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Revista CML N1
Revista CML N1
REVISTA
CML
CRIMINALÍSTICA E
MEDICINA LEGAL
| V.1 | N.1 | BELO HORIZONTE
2016
REVISTA
CML
CRIMINALÍSTICA E
MEDICINA LEGAL
| V.1 | N.1 | BELO HORIZONTE
2016
Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
©2016 by Os autores
©2016 by Valor Editora
idealizador
Marco Antônio de Oliveira Paiva
ORGANIZAÇÃO
Guilherme Ribeiro Valle
Pablo Alves Marinho
Sordaini Maria Caligiorne
revisor de português
Mônica Baeta Neves Pereira Diniz
revisor de inglês
João Henrique Roscoe Diniz Maciel
DIAGRAMAÇÃO
Valor Editora | Esther Figueiredo
www.revistacml.com.br
contato@revistacml.com.br
Anual
ISSN 2526-0596 (impresso)
ISSN 2526-2785 (online)
CDU 343.9
(Ficha catalográfica elaborada pelo Sidney Rodrigues dos Santos)
Patrocinadores Realização
www.valoreditora.com.br
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Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
EDITORIAL
As atividades diárias dos peritos criminais e legistas, de buscar e materializar provas técnicas mediante
análise de vestígios produzidos e deixados na prática de crimes, exige a aplicação de métodos e conhecimentos
cuja simplicidade é fruto de desenvolvimento científico anterior na bancada dos laboratórios e das salas
de anatomia patológica das universidades e institutos de pesquisa pelo mundo, bem como procedimentos
complexos, cuja capacidade de realização poucos profissionais detêm.
A necessidade da ciência forense de se aproximar mais das academias e ter seus métodos avaliados
pelo rigor científico foram questões levantadas em publicações da National Academy of Science dos Estados
Unidos em 2009 1
e da revista Nature em 2010 2,3
. Dessa forma, objetivamos com a Revista Criminalística
e Medicina Legal tornar públicas nossas metodologias e vivências disseminando-as para a comunidade
científica, a fim de fomentar a pesquisa e também estimular peritos criminais e legistas a divulgarem seus
trabalhos, que poderão se tornar ciência ao serem avaliados e publicados por uma revista científica.
Nada nos impede de aplicar a ciência não apenas na atividade pericial, mas também produzir
conhecimento científico, mesmo que nossa função institucional primeira não seja essa. Não falamos daquela
pesquisa sistematizada e com absoluto controle de métodos experimentais, cujo resultado obtido inspira
elevada confiança lastreada pelo rigor experimental e estatístico. É sim possível realizá-la, mas falamos
principalmente daquela pesquisa observacional, que vem do nosso dia-a-dia de imensa casuística que,
se bem explorada, pode verdadeiramente contribuir para o crescimento científico na área forense. Casos
periciais incomuns ou inusitados, desenvolvimento preliminar de métodos periciais não consagrados, análise
de bancos de dados, revisões de literatura sobre temas de interesse pericial, todos podem contribuir para o
crescimento científico e profissional dos peritos criminais e legistas de qualquer lugar e ou espaço de atuação.
É a isso que esta revista se propõe: transformar nosso cotidiano em ciência que seja aplicada e difundida
entre aqueles que se interessam pela ciência forense.
Foi com este pensamento que começamos a trabalhar para que a Revista Criminalística e Medicina
Legal se concretizasse, mas de forma sólida, para ter longa vida. O ex-diretor do Instituto de Criminalística
de Minas Gerias e colega perito criminal, Marco Antônio Fonseca Paiva, idealizou em sua gestão a perícia
criminal mineira também como produtora de ciência, e não apenas usuária dela. Um dos projetos para o qual
fomos chamados a desenvolver foi a criação de uma revista científica, para divulgação e estímulo à produção
científica forense entre peritos criminais e legistas no âmbito nacional. Espera-se, também, que a diversidade
de temas abordados nesta revista possa ilustrar para os demais profissionais da área forense e a sociedade
a importância, riqueza e profundidade do trabalho pericial.
(Endnotes)
1 Strengthening forensic science in the United States: a path forward.
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SUMÁRIO
Artigos
A lei 12.654/12 e os novos desafios para a perícia criminal na área de biologia forense em Minas Gerais
Aline Torres de Azevedo Chagas, Valéria Rosalina Dias e Santos ............................................................................................................................................................... 6 a 11
A importância de uma documentação odontológica completa na identificação de corpos carbonizados: relato de dois casos
Rodrigo Camargos Couto, Geraldo Elias Miranda, Silvia Guzella de Freitas, Adriana Maria Carneiro Moreira, Jéssica Enes Morais Rodrigues ........................................... 18 a 23
Avaliação de um caso de morte por intoxicação com monóxido de carbono produzido pela queima de carvão
Claiton Pires Ventura, Homero Augusto Righi ......................................................................................................................................................................................... 30 a 33
Resumos
Caracterização de marcadores moleculares com aplicabilidade para identificação de duas espécies de peixe com interesse
forense: Prochilodus argenteus e Prochilodus costatus (Dissertação de Mestrado)
Aline Torres de Azevedo Chagas, Evanguedes Kalapothakis .................................................................................................................................................................... 48 a 49
Microespectroscopia no Infravermelho Médio por Transformada de Fourier no modo Reflexão Total Atenuada e técnicas
quimiométricas aplicadas à detecção de fraudes em documentos (Dissertação de Mestrado)
Luisa Pereira e Ferreira, Clésia Cristina Nascentes .................................................................................................................................................................................. 50 a 51
Suicídio e sentido da vida: uma análise de cartas de suicidas a partir da teoria do sentido da vida de Viktor Frankl
(Monografia de Graduação)
Francielle Fátima de Carvalho, Manoel Deusdedit Júnior ......................................................................................................................................................................... 52 a 53
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e medicina legal
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Resumo
A impunidade tem despontado como um dos principais motivos do aumento da criminalidade no Brasil, principalmente devido à
dificuldade dos processos investigativos em apontar a autoria de delitos. A indisponibilidade generalizada de dados e a alta taxa de
sub-registro nos dados oficiais são alguns entraves à investigação do crime. Neste contexto, a ausência de bancos de dados criminais
contribui para o agravamento da situação, uma vez que muitas amostras coletadas em locais de crime não são comparadas com as
de referência, diminuindo assim, a possibilidade de auxílio nas investigações policiais. Na busca de soluções para esse impasse,
surge a Lei 12.654/12, que prevê a coleta de material biológico como parte da identificação criminal e a possibilidade de reunir tais
informações em um banco de dados de perfis genéticos. Nesse panorama, este estudo buscou levantar os desafios trazidos pela
nova lei na perícia criminal, mais notadamente no Instituto de Criminalística de Minas Gerais, Brasil.
Abstract
Impunity has emerged as one of the main reasons for the increase of criminality in Brazil, mainly because the inves-
tigative processes are unable to determine de authorship of crimes. The general unavailability of data and the high
rate of underreporting in the official records are some of the main difficulties inherent in the investigation of crime.
In this context, the absence of DNA databases contributes to it, because many samples that are collected in crime
scenes can’t be compared with standard samples, thus reducing the possibility of assistance in police investiga-
tions. The Brazilian law nr. 12,654/12 was created intending to solve this problem, by authorizing the collection of
biological samples as part of criminal identification and future organization of such information in a DNA database.
This study aims to evaluate the challenges brought by the new law in forensic investigation, mainly in the Criminal-
istics Institute of the Civil Police Department of Minas Gerais State, Brazil.
* alinetchagas@yahoo.com.br
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ráveis, como a sua existência em qualquer material de origem Estados Unidos e Chile, o banco de dados foi implantado através
biológica, seu imenso potencial discriminatório, a possibilidade do software CODIS (Combined DNA Index System), de-
de se multiplicar exponencialmente sua quantidade através da senvolvido pelo Federal Bureau of Ivestigation (FBI) e por
reação em cadeia da polimerase (PCR) e a sua estrutura mole- ele cedido à Polícia Federal brasileira para utilização em território
cular estável que lhe confere resistência aos fatores ambientes nacional. Em 2010 foi feita a maior instalação do programa CO-
e à passagem do tempo. Tais propriedades permitem que as DIS fora dos Estados Unidos, incluindo 15 laboratórios estaduais,
técnicas moleculares sejam aplicadas na investigação criminal um laboratório federal, além do banco nacional, localizado em
para apontar a autoria de delitos, excluir inocentes e identificar Brasília/DF, que é responsável pelo gerenciamento dos demais
cadáveres e pessoas desaparecidas 12. laboratórios. A partir da criação do Banco Nacional de Perfis Ge-
A análise de DNA com o propósito de identificação humana néticos, foi criada uma grande expectativa em virtude do sucesso
é um teste comparativo, através do qual se estabelece o confron- alcançado em outros países 16.
to entre amostra(s) de identidade conhecida (amostra-referência) O CODIS apresenta dois segmentos: CODIS 5.7.4, cuja
e amostra(s) de identidade não conhecida (amostra questiona- interface abrange o armazenamento e comparação de perfis ge-
da). Por isso, a simples coleta de material biológico em local de néticos de DNA de amostras coletadas em locais de crimes com
crime e obtenção de seu perfil genético de DNA tem pouca re- amostras de referência de vítimas e suspeitos; e o CODIS 6.1,
levância no processo investigativo sem que haja a presença de que busca vínculos genéticos de parentesco entre amostras de
uma amostra de referência para comparação. Daí surge a neces- ossadas e restos mortais associados a pessoas desaparecidas
sidade de se cadastrar amostras de suspeitos, vítimas, parentes e seus supostos parentes. Em 2013, o FBI iniciou os trabalhos
de pessoas desaparecidas, entre outras, que sejam passíveis de como o CODIS 7, que integra as funcionalidades dos dois seg-
serem comparadas com o material coletado em campo. A criação mentos anteriores. Basicamente, o CODIS é estruturado em
de bancos de dados de perfis genéticos surge como uma solução arquivos distintos e complementares de perfis genéticos, deno-
interessante para esse impasse, uma vez que possibilita o cru- minados índices. O Índice Forense, por exemplo, contém perfis
zamento de dados extraídos de locais de crimes sem suspeitos genéticos de amostras coletadas em locais de crime, enquanto o
com perfis genéticos de DNA de pessoas que estão envolvidas Índice de Criminosos contém perfis de pessoas condenadas por
na investigação criminal, quer por serem suspeitos ou vítimas crimes violentos. O intercâmbio de dados de informações genéti-
de crime ou por apresentarem parentesco com pessoas desapa- cas depositadas nos diferentes índices possibilita a identificação
recidas. Tal ferramenta possui características muito vantajosas, de criminosos de diversas naturezas e também de pessoas de-
notadamente em modalidades de crime que apresentam elevado saparecidas e restos mortais.
grau de reincidência, como os crimes contra o patrimônio e cri- O licenciamento para uso do CODIS no Brasil se deu
mes sexuais 13. através de Termo de Compromisso firmado entre o FBI e o DPF.
