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ANO VI VOL.

34 BIMESTRAL - JULHO DE 2012 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

• SALVEM A LUA • REGIME DE • VAMOS CONVERSAR?


COTAS

ORQUIDÁRIO MUNICIPAL

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EDITORIAL Sumário
Edição 34 - Ano 6 - Julho de 2012

Olá, leitores: 4 TROVAS

5 REGIMES DE COTAS
Mais uma edição de Carolina Ramos
Santos Arte e Cultura , que nes-
6 (CON)SEQUÊNCIA
te mês traz o resultado do Con- Cláudio de Cápua
curso de Contos Jovem Talento 7 SALVEM A LUA
- Prêmio Stella Carr. O concur- José Candido Júnior
so surpreeendeu pela qualidade 8 SIMPLICIDADE
dos textos enviados e pela de- Raquel Naveira
monstração de cultura de nos- 9 A COMISSÃO DA VERDADE E A VERDADE
sos jovens. Fica a esperança de HISTÓRICA
que teremos assegurados novos Ives Gandra da Silva Martins
talentos literários para dar 10 CONCURSO DE CONTOS - 1º LUGAR: A

continuidade ao trabalho já re- CREMAÇÃO DE UM MORTO MUITO VIVO


Raphaella Boechat
conhecido e admirado de nossos
articulistas, historiadores, pro- 11 CONCURSO DE CONTOS - MENÇÃO HON-

fessores, filósofos, jornalistas, ROSA : MEMÓRIA


Juliana Cristine de Freitas Leite
psicólogos, juristas, dentre tan-
tos outros que enaltecem esta
12 VAMOS CONVERSAR?
Clotilde Paul
publicação.
13 A MULHER NO SEU COTIDIANO
Convidamos todos a
Lilia Dinelli
viajar por nossas páginas onde
14 VISITAS SILVESTRES
encontrarão assuntos polêmi-
Maria Zilda da Cruz
cos, bucólicos, divertidos e ins-
15 MONS. DR. IDÍLIO JOSÉ SOARES (1887-1969),
trutivos.
VETERANO DA REVOLUÇÃO DE 1932
Na capa, nosso querido
Ney Paes Loureiro Malvasio
Orquidário, que, desde junho,
16 A PRAIA DE SANTOS EM 1855 NA VISÃO DE
reabriu suas portas à visitação.
PAULO EIRÓ
Boa leitura. Henrique Novak

17 NOTAS CULTURAIS
O Editor
18 ESPAÇO DO LIVRO

Expediente
Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80
Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.
Editoração Gráfica - Liane Uechi
Revisão: Antonio Colavite Filho
Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig
Fotos: Gervásio Rodrigues
Capa: Orquidário Municipal, de J. A. Sarquis.
End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br
Participaram desta edição: Carolina Ramos; Cláudio de Cápua; Clotilde Paul; Henrique Novak;
Ives Gandra da Silva Martins; José Candido Júnior; Juliana Cristine de Freitas Leite; Lilia Dinelli;
Maria Zilda da Cruz; Ney Paes Loureiro Malvásio; Raphaela Boechat e Raquel Naveira.
Os autores têm responsabilidade integral pelo conteúdo dos artigos aqui publicados.
Distribuição Gratuita. 5.000 exemplares.

PARA ANUNCIAR ENTRE EM CONTATO:


revistaartecultura@yahoo.com.br

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TROVAS
TROVAS

Foge às sendas perigosas, Em noites claras, o mar,


pensa nos rumos que traças... para ficar mais bonito,
De um caminho só de rosas, toma um banho de luar
que um labirinto não faças! no chuveiro do infinito...
Carolina Ramos Antonio Colavite Filho

O silêncio não tem voz, Jamais estive entre os sábios,


mas, apesar de ser mudo, nem de ser sábio preciso,
vê tal encanto entre nós que a ciência dos teus lábios
que um olhar revela tudo! aprendi com teu sorriso!
Cyrléa Neves Antônio Claret Marques

A passagem mais sofrida, O meu desejo transborda,


que nós fazemos a sós, feito um rio ardendo em chama,
é ver o alcance da vida quando a saudade me acorda
sair do alcance de nós...! sem você na minha cama!
Mara Melinni Garcia Héron Patrício

Tantas juras...de mãos dadas! No céu, estrelas e brumas,


Mas a vida, em seus desvãos, alvo luar envolvente.
no namoro armou ciladas No mar...reprises de espumas
e separou nossas mãos! a embalar sonhos da gente...
Therezinha Diegues Brisolla Cláudio de Cápua

Gosta de Trovas? A “União Brasileira de Trovadores”, seção de Santos, reúne-se na última terça-feira de cada mês, no IHGS, av. Conselheiro
Nébias, 689, às 16h. Compareça!

Julho 2012- Santos Arte e Cultura 4

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REGIME DE COTAS
CAROLINA RAMOS

