estamos em algum Você se lembra de alguma situação na qual seu
estado de ânimo que, comumente, não estado de ânimo influenciou uma conversa
escolhemos e nem controlamos - com um cliente? Ou como impactou uma
simplesmente nos encontramos nele. Uma vez decisão tomada?
que estamos num determinado estado de
ânimo, nos comportamos dentro dos
24
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Quando há um diálogo, é fundamental se desempenhos e eles sabem que se os
assegurar que o estado de ânimo da conversa mudarem, podem mudar também o que
esteja coerente para conseguir o resultado poderiam alcançar. Quando queremos
esperado. Os estados de ânimo precedem a coordenar uma ação com outra pessoa,
ação. O autor relata que “Nossos estados de devemos nos perguntar se o estado de ânimo
ânimo são como lentes através das quais dessa pessoa é favorável ou não à ação
observamos o futuro. Os diferentes estados de projetada.
ânimo são diferentes aberturas em direção ao
Nossos estados de ânimo são como lentes
futuro. Se estivermos de bom humor, o futuro
através das quais observamos o futuro. Os
se verá brilhante. Se estivermos de mau humor,
diferentes estados de ânimo geram diferentes
o futuro se verá obscuro”.
aberturas em direção ao futuro. E apesar de
O ponto primordial para que haja uma não sermos responsáveis por produzir estados
mudança de estado de ânimo, é ativar o de ânimos, somos responsáveis por
“observador” que existe em você, sem juízos, permanecer nele.
sem pré-julgamentos. Incluindo a observação
Neste artigo foi falado sobre a conexão da
do corpo, pois a conexão entre a forma pela
emoção, linguagem e corpo, como o estado
qual o cérebro reconhece e utiliza o corpo
de ânimo pode influenciar fortemente a
como instrumento relacional com o mundo e a
direção de um caminho, podendo abrir novas
vida emocional é tão forte que se percebe o
possibilidades. E o quanto é importante ter
estado de ânimo de uma pessoa pelo simples
uma observação, sem juízo para que haja uma
fato de observar a postura de seu corpo.
ampliação e consciência do que pode ser feito.
Como Coach, é importante apoiar o cliente
O coaching ontológico utiliza de um estudo
(coachee) a identificar e redesenhar o seu
que vai além das técnicas e ferramentas, o
estado de ânimo. Há uma forte conexão entre
objetivo maior é o aprofundamento nas
os estados de ânimo e as possibilidades de
questões do “ser”, tendo uma relação de
ação, sendo que as conversas são ferramentas
conexão e de confiança com o cliente para
decisivas para desenhar um estado de ânimo.
gerar um aprendizado transformacional para
E pode-se compreender que a depender do si.
estado de ânimo em que cada um se encontra,
* Esse artigo foi construído com base em
há caminhos abertos e outros não. Não só
reflexões a partir de revisões bibliográficas,
temos estado de ânimo, como também “os
troca de saberes e de experiências, realizadas
estados de ânimo nos têm”. Os estados de
no Grupo de Estudos Ontológicos (GEO)
ânimo são predisposições recorrentes para
coordenado pela Associação Brasileira de
atuar nas que nos encontramos, antes de nos
Coaching Ontológico Profissional (ABCOP). O
ocuparmos com qualquer ação específica. Se
capítulo: “Emoções e Estado de Ânimo”, da
há desconfiança, por exemplo, as
obra do Dr. Rafael Echeverría, “Ontología del
possibilidades de conectar ações com outra
Lenguaje”, e foi nossa principal referência para
pessoa ficam minimizadas, mas se há um
o estudo realizado em grupo.
estado de entusiasmo, tal conexão de ações se
amplia.
Echeverría diz que “os estados de ânimo não Referência Bibliográfica:
apenas condicionam ações possíveis ou Ontología del Lenguaje de Dr. Rafael
impossíveis de realizar, mas também Echeverría
condicionam a maneira como efetuamos estas
ações. Os atletas sabem disso muito bem. Seus Palavras-chave: Emoções, Estado de Ânimo,
estados de ânimo determinam seus Linguagem, Corpo.

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Dossiê 5 ☺ Leia em 10 min.

Emoção e Linguagem – um olhar sobre o

convívio social.
Elizabeth Coronel
Psicóloga, Psicanalista e formada em Coaching
Ontológico pela Newfield Network. Dedicada ao
desenvolvimento Humano.
corobete@gmail.com

Luiz Cesar de Miranda

Consultor empresarial, administrador de empresas, Coach
Ontológico pela Newfield Network. Um aprendiz do
comportamento humano.
lcmira@gmail.com

Wlamir Stervid
Consultor empresarial, coach
ontológico pela Newfield Network.
Um amante da natureza.
wlamirstervid@gmail.com

racionais, somos seres movidos pela emoção.

Afinal, como a emoção pode interferir ou
Maturana afirma que "todo sistema racional
influenciar a nossa linguagem? Esta é uma
tem um fundamento emocional". Para ele
pergunta que começamos a refletir a partir da
biologicamente "as emoções são disposições
provocação feita pelo programa GEO - Grupo
corporais, dinâmicas que definem os
de Estudos Ontológicos, realizado pela
diferentes domínios de ação". Ou seja, se
ABCOP – Associação Brasileira de Coaching
mudamos as emoções, mudamos também as
Ontológico Profissional, neste ano de 2022.
ações, e consequentemente, teremos
Para chegarmos à resposta, tivemos como
resultados diferentes em nossa vida.
base conceitual o texto extraído do livro
“Emoções e Linguagem na Educação e na Como exemplo podemos imaginar uma
Política” do biólogo chileno Humberto situação em que um filho, que está com um
Maturana (2002), que nos subsidiou a abordar celular muito velho, espera ansioso pelo pai
alguns pontos sobre o entrelaçamento das para lhe pedir um celular novo. O filho já
emoções com a linguagem. construiu toda sua argumentação e necessita
do consentimento para a compra naquela
Para Maturana (2002), vivemos em uma cultura
noite, a última de uma promoção imperdível.
que desvaloriza as emoções. Além de sermos
Seu pai chega mais tarde do que o usual, com

