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UNIVERSIDADE PAULISTA

ALANAH KELLY GONÇALVES CARLOS RA: N264HJ0


BIANCA DOMINGUES HAIDAR RA: N3986H9
CAMILA BUENO ROCHA RA: F02ICI8
GIULIA PIETRA CARVALHO NASCIMENTO RA: N4434D7
JULIA DOS SANTOS OLIVEIRA LIMA RA: N412410
KAMILLA FIORANTE DO CARMO RA: N443FJ7
LAÍS BELO DA SILVA RA: N3252D0
LUCAS MARUCHI DELAPENA SILVA RA: D970674
LUCIO JUNIOR ALVES DE SOUSA RA: D96GDJ6
MARÇAL RODRIGO VIEIRA RA: N450185

Uso do plasma convalescente em pacientes graves pelo COVID-19:


Revisão qualitativa de série de casos

São Paulo
2021
ALANAH KELLY GONÇALVES CARLOS RA: N264HJ0
BIANCA DOMINGUES HAIDAR RA: N3986H9
CAMILA BUENO ROCHA RA: F02ICI8
GIULIA PIETRA CARVALHO NASCIMENTO RA: N4434D7
JULIA DOS SANTOS OLIVEIRA LIMA RA: N412410
KAMILLA FIORANTE DO CARMO RA: N443FJ7
LAÍS BELO DA SILVA RA: N3252D0
LUCAS MARUCHI DELAPENA SILVA RA: D970674
LUCIO JUNIOR ALVES DE SOUSA RA: D96GDJ6
MARÇAL RODRIGO VIEIRA RA: N450185

Uso do plasma convalescente em pacientes graves pelo COVID-19:


Revisão qualitativa de série de casos

Trabalho apresentado à disciplina APS


(Atividades Práticas Supervisionadas) do
curso de graduação em Biomedicina da
Universidade Paulista.

Orientador: Profa. Virginia Gonçalves

São Paulo
2021
1. INTRODUÇÃO

A Covid-19 é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2


que invade o sistema respiratório e prejudica os pulmões. Atualmente é a
enfermidade de maior preocupação mundial, sua explosão pandêmica se deu
ao final de 2019 e perdura até os dias de hoje, sendo amplamente discutida e
combatida com medidas sanitárias como uso de máscaras, e vacinação da
população (SOUZA, 2021).
Em meados de Dezembro de 2020 os avanços em estudos permitiram a
distribuição e aplicação de vacinas em alguns países como a Rússia e Reino
Unido, e no caso do Brasil o uso emergencial teve início no mês de Janeiro
desse ano, mas ainda assim as buscas para alternativas de intervenções
continuam (MARINHO, 2020).
Uma das possibilidades investigadas é o uso do plasma convalescente,
processo de imunização passiva que consiste em uma transfusão de
anticorpos do plasma de uma pessoa recuperada da doença para um paciente
infectado, e que, segundo Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã,
permite a transferência de anticorpos contra o novo coronavírus ao mesmo
tempo em que o organismo do paciente responde pela sua imunidade normal.
Todavia, os estudos do uso de plasma convalescente contra COVID-19
ainda não possuem total comprovação de eficácia, apesar de haver evidências
na queda da taxa de mortalidade. Além disso, é necessário um número
suficiente de pacientes recuperados e habilitados para a doação do plasma e
que contenham os anticorpos suficientes para reagir contra ao SARS-COV-2
(CASADEVALL e PIROFSKI, 2020; SULLIVAN e ROBACK, 2020).
Nesse trabalho apresentamos informações qualitativas dessa técnica
terapêutica, como método de obtenção do material utilizado, análises a serem
realizadas assim como normas de uso nos estudos de casos.
2. DESENVOLVIMENTO

