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GESTÃO TECNOLÓGICA
2. Gestão de tecnologia e estratégia
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empresarial;
3. Conclusão.
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> O estudo da tecnologia não é estranho à literatura admi- .
~ ~ nistrativa e organizacional. Na verdade o problema tem
~ quase duas décadas e duas maneiras básicas de focalizá-lo
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podem ser encontradas - uma que busca as relações entre
tecnologia e estrutura organizacional e uma outra que tem
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manifestado mais interesse pelas relações entre a tecno-
logia adotada e o comportamento de pessoas e grupos no
~ interior das organizações. A primeira abordagem encontra
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apoio no estudo clássico de Joan Woodward1 e nos tra-
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~ < balhos do grupo de Aston, realizados quase uma década
depois. 2 A contribuição de Peter Blau, embora não tenha
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sido originada por pesquisas que objetivassem primordial-
mente a investigação das relações entre tecnologia e estru-
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tura, terminou por' lançar indiretamente também luzes
para o esclarecimento do assunto." A segunda abordagem
Aspectos organizacionais
por outro lado, o próprio fenômeno da íntensífícação da derá contratar com outras empresas, institutos ou univer-
transferência prende-se a um ritmo bem mais acelerado de sidades projetos específicos visando o desenvolvimento e à
inovação tecnológica e de produção de tecnologia. pesquisa.
Além dos aspectos 'inovadores, difusores e de transfe- As etapas descritas sugerem uma maneira de agrupar-
rência, certamente outros podem ser vistos a compor a dados e informações, ao mesmo tempo que podem ser
gestão tecnológica a nível de empresa. Os aspectos que tomadas como tipologias para explicação de um processo
Ipoderiam ser aqui incluídos dizem respeito a rotinas que que vai de dependência tecnológica - onde inclusive o
são encontradas em setores como controle de qualidade, domínio e o controle sobre a tecnologia são reduzidos a
engenharia de produto, racionalização (tempos e movi- etapas posteriores, onde a firma não só busca o rompi-
mento da dependência tecnológica, mas pode lançar-se no
mentos).
O estudo da gestão de tecnologia pode ser feito segun- . seu próprio projeto de produção de tecnologia.
do vários aspectos. Um deles seria o de verificar a impor- Outra maneira de se vislumbrar o desenvolvimento tec-
tância que as questões relacionadas com a tecnologia pos- nológico de uma firma, desde a dependência até a relativa
sui para a empresa. Assim sendo, poderíamos distinguir autonomia tecnológica, seria aquela onde a empresa importa
quatro etapas. . tecnologia em pacotes, mediante pagamento de royalties, ou
Na primeira podemos constatar que tecnologia é preo- firma contratos de assistência técnica. Tal fase pode ser
cupação confmada exclusivamente ao pessoal de produ- encontrada no in ício da atividade quando a empresa é
ção, na medida em que equipamentos, processos e méto- criada, ou quando se introduzem novos produtos. A fase
dos são atribuição de planta industrial e solucionável dura pelo menos o tempo necessário para que a empresa
naquele âmbito. Uma segunda etapa seria aquela onde a absorva e passe a dominar e conhecer perfeitamente a tec-
tecnologia passa a constituir preocupação da área finan- nologia adquirida. Pode-se lançar a hipótese de que nesse
ceira, na medida em que representa desembolsos devidos estágio a administração tecnológica está entregue àqueles
por royalties, licenças, acordos e contratos de assistência responsáveis pela produção e portanto a nível da planta
técnica e que podem passar a constituir itens elevados de industrial. Poder-se-ia encontrar ingerência de setores liga-
despesa. Várias razões podem levar a que se levante tal dos à alta administração, apenas com o envolvimento de
preocupação, sendo relevante lembrar que o pagamento consultores jurídicos, que normalmente estudam, minu-
pelo uso de tecnologia alheia é sempre efetuado sob forma tam e às vezes negociam tais contratos. Porém suas parti-
de um percentual sobre vendas e nunca constitui uma des- cipações se limitam ao período de negociações, quando
pesa fixa. A terceira etapa seria aquela onde a preocupação contratos expiram e devem ser renegociados.