Sei que o assunto é tabu. E sei também que muita jovens. Que o regime de cotas seja analisado com maior cari-
gente, que pensa como eu, não se manifesta com receio de nho e substituído pelo empenho de dar oportunidade a todos,
ser chamada de racista, coisa que nunca fui, não sou e não indiscriminadamente, sem pender para medidas de pretenso
serei jamais. Por que o seria?! E como o assunto volta à baila, protecionismo, que acabam por resvalar, perigosamente,
agora aprovado por expressivos representantes das raças em para o estímulo ao racismo - degradante para qualquer nação
questão, atrevo-me a manifestar minha sincera opinião. Cor, e que pretendemos ver bem longe das nossas fronteiras.
raça e crença são fatores que não impedem que sejamos to- As Universidades, em colaboração importante, po-
dos chamados de irmãos. Tenho amigos de todas as raças e deriam unir esforços no sentido de oferecer oportunidades
minhas atitudes, minha poesia e particularmente as trovas, de aos que por elas anseiam, sem meios de alcançá-las, quer no
maior abrangência, provam o que digo. ensino fundamental, como no médio. Com infraestrutura de
Abomino o preconceito, mas, já fui alvo dele, em Be- base, as chances de chegar ao ensino superior seriam as
thesda, EUA, em 75, quando, ao ver um garoto, de uns doze mesmas, sem favorecimentos discutíveis, calcados na cor da
anos, sem uma perna, jogar basquete entusiasticamente, em pele e não na capacidade do aluno. E o que dizer, então, do
cadeira de rodas. Não consegui conter as lágrimas! E ante a incentivo à busca de gotas de sangue ancestral, ora privile-
emoção, que eu procurava ocultar, ouvi uma enfermeira, afro- giado, com vistas a passar por cima de outro portador dos
descendente, dizer: - “Raça fraca! O menino está feliz, por mesmos direitos, mas que não tem em suas veias gotas des-
que chorar?!” - e o desdém expresso no olhar acusador era se mesmo sangue? O aluno, ao assumir essa atitude, recebe-
mais contundente do que as palavras. Não a culpei. Talvez ela rá, amanhã, o seu diploma com o mesmo respeito que o rece-
ainda não soubesse, como eu soubera, que aquele “menino beria, caso fruto de leal competitividade?
feliz”, ante o avanço do mal, estava prestes a perder a perna O regime de cotas, repito, é estimulador do racismo.
que lhe restava. Continuo não racista e poderia prová-lo com Como se sentirá o estudante classificado em igualdade de
expressivos exemplos. Assim, sinto-me com direito de, es- situação, ou, o que é pior, com nota superior, e, apesar disso,
pontaneamente e sem filtros, emitir minha opinião sobre a vendo-se preterido apenas porque a pigmentação de sua pele
questão das “cotas” nas universidades. é mais clara que a do escolhido?
Com todo o respeito e plena convicção, considero Seres humanos são apenas seres humanos, não im-
esta medida absurdamente racista! O Brasil tem alunos ca- porta a cor que tenham. E as oportunidades devem ser, tam-
rentes seja lá qual for a origem. Jovens que precisam de infra- bém, as mesmas para todos. Nada de privilégios, favoreci-
estrutura escolar, desde os primeiros passos. Jovens que têm mentos injustos, que depreciam o favorecido, seja ele quem
sonhos, querem crescer e ter oportunidades para ser alguém. for. Importa é subir por mérito, conquistar etapas, ombro a
Todos eles, seja lá qual a cor da pele, têm direito ao ombro, passo a passo, sem o constrangimento inicial de sa-
acesso a escolas e faculdades que lhes facultem realizar suas ber que seu êxito foi referendado por uma lei controvertida,
mais sadias ambições. Contudo, este é um problema situado até mesmo perversa, que a ninguém dignifica. Nossos estu-
além das suas possibilidades, acima deles, que não pode ser dantes carentes, tenham a origem que tiverem, não precisam
resolvido por eles, mas que todos eles querem ver soluciona- de falsa ajuda, que os deprecie, e, sim, de justiça e ensino de
do, antes que o tempo os arraste para longe do objeto dos base, que os coloquem em pé de igualdade, aptos para com-
seus sonhos. E a quem caberá a resolução deste importante petir, num mesmo patamar, com gente da mesma altura.
dilema? Dilema que não envolve apenas uma só raça caren- Merece destaque o esforço da UNESP de Dracena,
te, mas a população brasileira como um todo. Um todo caren- com seu Cursinho Pre-Vestibular, que já vem aprovando estu-
te que repudia a discriminação de cor, ou outra qualquer. Um dantes nos vestibulares de Universidades públicas. Este Cur-
todo a exigir as mesmas atenções, sem escolhas discrimina- sinho prepara alunos, vindos da rede pública, de comprovada
tórias! A resposta, portanto, é uma só. Cabe ao governo e aos carência econômica. Ao que parece, o fio do novelo começa,
educadores, de mãos dadas, levar a bom termo a solução enfim, a ser puxado! Que assim seja.
deste dilema. Solução que óbvia e absolutamente não pode
incluir o sistema de cotas, que funciona como agravante.
Quanto o Brasil deve ao braço afro, como ao braço
de outro qualquer imigrante europeu ou oriental! Foi o traba-
lho, a força e o suor desses braços que elaboraram os alicer-
ces da pátria brasileira. A raça negra, particularmente, é raça Carolina Ramos é poetisa e escritora, vice-presidente do
sofrida, valorosa, que merece profundo respeito e principal- Conselho Nacional da União Brasileira dos Trovadores -
mente justiça. E, não, favores discutíveis, pouco edificantes! UBT e presidente da UBT/Santos; Secretária Geral do
Instituto Histórico e Geográfico de Santos. Pertence à
Melhor seria que nossos governantes e todos aque- Academia Santista de Letras - ASL, à Academia Feminina
les ligados a este assunto bastante grave pensassem menos de Ciências, Letras e Artes de Santos - AFCLAS e à
apaixonada e mais objetivamente sobre esta questão educa- Academia Cristã de Letras de São Paulo - ACL
tiva de tão grande responsabilidade para o futuro dos nossos

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(CON)SEQUÊNCIA
Cláudio de Cápua

A História apresenta-se
através dos tempos, por voltas e re-
viravoltas, de século para século, de
geração para geração, em todas as
áreas, transformações.
São exemplos a revolução
científica, a transformação política, a
mudança artística e a nova forma es-
tética no contexto histórico da huma-
nidade.
Na era moderna, a Filosofia
demarca os limites do pensamento
humano, determina os parâmetros
para o uso do saber; através da Filo-
sofia, decide-se o conhecimento, di-
ferenciam-se o falso do verdadeiro e
as crenças, onde existe só o ato de
fé.
Através da Filosofia e da
Arte, um mundo novo pode ser mol-
dado.
Antes de encantar os ou-
tros, é necessário encantar a si mes-
mo, desvelando um novo mundo de
conhecimento. Qual é o desafio? É
um desejo enorme de saber, uma
vontade de aprender e divulgar tudo
isso, em benefício da evolução do
ser e do próprio planeta. É um fator
de dignidade, de cidadania e de na-
cionalidade.

Cláudio de Cápua é aviador, jornalista e escritor. Pertence ao


Instituto Histórico e Geográfico de Santos, à Academia
Paulistana de História. É sócio-fundador da União Brasileira de
Trovadores - Seção de São Paulo. www.de-capua.com

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SALVEM A LUA
JOSÉ CÂNDIDO JÚNIOR

Houve um tempo de luar, um luar que punha a noite incha-


da, clara, radiante, e os poetas cantavam louvores à Lua; a musa
de todas as musas que reina e rege a escuridão.
Hoje, a Lua está minguante, esquecida no céu, entre
prédios e luzes eletrizantes. Não temos tempo de olhar a
Lua, só de passagem, só de relance.
A Lua dos poetas e seresteiros tornou-se a Lua
de Neil Armstrong, pisada, apalpada, analisada em labo-
ratório. Assim como a Lua foi invadida e estudada pelos
astronautas, a nossa alma foi invadida e estudada pelos
psicológos.
A Lua era bela, como era bela! No tempo de
meus bisavós, a Lua era belíssima; terra encantada,
povoada por dragões, virgens e lobisomens. Hoje, a
Lua está nua, decifrada, desvelada, destranscenden-
talizada; é um corpo celeste, um satélite natural, um
ponto de escala para outras viagens...

José Cândido F. Júnior é cronista e poeta.

