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Impávido colosso POR RICARDO PRADO E LlVIA PEROZIM

EDUCAÇÃO O ensino brasileiro, público e


privado, piorou na última década, indicam os exames
de avaliação. O novo plano do governo terá a
capacidade de mudar o futuro?
Há boas e más notícias sobre a educação no Brasil. As más foram divulgadas
pelo Ministério da Educação na forma dos resultados do Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica (Saeb). A avaliação feita em 2005 e divulgada em fevereiro deste
ano trouxe os piores índices de rendimento entre os alunos da 8ª série do ensino
fundamental e da 3a série do ensino médio desde 1995, ano em que a metodologia do
exame foi alterada para que pudesse ser comparável aos resultados de anos
posteriores (o exame existe desde 1990). Apenas os alunos da 4a série apresentaram
uma pequena melhora, de três pontos, mas o desempenho ainda é inferior ao de dez
anos atrás.
A reação do governo aos péssimos índices da década aconteceu um mês depois
da divulgação. No dia 15 de março, o ministro Fernando Haddad lançou o Plano de
Desenvolvimento da Educação, que pretende injetar 8 bilhões de reais nos próximos
quatro anos em ações variadas, que abrangem todos os níveis de ensino, das creches
ao pós-doutorado. O plano pretende usar os dados do Prova Brasil, uma nova
modalidade de exame que permite avaliar os resultados por escola e por rede de
ensino, para estabelecer um índice da evolução de cada município. O objetivo é premiar
com reconhecimento, apoio técnico e verbas quem apresentar melhor desempenho.
Outro destaque do pacote educacional, reivindicação histórica dos professores, é
o estabelecimento de um piso salarial nacional, provavelmente na faixa dos 800 reais.
Também haverá mais uma avaliação, o “Provinha Brasil”, para crianças entre 6 e 8
anos, a criação de 150 escolas técnicas em cidades-pólo, a ampliação do programa
Bolsa Família para atender jovens até 17 anos na escola e um programa de pós-
doutorado para tentar segurar no País os cérebros mais criativos. As iniciativas foram
bem recebidas por educadores e até pela oposição.
O Plano de Desenvolvimento da Educação colocou em evidência o Prova Brasil e
é justamente do cruzamento de informações do exame que surgiram alguns sinais de
vitalidade pedagógica. São escolas com boa pontuação, professores ensinam e os
alunos aprendem (reportagem à pág. 15). Se o País um dia tivesse construído um
sistema educacional consistente, estaríamos diante da derrocada da educação. Mas
não dá para ser saudosista com o que nunca houve. A "época de ouro" das escolas
publicas de bom nível foi mantida ao preço de excluir dela a imensa maioria da
população.
Quando finalmente a educação se tornou pública, a partIr do fim do regime
militar, nos anos 80. e houve uma vigorosa expansão da oferta que desdenhou a
qualidade da inclusão, nos anos 90, o quadro revelado é desolador. "O desempenho é
apenas um indicador do sistema educacional. Há uma queda, mas há dez anos o
resultado já era baixo. São dados vergonhosos, mas temos de levar em conta que há
mais gente na escola", avalia Creso Franco, pesquisador da PUC do Rio de Janeiro.
Especialista em estatísticas educacionais, Franco credita dois terços da queda,
que já começa de um patamar insuficiente, a um feito da maior oferta de vagas: hoje
chegam à 4a série alunos que, no passado, nem sonhavam com a possibilidade. Eles
compuseram outro perfil social das instituições de ensino, o de crianças sem acesso à
educação infantil e cujos pais apresentam baixo nível de escolaridade: O terço restante
estaria relacionado a problemas conhecidos e até agora não enfrentados, entre eles a
má formação dos professores, a desvalorização da carreira, os baixos salários, a má
aplicação de recursos e a falta de compromisso com a educação pública.
No período de 1995 a 1999, durante a gestão do ministro Paulo Renato Souza,
houve uma significativa incorporação de novos alunos. De acordo com Reynaldo
