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A Extinção das Borboletas do Noroeste do Estado de São Paulo

UNIFEV como berçário de espécies

O Campus Cidade Universitária da UNIFEV, disponibiliza de uma grande área verde


para a realização de um possível projeto de reintrodução da maioria das espécies de
borboletas de nossa região, inclusive espécies raras que desapareceram. Através de uma
lista das espécies de plantas que servem de alimento para as lagartas, e de coleta dessas
espécies in situ. Essa lista ainda em construção, é visível mais abaixo, ao final do texto.

As listas de algumas das espécies apresentadas neste documento são referentes à


espécimes coletadas por min entre os anos de 1998 a 2010, entre áreas rurais, mata
ciliares com características de manchas de cerrado, em mosaicos de mata atlântica, entre
as cidades de Votuporanga, Valentim Gentil, Meridiano, Fernandópolis, Magda e
Sebastianópolis. Originalmente pude coletar cerca de 120 espécies de borboletas nestes
anos citados. Vale destacar que algumas espécies somente foram coletadas no maior
fragmento de floresta sem decídua conhecida para noroeste do Estado de São Paulo, que
em alguns lugares os moradores a chamam de “mata dos Ingleses”, pois a mais de 50
anos atrás pertencia a uma família inglesa que preservou uma grande porção da floresta
original desta região, que nos dias de hoje tem junção a uma área de APP pertencente ao
município de Valentim Gentil. O grande fragmento estende-se por vários municípios,
margeando o rio São José dos Dourados. O locais de coleta desta área em questão foram
efetuados em diversas áreas particulares, pertencentes ao município de Meridiano. As
espécies foram coletadas de acordo o método de busca ativa ao longo dos anos em
diversas épocas e em diferentes condições climáticas. Algumas espécies aqui citadas
não foram coletadas e apenas foram observadas nos primeiros anos de coleta aqui
citados, como as borboletas do gênero Morpho (borboletas de azul intenso e voo
delicado, facilmente observado no litoral), não sendo mais observadas nos anos
seguintes até os dias de hoje. De 1998 a meados de 2008, após esta data, observei um
decréscimo das espécies de borboletas menos comuns, até que em 2010 raramente
conseguia observar a metade de todas as espécies que observara em 1998, muitas delas
nunca mais foram vistas em muitas das regiões que coletei. Este fato pode estar
associado, de que, em 2008, houve uma grande mobilização econômica na região para a
instalação de indústrias sucrooalcoleiras. Com a mudança das usuais pastagens de
criação de gado, para extensos cultivos da monocultura da cana-de-açúcar, muitas
vegetações que coexistiam com a criação de gado foram eliminadas e estas serviam para
uma variada gama de espécies de borboletas se alimentarem. Paralelamente o costume
de arar e “desertificar” a terra extraindo ilegalmente por vezes todas as árvores de uma
pastagem, pode ter agravado ainda mais o sumiço de outras espécies de borboletas, que
tem suas larvas dependentes da alimentação destas arvores e pequenos arbustos. Temos
em conjunto com o cultivo da cana, aviões que jogam inseticidas na lavoura, mas que ao
sobrevoar áreas próximas de pequenos fragmentos, eliminam instantaneamente uma
vasta gama de insetos, inclusive as borboletas, acabando por vezes de uma única vez
toda uma geração, como já pude observar. Além destes problemas citados, outros
fatores possuem efeito sobre a diminuição das espécies das borboletas da região
noroeste e inclusive em outras regiões do Brasil. O capim “colonião” como o próprio
nome já diz, coloniza facilmente diversas áreas naturais e de cultivo e dificilmente pode
ser eliminado uma vez instalado. O capim de origem africana não possui predadores
eficientes no Brasil, e na África, para se ter uma ideia, é consumido por elefantes. O
colonião é um sério problema em pequenos fragmentos que sofrem grande efeito de
borda, pois penetra nas margens da floresta sufocando a vegetação rasteira e de sub-
bosque, extinguindo em pouco tempo toda a vegetação nativa, observa-se em poucos
meses o decréscimo da diversidade de insetos da área afetada. Como se não bastasse os
vários pequenos fragmentos existentes na região, não possuem manutenção, e muitas
vezes são sufocados por lianas que crescem desenfreadamente devido a grande porção
de luz dos efeitos de borda, sufocando as árvores de sub-bosque e matando-as, assim
como a vegetação abaixo delas. Além dos problemas usualmente encontrados na
manutenção de pequenos fragmentos florestais, temos um isolamento genético de
muitas das espécies de borboletas de tais áreas, uma vez que a extensão entre um
fragmento e outro não é conseguido atingir por algumas espécies, esses efeitos são
causados pelo efeito de ilha desses mosaicos. A segregação genética destas espécies
pode levá-las futuramente a extinção ao longo do tempo, pois as populações segregadas
são menos diversificadas e mais susceptíveis a pequenas mudanças no ambiente. Mais
um fator dentre muitos que podem estar causando um déficit visível das borboletas de
nossa região me foi apontado pela professora bióloga e Mestre Marisa C. Dionísio, que
cita que nas cidades ao longo de décadas, houve gradualmente uma substituição das
árvores nativas da cidade, por árvores exóticas de melhor manutenção pública, além da
facilitação do mercado de espécies vegetais exóticas ornamentais, que ganharam espaço
em muitas, se não na maioria das casas de cidades em todo o país, que não servem de
alimento para nossas borboletas, assim como para outra infinidade de outros animais,
como outros insetos, aves e até mamíferos. As borboletas sempre enfeitaram a natureza
e contribuem na diversidade e manutenção do meio ambiente a mais de 160 milhões de
anos, nos alegraram e nos dão esperanças desde os tempos mais remotos da
humanidade. O desaparecimento de inúmeras espécies nos remete uma importante
reflexão sobre nós mesmos e sobre nosso compromisso com a vida. Mais do que
bioindicadores, a falta de seu colorido e de sua leveza de voo, escurece silenciosamente
nossos dias e nos condena aos poucos a destruição de nossa própria casa. Quem nunca
ficou feliz ao ver uma bela borboleta? E várias então?

