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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

Estudo de Caso I

Com base na Unidade 1 (Conceitos básicos da Ciência Política), do Livro


“Ciência Política”, de Ricardo Corrêa Coelho, bem como de fontes
seguras da internet, responda o que se pede:

a) Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e funções executiva,


legislativa e judiciária são termos estreitamente relacionados, mas não
são sinônimos. Assim sendo, apresente a diferença entre “Poderes”
Executivo, Legislativo e Judiciário e “funções” executiva, legislativa e
judiciária.

O poder político é uno e indivisível, tendo como titular o povo,


que o exerce por meio de seus representantes ou, diretamente, nos termos da
Constituição Federal. Consagra-se, assim, a soberania popular, que é viga
mestra do Estado democrático de direito.

Para alcançar os seus fins, o Estado deve organizar-se, o que


é feito levando-se em consideração o princípio da separação de poderes, ideia
defendida, ao longo dos tempos, por pensadores do porte de Montesquieu e
John Locke. Atualmente, por reconhecer-se que o poder político é uno e
indivisível, é tecnicamente mais adequado nos referirmos à separação de
funções estatais (e não à separação de poderes).

São três as funções estatais básicas: i) função executiva; ii)


função legislativa e; iii) função judiciária. Cada uma dessas funções é exercida
com predominância por um dos três Poderes (Poder Executivo, Poder
Legislativo e Poder Judiciário).

Na organização dos Estados contemporâneos, não se admite


que tais funções sejam exercidas com exclusividade por algum Poder; por isso,
o correto é dizer que cada função é exercida com predominância por algum dos
três Poderes. Dessa forma, na moderna concepção de divisão das funções
estatais, cada um dos três Poderes exerce funções típicas e funções atípicas.

O Poder Legislativo tem duas funções típicas (aquelas que


exerce com predominância): a função de legislar e a de fiscalizar. A função de
legislar consiste na tarefa de elaborar as leis, atos normativos que inovam o
ordenamento jurídico. Por sua vez, a função de fiscalizar se manifesta no
controle externo dos atos dos demais Poderes estatais; com efeito, o Poder
Legislativo realiza a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional
e patrimonial do Poder Executivo, bem como investiga fato determinado por
meio das comissões parlamentares de inquérito (CPIs).

Ressalte-se que, ao contrário do que alguns podem pensar, as


duas funções do Poder Legislativo (legislar e fiscalizar) possuem o mesmo grau
de importância, não existindo hierarquia entre elas.

Acerca da função executiva, a doutrina a subdivide em duas: i)


função de governo (atribuições de decisão política) e; ii) função administrativa
(atribuições relacionadas à prestação de serviço público).

Por fim, o Poder Judiciário é o responsável pelo exercício de


uma das funções políticas do Estado: a função judicial ou jurisdicional. É o
Poder Judiciário competente para exercer a jurisdição, solucionando conflitos e
“dizendo o Direito” diante de casos concretos.

A aplicação do Direito não é, todavia, o que distingue o Poder


Judiciário dos demais Poderes. Em certa medida, essa é uma tarefa também
realizada pelo Poder Executivo e pelo Poder Legislativo.

Para Konrad Hesse, o que singulariza o Poder Judiciário é a


capacidade de prolatar decisão autônoma, de forma autorizada e, por isso,
vinculante, em casos de direitos contestados ou lesados.
No Brasil, adota-se o sistema inglês de jurisdição. Nesse
modelo, apenas o Poder Judiciário faz coisa julgada material, isto é, decide
casos concretos com definitividade. Vigora o princípio da inafastabilidade de
jurisdição, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV). É diferente do contencioso
administrativo (sistema francês), no qual certas matérias são decididas com
definitividade por órgãos da Administração Pública, não sendo cabível recurso
ao Judiciário.

Por mais que se possa querer, o Direito positivo é incapaz de


abarcar toda e qualquer conduta humana. Normas genéricas e abstratas não
conseguem, sozinhas, regular a infinidade de casos concretos que ocorrem no
dia-a-dia. “Dizer o Direito” aplicável a uma lide, não é, portanto, tarefa simples.
Ao contrário, é missão complexa, que impõe ao Poder Judiciário a necessidade
de interpretar o Direito.

Exercer a jurisdição é função típica do Poder Judiciário.


Segundo Dirley da Cunha Júnior, a jurisdição é uma atividade que tem as
seguintes características:
1. Secundária: Os conflitos devem ser, primariamente,
resolvidos pelas partes em litígio. O Poder Judiciário, ao exercer a
jurisdição, estará realizando uma atividade que deveria, primariamente,
ter sido solucionada pelas partes.
2. Instrumental: A jurisdição é o meio (instrumento) do
qual se vale o Direito para impor-se a todos.
3. Desinteressada: Ao exercer a atividade de jurisdição,
o Poder Judiciário não cede aos interesses de nenhuma das partes
litigantes. Ao contrário, o Poder Judiciário age segundo o Direito.
4. Provocada: O Poder Judiciário não age de ofício. O
exercício da jurisdição depende de provocação, em razão do princípio
da inércia.

Em definição mais completa, Fredie Didier Jr. afirma que “a


jurisdição é a função atribuída a um terceiro imparcial de realizar o Direito de
modo imperativo e criativo (reconstrutivo), reconhecendo/ efetivando /
protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas, em decisão
insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível”.

b) O Poder Executivo encontra-se incumbido das funções executivas,


assim como o Poder Legislativo da função legislativa e o Poder Judiciário
da função judiciária, que são denominadas funções típicas de cada Poder.
No entanto, em alguns momentos, esses Poderes podem exercer,
secundariamente, funções atípicas, que competem predominantemente a
outro Poder. Cite pelo menos um exemplo de atuação dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário exercendo funções atípicas.