26
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
um incrível mau humor. Um problema no
trabalho trouxe uma enorme dor de cabeça.
Ele nem ouve o filho e já diz que não vai ter
nenhuma despesa extra. Agora imaginemos se
o pai chegasse muito feliz por ter recebido
altos elogios de seu líder. Provavelmente ele
ouviria o filho, e quem sabe atenderia a seu
pedido.
Falamos como se o racional tivesse validade
universal. Maturana continua dizendo que
“todo sistema racional se baseia em premissas
ou noções fundamentais". Aceitamos essas
premissas porque queremos fazê-lo. Mas elas
não são sempre comuns a todos. Por isso, o
autor identifica dois tipos de discussão: a
lógica e a ideológica.
A discussão lógica se baseia em coerências
que são comuns a todos, ou quase todos. Por
exemplo, se alguém lhe diz que a terra é plana,
você terá muitas formas de comprovar o
contrário. Ou seja, haverá condições científicas
para comprovar que essa pessoa não está
correta. Será, portanto, uma divergência
lógica.
Já a discussão ideológica, se a crença da terra
plana é difundida em uma religião, à qual essa
pessoa participa, a divergência será
ideológica, já que nenhum argumento
derrubará as premissas que serão
27
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
apresentadas, visto que todos participam da
mesma opinião a respeito dessa mesma
crença. Portanto, na discussão ideológica que
premissas estão envolvidas? Segundo o autor,
"a aceitação apriorística das premissas que
constituem um domínio racional pertence ao
domínio da emoção, e não ao domínio
racional."
Para poder dizer que algo ou alguém está
equivocado, teria que poder afirmar o
verdadeiro, e para que minha afirmação do
verdadeiro fosse objetiva e, portanto, fundada
em uma realidade independente de mim, teria
que poder conhecer essa realidade.
Destacamos ainda, no texto, o conceito
apresentado de duas emoções pré-verbais.
Uma dessas emoções é o amor, essencial à
convivência humana, à construção de laços
colaborativos, mesmo na divergência.
Maturana completa dizendo que "somente se
muitas relações se derem na aceitação do
outro como legítimo outro, e, portanto, na
convivência e no respeito, é que minhas
conversações com esse outro se darão no
espaço das interações sociais.". A outra
emoção pré-verbal é a rejeição, que desvincula
porque rejeita o outro como legítimo outro na
convivência e é a raiz de todo o tipo de
intolerância e preconceito humano. Enquanto
o amor é uma emoção que agrega pois
constitui um espaço de interação, a rejeição
não permite a convivência visto que não
legitima o outro como tal.
Se o amor agrega e o a rejeição separa, é
possível dizer que um é o oposto do outro?
Para o autor essas duas emoções não são
opostas pelo fato de que a ausência de um não
leva a ausência do outro. Porém, ambos têm
como oposto a indiferença.
Dentro do espaço social e sob o olhar das
definições das emoções pré-verbais, Maturana
traz a discussão a respeito de algo muito
presente na vida do brasileiro ultimamente. A
democracia. Para ele, a democracia não deve
ser vista como uma luta, visto que na luta há
vencedores e derrotados, e não o
desaparecimento do inimigo. A vitória não é a irá interferir de forma direta não somente na
eliminação do seu oponente, mas sim dar um nossa linguagem, mas também no nosso
tempo para que ele se prepare para uma corpo. Antes de qualquer atitude precipitada
próxima luta. A tolerância é a negação do outro que poderá levar a um arrependimento no
suspensa temporariamente. futuro, vamos lembrar dos conceitos do
Maturana a respeito do amor e da democracia
Se queremos a democracia, queremos a
para que possamos guiar as nossas atitudes na
prática da convivência baseada na aceitação e
convivência social, para que possamos
no respeito recíproco em busca da
legitimar o outro como o outro que é, na sua
configuração de um mundo onde a pobreza e
verdade.
o abuso não surgem como modo legítimo de
viver. Finalizando, para o autor, "O entrelaçamento
da emoção e da linguagem é o conversar”.
Se almejamos a democracia, as ideologias
Nossas conversas de coaching ontológico
passam a ser diferentes modos de corrigir
estão baseadas nesse entrelaçamento,
diferentes erros para um projeto comum. As
trazendo o corpo como lugar privilegiado de
ideologias implicam em diversas
expressão da linguagem e da emoção. Se
conversações, distintas redes de
queremos entender as ações humanas, temos
coordenações emocionais e de ações, o que
que entender a emoção em que vive.
resulta em variadas distinções na tarefa de
realizar um projeto comum. Em outras
palavras, a existência de ideologias diversas é
Referências:
necessária para que consigamos olhar o ponto
de vista do outro, mesmo não concordando MATURANA, H. Emoções e Linguagem na
com ele, mas aceitando o outro como legítimo Educação e na Política. Belo Horizonte: UFMG,
outro. 2002.
Voltando para nossa pergunta inicial, como a
nossa emoção pode interferir na nossa Palavras-chave: Emoção; linguagem;
linguagem? Ou ainda melhor, como eu democracia; amor; convívio social; respeito.
reconheço as minhas próprias emoções e a
dos outros?
Dependendo da emoção em que habitamos Photo by Marek Studzinski on Unsplash
no momento, ela vai determinar a maneira
como vemos o mundo naquele instante e a
situação em que nos encontramos. Também

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Dossiê 6 ☺ Leia em 14 min.

A Neurociência dos Afetos

Eduardo Afonso
Designer Comportamental, coach ontológico e sócio da
Atma Genus e da Ontológica.
Eduardo.Afonso@atmagenus.com.br

"As melhores e mais belas coisas do mundo não

podem ser vistas nem tocadas - devem ser sentidas
com o coração." - Helen Keller

O PODER DA ONTOLOGIA DA LINGUAGEM Não tenho pretensões de formular soluções

A Ontologia da Linguagem foi um marco muito
significativo para minha vida nas suas diversas
dimensões, uma vez que todos meus papéis
foram questionados e revisados a partir desta
nova forma de observar meu mundo e meu
próprio observador.
Após algumas formações mais tradicionais em
coaching, me deparava sempre com algumas
inquietudes profissionais, pois todas as
intervenções mais potentes que realizava
transcendiam as soluções e ferramentas que
havia aprendido até então. Integrar
corporalidade e emocionalidade à minha
atuação como coach foi tão libertador que me
incentivou a continuar na investigação de
como nós, seres humanos, efetivamente
mudamos de comportamento.
Aproveitei essa energia e predisposição para
seguir pistas em novas frentes do
conhecimento, tais como economia
comportamental e neurociência, além de
conectá-las com fontes mais antigas como a
sabedoria dos povos originários, por exemplo,
de maneira a organizar minha particular forma
de ser-no-mundo.
que sirvam a todos, mas tenho compartilhado
com alegria muitos destes insights com
clientes, familiares e amigos.
Uma das inquietudes que nasceram de minhas
leituras sobre ontologia, biologia cultural e
neurociência é a nossa grande dificuldade de
efetivamente mudar um comportamento
indesejável ou ineficaz. Mesmo nos momentos
de maior compromisso e determinação,
parecia faltar algo para que eu realmente
viesse a me apropriar dos efeitos de uma
decisão importante. Me explico: Imagine que
você decida (com a ajuda de alguns exames
laboratoriais e diagnósticos médicos), mudar
sua alimentação para evitar riscos
cardiovasculares. Você sabe que antigos
hábitos como fumar demasiado, comer carnes
vermelhas diariamente em associação com
uma vida sedentária, devem ser alterados.
Mentalmente você não tem dúvidas dos
malefícios desta composição de fatores e ainda
tem uma linguagem positiva de futuro repetida
nas declarações de uma nova versão mais
saudável de você mesma. Tudo pronto, plano
nutricional impresso ao lado do seu
computador, tênis e roupas de corrida

