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Identidade da Cultura Moçambicana

Vilma Tomásia da Fonseca FRANCISCO MANUEL1


Resumo: Moçambique é um país de grande diversidade cultural, devido à
variedade de línguas presentes no país, que possuem importância regional, mas
não alcance nacional. Conforme os dados divulgados pelo Instituto Nacional
de Educação, estão presentes no país 30 agrupamentos linguísticos, sendo esta
umas das principais características culturais do país. Esses idiomas nacionais
constituem a língua materna, e a mais utilizada diariamente em zonas rurais,
a língua oficial e mais falada do país é a língua portuguesa. Grande variedade
e mistura de línguas, relações sociais, tradições artísticas, gastronomia, ritos,
roupas e padrões de ornamentação marcam a diferença entre as regiões. Neste
artigo, pretende-se refletir sobre o valor da cultura moçambicana nos dias
de hoje. A abordagem da pesquisa é qualitativa, com ênfase na análise de
conteúdo do questionário por inquérito efetuado com um grupo de 20 mulheres
do grupo “Mães Amigas da Beira”. Da pesquisa feita pode-se concluir que,
para os inqueridos, a cultura moçambicana se faz sentir no país, a identidade
moçambicana se reflete na prática de tradições regionais e nos conhecimentos
transmitidos pela geração mais velha, sendo alguns desses hábitos e costumes
praticados até os dias de hoje.

Palavras-chave: Cultura. Idiomas. Identidade. Globalização.

1
Vilma Tomásia da Fonseca Francisco Manuel. Doutoranda em Inovação Educativa pela
Universidade Católica de Moçambique – Faculdade de Educação e Comunicação (UCM-FEG). Mestra
em Tecnologia de Informação pela Universidade Católica de Moçambique – Centro de Ensino a
Distância (UCM-CED). Licenciada em Engenharia de Sistemas e Telecomunicações pela Universidade
Jean Piaget de Moçambique. Coordenadora dos Cursos de Mestrados no Centro de Ensino a Distância
da Universidade Católica de Moçambique. E-mail: <vtfrancisco@ucm.ac.mz>.

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Identity of Mozambican Culture

Vilma Tomásia da Fonseca FRANCISCO MANUEL


Abstract: Mozambique is a country of great cultural diversity, due to the variety
of languages present
​​ in the country, which are of regional importance, but not
national in scope, according to data released by the National Institute of Education
there are 30 linguistic groups in the country that makes it one of the main cultural
characteristics. The most used daily in rural areas, the official language and
most spoken of the country is Portuguese language, great variety and mixture
of languages, social relations, artistic traditions, gastronomy, rites, clothes and
ornamental patterns mark the difference between regions. This article intends to
reflect on the value of Mozambican culture nowadays. The research approach is
qualitative that emphasis on the analysis of the data collected through interview
conducted to a group of 20 women “Mães Amigas da Beira”. From the research
done, it can be concluded that the Mozambican culture is felt in the country, the
Mozambican identity is reflected in the practice of reginal traditions, knowledge
transmitted by the elders, and some of their habits and customs are practiced
until today.

Keywords: Culture. Languages. Identity. Globalization.

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1.  INTRODUÇÃO

No espaço social e cultural, há regras que possibilitam aos


indivíduos viver em comunidade; nesse entendimento, a cultura
perpassa todo o cotidiano dos indivíduos, eles se socializam devido
à cultura. Além disso, toda sociedade humana possui uma cultura.
A função da cultura, dessa forma, é, entre outras coisas, permitir
a adaptação do indivíduo ao meio social e natural em que vive. E
é por meio da herança, do patrimônio cultural, que os indivíduos
podem se comunicar uns com os outros, não apenas por meio da
linguagem, mas também por formas de comportamento. Isso sig-
nifica que as pessoas compreendem os sentimentos e as intenções
das outras porque conhecem as regras culturais de comportamento
em sua sociedade.
Este estudo foi elaborado no âmbito de avaliação final na
disciplina de Globalização, Filosofia e Cultura Moçambicana no
Curso de Doutoramento em Inovação Educativa (Universidade Ca-
tólica de Moçambique – Faculdade de Educação e Comunicação),
lecionada pelo PhD Pe. Adérito Barbosa.
O artigo busca analisar o valor da cultura moçambicana nos
dias de hoje; de forma mais específica, identificar os aspectos que
refletem a identidade da cultura moçambicana, e conhecer quais as
práticas mais frequentes dessa cultura.
A pesquisa baseou-se na abordagem qualitativa e é de carác-
ter exploratório. O principal instrumento de coleta de dados foi um
questionário por inquérito on-line submetido a um número total de
30 mulheres e, para a análise de dados, realizou-se a análise de
conteúdos.
O conceito de globalização implica, primeiro e acima de tudo,
um alongamento das atividades sociais, políticas e econômicas
além-fronteiras, de modo que acontecimentos, decisões e ativida-
des numa região do mundo podem ter significado para indivíduos e
atividades em regiões distintas do globo (HELD et al., 1999).
Com a globalização, o mundo ficou muito mais conectado,
as informações chegam muito mais rapidamente, e as pessoas se