Espécies de Borboletas e seus Alimentos

Família Hesperiidea/Pyrginae

Borboleta: Phocides pigmalion hewmitsonius (Mabille, 1883)

Alimento: Árvores da Família Combretacea, plantas do gênero Rhizophora e Terminalia (T.brasiliensis)


“Cerne Amarelo” Cerrado e Mata Atlântica

Borboleta: Urbanus simplicius

Alimento: variadas herbáceas; Phaseolus, Tipuana, Canna etc...

Borboleta: Aguna aguna asander

Alimento: Plantas do gênero Bauhinia

Borboleta: Astraptes anaphus anaphus

Alimento: Plantas do gênero Phaseolus e Stizolobium

Borboleta: Staphylus melaina ?

Alimento: ?

Borboleta: Milanion leucaspis

Alimento: Annona e Rollinia


Borboleta: Achlyodes busirus rioja

Alimentos: Fagara e Citrus

Borboleta: Heliopyrgus ou Pyrgus (conferir)

Alimento: ?

Borboleta: Vinius ?

Alimento: ?

Borboleta: Niconiades ou Xeniades

Alimento: ?

Borboleta: Nictelius ?

Alimento: ?

FAMILIA PAPILIONDAE/PAPILIONINAE/TROIDINI

Borboleta: Battus polydamas polydamas

Alimento: Cipós do gênero Aristolochia

Borboleta: Heraclides thoas brasiliensis

Alimento: Plantas do gênero Fagara, Ruta, Piper, Citrus, Esenbeckia e Persea

Borboleta: Heraclides androgeus laodocus

Alimento: Aurantiaceae (Rutacea), Fagara, Esenbeckia, Citrus

Borboleta: Heraclides anchiades capys

Alimento: Citrus, Fagara, Esenbeckia

Borboleta: Pterourus menaticus cleotas

Alimento: Magnoliaceae, Hernandia, Persea, Nectandra, Aristolochia, Ocotea.