128 Uma segunda fase é aquela onde a tecnologia adqui-
com tecnologia passa a ocupar a alta administração da em-
presa, na medida em que, não só por questões de custos, rida de outrem é efetivamente transferida para a empresa.
mas especialmente por motivos estratégicos, a tecnologia É o momento onde a tecnologia é aprendida, onde o seu
passa a ser decisiva no posicionamento de empresa no mer- controle e o seu domínio efetivamente se transferem à em-
cado. Este é o ponto onde a dependência tecnológica, sob a presa compradora. A absorção se faz não apenas pela ope-
forma de não possuir tecnologia, de estar obrigada, por for- ração do equipamento, condução de processos, manufa-
ça de contratos, a produzir determinado produto com espe- tura de produtos, mas pelas atividades de manutenção,
cificações e características estabelecidas pelo fornecedor de que são função preciosa para que se absorvam as peculia-
tecnologia, podendo constituir sério obstáculo à inovação ridades. As atividades de manutenção servem à formação
e adaptação do produto. A dependência com relação à tec- de mão-de-obra e de técnicos que passam a conhecer o
nologia alheia se faz sentir também na medida em que a equipamento. Nesta fase, a administração de tecnologia
:nova tecnologia, sob a forma de produtos, processos e ainda continua ligada à administração de produção.
equipamentos passa a significar um diferencial competi- A terceira fase ocorre quando alguma das partes ou
peças do equipamento começam a ser produzidas pela pró-
tivo para a empresa.
pria empresa ou quando o processo ou o produto são par-
Enfim, o que leva ao envolvimento da alta adminis-
cialmente alterados. Tais modificações revelam o controle
tração é a tomada de consciência de que a tecnologia é
e o avanço de processo de aprendizado. Esta fase pode
decisiva para que se chegue a um product mix que assegu-
implicar atividades que levem ao que se chama de adapta-
re posições vantajosas no mercado. .
ções, que incorrem em alterações dos produtos e processos
A quarta etapa ocorre quando a empresa decide
originais.
iniciar o processo de aumento de autonomia e conse-
A quarta fase se dá quando a empresa decide iniciar
qüente diminuição de dependência com relação à tecno-
processo de obtenção de maior autonomia tecnológica,
logia alheia. Certamente a autarquização tecnológica, é
seja contratando consultoria especializada, seja iniciando
meta questionável do ponto de vista empresarial. Ela não
sua própria atividade de pesquisa e desenvolvimento com
seria nem viável, nem mesmo desejável em termos de
vistas ao desenvolvimento de processos, equipamentos e
custo. A fim de atingir o objetivo proposto, vários cami-
nhos podem ser trilhados, sem que sejam mutuamente ex- produtos.
clusivos. A empresa pode iniciar contatos com fontes em- As duas maneiras propostas para que se analisem e
presariais alternativas para a obtenção de tecnologia; po- agrupem dados e informações referentes à gestão de tecno-
Aspectos organizacionais
objetivos empresariais para depois abordar a problemática com P&D nas vanas indústrias. Dados publicados pela
de Fstão tecnológica. Digamos que a administração da NSF (National Science Foundation) dos Estados Unidos
tecnologia é espécie do gênero administração e que se em 1972, apoiada em dados de 1970, indicaram ser bas-
inclui nos meios de que a firma dispõe para atingir os seus tante diversos os montantes aplicados em P&D nos vários
objetivos. Isto nos permite tratar a gestão tecnológica sob ramos industriais, todos indicados como percentagem de
uma nova luz que enriquecerá bastante a investigação, ou . vendas, considerando-se sempre as 20 maiores empresas de
seja, reafirmaremos os recursos tecnológicos como básicos cada indústria. Assim é que aeronáutica, equipamento elé-
e críticos para que a empresa possa ser bem sucedida e ve- trico e equipamentos mecânicos, aplicaram 19,6, 9,7 e
remos na gestio tecnológica o manejo dos recursos tec- 7,1%, respectivamente, enquanto madeira, têxtil e de ali-
nológicos e de seu entrosamento com os outros recursos mentação apresentaram 0,3, 0,6 e 0,6%. Se tomarmos as
básicos da empresa. Assim sendo, a gestão tecnológica será quatro maiores empresas de cada indústria, verificaremos
vista como fundamental para que a firma logre uma estra- que aeronáutica, equipamento elétrico, equipamento me-
tégia que lhe permita uma adequação a mercados e con- cânico e farmacêutica aplicam 24,8, 12,4, 12,6 e 12,7 res-
sumidores que lhe assegurem crescimento, lucratividade e pectivamente, como percentagem de vendas em pesquisa e
sucesso. desenvolvimento. Isto nos permite constatar não só a con- .