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SIMPLICIDADE
RAQUEL NAVEIRA

Horácio, filósofo latino, em sua Arte Poética, acon- heróis, do tom das fábulas que misturam Uiaras, índios e
selhava aos poetas: “faze tudo o que quiseres, contanto que bandeirantes.
o faças com simplicidade” (Tringali, 1994). Menotti Del Picchia em “Juca Mulato” exalta a natu-
Rainer Maria Rilke, poeta alemão, no seu célebre reza, a ânsia de viver, a coragem de sofrer, a busca da feli-
livro Cartas a um jovem poeta, recomendava aos poetas: cidade, a vitória sobre si mesmo.
“Aproxime-se da natureza”, “fuja dos motivos gerais para Seria imensa a lista dos poetas que me são caros
aqueles que sua própria existência cotidiana lhe oferece”, na sua elevada simplicidade.
“volte-se para sua infância”, “busque o âmago das coisas”, Talvez neste ponto os mais críticos me perguntas-
“ame o insignificante”. (Rilke, 1990). sem: a que simplicidade você está se referindo, à da forma
O caminho para viver e escrever bem é este: o da ou à do conteúdo?
simplicidade. A rigor, forma e conteúdo são inseparáveis, mas
Observo as pessoas sedentas de paz, de liberdade para mim o conteúdo é o elemento prioritário, é o conteúdo
interior, de sobrenatural. No entanto, equivocadas, buscam que determina a renovação e não a forma. Concordo com
essas experiências no tarô, nos cristais, nas runas, no zodí- Ferreira Gullar quando afirmou no livro Vanguarda e Subde-
aco, nas especulações sobre seres espaciais. Perdemos a senvolvimento:
simplicidade, aquela que nos faz crianças, seres atentos, “...a orientação da linguagem poética no sentido da ruptura
capazes de olhar com espanto e surpresa um abacaxi, uma radical com a linguagem comum distancia o poeta do público
taturana, um sabiá, um riacho claro. A magia está tão perto e sobrepõe os problemas poéticos aos problemas humanos
de nós, dentro de nós, em tudo que há na terra e no céu. À e sociais, de importância fundamental num país como o nos-
nossa volta, a vida é um milagre no qual estamos mergulha- so. Isso não quer dizer que o poeta deva abdicar de pesqui-
dos, como peixes no mar. Lembrei-me do poema “Prepara- sar a linguagem e de buscar novas formas de expressão,
ção para a morte”, de Manuel Bandeira: mas que essa busca deve ser feita visando às necessidades
A vida é um milagre./Cada flor,/ Com sua forma, sua reais da poesia dentro do contexto histórico-social em que
cor, seu aroma,/ Cada flor é um milagre./ Cada pássaro,/ vivemos” (Gullar, 1984).
Com sua plumagem, seu voo, seu canto,/Cada pássaro é Meu desejo é o de criar uma poesia simples, espon-
um milagre./ O espaço, infinito,/ O espaço é um milagre,/ O tânea, culta, profunda, cheia de imagens e sinestesias, que
tempo, infinito,/ O tempo é um milagre./ A memória é um se identifique com a alma e a natureza. Uma poesia que se
milagre./
A consciência é um milagre./ Tudo é milagre./ Tudo, entenda, que se ame, que deleite, que faça sentir beleza,
menos a morte./ Bendita a morte, que é o fim de todos os que ensine, que cure.
milagres (Bandeira, 1979:141). Quero ter a simplicidade de reunir à minha volta os
Sim, esta é a verdadeira experiência transcenden- meus leitores e dizer:
tal: a renúncia, a aceitação, louvar e participar do grande -Venham, ouçam este poema que escrevi agora e
milagre da vida. que está quentinho.
Como Deus é simples. Escolheu o pão para ser seu
corpo por toda eternidade. Se podemos nos alimentar de
algo tão puro como o corpo de Deus, o que nos falta? Por
que O buscamos em vão, onde ele não está?
Debruço-me sobre a poesia de alguns de meus po-
etas preferidos e ali encontro a mesma trilha, o mesmo cami-
nho: a simplicidade.
Drummond escreve sobre esse “José” angustiado,
esse “José” do povo que busca uma solução para os seus
problemas, marchando, fugindo, resistindo; sobre sua cida-
dezinha de Itabira, cheia de ferro nas calçadas e nas almas;
sobre o menino que, sem saber, tinha uma história mais bo-
nita que a de Robson Crusoé.
Adélia Prado volta-se para sua casa pintada de ala-
ranjado brilhante; para os objetos de seu dia-a-dia como “um
bule azul com um descascado no bico” e “uma garrafa de
pimenta pelo meio”.
Cora Coralina encarna as caboclas velhas, as lava-
deiras do Rio Vermelho, as cozinheiras, as roceiras, as mu-
lheres da vida.
Gabriela Mistral descreve a mesa posta: o sal, o Raquel Naveira é graduada em Direito e Letras, Mestre
azeite, o pão, a espiga; embala crianças no seu seio de mãe em Comunicação e Letras pelo Mackenzie e Douto-
adotiva; cria uma poesia dura e acolhedora como a pedra e randa em Literatura Portuguesa, na USP. Professora
a fruta. da Pós-Graduação da UNINOVE, poeta, escritora com
Cassiano Ricardo em seu épico poema paulista diversos títulos publicados. Pertence à Academia Sul-
“Martim Cererê” aproxima-se dos meninos, dos poetas, dos -Mato-Grossense de Letras e ao Pen Clube do Brasil.

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A COMISSÃO DA VERDADE E A VERDADE HISTÓRICA
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