Em 2004, com o advento da Rede Nacional de Genética Também foram firmados Acordos de Cooperação Técnica entre o
Forense, via Secretaria Nacional de Segurança Pública (SE- Ministério da Justiça e os estados participantes, prevendo ações
NASP), foi possível criar laboratórios de Genética Forense em para a padronização de procedimentos, captação de recursos de
diversos Estados, melhorar os já existentes, além de capacitar e infraestrutura e adoção de medidas de segurança para garantir a
treinar os peritos criminais que neles atuavam. Tal iniciativa levou confiabilidade dos dados genéticos armazenados.
à formação de grupos de especialistas que desenvolveram e pa- Para determinação da identidade genética das amostras, o
dronizaram procedimentos, abrindo precedentes para, em 2009, CODIS utiliza treze polimorfismos genéticos (ou marcadores ge-
ser implantada a Rede Integrada de Bancos de Dados de Perfis néticos) do tipo microssatélites (STR - Short Tandem Repe-
Genéticos (RIBPG) que permitiu que as Secretarias Estaduais de at), que estão presentes em diferentes cromossomos do genoma
Segurança Pública e o Departamento de Polícia Federal (DPF), humano, possuem características altamente individualizantes e
através de suas respectivas instituições de Perícia Oficial, com- proporcionam alto poder de discriminação 12. Além desses mar-
partilhassem e comparassem perfis genéticos de DNA 14. cadores, o CODIS 6.1 passou a utilizar marcadores do cromos-
A RIBPG, então, nasce com o objetivo de dar mais celeri- somo Y (Y-STR) e também sequências de DNA mitocondrial,
dade às investigações criminais e diminuir os índices de violên- cuja finalidade é a identificação de pessoas desaparecidas e de
cia através da identificação de autores de delitos e consequente vítimas de desastres.
redução da impunidade, além de proporcionar a identificação de O CODIS, uma vez em operação, disponibiliza dados de
ossadas e restos mortais associados a pessoas desaparecidas. perfis genéticos obtidos de material biológico coletado em locais
Em seu projeto de implantação, foram estabelecidos requisitos de crime, de vítimas de crimes violentos ou cedidos por pessoas
mínimos para participação dos laboratórios na rede, incluindo envolvidas na investigação. Essas informações podem, então,
experiência, pessoal, estrutura laboratorial e procedimentos de ser armazenadas, compartilhadas e comparadas entre si, na
garantia e controle de qualidade 15. busca por autores e pessoas desaparecidas e para relacionar di-
No Brasil, assim como já acontecia em outros países como ferentes ocorrências e linhas de investigação, a um mesmo autor.
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Segundo o FBI 17, até maio de 2014, o Índice Nacional para realização de nova perícia, a existência de procedimentos
de DNA dos Estados Unidos da América contava com mais de padronizados, entre outros. A RIBPG ainda prevê períodos para
10.971.392 perfis de agressores e 559.705 perfis coletados em adequação dos laboratórios à ISO 17025 15.
locais de crime, tendo sido obtidos em torno de 245.447 coinci- Em 2009, o Estado de Minas Gerais, através da Secretaria
dências, que auxiliaram em mais de 235.540 investigações. de Estado de Defesa Social, e o Ministério da Justiça celebraram
Entretanto, para maximizar os efeitos vantajosos desse um Acordo de Cooperação Técnica, o qual objetivou a implanta-
tipo de análise, é urgente a padronização de outros procedimen- ção da RIBPG no Estado e previu a realização de ações conjun-
tos, com vistas a melhorar a qualidade do material que chega aos tas para padronização de procedimentos, captação de recursos
laboratórios e, consequentemente, a qualidade e confiabilidade e infraestrutura e adoção de medidas de segurança para garantir
dos resultados. a confiabilidade dos dados.
As primeiras precauções devem ser tomadas logo quan- Nesse acordo, a SENASP, através do Ministério da Justi-
do da identificação e coleta do vestígio. Os peritos e outros ça, se compromete, entre outros aspectos, a prover: hardware
profissionais que atuam em locais de crime devem adotar pro- e software necessários à implantação da RIBPG, recursos para
cedimentos de modo a evitar a contaminação do material. Além funcionamento de canais de transmissão de dados, aquisição de
disso, é importante catalogar e documentar a posição original material de consumo e equipamentos, construção e reformas,
da evidência coletada. Cuidados adicionais devem ser tomados eventos de capacitação etc. Ao Estado de MG coube, principal-
em relação ao acondicionamento, armazenagem e transporte mente, manter e gerenciar o banco de dados estadual, zelar pela
até o laboratório. Uma vez no laboratório, é necessária a pa- adequada utilização dos dados, disponibilizar e manter canal de
dronização de procedimentos e controle de qualidade, sem- dados entre a SENASP e o Estado, adquirir materiais de consu-
pre atentando para a documentação da cadeia de custódia. mo para o laboratório, entre outras atribuições.
Por fim, o tratamento estatístico dado aos resultados obtidos, Até a conclusão deste estudo, o Estado de Minas Gerais,
bem como a sua apresentação em forma de laudo devem ser através dos órgãos competentes, não havia publicado a portaria
cuidadosamente estabelecidos. Tais procedimentos, ao serem que cria no Estado o Banco de Dados de Perfis Genéticos. Bahia,
adotados, conferem qualidade ao material a ser examinado e Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Santa Catarina e São Pau-
aumentam a confiabilidade dos resultados, que farão parte do lo já publicaram suas respectivas portarias.
conjunto probatório durante o processo penal 12. As análises de DNA para fins forenses em Minas Gerais
são realizadas pela STBBL, da divisão de Laboratório do ICMG;
A Genética Forense em Minas Gerais as amostras analisadas são oriundas de material coletado em
e a Lei nº 12.654/12 cenas de crime, enviadas pelo Instituto Médico-Legal (IML) e
coletadas em vítimas de crimes sexuais. Ao longo dos anos, a
Quando da implantação do CODIS no Brasil, a RIBPG STBBL tem desenvolvido projetos de natureza técnico-científica
determinou exigências a serem cumpridas pelos estados para voltados para o combate à violência. Neste contexto, destaca-
garantir sua participação no grupo, de modo a cumprir os ter- se o “Projeto Crimes Sexuais”, do ano de 2005, que armazenou
mos impostos pelo FBI quando da cessão da licença para uso do perfis genéticos obtidos em casos de crimes sexuais, tornando
software. Assim sendo, a SENASP propõe como procedimento possível, entre outras ações, o mapeamento das áreas de ação
para coleta e exame de materiais biológicos o disposto na Reso- de um criminoso e a verificação do envolvimento do mesmo em
lução nº 194/99 da Secretaria de Segurança Pública de São Pau- outros delitos. Também se destaca a implantação de um banco
lo. Ademais, a SENASP disponibiliza em seu site na internet um de perfis genéticos de cadáveres e ossadas para identificação
manual de padronização de exames de DNA em perícias crimi- de pessoas desaparecidas. Além disso, um grande avanço ocor-
nais, que prevê procedimentos de coleta e custódia de amostras, reu em 2009, com a implantação do CODIS, que permitiu que
instalações físicas, os marcadores moleculares a serem utiliza- amostras provenientes de crimes sem suspeitos ou crimes inte-
dos nos exames, instruções sobre interpretação de resultados, restaduais, entre outros, sejam analisadas e seu perfil genético
tratamento estatístico e conteúdo dos laudos periciais. de DNA adicionado ao banco de dados. Ressalta-se, no entanto,
Para efetiva participação dos laboratórios na RIBPG, fo- que em MG o exame de DNA ainda é realizado apenas à medida
ram destacados requisitos mínimos, que incluíam comprovação que a investigação policial encontra suspeitos ou novas amostras
da experiência do laboratório e corpo técnico-científico qualifica- relacionadas ao crime, sendo o exame realizado apenas para ca-
do. Quanto à estrutura física, foram exigidos acesso controlado sos denominados “completos”, ou seja, aqueles em que há uma
e limitado, procedimentos de limpeza e descontaminação, espa- amostra de referência para comparação. Nos casos “incomple-
ços distintos para realização das diferentes etapas dos exames tos”, as amostras ficam arquivadas até que a investigação policial
e a presença de áreas seguras para armazenamento. Quanto aponte um suspeito. Tal procedimento decorre, principalmente,
aos procedimentos e metodologias, exige-se um sistema docu- da falta de infraestrutura e pessoal para realizar a análise de to-
mentado de controles de amostras; armazenamento de material das as amostras recebidas na seção e o armazenamento dos
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perfis genéticos das mesmas no CODIS. mitem afirmar que a existência de um banco de dados robusto
As estatísticas da STBBL para o ano de 2010 dão conta de é capaz de auxiliar sobremaneira nos processos investigativos.
que, naquele ano, apenas 9% dos casos de crimes sexuais esta- Além do banco de dados de amostras de referência, cum-
vam completos, ou seja, permitiam análises comparativas. Dados pre destacar a importância de se obter dados de qualidade a
estatísticos da Seção mostraram que, entre 2001 e 2010, a maioria partir dos perfis coletados em locais de crime. A análise de DNA
dos casos que aportaram no laboratório referentes a crimes se- depende da qualidade das amostras que são enviadas ao labora-
xuais eram provenientes de Belo Horizonte, perfazendo os casos tório. A simples existência de um banco de dados com capacida-
vindos do interior menos da metade dos recebidos pela capital. de para indicar suspeitos de nada vale se as amostras de origem
Embora a Lei 12.654/12 estabeleça que a coleta de amos- biológica coletadas no local estiverem sem condições de análise,
tra biológica para fins de análise de DNA deva ser realizada de degradadas, contaminadas ou em desacordo com a documenta-
maneira indolor, não há legislação que regulamente os procedi- ção da cadeia de custódia. Assim, é importante que sejam feitos
mentos de coleta de material genético para fins de identificação investimentos no treinamento do perito de local de crime, com
criminal. Dessa forma, apesar de a legislação permitir a coleta, vistas a melhorar o processo de identificação de vestígios e sua
ainda não se sabe de que forma ela será feita, onde, nem por correta coleta e armazenamento.
qual profissional. Há que se destacar a necessidade de adaptação do es-
Quanto à capacitação dos peritos que atuam em locais de paço físico do laboratório, rotina de compra de materiais de con-
crime, os conhecimentos acerca da coleta, preservação, arma- sumo, manutenção e aferição dos equipamentos, formação do
zenamento e transporte de material biológico são transmitidos corpo técnico-científico e contratação de pessoal administrativo
durante o Curso de Formação Policial na Academia de Polícia. para que o grande potencial das técnicas moleculares seja explo-
Em complementação, a STBBL elaborou um Manual de Coleta rado e sua utilização maximizada para fins, em última análise, de
de Evidências para Análises de DNA, o qual explicita em seu con- queda da impunidade e dos índices de criminalidade.
teúdo, de maneira detalhada, as técnicas e precauções a serem Por fim, recomenda-se que haja maior celeridade na pu-
observadas durante o manejo de material biológico. blicação de legislação que regulamente a forma como será feita
a coleta de material genético para fins de identificação criminal.