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aproximaram ainda mais uma das outras, de forma física ou mesmo


virtual, mediadas por ferramentas tecnológicas que constituem um
conjunto de novos desafios. Essas transformações afetam também
os hábitos e costumes de uma comunidade. Dessa feita, a preocupa-
ção que se levanta é a seguinte: “Com o fator da globalização cada
vez mais presente, qual é o valor da cultura moçambicana nos dias
de hoje?”.

2.  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Pretende-se, neste tópico, estabelecer a definição de termos


da investigação, contextualizar algumas teorias culturais que são
interessantes para identificar a identidade da cultura.
Acredita-se que é necessário fazer conhecer os estudos rea-
lizados por distintos autores que, graças à sua perícia, trouxeram
grandes subsídios para entender como ocorre o processo de desen-
volvimento cultural do indivíduo.

Cultura

O conceito de cultura é uma das fundamentais abordagens


nas ciências humanas, a ponto de a Antropologia se distinguir como
ciência. Os antropólogos, desde o século XIX, buscaram declarar
os limites de sua ciência por meio da definição de cultura.
Na verdade, a definição da cultura não é uma tarefa fácil.
A cultura lembra proveitos multidisciplinares, sendo estudada em
áreas como Administração, Antropologia, História, Comunicação,
Sociologia, Economia, entre outras.
Nesse sentido, Bosi (1996, p. 73) afirma que:
Cultura é o conjunto de práticas, de técnicas, de símbolos
e de valores que devem ser transmitidos às novas gerações
para garantir a convivência social.
Nesse sentido, para haver cultura, é necessário antes que
exista também uma consciência de comportamento cooperativo, a
partir da vida cotidiana. Assim sendo, nessa perspectiva, cultura se-

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ria aquilo que um povo ensina aos seus descendentes para garantir
sua sobrevivência.
No pensamento iluminista francês, a cultura caracteriza o es-
tado do espírito cultivado pela instrução: “A cultura, para eles, é
a soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade,
considerada como totalidade, ao longo de sua história” (CUCHE,
2002, p. 21).
Frequentemente, ouvimos falar em vários tipos de cultura
– “cultura tradicional”, “cultura empresarial”, “cultura agríco-
la”, “cultura política”. Disso se conclui que, ao nos referirmos ao
termo, cabe ponderar que existem distintos conceitos de cultura.
Parte dessa complexa distinção semântica se deve ao próprio de-
senvolvimento histórico do termo. A palavra “cultura” vem da raiz
semântica “colore”, que originou o termo em latim “cultura”, de
significados diversos, como habitar, cultivar, proteger, honrar com
veneração (WILLIAMS, 2007).

Identidade cultural

A identidade da cultura é bastante discutida dentro das temá-


ticas teóricas em áreas de ciências sociais, perante a sua diversidade
e complexidade, muitos autores relacionam o avanço das tecnolo-
gias como um perigo que pode alterar certas práticas e tradições.
A identidade se altera de acordo com a forma como o sujeito
é apostrofado ou representado; assim, a identidade não é automá-
tica e apresenta-nos três procriações de sujeito e suas respectivas
identidades: o sujeito do iluminismo, o sujeito sociológico e o su-
jeito pós-moderno (HALL, 1999).
Na linha do pensamento do mesmo autor, o sujeito do ilumi-
nismo refere-se em:
Numa concepção da pessoa humana como um indivíduo
totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades
de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia
num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando
o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda permane-
cendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico”.