Fernandes, presidente do Inep, órgão do MEC encarregado das estatísticas
educacionais, experiências internacionais mostram que todo processo de inclusão
acarreta uma piora da qualidade do ensino. Isso, segundo ele, explicaria a queda
acentuada de desempenho no exame no ensino médio. "Os alunos fazem parte das
primeiras gerações da inclusão", completa.
Para o educador Mario Sérgio Cortella, da PUC de São Paulo, depois da
universalização da matrícula, "é necessário universalizar a permanência nos estados e
municípios". Para, ele, ex-chefe de gabinete do pedagogo Paulo Freire, a quem
substituiria à frente da Secretaria de Educação da cidade de São Paulo, também é
necessário lidar melhor com a democratização nascida com a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB), em 1996. "O número de municípios que têm, de fato, um
Conselho Municipal de Educação paritário, deliberativo, com a participação da
sociedade civil e do poder público, e que esteja eficazmente funcionando, é muito
restrito", lamenta.
O resultado da proposta da LDB, que poderia ser usada em favor de uma
abordagem mais coerente com as especificidades de cada região, forma um conjunto
caótico e disforme. Há poucos municípios, cerca de duas centenas, segundo uma
apuração recente do MEC, capazes de servir de exemplo aos mais de 5 mil que não
sabem o que fazer com tanta liberdade. Muitos adotaram uma "privatização branca" e
entregaram a grupos educacionais privados o fornecimento de material didático
apostilado e a própria condução da política educacional local. Isso porque a legislação
brasileira garante ampla autonomia a estados e municípios. De 1827 até o golpe militar
de 1964, o currículo das escolas do então ensino primário era de responsabilidade das
províncias e dos estados. A partir de 1837, o ensino secundário, que abrangia da atual
5ª à 8ª série e o ensino médio passaram a ter como referência o currículo do Colégio
Pedro II, do Rio de Janeiro, fundado em 1837. Sua adequação precisava ser
referendada pelo Ministério da Educação. Em 1967, com a Constituição imposta pela
ditadura, o então Conselho Federal de Educação criaria uma tabela disciplinar e
curricular obrigatória em todo o Brasil, que especificava a carga horária e a quantidade
de aulas por semana de cada matéria, para todos os níveis de ensino.
A idéia de um currículo único nacional seria profundamente remodelada em 1996,
com a LDB. Coube à União estabelecer diretrizes e não mais um quadro disciplinar
curricular. Essas diretrizes deveriam apontar grandes conteúdos e não saberes
específicos. Estados e municípios cuidariam de "aclimatar" as linhas mestras às
realidades das regiões. E as escolas adequariam as diretrizes ao projeto político-
pedagógico feito pelos professores.
O problema, segundo Carlos Jamil Cury, professor da PUC de Minas Gerais e ex-
integrante do Conselho Nacional de Educação, é que a LDB exige uma cultura de
diálogo entre diversas instâncias: União, estados, municípios e o corpo docente de mais
de 200 mil escolas. "Se essa cultura não se instala, é mais fácil voltar ao sistema antigo,
centralizado. O que temos hoje é um certo grau de dispersão, visto como pior do que a
situação anterior. Há uma dificuldade cultural em se exercer a liberdade curricular criada
pela legislação", diz Cury.
Para ele, são outras as causas do mau desempenho dos estudantes nas avaliações, como as
condições materiais de trabalho nas escolas, muito frágeis, a ausência de boa parte das crianças de
O a 5 anos na educação infantil, com efeitos sobre o futuro desempenho no ensino fundamental,
além da pouca atratividade da carreira de professor, seja por prestígio, seja por remuneração. "Um
professor estável, com horas de trabalho e não apenas horas-aula, seria muito mais acessível às
famílias, aos colegas e à coordenação pedagógica, e poderia dar um atendimento específico aos
que têm dificuldades de aprendizagem. Hoje temos um professor volante, sem tempo para
permanecer na escola porque precisa dar aulas em outra", avalia. Já Creso Franco acredita que a