29
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
adquiridos na Decathlon e já separados para
quando o despertador tocar no sábado às
06h00…
Caso você tenha um desfecho promissor para
compartilhar na continuidade desta história é
MUITO provável que você tenha caminhado
por outros senderos além das decisões
cognitivas, ou seja, conseguiu integrar
decisões e compromissos emocionais e os
transformou em novos hábitos, rotinas,
disciplinas ou rituais. Em outras palavras, sem
um mundo emocional e corporal adequados,
nada vai mudar.
O DESIGN COMPORTAMENTAL E A
NEUROCIÊNCIA
Já há alguns anos me apresento
profissionalmente como designer de
comportamentos, pois quaisquer intervenções
Num processo de Design Comportamental
buscar criar e garantir quais são os Próximos
Mínimos Passos Elegantes na direção do que
se pretende parecem valer mais do que
grandes saltos comportamentais aparentes,
que não se sustentam pelos desafios
emocionais envolvidos. Quando alcançamos
pequenas vitórias de forma recorrente,
retroalimentamos nosso sistema de
reconhecimento, gerando sentido,
compromisso e nova consciência sobre nossa
identidade. Em outras palavras, deixamos de
agir devido a quem éramos para nos
30
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
de coaching executivo, desenvolvimento de
líderes, formação ou aceleração de equipes ou
mesmo grandes intervenções culturais
parecem ter em comum a necessidade de
transformar os comportamentos das pessoas
envolvidas. Apesar de 90% de meus clientes
apresentarem como demanda a necessidade
de mudar o Mindset de seus profissionais,
tenho hoje convicção que a mudança
realmente ocorre no domínio emocional, que
nomeamos de Heartset.
Confirmando a potência da abordagem
ontológica, aprendi com a experiência, que o
domínio corporal - Bodyset é o que permitirá
a criação de estrutura e disciplina que
transformará esta mudança em novos hábitos e
rituais, permitindo que realizemos uma
mudança efetiva.
Entendo que a potência desta mudança efetiva
possa ser assim descrita:
transformarmos agora em novas pessoas, um
Ser Humano em contínua construção.
E a visão ontológica sobre emoções também
vem se transformando nos últimos anos, com o
advento da neurociência que demonstrou que
nossas reações emocionais não são tão
parecidas e previsíveis quanto Paul Ekman,
Susana Bloch e outros pesquisadores
acreditavam, nem tampouco geram os
mesmos padrões físicos de resposta, nem
mesmo ocorrem apenas em estruturas
específicas do cérebro, reagindo a gatilhos
externos determinados. Estas teorias são agora
contrapostas por cientistas como Lisa Feldman
Barrett e Leonard Mlodinow que usam FMRI
(imagem por ressonância magnética funcional)
para comprovar novas hipóteses onde os
afetos e emoções antecedem nosso processo
interpretativo, funcionando muitas vezes como
antecipação aos fenômenos que
posteriormente identificamos como gatilhos
desta experiência. E quais são as maiores
implicações destas descobertas? Lisa Feldman
e Leonard Mlodinow sugerem, através de
diagramas de circuitos neurais chamados
"conectomas", que temos mais autonomia e
possibilidade de intervenção do que
pensávamos, ou seja, nosso cérebro parece
atuar com protagonismo nos eventos que
enfrentamos, ainda que de forma tão rápida e
inconsciente que nos parece o contrário, que
estamos apenas reagindo ao que já nos
ocorreu, quase sempre vitimizados por um
gatilho para o qual nenhum ser humano tem
controle.
Reflitamos juntos: se raiva, medo, tristeza,
alegria, ternura e erotismo atingem de forma
similar qualquer ser humano, um mesmo
gatilho externo deveria provocar a mesma
reação, intensidade e padrão físico de resposta
em você e no Dalai Lama, por exemplo, ao
terem seus voos cancelados, seu carro
roubado ou mesmo ao receberem a notícia da
morte de um ente querido. A neurociência
demonstra agora que nosso cérebro busca
antecipar emocionalmente reações
aprendidas de situações anteriores, mas não
apenas com o que interpretamos naquela
ocasião, como também novas interpretações
que constituímos com nossa narrativa e
experiências corporais revisitadas.
A CIÊNCIA DOS AFETOS
Quando seu cérebro antecipa, por alguns
dados e referências vividas ou geneticamente
aprendidas, que você está em perigo físico
iminente, a resposta ao estresse o prepara para
o conflito. Ela aumenta a pressão arterial e a
frequência cardíaca, contrai os músculos, dilata
31
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
as pupilas para que você possa enxergar
melhor. Isso é útil se você estiver prestes a
enfrentar o ataque de hienas nas savanas dos
nossos ancestrais; mas já não é tão útil quando
o ataque é verbal e vindo do seu marido ou
colega de trabalho. E tem um custo: a resposta
ocorre pela liberação de hormônios do
estresse, que têm um efeito inflamatório já
vinculado a doenças cardiovasculares e outras
enfermidades, além de induzirem a tomadas
de decisão menos ousadas. Isso mesmo, em
situações de estresse avaliamos de forma
muito mais conservadora qualquer risco,
superestimando as chances de algo dar errado
no futuro.
E aí eu gostaria de concentrar meu convite de
reflexão, no desenho e coordenação de ações
futuras, campo de grande valor para nossa
atuação como coaches e facilitadores de
processos conversacionais. O estudo da
neurociência sobre o chamado AFETO
CENTRAL, coincide com grandes avanços que
Fernando Flores, talvez o primeiro idealizador
da Ontologia da Linguagem como abordagem
de intervenção, fez ao demonstrar o poder dos
nossos estados de ânimo em todas as áreas de
nossas vidas. Flores definiu o desenho
ontológico como tema primordial de seus
estudos, ou seja, o futuro de qualquer ser
humano é fortemente influenciado pela
navegação inconsciente que esta pessoa faz de conectar em alguma dimensão neste mesmo
seu afeto central. oceano emocional inconsciente.

Hoje sabemos que há duas grandes variáveis COMO UTILIZAR O CONHECIMENTO DO

que impactam o nosso Afeto Central, a AFETO CENTRAL?
valência e a excitação, sendo que a valência é
Como coaches vale apoiar nossos coachees a
a atribuição sútil que fazemos sobre o valor
realizarem reconstruções linguísticas das
daquela emoção ser "positiva" ou "negativa"
emoções, habitar determinados mundos
ou, em outras palavras, nos mobilizando para a
emocionais para dissolver ou aprender algo
ação ou nos retirando da vontade de agir. A
relevante desta experiência, bem como
valência não está ligada ao valor que damos
exercícios e compreensão das nossas
para as emoções em si, por exemplo podemos
disposições ao movimento para permitir
estar irritados e com valência positiva e outras
ampliar nossa compreensão sobre manejo de
pessoas atribuírem valência negativa para este
energia antes de agirmos.
mesmo estado emocional. A outra variável,
excitação, nos remete à intensidade deste
afeto e quanto de energia dedicaremos aos Me transformei num buscador de Afetos
seus impulsos. Centrais, meus, de meus clientes e das pessoas
Para ampliar nossa navegação neste tema, é que me importam, pois minha crença é que
fundamental compreendermos que apesar de identificar o estado de ânimo é um passo
possuirmos padrões únicos de reação fundamental para qualquer mudança na vida.
emocional e utilizarmos diferentes áreas do Num mundo tão sensível a fake News e
cérebro para processar as mesmas emoções, embates polarizados de opiniões, vale
fomos dotados também de habilidades sociais. mergulhar nas profundezas e incertezas destas
A capacidade de sentir, por exemplo, águas emocionais que navegamos sem
emoções a partir de nossa interpretação sobre consciência, mas com total impacto nas nossas
o que ocorre com as pessoas ao nosso redor decisões, das menores às mais
nos deu vantagens para nossa evolução como transformadoras de nossas vidas.
espécie, identificando perigos e
oportunidades através da observação do
comportamento e reações emocionais de E você, conhece o seu afeto central?
outras pessoas e suas consequências. Talvez
por isso a Pandemia do COVID-19 venha
potencializando o número de casos das
chamadas doenças neurológicas, tais como a Photo by Karly Santiago on Unsplash
depressão, burnout e síndromes de pânico.
Para cada nova pessoa que encontramos que
declara um cansaço existencial e um desânimo
para seguir trabalhando, tendemos a nos

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Dossiê 7 ☺ Leia em 12 min.

O desenho emocional e o poder

de criar futuro
Margarita Morales
Design e Coach Ontológico e sócia da Ontológica
O futuro é consequência não do passado, e, sim, de
nossas interpretações e ações.
margarita@ontologica.com.br

nosso mundo emocional influencia naquilo

Uma das principais aplicações de ganhar
competências no mundo emocional consiste
na possibilidade de que elas sirvam para criar
o modo de vida que acreditamos ser o melhor
para nós e para as pessoas com as quais
convivemos, seja ao interior de nossa família,
no time, na comunidade ou na sociedade. Isto
porque as emoções, entendemos, são
fundamento a partir do qual as ações
emergem, e em consequência, criamos
possibilidades, nossa identidade e a qualidade
dos relacionamentos.
No entanto, precisamos propor uma reflexão a
respeito do que entendemos como "poder de
criar futuro". Se olharmos para o passado,
temos a tendência de acreditar ser um só, pelo
fato de que está na história e já aconteceu.
Contudo, podemos verificar também que
dependendo do estado emocional com o qual
observamos o passado, selecionamos
experiências diferentes. Por exemplo, se estou
triste, evoco naturalmente momentos de perda
de algo importante; quando sinto medo,
lembro facilmente de situações de insegurança
ou ameaça e, se estou tranquila, rememoro
espontaneamente acontecimentos nos quais
estava relaxada, contemplativa e apreciando
mais o momento. Isto acontece porque o
que observamos e interpretamos.
Em relação ao presente, as emoções são
extremamente importantes na maneira como
concebo meu dia a dia, tomo decisões, crio
minha identidade e relacionamentos. Por
exemplo: pensemos num dia típico, com
muitas tarefas, vários compromissos e entregas
importantes. Se estou na emoção da confiança,
meu corpo está com atenção, entendo que
tudo que já foi coordenado, e estou aberta
para lidar com aquilo que sai do esperado,
tomo decisões e peço ajuda facilmente.
Diferente de quando estou na emoção de
ansiedade: meu corpo está tenso, monitoro os
detalhes das coordenações feitas, fico irritada
com qualquer coisa que saia do planejado,
gasto muita energia na tomada de decisões e
tenho receio de pedir ajuda, porque julgo que
fui incompetente ao não ter antecipado essa
situação. Assim, o estado emocional
sugestiona o corpo, a maneira como me julgo
e como me relaciono com as pessoas, e
principalmente, influencia minha interpretação
de como o mundo funciona.
Como âncoras invisíveis, estamos parados nas
interpretações e nos estados emocionais que
aprendemos em momentos marcantes do
passado, repetidos e sustentados no dia a dia