O plasma convalescente (PC) é a parte líquida do sangue, que foi


retirado de pacientes recuperados de infecções virais, neste caso, infectados
pelo SARS-CoV-2. Desta forma é possível obter um plasma que contém
anticorpos neutralizantes do vírus, permitindo o seu uso como alternativa de
tratamento contra a COVID-19, pois, quando o paciente transfundido receber
este plasma, será fornecido um impulso ao seu sistema imunológico, ajudando-
o a adquirir sua própria resposta imune, e assim acelerando sua recuperação.
Esse processo de neutralização ocorre quando um anticorpo possui um
antígeno-alvo do vírus, o anticorpo se liga a proteína, nesse caso a proteína S
(Spike) do corona-vírus, impedindo que ela entre em contato com o alvo
celular, neutralizando sua ação (ROCHA et al., 2021).
A técnica de transfusão do PC era frequentemente utilizada,
principalmente em surtos de doenças infecciosas como, por exemplo, H1N1 e
Gripe Espanhola. Entretanto, caiu em desuso devido ao surgimento de vacinas
e tratamentos que não dependiam de pacientes recuperados para alcançar
resultados, possibilitando uma produção em grande escala de um tratamento
tão eficiente quanto à transfusão. Contudo, devido a COVID-19 possuir alta
transmissibilidade e uma mortalidade considerável, não possuindo nenhum
tratamento eficaz confirmado até o momento, foi trazido à tona o uso do plasma
convalescente como forma de imunização passiva, para amenizar casos
graves e diminuir tempo de hospitalização dos pacientes (ROCHA et al., 2021).
Segundo o Instituto Butantã, a doação de plasma convalescente se dá
por plasmaférese, mas também pode ocorrer através da doação de sangue
normal. A doação por plasmaférese acontece por sistema fechado
extracorpóreo, onde o sangue é coletado, centrifugado ou filtrado, para separar
o plasma das hemácias e elementos figurados que, posteriormente é devolvido
ao paciente. Essa técnica permite melhor aproveitamento do sangue, pois, em
relação à doação de sangue normal, em que seria necessário extrair o plasma
e descartar o restante, a plasmaférese permite o retorno dos elementos não
utilizados. Além disso, essa coleta faz uso de apenas um braço, desde a coleta
a devolução das células ao paciente, e a duração desse processo leva em
média 40 minutos incluindo a centrifugação, e cerca de uma hora se incluir a
triagem.
Imagem 1 – Ilustração da separação do plasma dos demais componentes.

Fonte: Instituto Butantã, 2021.