centração em determinadas indústrias, mas que no interior
de cada indústria parcela substancial dos gastos com P&D
é realizada por número reduzido de empresas. 16
O que procuro sugerir com tais dados é que a maioria
2. GESTÃO DE TECNOLOGIA E ESTRATÉGIA das empresas seria marginal e estaria excluída entre as bem
EMPRESARIAL sucedidas se adotássemos a inovação tecnológica, apoiada
em P&D próprios, como critério exclusivo de sucesso. A
A moderna empresa tem-se expandido constantemente e
grande maioria das empresas não tem P&D próprios e não
tal se deve à adoção de uma estratégia de crescimento
faz da inovação tecnológica a pedra angular de seu su-
onde novos produtos e processos desempenham papel fun-
cesso. Isto é fato não só em grande número de firmas nos
damental. Relacionar crescimento, ou sucesso empresarial,
países mais avançados, como é o caso de quase todas as
com sucessos tecnológicos é temerário, porém vários auto-
que se localizam em economias subdesenvolvidas ou em
res têm apontado a capacidade tecnológica como fator de-
desenvolvimento.
cisivo na liderança que as empresas mais importantes vêm
exercendo. O modelo de sucesso, crescimento e liderança Adotaremos o ponto de vista de que a importância de
130
implicaria um sólido setor de pesquisa e desenvolvimento, inovação tecnológica tem sido de maneira geral exagerada
onde vários projetos acabariam por produzir um fluxo e que a tecnologia, na medida em que se manifesta em
constante de novos produtos, processos ou ambos que se- produtos e processos é um dos elementos que a firma uti-
riam posteriormente industrializados e comercializados em liza para obter sucesso.
mercados internacionais. Tal modelo tem a vantagem de Mais importante do que considerar a tecnologia isola-
permitir margens elevadas, uma vez que o produto novo damente é procurar entender a estratégia empresarial, e de
significaria sempre um monopólio, que embora tempo- que maneira a tecnologia, ou melhor, os recursos tecnoló-
rário, permitiria às empresas um controle maior sobre o gicos são manejados pela empresa, de que maneira são uti-
seu meio-ambiente e ainda poderia assegurar receita adi- lizados para que os objetivos estratégicos sejam atingidos.
cional sob forma de royalties e licenciamentos vários. O A consideração dos recursos tecnológicos como parte
que tal modelo contém é o pressuposto de inovação tecno- dos recursos totais da empresa, que serão utilizados na ela-
lógica e, portanto, de que apenas as empresas inovadoras é boração e' implementação da estratégia empresarial, é bem
que podem aspirar à liderança e ao sucesso. Tal afirmação mais fecunda e mais adequada ao estudo da gestão da tec-
é de difícilscomprovaçio e há outras formas de uma em- nologia a nível da empresa.
presa ser bem sucedida sem que seja inovadora, como mos- A abordagem que apresentaremos a seguir é a de en-
traremos mais adiante. tregar estratégia da empresa e gestão da tecnologia, verifi-
Por outro lado, .os estudos até o momento realizados car como os recursos tecnológicos influenciam na fixação
sobre pesquisa e desenvolvimento indicam sua alta con- de uma estratégia e como são instrumentais na consecução
centração, tanto em termos de empresas (pequeno núme- de uma estratégia.
ro) como de programas (poucos programas), como ainda É conveniente que se deixe claro que a primazia per-
em termos de países (os mais desenvolvidos ou industria- tence à estratégia. Na medida em que o objetivo primeiro
lizados). Um relatório das Nações Unidas, publicado em de qualquer empresa é sobreviver, e em princípio sobrevi-
1970, indicava que 90% das despesas mundiais em P&D ver indefmidamente, conclui-se, que a utilização de seus
eram realizadas pelas nações industrializadas e eram evi- recursos tecnológicos, ou a gestão da tecnologia, é utili-
dentemente orientadas para a solução de problemas da- zada pela empresa com vistas a perpetuar-se da mesma
quelas sociedades. 1 5 forma que utiliza máquinas, instalações físicas, capital de
Além das concentrações mencionadas, seria conve- giro, talento de seus executivos ou a habilidade de uma
niente verificar que há uma grande disparidade em gestões força de vendas.