33
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
e nos condicionam ao que observamos como expressar? De que cuidar? Quais relações
realidade. Na Ontologia denominamos estas deseja cultivar e aprofundar? Importante:
interpretações como estados de ânimo. Trata- observe sua relação com o sistema. Como se
se de julgamentos mestres, que se conservam relaciona com o dinheiro? Em que investe?
como uma descrição da realidade, a partir da Como consome? E sua relação com a
qual nossas ações se realizam, porque natureza? Com a espiritualidade?
entendemos que o mundo é assim e é assim
quem acredito que sou. Um exemplo pode ser
a pessoa que vive no estado de ânimo do
ressentimento: é aquela que independente do
que vive no dia a dia, vê tanto o passado, o
presente, quanto o futuro, como restrito,
injusto, no qual se sente impotente e
inconformado. Ao permanecer durante muito
tempo no mesmo julgamento e estado
emocional, torna-se um modo de vida.
Como coaches ontológicos, nosso propósito é
impactar na visão positiva do mundo, no
sentido de tomar consciência de nosso poder
de criar realidades e futuros. Não estou
fazendo apelo ao paradigma da positividade,
no qual acreditamos que podemos tudo se
assim desejarmos e trabalharmos por isso, mas
de que podemos, sim, transformar nossas
interpretações e ações para expandir nossas Se você não enxerga futuros possíveis, bons e
possibilidades de ação. A Ontologia oferece o saudáveis, talvez seja porque tenha estado
caminho da reflexão na ação. A seguir, imerso em contextos onde se vive a resignação
apresento três passos que ajudam nesse ou o ressentimento como estados de ânimo.
processo de soltar essas âncoras e transformar Ou porque acredita que olhar para mundos
as interpretações em velas, que nos desejáveis seja algo utópico, idealizado, então,
impulsionam e levam na direção de censuramos. Mas, o convite é nos colocar na
reconhecer nosso poder transformador. curiosidade, imaginar e nos conectar com
experiências de vida que já estão
acontecendo. O futuro já está aqui e podemos
Passo 1: Começar a imaginar futuros ser espectadores desses novos mundos. Abra
desejáveis. conversações, vá ao encontro do diferente, das
novas tendências.
Ainda que nossos desejos também estejam
condicionados pelas âncoras interpretativas,
podemos começar sendo curiosos e investigar Passo 2: Desenhe suas ações e emoções
tanto dentro, quanto fora de nós, os futuros conforme o futuro desejado.
desejáveis para nosso viver. O que gostaria de
viver em seu futuro? Quais as características Para mudar os estados de ânimo, ou seja,
desse futuro? Observe isto em relação à sua interpretações que nos ancoram, é muito
identidade: quem deseja ser? Quais importante começar a desenhar e nutrir novas
comportamentos gostaria de manifestar? Você ações. As ações são o caminho para a
pode também imaginar suas relações transformação. Atue e experimente, e se
profissionais ou afetivas, como gostaria de se surpreenda com novos resultados. Se, por

34
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
exemplo, você observar que o seu estado de
ânimo atual é o medo, experimente agir com
coragem, corra alguns pequenos riscos,
expresse ou empreenda algo novo. Se se
reconhece com um estado de ânimo de
desesperança, experimente ser a esperança
para outros, visite lugares ou pessoas que
passam por dificuldades extremas e leve um
acalento, converse com pessoas que atuam
com compromisso e entusiasmo. Ações como
estas geram dois possíveis resultados: você se
encanta com suas pequenas conquistas e
descobertas. Vai despertando sua força de
vontade para conhecer o novo, correr novos
riscos, um pouco maiores; ou, vai gatilhar seus
maiores temores, tirar você da sua zona de
conforto e escutar ainda mais seus receios.
Ambos resultados são interessantes, escute-os.
Procure acompanhamento de um coach ou um
terapeuta e se aprofunde nessas situações.
Mudar e se transformar é difícil, e nos cabe
enfrentar essas dificuldades.
O desenho emocional consiste em intervir,
premeditadamente, em nosso viver, para
experimentar novas experiências. Uma das
bases do design ontológico(1) consiste em nos
darmos conta de que aquilo que desenhamos,
nos desenha de volta. Embeleze seu espaço
físico, para que te traga maior tranquilidade e
presença. Projete suas práticas cotidianas,
transforme-os em rituais, algo belo e
cuidadoso. Construa e cultive seus
relacionamentos profissionais e afetivos,
aprofunde na criação da confiança e observe
seus espaços de bem-estar e espontaneidade.
Cuide do que nutre você, de seu alimento
físico, emocional e espiritual. Exponha-se a
momentos em meio à natureza, contemple,
observe, deixando-se transformar por ela.
Sugestões como estas provocam
transformações, criam repertórios para o
corpo, a emoção e o pensamento.
Passo 3: Atualize suas interpretações
35
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Questionar e hesitar são comportamentos que
nem sempre são acolhidos, mas fundamentais
nesta etapa para a transformação. Será que
minha maneira de observar o mundo até agora
se sustenta? Minhas reações correspondem ao
que está de fato acontecendo, ou são
respostas automáticas vindas do passado?
Atualizar significa colocar em xeque os
julgamentos e preconceitos que carregamos
sobre nós mesmos e sobre o mundo.
Precisamos começar a coletar novas evidências
que nos mostram alternativas ao que vivemos
como real. Interpelar nossos preconceitos, seja
com pessoas, comportamentos ou
experiências que julgamos incorretas. Na
escuta profunda, no olhar próximo, os
preconceitos e as supostas verdades desabam.
Como seres humanos, temos essa maravilhosa
possibilidade de poder escolher novas
interpretações, que nos abrem maiores
perspectivas e que, como velas, nos
impulsionam em direção ao futuro que
desejamos criar. Abrir uma pequena fresta de
dúvida em nossas certezas, de maneira que
novos ventos começam a soprar nossas velas.
A partir da perspectiva ontológica, não há uma
realidade fixa e imutável, mas tantas realidades
quanto observadores existirem. Nós que
damos sentido ao que nos acontece, que
criamos nossas verdades e os cenários nos
quais construímos nossa vida, e o mais
potente, podem ser reconstruídas também.
Em suma, cabe destacar que, em relação ao
futuro, temos internamente a tendência a
acreditar que o futuro está lá, em outro lugar
diferente de aqui, consequência natural do
passado, ainda que seja extremamente
mutável e complexo. Mas, o futuro que
imaginamos já está aqui, há sinais e tendências
de um porvir caótico, veloz e disruptivo. Tanto
nós, como pessoas, quanto as organizações,
precisamos entender que o futuro é
consequência não do passado, e, sim, de
nossas interpretações e ações. Cabe-nos
compreender com o que se conectar, o que faz
sentido e como estar em prontidão para criar
futuros desejados, bons, para nós, e para o
mundo. 1 - Linha de atuação que desenvolvemos na
Ontológica, www.ontologica.com.br

Palavras-chave:
Foto de Matteo Ulisse en Unsplash
coaching, coaching ontológico, desenho
emocional, design emocional, estados de
ânimo, criação de futuro, design ontológico.