descentralização, ao abrir mão de criar um projeto nacional de educação, dificulta a melhora dos
índices: "Falta unidade ao sistema. Qualquer município pode escolher o currículo, mas a maioria
não se preocupa. É claro que se deve contemplar a diversidade, mas ninguém me convence de que
há habilidades básicas tão diferentes em Português e Matemática que não possam ser aprendidas
por um alagoano, um paulista ou um carioca. É um exagero que contribui para aumentar as
desigualdades."
A própria escala do Saeb, de O a 500 pontos, expõe a dificuldade em se aferir a
expectativa em relação a um conjunto de conhecimentos necessários para cada nível de ensino. A
média dos alunos de 2ª série em português, por exemplo, foi de 231,9 pontos e só pode ser
comparada às médias dos anos anteriores, porque não há um valor mínimo a ser alcançado.
Seria muita pretensão nossa estabelecer um parâmetro nacional. Temos de achar um
consenso com os educadores envolvidos. Mas os gestores públicos devem saber interpretar os
resultados da rede", afirma o economista Amaury Gremaud, do Inep. Para o ex-ministro da
Educação do governo FHC deputado Paulo Renato Souza, o Saeb é barato, mas se não for
utilizado se torna um desperdício. "Ele tem de ser usado para a elaboração das Políticas públicas.
O presidente foi eleito com 60% dos votos, o Congresso está força, é hora de definir um projeto,
com base nos resultados", defende.
Com resultados tão desanimadores, o pífio aumento do desempenho da 4ª série é motivo
de comemoração para Fernandes, do Inep: "Significa a virada de jogo nas séries iniciais". No
entanto,segundo Franco, tal aumento acompanha a elevação dos índices de reprovação nas séries
iniciais. Embora os microdados do Saeb não estejam disponíveis, ele arrisca: "Temo que a me'
hora seja superficial. Não dá para ficar satisfeito, pois o desempenho em uma série melhorou à
custa da reprovação".
O mal-estar causado pelos resultados do Saeb não se limita apenas ao ensino público. A
escola particular, embora tenha médias maiores, também apresentou queda no desempenho e
resultados insatisfatórios. "O setor privado é muito heterogêneo e a maior parte das escolas atende
a classe média baixa. Mas o problema é que parte das escolas passou a focar o mercado de
trabalho e não fazem nem isso direito", afirma Cury.
No caso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujo resultado foi divulgado
juntamente com o do Saeb, Cury ressalta que a média das escolas particulares na prova objetiva
foi de 50 pontos em 100: "Pode ser maior que os 35 da escola publica. mas ainda é muito pouco".
De certa forma, grande parte das instituições privadas enfrenta os mesmos problemas das
públicas. Tem uma carga horária aquém do desejado, um método de ensino-aprendizagem que
não muda e dificuldades de contratar bons professores. Ou seja, pública ou privada, a educação no
Brasil se encontra "no pior dos mundos", como qualificou o presidente Lula ao anunciar as linhas
gerais do plano de educação.
Talvez a boa notícia seja a sensação de inconformismo diante do quadro deplorável do
ensino, onde os estudantes, após quatro anos de estudo, não sabem ler, escrever ou fazer contas. O
próximo passo é que o inconformismo resulte em soluções. A reportagem que se segue revela que
é possível encontrar saídas mesmo nos locais mais improváveis. São escolas nas quais a
persistência e o talento se juntaram ao compromisso público em ensinar de verdade.
O QUE O SAEB PERGUNTA E OS ALUNOS NÃO SABEM
A maioria errou questões básicas
Duas questões do Saeb 2005. uma de Língua Portuguesa e outra de Matemática. são
reveladoras do nível de dificuldade apresentado pelos alunos da 4" série do ensino fundamental
(com Idade desejável entre 9 e 10 anos). A questão parece simples: identificar se são reais ou
imaginários. Mas a maioria dos alunos (55%) não conseguiu responder a alternativa certa (C).E
para 17% dos alunos os dois convites pertencem ao mundo real. mesmo que o endereço seja
chamado de "faz-deconta"!