Aspecto, ofganizacionai,
Figura I Figura 2
Agressiva Defensiva
Aspecto« organizacionala
do -que comanda, e que, conseqüentemente, tem menos o que faz a diferença entre a agressiva e a defensiva é
capacidade para decidir por estratégias autônomas, como freqüentemente uma questão de oportunidade, sorte e,
também aquela parte da economia e do sistema empre- certamente, maior atenção à pesquisa, tanto básica, como
sarial onde há diferenças essenciais no que diz respeito ao aplicada.
conjunto de inovações. Assim sendo, as empresas colo- As estratégias incorrem em posicionamento relativa-
o cadas em posição central no sistema tenderão a se envolver mente alto de gestão de tecnologia. Como podemos obser-
em inovações, o que lhes permitirá adotar estratégias var pela listagem das atividades administrativas necessárias
agressivas e defensivas, enquanto a periferia; menos equi- à implementação das estratégias, a gestão de tecnologia
pada para inovar, terá que excluir as referidas estratégias implicará a existência de um poderoso setor de pesquisa e
de sua lista de alternativas. desenvolvimento, que fará não só o trabalho de pesquisa
Portanto, afirmaríamos que as estratégias podem ser pura e aplicada, mas incluirá projetos de desenvolvimento,
de três tipos, ou seja, centrais, periféricas e ambivalentes. adaptação, imitação, inovação e quase inovação. Hierar-
As estratégias de tipo agressivo (offensive) e defensivo quicamente, isto pode pressupor a existência até mesmo
(defensive) são possíveis de adoção apenas pelas empresas de uma vice-presidência de P&D como pode ser consta-
colocadas no centro do sistema. Isto implica que sejam tado pelo exame de organograma de empresas multina-
matrizes de multínacionaís, ou empresas nacionais que dis- cionais que operam nos setores geradores e aplicadores de
ponham de porte que permita arcar com os necessários tecnologia de ponta.
investimentos e posteriores despesas operacionais. Por- Além de existência de P&D, o setor de produção e
tanto as estratégias em questão devem ser consideradas operações industriais ocupar-se-á da gestão de tecnologia,
estratégias centrais. especialmente no seu setor de design engineering, enge-
As estratégias de tipo imitativo e dependente são as nharia de produção e controle de qualidade. O controle de
mais provavelmente encontráveis entre subsidiárias de qualidade e a engenharia de produção são pontos que rea-
multinacionais e empresas de portes médio, pequeno e limentam de informações os responsáveis por pesquisas e
grande, porém onde a grandeza medida no âmbito nacio- trabalhos experimentais de desenvolvimento
nal não lhes permite incorrer no investimento de criar e A necessidade de educar e treinar recursos humanos
manter seus próprios quadros de atividade de P&D. As para operarem tecnologia e, eventualmente aprimorá-la e
estratégias em questão podem ser consideradas como pe- desenvolvê-la, fará que as preocupações de treinamento e
riféricas. desenvolvimento de recursos humanos ultrapassem as bar-
As estratégias de tipo oportunista e tradicional podem reiras do trabalho convencional do setor de pessoal ou de
134 ser encontradas tanto no centro como na periferia, e sua relações industriais. Implica não apenas enviar membros
adoção por parte de uma empresa é motivada por consi- da empresa para serem treinados em instituições que pos-
derações de adequação ao mercado e obtenção de renta- sam ,contribuir para a consecução de objetivos que a em-
bilidade. Portanto, as estratégias em questão podem ser presa estabeleceu em matéria de tecnologia, como também
vistas como ambivalentes. criar, no interior da empresa, atividades que permitam o
intercâmbio de idéias entre os pesquisadores e a realização
sistemática de atividades de avaliação e troca de informa-
2.1 As estratégias centrais ções. Tais atividades farão com que uma parte da empresa,
a envolvida em P&D, desenvolvimento experimental, even-
As estratégias centrais, a fim de poderem ser implemen- tualmente controle de qualidade, e design engineering
tadas pressupõem que a empresa possua: assumam formas de comportamento e estruturem suas
atividades de maneira a assemelharem-se a uma univer-
sidade ou instituição de pesquisa.
a) pesquisa básica; Finalmente, a gestão de tecnologia ocupará a cúpula
b) pesquisa aplicada; da organização, pela sua incorporação às atividades de pla-
c) desenvolvimento experimental; nejamento do produto, que colocará equipes de produção
d) design engineering; e comercialização, e pelo planejamento a longo prazo.
