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De acordo com o artigo 26º/2 TFUE, o mercado interno compreende um espaço de fronteiras
internas, no qual a livre circulação de mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais é
assegurada (pressupostos materiais potenciadores do livre desenvolvimento da personalidade
individual, enquanto grandeza não económica).
» Estrutura;
» Titulares e destinatários;
» Convergência.
A livre circulação de mercadorias assenta numa visão positiva da liberalização das trocas entre
Estados-membros e negativa do protecionismo.
» União Aduaneira
É fixada uma pauta aduaneira comum pelo Conselho, sob proposta da Comissão (28º/1, 30º e
31º TFUE). Esta pressupõe a aplicação uniforme da legislação aduaneira em todo o território
aduaneiro da UE. Os estados-membros colaboram uns com os outros e com a Comissão em
matérias aduaneiras (33º TFUE).
A liberdade de circulação de mercadorias não tem sido nem deve ser entendida como
protegendo a livre circulação dos mercadores.
O TJUE tem adotado um conceito flexível com base numa interpretação teleológica.
O artigo 29º TFUE avança com uma caraterização das mercadorias em livre prática, definindo-
as como:
» Programa normativo
Os direitos aduaneiros estão proibidos no artigo 30º TFUE. Este conceito abrange todos os
tributos cobrados no momento da importação ou da exportação de uma mercadoria de um
estado-membro.
A primazia da substância sobre a forma obriga a uma atenção redobrada aos encargos de efeito
equivalente. Definem-se como as medidas unilaterais impostas por um estado-membro a uma
mercadoria importada ou exportada, que aumenta o respetivo preço relativamente a idêntico
produto desse estado. Nesta sede, o nomem iuris é irrelevante, o mesmo sucedendo com o
momento e modo de imposição ou da sua afetação a favor do estado-membro.
As medidas de efeito equivalente às restrições quantitativas não têm que ser discriminatórias.
Basta que tenham efeitos favoráveis à proteção de um produto nacional típico, colocando
produtos de outros estados-membros numa posição de desvantagem.
A liberdade de circulação de mercadorias, nas suas diferentes dimensões, começa por vincular
as instituições, órgãos e organismos. Estes têm o dever de promover, regular e proteger o seu
exercício, sem qualquer discriminação entre estados e entre particulares dos diferentes
estados. Além disso, vincula os estados-membros a deveres negativos e positivos, que devem
ser cumpridos com uma atitude de cooperação leal.
Esta proibição tem efeitos diretos nas relações entre os estados-membros e nas relações entre
regiões dentro de um mesmo estado-membro, para além de criar direitos para os particulares
dotados de efeito imediato e aplicabilidade direta, justiciáveis diante dos tribunais nacionais. A
liberdade de circulação de mercadorias também produz um efeito direito horizontal nas
relações entre particulares, cabendo aos estados adotar as medidas, necessárias, adequadas e
proporcionais, desde que possíveis e exigíveis, para impedir a sua violação por terceiros,
nomeadamente por ações de particulares no seu território contra produtos originários de
outros estados-membros.
» Monopólios nacionais
O artigo 37º TFUE determina a sua adaptação em ordem a impedir qualquer discriminação
entre nacionais de estados-membros, quanto ao abastecimento e comercialização. Pretende-se
que os fluxos de importações e exportações não sejam influenciados sensivelmente por ação
estadual, formal ou informal, direta ou indireta, qualquer que seja a forma de organização.
Também aqui a substância prevalece sobre a forma.
» Restrições
Saber quando, e com que fundamento, é que medidas de efeito equivalente a direitos
aduaneiros ou a restrições quantitativas à importação e exportação poderão ser consideradas
justificadas.