No que diz respeito às funções atípicas, o Poder Legislativo


exerce a função administrativa quando realiza concurso público para
provimento de cargos ou, ainda, quando promove uma licitação para compra
de material de consumo. Também exerce a função de julgamento, que se
materializa, por exemplo, quando o Senado Federal processa e julga o
Presidente da República nos crimes de responsabilidade.

O Poder Executivo também exerce funções atípicas: função


legislativa (quando edita medidas provisórias, leis delegadas e decretos
autônomos) e função de julgamento (no âmbito do contencioso administrativo,
como, por exemplo, quando decide um processo administrativo disciplinar).
Cabe destacar que a doutrina majoritária entende que o Poder Executivo não
exerce função jurisdicional.

Além da sua função típica de jurisdição, o Poder Judiciário


também exerce as funções atípicas de legislar e de administrar. A atividade de
legislar se manifesta quando os Tribunais editam os seus

Regimentos Internos, que são consideradas normas primárias.


Já o exercício da atividade administrativa ocorre, por exemplo, quando um
Tribunal realiza uma licitação, celebra um contrato administrativo ou, ainda, faz
um concurso público para ingresso de novos servidores.
c) Quanto à sua organização interna, o Estado pode se organizar de duas
formas, assumindo dois diferentes tipos: Estado Unitário e Estado
Federativo. Conceitue Estado Unitário e Estado Federativo e cite
exemplos de cada tipo.

Dentre as decisões políticas fundamentais, estão a definição da


forma de Estado e a forma de governo. Essas opções políticas foram
escolhidas pelo Poder Constituinte Originário logo no início do texto
constitucional (art. 1º, caput).

A forma de estado diz respeito à maneira pela qual o poder


está territorialmente repartido; em outras palavras, é a repartição territorial do
Poder que irá definir a forma de Estado. Nesse sentido, um Estado poderá ser
unitário (quando o poder está territorialmente centralizado) ou federal (quando
o poder está territorialmente descentralizado).

O Brasil é um Estado federal, ou seja, adota a federação como


forma de Estado. Há diversos entes federativos (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), todos eles autônomos, dotados de governo próprio e de
capacidade política. São pessoas jurídicas de direito público que mantêm entre
si um vínculo indissolúvel. Em razão dessa indissolubilidade, um estado ou
município brasileiro não pode se separar do Brasil; diz-se que, em uma
federação, não há o direito de secessão. É esse o princípio da indissolubilidade
do vínculo federativo, o qual é reforçado pelo fato de que a federação é
cláusula pétrea da CF/88 (art. 60§ 4º, I, CF), não podendo, portanto, ser objeto
de emenda constitucional tendente à sua abolição.

O Estado federal, segundo a doutrina, apresenta duas


características: autonomia e participação. A autonomia traduz-se na
possibilidade de os Estados e Municípios terem sua própria estrutura
governamental e competências, distintas daquelas da União. A participação,
por sua vez, consiste em dar aos Estados a possibilidade de interferir na
formação das leis. Ela é garantida, em nosso ordenamento jurídico, pelo
Senado, órgão legislativo que representa os Estados.
Cabe destacar que autonomia difere de soberania.

No Brasil, apenas a República Federativa do Brasil (RFB) é


considerada soberana, inclusive para fins de direito internacional; só ela possui
personalidade internacional. Isso porque, na Federação, os entes reunidos,
apesar de não perderem suas personalidades jurídicas, abrem mão de
algumas prerrogativas, em benefício do todo (Estado Federal). Dessas, a
principal é a soberania.

A União é quem representa a RFB no plano internacional (art.


21, inciso I), mas possui apenas autonomia, jamais soberania. Destaque-se,
todavia, que os outros entes federativos até podem atuar no plano
internacional, mas apenas na medida em que a RFB os autoriza. Como
exemplo, pode-se citar a contratação de empréstimo junto ao Banco Mundial
pelo Estado de São Paulo, para fins de construção de uma rodovia.

Na CF/88, os Municípios foram incluídos, pela primeira vez,


como entidades federativas. Com essa previsão constitucional, o federalismo
brasileiro passou a ser considerado um federalismo de terceiro grau: temos
uma federação composta por União, Estados e Municípios.

No Brasil, a União, os Estados-membros e os Municípios, todos


igualmente autônomos, têm o mesmo “status” hierárquico, recebendo
tratamento jurídico isonômico. O governo de qualquer um deles não pode
determinar o que o governo do outro pode ou não fazer. Cada um exerce suas
competências dentro dos limites reservados pela Constituição.

A federação brasileira tem como característica ser resultado de


um movimento centrífugo, ou seja, formou-se por segregação. Isso porque no
Brasil, até a Constituição de 1891, o Estado era unitário (centralizado), tendo,
então, se desmembrado para a formação dos estados-membros. Já nos
Estados Unidos, por exemplo, os Estados se agregaram, num movimento
centrípeto, para formar o Estado federal.

Outra característica de nosso federalismo é que ele é


cooperativo. A repartição de competências entre os entes da federação se dá
de forma que todos eles contribuam para que o Estado alcance seus objetivos.
Algumas competências são comuns a todos, havendo, ainda, a colaboração
técnica e financeira entre eles para a prestação de alguns serviços públicos,
bem como repartição das receitas tributárias.

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