e) engenharia de produto e controle de qualidade; O planejamento a longo prazo procura oferecer
f) serviços técnicos; opções à empresa; sua ausência implica perda de auto-
g) informação técnica e científica; nomia da empresa em face do mercado e dos competi-
h) educação e treinamento de recursos humanos; dores. A ausência de alternativas leva a que se adote, por
i) planejamento de produto; via de exclusão, a única que restou. O planejamento a lon-
j) planejamento' a longo prazo. go prazo não poderia ocorrer se a empresa (agressiva ou
defensiva) não dispusesse de opções de tecnologia. A con-
As estratégias centrais implicam a existência de em- quista de novos mercados, a obtenção de parcelas de mer-
presas que liderem o setor, seja pela criação de novos bens, cado que estão totalmente em mãos da concorrência e a
produtos e processos, seja pela adoção rápida, por imita- criação de novos mercados só poderão ser entendidas pela
ção, de produtos e processos desenvolvidos por concor- expectativa concreta de que, a longo prazo, novos pro-
rentes. dutos, serviços e processos estarão disponíveis.
Aspectos organizacionais
de inovação que a tem sítuado entre as de menor inovação Se na indústria de produtos alimentícios, coeteris
do que entre os grandes inovadores. paribus, ficarmos no crescimento da demanda, devido à
expansão da população e na manutenção dos gostos e pre-
A indústria alimentícia poderia ser objeto de várias
ferências, veremos que a maioria das. inovações tecnoló-
tipologias, mas a que parece predominar é a que toma
como base a matéria-prima utilizada. Assim sendo, sub- gicas deverão centrar-se em aumentar a escala de produ-
ção, aumentar a produtividade, o que pode ser feito pela
ramos como os que utilizam farinhas, e dentre elas espe-
automação de operações,' reduzir o desperdício tanto de
cialmente a farinha de trigo, fabricam produtos que são
matérias-primas como de produtos acabados, e buscar um
seculares e que têm mudado muito pouco. O mesmo se
aumento da qualidade - o que conserva vinculação estrita
poderia dizer do setor de óleos vegetais, onde nos depa-
com padrões elevados de higiene. O aumento de escala
ramos com um produto que é conhecido e utilizado pela
com os decorrentes investimentos elevados que se fazem
humanidade há séculos. As inovações em termos de tecno-
necessários poderão oligopolizar o setor pela eliminação
logia foram, aqui, poucas e introduzidas ao longo de
de empresários pequenos e médios que não podem arcar
períodos 'bastante distantes. Poderíamos até dizer que o
com os custos de adoção de novos equipamentos. Este
que alterou a técnica de extração de óleos de sementes foi
evento parece ter sido o que mais vem ameaçando o perfil
a introdução do vapor - que facilitou muito a extração -
do setor como um todo, afastando-o do que seria a espe-
a substituição da moenda movida a água pela movida a
rada concorrência perfeita e introduzindo oligopólios de
vapor e, há cerca de um século, pela útílízação da eletricí-
fato.
dade. Além disso, que se refere apenas à extração pro-
O tradicionalismo em termos de produtos e de altera-
priamente dita, outras inovações foram introduzidas no
ções que venham desfigurar mais profundamente a apa-
que diz respeito ao refino, à desodorização e à embalagem,
rência dos produtos é igualmente constatável pelas conclu-
mas que marcam uma taxa de inovação tecnológica bem
sões a que chegaram os autores de trabalho realizado para
menor que aquela encontrada na grande maioria das indús-
o Ipea em 1971 o que lembra existir " ... entre as em-
trias, onde a vida de um produto é sempre medida em
presas (do ramo alimentício) tendência mais acentuada
anos, quando muito em décadas.