Discussão Durante esse processo é desejável que se realize estudos que
levem em consideração a dimensão territorial de Minas Gerais e
De forma geral, a perícia criminal no Brasil carece de padro- a situação precária em que se encontra a perícia e demais insti-
nização. Foi o que concluiu estudo feito pela SENASP, intitulado tuições de segurança pública, de modo a estabelecer estratégias
“Diagnóstico da Perícia Criminal no Brasil”, em que se apontou que sejam factíveis em todo o Estado.
a escassez de dados sistematizados e o desconhecimento das
instituições por seus próprios gestores. De forma preocupante, o Considerações finais
estudo diagnosticou o desconhecimento que a perícia criminal no
Brasil tem de si mesma 18. As técnicas de biologia molecular possuem grande apli-
No transcurso das pesquisas para elaboração do presente cabilidade nas ciências forenses, notadamente na identificação
estudo, verificou-se uma grande dificuldade na apuração de da- humana. O Brasil tem avançado muito em termos de legisla-
dos oficiais referentes ao número de condenados que cumprem ção pertinente ao caso, mas ainda tem muito a progredir. A Lei
pena atualmente em Minas Gerais, bem como o número médio 12.654/12 prevê a possibilidade de se aprimorar o processo de
de condenações por período de tempo. Tais dados seriam de identificação criminal no Brasil, com vistas a dar mais robustez
grande relevância na implantação do banco de perfis genéticos aos processos de investigação criminal por meio da definição da
de condenados, uma vez que é preciso prever a demanda de autoria de delitos.
exames que aportarão no laboratório mensalmente para que se- Urge o fortalecimento das instituições de perícia criminal,
jam feitas ações de planejamento que permitam que as amostras com maciços investimentos nos laboratórios de genética forense,
sejam analisadas com qualidade e celeridade. De modo similar, aquisição de equipamentos e reagentes, contratação, capacita-
não foi possível obter junto à STBBL dados que permitissem en- ção e qualificação dos peritos criminais.
tender a atual demanda de exames no laboratório e prever os Por fim, cabe aos gestores e responsáveis pela implemen-
impactos vindouros na ocasião em que as estratégias de coleta tação do CODIS em Minas Gerais a realização de estudos e a
e envio de material biológico estiverem estabelecidas e em fun- propositura de estratégias que permitam, em todo o Estado, a
cionamento. coleta de amostras que alimentarão o banco de dados atinente
A realização deste trabalho permitiu que se depreendesse aos condenados, bem como a difusão de boas práticas de coleta
que a análise de DNA é uma ferramenta poderosa para a inves- e armazenagem de material proveniente de locais de crime, além
tigação criminal e promissora no que diz respeito à identificação da regulamentação das leis que certificam a existência do CODIS
de autores de delitos. Os dados disponibilizados pelo FBI per- em MG, ademais de sua administração.
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Resumo
Perícias em locais de acidente de trânsito vêm ocorrendo cada dia com mais frequência, o que tem como prováveis causas o aumento
do fluxo rodoviário e imprudência/imperícia de condutores. Em um local de acidente de trânsito, o agente pericial tenta remontar o
local da colisão, utilizando-se dos vestígios para tentar descrever a dinâmica envolvida no fato. A falta de vestígios em locais é um
dos fatores que mais impossibilita ou dificulta a análise, uma vez que esses vestígios são usados, por exemplo, para a determinação
da velocidade dos veículos instantes antes do sinistro. O cálculo da velocidade das unidades motoras pode ser realizado de diversas
maneiras; no entanto, existem locais em que não é possível a constatação de vestígios suficientes para os cálculos, ocasião em que
as câmeras de segurança têm papel fundamental nessa natureza pericial. Esse trabalho tem como objetivo avaliar o uso de câmeras
na estimativa de velocidade de veículos em local de acidente de trânsito em comparação com métodos clássicos da Física. Os resul-
tados mostraram-se promissores, principalmente em locais com ausência de vestígios.
Abstract
Investigations into scenes of traffic accident, whose probable causes are the increasing traffic flow and driver’s
recklessness/inexperience, occur more frequently each day. In a traffic accident scene, the forensic investigator
tries to reassemble the collision site, using the trace evidences in hopes of describing the dynamics of the fact. The
absence of trace evidences in scenes is one of the factors that hamper analysis or even make it impossible, since
these traces are used, for example, to determinate the speed of the vehicle moments before the accident. The
speed calculation of the motor vehicles can be accomplished in several ways. However, in some cases there are
not enough traces left to allow calculations. In such cases, security cameras play a key role in this kind of investiga-
tion. This study aims to evaluate the use of cameras in the estimation of speed of vehicles in car accident scenes
compared with classical methods of Physics. The results proved promising, especially in scenes with few traces.
* talesgvieira@ig.com.br
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Ângulo de Ângulo de
Massa do veículo (kg) A V (km h-1) B U (km h-1) C
entrada (°) saída (°)
Veículo 1 90 20 1000 14,53 34,93
Veículo 2 0 2 1100 71,29 68,28
Quadro 1: Parâmetros utilizados para o cálculo das velocidades de entrada e saída dos veículos envolvidos.
A) massa total do veículo incluindo o(s) passageiro(s); B) velocidade de entrada do veículo; C) velocidade de saída do veículo.
O QUADRO 1 apresenta os parâmetros utilizados no cál- velocidade da unidade motora seria constante no trecho, o que
culo pelo método PCQM, bem como as velocidades de entrada e nem sempre ocorre na prática.
saída dos veículos 1 e 2. Para minimizar os erros do método anterior, foi realizada
O confronto desse resultado foi realizado mediante com- uma simulação com um veículo de mesma marca e modelo que
paração com os resultados dos cálculos pelas metodologias 2 e V2 no mesmo trecho onde esse teria sido filmado. Após isola-
3, os quais utilizaram imagens obtidas por uma câmera de segu- mento da área, dois Investigadores de Polícia da 1ª Delegacia
rança. A FIG. 2 apresenta um frame de um trecho em que o V2 Regional de Polícia Civil de Lavras/MG conduziram o veículo
passava pelos pontos fixos (árvores). similar a V2 no mesmo trecho de modo que fosse captado pela
câmera retrocitada no mesmo ângulo que no dia do acidente,
Figura 2: Fragmento da filmagem (frame) mostrando o produzindo velocidades de 50, 60, 70, 80 e 90 km/h que foram
momento em que o veículo 2 passava pelos pontos fixos em aferidas pelo velocímetro no momento do teste.
destaque (setas brancas).
Como ambos os veículos percorreram o mesmo trecho e
considerando que havia uma referência de demarcação (árvo-
res), pode-se afirmar que a velocidade que o condutor imprimiu é
inversamente proporcional ao tempo gasto para percorrer o tre-
cho e também inversamente proporcional ao número de frames
correspondentes para a porção dianteira do veículo percorrer o
intervalo entre as árvores.
Dessa forma foi construída uma curva de calibração de ve-
locidade real do veículo similar a V2 versus número de frames
gastos para percorrer o intervalo fixo, obtendo-se a equação da
reta como mostrado na FIG. 3.
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Resumo
Identificação é o processo pelo qual se estabelece a identidade de uma pessoa ou coisa, baseando em caracteres ou conjunto de
qualidades que a distingue de todas as outras e igual apenas a si mesma. Dentre os métodos mais empregados estão o exame de
DNA, a papiloscopia e a odontologia forense, que se destaca por ter alta resolutividade, celeridade e baixo custo. Este artigo teve
como objetivo o relato de dois casos de indivíduos carbonizados, que foram admitidos no Instituto Médico Legal de Belo Horizon-
te-MG, sem identificação formal, sendo rotulados como desconhecidos. Após o exame odontolegal foram realizados os confrontos
com as características dos prontuários odontológicos disponibilizados pelas famílias. Em um dos casos o prontuário odontológico
apresentava-se com poucos elementos para comparação. No outro, era rico em informações como radiografias, fotografias e registro
dos tratamentos executados. Os casos relatados demonstraram a eficácia do método odontológico e a importância fundamental da
documentação completa do paciente realizada pelo cirurgião-dentista proporcionando maior robustez na identificação positiva.
Abstract
Identification is the process that establishes the identity of a person or an object based on characteristics or a set
of qualities that makes it unique from all others and equal only to itself. Among the most commonly, used methods
to identify an individual are DNA testing, fingerprinting and forensic dentistry. The latter stands out for being highly
decisive, fast and low-cost. This article presents two case reports of charred individuals, allegedly victims of wrong-
ful death. Both individuals were admitted to the Legal Medicine Institute of Belo Horizonte-MG with no identification
and labeled as unknown. Comparative tests were performed using dental records provided by the victim’s families.
In one case, the dental records presented little data. However, the other case proved to be rich in information with
radiographs, photographs and past treatment records, making the positive identification process more robust.
* rodrigocamargoscouto@gmail.com
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Figura 2: Fotografia post-mortem (pm) mostrando os pontos Figura 3: Detalhe para a ausência dos dentes inferiores, que
coincidentes com o odontograma. tinham extração indicada segundo o odontograma.
20
Figura 6: Radiografia panorâmica utilizada para confronto.
Figuras 7 e 8: Radiografia AM (esquerda) comparada com Figuras 9 e 10: Radiografia AM (esquerda) comparada com
radiografia PM (direita). radiografia PM (direita).
Através da técnica de sobreposição de imagens 7, foram ciando a concordância dos caracteres odontológicos entre essas
sobrepostas as radiografias AM (Fig. 9) e PM (Fig. 10) eviden- tomadas (Figs. 11 a 16).
Figura 11: Transparência 0%. Figura 12: Transparência 20%. Figura 13: Transparência 40%.
Figura 14: Transparência 60%. Figura 15: Transparência 80%. Figura 16: Transparência 100%.