De acordo com o regulamento da Organização Pan-Americana da


Saúde (OPAS) publicado em 22 de Abril de 2020, apenas homens ou mulheres
que nunca estiveram grávidas podem se voluntariar para a doação de plasma
convalescente, desde que sigam todas as mesmas especificações para doação
de sangue normal. Precisam ter tido a doença, e estejam livres dos sintomas
por 14 dias antes da doação, além de testar negativo para Covid-19; e de
preferência estejam vacinados, para que os níveis de anticorpos estejam
adequados. As mulheres que estiveram grávidas não são apropriadas a se
voluntariar para doar, pois, durante a gestação é liberado anticorpos anti-HLA e
anti-granulócitos na corrente sanguínea que podem causar TRALI, uma lesão
pulmonar aguda associada à transfusão de hemocomponentes do plasma, que
causa complicações clínicas graves quando transfundidos ao receptor.
Após a coleta do plasma, o mesmo deve passar por testes, devendo ser
negativo para todos os agentes infecciosos transmissíveis por transfusão,
como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o vírus da hepatite B ou C
(HBV, HCV), sífilis e outras doenças identificadas pelas normas nacionais. Se
possível, a OPAS sugere que sejam titulados os anticorpos anti-SARS-CoV-2
no plasma doado, e se não puderem ser titulados antecipadamente, uma
amostra do PC doado deve ser armazenada para determinação subsequente.
As condições de armazenamento, transporte e manuseio são similares às
definidas para outros produtos derivados do plasma. E o prazo de validade do
PC deve ser estabelecido de acordo com o protocolo para uso experimental e
na temperatura de armazenamento, -18°C ou mais baixa: prazo de validade de
1 ano, ou, plasma descongelado a 2-6°C: prazo de validade de 24 horas. Além
do que, o plasma convalescente coletado e liberado deve ser ABO compatível
com o do possível receptor.
Os exames imuno-hematológicos fazem parte da hemoterapia. Eles
servem para certificação do sangue do doador para garantir toda a eficácia
terapêutica além de maior segurança transfusional. Tais metodologias incluem
a tipagem ABO, tipagem RhD e a pesquisa de anticorpos antieritrocitários
incomuns. Caso seja identificado, após exames pré-transfusionais, que não
existe uma concentração de hemácias compatíveis com as do receptor é
comum que os profissionais que atuam na hemoterapia comuniquem o fato
para o médico que fez a solicitação de transfusão de sangue ou
hemocomponentes, para que juntos da equipe multidisciplinar seja feita outra
séries de exames e avaliações do paciente cabendo ao médico a decisão de
realizar a transfusão de concentrado de hemácias incompatíveis justificando,
por meio de documento escrito e assinado por um hemoterapeuta ou médico
assistente do paciente (GALDINO et al., 2018).
A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular
(ABHH) relata que são habilitadas a doar sangue pessoas entre 16 e 69 anos,
com boas condições de saúde e que estejam pesando mais de 50kg. Além
disso, é preciso apresentar documento oficial com foto e menores de 18 anos
só podem doar com consentimento formal dos responsáveis.
Conforme descrito pelo Ministério da Saúde, em cada doação, o máximo
de sangue retirado é de 450 ml e cada bolsa pode salvar até 4 vidas. A
quantidade de sangue recebido pelo paciente vária de acordo com a sua
necessidade e condição. No caso da transfusão de plasma, o volume deve ser
superior a 180ml.
O tratamento com plasma convalescente, até então, é restrito aos
primeiros dias do início dos sintomas, antes de haver piora clínica. Portanto,
não existem opções terapêuticas confiáveis para pacientes com COVID-19 em
estado crítico, com base nos poucos resultados de dados clínicos
multicêntricos consolidados disponíveis que impossibilitam uma análise
estatística robusta, como uma metanálise (OLIVEIRA, 2021). Havendo
necessidade de observações mais profundas nos ensaios clínicos realizados
com pacientes que receberam o plasma convalescente pela primeira vez, e,
também, protocolos padronizados e de treinamento para a equipe do estudo,
bem como a diversidade no acompanhamento dos pacientes (ROCHA et al.,
2021).
No início do ano de 2021 a Associação Brasileira de Hematologia,
Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) apresentou diretrizes para o projeto
piloto realizado pelo Instituto Butantã nas cidades de Santos e Araraquara, com
o intuito de utilizar plasma convalescente (PC) para tratar pacientes com Covid-
19.
O presidente do Instituo Butantã, Dimas Covas, justifica que a escolha
das duas cidades se dá devido a curva epidemiológica explosiva que acometeu
Araraquara durante o aparecimento da variante P1 do novo coronavírus, e a
evolução rápida e preocupante de casos em Santos.
O documento formulado pela ABHH reúne informações coletadas de
diversos estudos, tanto observacionais como controlados, sugerindo que o
tratamento com PC pode ser útil no controle da evolução clínica do paciente,
principalmente os plasmas que contem altos títulos de anticorpos
neutralizantes. Porém, para que haja um tratamento eficiente, a utilização do
PC é restrita aos primeiros dias do início dos sintomas, até 72 horas, antes de
haver piora clínica.
A Associação considera o uso do PC em pessoas imunossuprimidas,
especialmente aquelas tratadas com anticorpos monoclonais anti-CD20; com
comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão arterial, coronariopatia e
obesidade; e maiores de 60 anos.
A ABHH alerta também que a transfusão de PC pode apresentar
possíveis riscos em situações especificas como sobrecarga circulatória,
principalmente em pacientes idosos e naqueles com insuficiência renal ou
cardiopata, pacientes menos capazes de tolerar aumento abrupto do volume
circulatório e riscos de TRALI (lesão pulmonar aguda associada à transfusão).
Neste último caso, sugere-se o uso de plasma de doadores nuligestas
(mulheres que nunca engravidaram) ou de doadores que não tenham recebido
precedentemente transfusão de hemocomponentes.
Ao fim do protocolo a Associação determina que as unidades de PC
coletadas tenham níveis adequados de anticorpos neutralizantes anti-SARS-
CoV-2. E recomenda o teste de atividade de neutralização de anticorpos como
o ideal para a determinação desses títulos, no entanto, por ser um teste
complexo, de difícil realização e pouca disponibilidade, além de necessitar de
um laboratório de segurança biológica nível III, a ABHH indica métodos
imunoenzimáticos tradicionais como alternativa, por exemplo o Elisa e a
quimioluminescência.
3. CONCLUSÃO