36
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Observatório do Coaching ☺ Leia em 23 min.

A Tríade Sombria no Coachee e seu impacto

na atuação do Coach
Rosa R. Krausz
Coach Executivo e Empresarial Didata (EE)
Supervisão e Orientação de Coaches EE
Caminhando para o Futuro
rokra@terra.com.br

“Coach, faça coaching comigo, se for capaz!”

Diller, S.J.,Frey, D. e Jonas,E. (2021a)

autoimagem exagerada, Maquiavelismo como

Poucas ainda são as pesquisas sistemáticas
disponíveis que investigam como
clientes/coachees com níveis elevados de
Tríade Sombria (narcisismo, Maquiavelismo e
psicopatia sub clínicos) (Paulhus e Williams,
2002) impactam o coach e,
consequentemente, o processo de coaching e
seus resultados.
Se considerarmos o caso específico do
Coaching Executivo, trata-se de uma área de
aplicação de coaching voltada para pessoas
que ocupam posições de liderança nas
organizações e cujo poder de decisão e modus
operandi tendem a afetar o clima e a cultura
organizacional, o comportamento dos
colaboradores, bem como os resultados de
intervenções que buscam alterar algum
aspecto do status quo.
Como ressalta Paulhus (2014), ao descrever os
traços da Tríade Sombria (narcisismo,
Maquiavelismo e psicopatia) estes são
constructos distintos que se sobrepõem e
podem ser considerados “sombrios” em
função de seu baixo valor de empatia e ética.
Descreve estes traços de forma sumária como
“narcisismo pode ser descrito como uma
uma motivação extrema por poder e
psicopatia como uma elevada impulsividade
na busca de sensações de forma subclínica.”
Convém ressaltar, entretanto, que tais
descrições não constituem diagnóstico de
natureza clínica.
Lideranças com tais traços poderão afetar
também os padrões de ética praticados, a
qualidade da supervisão, estimular assédio e
conflitos, impactando a organização como um
todo ao contaminar os relacionamentos, afetar
o desempenho e o nível de confiança entre os
colaboradores.
Como indica a investigação realizada por
Pelster, Hoffman et al. (2021) com 412 gestores
de risco financeiro, os que apresentaram traços
de Tríade Sombria de personalidade
apresentaram maior probabilidade de
envolverem-se em ações de risco do que os
que não tem estes traços.
Diller, Czibor, et al. (2021, p. 114) constataram
que “quanto mais elevado o nível de liderança,
mais alto era o nível da tríade sombria do líder”,
o que indica uma maior probabilidade de
haver clientes/coachees em posições de

37
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
liderança com traços de tríade sombria. Em
assim sendo, é provável que a demanda por
coaching executivo tenderá a crescer, pois boa
parte dos clientes com tríade sombria tem se
mostrado disposta a participar deste processo.
Uma pesquisa interessante aborda de forma
não convencional a relação entre
“maximização de ganhos pessoais e
empresariais e traços moderados de Tríade
Sombria (D’Souza,M. F., G. F. de Lima, D. N.
Jones e J. R.Carré, 2019). Como afirmam os
autores, (p. 1) “Trata-se de uma pesquisa
empírico -teórica, realizada com 263 gerentes”
(da área contábil) via questionário do tipo
autorrelato.
Os resultados obtidos sinalizam que:
* Gerentes com traços moderados de
Psicopatia evidenciaram menor disposição
para maximizar ganhos por meio de
manipulação de resultados.
* Gerentes com traços moderados de
Maquiavelismo evidenciaram maior disposição
a maximizar ganhos por meio de manipulação
de resultados.
* O efeito combinado dos três traços da Tríade
Sombria foi significativo e positivo com a
maximização oportunística de ganhos.
* Considerando-se que os Traços moderados
do Maquiavelismo se apresentaram mais
próximos dos Traços altos, poder-se-ia inferir
que há maior tendência dos gerentes
pesquisados manifestarem atitudes
oportunistas voltadas para objetivos e metas
pessoais.
* Considerando-se que os traços moderados
da Psicopatia se mostraram mais próximos dos
traços baixos, poder-se-ia inferir que há menor
tendência dos gestores pesquisados
maximizarem ganhos pela manipulação de
resultados.
Por tratar-se de uma pesquisa que foca
profissionais da área contábil, por sua própria
natureza complexa e delicada por envolver
38
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
questões de ética profissional, os resultados
indicam que os efeitos da Tríade Sombria na
postura dos participantes parecem não
apresentar diferenças significativas em relação
à postura das lideranças nos processos de
coaching.
Os resultados obtidos pela referida
investigação sinalizam que, mesmo em
contextos diferentes e com objetivos variados,
os efeitos da Tríade Obscura tendem a afetar
a atuação das pessoas. Como ressaltam os
autores da pesquisa ( D’Souza et al, 2019, p.
135), “infere-se que as personalidades
sombrias deixam os indivíduos vulneráveis à
lapsos éticos que podem comprometer uma
empresa no curto ou longo prazo”.
No caso específico do coaching e da atuação
do Coach Executivo, fica clara a
responsabilidade que cabe a este profissional
na condução de processos de coaching que
envolvem, além de aspectos de ordem
estritamente profissional, voltados para
resultados, questões de natureza moral, ética e
legal.
O crescente interesse sobre a Tríade Obscura,
suas características, seus efeitos e seu impacto
nos processos de Coaching Executivo, trazem
um novo desafio para os que atuam na área,
revelando a existência de aspectos que, apesar
se sua importância, nem sempre tem sido
devidamente abordados.
Os dados disponíveis indicam que:
* Pesquisas recentes têm identificado que os
traços da Tríade Obscura tendem a ser mais
frequentes entre os que ocupam cargos de
liderança nas organizações.
* Há uma demanda crescente de processos de
Coaching para altos executivos.
* Coaching Executivo permanece como um
campo de atividade aberto, sem pré-
requisitos, sem regulamentação, sem
entidades formalmente reconhecidas de
formação.
* Inúmeras empresas têm sido prejudicadas * Considera o nível de coachabilidade do
em função de decisões coachee.
desonestas/inadequadas de executivos que
* Utiliza a supervisão como uma das formas de
afetam as organizações.
aprendizagem contínua.
Estarão os coaches executivos
* Estabelece contratos claros e coerentes de
adequadamente preparados para
trabalho com o coachee e demais envolvidos.
identificar/atender casos de traços da Tríade
Sombria em ocupantes de cargos elevados de
liderança nas organizações ? Trata-se de uma atividade multifacetada que
Uma análise sumária do estado da arte do demanda formação específica, atualização
coaching executivo define e preconiza constante, equilíbrio interno e aptidão para
inúmeros aspectos que compõem o perfil de acompanhar o processo de transformação do
um coach executivo competente. Dentre estes mundo empresarial, os avanços do
citamos: conhecimento humano que possibilitam
identificar fatores que interferem diretamente
* Formação em Coaching Executivo e
na eficácia dos processos de coaching
Empresarial ministrado por entidades de
executivo como é o caso da Tríade Sombria.
idoneidade técnica e ética reconhecidas pela
comunidade profissional. Como lembram Grant et al. (2010) “a
identificação das competências essenciais de
* Credibilidade e coerência entre discurso e
coaches efetivos é importante para a formação
ação
e o treinamento e houve inúmeras tentativas de
* Capacidade de observação identificar estes comportamentos, habilidades
e atributos num modelo de competência”
* Habilidade relacional pautada pela ética
pessoal e profissional. Para Linder-Pelz (2014, p.47), “competências
resultam de experiencias integrativas de
* Preservação da integridade do coachee.
aprendizagem nas quais conhecimento,
(sigilo, respeito, apoio, segurança psicológica)
perícia e habilidades interagem”.
* Familiaridade com o ambiente Competências constituem uma combinação
organizacional destes fatores necessários para executar uma
* Neutralidade e habilidade para evitar jogos atividade específica.
de poder e interesses alheios ao processo de A literatura especializada apresenta diferentes
coaching. competências, atributos, comportamentos
* Estabelecimento de contratos claros de considerados como características que um
relacionamentos com coachees e demais coach competente, tanto do ponto pessoal,
envolvidos no processo de Coaching como da perspectiva da expertise técnica.