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v.1 | n.1 | 2016 | p. 24-29
Palavras-chave: cartuchos de arma de fogo. exame pericial. eficiência. martelo de inércia. extração de projétil.
Abstract
Several police cases have been solved in forensic ballistics laboratories through expert examinations on firearms
and their cartridges. However not all forensic laboratories in the country have firearms in calibers needed to perform
the efficiency tests on the cartridges/forwarded ammunition. It is necessary, in this context, the use of alternative
techniques for testing such devices in the absence of compatible firearm. The proposed method allows the exam-
iner expert realize the efficiency of ammunition calibers of the most commonly used simple tools available in trade
and enabling even the inertia hammer dismissal of dismantling the cartridges. The procedure showed up with a
satisfactory level of safety for the user, effective and inexpensive.
Keywords: cartridges of firearms; forensics exam; efficiency; inertial hammer; impact bullet puller.
* alberto.kombato@gmail.com
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Figura 1: Alguns EPIs e ferramentas necessários. Figura 4: Cartucho de fogo central sendo colocado no anel
compatível do martelo de inércia (foto à esquerda) e montado,
pronto para a retirada do projétil/pólvora (direita).
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Considerações Finais
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v.1 | n.1 | 2016 | p. 30-33
Resumo
Um jovem de 21 anos foi encontrado morto no piso do banheiro da cobertura do apartamento onde morava, em um bairro nobre de Belo
Horizonte. A janela e a porta desse banheiro estavam vedadas internamente por fita crepe, e externamente, junto à porta, havia um vaso
contendo uma porção de carvão vegetal com sinais de queima recente, o qual teria sido arrastado do banheiro. A análise do local indicou
que se tratava de um autoextermínio incomum no país, perpetrado por inalação de monóxido de carbono formado pela queima de carvão.
Posteriormente a causa mortis foi confirmada no IML: concentração, fatal, de 80% de carboxiemoglobina no sangue.
Abstract
A 21-year-old man was found dead on the bathroom floor of the penthouse of apartment building where he lived,
in an upscale neighborhood of Belo Horizonte. The window and the door of this bathroom were sealed from in-
side with adhesive tape, and outside, by the door, there was a vase containing a portion of charcoal with signs of
recent burning, which would have been dragged from the bathroom. Scene analysis indicated it was an unusual
type of suicide in this country, perpetrated by inhalation of carbon monoxide formed from charcoal burning. Later,
the cause of the death was confirmed in the Legal Medicine Institute: a fatal-80% carboxyhemoglobin concen-
tration in the blood.
* xclaiton@gmail.com
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diversos, os quais pertenciam a pelo menos duas folhas inteiras Os surtos de suicídio por inalação de CO pela queima de
de formato A4, e continham lançamentos produzidos por um carvão observados em Hong Kong e Taiwan apresentam como
punho escritor, com caneta esferográfica azul. Grande parte do característica importante a idade das vítimas, que são, em sua
que estava escrito era ilegível. Dentre os pontos legíveis en- maioria, menores de 30 anos 16, tal como a vítima desse relato
contram-se os seguintes trechos: “você é o irmão que eu não de caso. Diferentemente dos países citados, conforme já men-
tive”, “você era o amigo perfeito”, “você foi o melhor amigo que cionado, o Brasil aparentemente não se situa em um contexto
eu tive nos últimos tempos”. de surto de suicídios com esse método. Para explicar o grande
número de casos de suicídios por inalação de CO observados
na Ásia, alguns autores consideram que grande parte das víti-
mas obteve informações sobre esse método pela internet 9,11,16.
Isso pode mostrar o poder da mídia e dos meios de comuni-
cação para influenciar, ensinar ou encorajar jovens a cometer
suicídios. Uma possibilidade a ser considerada é que a vítima
do presente relato de caso tenha obtido informações dessa for-
ma de suicídio pela internet, em webpages estrangeiras. No
Brasil não se divulgam suicídios, o que contribui para evitar a
disseminação de métodos peculiares.
Figura 2: Fotografia mostrando o Encontra-se na literatura que, comparada com outras for-
carvão queimado no interior do vaso. mas de suicídio, a queima de carvão necessita de maior convicção
e preparação 17. A análise técnica do local em casos de morte por
A porta do banheiro não foi trancada internamente, apenas intoxicação com CO é importante para a determinação se o ocorri-
fechada e vedada com a fita adesiva, e assim como nas demais do tratou-se de um suicídio, homicídio ou acidente. Destaca-se que
portas do apartamento, não havia sinais externos de arromba- esse tipo de morte é raramente acidental ou homicida 3.
mento. Os móveis de todos os cômodos do apartamento esta- No presente relato, a vítima teria feito um planejamento, no
vam alinhados e não havia desordem. qual teria separado um vaso de barro para a queima do carvão.
Nos exames necroscópicos realizados no Instituto Médico Teria adquirido um rolo de fita adesiva para vedar o cômodo. Te-
Legal de Belo Horizonte-MG, verificou-se que a concentração de ria optado pelo banheiro por se tratar de um cômodo pequeno e
álcool no sangue da vítima era de 0,96g/L e que a concentração de fácil vedação, de forma a acelerar, assim, a saturação de CO
de HbCO era de 80%, o que confirmou a suspeita da causa- no ambiente. Além de toda essa preparação, é revelada ainda
mortis: asfixia tissular por intoxicação por CO. uma determinação de ir até o fim, uma vez que iniciado o pro-
cesso (a queima do carvão no ambiente fechado), a vítima teria a
Discussão opção de desistir antes de perder a consciência.
Os achados perinecroscópicos no local do fato revelaram
O suicídio é um fenômeno comum na população em geral bastante sobre a causa mortis. As tonalidades róseas da face
e uma das causas de morte com maior incidência em todo o pla- da vítima e das manchas de hipóstase indicam a presença de
neta. Há diferentes maneiras de se cometer um suicídio, sendo HbCO no sangue 3. Somou-se a isso ausência de ferimentos ex-
que três se destacam entre as mais frequentes: enforcamento, ternos e de lesões de hesitação, o que indica que a vítima sequer
intoxicação com pesticidas e disparo de arma de fogo. Aparecem caiu sobre o piso. Simplesmente, deitou sobre o chão, colocou
também nas estatísticas, mas de forma esporádica, precipitação a cabeça em um travesseiro, acomodou-se e esperou a ação
de grande altura e outros tipos de envenenamento 12,13. do agente tóxico (CO), à semelhança de dois triplos suicídios
É importante considerar que as vítimas usualmente pro- relatados na Alemanha 18.
curam métodos de suicídio de fácil execução e conveniência. A A confirmação da causa mortis só foi possível por meio
emissão de CO por meio da queima de carvão insere-se nesse dos exames posteriores de necropsia realizados pelos Médicos
contexto. Ainda são de baixo custo e é necessário apenas um es- Legistas, nos quais foram constatados os efeitos da asfixia tissu-
paço fechado, pequena porção de carvão e um recipiente para a lar nos órgãos internos. Nessa etapa também foi coletado san-
queima. Outro fator que também chama atenção para essa forma gue da vítima e foram solicitados exames, dentre eles o de teor
de suicídio é o fato de ser um método indolor e rápido, levando à alcoólico e o da medição da concentração de HbCO (responsável
perda de consciência em poucos minutos em situações em que pela asfixia tissular 3), além de outras buscas toxicológicas.
a vítima inala grandes concentrações de CO 5,8,14. Essas carac- No presente caso, a única fonte de CO no local era o vaso
terísticas do CO favorecem, inclusive, a ocorrência de acidentes contendo carvão vegetal parcialmente combusto (o chuveiro do
fatais, principalmente em ambientes mal ventilados contendo sis- banheiro era elétrico, e não havia tubulações ou dispositivos de
tema de aquecimento a gás 15. aquecimento a gás nesse cômodo e nem no apartamento). A pre-
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v.1 | n.1 | 2016 | p. 34-45
Abstract
Cocaine is the main alkaloid found in the leaves of the Erytroxylum coca plant. Cocaine use reports are ancient
and still permeate some western cultures, but recreational use has spread throughout the world. Several studies
demonstrate that the abuse of drugs is a serious public health problem, since it can lead to cardiovascular and cen-
tral nervous system changes in users. Forensic science is a tool of Forensics that deals with the use of knowledge
and science technology in compliance with social laws. Therefore it is of the utmost importance that a Forensic
Investigator have full knowledge of the analytical methods available for the identification of cocaine, given that this
drug represents a large portion of the entire amount seized by the police. This article presents a brief review of the
toxicological aspects arising from the use of cocaine as well as the main analytical techniques for the identification
of drugs according to international recommendations, aimed at harmonization of the procedures adopted by Foren-
sic Investigators, thus, avoiding quality differences in toxicology reports performed by different institutions.
*sordaini@gmail.com
Caligiorne et al. | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
Apesar de o cultivo do vegetal E. coca ser permitido em Vale ressaltar que o cloridrato de cocaína é comumente
alguns países da América do Sul, como Bolívia, Colômbia e Peru, adulterado com substâncias farmacologicamente ativas como
o refino é proibido em qualquer parte do mundo. Para obter os cafeína, lidocaína, benzocaína, procaína, levamisol, fenacetina,
produtos refinados da droga, como o cloridrato de cocaína e o diltiazem e diluída com pós inertes como açúcar, carbonato de
crack, os traficantes utilizam diversos produtos químicos, que sódio, silicatos, sulfatos, cal e amido, diminuindo a pureza da
são mais facilmente encontrados no Brasil, devido ao destaque droga. Em estudo realizado em Minas Gerais, Brasil, os teores
da indústria química brasileira no cenário mundial. de cocaína nas amostras apreendidas pela Polícia Civil variaram
No processo de refino da cocaína, as folhas da E. coca de 6,4 a 75,3%, sendo a cafeína e a lidocaína os principais adul-
são maceradas e extraídas com solventes orgânicos (ex.: gaso- terantes encontrados 8.
lina e querosene), sendo adicionadas substâncias ácidas (ex.: O nome coca deriva de uma palavra aimará, “khoka”,
ácido sulfúrico) e básicas (ex.: óxido de cálcio e carbonato de cujo significado seria “a árvore” 9. Este vegetal cresce na forma
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de arbusto ou em árvores ao leste dos Andes e acima da Bacia de toxicidade, tolerância, dependência química e morte pelo uso
Amazônica 10 sendo cultivado em clima tropical e altitudes que passaram a ser relatadas e ainda agravadas, no início dos anos
variam entre 450 e 1.800 metros acima do nível do mar e, ainda, 1.920, quando surgiram comercialmente as seringas hipodérmi-
continua sendo usado pelos nativos da região que mascam sua cas, facilitando a administração de uma maior quantidade de co-
folha. No norte do Brasil, também é chamada de epadu e muitas caína pela via endovenosa 19.