Tendo em vista os aspectos observados, identificamos que os anticorpos


obtidos através do plasma são uma boa opção para o tratamento contra o vírus
SARS-CoV-2, visto que será apresentado ao sistema imunológico do paciente
um processo de neutralização que irá acarretar em uma imunização passiva,
auxiliando na sua recuperação. Porém, para uma abordagem eficaz, o plasma
convalescente só pode ser transfundido nos primeiros dias desde o início dos
sintomas, o que limita a perspectiva de tratamento de pacientes em casos
graves da doença.
Vale ressaltar também que existem diversos fatores que restringem a
doação de plasma, o que dificulta ainda mais a decisão dos doadores. Dentre
esses fatores estão, a preferência por pessoas do sexo masculino ou mulheres
que nunca engravidaram, e o tipo sanguíneo compatível com o do paciente,
como na doação de sangue normal. Além do medo preestabelecido que a
comunidade desenvolve referente a doação.
Todavia, concluímos que o plasma convalescente pode ser uma
esperança de tratamento contra a doença Covid-19, no entanto, é
indispensável que sejam realizados novos estudos clínicos, a fim de combinar
os resultados adquiridos e chegar a uma conclusão consistente sobre a
eficiência do tratamento em diferentes situações.
REFERÊNCIAS

CASADEVALL, Arturo; PIROFSKI, Liise-anne. The convalescent sera option


for containing COVID-19. Journal of Clinical Investigation, 2020.

GALDINO, Ketury Caroline Gusmão; PETRONI, Tatiane Ferreira. Importância


dos exames imuno-hematológicos na transfusão sanguínea. São Paulo:
Revista Saúde UniToledo, 2018. p. 26-35, v. 02, n. 01.

Instituto Butantã. Entenda como funciona a doação de plasma por


plasmaférese e contribua para o tratamento de pacientes de Covid-19. São
Paulo: Instituto Butantã, 2021. Disponível em:
<https://butantan.gov.br/noticias/entenda-como-funciona-a-doacao-de-plasma-
por-plasmaferese-e-contribua-para-o-tratamento-de-pacientes-de-covid-19>.
Acesso em: 20 de Setembro de 2021.

Instituto Butantã. Plasma convalescente será usado para tratar pacientes


de Covid-19 em Araraquara e Santos. São Paulo: Instituto Butantã, 2021.
Disponível em: <https://butantan.gov.br/noticias/plasma-convalescente-sera-
usado-para-tratar-pacientes-de-covid-19-em-araraquara-e-santos>. Acesso em:
21 de Setembro de 2021.

JUNIOR, João Batista da Silva; FERREIRA, Fabiano Romanholo. Nota


Técnica n° 33/2021/SEI/GSTCO/DIRE1/ANVISA: Atualização das
recomendações sobre o uso de plasma de doador convalescente para
tratamento de Covid-19 e a doação deste tipo de plasma por indivíduos
vacinados contra a Covid-19. São Paulo: Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) e Ministério da Saúde, 2021.

MARINHO, Will. Quais países já começaram a vacinação contra a Covid-19


e quais são os próximos. São Paulo: CNN, 2020. Disponível em:
<https://www.cnnbrasil.com.br/saude/quais-paises-ja-comecaram-a-vacinacao-
contra-a-covid-19-e-quais-sao-os-proximos/>. Acesso em: 21 de Setembro de
2021.
Ministério da Saúde. Guia para o uso de hemocomponentes. 1° Edição.
Brasília: Editora MS, 2010. 140 p. Série A. Normas e Manuais Técnicos.

OLIVEIRA, Fernando Anselmo de et al. Terapia com plasma convalescente


em pacientes graves com Covid-19 nas fases avançadas dos ensaios
clínicos e seus resultados preliminares. São Paulo: Instituto Israelita de
Ensino e Pesquisa Albert Einstein, 2021.

Organização Pan-Americana de Saúde. Considerações regulatórias sobre a


autorização do uso de plasma convalescente (PC) para atender à
emergência da Covid-19. Brasil: Organização Pan-Americana de Saúde e
Organização Mundial da Saúde, 2020.

ROCHA, Gabriel Couto et al. Uso do plasma convalescente em pacientes


graves pelo Covid-19: Revisão qualitativa de série de casos. Bahia:
Universidade do Estado da Bahia, 2021.

SANTIS, Gil Cunha de et al. Diretrizes para uso de plasma convalescente


no tratamento de pacientes com Covid-19. São Paulo: Associação Brasileira
de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), 2021.

SOUZA, Alex Sandro Rolland et al. Aspectos gerais da pandemia de Covid-


19. Pernambuco: Grupo Nordestino de Estudo de Covid-19 e Gravidez
(NCOVIP), 2021.

SULLIVAN, Harold Cliff; ROBACK, John D. Convalescent plasma: therapeutic


hope or hopeless strategy in the SARS-CoV-2 pandemic. Transfusion Medicine
Reviews, 2020. Ed. 34, p.145-150.

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