Já a segunda questão. de Matemática, tem a facilidade de lidar com medidas presentes no


cotidiano, como litros ou copos. Mas apenas 37% dos alunos que fizeram o Saeb 2005
conseguiram realizar o cálculo correto. de sete copos.
AS DIFERENÇAS ,ENTRE OS EXAMES NACIONAIS
DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇAO BASICA
Três Avaliações E Metodologias, Uma Só Conclusão
SAEB PROVA BRASIL ENEM
Primeiro exame
nacional feito no Brasil. Sua primeira edição foi Implantado em 1998, o
avalia desde 1990 alunos realizada em novembro de 2005 exame anual e voluntário, avalia
da 4a e 8a série do ensino e avaliou 3,3 milhões de alunos o desempenho de alunos que
fundamental e da 3a série da 4a e 8a série do ensino estão concluindo ou já
do ensino médio, por meio fundamental. distribuídos em concluíram o ensino médio. A
5.398 municípios brasileiros. prova é composta de 63
de uma prova de Língua
questões objetivas e uma
Portuguesa. com foco em Permite avaliar o desempenho
redação. Em 2006. mais de 2.7
leitura e Matemática, das redes, da escola e servirá
milhões de alunos fizeram a
abordando resolução de para compor o índice de prova. É utilizado por muitas
problemas. O teste é Desenvolvimento da Educação instituições de ensino para
bienal. por amostragem, e de cada município. compor a nota dos processos
mede níveis de habilidades seletivos.
e competências dos
estudantes de escolas
públicas e privadas

As flores Improváveis
ESPERANÇA
No Piauí,Mato Grosso, Paraná e Maranhão, casos onde a
dedicação, a perseverança e o espírito público fizeram a diferença e
mudaram a vida de dezenas de crianças.