tribos da Bacia Amazônica, na região fronteiriça entre Venezue- Há registro do uso restrito de cocaína nas décadas de
la, Colômbia e Brasil, mantêm o hábito de mascar o “epadu” ou 1.930 a 1.960 nos EUA, porém esse uso mudou à medida que
“ipadu” 11,12. Indígenas andinos reconheciam suas propriedades a droga começou a estar disponível no mercado, por meio do
tônicas e utilizavam-nas para suportar os esforços físicos e a fa- incremento do narcotráfico internacional, a partir da América do
diga 13,14. Como a coca possuía um caráter místico para os índios, Sul 13,14. No fim do mesmo século começaram a aparecer os sin-
os espanhóis proibiram seu consumo para converter os mesmos tomas psicóticos e maléficos da droga. Em 1.980, pelo menos
ao cristianismo. 400 casos de danos físicos e psíquicos relacionados à cocaína já
Em 1.850, a coca foi levada para a Europa e em 1.855 o haviam sido registrados. Na segunda metade do século XX, gra-
químico alemão Friedrich Gaedecke conseguiu o extrato das fo- ças ao fortalecimento do puritanismo e da ideologia proibicionis-
lhas de coca, o erythroxylene. Quatro anos mais tarde, em 1.859, ta, o consumo da cocaína caiu significativamente nos EUA e na
o químico alemão Albert Niemann conseguiu isolar, entre os Europa. Entretanto, o estímulo às experiências com substâncias
seus numerosos alcalóides, o extrato de cocaína, e em 1.898 foi psicoativas dos movimentos beat e hippie dos anos 1.950 e
descoberta a sua estrutura química. Em 1.902, Willstatt (prêmio 1.960 resultaram no aumento do consumo da droga. Atualmente,
Nobel) produziu cocaína sintética em laboratório 16. a cocaína é uma das drogas ilícitas mais consumidas no mundo
Na segunda metade do século XIX, a cocaína ganhou 16
. As complicações neuropsiquiátricas, cardiocirculatórias assim
grande popularidade. O psicanalista Sigmund Freud (1.856- como os transtornos sócio ocupacionais, econômicos e legais
1.939), em 1.884, publicou um livro chamado Uber Coca associados ao seu uso abusivo fazem com que esse fenômeno
(Sobre a Cocaína) no qual defendeu o uso terapêutico como necessite ser cada vez mais estudado.
estimulante, afrodisíaco, anestésico local, assim como indicativo
no tratamento de asma, desordens digestivas, exaustão nervo- Aspectos sociais do uso da cocaína
sa, histeria, sífilis além do mal-estar relacionado a altitudes 15,16.
Freud receitava essa droga aos seus pacientes para o trata- O uso abusivo de cocaína tem se constituído em um pro-
mento de depressão e dependência à morfina. Sendo assim, foi blema cada vez maior na sociedade. O aumento das taxas de
considerado inicialmente um fármaco milagroso para tratamento morbi-mortalidade parece ser devido a uma diminuição no preço
de diversas moléstias. Mais tarde, após o registro de uma morte da droga e um aumento da sua disponibilidade. Um maior núme-
por uso abusivo, o psicanalista passou a observar seus efeitos ro de pessoas utiliza a droga em concentrações e doses cada
adversos e então, após quatro anos de sua publicação original, vez mais elevadas, dados que nunca tinham sido relatados num
Freud voltou atrás, rendendo-se às evidências de que a droga passado recente 20.
milagrosa tinha uma série de inconvenientes, começando pelo Nas primeiras décadas do século XX, o consumo mundial
potencial de desenvolver a dependência química. Em 1.892 pu- dessa droga pareceu ter diminuído de forma importante, com ex-
blicou uma continuação do Uber coca modificando seu ponto ceção dos países andinos, onde a substância continuava a ser
de vista originalmente favorável à cocaína 17. consumida 21. O conhecimento da população sobre os efeitos
Após um grupo de cientistas italianos ter levado a planta nocivos da cocaína, além do surgimento de regulamentações e
para o país, o químico Angelo Mariani desenvolveu, em 1.863, uma leis restritivas, como o tratado de Haia (1.912), ou o Decreto-lei
mistura de folhas de coca com vinho, denominando-o de vinho Ma- Federal nº 4.292 de 6 de julho de 1.921, no Brasil, tornaram a
riani. A bebida, de grande aceitação entre as classes mais altas e cocaína menos disponível para a população em geral, e também
muito apreciada pelo Papa Leão XIII, consistia em uma infusão ajudou no declínio do uso de droga. Houve, no entanto, o res-
alcoólica de folhas de coca. Em 1.886, John Styth Pemberton criou surgimento de uso abusivo de cocaína nos últimos 30 anos. No
um soft drink isento de álcool. Assim, foi na tentativa de competir início da década de 1.970, havia pouca literatura demonstrando
com o vinho Mariani que os americanos criaram a Coca-Cola 18, a a toxicidade dessa droga e suas consequências na saúde do
qual permaneceu contendo a cocaína na sua fórmula até 1.906, usuário. Assim, a cocaína ressurgiu como droga de escolha para
quando foi substituída por outro alcalóide estimulante do sistema uso “recreacional”, que colaborava para a falsa crença de que a
nervoso central (SNC), a cafeína 10,12,15. droga era segura, sem risco de causar dependência 22.
Em 1.885, um químico trabalhando para a indústria farma- Foi a partir dos anos 1.980, com o aumento da oferta de
cêutica Parke Davis, revolucionou a produção ao descobrir cocaína no mercado de todos os países americanos, que essa
uma maneira de produzir cocaína semirefinada nos próprios pa- concepção começou a mudar. O aumento da oferta deveu-se,
íses onde estavam instaladas as fábricas 19. Grandes problemas principalmente, a uma maior produção e à distribuição mais efi-
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caz realizada por alguns cartéis de traficantes sul-americanos. da cocaína pelas colinesterases plasmática e hepática, e ben-
Essa maior oferta, com um preço muito menor, fez com que o uso zoilecgonina (30 a 45%), resultante da hidrólise espontânea da
de cocaína aumentasse e se diversificasse bastante 19. cocaína ou por reação catalisada por carboxilesterases. Outro
No Brasil, de acordo com o IIº Levantamento Domiciliar produto de biotransformação é a norcocaína (2 a 6%), resultante
sobre o Uso de Drogas, realizado em 2.005, constatou-se que da N-desmetilação direta pelas enzimas do sistema citocromo
3,8% da população brasileira, entre 12 e 65 anos de idade, já P450. A ingestão de álcool combinada com a administração de
usaram algum derivado da droga 23, e outros dados epidemioló- cocaína resulta na transesterificação hepática da droga na forma
gicos mostram que o uso de cocaína vem crescendo nos últimos de cocaetileno. Um dos aspectos importantes deste metabólito é
anos entre os estudantes do ensino médio e fundamental, bem que, devido a sua semelhança estrutural, sua ação farmacológi-
como entre os pacientes que procuram atendimento nas clínicas ca é comparável à da cocaína 14.
especializadas 21. O cloridrato de cocaína pode ser injetado, inalado e, quan-
O mesmo levantamento 23 mostrou que 5,6 milhões de do na forma de base livre (crack), o alcalóide pode ser fumado,
adultos e 442 mil menores, que tinham entre 14 e 17 anos, admi- tendo em vista que essa forma apresenta baixo ponto de fusão,
tiram ter consumido algum derivado da cocaína. O estudo indica volatiliza-se aproximadamente a 90°C, e quando aquecida per-
também que 2 milhões de brasileiros fumaram crack ou merla mite que seus vapores sejam inalados no ato de fumar, tendo a
em alguma ocasião e que 1,2 milhões fizeram uso no ano ante- sua velocidade de absorção muito alta devido a superexposição
rior. O consumo foi três vezes maior em áreas urbanas do que à superfície pulmonar altamente vascularizada. O início dos efei-
em áreas rurais, e muito concentrado na região Sudeste (46%). tos é imediato, alcançando a intensidade máxima em cerca de
O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína e seus de- cinco minutos, com duração de aproximadamente 30 minutos.
rivados no mundo em 2.014. A lista foi liderada pelos Estados O uso da droga nesta forma pode levar à dependência em um
Unidos, com 4 milhões de consumidores, seguido por Brasil (2,8 período muito curto de uso 14.
milhões), outros países sul-americanos (2,4 milhões), Reino Uni- O crack surgiu no Brasil em meados de 1.988, na periferia
do (1,1 milhões), Espanha (0,8 milhão) e Canadá (0,5 milhão), de São Paulo 26. Somente após a virada do milênio, relatos sobre
segundo dados citados no estudo 24. esse tema e suas consequências foram produzidos em maior es-
No Brasil houve um aumento na prevalência de uso ao cala 27. Atualmente, passados 20 anos da chegada da droga no
longo da vida de qualquer droga psicotrópica, que passou para Brasil, constata-se a consequência de seus efeitos em diversos
22,8%. A maconha foi a mais citada (8,8%), seguida pelos sol- segmentos. O crack traz, comprovadamente, prejuízos para a
ventes (6,1%) e pelos benzodiazepínicos (5,6%). A cocaína apa- vida dos usuários, seus familiares e para a sociedade em geral.
receu na sexta posição, com 2,9%. O crack ficou na 11ª posição Entre os prejuízos estão: complicações pulmonares frequentes 28;
(0,7%), juntamente com os barbitúricos, e seguido dos antico- zumbidos, alterações de equilíbrio, alucinações auditivas e hipe-
linérgicos (0,5%), merla (0,2%) e heroína (0,1%). O crack é, atu- racusias29; risco aumentado de contrair o vírus da imunodeficiên-
almente, a maior preocupação das autoridades devido à grande cia humana (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis
taxa de mortalidade de seus usuários 23. A maior parte da cocaína 30,31
; alto índice de mortalidade, em curto espaço de tempo, em
apreendida no Brasil em 2.011 teve como origem a Bolívia (54%), virtude de fatores externos como homicídios e a soropositividade
seguida pelo Peru (38%) e Colômbia (7,5%) 25. para o vírus da HIV 32; maiores problemas sociais 31; problemas
com a justiça, atraso na vida escolar, alto índice de desempre-
CLORIDRATO DE COCAÍNA E CRACK go 33; ocorrência de condutas antissociais para a obtenção da
droga, como furtos, assassinatos e roubos 34. Em virtude dessas
A cocaína é encontrada nas formas de alcalóide purificado, e outras consequências, a questão do uso de crack no Brasil
base livre, e o sal de cloridrato 1; seu uso tem sido associado a já tomou uma grande proporção, sendo considerado um grave
efeitos decorrentes da toxicidade aguda e crônica em praticamente problema de saúde pública 35.
