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Jéssica Marcelino

Psicologia – UNIP Paraíso

PREFÁCIO

As matérias secundárias são de suma importância do Curso de Psicologia


para a inserção do futuro profissional, bem como para que ele tenha a capacidade
de inserir suas crenças e práticas em um contexto histórico e social muito complexo.
Portanto, faz-se necessária a contextualização histórica e sociológica do nascimento
e do desenvolvimento do universo psi, de forma a tornar inteligíveis as produções
e transformações teóricas e técnicas desse campo. Tais disciplinas propedêuticas
consistem em oportunidades indispensáveis de aproximar o aluno do vastíssimo
campo de fenômenos culturais no qual se formaram as subjetividades modernas e
contemporâneas. Foi neste campo e em resposta às diversas demandas
provenientes destas subjetividades que as Psicologias foram sendo criadas e
desenvolvidas.

1. INTRODUÇÃO
O que teria levado ao surgimento da Psicologia no final do século XIX
é tema importante a ser estudo pelo aluno do Curso de Psicologia, pois a relação
entre os problemas filosóficos das várias épocas, que se refletem em toda a
expressão humana – dos hábitos à arquitetura, da música à visão de si mesmo,
mostra-se produtivo para os alunos e aumenta a cultura geral.

A Psicologia é apenas uma faceta de um contexto mais geral com o qual


todos têm contato. Afastamo-nos de uma posição “substancialista”, que levasse a
crer que o mundo psíquico seja uma coisa eterna e imutável, a qual a ciência
finalmente teria vindo desvelar. Assim, a questão que ora aqui se coloca é a da
construção do mundo psicológico, assim como a Psicologia como uma instância
de produção de conhecimento científico.
Jéssica Marcelino
Psicologia – UNIP Paraíso

A questão da compreensão da questão psicológica é muito anterior à sua


formulação em uma linguagem científica, pois já houve muito modos de ver a si
mesmo e compreender a posição do homem no universo. E isso ocorre desde que o
homem pensa, mas somente no final do século XIX surgiram os projetos de se
realizar uma ciência da mente tal qual como a conhecemos hoje.

Para uma primeira aproximação, importante pensar no motivo pelo qual


nasceu a demanda por um profissional, dentro dos moldes da ciência, para dar
conta das crises de identidade ou do controle dos comportamentos.

Essa obra se orienta pela tese básica de Luís Cláudio Figueiredo, em


Psicologia. Uma introdução, que propõe duas pré-condições para o surgimento
da Psicologia como ciência: 1. Surgimento de uma noção clara de subjetividade
privada. 2. Crise de identidade desse sujeito e a procura de um profissional que
lhe pudesse restituir a estabilidade. A noção de subjetividade privada teve seu início
na Modernidade – Renascimento – da Idade Média para o Renascimento, chegando
a afirmação do sujeito ao seu ponto máximo no século XVII, onde se iniciará uma
longa crise até o final do século XIX.

É no final do século XIX que surgem os primeiros projetos de Psicologia


já com algumas características definitivas que marca esta ciência. Wundt cria
condições para a criação de uma Psicologia experimental, enquanto Freud cria a
Psicanálise.

Desde o início do Renascimento, alguns autores já se dedicam a mostrar


as fraquezas e insuficiências do eu, indicando a possibilidade da Modernidade
incluir procedimento de auto-crítica e dissolução do eu, além dos clássicos
procedimentos de auto-afirmação.

2. A PASSAGEM DA IDADE MÉDIA AO


RENASCIMENTO
Jéssica Marcelino
Psicologia – UNIP Paraíso

A concepção atual do eu não era possível na Idade Média. É no


Renascimento que nasce o humanismo moderno, com a concepção de
subjetividade privada, aí incluída a ideia de liberdade do homem e de sua
posição como centro do mundo. Mas, ora, explica-se o porquê dessa concepção
não ser anteriormente possível no mundo medieval.

A ideia da ausência de privacidade causa estranheza. Hoje, a nossa


privacidade é tão presente que dela derivam problemas como a imposição dos
interesses pessoais sobre os coletivos, a insensibilidade, a solidão, falta de sentido,
desrespeito às leis, crescimento de movimentos ideológicos ou religiosos
dogmáticos e violentos como fruto da intolerância daquilo que é diferente do grupo.

A menor unidade seria a pessoa. O termo indivíduo remete a isto, somos


átomo indiviso do mundo humano. O sujeito isolado é a unidade básica de valor de
referência de tudo, mas nem sempre o eu foi soberano.