* Destreza intuitiva Para Hargrove (1995, p. 16) o coach é

“construtor de visão e um escultor de valores”.
* Autoconhecimento Segundo O’Neill (2.000, p. 173, ) é alguém
* Expertise e competência técnica que é um bom ouvinte, capaz de apoiar e
desafiar o coachee, além de buscar resultados
* Não diretividade e permitir que as pessoas criem o seu próprio
* Escuta ativa sucesso. Whitmore (2004, pg. 41) cita, entre
outras, características como paciência,
* Voltado para resultados perceptividade, expertise, confiabilidade e
atenção plena.

39
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Entendemos que passadas mais de duas
décadas, as propostas continuam mantendo
sua validade, apesar das radicais mudanças
que nos trouxeram para a era da 4ª. revolução.
No caso específico do Coaching Executivo e
Empresarial os avanços do conhecimento
impactaram o contexto empresarial alterando
profundamente as relações entre os que
ocupam posições de liderança e seus
respectivos colaboradores, bem como o
modus operandi das organizações. Estas
condições têm demandado mais flexibilidade,
agilidade, versatilidade, distribuição de poder
de decisão e transparência, entre outras.
Como já foi mencionado, a incidência da
Tríade Sombria entre os ocupantes de níveis
elevados de liderança tende a aumentar a
demanda por processos de coaching
executivo, exigindo expertise e prontidão dos
profissionais que atuam nesta área.
Pergunta-se:
* Estarão os Coaches executivos conscientes
dos efeitos negativos da Tríade Sombria nos
processos de coaching, no coachee e na sua
própria atuação?
* Estarão os Coaches Executivos preparados
para identificar e lidar com coachees que
apresentam traços da Tríade Sombria?
Pouco se sabe ainda sobre o impacto da Tríade
Sombria nos Coaches Executivos e como estas
influenciam os processos de coaching e seus
resultados.
Diller et all. (2021 Apendix B) numa pesquisa
realizada com 64 coaches levantaram as
estratégias que não obtiveram sucesso nos
processos de coaching com coachees que
apresentavam traços da Tríade Sombria . Estes
clientes foram caracterizados como
apresentando traços de narcisismo (57%),
psicopatia (17%) e Maquiavelismo (10%). Os
restantes 16% apresentavam mais de um traço.
Os clientes “narcisistas foram descritos como
autocentrados e sensíveis a críticas”, os
considerados com psicopatia foram descritos
como “impulsivos e insensíveis” e os
relacionados ao Maquiavelismo descritos
como “motivados pelo poder e por seu
comportamento estratégico.”(Diller et al.,
2021, p. 114).
Os autores abordam também uma questão
ainda pouco mencionado na literatura
especializada, isto é, que estratégias usar com
clientes que manifestam a Tríade Sombria em
processos de Coaching Executivo.
Segundo a percepção dos coaches que
participaram da citada investigação, (Diller et
al., 2021, p. 119) verificou-se que as estratégias
mais bem sucedidas foram:
- No caso do narcisismo: demonstrar
apreciação, elevar o nível de confiança,
espelhar o comportamento do cliente.
- No caso do Maquiavelismo: confrontar o
coachee, dar feedback para o cliente, dar
espaço para a autorreflexão do coachee.
- No caso de psicopatia: demonstrar empatia
pelo coachee, dar espaço para a autorreflexão
do coachee, espelhar o comportamento do
coachee.
Entretanto, observam (Diller et al., 2021 p.
129). que “as listas das estratégias que deram
certo e as que não deram certo apresentam
uma ampla variação/dispersão e várias
contradizem-se entre si, não deixando claro em
que, de fato, estas poderiam ser produtivas”
(pg 120). Além disso, convém ter em mente
que se trata-se de uma visão unilateral do
coach.
Dentre as estratégias utilizadas pelos coaches
que não deram certo, as mais citadas foram:

40
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Dar espaço para o cliente, confrontação do
cliente, demonstrar empatia com o cliente,
ensinar o cliente, exercer pressão sobre o
cliente, reformular a abordagem.
Investigações sobre a Tríade Sombria em
coaching tendem a focar a percepção do
coach, uma abordagem limitada que, na
prática, desconsidera algumas variáveis
intervenientes tais como a percepção do
coachee, a influência do contexto, o nível de
coachabilidade do coachee, a capacidade do
coach de identificar os traços da Tríade
Sombria no Coachee e em si mesmo e a
incidência da Tríade segundo o gênero do
Coach e do Coachee.
A cultura da empresa, por sua vez, tende a
modelar/incentivar certos tipos de
comportamento nos níveis mais elevados de
liderança relacionados a valores e princípios
de ética profissional. Ambientes competitivos e
individualistas poderão estimular
manifestação de traços da Tríade Sombria.
Dentre as medidas preventivas que visam
minimizar os efeitos negativos da Tríade
Sombria
no Coach lembramos:
# Atualização e desenvolvimento contínuo do
coach
Podemos considerar o Coach Executivo como
um “eterno aprendiz¨” (Krausz, 2020) Coaching
Executivo, em particular, é uma área que tem
se beneficiado da expansão das ciências
sociais, trazendo uma visão renovada sobre as
variáveis contextuais que intervêm no
comportamento humano. Reconhece-se a
importância do relacionamento
coach/coachee/stakeholders, bem como da
cultura organizacional, na manifestação, ou
não, dos traços da Tríade Sombria. Daí a
importância do autoconhecimento e disponíveis tem demonstrado que a Tríade
capacidade de observação como
componentes essenciais da expertise de um
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Coach Executivo atuando em sistemas sociais
complexos e dinâmicos como são as
organizações produtoras de bens e serviços.
# Supervisão
É um recurso precioso, porém subutilizado por
uma parte considerável dos Coaches . Uma
questão que mereceria, especialmente em
nosso país, uma análise criteriosa de suas
eventuais causas, já que é uma prática de
caráter preventivo e de aprendizagem
contínua, beneficiando o coach, os coachees e
as organizações clientes.
# Objetivos do processo de Coaching
Ter sempre presente que Coaching Executivo
não é panaceia. Trata-se de uma intervenção
caráter Individual ou grupal, dependendo das
questões a serem equacionadas e dos
objetivos do processo de coaching. No caso
de traços acentuados da Tríade Sombria “as
intervenções a nível individual tais como
a coaching poderão não ser úteis” (Diller et al.,
2021, p.126).
# Relação Contratual
Um recurso precioso de caráter preventivo que
desencoraja certas manifestações da Tríade
Sombria. Contratos de trabalho com o
coachee e demais envolvidos contribuem para
clarificar o papel de cada um no processo de
Coaching Executivo, evitando os jogos de
poder e tentativas de manipulação.
Como ressaltam D’Souza et al. (2019, p. 135) a
presença de traços da Tríade Sombria no
ambiente organizacional tende a “tornar as
pessoas mais vulneráveis a lapsos éticos” fator
este poderá comprometer a estabilidade da
empresa.
Os levantamentos, pesquisas e estudos
Sombria representa um fator de risco nos
processos de coaching executivo.
41
Tal constatação indica a necessidade dos
Coaches Executivos estarem capacitados,
pessoal e profissionalmente, para identificar os
traços da Tríade Sombria e tomar as medidas
necessárias que lhes cabem para lidar de
forma construtiva com esta situação.
A identificação precoce da Tríade Sombria é
uma alternativa de natureza preventiva que
beneficia diretamente o Coach Executivo,
expandindo seu autoconhecimento, sua
expertise e sua eficácia. Beneficia também o
coachee ao minimizar sua vulnerabilidade e
minimiza os efeitos negativos que impactam a
organização como um todo.
Como ressaltam Schiemann e Jonas (2020,
p.251), “pessoas que apresentam níveis
elevados de traços da Tríade Sombria podem
gerar consequências desastrosas para uma
organização”
Lembram, entretanto, que “ por ser Coaching
uma forma de desenvolvimento pessoal de
caráter individual, esta intervenção poderá,
talvez, apresentar um elevado potencial de
transformação”
Referências
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me if you can! Dark triad clientes, their effect on
coaches, and how coaches deal with them.
Coaching: An International Journal of Theory,
Research and Practice, vol 14, (2)
Diller, S.J., Czibor, A., Zsolt, P.S., Restás, P. e
Jonas, E. , Frey, D. (2021b) The positive
connection between dark triad traits and
leadership levels in self-and Other-ratings.
Leadership, Education, Personality: An
Interdisciplinary Journal 3, November, p.117-
131
D’Souza, M.F., Jones, D.N., Lima, G.S.F. e
Carre, J. (2019). Eu ganho, a empresa ganha ou
42
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
ganhamos juntos? Traços moderados do Dark
Triad e a maximização dos lucros. Revista
Contabilidade e Finanças, Junho.
https://www.researchgate.net/publication/351
607380
Hargrove, R. (1995). Masterful Coaching.
Jossey-Bass: San Francisco, CA.
Grant, A.M., Passmore, J., Cavanagh, M.J. e
Parker, H. (2010). The state of play of coaching
today. International Review of Industrial and
Organizational Psychology, 25.
Linder-Pelz, S. (2014). Steps towards the
Benchmarking of Coaches’ Skills. International
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Mentoring, vol 12(1).
O’Neill, M. B. (2.000). Executive Coaching with
Backbone and Heart. Jossey-Bass Publ. San
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Paulhus, D.L. e Williams, K.M. (2002). The Dark
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narcisismmachiavellianism na d psychopathy.
Journal of Research in Personality, 36(6)
https://doi.org/10.1016/s0092-
6566(02)00505-6
Paulhus, D.L. (2014).Towards a taxonomy of
dark personalities. Current Directions of
Psychological Science 23:421-426.
Pelster, M., Hofmann, A., Klocke, N. e Warkulat,
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Hedging. Journal of Business Ethics
Novembro, 2021.
https://doi.org/10.1007/s10551-021-04985-z
Schiemann, S.J. e Jonas, Eva (2020). Streben
nach Macht fern von Ethik: Die “Dunkle Triade”.
Organizationsberat Supervision Coach,
27:251-263. https://doi.org/10.1007/s11613-
020-00653-9
Whitmore, J. (2004). Coaching for
Performance. NB Publishing:Londres.
Para Refletir ☺ Leia em 8 min.