todos os órgãos, principalmente no sistema cardiovascular. Quanto ao processo de produção, inicialmente, o crack era
Através da administração por via intranasal, a velocidade de convertido do cloridrato de cocaína (pó) pelo próprio usuário, cons-
absorção pelas membranas mucosas da cocaína ocorre de forma tituindo a forma da “casca” 36,37. Posteriormente, uma vez que a pro-
lenta e baixa, devido ao retardamento da absorção relacionado a dução concentrou-se nas mãos do traficante, o crack passou a ser
baixa taxa de difusão pela mucosa nasofaríngea, devido às pro- produzido e comercializado na forma de “pedras”, que despertavam
priedades vasoconstritoras da droga e a possibilidade de sua de- a atenção pelo baixo custo por unidade, o que de inicio causava a
glutição (20 a 30%), quando a absorção é ainda menor em razão falsa sensação de ser uma droga mais barata que as demais 38.
do metabolismo de primeira passagem sofrido pela droga 14. Definida como um forte impulso para utilizar uma substân-
A eliminação da droga é predominantemente controlada cia, a fissura é considerada fator crítico para o desenvolvimento
pela biotransformação, sendo os principais produtos: éster me- do uso compulsivo e dependência de drogas e para recaídas
tilecgonina (35 a 48%), obtida pela hidrólise do grupo benzoato após período de abstinência. O padrão de consumo intenso, con-
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Neste sentido, uma das técnicas mais amplamente utiliza- Teste com o reagente de Mayer
da mundialmente e que congrega tais características é a croma-
tografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS). Este ensaio é muito utilizado em análises botânicas para
Porém tal técnica, devido à sua complexidade, necessita ser rea- identificação de alcalóides em vegetais 57. A cocaína, por ser um
lizada sob condições controladas em ambiente laboratorial, o que alcalóide presente na E. coca, reage positivamente ao teste, o
inviabiliza sua utilização em locais de crimes. Deste modo, outras qual possui elevada sensibilidade reagindo a qualquer traço de
técnicas são utilizadas nestes locais, a fim de obter uma resposta cocaína no material. Porém, este teste possui baixa seletivida-
mais célere para a autoridade judiciária, sendo assim elaborado de, reagindo com outros compostos como a lidocaína, sildenafil,
o laudo preliminar de constatação de droga, conforme preconi- dipirona, ecstasy e outros. Neste procedimento, a droga é so-
zado pelo Código de Processo Penal Brasileiro. Estas técnicas lubilizada em meio aquoso, sendo necessária a adição de gotas
utilizadas são apenas de triagem, tendo como características de ácido clorídrico para a cocaína na forma de base livre. Ao se
uma adequada sensibilidade, baixo custo, facilidade na execu- gotejar o reagente de Mayer sobre a solução, há um turvamento
ção e interpretação, rapidez no resultado obtido, porém carece imediato do meio, formando um precipitado branco flocoso que é
de seletividade, devendo seus resultados serem confirmados por desfeito ao se adicionar etanol 14 (Figura 4).
métodos mais específicos no laboratório 53,54.
Para a determinação de cocaína, existem na literatura vá-
rios métodos que podem ser utilizados na triagem desta droga
55-57,64
, cabendo ao Perito Criminal escolher um ou mais métodos
conforme a característica da amostra e limitações de cada rea-
gente para utilizar na sua análise. A seguir, discutiremos alguns
destes métodos de triagem mais comumente utilizados pela Pe-
rícia Criminal no Brasil para identificação da cocaína.
39
Caligiorne et al. | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
Teste com o reagente de tiocianato de cobalto mazina, cloridrato de promazina, escopolamina, cloridrato de
dibucaína, prometazina e cloridrato de fenciclidina 59. A seguir
Desenvolvido em 1.931 por Young, o teste original utilizava é mostrada, na equação, a reação balanceada entre o rea-
o reagente de tiocianato de cobalto a 2% com cloreto de estanho gente e a cocaína (R3NH+) 58.
(II) em meio ácido. Este teste baseia-se na reação de comple-
xação da cocaína com o cobalto, formando um complexo que [Co(SCN)(H2O)5 ]+ (aq) + 3SCN- (aq) + 2 R3NH+–> (R3NH)2Co(SCN)4 + 5H2O(l)
pode ser visualizado devido ao aparecimento de uma coloração
azul. Devido à baixa seletividade do teste, várias modificações Teste com o reagente de Scott modificado
foram realizadas a fim de diminuir os falsos positivos 58. É impor-
tante ressaltar que o aumento da concentração do tiocianato de Em 1.986, a fim de otimizar o teste de Scott, Fasanello
cobalto alterará favoravelmente a sensibilidade do teste, porém e Higgins modificaram o reagente, adicionando ácido clorídrico
negativamente a sua seletividade. A Perícia Criminal de Minas em sua formulação, porém mantendo-se a mesma concentração
Gerais utiliza uma concentração de 0,5% do tiocianato de cobal- do sal (2%), fazendo com que ele reagisse tanto com a cocaína
to acidificado, priorizando a seletividade do método em relação na forma de cloridrato como na forma de base livre (ex.: crack,
à sensibilidade. Neste procedimento, é adicionado sobre uma merla, pasta base). O restante do procedimento manteve-se, ha-
fração da droga gotas do reagente que pode ser preparado já vendo aparecimento da coloração azul ao adicionar o reativo, se-
acidificado com ácido clorídrico, a fim de reagir com a cocaína guido do desaparecimento da cor ao adicionar o ácido clorídrico
tanto na forma de cloridrato como na sua forma neutra. O desen- a 10% e, na etapa final, com a adição do clorofórmio, ocorrendo
volvimento da coloração deve ser observado em até 5 minutos, a novamente o aparecimento da coloração azul na porção inferior
fim de se evitar falsos positivos (Figura 5) 14. da solução 59.
Objetivando-se melhorar ainda mais esse teste, prin-
cipalmente em relação à seletividade, o uso da concentra-
ção do reagente numa concentração de 0,15%, apesar de
diminuir a sensibilidade do método, o torna bastante sele-
tivo para a cocaína se comparado com as outras concen-
trações. Neste método, é adicionado o reativo sobre a dro-
ga, em seguida o solvente diclorometano. Caso a cocaína
esteja na forma de cloridrato há desenvolvimento de uma
coloração azul na porção orgânica inferior. Caso se trate
de cocaína na forma de base livre é necessário adicionar
Figura 5: Reação negativa (à esquerda) e reação positiva gotas de uma solução de ácido clorídrico a 20% para que
(à direita) para a cocaína, mediante o uso do reagente de a cor azul apareça (Figura 6). É importante ressaltar que
tiocianato de cobalto a 0,5% acidificado (arquivo pessoal). a adição do reagente sobre amostras de cocaína contendo
levamisol (fármaco anti-helmíntico) como adulterante, pro-
Teste com o reagente de Scott original duz uma coloração azul na primeira etapa do teste, masca-
rando o resultado para a cocaína 14.
Desenvolvido em 1.973 por Scott, este teste foi basea-
do no teste de tiocianato de cobalto e é realizado em etapas,
sendo necessária a reação positiva nas três etapas para a
correta identificação da droga 58. O ensaio utiliza o reagen-
te de tiocianato de cobalto a 2% contendo glicerina que, ao
entrar em contato com a droga, desenvolve uma coloração
azul, baseado no mesmo princípio do teste de tiocianato de
cobalto. Na segunda etapa, são adicionadas gotas de ácido
clorídrico concentrado que provocará a mudança da colora-
ção da solução de azul para rosa (cor original do reagente).
Na última etapa, é adicionado clorofórmio, fazendo com que
o complexo entre a cocaína e o cobalto migre para a fração
orgânica, reaparecendo a coloração azul na porção inferior
do meio 55. Esse teste possui boa sensibilidade, reagindo com
amostras bem diluídas, porém pode reagir com outros fárma- Figura 6: Reação negativa (à esquerda) e reação positiva (à
direita) para a cocaína, mediante o uso do reagente de Scott a
cos como o cloridrato de difenildramina, cloridrat de clorpro-
0,15% (arquivo pessoal).
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Caligiorne et al. | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
Figura 7: Resultado positivo para determinação de cocaína por imunocromatografia em fita de imunoensaio (arquivo pessoal).
Cromatografia em camada delgada (CCD) ascendente, ocorrendo a eluição da droga e separação dos ou-
tros constituintes da amostra que terão diferentes interações com
As técnicas cromatográficas são técnicas de separação de a fase móvel e estacionária em relação à cocaína. Após a mi-
misturas de amostras por processos físicos e químicos, garan- gração do solvente até um determinado ponto na cromatoplaca,
tindo melhor seletividade em relação às técnicas colorimétricas esta é retirada da cuba, levada à capela e borrifada um revelador
citadas anteriormente. No entanto, são mais onerosas, trabalho- químico que reagirá com a molécula da cocaína desenvolvendo
sas, necessitam de um ambiente laboratorial para sua realização uma cor 61.
e também são consideradas como técnicas de triagem quando Os reativos mais utilizados para a cocaína são o reagente
utilizados reagentes cromogênios para a identificação de uma Dragendorff e o Iodo Platinado acidificado. A positividade do teste
determinada droga. Neste procedimento, a amostra da droga se dará caso a amostra problema apresente o mesmo Rf (fator
é extraída com um solvente orgânico de alta miscibilidade (ex.: de retenção) e cor idêntica ao padrão aplicado na cromatoplaca.
metanol para o cloridrato de cocaína e clorofórmio ou éter etílico É indicado aplicar juntamente ao padrão outros possíveis adul-
para o crack), sendo o solvente aplicado num suporte contendo terantes, a fim de verificar o Rf destes em relação à cocaína no
uma fase estacionária (ex.: sílica) que é colocada dentro de uma método utilizado 14,62.
cuba de vidro contendo uma fase móvel constituída de uma mis- A Figura 8 mostra uma cromatoplaca revelada com o reati-
tura de solventes (ex.: clorofórmio, acetona e hidróxido de amô- vo de Dragendorff para pesquisa de cocaína por CCD.
nio). O solvente, então, migra pela fase estacionária no sentido
41
Caligiorne et al. | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
Figura 9: Espectro de massas da cocaína obtido por impacto por elétrons (70eV) 65.