Na filosofia da Grécia Clássica (sec. V a.C.) já se pode encontrar algo de


que se possa chamar de humanismo, como a valorização do ser humano já não
submetido ao poder dos deuses (como na filosofia de Sócrates ou no teatro de
Eurípedes), a criação do direito e da democracia, etc. Mas o homem como medida
de todas as coisas e centro do mundo tomou a forma que tem hoje no Renascimento,
surgindo dentro da Idade Média.

Como exemplo de pensamento medieval e grego, pode-se citar As fontes


do Self, de Charles Taylor, que analisa profundamente o nascimento do sentimento
característico da humanidade: o de que possuímos uma interioridade. Seu ponto
de partida é Platão, tratando de mostrar como a razão é a percepção de uma ordem
absoluta. Ser racional significa ver a ordem como ela é. Para Descartes a ordem
está dentro de nós; para Platão, no absolutamente Bom.
Jéssica Marcelino
Psicologia – UNIP Paraíso

Taylor encontra a grande passagem para a interioridade com Santo


Agostinho. Santo Agostinho era assustadoramente moderno, considerando que
viveu entre os séculos IV e V de nossa era. Pensamento permeado pela noção de
interno-externo: espírito/matéria, alto/baixo, eterno/atemporal,
imutável/mutante, etc. Movimento inédito: com a desvalorização do corpo e de
tudo que é mundano, com a correspondente valorização da alma como algo
interno, a busca por Deus passa a ser feita dentro de nós. O radicalismo de
Santo Agostinho está na ideia de que há uma forma de eu experimentar minha
atividade, pensamento e sentimento, e a forma pela qual você ou qualquer outro
o faz. É isso que me torna me torna um ser que pode falar de si na primeira pessoa.

A experiência passar a ser altamente subjetivada e dependente de nós. Mas


antes disso, para caracterizar as ideias do Renascimento, poderíamos dizer que a
imagem do mundo medieval no Ocidente considera o mundo organizado em torno
de um centro. Haveria uma ordem absoluta, representada por Deus e Seus
legítimos representantes na terra: a Bíblia e a Igreja. O sentido de tudo estaria
na criação divina. Pecar em pensamento já é pecar. O canto gregoriano tenta
apresentar esse espírito medieval (nela, o ouvinte não tem ciência do que houve e
se deixa levar por este mar ou rebanho). Há, ainda, no contexto medieval, o
surgimento de um outro tipo de música com duas ou mais vozes na qual a mesma
melodia é cantada de forma defasada entre elas e repetida, de forma que sempre se
pode ouvir cada frase musical e a da polifonia do Renascimento.

TEXTO ANEXO – JOHN OF SALISBURY (SÉCULO XII): O


CORPO SOCIAL (“THE BODY SOCIAL”): mostra a rigidez do mundo
concebido como hierarquizado por uma ordem superior. Relação orgânica entre
todos os seres, sua interdependência. O homem não seria propriamente sujeito.

PINTURA – GIOTTO
Jéssica Marcelino
Psicologia – UNIP Paraíso

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Qual a diferença entre a meditação solitária de um monge medieval e a


experiência de solidão de um homem do século XX?

A meditação de um monge medieval tem como finalidade a busca de Deus


em seu interior. Tal pensamento tem como ponto de partida Platão, para quem a
ordem estava no absolutamente Bom. Nesse aspecto, há a valorização da alma como
algo interno, a busca por Deus passa a ser feita dentro de nós. Pode-se dizer que a
imagem do mundo medieval no Ocidente considera o mundo organizado em torno
de um centro. Haveria uma ordem absoluta, representada por Deus e Seus legítimos
representantes na terra: a Bíblia e a Igreja. O sentido de tudo estaria na criação
divina. Pecar em pensamento já é pecar. Portanto, ainda que só, o homem deveria
sempre buscar fazer parte do todo e seguir o rebanho. Já a experiência de solidão
de homem do século XX passa pela experiência de busca individual atrelada à ideia
de subjetividade privada, aí incluída a ideia de liberdade do homem e de sua posição
como centro do mundo.

2. Procure identificar alguma forma atual de entender o mundo que seria


impensável na Idade Média.
Jéssica Marcelino
Psicologia – UNIP Paraíso

A defesa dos direitos de grupos minoritários, como LGBTQI+, por


exemplo.

3. Hoje ainda existe a ideia de corpo social?

Acredito que, hoje, a ideia de corpo social está na garantia dos direitos
humanos a todos e na democracia, no entanto, não está atrelada à ideia de Deus nem
ao homem como parte do todo, mas senão parte de uma coletividade que valoriza o
homem na sua subjetividade privada. No entanto, o corpo social estaria atrelado à
ideia de sobrevivência, como em questões de meio ambiente, por exemplo,
pandemia, etc.

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