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O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa


(HALL, 1999, p. 10-11).
O sujeito sociólogo refletia o crescimento da compledidade
do mundo moderno e a conciência do sujeito.
As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram
o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas
identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui
visto como um sujeito unificado (HALL, 1999, p. 7).
Por fim, o sujeito pós-moderno que dispõe diferentes identi-
dades com múltiplas características caracterizando, assim, um meio
globalizado.
O sujeito assume identidades diferentes em diferentes mo-
mentos, identidades que não são unificadas ao redor de um
eu coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias,
empurrando em diferentes direções, de tal modo que nos-
sas identificações estão sendo continuamente deslocadas
(HALL, 1999, p. 13).

Globalização

Na perspectiva de Thurow (2003, p. 2), “[...] globalização


tem muitos significados diferentes para muitas pessoas diferentes”.
Hobsbawm (2000, p. 94) apresenta a seguinte visão da globaliza-
ção:
[…] a globalização implica em um acesso mais amplo, mas
não equivalente para todos, mesmo na sua etapa teorica-
mente mais avançada. Do mesmo modo, os recursos natu-
rais são distribuídos de forma desigual. Por tudo isso, acho
que o problema da globalização está em sua aspiração a
garantir um acesso tendencialmente igualitário aos produ-
tos e serviços em um mundo naturalmente marcado pela
desigualdade e pela diversidade. Há uma tensão entre estes
dois conceitos básicos. Tentamos encontrar um denomina-
dor comum acessível a todas as pessoas do mundo, a fim
de que possam obter as coisas que naturalmente não são
acessíveis a todos. O denominador comum é o dinheiro,
isto é, outro conceito abstrato.

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Importa referir que, na verdade, esse conceito não se refere


simplesmente a uma ocasião ou acontecimento, mas a um procedi-
mento. Assim, pode-se afirmar que o principal atributo da globali-
zação é estar em constante evolução e mudança.

Tradição

De acordo com os autores Silva e Silva (2006), em sua defini-


ção mais simples, tradição é um produto do passado que continua a
ser aceito e atuante no presente. É um conjunto de práticas e valores
enraizado nos costumes de uma sociedade.
Hobsbawm e Ranger (2002) defendem que um dos aspectos
mais fortes da tradição é sua característica invariável, ou seja, seria
um conjunto de práticas fixas que, por serem sempre repetidas de
uma mesma forma, remeteriam ao passado, real ou imaginado.
Para os autores, uma das características das tradições inven-
tadas é que elas estabelecem uma continuidade artificial com o pas-
sado, pela repetição quase obrigatória de uma tradição. As tradições
têm como função autenticar determinados valores pela repetição de
ritos antigos (ou de ritos definidos como antigos, no caso das tradi-
ções inventadas), que dariam uma origem histórica a essas valores
que devem ser aceitos por todos e que se opõem a costumes novos.
Sociólogos como Tom Bottomore e William Outhwaite, por
sua vez, acreditam que o termo “tradição” deve ser empregado para
as esferas mais importantes da vida humana, como a religião, o pa-
rentesco, a comunidade etc., deixando as esferas menores de ritos e
costumes cotidianos relegadas ao conceito de folclore. Defendem,
além disso, que as tradições não são necessariamente estáticas ou
imóveis. Para eles, migrações e mesmo revoluções, que são fenô-
menos geradores de mudança por excelência, algumas vezes estão
baseados no desejo de disseminar tradições ou de protegê-las. Eles
dão como exemplo a Reforma Protestante, fenômeno que gerou
muitas mudanças sociais e culturais, mas que teve como base um
desejo de retornar às tradições do Cristianismo primitivo. Além dis-
so, poderíamos acrescentar que a colonização da América espanhola
vivenciou também tentativas da Coroa, da Igreja e de determinados

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grupos sociais de transferir às colônias tradições e costumes antigos


da própria Espanha, como o Catolicismo e a cultura da fidalguia.

3.  METODOLOGIA

Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica para em-


basamento teórico acerca da cultura e da identidade moçambicana.
O levantamento das informações relevantes para os objeti-
vos desta pesquisa foi realizado por intermédio de uma pesquisa de
campo e entrevista, respondida voluntariamente por um grupo de
mulheres denominado “Mães Amigas da Beira”, que manifestaram
interesse em realizar a pesquisa. Ela se baseou num formulário on-
-line, composto por 6 questões abertas (dissertativas) e 2 questões
de múltipla escolha. Nele constavam questões-chave para o levan-
tamento e a análise do objeto deste estudo.
A pesquisa é de caratér qualitativo, com uma visão mais ex-
ploratória, para análise de dados e análise de conteúdos.