42
Caligiorne et al. | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
Considerações finais cocaine seized in two regions of Brazil. Science & Justice, v.53,
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É de extrema importância que o Perito Criminal tenha 9-KARCH, S.B. The history of cocaine toxicity. Human Patholo-
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identificação da cocaína, sabendo avaliar de acordo com as limi- 10-FERREIRA, P.E.M; MARTINI, R.K. Cocaína: lendas, história e
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pericial. Ademais, torna-se necessário que todos os envolvidos 12-MAIA, C.R.M,; JURUENA, M.F.P. Cocaína: aspectos históricos,
no processo sejam informados da técnica utilizada pelo Perito farmacológicos e psiquiátricos. Revista da Associação Médi-
Criminal no ensaio, a fim de ser possível sua avaliação quanto à ca do Rio Grande do Sul, v.40, p.263-273, 1996.
adequação do método frente à amostra ensaiada. Embora ainda 13-DENG, S.X.; DE PRADA, P.; LANDRY, D.W. Anticocaine cata-
não haja uma padronização em nível nacional dos ensaios de lytic antibodies. Journal of Immunological Methods, v.269,
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extremamente salutar tendo em vista a harmonização dos proce- 14-PASSAGLI, M. Toxicologia forense: teoria e prática.
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45
RESUMOS
rcml
revista criminalística
e medicina legal
revista criminalística e medicina legal
v.1 | n.1 | 2016 | p. 48-59
Resumo
A crescente preocupação com as questões ambientais, aliada ao advento de leis que procuram proteger os recursos naturais, tem
criado uma nova demanda na área das ciências forenses que trata das perícias ambientais. Em relação às atividades de pesca,
existem diversas cartas legislativas em vigor que buscam proteger os recursos pesqueiros. Em contrapartida, a correta identificação
de espécimes apreendidos em ocorrências de pesca ilegal ainda é feita de modo precário. Dessa forma, seria desejável o estabe-
lecimento de protocolos simplificados que permitam a correta identificação de materiais apreendidos, como forma de fortalecer as
ações de fiscalização e, posteriormente, a prova no meio jurídico. Nesse aspecto, as técnicas moleculares podem oferecer grande
ajuda através do estabelecimento de marcadores espécie-específicos, que permitam afirmar que o material questionado é prove-
niente, de fato, de espécie cuja pesca não é permitida. O presente trabalho objetiva caracterizar marcadores moleculares para as
espécies Prochilodus argenteus e Prochilodus costatus, ambas de grande importância ecológica e econômica na região
da bacia hidrográfica do rio São Francisco. Para tanto, foi feito o sequenciamento de DNA genômico das duas espécies, montagem
de novo das reads geradas, montagem e anotação das sequências de DNA mitocondrial e comparação com a sequência de DNA
mitocondrial de outra espécie do mesmo gênero: Prochilodus lineatus. Foram selecionados marcadores mitocondriais gênero
-específicos e espécie-específicos e o desenho de primers foi feito levando-se em conta a possibilidade de identificação de gênero
e espécie através de amplicons gerado em reação em cadeia da polimerase (PCR). Foram identificados um par de primers
gênero-específicos, que apresentam boa sensibilidade e especificidade na detecção de DNA do gênero Prochilodus. Quanto aos
primers espécie-específicos, foi encontrado um par que apresentou amplificação apenas para DNA de Pochilodus argenteus. O
presente trabalho também obteve sucesso na extração de DNA de petrechos de pesca (uma rede e uma tarrafa) que foram utilizados
para coleta de espécimes de Prochilodus argenteus e Prochilodus costatus. Através de PCR utilizando marcadores mito-
condriais, foi possível detectar a presença de material genético de Prochilodus no DNA extraído dos petrechos de pesca. Os dados
obtidos a partir do sequenciamento de Prochilodus argenteus e Prochilodus costatus também permitiram a identificação de
dezenas de milhares de marcadores microssatélites, que ainda precisam ser avaliados quanto à aplicabilidade para a identificação
de espécies e para estudos de diversidade. A tecnologia apresentada no presente trabalho possui potencial para ser expandida para
outras espécies e para ser aplicada em estudos de ecologia molecular, genética de conservação e na área forense como meio de
determinação de materialidade de delitos e, consequentemente, fortalecimento da prova pericial no âmbito jurídico.
Resumos | Revista de Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016 |
The increasing concern about environmental issues added to specific legislation aiming inhibition of environmental
damage gave rise to new challenges in forensic science. Regarding fishing activities, there are several laws with
the purpose of protecting fishing resources. On the other hand, the correct identification at species-level of samples
seized in enforcement actions is far from accurate. Thus, it became extremely important the establishment of tech-
niques that enable the correct identification of the seized samples, ideally through easy handling protocols. This
would strength the enforcement actions and the juridical proof. Considering this, molecular techniques can provide
species-specific markers for unambiguously identification. This information is important in juridical process for de-
termining if seized samples are indeed from one of the species whose fishing is prohibited. The aim of this study
was to characterize molecular markers for two fish species: Prochilodusargenteus and Prochilodus costatus. Both
species present great ecological and economic relevance in São Francisco river basin. The genomic DNA of both
species were sequenced and a de novo assembly was carried out, as well as the annotation of mitochondrial DNA
sequences and its comparison to the mitogenomes of a closely related species: Prochilodus lineatus. Genus-spe-
cific and species-specific markers were selected considering its potential ability of genus and species identification
based just on the PCR products sizes through electrophoresis gel. One pair of genus-specific primers presented
highly sensitivity and specificity for Prochilodus genus. Regarding species-specific primers, one pair proved to be
specific for Prochilodus argenteus. The present study was also able to extract DNA from fishing artefacts used
for Prochilodus argenteus and Prochilodus costatus capture. Prochilodus DNA was detected in those artefacts
through PCR using mitochondrial markers. Genomic DNA sequencing also enabled the identification of dozens
of thousands microsatellites markers. Later, they are going to be evaluated for species identification and genetic
diversity studies. The methodology presented in this project can be potentially applied to other species and used for
molecular ecology studies, conservation genetics and in the forensic science, establishing crimes materiality and,
consequently, strengthening the juridical proof.
CHAGAS, A.T.A. Caracterização de marcadores moleculares com aplicabilidade para identificação de duas espécies de peixe
com interesse forense: Prochilodus argenteus e Prochilodus costatus. 2015. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Minas Gerais, Programa de Pós-graduação em Genética, Belo Horizonte.
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revista criminalística
e medicina legal
revista criminalística e medicina legal
v.1 | n.1 | 2016 | p. 50-51
Resumo
Cruzamento de traços, datação de tintas e lavagem química são alguns dos principais problemas que desafiam a Documentoscopia.
As técnicas convencionais de ampliação não produzem resultado conclusivo para amostras de linhas sobrepostas, posto que as cores
mais escuras causam a ilusão de óptica de que estão por cima das mais claras, sendo este o caso ou não. Há circunstâncias em que
a falsidade documental se dá por anacronismo, que se mostra, por exemplo, em documento emitido em data posterior àquela nele
declarada. Nesse cenário, é imprescindível a verificação de quando o documento foi concebido para alcançar a realidade dos fatos.
Ainda, na situação de documentos lavados por imersão total, nos chamados “banhos químicos”, não se observam borrões e, à vista
disso, cabe ao perito documentoscópico buscar outras evidências de que houve fraude. A Espectroscopia no Infravermelho é ideal
para análise forense de tintas em documentos porque combina a seletividade química com o fato de ser uma técnica não destrutiva
e que não requer nenhum preparo da amostra. A natureza multivariada e altamente correlacionada dos dados espectroscópicos
exige que sejam tratados por ferramentas quimiométricas, que permitem a extração do máximo de informação desses sistemas
multicomponentes. Nesse contexto, esse trabalho objetivou: i) determinar a sequência cronológica de traços em regiões de inter-
seção heterogênea (envolvendo impressão e tinta de caneta); ii) discriminar e datar tintas envolvidas em interseções homogêneas
(envolvendo canetas diferentes); e iii) detectar lavagem química em Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos (CRLV) por
Microespectroscopia no Infravermelho Médio por Transformada de Fourier no Modo Reflexão Total Atenuada (µATR-FTIR) e Análise
Discriminante por Mínimos Quadrados Parciais (PLS-DA). Interseções de linhas heterogêneas e homogêneas foram produzidas por
quatro marcas de canetas esferográficas azuis, impressora a laser e a jato de tinta, com intervalo de sete dias entre as inscrições
para garantir a secagem da tinta do primeiro traço. As amostras de cruzamento homogêneo foram submetidas a envelhecimento
acelerado por exposição a lâmpada incandescente de 60 Watts por seis horas contínuas. Com o propósito de reproduzir fraudes por
lavagem química dos dados do comprador ou do vendedor no documento, escreveram-se as letras “doc” com caneta esferográfica
azul próximo a letras impressas do verso deste. Utilizando-se uma mistura adequada de solventes, removeu-se cuidadosamente a
escrita. A partir das imagens espectrais das amostras de cruzamento heterogêneo e homogêneo e de lavagem foram escolhidos
pontos de maior intensidade da banda sob a qual a imagem química foi formada. Construíram-se modelos de PLS-DA com os pontos
selecionados. O método proposto mostrou-se adequado para os casos de cruzamento heterogêneo onde se utilizou impressão a
laser e também impressão a jato de tinta, na medida em que agrupou os pontos de cruzamento e impressão quando era esperado
e não o fez na disposição natural de traços, em que a tinta de caneta foi lançada sobre a linha impressa, o que configuraria um falso
positivo. Além disso, o método foi capaz de diferenciar os traços de cinco das seis amostras de interseção homogênea estudadas.
Na etapa de datação, o tempo de exposição a envelhecimento acelerado não foi suficiente para provocar degradação dos colorantes
das tintas detectável pela técnica empregada. No que tange à detecção da lavagem química, foi verificada remoção parcial da tinta
de impressão offset, original do reverso do documento, por µATR-FTIR e PLS-DA e remoção parcial da tinta fluorescente amarela
de fundo do anverso por incidência de radiação na região do ultravioleta. Conclui-se que a técnica µATR-FTIR aliada a métodos qui-
miométricos, como PLS-DA, e a incidência de radiação UV mostraram-se adequadas para elucidação de diferentes tipos de fraudes
em documentos, sendo ferramentas úteis à Documentoscopia.