Depois de muita expectativa ―e com grande exposi- O terceiro reparo é que alguns de seus membros pre-
ção na mídia― foi constituída Comissão para “resgatar a ver- tendem que a verdade seja seletiva. Tortura praticada por guer-
dade histórica” de um período de 42 anos da vida política na- rilheiro não será apurada, só a que tenha sido levada a efeito
cional, objetivando, fundamentalmente, detectar os casos de por militares e agentes públicos. O que vale dizer: lança-se a
tortura na luta pelo poder. imparcialidade para o espaço, dando a impressão que guerri-
A história é contada por historiadores, que têm postu- lheiro, quando tortura, pratica um ato sagrado; já os militares,
ra imparcial ao examinarem os fatos que a conformaram, visto um ato demoníaco. Bem disse o vice-presidente da República,
serem cientistas dedicados à análise do passado. Os que am- professor Michel Temer, em São Paulo, no dia 17/05/2012, que
bicionam o poder fazem a história, mas, por dela participarem, os trabalhos da Comissão devem ser abrangentes e devem
não têm a imparcialidade necessária para a reproduzir. procurar descobrir os torturadores dos dois lados.
A Comissão da Verdade não conta, em sua composi- O quarto reparo é que muitos guerrilheiros foram trei-
ção, com nenhum historiador capaz de apurar, com rigor cien- nados em Cuba, pela mais sangrenta ditadura das Américas no
tífico, a verdade histórica da tortura no Brasil, de 1946 a 1988. Século XX. Assassinou-se, sem direito a defesa, nos paredões
O primeiro reparo, portanto, que faço à sua constitui- de Fidel Castro, mais pessoas que na ditadura de Pinochet,
ção é que “não historiadores” foram encarregados de contar a onde também houve muitas mortes sem julgamento adequado.
história daquele período. Conheço seis dos sete membros da Um bom número de guerrilheiros não queria, pois, a democra-
Comissão e tenho por eles grande respeito, além de amizade cia, mas uma ditadura à moda cubana. Radicalizaram o pro-
com alguns. Não possuem, no entanto, a qualificação científi- cesso de redemocratização a tal ponto, que a imprensa passou
ca para o trabalho que lhes foi atribuído. a ser permanentemente censurada. Estou convencido que este
O segundo reparo é que estiveram envolvidos com radicalismo e os ideais da ditadura cubana que os inspirou ape-
os acontecimentos daquele período. Em debate com o ex-de- nas atrasaram o processo de redemocratização e dificultaram
putado Ayrton Soares, em programa de Mônica Waldvogel, uma solução acordada e não sangrenta.
perguntou-me o amigo e colega - que defendia a constituição O quinto aspecto, que me parece importante desta-
de Comissão para essa finalidade, enquanto eu não via ne- car, é que, a meu ver, a redemocratização deveu-se ao trabalho
cessidade de sua criação – se participaria dela, se eu fosse da OAB, que se tornou a voz e os pulmões da sociedade. Lide-
convidado. Disse-lhe que não, pois, apesar de ser membro da rada por um brasileiro da grandeza de Raimundo Faoro, conse-
Academia Paulista de História, estive envolvido nos aconteci- guiu, inclusive, em pleno período de exceção, com apoio dos
mentos. Inicialmente, dando apoio ao movimento para evitar a próprios guerrilheiros, aprovar a lei da Anistia (1979), permitin-
ameaça de ditadura e garantir as eleições de 1965, como, de do, pois, que todos voltassem à atividade política. A OAB, subs-
resto, fizeram todos os jornais da época. No dia 2 de setembro tituindo as armas de fogo pela arma da palavra, deu início à
de 1964, o jornal “O Globo”, em seu editorial, escrevia: “Vive a verdadeira redemocratização do país.
nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os pa- Por fim, num país que deveria olhar para o futuro, em vez de
triotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias remoer o passado - tese que levou guerrilheiros, advogados e
ou opinião sobre problemas isolados para salvar o que é es- o próprio governo militar a acordarem a Lei de Anistia, colocan-
sencial à democracia, a lei, a ordem”. do uma pedra sobre aqueles tempos conturbados – a Comis-
A partir do Ato Institucional n. 2/65, que suprimiu as são é inoportuna.
eleições daquele ano, opus-me a ele, ao ponto de, em 13 de Parafraseando Vicente Rao: esta volta ao pretérito
fevereiro de 1969, ter sido pedido o confisco de meus bens e parece ser contra o “sistema da natureza, pois, para o tempo
a abertura de um inquérito policial militar sobre minhas ativi- que já se foi, fará reviver as nossas dores, sem nos restituir
dades de advogado, por defender empresa que não agradava nossas esperanças” (O Direito e a vida dos direitos, Ed. Revis-
ao regime. O mais curioso é que continuei como advogado, ta dos Tribunais, 2004, p. 389).
tendo derrubado a prisão de seus diretores, no STF, em 1971, Estou convencido que tudo o que ocorreu, no passa-
por 5 x 3, à época em que os magistrados não se curvavam ao do, será, no futuro, contado com imparcialidade, não pela Co-
poder da mídia ou dos detentores do poder. Embora arquiva- missão, mas por historiadores, que saberão conformar para a
dos os dois pedidos, o fato de ter sido anunciada a abertura do posteridade a verdade histórica de uma época.
processo contra mim, pelos jornais, com grande sensaciona-
lismo, tive minha advocacia abalada por alguns anos. Nem por
isto pedi indenizações milionárias ao governo atual e nem pe- Dr. Ives Gandra da Silva Martins é Professor Emérito das
direi. À época, apoiei a Anistia Internacional, tendo entrado Universidades Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O
ESTADO DE SÃO PAULO, das Escolas de Comando e Estado-
para seus quadros sob a presidência de Rodolfo Konder, e fui -Maior do Exército - ECEME e Superior de Guerra - ESG; Professor
conselheiro da OAB-SP por 6 anos, antes da redemocratiza- Honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de
ção. À evidência, faltar-me-ia, por mais que quisesse ser im- Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia); Doutor Honoris Causa da
parcial, a tranquilidade necessária para examinar os fatos com Universidade de Craiova (Romênia) e Catedrático da Universidade
do Minho (Portugal); Presidente do Conselho Superior de Direito da
isenção. Envolvidos da época não podem adotar uma postura FECOMERCIO - SP; Fundador e Presidente Honorário do Centro
neutra, ao contar os fatos históricos de que participaram. de Extensão Universitária.

9 Julho 2012 - Santos Arte e Cultura

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CONCURSO DE CONTOS JOVEM ESCRITOR PRÊ
A Revista Santos Arte e Cultura realizou, to: A Cremação de um Morto Muito Vivo. Ela receberá o troféu
nos meses de maio e junho, o Concurso de Stella Carr e seu conto está publicado abaixo. Outros cinco
Contos Jovem Escritor: Prêmio Stella Carr. contos serão agraciados com o certificado de Menção Honro-
O concurso foi destinado a alunos de 12 a sa e também terão seus trabalhos publicados nesta Revista;
18 anos e contou com a participação de 31 um deles, “Memória”, já nessa edição. Os outros cinco classi-
inscritos. Destes, 11 foram classificados. A ficados receberão certificado de Menção Especial. Os demais
vencedora foi Raphaela Boechat, com o con- concorrentes receberão certificado de participação.