4.  ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Com as respostas obtidas pela pesquisa, foi possível analisar


as diferentes culturas regionais presentes no país, os hábitos e cos-
tumes herdados pela geração mais velha e que são conservados até
os dias de hoje, além de conhecer algumas tradições.

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Figura 1. Pergunta 1.

Fonte: elaborado pela autora (2017).

Com relação aos dados dos gráficos, é evidente a diversidade


de idiomas ou língua materna no país. Dos inqueridos, 82% sabem
falar a língua materna e, destes, apenas 37% a falam com frequên-
cia, enquanto 18% afirmam não saber falar a língua materna.
Pode-se observar que os idiomas nacionais são valorizados,
e esses mesmos idiomas são aprendidos com mais frequência em
casa. Isso mostra que, a partir de suas vivências e sentimentos, va-
lorizando as experiências de pessoas de mais idade, os moçambi-
canos buscam aprender diversos idiomas nacionais, de modo a não
ficarem excluídos dentro de uma sociedade.

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Figura 2. Pergunta 2.

Fonte: elaborado pela autora (2017).

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A questão em causa está relacionada aos hábitos e costumes


mais frequentes em cada cultura, práticas herdadas pela geração an-
tiga e que até hoje são realizadas. 92% demostram conhecer essas
práticas e afirmam que até hoje praticam esses costumes e alguns
deles são orientados pelos mais velhos. A prática mais comum é a
gastronomia regional.
Dessa maneira, entende-se que a gastronomia é o hábito tradi-
cional mais praticado nas regiões, Moçambique oferece guloseimas
típicas, com uma fusão de valores culturais que dão sabor especial à
área gastronômica, uma cozinha rica, curiosa e apetecida.
Figura 3. Pergunta 3.

Fonte: elaborado pela autora (2017).

Questionados sobre o fato de falar da sua cultura no meio


de indivíduos com diferentes culturas, até estrangeiros, 95,2% dos
inquiridos afirmaram que teriam orgulho em falar da sua cultura
pose embora 3,7% referência em apenas alguns aspectos, apenas
4,8% dizem que não. Assim sendo, pode-se dizer que a identidade
da cultura moçambicana tem o seu valor.
A comodidade particular de uma tradição é proporcionar e
oferecer a todos que convivem em numa sociedade os meios de

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afirmar as suas diferenças e assegurar a sua autoridade e poder


(LOPES; BASTOS, 2010).
No que diz respeito à identidade cultural, os altos índices de
concordância encontrados no questionário apontam que os moçam-
bicanos têm orgulho da sua cultura e se identificam com a mesma
por meio das suas amostras de expressões culturais e narrativas.
Figura 4. Pergunta 4.

Fonte: elaborado pela autora (2017).

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Quanto a se a prática de ritos de iniciação pode ser conside-


rada uma tradição moçambicana e comparada com a educação em
Ciências Naturais ou o conhecimento da maturidade do homem e
da mulher, 95,2% consideram que sim, que essa prática é uma tra-
dição moçambicana, embora não seja comum em todas regiões do
páis, e que pode, sim, ser comparada à educação de Ciências Natu-
rais, mas de uma forma mais profunda e com objetivo de preparar o
indivíduo para a vida adulta. 4,8% não concordam que essa prática
seja uma tradição moçambicana uma vez que, na sua cultura, ela
não é comum.
Meira (2009, p. 99) defende que “[...] os ritos têm como fun-
ção a padronização de comportamentos e valores com o fim de re-
forçar a pertença ao grupo”.
Na mesma linha de raciocínio, Rodolpho (2009, p. 141) afir-
ma que “[...] o ritual é um sistema cultural de comunicação simbó-
lica, constituído por sequências ordenadas e padronizadas de pala-
vras e atos, em geral expressos por múltiplos meios”.
Torna-se claro que a prática de ritos de iniciação é, sim, uma
tradição moçambicana, embora não se faça presente em todas re-
giões do país.

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Figura 5. Pergunta 5.

Fonte: elaborado pela autora (2017).

