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Rogério Gozzi

Estudo de Caso: Fratura de Escafóide


Dentro da ortopedia com certeza não existe osso com maior dificuldade de consolidação quanto o
Escafóide. Vamos entender agora porque a fratura do Escafóide é uma das mais temidas, mas para isso temos
que entender a sua anatomia, sua vascularização e seu mecanismo de fratura. Entendendo estes fatores você vai
se convencer que não é um bom negócio fratura-lo. Sempre falo aos meus alunos: - Frature qualquer osso,
menos o Escafóide!!! O destino e minha moto foram cruéis comigo, e nesta vídeo aula vou apresentar o estudo
de caso de minha fratura.

Anatomia: O Escafóide é um osso localizado no punho, em uma região denominada carpo. O carpo
possui 8 ossos e é organizado em duas fileiras de 4 ossos: Escafóide, Semilunar, Piramidal e Pisiforme (fileira
proximal); Trapézio, Trapezóide, Capitato e Hamato (fileira distal). Os ossos da fileira proximal articulam-se
com o Rádio formando a articulação Rádio-Cárpica, responsável pela maior parte da amplitude dos
movimentos realizados no punho. Entre as duas fileiras (proximal e distal) destaca-se a articulação Médio-
Cárpica, e entre a fileira distal e os metacarpos observamos as articulações Carpo-Metacárpicas. O Escafóide é
o osso da fileira carpal proximal que fica posicionado na região LATERAL desta fileira e articula-se com o
Rádio. Quando ocorre uma queda com a mão espalmada é muito comum ocorrer fratura do terço distal do
Rádio (fratura de Colles), fratura da cabeça do Rádio ou a fratura do Escafóide, dentre outras.
Vascularização: A maior parte dos ossos do corpo costumam consolidar-se em cerca de 4 a 8
semanas (1 a 2 meses), porém o Escafóide demora cerca de 12 semanas (3 meses) se não houver nenhuma
complicação em seu processo de consolidação. Mas por que o Escafóide demora tanto para se consolidar? A
resposta para isso é a dificuldade de circulação sanguínea deste osso.

O suprimento sanguíneo é importantíssimo para a consolidação óssea, pois permite a chegada de Cálcio
e Fosfato aos ossos para que eles cristalizem, formando cristais de hidroxiapatita (parte mineral do osso) e
posteriormente o famoso calo ósseo. A maioria dos ossos recebe sangue das artérias no sentido PROXIMAL
para DISTAL, ou seja, do coração para o órgão.

O problema do Escafóide é que quando a artéria Radial penetra no carpo ela se divide em dois ramos,
um volar (palmar) e outro dorsal. Estes dois ramos entrarão no Escafóide no sentido DISTAL para
PROXIMAL, ou seja, “no sentido contrário” (do órgão para o coração). O nome disto é circulação retrógrada.
Isto deixa a circulação do Escafóide mais lenta dificultando seu processo de consolidação, permitindo a
ocorrência de necrose avascular, não-consolidações e pseudoartroses.

O ramo dorsal é responsável por cerca de 70 a 80% da vascularização do Escafóide (terços médio e
proximal) e o ramo volar (palmar) é responsável por cerca de 20 a 30% da vascularização do Escafóide (terços
distal e médio).

Mecanismo de Fratura: A fratura do Escafóide representa cerca de 60% das fraturas do CARPO,
sendo portanto uma fratura de punho relativamente comum. Ela ocorre geralmente quando a pessoa sofre uma
queda com as mãos espalmadas e o peso do corpo sobre o punho leva à fratura do Escafóide ou do Rádio.
Quando ocorre fratura de Escafóide a pessoa sente dores na tabaqueira anatômica durante a movimentação de
punho e polegar, acompanhada de edema na região e eventualmente equimose depois de alguns dias.
Geralmente a fratura do Escafóide não aparece em radiografias logo após a fratura, podendo dar um
falso negativo de fratura. Quando houver suspeita de fratura de Escafóide a pessoa deve ser imobilizada com
gesso antebraquio-palmar e imobilização do polegar. Outra radiografia deve ser realizada cerca de 2 semanas
após a primeira, e se o Escafóide estiver fraturado aparecerá um traço de fratura neste segundo raio-x. Isso
ocorre por causa da vascularização pobre do Escafóide (discutida no tópico anterior), retardando a fase
inflamatória e a reabsorção óssea, o que dificulta a visualização do traço de fratura. Existem várias
classificações da fratura de Escafóide de acordo com a “AO foundation” e a mais comum e didática é a
seguinte:

Tipo 1: Fratura de terço médio: Consolidação entre 10 e 12 semanas


Tipo 2: Fratura de terço distal: Consolidação entre 10 a 12 semanas
Tipo 3: Fratura de terço proximal: Consolidação entre 10 e 20 semanas
Tipo 4: Fratura do turbérculo: Consolidação entre 04 a 06 semanas

Bibliografia

• Luz Daregt Rojas Castañeda – Las Manos


• Ângelo Machado – Neuroanatomia Funcional
• Hoppenfeld - Propedêutica Ortopédica: Coluna e Extremidades
• Kapit - Anatomia: Manual para Colorir
• Netter - Atlas de Anatomia Humana
• Rohen/Yokochi - Anatomia Humana: Atlas Fotográfico
• Sobotta - Atlas de Anatomia Humana
• Spence - Anatomia Humana Básica
• Tixa - Atlas de Anatomia Palpatória do Pescoço e do Tronco Superior
• Tixa - Atlas de Anatomia Palpatória do Membro Inferior
• Wolf-Heideger - Atlas de Anatomia Humana

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