para adaptação de processos do que para adaptação de
Não é apenas a tecnologia que se modifica lentamente produtos. Os motivos que levaram à adaptação de
no setor de empresas que se atêm a uma estratégia tradi- processos foram principalmente melhoria da qualidade do
cional, mas o próprio meio-ambiente que se altera a passos produto e da produtividade, seguidos com menor fre-
lentos, sem grandes saltos, sendo seu principal movimento qüência pela adaptação à disponibilidade local de fatores
136 o de crescimento de demanda por meio de crescimento da e/ou insumos. Entre as razões que determinaram a adapta-
própria população. Portanto, as alterações do mercado são ção de produtos, a adequação às condições locais de mer-
as que dizem respeito mais a seu aumento quantitativo do cado teve peso um pouco superior à peculiaridade local de '
que em termos de alterações de gostos, preferências ou insumos" . 23
outras que permitissem grandes práticas segmentadoras de Num outro documento, preparado pelo Center for
mercado, tão encontradiças em outros setores industriais. Policy Altematives, do Massachusetts Institute of Tech-
Todas estas considerações, tanto no que diz respeito nology, onde os mesmos problemas de tecnologia indus-
ao produto, como quanto às características agregadas do trial no Brasil são analisados, incluindo uma revisão crítica
mercado e no que tange às preferências dos consumidores, do' citado trabalho do lpea, conclusões que apóiam nosso
particularmente o conservantismo com que novos pro- .ponto de vista são encontradas na medida em que a análise
dutos são aceitos, têm levado a que a indústria de produ- da natureza dos projetos de P&D realizados por setor,
tos alimentícios tenha adotado estratégia que se coloca demonstram que em' processamento de alimentos 14,7%
mais acentuadamente no espectro da tradicionalidade. dos projetos .realízados pelas empresas brasileiras referiam-
Embora seja impossível encontrar uma empresa ou indús- se a protótipos, 11% eram para introdução de modifi-
tria que adote um dos modelos estratégicos em sua forma cações de importância e a grande maioria, ou seja, 74,3%
pura, pois os tipos apresentados são mais "ideais" e des- eram de pequenas modífícações.P'
tinados a facilitar o entendimento da realidade, do que , Se téntarmos estabelecer uma cronologia dos vários
propriamente reproduções de situações existentes na prá- estilos estratégicos apontados, fato que, reconhecemos,
tica empresarial; será igualmente impossível imaginar que deve ser tomado com reservas, poderíamos tentar fazê-loa
todo um setor industrial se atenha a um único tipo: Se de partir da experiência industrializante recente de vários paí-
um lado podemos apontar para a predominância de um ses. No caso do Japão percebemos que evoluiu a partir de
certo modelo numa determinada indústria, de outro, uma estratégia que era claramente tradicional, para a imi-
somos forçados a reconhecer que circunstâncias várias tação, de onde passou para a dependência, adotando pos-
fazem que a mesma indústria venha a adotar modelos es- , teriormente a defensiva e, nos derradeiros lS ou 20 anos,
tratégicos outros que não o tradicional quando o mercado afirmando-se com uma estratégia agressiva, inovando pro-
vier a favorecer a imitação ou quando a necessidade de dutos bem como processos. Outro 'taso curioso, e este
seguir ordens de uma matriz ou de adotar certo tipo de mencionado por C. H. Freeman, é o da Europa Ocidental
tecnologia, que é patenteada por terceiros, levar à adoção no período posterior ao término da' 11 Guerra Mundial. O
de uma estratégia dependente. velho continente havia claramente' perdido então as lide-
Aspectos ommizecionais
zidos por exigências de uma casa-matriz ou pelas neces- ção a introdução de produtos e processos que, apesar de
sidades de atender um mercado estrangeiro, onde as con- não constituirem novidade numa escala internacional, são
dições são diversas das existentes no mercado doméstico. novos para o Brasil, estaremos diante de uma estratégia
agressiva qualificada. Na medida em que a introdução de
Quando a empresa é subsidiária de uma multinacional
um produto novo para o mercado brasileiro faz que outras
e está introduzindo em nosso mercado um produto que já
empresas reajam, procurando obter parcela de um novo
foi lançado, testado e encontrou sucesso nos mercados
mercado que julgam promissor, ou também capitalizando
onde está sediada a empresa, poderemos estar assistindo a
sobre erros de lançamento ou deficiências do produto, di-
um lançamento que atende a uma estratégia mercadoló-
ficuldades que comumente constituem o ônus do pionei-
gica de expansão de mercado pura e simplesmente, ou
rismo, estaremos diante de uma estratégia de tipo defen-
ainda a uma estratégia onde se busca, em consonância com
sivo. Em um mercado periférico como o brasileiro, onde
a teoria do ciclo de vida do produto, compensar pelas ven-
boa parte do sucesso consiste em introduzir produtos no-
das conseguidas com a entrada num mercado de outro
vos, seja imitando literalmente, seja introduzindo peque-
país o declínio que já se faz sentir no mercado onde o pro-
nas adaptações em produtos desenvolvidos nos mercados
duto foi primeiramente lançado. Exemplo atual e interes-
europeus e norte-americanos, será possível encontrar fre-
sante de fase declinante de um produto é o do modelo
qüentemente a prática agressiva ou defensiva, desde que
sedan do automóvel Volkswagen que continua a ser pro-
entendida com as restrições aqui apontadas.