Os vínculos: o reflexo do meu ser

Felipe Mautone
Coach Ontológico, palestrante.
felipe@felipemautone.com

realidade, para começar a estar presente com

O assunto dos vínculos tem sido um dos
aqueles aspetos de tua vida em que você está
principais focos de atenção para quem
pondo o foco, a atenção. É o início para te
estamos envolvidos no desenvolvimento
compreender e tomar conta dos resultados
pessoal. Como coaches ontológicos um de
que atinges em tua vida.
nossos propósitos é que os clientes consigam
estar presente com seus vínculos. Ao falar dos vínculos como um reflexo de
quem somos, estamos apresentando a ideia de
Isto não é um simples capricho profissional,
que eles mostram a gente diferentes aspetos
pois é através dos vínculos que nosso potencial
de como nós percebemos e experimentamos
pode ser expresso em toda sua capacidade. É
a vida. Cada um de nós tem uma interpretação
através destes que podemos ser seres criativos
única do mundo, o que leva a gente a tomar
e emocionais. Eles constituem o nosso
ações orientadas a transmitir e compartilhar
ecossistema onde a gente se expressa. Dado
essa ideia do mundo, aquele onde a gente se
que nossos estados emocionais são
desenvolve, com cada relação, a fim de
influenciados pelo nosso ambiente, podemos
conferir nossa interpretação. Desse modo
estabelecer que nossos resultados são
nossa identidade adquire e mantem seu
consequência da maneira como a gente se
propósito de ser. Há uma aprendizagem oculta
vincula. A dependência respeito aos vínculos é
com cada um de nossos vínculos. É como uma
tão importante assim que basta remove eles do
busca do tesouro, donde a cada nova
meio para ver como a gente vira fantasmas
descoberta, vamos recuperando aqueles
divagando pelo mundo. Por acaso existe um
valores que estavam cobertos pelo velo da
pai sem filhos, um amigo sem amigos, uma
ausência (em contraposição ao estar presente).
equipe sem jogadores?
O problema é que às vezes há uma incoerência
Poderíamos estabelecer que temos uma entre aquilo que sentimos e nossa conversa.
identidade, que nosso ser pode se expressar, Precisamente isto é o que os vínculos estão nos
quando a nossa frente há um vínculo. E cada dizendo através de seu comportamento
um deles revela uma particularidade de nosso conosco.
ser, ou alguma coisa que temos a melhorar.
Vou te compartilhar uma experiência de vida
Portanto, hoje vou te compartilhar um novo
com um vínculo muito próximo de mim. O
aspeto dos vínculos a levar em contam, que vai
casso é que cada vez que a gente bate um
te permitir te conhecer melhor, ter uma nova
papo, algum tipo de discussão acontece. Cada
visão de como você percebe o mundo, tua
um de nós tenta mudar a forma de pensar do

43
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
outro com nossas crenças e perspectivas do fundo daquilo que nos motiva. Ele nos
mundo, e fica rolando uma discussão sem fim. fortalece e empodera na busca de caminhos
Eu me pergunto: quem estou sendo quando que nos aproximam aos resultados desejados.
falo com esta pessoa? De que forma estou Este é o ponto crítico, o que vira o sono em
expondo minha visão do tema sob a mesa? Por realidade; determine o para quê!
acaso estou julgando a visão do outro? Dado
Agora que você sabe para quê mantem esse
que percebo nele incoerência em suas
vínculo, você está na posição de provar
palavras e ações, minha conversa por vezes é
distintos caminhos para criar relações exitosas.
enviesada pelas minhas crenças. Quando isto
Através da ação e da intenção você pode
acontece, nós devemos relembrar o propósito
determinar o grau de compromisso com você
com esse vínculo a fim de reorientar nossa
deseja.
conversa e poder ajustar a carga emocional
com a situação. Ao fazer isto, eu te garanto que Fica aberto o convite para você começar a
muitas das brigas que as pessoas temos descobrir sua essência através dos vínculos.
diariamente poderiam ser evitadas. Este atento ao comportamento que você gera
nas outras pessoas e o quê isto está-lhe
O que implica trabalhar com nosso propósito?
dizendo respeito a você. Conecte com suas
Implica saber o que é que nós queremos com
emoções e conversa, e perceberá quando seu
esse vínculo, e para que queremos mantê-lo?
comportamento está sendo coerente ou
Uma vez que a gente tem claro o propósito
quando incoerente.
com tal o qual vínculo, podemos ajustar a carga
emocional respeito a ele e durante os Ao pensar em seus vínculos lembre-se disto:
encontros. Consequentemente, nossas ações Quem estou sendo com meus vínculos? O que
e atitudes vão se adaptar a cada relação, eles estão pondo em relevância da minha
evento ou situação. Expandimos, assim, nossa forma do ser? Trabalhe suas formas do ser. No
capacidade de ação. próximo artigo vamos falar delas.
Para te ajudar a trabalhar com o propósito, te Palavras-chave: vínculos, propósito,
proponho a seguinte pergunta: para quê comportamento, emoções, resultados.
mantemos esse vínculo? A pergunta de “para
quê” é, talvez, o filtro mais poderoso que
temos na profissão de coaching. Ele nos ajuda
a estar em contato com nosso sendo, com as Foto de Priscilla Du Preez en Unsplash
emoções e a estar presente com as atitudes
necessárias para o logro de nossos objetivos.
Através do para quê, logramos entender e pôr
em palavras o que sentimos e chegamos ao

44
Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
Eu, cada vez melhor ☺ Leia em 9 min.