CONTO VENCEDOR - 1º Lugar

A CREMAÇÃO DE UM MORTO MUITO VIVO


RAPHAELLA BOECHAT

Ontem fui surpreendida pela notícia da morte de lhor, serve apenas para alimentar o fogo que logo o transfor-
René. Era uma daquelas mortes que não causam grande mará em cinzas.
dor, não porque o morto fosse indesejável ou um daqueles A minha essência, por sua vez, verdadeiras doutri-
amigos que nada respresentam. nas e filosofias, poderá muito bem estar aqui junto de vocês
O René era muito engraçado e uma de suas carac- assistindo agora esta cerimônia. Lágrimas e lamentações,
terísticas era a de ser sempre o melhor em tudo. Se você portanto, são desnecessárias, pois não vale se lamentar
dissesse que almoçou com o príncipe, ele já teria almoçado neste momento.
com o rei; se você dissesse que falou com um dos discípu- Vivi intensamente, alegrei-me, visitei lugares, con-
los de Cristo, ele já teria passado um final de semana com vivi com vocês, conheci muitas mulheres, bebi, desejei, bri-
Deus. guei, compreendi, chorei, plantei uma árvore, dormi no sere-
Sua morte foi recebida com certa displicência. Era no, etc. Só lamento que não consegui escrever um livro;
como se todos dissessem: “Ele logo estará no comando do quem sabe na próxima encarnação.
Céu ou do Inferno...” Acho que fiz bem mais do que sonhava fazer. Por-
Como não poderia deixar de ser, sua cremação foi tanto, meus amigos, parto feliz, vou para o lugar que me foi
muito diferente. destinado com um sorriso aberto.
Fomos convidados a nos sentar numa plateia de Por fim, peço que me perdoem pelas dívidas que
um palco todo vermelho com poltronas em azul, duas colu- deixo com alguns que hoje estão aqui, rogando que não as
nas prateadas ladeavam o caixão e jazia em uma mesa de cobrem de meus parentes, porque, com muitos deles, tam-
mármore acomodada sobre pedestais. As paredes escor- bém deixo alguma dívida.
riam fontes de água. O teto era branco com vários relevos Agora que liberá-los, chega de encenação e perda
em gesso permeados por uma frágil luz azul da qual não era de tempo comigo, porque um dia, queiram ou não, todos nós
possível dizer de onde partiam. Era um salão para ninguém nos encontraremos.
indicar defeitos e muito à altura das fanfarronices de René. A plateia estava atônita com aquelas palavras, uns
O salão estava lotado, todos sentados aguardando com cara de assustados, outros rindo e outros ainda sem
os passos seguintes da cerimônia. qualquer expressão.
Certo momento, um tio de Renê levanta-se e toma Aquela atitude somente poderia partir de uma pes-
lugar em uma pequena tribuna com microfone. Todos param soa como René.
para ouvir, talvez, algumas palavras de agradecimento ao Orei um Pai-Nosso e uma Ave-Maria: que Deus o
falecido. O cidadão retira de seu bolso um envelope lacrado, tenha em bom lugar.
anunciando que René havia solicitado que o envelope deve-
ria ser lido na cerimônia final de seu velório.
A plateia ajeita-se nas cadeiras, sur-
presa.
A leitura é iniciada, dizendo, do que me
recordo, mais ou menos assim:
Boa tarde. Primeiro, gostaria de me
desculpar do enorme contratempo que ocasio-
nei na rotina de suas vidas. Gostaria de agrade-
cer também a todos que hoje aqui comparece-
ram e os que, por uma razão ou outra, não
puderam vir.
A vida, separado o corpo da alma, não
é nada. Portanto, meus amigos, aquele que jaz
no caixão à sua frente não sou eu, ali reside ago-
ra apenas um corpo sem qualquer valor, ou me-

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PRÊMIO STELLA CARR
CONTO MENÇÃO HONROSA

MEMÓRIA
JULIANA CRISTINE DE FREITAS LEITE

A memória riu baixinho en-


quanto atravessava a sala deserta.
A mesma sala deserta estava
lotada de fantasmas tristes. A
mesma sala deserta onde se
amontoava a poeira do
tempo. A mesma sala onde
ela estava sozinha. Com
os fantasmas, a poeira e o
deserto de uma alma
cheia de sonhos.
Apoiou-se nos
braços do sofá velho e
olhou para ela. Bem dentro
dos olhos indiferentes. Bem
dentro da alma corroída pela
saudade e a distância. Ela não rea-
giu. Sequer discutiu. Então, a memó-
ria a beijou. Primeiro levemente cari-
nhosamente. Depois, com ansiedade.
Finalmente, com uma necessidade corpórea, ganhando forma dentro dela.
crescente de fazer parte do vazio que Cansada da vida. De não so-
ela tinha nos olhos. nhar. Demasiado cansada da sala de-
As ondas claras e óbvias da serta onde ela não era mais do que
saudade anunciaram-se nesse beijo outro fantasma com um corpo. Cansa-
e, qual intruso, foi se sentar discreta- da de ter que respirar. Foi no cansaço
mente ao lado dela. Uma lágrima caiu que ela recebeu a saudade e no mes-
dos olhos e percorreu-lhe o rosto exa- mo que ela deu a mão, limpou as lágri-
tamente ao mesmo tempo em que um mas, arrancou um sorriso e sorriu tam-
sorrido surgia, quebrando tal indife- bém. Depois, deixaram a sala deserta.
rença. A mesma sala deserta onde
Depois do beijo, o vazio. O os fantasmas tristes tinham adormeci-
vazio incoerente. O medo exagerado do. A mesma onde ela fingia viver du-
que surgia na forma de lágrimas des- rante tanto tempo. A mesma sala de-
pidas de sensações. E a memória serta onde ela já não estava. Onde já
abraçou-a e deixou chorar, enquanto não estavam as suas memórias saudo-
a saudade aumentava e se tornava sas e a sua alma cheia de sonhos.

11 Janeiro - Santos Arte e Cultura

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VAMOS CONVERSAR?
CLOTILDE PAUL
Longe vai o tempo em que o padre dizia: - Até que pessoas deixaram de conversar. A conversa traz sempre a
a morte vos separe. possibilidade de uma pausa no dia a dia estressante que vi-
Em nossos dias parece-nos mais lógico: Até que a vemos; a possibilidade de sair de si e ir ao encontro do outro.
vida vos separe. É a arte do instante de ser feliz junto.
Menos sensível às sanções religiosas e menos liga- Para alguns, isto pode parecer insignificante. Mas
da às tradições, a família constituída pelos nossos pais e que coisa maravilhosa é fazer com que, através da palavra,
avós, que conversavam ao redor da mesa da sala de jantar, possamos nos aventurar no mundo do outro; que coisa ad-
só continua a existir, com raríssimas exceções, nos roman- mirável é fazer uma discussão terminar em um terno beijo.
ces antigos e nas novelas de época. O casal precisa conversar, a família precisa conver-
A revolução tecnológica deu liberdade econômica sar sobre os seus medos, dificuldades, crenças e esperan-
ao homem e à mulher - um não depende mais do outro para ças porque é necessário fazer das palavras uma porta aber-
viver. Por outro lado, a Amélia de Ataulfo Alves e Mário Lago ta para a verdade, a cidadania, a dor, a felicidade e a
foi substituída pela máquina de lavar, o micro-ondas e os amizade.
restaurantes por quilo. É sempre bom não esquecer que na conversa sem-
Os anticoncepcionais garantiram à mulher envolvi- pre haverá um tempo para ouvir o outro. Conversar também
mentos extraconjugais sem consequências e aos homens é calar. O importante não é ter sempre a última palavra. O
gloriosas conquistas amorosas até então impensáveis. importante é construir junto o momento compartilhado, coisa
A autofelicidade vem sempre em primeiro lugar e, preciosa e rara nos nossos dias.
quase sempre, o cônjuge e os filhos em segundo plano.
Assim, a modernidade egoísta dispensa, pouco a
Clotilde Paul é professora, mestra, doutora em História
pouco, o casamento e a família. Social (USP), advogada e diretora da Sociedade São
Atrevo-me a dar a minha opinião sobre o assunto. Leopoldo, membro da Academia Santista de Letras e
do IHGS.
O casamento e a família estão em crise porque as