Para o poeta Carlos Drummond de Andrade, "onde não há jardim, as flores nas
cem de um secreto investimento em formas improváveis". E na terra arrasada
da educação brasileira, há, de fato, algumas flores surgidas de anônimos
investimentos pedagógicos de bons professores e diretores. As iniciativas foram
reveladas a partir da análise da Prova Brasil, avaliação feita no ano passado pelo
MEC, que permite identificar o desempenho por escola, e não por estudante.
Lamentavelmente, o estado de São Paulo, onde a média dos alunos despencou, não
participou do exame, embora a atual secretária de Educação,Maria Lucia Vasconcelos,
tenha prometido rever a decisão nas próximas edições.
Os resultados do Prova Brasil permitiram uma pesquisa de campo realizada pelo
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em parceria com o MEC em 33
escolas públicas. A pesquisa Aprova Brasil identificou escolas que obtiveram bom
desempenho no exame, embora estivessem incrustadas em regiões de baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo Maria de Salete Silva, coordenadora do
Aprova Brasil, as coisas acontecem nas unidades escolares, mas iniciativas individuais
não podem ser tomadas como alento, e sim como exemplo. É um desafio colocado
para a sociedade brasileira, diz ela. "Todos falam que educação é futuro. Não.
Educação é presente", diz. Os exemplos falam por si:
Em 2000, quando foi inaugurada, a Escola Municipal Casa Meio Norte,
encravada na base de um morro repleto de barracos, na periferia de Teresina (PI),
tinha no quadro de alunos crianças fora da escola ou que nunca haviam freqüentado
uma. O índice de defasagem entre a idade ideal e a série freqüentada chegava a 80%
e a repetência, 60%. "O trabalho começou aí. Tivemos de fazer com que elas
acreditassem ser capazes de correr atrás do prejuízo. Hoje, a nossa distorção idade-
série é praticamente zero", comemora a diretora, Osana Santos Morais. A carga
horária foi ampliada para incluir atividades extracurriculares e o acompanhamento
individualizado dos 440 alunos das salas de alfabetização à 4a série.
Professores e pais voluntários verificam, diariamente, a freqüência dos
estudantes e a lição de casa. Eles vão à casa de quem falta e cobram explicações dos
que não fizeram as tarefas. O projeto da Casa Meio Norte é o de valorização da escola
pública, o que leva a só permanecerem na equipe professores comprometidos com ele.
"Quem não se enquadra não fica muito tempo porque a equipe não permite", ressalta
Rutinéia Vieira Lima Costa, coordenadora pedagógica. Para ela, "a escola ocupa um
papel de mediação. A realidade aqui é nua e crua': comenta.
"Nossas crianças não têm nenhum incentivo social diferente da escola. Este é o
único prédio que existe no bairro. Elas não têm acesso à internet, cinema, nada,
explica a diretora. A merenda, única fonte de alimentação da grande maioria das
crianças, também é fundamental para o bom desempenho da escola. Com a
contribuição de empresários da região, a escola consegue servir cinco refeições
diárias.
Em Aquidauana, cidade de 43 mil habitantes no interior de Mato Grosso do Sul,
a coordenação da Escola Estadual Coronel Antonio Trindade percebeu que, se
esperasse a tão desejada participação da família, teria o trabalho enterrado. Os alunos
são filhos de pais que trabalham muito e têm baixa escolaridade. A escola, com 240
vagas, aposta no planejamento das aulas e no trabalho em equipe. Semanalmente, o
corpo docente se reúne e define como será a semana. Criam-se reforços e
atendimentos específicos para cada aluno.
"A escola tem uma política pedagógica de incentivo ao sucesso. Eles investem
no cuidado a cada aluno. Os professores e a direção têm orgulho deles e os próprios
estudantes também acreditam que são bons, isso faz muita diferença", conta a
pedagoga Marta Lúcia Teles Brito de Jesus, pesquisadora do Aprova Brasil, que
esteve na escola. A atenção à necessidade das classes levou a escola a tomar uma
medida tão simples quanto inteligente. Na época da colheita, é comum os pais dos
alunos arrumarem empregos temporários em fazendas. As crianças vão junto. A escola
passou, então, a orientar o estudo e, ao retomar, os estudantes têm acompanhamento
para que voltem à turma na qual estavam matriculados. Assim, evita-se a evasão
escolar. "É uma realidade da nossa cidade o trabalho agrícola. Como queremos que o
aluno continue na escola, criamos essa política", explica Marina.
Os bons resultados não surpreendem a equipe, de acordo com Marina: "Nossos
alunos são bons mesmo". Mas foi um reconhecimento que veio em boa hora.
"Colocamos um cartaz na escola, para os pais lerem a notícia que saiu em um jornal
sobre a escola. Todo mundo ficou orgulhoso:'
E.E. Cel. Antonio Trindade (AquidauanalMS) Média Língua Portuguesa 83 série: 242,5 Média
Nacional: 224,0 Média Matemática 83 série: 260,4 Média Nacional: 238.76

U.E. Cláudio Carneiro (Esperantinópolis/MA)


Média Língua Portuguesa 43 série: 179,06 Média Nacional: 176,07
Média Matemática 43 série: 212,23 Média Nacional: 182,25