duzido apenas pelas subsidiárias do Brasil, México e União
O que é decisivo para que uma empresa localizada. em
Sul Africana, tendo sido abandonado recentemente pela
nosso país adote estes dois tipos de estratégia é a sua facil-
matriz alemã da empresa.
idade de acesso a informações técnicas, bem como a equi-
No caso da indústria de alimentos em nosso país, po-
pamentos, processos e mesmo ao contato direto, que se
deremos encontrar situações em que a estratégia depen-
faz por viagens periódicas aos países mais avançados. Isto
dente leva à fabricação de certos produtos (com-beef,
tudo cria situação de evidente desvantagem para o pe-
cubic beef) que não são nem mesmo vendidos no mercado
queno e mediano empresários nacionais, que, pela escassez
doméstico, mas que foram adotados com vistas exclusi-
de recursos financeiros e pelo seu baixo nível de' infor-
vamente ao mercado de exportação. Outro exemplo são as
mação, decorrente de um processo incompleto de educa-
modificações em processamento e seleção de matérias-
ção formal, têm poucas oportunidade de acesso a infor-
primas para se aprimorar a qualidade do produto, quando
mações, quer diretas, quer indiretas, sobre o que se passa
se tem que enfrentar critérios de higiene e saúde pública
nos setores mais avançados da economia e de sua atividade
138 mais restritos que os tolerados pela nossa legislação e por
empresarial específica.
nossas autoridades sanitárias. Exemplo que poderia ser
aqui citado é o de nível de fungos em derivados de tomate
(extrato, purê) que é bem mais baixo para o mercado para 3. CONCLUSÃO
onde seexporta (Europa, e Estados Unidos) do que o ado-
tado e permitido para o Brasil. Embora este artigo tenha um caráter exploratório e pre-
A estratégia dependente no caso brasileiro - por exi- liminar, objetivando fornecer elementos e um contexto de
gir recursos de capital com o qual equipar-se para a pro- hipóteses e teorias para posterior trabalho de campo, não
dução de novos produtos, pelos custos incorridos em . gostaríamos de encerrá-lo antes de apresentar algumas
propaganda e promoção de vendas, bem como pelo acesso a conclusões.
fontes internacionais de informações sobre produtos, pro- A primeira delas é que acreditamos ser mais fecunda a
cessos e equipamentos - só pode ser praticada, em prin- investigação sobre a gestão de tecnolgia, desde que ampa-
cípio, por empresas nacionais de certo porte e por subsi- rada no tópico mais amplo da estratégia da empresa. Na
diárias de multinacionais. verdade, uma empresa não gera sua tecnologia, seja ino-
As estratégias de tipo oportunista, agressivo e defen- vando, seja imitando, por outras razões que a sua sobrevi-
sivo não estão certamente excluídas do rol das práticas vência e sucesso a longo prazo. Portanto, a tecnologia é
empresariais do setor alimentício no Brasil. O oportu- um fator crítico, na medida em que surge como fator rela-
nismo como estratégia estará sempre muito condicionado tivamente escasso em nossos dias e, portanto, decisivo
à existência de talento empresarial, ou seja, de pessoas que
I
para o sucesso empresarial. O economista norte-americano
desejosas de lucros.expansão e sucesso se disporão a ado- John K. Galbraith, em vários pontos de sua obra, ao ques-
tar produtos, processos e estratégias compostas e que tionar a análise econômica clássica e neoclássica, como
poderão freqüentemente representar uma combítíação de inadequada ao entendimento das situações econômicas
outros tipos de estratégia. Já as estratégias de tipo agres- atuais, mormente com as mudanças criadas pelo advento e
sivo e defensivo são aqui praticadas desde que introdu- consolidação da grande empresa multinacional, critica se-
zamos algumas qualificações. Não há estratégia agressiva ' riamente a tradicional escassez do fator capital e a abun-
no sentido definido por C. H. Freeman, uma vez que não dância do fator trabalho. Tais concepções, fundamentais à
encontraremos aqui a plenitude das funções empresariais análise econômica classica, já não fazem mais sentido em
'que compõem a estratégia agressiva e que pode ser relem- nossos dias. Em certas situações, diríamos que sem mesmo
brada por consulta à figura 1. Mas se consideramos inova- o capital e o trabalho chegam a ser decisivos. O capital é
Aspecto« orga"izacio1lllia
desenvolve, adapta e aplica esta tecnologia. É sobre esta lO Thompson, Victor A. Modem organization: a general theory.
