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REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS DA CRIMINALIDADE VIOLENTA

EM MINAS GERAIS: POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS

Wagner Barbosa Batella1


Alexandre Magno Alves Diniz2

1 - INTRODUÇÃO:

Nas últimas décadas houve um maior interesse por parte dos geógrafos nos
estudos acerca da criminalidade violenta e de sua distribuição espacial. Como fruto
dessas abordagens, surge nos EUA uma nova subdisciplina denominada “geografia do
crime”. Essa nova subdisciplina no escopo da geografia tem buscado, “à luz de
teorizações diversas, por meio de análises associativas e em conexão com outros
campos científicos” (FELIX, 1996, p. 147), explicar as múltiplas desigualdades
espaciais e todo o processo que as origina. Embora a geografia do crime não se resuma
somente ao mapeamento de áreas-problema, deve-se aceder que o mapa se apresenta
como um poderoso veículo de comunicação, capaz de subsidiar as pesquisas de cunho
espaciais. Porém, diante da riqueza de possibilidades metodológicas, muitas vezes
torna-se difícil a decisão sobre qual tipo de representação cartográfica adotar. O
presente trabalho, com base em informações da PMMG sobre a incidência de crimes
violentos contra o patrimônio em Minas Gerais no ano de 2003, tem por ambição
apresentar e discutir três métodos de mapeamento, comumente utilizados nos estudos
que visam a representação de informações quantitativas: o método coroplético, o
método isoplético e, a partir deste último, a representação em 3D. Tal discussão busca
contribuir com os estudos espaciais aplicados à temática da criminalidade,
principalmente no que se refere à sua representação cartográfica.

1
Bolsista do CNPq – Brasil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da
Informação Espacial – PUC Minas. wbatella@gmail.com
2
PhD em Geografia, Professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da
Informação Espacial – PUC Minas. dinizalexandre@terra.com.br
2 - METODOLOGIA

Para materializar o objetivo do presente estudo trabalhou-se com as informações


sobre a incidência de crimes contra o patrimônio nos municípios mineiros obtidos junto
à PMMG (Polícia Militar de Minas Gerais) para o ano de 2003. Na seqüência,
produziram-se taxas por 100.000 hab. para cada município.
A partir dessas informações, os dados foram submetidos a uma abordagem
quantitativa para fenômenos com incidência zonal. Nos trabalhos com dados de
ocorrências zonais, como nos lembra Martinelli (1991), o pesquisador deve optar por
um método de representação que contemple a variação da intensidade desse fenômeno e
sua distribuição pelas unidades observadas, neste caso os municípios de Minas Gerais.
Para isso, utilizou-se os métodos coroplético, isoplético e o mapeamento em 3D.
Na seqüência os três métodos de representação cartográfica acima mencionados
serão apresentados e discutidos.

3 - DISCUSSÃO

Antes da discussão sobre os métodos explorados neste trabalho, urge mencionar


que o primeiro passo para a decisão acerca da metodologia que será empregada nas
representações cartográficas, de qualquer informação, deve ser pautada a partir das
características dos dados, podendo resultar em abordagens qualitativas, ordenadas ou
quantitativas. No nosso caso, como já foi mencionado, as taxas de criminalidade se
enquadram na categoria quantitativa de manifestação zonal.
Realizadas essas definições, foram elaborados mapas seguindo os métodos
coroplético (mapa 01), isoplético (mapas 02 e 03) e, a partir desse último, o mapa em
3D (mapa 04). Cada mapa apresenta vantagens e desvantagens que serão apresentadas a
seguir.
O mapa coroplético (mapa 01), amplamente utilizado em virtude de sua fácil
assimilação para o usuário, permite a localização imediata das unidades observacionais
com maiores e menores concentrações de incidência do fenômeno através do
estabelecimento de uma ordem visual crescente, atribuindo valores à gradação das cores
e facilitando comparações entre as unidades observadas no mapa ou, ainda, entre outros
mapas que abordem espécies pertencentes a um mesmo conjunto. No entanto, o grande
entrave a essa opção metodológica se refere à definição de um agrupamento em classes
que possibilite o bom entendimento do comportamento espacial do fenômeno. Outro
aspecto característico do mapa coroplético se refere à generalização do fenômeno no
interior das unidades estudadas.

Mapa 01 – Mapa coroplético

No que se refere ao método isoplético (mapas 02 e 03), trata-se da tentativa de se


representar a continuidade espacial do fenômeno. A partir de valores pontuais (z),
identificados através de coordenadas (x,y), obtêm-se linhas que unem os pontos de
mesmo valor (mapa 02) gerando uma superfície estatística determinada segundo
métodos de interpolação. O preenchimento dos espaços intercalares entre as linhas,
seguindo uma ordem de valores visuais (mapa 03), resulta na imediata visão de
conjunto da superfície citada, facilitando a visualização de padrões. A maior dificuldade
desse método está na determinação da melhor técnica de interpolação linear a se
empregar.
Mapa 02 – Mapa Isoplético

Mapa 03 – Mapa Isoplético


Os métodos coroplético e isoplético permitem a realização de modelagens que
resultam em mapas em 3D. A modelagem do primeiro resulta no mapa de prisma e a
modelagem do segundo resulta no mapa de pico (mapa 04). Essa representação provoca
a percepção imediata no usuário e rompe com a visualização bidimensional. Tais mapas
se apresentam como uma abordagem sofisticada, embora sua elaboração se constitua
numa tarefa complexa.

Mapa 04 – Mapa 3D (Topografia dos crimes contra o patrimônio)

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho demonstrou que existem diversas possibilidades metodológicas


para representações cartográficas de informações quantitativas. Utilizou-se, para isso, os
dados acerca da criminalidade em Minas Gerais para o ano de 2003. Não se valorizou
uma metodologia em detrimento das outras, no entanto, viu-se que a decisão em relação
ao método a se empregar deve ser pautada nas perdas e ganhos que cada mapeamento
apresenta. Atualmente, o avanço das tecnologias de geoinformação vem amenizando os
empecilhos relacionados com os procedimentos matemáticos de classificação e
interpolação. Porém, o conhecimento prévio sobre o comportamento do fenômeno em
estudo é de fundamental importância para tais definições.
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUARTE, Paulo Araújo. Fundamentos de cartografia. 2º ed., Florianópolis: Ed. da


UFSC, 2002. 208p.

FELIX, S. A. Geografia do Crime. Revista de Geografia, São Paulo, v. 13, p. 145-166,


1996.

MARTINELLI, Marcello. Curso de cartografia temática. São Paulo: Contexto, 1991.


180p.

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