Borboleta: Parides anchises (Godart, 1819)

Alimento: Cipós do gênero Aristolochia (mata atlântica)

FAMILIA PIERIDAE/DISMORPHINAE/PIERINAE/COLIADINAE

Dismorphinae

Borboleta: Enantia lina psamanthe (tenho fotos, não coletada)

Alimento: Mimosoideae

Pierinae

Borboleta: Glutophrissa drusilla drusilla (Cramer, 1777)

Alimento: Plantas do gênero Cleome, Senna, Capparis e Drypetes

Borboleta: Ascia monuste orseis (Godart, 1819)

Alimento: Brassica/

LISTA ANTIGA

FAMILIA PAPILIONIDEA

Borboleta: Heraclides thoas brasiliensis

Alimento: Piperáceas e rutáceas

Borboleta: Heraclides anchiades capiz

Alimento: Várias espécies do gênero Citrus

FAMILIA NYMPHALIDAE

Borboleta: Morpho achilles

Alimento: Machaerium e árvores do gênero Pterocarpus


Borboleta: Morpho aega

Alimento: Bambus (taquarinhas) do gênero Chusquea como Merostachys buchelli

Borboleta: Vanessa brasiliensis

Alimento: Plantas da família Compositae (Bidus sulphurea etc...)

Borboleta: Junonia evarete

Alimento: Plantas do gênero Stachytarpheta

Borboleta: Anartia amarathea

Alimento: arbustos de Acantáceas do gênero Justiciaa e Ruellia

Borboleta: Actinote ....

Alimento: Solanáceas do gênero Dateera

Borboleta: Diaetria clymena

Alimento: arbustos de Trema micrantha

Borboleta: Dryadela phaetusa

Alimento: Várias espécies do gênero Passiflora

Borboleta: Philaetria wernikei

Alimento: Espécies do gênero Passiflora

Borboleta: Battus polydamas

Alimento: Trepadeiras do gênero Aristolochia (A.gigantea) “Jarra açú”

Borboleta: Pterourus scamander

Alimento: Abacateiro
Borboleta: Marpesia petreus

Alimento: Moráceas do gênero Ficus como jaqueira e fiqueiras

Borboleta: Hamadryas amphinome

Alimento: Trepadeiras do gênero Dalechampia

Borboleta: Hamadryas fornax

Alimento: Idem acima

Borboleta: Morpho anaxibia

Alimento: Caneleiras, Gramixama e arco de pipa.

Borboleta: Danaus plexippus erippus

Alimento: Algodãozinho do campo ou erva de rato, erva do brejo.

Borboleta: Danaus gilippus

Alimento: Idem acima

Borboleta: Historius odius

Alimento: arbustos do gênero Cecropia (Embaúbas)

Borboleta: Dryas iulia

Alimento: Passiflora

Borboleta: Agraulis vanillae

Alimento Passiflora

Borboleta: Heliconius ethila narcae

Alimento: Passiflora
Borboleta: Heliconius erato

Alimento: Passiflora

Borboleta: E. isabella dianasa

Alimento: Passiflora

Borboleta: Mechanitis lysimnia

Alimento: Plantas do gênero Solanum (tomateiro bravo)

Borboleta: Methona themisto

Alimento: Manacá (Brunfelpia uniflora)

Borboleta: Chlosyne lacinia

Alimento: Plantas do gênero Helianthus

Borboleta: Brassolis sphorae

Alimento: Palmeiras jerivá

Borboleta: Opsiphanes invirae pseudophylar

Alimento: Palmeiras do gênero Bactris

Borboleta: Phoebis philea

Alimento: Hibiscus, Ixora,

Variadas Borboletas Licaenídeas

Alimento: Sapotáceas como abieiro e sapotizeiro


Texto elaborado por Bruno C.B.Damiani.

Bruno Castelo Branco Damiani, é ex- aluno de Ciências Biológicas da Unifev, Mestre em Zoologia pela
Universidade Estadual de Londrina, coordenador da CEUA Unifev (Comissão de Ética de Uso deAnimais
em Pesquisa) e auxiliar do Laboratório de Ciências Biológicas do campus Cidade Universitária-UNIFEV.

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