A iniciativa económica individual tem que proteger interesses não mercantilistas. Para proteger
estes bens jurídicos, os Estados podem adotar medidas unilaterais de restrição à liberdade de
circulação de mercadorias. Estas restrições devem observar determinados parâmetros. Em
primeiro lugar, é mister que não exista direito secundário de sentido contrário. Se existir, o
mesmo prevalece sobre o direito nacional, de acoro com as doutrinas da primazia e do efeito
direto. Em segundo lugar, impõem-se que as mesmas aplicadas de forma não discriminatória
aos fluxos de importação e exportação de mercadorias, não diferenciando entre mercadorias
nacionais e estrangeiras. Em terceiro lugar, elas devem ser adequadas para garantir a realização
dos fins prosseguidos e não ultrapassar o necessário para tingir esse objetivo. Ou seja, as
mesmas estão sujeitas ao princípio da proibição do excesso. Às autoridades nacionais
competentes cabe demonstrar que as suas medidas satisfazem os fundamentos e os limites das
restrições.
» Tributação nacional
O mercado interno não é realizado apenas com base na livre circulação de mercadorias.
Existem outras variáveis importantes, como sejam a concorrência, a fiscalidade e aproximação
das legislações. A segunda variável diz respeito ao problema da tributação direta ou indireta
sobre os produtos. Em causa estão os tributos cobrados de acordo com regras internas
sistematicamente aplicadas aos produtos domésticos, importados e exportados de acordo com
os mesmos critérios. Estes tributos são sujeitos a um tratamento autónomo, distinto do
dispensado aos DA’s, EEE’s e MERQ’s.
O artigo 110º TFUE, relativo às disposições fiscais, tem como objetivo impedir a legislação fiscal
discriminatória e protecionista resultante da inexistência de uma total harmonização da
legislação tributária. Ele proíbe os Estados 1) de fazerem incidir, direta ou indiretamente, sobre
os produtos dos estados-membros, imposições internas, independentemente da sua natureza,
superiores aos que incidam, direta ou indiretamente, sobre produtos nacionais similares e 2)
de fazerem incidir sobre os produtos de outros Estados-membros imposições internas de modo
a proteger indiretamente outras produções.
O artigo 110º TFUE requer que se esclareça em que consiste a incidência direta ou indireta.
Para esse efeito recorre-se a uma interpretação teleológica que obriga a que se interprete a
expressão em causa num sentido amplo, quando se trate de avaliar a tributação interna, direta
ou indireta, sobre mercadorias similares. Pretende-se abranger todas as fases da cadeira
produtiva, como sejam a produção, a importação e a comercialização da mercadoria.
O artigo 110º obriga a que se considere relevante não apenas o imposto em si, mas todos os
elementos respeitantes à incidência, taxa, isenções, benefícios fiscais, lançamento, liquidação e
cobrança do imposto, atendendo aos aspetos materiais e processualmente relevantes da
relação jurídica tributária e das garantias de procedimento e processo tributário. Um imposto
pode existir se, diante de um imposto com a mesma incidência e taxa, os produtores nacionais
puderem proceder ao respetivo pagamento depois de introduzirem os seus produtos no
mercado e os importadores foram obrigados a pagar por altura da importação. O mesmo
sucede se os requisitos de prova do preenchimento dos pressupostos para beneficiar de uma
dada isenção forem mais apertados para os produtos importados.
O TJUE tem procurado interpretar o conceito de “produtos similares” com um grau razoável de
flexibilidade. O conceito de similaridade abrange as mercadorias que, embora não sendo
idênticas, concorrem entre si em virtude das semelhanças estruturais e funcionais.
O artigo 110º/2 TFUE pretende evitar que mesmo um sistema de tributação diferenciada possa
ser usado para proteger determinados produtos de outros que, apesar de não serem similares,
do ponto de vista da sua natureza e caraterísticas, acabam por estabelecer entre si uma relação
de concorrência, ainda que parcial, indireta ou potencial. Isso pode acontecer quando uma
utilização económica de um bem acaba por concorrer com a utilização de outro bem não
similar.