A melhor ferramenta de coaching é o

COACH!
Maria Helena Anjos
Psicóloga, Coach, Supervisora, Mentora – ICF e EMCC
Acredito que os filmes, a pintura, a música são peças
inspiradoras na pesquisa de novos saberes e novos
sentires.
helenaanj@gmail.com

Intuição, paixão, maturidade e inteligência Percebi que para desenhar o meu futuro, para
emocional, curiosidade, flexibilidade, escuta estar com uma atitude Coach, era importante,
ativa e muita presença! afastar-me, por uns tempos, das teorias
psicanalíticas, mergulhando com clareza e
Ao longo de 22 anos de experiência de
profissionalismo no futuro desejado de cada
Coaching, com mais de 12.000 horas de
cliente, não necessitando de revisitar o seu
prática desta nobre e apaixonante atividade é,
passado.
em consciência, que as palavras do primeiro
parágrafo me habitam em cada sessão de Apenas entendendo que as respostas e as
Coaching. ações de mudança estavam dentro dele. E
sendo Coach estava ao serviço dessa jornada
E é com humildade que constato que o Coach
deep, muito deep.
é a melhor ferramenta de um processo de
Coaching. E digo humildade porque não A melhor ferramenta de Coaching é o COACH!
descobri nada, sinto apenas que esta é a minha
Quando terminei a Escola de Coaching já
oferta! Ao longo destas duas décadas já vivi
estava a utilizar as técnicas aprendidas com dor
muitas emoções, certezas, dúvidas e
e paixão. Técnicas que percebia mais
inquietações.
estruturadas do que as minhas.
Quando procurei a escola de Coaching, que
E em 2000 iniciámos o programa de Coaching
mais se identificava com a minha forma de
interno na grande empresa portuguesa onde
estar na vida, senti que experimentava um
eu trabalhava. Fui nomeada responsável pelo
olhar curioso sobre os trilhos deste caminho de
departamento de Coaching Interno e constitui
desenvolvimento de pessoas.
equipa.
E é no trajeto desta jornada pelo Coaching
E constatei, naquele setting, que a melhor
ontológico que navego por uma
ferramenta de Coaching é o Coach.
emocionalidade ora vibrante, ora quase
paralisante, ora apaixonante, ora “não sou Em reunião de equipa, duas das colaboradoras
capaz”, ora “yes, entendi!”, uma assumiram que não conseguiam estar sem
emocionalidade que me permitiu apaziguar- julgamento e que muitas vezes misturavam a
me com os receios e dúvidas e caminhar para sua agenda com a do cliente. E saíram deste
a zona das grandes e sólidas aprendizagens.

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
projeto, sem dores, apenas conscientes de que
aquele não era o seu propósito de vida.
No dia seguinte a equipa selecionou mais duas
colaboradoras e foram os clientes que nos
deram as pistas para o perfil do Coach
desejável. Este é um tema que tratarei noutra
altura e que é fabuloso.
Éramos cinco Coaches, apaixonadas pelos
processos, pelos resultados, pelas Pessoas.
Alinhadas com a estratégia da Organização e
fazendo a ponte entre o pedido do sponsor e
o do cliente, fomos humanizando Direções,
ganhando a confiança e respeito
dos sponsors e desenvolvemos um trabalho
com história, um trabalho que mereceu o
respeito dos clientes e dos seus líderes que, na
sua maioria, também passaram por processos
individuais de Coaching!
As histórias de Coaching farão parte de um
compêndio, de um livro ou de um artigo.
Ficarão para memória futura. Oferecidos aos
clientes com quem aprendi, que me ajudaram
a ficar mais robusta e mais confiante no poder
da verdade.
Em 2017, já como Presidente do Chapter da
ICF Portugal, passei por um processo severo
de saúde, mas a minha paixão por fazer
acontecer-futuro no Coaching foi um pilar
fundamental para olhar para a doença como
uma passagem que não teve paragem. Sim,
nunca parei durante todo o processo de
acompanhamento médico.
Assim estava perfeito. Os meus anteriores
clientes estiveram sempre presentes,
cuidadosos e oferecendo mensagens de
reconhecimento pela mudança
comportamental, por um novo olhar… não
voltariam a ser os mesmos. Eu também não!
A vida no Chapter era curiosa e vibrante. Dei
muito de mim, o que me fez sentir útil.
E sermos úteis é sermos MAIORES.
O tempo, esse grande escultor, ofereceu-me,
entretanto, momentos conturbados, mas
valiosos. Fiquei mais forte, mais sólida e com
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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
um olhar de respeito para as pessoas que
escolhem expor a sua vulnerabilidade e
intenções/desejos e com um olhar piedoso
para os que escolhem o caminho do poder na
tentativa de preencher vazios.
Ensinou-me a vida, e eu aceitei, que a melhor
ferramenta de Coaching é o COACH!
Um Coach que está em presença, que respeita
as escolhas do seu cliente, que vive
apaixonadamente cada sessão, que sabe dizer
“fabuloso” na presença de um insight, é o
Coach que quero ser.
Quando vamos a uma urgência hospitalar com
uma queixa minimamente expressiva, o
médico tem de cumprir procedimentos by the
book, i.e., análises clínicas, raios X, picadela na
veia com cateter, onde são injetados os
medicamentos necessários para diminuir a
dor, baixar a febre… Estes procedimentos são
muito parecidos com muitas sessões de
Coaching. Até existe um plano de ação: o
doente deve ir à farmácia e começar a tomar o
antibiótico X e o anti-histamínicos Y.
Continuando esta metáfora…um destes dias
fui a uma urgência hospitalar com febre alta.
Fui atendida por uma médica jovem em idade,
mas com uma inteligência emocional
fantástica. Percebi que tinha o computador
encostado na parede para poder olhar para o
doente. Quis saber de mim, perguntou como
me sentia, perguntou-me se aceitava ser
picada e levar soro e antipirético. Colocou as
escolhas do meu lado.
Pois…esta história também é similar a uma
sessão de Coaching. Senti humanidade,
confiança, presença, escuta.
A médica foi a melhor ferramenta da consulta.
Assim, como o Coach também o é quando se
sente seguro e quando não tem urgência em
resolver uma vida em quatro sessões.
Não rejeito as ferramentas utilizadas em
Coaching. Uso algumas em Team e em Group
Coaching, e são muito úteis. Contudo, se o
Coach não for maduro e flexível, se não estiver
inteiro com o cliente, não há ferramenta que E esta é a minha voz, a voz de uma pessoa que
seja útil. é Coach, com “intuição, paixão, maturidade e
inteligência emocional, curiosidade,
Li a última frase que escrevi e, embora pareça
flexibilidade, escuta ativa e muita presença!”
muito incisiva, não a vou apagar porque é a voz
de uma pessoa que acredita que estar ao Uma pessoa que se percebe cada vez
serviço do outro é estar completo, é ter a “melhor”!
consciência que está a defender uma causa.
Portugal, 6 de Outubro 2022
Uma causa que se pode inscrever no quadro
dos direitos humanos. O direito a ser ouvido, a
ser acompanhado por um profissional
consciente, o direito a fazer escolhas, o direito
a ter uma voz!

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022
 “Coach, faça coaching comigo, se for capaz!”
Diller, S.J.,Frey, D. e Jonas,E. (2021a)

Poucas ainda são as pesquisas sistemáticas

disponíveis que investigam como
clientes/coachees com níveis

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Revista Coaching Brasil – ed. 114 – novembro 2022