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Através da fumaça de seu cachimbo, o rei Deglain via as chamas emanadas pelas

tochas fincadas nas colunas da Sala do Trono. O chão polido parecia refletir, como um
espelho, a luz, deixando o local bastante iluminado mesmo estando no centro da
grande montanha.

Embora sentado em seu trono como nos últimos séculos, o rei estava inquieto,
preocupado. Esse sentimento se traduzia na forma com que segurava o cabo de seu
grande machado magico Lirith, pertencente aos grandes guerreiros do passado e capaz
de cortar metal como se fossem palha. As mãos brancas de Deglain, marcadas por
manchas na pele, apertavam e soltavam a arma, alisavam o cabo metálico, parecia
acariciar a ponta redonda e dourada. Há muito tempo ninguém desafiava o rei e há
muito tempo Lirith não bebia do sangue inimigo, poderia estar sedento...

As barbas castanhas apresentavam fios brancos denunciando a velhice que se


aproximava, mesmo assim gostava de manter uma grossa trança no centro, adornada
por elos feitos de ouro. Os olhos pareciam falhar, embaçava a uma certa distancia, mas
ninguém saberia disso até que estivesse completamente cego, um rei não poderia ter
aquele tipo de fraqueza.

Olhou, por um segundo, para a lamina de Lirith, alí estavam retratadas batalhas de
anões contra anões, anões contra elfos, anões contra trolls... não haviam anões contra
demônios. Os tempos estão mudando... pensou consigo... e tudo parecia fora do lugar.

Sua introspecção foi interrompida com os passos rápidos de seu primeiro auxiliar, com
um século e meio de vida, Borot ainda era jovem mas muito promissor, sua barba
preta cujos pelos brilhantes exalavam a sua juventude, via-se um pouco no jovem
anão, mas sabia que sua pressa ainda o ensinaria – do pior modo – a aprender a
esperar, ele aprendeu...

- Meu thane – disse o jovem pelo titulo formal dos reis anões – todos estão reunidos.

Deglain assentiu com um gesto simples e levantou-se, ajeitou a coroa na cabeça para
cobrir-lhe a calvice – Uma única pequena vaidade que o rei se permitia ter – e
caminhou lentamente até uma escada à direita.

Quase todo o povo da montanha estava reunido no grande salão, pareciam estar tão
ansiosos que não se continham e conversavam todos, gerando grande murmúrio,
sequer notaram que o rei aparecera na sacada da sala do trono.

Deglain viu membros de todos os clãs, dos artesãos aos artistas, dos sacerdotes aos
caçadores e guerreiros.

Com um sinal, o rei fez soar a grande trombeta de Born, gerando um som grave e
continuo que reverberou pelo salão, calando e chamando a atenção de todos. Olhou
por mais um segundo para o povo que o observava.
- Povo da montanha – começou – novos tempos caíram sobre nós! Um poderoso
inimigo se aproxima, maior do que todos que já enfrentamos, mais poderoso e que
consumirá tudo que conhecemos e amamos. O Nono Reino está sendo atacado e, se
não for ajudado, toda Arcadia arderá! – Os olhos dos ouvintes estavam vidrados no
thane – É nosso dever proteger nossos aliados, proteger nossa terra, proteger nosso
mundo dos invasores infernais.

- Talvez nossas armas sejam ineficazes, talvez nossos escudos se partam após o
primeiro golpe, talvez nosso sangue escorra pelo solo e seja bebido pela terra seca,
mas somos anões, somos filhos das pedras e não nos acovardaremos em nossos
grandiosos salões, nós iremos a batalha e os demônios verão, nos olhos de cada um de
nós, que somos dotados de coragem sem igual! Seremos a muralha que impedirá a
maré de chamas e sombras!

- Povo da Montanha, seu Thane chama-os ao combate, levantem seus machados, seus
martelos, seus escudos. Que os nossos bardos cantem nossas canções, que nossos
sacerdotes abençoem nossas almas, vamos a guerra, anões, vamos a guerra! –
Gritando essas palavras, ergueu Lirith, o símbolo máximo da força do rei anão.

O povo respondeu, berros e urros, mãos e braços fortes levantados empunhando


armas, os anões aderiram e ouviram o chamado do Thane, os anões estavam prontos
para a guerra.

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