Resumos | Revista de Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016 |
Overlapping lines, ink dating and chemical erasure are some of the major challenges that analysis of questioned doc-
uments faces. Conventional magnification techniques do not provide conclusive results for samples of overlapping
lines, since darker colors cause the optical illusion that they are on top of the clearest ones, whether or not this is the
case. There are circumstances in which the document falsity occurs by anachronism, seen for example, in a document
issued at a later date than the one stated in it. In this scenario, the verification of when the document was designed is
essential to achieve the reality of the facts. Also, in the situation of documents washed by total immersion, called “chem-
ical baths”, blurs are not observed and therefore, forensic document examiners should look for other evidence that a
fraud was committed. Infrared Spectroscopy is ideal for forensic analysis of inks on documents because it combines
the chemical selectivity with the fact it is a non-destructive technique that requires no sample preparation. Multivariate
and highly-correlated nature of spectroscopic data requires it to be processed by chemometric tools, which allow the
extraction of the maximum amount of information from these multicomponent systems. In this context, this study aims
to: i) determine the chronological sequence of strokes in heterogeneous intersection regions (involving printing and
ink pen); ii) discriminate and date inks involved in homogeneous intersections (involving different pens); and iii) detect
chemical erasure in CRLV (Certificate of Registration and Licensing of Vehicles) by Micro-Attenuated Total Reflection
Fourier Transform Infrared Spectroscopy (µATR-FTIR) and Partial Least Squares for Discriminant Analysis (PLS-DA).
Overlaps of heterogeneous and homogeneous lines were produced by four brands of blue ballpoint pens, laser printer
and inkjet, with an interval of seven days between registrations to ensure ink drying of the first stroke. Homogeneous
overlapping samples were subjected to accelerated aging by exposure to incandescent lamp (60W) for six hours
continuously. In order to reproduce fraud by chemical erasure of buyer or seller data in the document, the letters “doc”
were written with blue ballpoint pen near printed letters on the back of the document. Using a suitable mixture of sol-
vents, the writing was carefully removed. From the spectral images of homogeneous and heterogeneous overlapping
samples and erasure samples, points were chosen that had greatest intensity of the band under which the chemical
image was formed. PLS-DA models with the selected points were constructed. The proposed method showed to be
adequate in cases of heterogeneous line overlapping in which laser and inkjet printing were used, since the method
have grouped overlapping and printing points when expected and did not in the natural disposition of strokes, in which
ink pen was dropped on the printed line, which would set a false positive. Furthermore, the method was able to differ-
entiate the strokes of five among the six analyzed samples of homogeneous overlapping lines. In the dating stage, the
accelerated aging exposure time was not sufficient to cause the degradation of ink colorants that could be detected
by the technique. Regarding the detection of chemical erasure, partial removal of the offset printing ink, original to the
back of the document, was verified by µATR-FTIR and PLS-DA as well as partial removal of the background yellow
fluorescent ink from the front of the document by incidence of ultraviolet region radiation. In general the µATR-FTIR
technique combined with chemometric methods, such as PLS-DA, and the UV incidence proved to be suitable for
elucidation of different types of document fraud, being useful tools for document analysis.
FERREIRA, L.P. Microespectroscopia no Infravermelho Médio por Transformada de Fourier no modo Reflexão Total Atenuada
e técnicas quimiométricas aplicadas à detecção de fraudes em documentos. 2015. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal de Minas Gerais, Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas, Belo Horizonte.
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revista criminalística
e medicina legal
revista criminalística e medicina legal
v.1 | n.1 | 2016 | p. 52-53
Este trabalho trata da questão do suicídio como uma possibilidade de escolha que pode se apresentar a qualquer sujeito em deter-
minado momento de sua vida. Tomando como base a psicologia fenomenológico-existencial, mais precisamente os estudos de Viktor
Frankl sobre o sentido da vida, busca-se compreender, através da análise das cartas de suicidas, os motivos que levam um sujeito
ao autoextermínio. O tema foi derivado da pesquisa “Sentidos existenciais manifestos em cartas de suicidas”, que analisa os bilhetes
deixados por suicidas, arquivados nos laudos periciais do Instituto de Criminalística de Belo Horizonte. A metodologia utilizada foi,
além da pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, em que se utilizou das cartas de suicidas para coleta dos dados. Trata-se, de
uma pesquisa qualitativa, que busca compreender a significação atribuída por cada indivíduo a determinado fenômeno. Para a análise
das cartas, utilizou-se o método fenomenológico-hermenêutico, de se apropriar do texto para conhecer o sentido total da experiência.
Buscou-se, neste trabalho, analisar as cartas selecionadas a fim de identificar elementos que auxiliem na compreensão do sentido da
vida para as pessoas que buscam o autoextermínio. Foi possível constatar que culpa, dor e morte são elementos fundamentais para
se compreender o sentido da existência para os autores das cartas analisadas. E que a falta de sentido na vida, embora não seja fator
determinante para o suicídio, contribui significativamente para esta tomada de decisão.
Resumos | Revista de Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016 |
Abstract
This paper deals with the question of suicide as a possibility of choice that could be presented to anyone at
a determined moment in life. Taking existential-phenomenological psychology as basis, more precisely the
studies of Viktor Frankl about the meaning of life, we try to comprehend through analysis of letters written by
suicidal, the reasons that motivate a being to self-destruction. This theme was derived from the research “Ex-
istential Senses Manifested in Suicidal Letters”, that analyzes the notes left by suicidal, archived at forensic
reports of the Criminalistics Institute of Belo Horizonte. Besides the bibliographic research, the methodology
utilized included the documental research and the data collection from suicidal letters. It is about a qualitative
research that pursues to understand the meaning attributed by each individual to a determined phenomenon.
For the analysis of the letters, the hermeneutic-phenomenological method was utilized to appropriate the text
in order to grasp the total meaning of the experience. In this work, it was sought to analyze selected letters
with the purpose of identifying elements that give support in the comprehension of the meaning of life by
people who attempt self-destruction. It was possible to establish that guilt, sorrow, and death are fundamental
elements in order to apprehend the meaning of existence by the authors of the analyzed letters. And that the
lack of meaning in life, even though not being the determinant factor for suicide, significantly contributes for
making the decision.
CARVALHO, F.F. Suicídio e sentido da vida: uma análise de cartas de suicidas a partir da teoria do sentido da vida de Viktor Frankl.
2015. 53f. Monografia (Graduação em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Curso de Psicologia, Betim.
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NORMAS PARA
PUBLICAÇÃO
Normas para publicação | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
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Normas para publicação | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
Roman” tamanho 12. Deve ser colocada numeração A figura 1 apresenta... ou ...os resultados foram se-
de linhas em todo o texto. Cada item do texto deverá melhantes (tabela 1). Uma vez aprovado o manus-
ser digitado em negrito, e os demais níveis em itálico crito para publicação, serão solicitados arquivos em
negrito, e itálico sem negrito. Exemplo: Item; Sub-i- .jpg separadamente para cada ilustração utilizada.
tem; Sub-sub-item. As páginas devem ser numera- Todas as ilustrações e tabelas devem possuir legen-
das no canto superior direito. das localizadas junto às mesmas, conforme exem-
Título: Deve conter no máximo 25 palavras e plos a seguir:
ser digitado em caixa alta e centralizado, nas versões
das línguas portuguesa e inglesa. Deve ser conciso e
exprimir com clareza o conteúdo do trabalho.
Autoria: Deve ser apresentada logo após o título,
com nome(s) completo(s) do(s) autor(es) alinhado(s)
à esquerda, numerado(s) de forma sobrescrita, apre-
sentando abaixo a sequência numérica indicando o
local de trabalho ou estudo. Um dos autores deverá
ser identificado com asterisco (*) como aquele para Figura 1: Padrão gráfico do rabisco da criança ameaçada.
interlocução, apresentando seu endereço eletrônico.
Resumo e Abstract: Devem ser apresentados Tabela 1: Incidência de homicídios de acordo
logo após a autoria, com informações que permitam a com a faixa etária da vítima na zona rural de Silvópolis-MG,
adequada caracterização do artigo como um todo. No entre os anos de 1910 e 1911.
caso de artigos originais devem informar o objetivo, a
Faixa etária da vítima Incidência de
metodologia aplicada, os resultados principais e as con- (anos) homicídios (%)
clusões. Devem conter até 2000 dígitos, incluindo espa-
ços. O abstract deve ser uma tradução fiel do resumo. 0-20 63 / 252 (25,0) ab
Palavras–chave e Keywords: No máximo 5 21-40 59 / 252 (23,4) ab
palavras-chave e keywords apresentadas em segui-
41-60 52 / 252 (20,6) b
da ao Resumo e ao Abstract, respectivamente, sepa-
radas entre si por ponto e vírgula. 61-80 78 / 252 (31,0) a
Texto principal: As unidades de medida utiliza- a; b significa diferença significativa entre linhas
das devem ser as consagradas pelo Sistema Métrico (P<0,05).
Internacional (kg, cm, mol,...). Abreviaturas, quando
utilizadas pela primeira vez, devem vir inicialmente Referências
por extenso, seguidas de sua forma abreviada entre
parêntesis. Por exemplo: O Instituto de Criminalística A lista de referências será apresentada de acordo
(IC) realiza... As referências deverão ser apresenta- com a ordem em que aparecem no texto. Obras anôni-
das no texto por meio de números arábicos sobres- mas terão sua entrada a partir do título do artigo ou pela
critos imediatamente após a citação feita, segundo a entidade responsável por sua publicação. Cada referên-
ordem em que apareçam no texto. Por exemplo: ...foi cia deverá ser antecedida de sua respectiva numeração,
considerada relevante em alguns casos 1, 2, mas não conforme indicada no texto, alinhada à esquerda e sem
em outros 3, 4. recuos. À excessão de artigos em periódicos científicos,
Ilustrações e Tabelas: Serão aceitas ilustra- toda referência obtida pela internet deverá ser acompa-
ções (fotografias, quadros, gráficos) e tabelas que nhada do endereço eletrônico e data de acesso. Exem-
sejam essenciais ao bom entendimento do trabalho, plos de formatação de referências estão a seguir:
não sendo aceitas aquelas meramente decorativas.
Ilustrações e tabelas que não sejam inéditas devem Artigos publicados em periódicos científicos
estar acompanhadas da fonte original, descrita no 1- RODRIGUES, N.M.; GUEDES, M.; AUGUSTI, R.;
seu rodapé. Em artigos de revisão, ilustrações pró- MARINHO, P.A. Contaminação de cocaína em cédulas de di-
prias dos autores, não publicadas anteriormente, nheiro em Belo Horizonte-MG. Revista Virtual de Quími-
devem vir acompanhadas da expressão “arquivo ca, v.5, p.125-136, 2013.
pessoal”. Qualquer ilustração ou tabela deve ser re- Artigos e resumos publicados em anais de encontros téc-
ferenciada antecipadamente no texto. Por exemplo: nico-científicos
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Normas para publicação | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016
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