New York, Alfred A. Knopf, 1961. p. 6.
realidade singular que pretendemo-nos debruçar, infor-
mados pelos conhecimentos oriundos das demais ciências 11 Simon, Herbert A. Comportamento administrativo. Rio de Ja-
neiro, Fundação Getulio Vargas, 1965. p. 257-8. A importância
sociais, e com o elemento unificador da estratégia empre- que o autor confere ao processo decisório em administração jus-
n~. O tifica uma citação mais longa. "O tema central deste estudo pode
assim ser enunciado: o comportamento administrativo consiste de
uma complexa rede de processos decisórios que se destinam a in-
fluenciar o comportamento do pessoal de execução, ou seja, da-
queles que realizam realmente o trabalho físico da organização.
Por anatomia da organização entende-se a distribuição e locali-
zação das funções decisórias. Sua fISiologia consiste nos processos
pelos quais a organização influencia as decisões de cada um de seus
membros, fomecendo-lhes as premissas para essas decisões".
12 Simon, Herbert A. The shape of automation for men and for
management. New York, Harper & Row, 1965. Neste livro, aten-
ção especial deve ser dedicada ao terceiro capítulo, "The new
science of management decision".
13 Id, ibid., p. 58-61.
I Woodward, Joan. Indu'trial organization: theory and practice 14 Id, ibid., p. 54.
London, Oxford University Press, 1965. ISFreeman, C. H. The economias of tnnovation: London, Penguin
2 Entre os principais trabalhos do grupo de Aston convém lem- Books, 1974. p. 279.
brar: Hickson, D. J., Pugh, D. S. & Pheysey, D., Operations tech-
16 Id. ibid., p. 205.
nology and organization structure. An empirical reappraisal. Admi- .
nistrative Science Quarterly,n. 14, p. 378-97, 1969; e Pugh, D. S., 17 Wieland, George F. & Ullrich, Robert A. Organizations:
Hickson, D. J., Hinnings, C. B. & Turner, D. The context of orga- behavior, design and change. Homewood, Illinois, Richard D.
nization structures. Administrative Science Quartely, n, 14, lrwin, 1976, p. 404.
p. 91-114, 1969. li Ansoff, H. Igor, ed, Buslness strategy. London, Penguin Books,
• Dentre os vários trabalhos de P. Blau sobre o assunto, é impor- 1969. p. 7.
tante lembrar o elaborado em co-autoria com Robert Schoenherr,
The structure of organizations.New York, Basic Books, 1971. A 19 Anthony, Robert N. Planning and control systems; a fra-
formal theory of differentiation in organizations. American Socio- mework for analysis. Boston, Harvard Business School, Division of
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4Argyris, Chris, Personality and organization. New York, Harper 20 Freeman, C. H. op. cit. Veja capítulo 8.
& Row 1957. Id. ibid. p, 258.
140 21
5 Argyris, Chrís, Personality and organization theory revisited. 22 Id. ibid. p. 259.
Administrative Science Quarterly'. 18, p. 150-2, Jun. 1973.
23Biato, Francisco de Almeida; Almeida Guimarães, Eduardo A.
6 Ansoff, H. Igor, Corporate strategy: an analytic approach to de & Figueiredo, Maria Helena Poppe de.Potencial de pesquisa tec-
business policy for grouth and expanllion. London, Penguin Books, no16gicano BrasiL Rio de Janeiro, Ipea, 1971. p. 120-1.
1965. p. 17.
24. Center for. policy altematives, Massachussets, Institute of Tech-
7Moreno, Felix. Ctlrtilla sobre adquisición de tecnologia. Bogotá, nology. Some perspectives on technology research in São Paulo
Colciencias, Documentos Estudios, 1974. and BraziL Documento inédito, 1975. p. 28.
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1975. p. 25. 26 EJUlme, n, 134, p. 70, 24 ago. 1971.
9 Fajardo, Luiz. Proyecto de investigación sobre gestión tecno- 27 Woodward, Joan. Industrial organization: theory and practice.
16gicaen América Latina. Bogotá, Cladea, 1975, p. 13. London, Oxford University Press, 1965.