O TJUE tem sustentado que estes conceitos devem ser entendidos em sentido amplo, devendo
as restrições e derrogações ser interpretadas com um sentido restrito. Para o efeito são
considerados atendíveis alguns critérios.
Um deles diz respeito à relevância transfronteiriça da relação laboral. Com base neste critério
consideram-se excluídas do âmbito normativo da liberdade de circulação de trabalhadores as
situações puramente internas de um Estado-membro. Este critério requer que estejam em
causa pelo menos dois Estados-membros. Todavia, mesmo este critério deve ser analisado
cuidadosamente, na medida que o elemento transfronteiriço pode apresentar múltiplas
modalidades. Com efeito, o conceito de trabalhador também abrange uma pessoa que procura
emprego no seu próprio estado, quando haja obtido o seu diploma de terceiro ciclo de estudos
noutro estado-membro, fazendo uso da liberdade de circulação. Do mesmo modo, aquele
conceito também abrange o trabalhador de um estado-membro empregado numa empresa da
UE, mesmo se exercendo temporariamente a sua atividade fora da UE. Além disso, o elemento
transfronteiriço pode significar apenas que um trabalhador de um estado-membro exerce aí a
sua atividade embora resida noutro estado-membro.
Um outro critério para a qualificação de alguém como trabalhador prende-se com o exercício
de uma atividade laboral real e efetiva. De acordo com este critério, a forma contratual
utilizada não é decisiva, adotando-se também aqui uma perspetiva realista, de primazia da
substância sobre a forma. Uma atividade assalariada verifica-se quando o trabalhador exerça
uma atividade subordinada, sob a direção de outrem, contra o pagamento de uma
remuneração, sem ter, em princípio, a possibilidade de escolher o horário de trabalho, de
recrutar os próprios assistentes e sem participar no risco comercial da empresa.
Como se trata aqui de uma restrição definitória a esta liberdade fundamental, a mesma tem
sido interpretada restritivamente pelo TJUE. Este tem circunscrito a função pública ao exercício
de atividades que envolvam o exercício de prorrogativas estaduais e a salvaguarda dos
interesses gerais do Estado e de outras coletividades, e um dever de especial lealdade para
com estes, independentemente do vínculo jurídico.
» Programa normativo
atribuição. A diretiva 2005/36/CE pretende assegurar que aqueles que tenham adquirido
qualificações profissionais num estado-membro possam exercer a sua profissão noutro estado-
membro, por conta de outrem ou por conta própria, com base no título de origem e com os
mesmos direitos dos profissionais deste estado, independentemente do seu estatuto
assalariado ou não assalariado. Vigora o princípio do reconhecimento automático do título de
formação, desde que cumpridos determinados requisitos mínimos. Quaisquer condições
adicionais que sejam exigidas para o acesso e o exercício da profissão devem ter um
fundamento material objetivo na proteção de bens como a segurança pública, a saúde pública
ou a proteção do consumidor, e respeitar os princípios da proporcionalidade e da igualdade.
Não havendo inteira harmonização dos requisitos de formação, admitem-se algumas medidas
de compensação, como a exigência de experiência profissional, formação complementar,
provas de aptidão, estágios, etc. por imperativos de saúde pública, uma atenção especial é
dada ao reconhecimento dos profissionais ligados ao setor da saúde. Por razões de proteção do
ambiente e ordenamento do território, o exercício da profissão de arquiteto é expressamente
abordado.
É evidente que são titulares todos quantos forem qualificados como trabalhadores de acordo
com os critérios anteriormente expostos. Embora a plenitude da liberdade de circulação dos
trabalhadores esteja na titularidade dos próprios, algumas das suas faculdades integram a
esfera jurídica doutras entidades. Isto significa que a mesma também pode ser invocada, diante
das entidades administrativas e jurisdicionais da UE e dos Estados-membros, por outros
particulares. este direito pode ser invocado pelos próprios empregadores interessados que
estão na liberdade de circulação de trabalhadores.