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A MULHER NO SEU COTIDIANO
LILIA DINELLI
É fato que, na história do mundo, nós, mulheres, sempre estivemos à mar-
gem do cotidiano.
Se questionarmos sobre o motivo, teremos uma série de respostas que “po- -
dem” justificar o fato. Entretanto, não “devem” justificá-lo.
Como seria e séria é, a mulher no cotidiano da vida. Tomemos como exemplo
a Maria, nossa querida colega (e aí, poderia ser qualquer uma Maria, ou não
Maria). Sua história é bastante interessante e aí segue.
De manhã, sem amanhecer, levanta Maria, porque não dormiu cui-
dando do filho de três anos, que tinha febre alta e a garganta muito infla-
mada. Prepara o café e pão, porque não tem leite e o gás
está acabando. Senta, talvez os poucos minutos do dia,
e deixa escrito um bilhete para a filha de nove anos, a
mais velha de quatro irmãos.
“Compra 3 paons prus teus irmaons queu já to
inu.” Assinado: “Maen”.
E segue para seu dia cheio de glória: muita gente
no metrô, muita gente no ônibus, muita gente no es-
critório.
Todo o dia, o dia todo.
Quando volta, é tudo igual.
Ao chegar à casa, vê seu filho sentado no quin-
tal, brincando. Ele a olha e sorri.
Pronto.
“Que dia maravilhoso eu tive”, pensa Maria, “va-
leu a pena”.
Esta é uma das diversas histórias projetadas no
cotidiano da vida, cujo papel principal pertence a uma
mulher. Uma Maria entre tantas.
A imagem dessa mulher que não é ouvida, não
se pronuncia diante do mundo, é a Mulher que construiu
a Hidroelétrica de Itaipu, a capital Brasília, o Cristo Reden-
tor, o Maracanã e tantos outros espaços importantes
neste país. A partir de uma simples afirmação: seus fi-
lhos, maridos, saíam de um lar para trabalhar, cuidado
por ela. anuncio
Ela que, muitas vezes, sem sair de casa, saia cafe
junto ao marido, filho, acompanhando em orações e per-
fazendo toda a trajetória dantesca daqueles; à noite, che-
ga antes e os espera com um sorriso, problema, dúvida
para partilhar. Ou simplesmente, ouvi-lo reclamar de
toda sua epopéia daquele dia.
E em meio à confusão de crianças gritando, por-
ta batendo, cachorro latindo, ouve-se:
- “Cadê meu chinelo”, “cadê a toalha”, “ o homem
não veio arrumar o portão, ainda?”, e etc, etc, etc...
Eis a voz do patriarca da família. Tão perdido no “terrível
mundo do lar”. Como saber onde estão as coisas se o empodera-
mento da mulher no lar é absoluto...
Ao ressaltar essa força, justifica-se o reconhecimento da
mulher diante da sociedade. Ou deveria ser assim.
Diante desses devaneios, ponho-me a pensar quando será, e aí
lembrando uma música de Zé Rodrix:
“Quando será?
Quando será o dia da minha sorte; sei que, antes da minha morte,
sei que esse dia chegará”.
Será???
Lilia Dinelli é Mestre em Ciências da Religião pela Universidade
Metodista de São Paulo – UMESP e professora Coordenadora
dos Cursos de Extensão da Faculdade Messiânica.

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VISITA SILVESTRE
MARIA ZILDA DA CRUZ

Dois olhos vivos observam. Não! São quatro


olhinhos interrogativos espiando o movimento lá embai-
xo. Agarrados em galhos, ora se escondendo entre fo-
lhas ora se deixando fotografar, dois saguis são os as-
tros na manhã colorida de verde e sol. Se contemplarmos
o cenário com o azul do céu, teremos as cores da ban-
deira brasileira.
Todos se combinavam na curiosidade de um
grupo heterogêneo, de homens e mulheres, letrados em
universidades, ou diplomados no suor de trabalhos árdu-
os. Juntos ao portão de um jardim pouco convencional,
pelo aglomerado das árvores, os adultos e as crianças, tam-
bém, respeitavam o silêncio necessário ao momento. Não
queriam acabar com a oportunidade da cena, tão incomum
naquela hora. Saindo da mata de um morro santista, corren-
do sobre fios, os macaquinhos atravessaram ruas, evitaram
o perigo de automóveis, ônibus e de outras máquinas atro-
peladoras. Experimentaram as árvores das ruas e termina-
ram na escolha da árvore emaranhada de trepadeiras. Ela guem os chamados da natureza: brincando, dando camba-
seria de um verde mais semelhante ao lar de origem? Ou lhotas sobre finos galhos, acabam escondendo a cena do
por que ali havia a segurança de uma casa sem agressões? amor real. A dança do ritual da conquista termina na calma
Seja lá o que fosse, tratava-se de uma visita silvestre. do par abraçadinho. Entre folhas aconchegantes, um vive
O macho, enfeitado por penachos bem brancos em para o outro. Não há vencido, nem vencedor. Só o estreito
suas orelhas, parecia tomar a iniciativa de ser o primeiro a laço afetivo que une dois seres.
se apresentar. A fêmea, com penachos menos brancos, se- O amor não é virtual.
guia o parceiro. Afinal, macacos junto ao asfalto tornam-se Observando o trânsito de rua, vi o quanto ele chega
motivo da curiosidade urbana. a ser real. Uma senhora simples e até pobremente vestida
Entre a pequena multidão postada na calçada, cho- pedalava uma bicicleta velha. Ela conjugava a cena do amor,
viam palpites sobre o que fazer; suposições porque vieram; emoldurada por sombrosas árvores de um canal santista.
porque se mudaram da mata. Todos eles eram pontos de Sobre as duas rodas, sentada no apoio de trás, ia uma me-
vista pessoais, alguns até fantasiosos. Alguém chama o ór- nina de seus três anos de idade. Mantinha-se firme, agarra-
gão protetor dos animais. E vem a resposta sensata:“Por da na cintura da mãe. Os bracinhos pequenos não conse-
que aprisioná-los se estão no seu “habitat” natural?” guiam entrelaçar as mãos, ao circundar o ventre que a
A TV comparece e, com muita paciência, cinegra- abrigara um dia. Na frente, amarrado por resistentes faixas
fista e repórter vão tecendo a linguagem da mensagem ele- ao colo feminino, um forte bebê sugava o seio materno, indi-
trônica. Como numa mágica, a cidade fica sabendo, horas ferente ao barulho da usada avenida. Nesse cenário, lia-se
mais tarde, que existem saguis soltos, no bairro do Marapé. um quadro da sagrada maternidade acolhedora, driblando
Acabaram se acomodando. Vivendo de goiabas, carambo- as agruras econômicas. Tudo era pobre: as roupas desbota-
las e acerolas comidas no pé, eles brincam tranquilos, mis- das da mãe e das crianças; a bicicleta enferrujada. Sem car-
turando seus chamados entre os cantares dos muitos pás- ro próprio, só com a força das pedaladas, a senhora carre-
saros. De direito, os verdadeiros donos das árvores, nos gava uma riqueza insubstituível. No rosto, o sorriso de uma
poucos quintais rodeados por cimento e tijolos de casas mulher alegre, feliz com as joias que levava: os filhos.
sem o verde, que não brota mais da terra escondida. A visita silvestre dos saguis, companheiros abraça-
Os pequenos saguis adotaram todo o quarteirão, dos no afeto, equilibrando-se sobre galhos, e a cena de rua,
refúgio de uma vida garantida. Não são seres discrimina- de uma família enlaçada, unida, equilibrando-se sobre duas
dos, nem tão pouco “sem árvores”! Despertam a alegria dos rodas, comprova: o amor não é virtual. Só pode ser real!
moradores, na procura feita por adultos e crianças, numa
caça da descoberta entre folhas e ramos. Já ondula uma Maria Zilda da Cruz é Mestra e Doutora em Psicologia pela
onda de simpatia no ambiente, aceitando-os, acarinhando- Universidade de São Paulo, Presidente da Academia
-os com o olhar, como se fossem propriedade coletiva. Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos e Membro
da Diretoria da Academia Santista de Letras.
Mas eles têm, também, uma vida particular. Se-