Esperantinópolis, a 350 quilômetros de São Luís, é mesmo a cidade da


esperança, como o próprio nome sugere. Lá, a escola de melhor desempenho do
estado, segundo o Prova Brasil, não tem muro, biblioteca, espaço de lazer, verba
suficiente para merenda e apenas 20% dos professores têm formação superior. Para
driblar os problemas de estrutura física, a Unidade de Ensino Cláudio Carneiro divide o
prédio com uma escola municipal. Em troca, um zelador pago pela prefeitura cuida do
espaço. "A gente faz a troca para poder funcionar, porque a escola não tem nem muro.
E bicho que entra aqui sem parar, jumento, cavalo", afirma a diretora, Maria Madalena
de Araújo Corrêa.
A taxa de analfabetismo da cidade, entre crianças de 7 a 14 anos, é de 27,5%,
em uma população de cerca de 22 mil habitantes. Os alunos, na maioria filhos de
catadores de coco e lavradores, têm na escola o único contato com o universo cultural.
E têm fome: é de 900 reais a verba para a merenda dos 200 alunos de 1ª à 7ª série do
ensino fundamental: "Eu sei que eles têm fome, e a gente só consegue oferecer
mingau de milho e suco", lamenta Madalena.
Diante de uma realidade sofrível, o que faz da escola especial é o total foco na
aprendizagem. Os professores e a coordenação pedagógica reúnem-se todo mês para
discutir a evolução dos alunos, diagnosticar os entraves à aprendizagem e propor
mudanças.
Na avaliação do pesquisador Raimundo Palhano, que visitou a unidade, além do
compromisso dos professores, a gestão tem um papel decisivo. ''A diretora tem a
confiança tanto do corpo docente e administrativo quanto da comunidade e do entorno
da escola. Apesar de ocupar o cargo há 13 anos, ela continua liderando positivamente
a escola, comenta Palhano. A própria Madalena aponta os próximos objetivos, seus e
da escola: ''Antes da minha aposentadoria, quero construir uma quadra de esportes,
para as crianças saírem da terra e murar a escola. E vou conseguir, anota aí".
De acordo com Maria Madalena, os professores ganham, em média, 600 reais.
Da Secretaria Estadual de Educação do Maranhão, a escola não recebeu "nem um
parabéns e muito obrigado" pelo ótimo desempenho no Prova Brasil. "Educação é o
foco só para palanque. Eis a realidade brasileira, independentemente de se estar no
Maranhão ou não", lamenta a diretora.
E.M. Edirce Neneve Carvalho (Diamante do Sul/PR)
Média Língua Portuguesa 4a série: 184,99 Média Nacional: 176.07 Média
Matemática 4a série: 206.65 Média Nacional: 182.25

Em uma cidade cujo IDH é 0,675 não era de esperar que todos os 12
professores da Escola Municipal Edirce Neneve Carvalho, de 1ª à 4ª série, tivessem
curso superior. Com a implantação de uma política de plano de carreira, pensada e
discutida com os docentes, a prefeitura de Diamante do Sul (PR) fornece ônibus para
transportá-las até a cidade de Cascavel, distante 60 quilômetros, onde fazem cursos
de graduação e pós-graduação. "Os professores daqui querem estudar. Além disso, as
verbas públicas são bem administradas e, no fim do ano, o professor chega a receber
14° salário", conta a pesquisadora Sandra Viana, que visitou a escola. Nem tudo é
perfeito. "Faltam espaço e material didático, mas a gente aluga salas fora da escola e
tenta aproveitar os materiais que temos", diz Erondina das Neves Hart, vice-diretora.
Mesmo localizada na zona urbana de Diamante do Sul, cerca de 80% dos 380 alunos
moram na zona rural e chegam à escola com o transporte público. "Nossos alunos
trabalham em fazendas, com os pais, pequenos agricultores e bóias-frias, mas não
deixam de vir", conta a diretora. Quando um aluno falta sem justificativa, é designado
um funcionário da escola ou do Conselho Tutelar para visitar a família e se inteirar da
situação. Como a cidade é pequena, cerca de 4 mil habitantes, todos se conhecem, e a
comunicação fica mais fácil.

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