» Restrições
Todavia, há casos em que são admitidas restrições, dentro de certos limites. As restrições e
discriminações só são admitidas se prosseguirem um fim legítimo, à luz dos Tratados, e se
forem adequadas, necessárias e proporcionais à sua prossecução. Relativamente à legitimidade
do fim, aplica-se o artigo 45º/3 TFUE, devendo entender-se que as cláusulas gerais da
moralidade pública, a ordem pública e a segurança pública, podem fundamentar restrições
discriminatórias ou não discriminatórias, na linha do que antes se disse para a liberdade de
circulação de mercadorias. As cláusulas gerais devem ser objeto de interpretação restritiva.
Para além destes fundamentos expressos, o TJUE tem considerado admissíveis fundamentos
implícitos de restrição, respeitantes à prossecução de um interesse geral ponderoso dos
estados-membros, relativos à sua soberania e identidade, para justificar a imposição de
restrições não discriminatórias (ex: garantia da coerência do sistema fiscal, a administração
ordenada das universidades e mesmo outros interesses não económicos limitados).
Um dos domínios críticos das restrições à liberdade de circulação dos trabalhadores diz
respeito à regulação de atividades profissionais. Importa compreender como é que a
jurisprudência do TJUE tem trabalhado este tema. A regulação profissional tem o seu
fundamento expresso no artigo 45º/3 TFUE e nos demais fundamentos implícitos deduzidos
dos tratados. O TJUE procura evitar todas as formas de protecionismo profissional restritivo e
discriminatório. Especialmente relevante é a presença ou ausência de harmonização de normas
profissionais entre os estados-membros, sendo que estes, juntamente com a UE, têm o dever
de criar mecanismos de comparação e certificação de diplomas e habilitações profissionais
obtidos noutros estados-membros. A avaliação das restrições neste domínio está sujeita aos
princípios da igualdade e da proporcionalidade.
O TJUE sustentou que apesar de a matéria da tributação direta não constar das competências
comunitárias, o exercício das competências estaduais neste domínio não pode violar o
princípio da não discriminação entre nacionais de vários estados-membros, sem fundamento
material suficiente. Isto significa que o direito tributário não só se deve pautar por este
princípio, como deve ser interpretado de acordo com ele. Questão da eliminação da dupla
tributação entre estados-membros.
Pretende tutelar a prossecução efetiva de uma atividade económica, através de uma instalação
estável noutro estado-membro, por um período indefinido. De acordo com o 49º/2 TFUE, o
O direito de estabelecimento não trata da temática dos direitos dos trabalhadores assalariados,
dependentes ou subordinados. Todavia, o direito de estabelecimento pode aproximar-se da
regulação do trabalho independente, quando se esteja diante do seu exercício por vida de uma
instalação estável noutro estado-membro.
O artigo 51º/1 TFUE, na linha do que há muito era reiterado pela jurisprudência, subtrai do
âmbito de proteção do direito de estabelecimento as atividades que, num estado-membro,
estejam ligadas, mesmo ocasionalmente, ao exercício de autoridade pública, ou seja, a
prerrogativas de soberania ou ius imperii.
» Programa normativo
Deve considerar-se prima facie discriminatórias as leis nacionais que se pretendam aplicar
apenas a não-nacionais. No entanto, também estão sob escrutínio do princípio da igualdade
aquelas leis nacionais que aparentemente se apliquem indistintamente a nacionais e a não
nacionais, não fazendo qualquer distinção formal entre uns e outros, mas que possam ter, na
prática, um efeito discriminatório. Neste último caso, só não existirá discriminação se existir
uma justificação aceitável, à luz dos Tratados, para o efeito discriminatório.
No leque dos destinatários do direito de estabelecimento encontramos, como não podia deixar
de ser, as instituições, os órgãos e os organismos da UE. Além disso, também os Estados estão
» Restrições
Tal como sucede com outros direitos admitem-se apenas fundamentos de restrição de
natureza não económica. Os fundamentos não económicos da restrição devem ser objeto de