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MONS. DR. IDÍLIO JOSÉ SOARES (1887 - 1969),
VETERANO DA REVOLUÇÃO DE 1932
NEY PAES LOUREIRO MALVASIO

D. Idílio José Soares, criador da revolução era pároco em Campinas


da Faculdade de Direito de Santos e da e seguiu para a linha de frente como
Sociedade Visconde de São Leopoldo, capelão de um batalhão de voluntá-
mantenedora da atual UNISANTOS, é rios daquela cidade. Ficou junto às
muito conhecido em nossa área a partir tropas no setor do “Túnel da Manti-
do grande trabalho educacional desen- queira”, local de alguns dos mais san-
volvido. Entretanto, antes de fixar-se em grentos combates ocorridos durante o
Santos, teve participação ativa no movi- movimento constitucionalista.
mento revolucionário de 1932, algo des-
conhecido por aqui. É interessante no-
tarmos o que vem descrito num bom Ney Paes Loureiro Malvasio é Mestre
Historiador (UFRJ), oficial reformado
livro da época, escrito pelo veterano de
do Exército Brasileiro.
um batalhão de Campinas, Jair Pinto de neymalvasio@gmail.com
Moura, que nos deixou A Fogueira Cons-
titucionalista, com o seguinte trecho:
Nâo se pode deixar de registrar
que, durante a luta constitucionalista, os
soldados da lei tiveram o conforto espiri-
tual e moral na serra da Mantiqueira,
onde estiveram, entre fuzilaria intensa e
retumbar de canhões, os reverendos:
padre capitão José Alencar, frei Antoni-
no, franciscano de Guaratingueta, padre
Lucas Janetti, monsenhores dr. Idilio So-
ares e João Loschi, da diocese de Cam-
pinas.
Como constatamos, no início

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A PRAIA DE SANTOS EM 1855 NA VISÃO DE PAULO EIRÓ
Henrique Novak

Amadeu Amaral, numa crônica publicada em 1918, blicar algumas poesias no Correio Mercantil e, rapidamente,
afirmava: “Paulo Eiró foi, cronologicamente, o primeiro poeta retornou a Santo Amaro.
verdadeiro que São Paulo pode-se orgulhar, - de que se po- De seu primeiro contato com Santos, quando ficou
derá orgulhar quando o conhecer, como é preciso, como é hospedado na casa do médico Firmino José Mária Xavier,
indispensável que o conheça. Esperamos que alguém se ficou uma poesia dedicada à prima Carolina, “Barra de San-
incumba da apresentação, nos moldes que o valor do des- tos”. A prima Carolina, solteira na ocasião, casou-se mais
venturado moço merece, isto é, através de uma edição con- tarde com o Dr. Vieira de Carvalho, professor da Faculdade
veniente dos mais perfeitos dos seus versos”. Em 1936, por de Direito de São Paulo. A poesia “Barra de Santos” certa-
ocasião do centenário do seu nascimento (Paulo Eiró nas- mente é um dos mais antigos registros poéticos da praia
ceu em 15 de abril de 1836, em Santo Amaro–SP), algumas santista de que se tem notícia. Do seu contato com a cidade
de suas poesias, ou parte delas, até então inéditas, foram portuária, o que impressionou o poeta mesmo foi a beleza
divulgadas em conferências realizadas pelo mesmo Amadeu da praia, à qual não se cansa em enaltecer: “Quem te deu
Amaral e também por Valdomiro Silveira, Cesar Salgado, tamanho encanto?”.
Mário Vilalva, entre outros.
No entanto, apenas em 1940 parte da obra de Eiró BARRA DE SANTOS (Carolina)
teve, pela primeira vez, uma divulgação representativa e a
nível nacional, com a publicação de sua biografia romancea- Praia, que o mar brandamente / repele ou acaricia, / em que as
da, de autoria de Afonso Schmidt (nascido em Cubatão, em auras vêm carpir-se / à volta do meio dia,/ e a tarde espalhar
29 de junho de 1890). A obra biográfica foi lançada na Cole- frescura,/ sombras e melancolia; / Linda praia, debruada / de
ção Brasiliana, acrescida de um apêndice contendo uma se- alvejante, fina areia, / porque só tua lembrança /o espírito me
leção das poesias de Eiró, organizadas e anotadas por José encandeia?/ Quem te deu tamanho encanto? / Onde está tua
A. Gonsalves, sobrinho-neto do poeta romântico que tam- sereia? / À solidão de minha alma / chega teu som lastimoso, /
bém foi dramaturgo (autor de “Sangue Limpo”, drama apre- eco prolongado e triste / de cavo búzio
sentado em 2 de dezembro de 1861) e um precursor do re- lustroso; / meu coração todo abala,
publicanismo e abolicionismo, além de iniciador da coleta de / qual voz de amigo extremoso. /
quadrinhas e modinhas folclóricas. Paulo Eiró é conhecido Vejo a ti, pégo infinito, / como
como o poeta que verdadeiramente “morreu louco de amor”, a um cativo sultão, que ora,
apaixonado por sua musa que o deixou para casar com ou- com pátrios cantares, / sua-
tro. viza a escravidão, / ora,
Há registros de que Paulo Eiró tenha estado duas espumando, se atira/
vezes em Santos. A primeira vez, em 1855, com 19 anos de contra as grades da pri-
idade, acompanhando sua família e, na segunda, em 1861, são. / Vejo-te a face que
já impulsionado pelos frequentes delírios ambulatórios, pas- o posto/ sol doura, aver-
sou por Santos para engajar-se no navio Japuraná e ir ao melha, inflama, / e o ho-
Rio de Janeiro, onde ficou por alguns dias. Lá chegou a pu- rizonte que se ignora/
onde repousa,
onde clama,/
como um segun-
do oceano / que
sobre ti se derra-
ma./ Vejo, surgin-
do das águas, / a
solitária “Moela”; / o
cabo que se adianta /
e, ao longe, perdida
vela... / vejo a “terra da sau-
dade”! / das praias vejo a mais
bela ! Paulo Eiró, aos 18
Santos, 1855. anos, um ano antes
de escrever “Barra de
Santos”.

Henrique Novak é publicitário, jornalista, presidente


do Centro de Altos Estudos Euclidianos de São Pau-
lo e ex-editor da Página do Livro do Diário Popular.