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Com relação a alguma tradição moçambicana que possa ser


apreciada além-fronteiras, os inqueridos são unânimes em afirmar
que sim, com foco no uso da capulana e na gastronomia. Isso mos-
tra que, independentemente da cultura regional, o uso da capulana
é presente em todo o país, e a gastronomia é muito rica, aspectos
estes que são apreciados além-fronteiras.
Figura 6. Pergunta 6.

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Fonte: elaborado pela autora (2017).

Questionados sobre o fator globalização, especificamente se


este influencia na desvalorização da cultura, 66,7% afirmam que
sim e focam nos aspectos como má percepção e má aceitação da
globalização; 33.3% afirmam que não, pois esse fator pode ser
usado como meio de expandir a cultura e conhecer outras tradi-
ções. Assim, graças a essa nova consciência, o homem da era da
globalização pode continuar a descobrir as raízes particulares de
sua identidade e, ao mesmo tempo, estar aberto e se enriquecer
com o contato e o compartilhamento de tradições diferentes das
suas. A globalização não é fácil de perceber, já que pressupõe a

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conscientização dos limites culturais, históricos, de conhecimento,


institucionais e políticos de um indivíduo.
Na era de globalização, em que a cultura externa tende a
tornar-se mais presente, é necessária uma especial atenção em pre-
servar a tradição e a cultura nacional, isso porque as comunidades
tradicionais ou culturas regionais têm a facilidade de alastrar ou
difundir as suas características. É interessante que as tradições cul-
turais em tempos de globalização parecem colocar em evidência o
contraste entre o tradicional e o moderno, entre valores e visões de
mundo (HALL, 1999).
Figura 7. Pergunta 7.

Fonte: elaborado pela autora (2017).

Os dados do gráfico mostrado anteriormente contêm infor-


mação relevante sobre a identidade da cultura moçambicana: como
ilustram os dados, 71,4% dizem que a identidade cultural é viven-
ciada no país.
A diversidade de componentes da oralidade provenientes de
várias partes do país (uma vez que Moçambique é composto por
etnias bem diversificadas), é uma das características da cultura mo-
çambicana, pois está diretamente ligada a hábitos e costumes mais
vivenciados em uma região (COUTO, 1999).
É evidente que a identidade da cultura está ligada a uma enor-
me parte da nossa convivência social. Coisas como nossa lingua-

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gem, nossa maneira de agir, o que comemos, como nos vestimos,


e até mesmo como nos vemos estão diretamente ligadas à nossa
identidade cultural.
Figura 8. Pergunta 8.

Fonte: elaborado pela autora (2017).

A partir do gráfico, visualiza-se que, para a maioria dos in-


queridos (71,4%), a cultura moçambicana é valorizada nos dias de
hoje, enquanto 28,6 % afirmam que não.
A componente do valor da cultura moçambicana é o de de-
senvolver cada vez mais os hábitos e costumes praticados em dife-
rentes regiões dentro do país. Vejamos que os dados da Questão 7
são iguais aos da Questão 8, simplesmente por essas duas se com-
pletarem: se a identidade cultural se faz sentir no país, então ela tem
o seu valor.

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5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura é um termo muito abrangente, que engloba uma


série de áreas, e o seu valor está centrado nos hábitos e costumes
praticados diariamente. Nesta era de globalização em que vivemos,
existe uma crescente uniformização de hábitos e tradições culturais
em todo o mundo. Os cidadãos sentem a obrigação de salvaguardar
suas culturas locais (regionais e nacionais) face à importação de
novos hábitos. Da análise conclusiva desta pesquisa, alguns pontos
são fundamentais na busca do objetivo deste estudo, ou seja, en-
tender as percepções dos inquiridos sobre a identidade e o valor da
cultura moçambicana.
Nesse sentido, foi ressaltado nesta pesquisa que a identidade
da cultura moçambicana é verificada por meio de certas práticas
que são patentes no dia a dia de cada indivíduo, e umas das carac-
terísticas mais comum é diversidade linguística, sem querer deixar
de lado a gastronomia. Além dessas características, é preciso lem-
brar que todas as culturas têm uma estrutura própria, todas mudam,
todas são dinâmicas. Assim, não é possível falarmos de povos sem
história, porque tal fenômeno significaria a existência de uma cul-
tura que não passasse por transformações ao longo do tempo.
A riqueza oral presente no país é considerada a identidade
cultural dos moçambicanos e essa mesma identidade é valorizada
dentro do país.

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