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NOTAS CULTURAIS
NOTAS CULTURAIS
PRIX DE LA PHOTOGRAPHIE
Com uma foto da série “Gra- do”, explica Arias. Para o fotógrafo, a
vuras Fotográficas: uma desconstrução premiação significa o reconhecimento
imagética de São Paulo em preto e da legitimidade das possibilidades ar-
branco", o fotógrafo santista Paulo tísticas dessa nova linguagem fotográ-
Arias acaba de ser premiado na cate- fica surgida a partir do uso das câme-
goria profissional “altered images – fine ras digitais agregadas aos telefones
art”, do Prix de La Photographie Paris celulares.
2012, uma das maiores e mais presti- Curadores, galeristas, consul-
giadas premiações de fotografia da Eu- tores, diretores de arte e editores de
ropa. A imagem foi escolhida entre as fotografia de importantes publicações
milhares inscritas por fotógrafos de de todo o mundo fizeram parte do júri
mais de 85 países. do Prix de La Photographie Paris 2012.
As fotografias do ensaio “Gra- Os ganhadores da competição partici-
vuras Fotográficas" trazem esboços ur- “A simplicidade das lentes, a pam de uma exibição em uma concei-
banos e humanos de São Paulo, des- inexistência do zoom e a baixa resolu- tuada galeria em Paris, além de terem
construindo a cidade em manchas ção da câmera utilizada neste projeto seus trabalhos publicados no anuário
pretas e brancas produzidas por meio desafiaram-me a encontrar soluções do prêmio (PX3 Anual Book).
de uma câmera de telefone de celular criativas às limitações da própria tecno- Para mais informações, acesse: www.
de baixa resolução (3MP). logia, que é muito recente no merca- px3.fr ou www.pauloarias.com

ESTÉTICA DA MÚSICA POSSE NO IHGS


Da esquerda para a
Sob o tema “Evo- direita: Marlene
lução Histórica Mota Zamariolli -
e Estética da Coordenadora de
Música Erudi- Políticas Públicas
ta Brasileira e para Mulheres;
Marcelo Vallejo
sua importân-
Fachada - Secre-
cia em São Pau- tário Municipal de
lo”, o Maestro Eduardo Escalante pro- Turismo de San-
feriu palestra, no dia 4 de julho tos; José Manuel
passado, no Instituto Histórico e Geo- Costa Alves - Di-
gráfico de São Paulo, com ilustrações a retor-Presidente
cargo da pianista Sandra Abrão. da FAMS; Paulo
Gonzalez Mon-
teiro - Presiden-
LANÇAMENTO LITERÁRIO te do IHGS; José
No dia 5 de julho último, tomou posse no Ins- Augusto do Rosário -
tituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS), a jorna- Gestor do Consulado
lista Wânia Seixas. A recipiendária, que passou a ocu- de Portugal em San-
par a cadeira nº03, cujo patrono é Alexandre de tos; Maria Zilda da
Gusmão, é ex-Secretária de Turismo de Santos. Cruz - Presidente da
Academia Feminina
Também ocupou os cargos de Presidente da
de Ciências, Letras e
Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS), Se- Artes de Santos e
cretária de Comunicação e Secretária de Governo. Wânia Seixas - Reci-
Possui o título de Mestre em Comunicação pela USP. piendária.

ESCULTURAS EM CARRARA
Um grupo de
escultores brasileiros do
Em 11 de maio, Ney Malvásio
Newton Santanna ate-
tomou posse no Instituto Histórico e
lier foram para a cidade
Geográfico de Santos, na cadeira 33 - de Carrara, Itália, fazer
General Dionísio Evangelista Castro curso de escultura em
Cerqueira. Na ocasião, lançou sua mármore no atelier Arco
obra “Distantes Estaleiros: arsenais de Arte, sob o comando do
Marinha e a reforma naval pombalina”. professor Boultros.
O livro já se encontra nas livrarias Sa- Da esquerda
raiva. Para professores, a aquisição para a direita: Newton
pode ser realizada com desconto direto Santanna, Thiago Ca-
na Editora. giano, Rosalva Siqueira, Mana Celani, Boutros Romhein, Bete Pimentel, Lilli Vilela,
www.livrariadapaco.com.br Mabel Di Bastiano e Rodrigo Andreotti.

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Espaço do Livro
CLÁUDIO DE CÁPUA

PORTUGAL MINHA SAUDADE


de CLOTILDE PAUL
“Portugal Minha Saudade”, livro de autoria da santista Clotilde Paul, mes-
tra, doutora em História Social (USP) e especialista em civilização ibérica (USP) e
advogada pela Universidade Católica de Santos, diretora da Sociedade Visconde de
São Leopoldo, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e da
Academia Santista de Letras.
Seu livro é composto de uma leitura fácil; no que se refere ao paladar, ele
é saboroso; obedecendo a cronologia, conta com histórias da História, onde o leitor
viaja através de suas páginas envolventes.
Ninguém mais habilitado que o consagrado Hernâni Donato, autor do pre-
fácio, para nos dizer algo sobre o conteúdo de “Portugal Minha Saudade”.
Vejamos: “ a primeira parte é uma guitarrada em prosa, é um frufulho de
capas negras deslizando pela História... A segunda parte - Adenda - é uma espécie
de balé: com beleza de estilo, leveza de informação, profundidade e pertinácia his-
tórica... A terceira parte - A Terra e o Homem - tem o Portugal 2011 exposto em no-
mes e números; livro biblioteca que, em volume, nos dá vários livros”.
Após esse comentário, pressentimos que o Acadêmico Hernâni Donato não
terá dificuldades em apadrinhar a candidatura de Clotilde Paul a uma futura vaga na
Academia Paulista de Letras.

DISTANTES ESTALEIROS
MOTIVOS E MATIZES
NEY PAES LOUREIRO MALVASIO
VANDA FAGUNDES QUEIROZ

Li e reli o livro de Trovas “ Moti- Este livro traz um conjunto


vos e Matizes”, da consagrada de descobertas históricas
trovadora Vanda Fagundes proporcionadas pela pesqui-
Queiroz. O livro em pauta faz sa durante a dissertação de
parte da Coleção do Centená- História na UFRJ. A grande
rio de “Luiz Otávio”, que home- reforma naval demonstrou a
nageará o Princípe dos Trova- criação de uma marinha mili-
dores com a publicação de 100 tar , incluindo postos náuti-
livros de trovas com as mesma cos específicos, diferente do
qualidade de “Motivos e Mati- antigo sistema só para no-
zes”.. bres.

SAUDADE

PEDRO MARIANO WENDEL: Faleceu na Paulicéia, em 10 de junho passado,


aos 87 anos, o ilustre cidadão Pedro Mariano Wendel, empresário, político e ex-
-presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de São Paulo, cargo que
ocupou por duas gestões, deixando impressa sua marca de líder. Participou com
sucesso de vários empreendimentos. Sempre que solicitado pela pátria, fez-se
presente, sendo condecorado pelo Exército do Brasil e pela Marinha de Guerra.
Chefe de família dedicado, deixa quatro filhas, genros, onze netos, quinze bisne-
tos e três trinetos.
Com sua partida, temos certeza, que, neste 10 de junho, ao fechar-se
uma porta na horizontal aqui na terra, uma porta abriu-se na vertcial para ele no
céu.

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