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TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS FEDERAIS PARA

ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS COMO ELO DE


POLÍTICAS PÚBLICAS DISTRIBUTIVAS (2013-2016)
Área do trabalho: CLIENTELISMO

André Valente do Couto


Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Dalson Britto Figueiredo Filho


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

José Vinicius da Costa Filho


Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT

João Luis Binde


Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT

Marcus Vinicius Taques Arruda


Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT

Thiago Augusto de Oliveira Marinho Ferreira


Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT

Trabalho preparado para sua apresentação no 9º Congresso Latino americano de Ciência Política,
organizado pela Associação Latino-americana de Ciência Política (ALACIP). Montevideu, 26 ao 28
de julho de 2017.

(1a versão do trabalho)

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Resumo: Esta pesquisa analisa o impacto das motivações políticas associadas à necessidade de
credit claim em reduto eleitoral de oposição por via da distribuição de transferências voluntárias de
recursos federais às sociedades da organização civil, também denominadas como ONGs. Através de
uma base de dados original criada a partir de dados secundários dos sítios do TSE, do repositório da
Transparência Brasil do governo federal, do PNUD, do FIRJAN e com a aplicação de métodos
quantitativos estatísticos descritivos e inferenciais pretende-se verificar as seguintes hipóteses: (1)
prefeitos que não pertencem ao mesmo partido do presidente recebem mais recursos por meio de
ONGs; (2) prefeitos que não pertencem aos partidos da coalizão do presidente recebem mais
recursos por meio de ONGs; (3) quanto menor a competição política - mais concentrada a
distribuição dos votos - entre os deputados federais eleitos, maior o volume de recursos destinados
aos municípios por meio de ONGs; (4) quanto menor a fração de votos perdidos maior o volume de
recursos destinados aos municípios por meio de ONGs, (5) quanto menor a fração do eleitorado
maior o volume de recursos destinados aos municípios por meio de ONGs.

Palavras Chaves: Clientelismo, Comportamento Político, Transferências voluntárias de recursos


Federais, ONGs.

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1. INTRODUÇÃO

O foco deste trabalho repousa sobre princípio de que a alocação das transferências
voluntárias de recursos federais para organizações da sociedade civil é também, um instrumento de
implementação de políticas distributivas motivadas por um comportamento político do executivo e
do legislativo, derivado das teorias distributivista e da conexão eleitoral de Mayhew (1974).
Diversos estudos tratam da conexão entre a alocação de transferências voluntárias de
recursos federais sob o efeito de determinantes políticos no Brasil (PRADO, 2001; ARETCHE,
2004; MENEGUIN et all, 2007; FERREIRA et all, 2007; AMORIM NETO, 2013; BIJOS, 2013;
BUENO, 2014; MOUTINHO, 2015; SOARES e MELO, 2016), tangenciando também aspectos
correlatos como: o federalismo fiscal brasileiro, o efeito dos ciclos eleitorais, o distributivismo,
dentre outros.
Destes, muito embora haja o compartilhamento de boa parte da teoria elencada, esta
pesquisa dialoga diretamente com a argumentação relevada por Bueno (2014), que indica uma
motivação pouco evidente do comportamento do ator político, a um simples questionamento: Como
levar recursos a um eleitorado em um reduto dominado pela oposição, sem que os créditos desta
ação sejam compartilhado com o incumbent local? Em outras palavras, como obter o crédit claim
em um reduto da oposição?
A resposta a esta indagação e a motivação a ser investigada, passa pelo uso dos recursos de
transferências voluntárias federais endereçadas aos municípios, mas diferente das outras abordagens
esta procura verificar os condicionantes políticos ao encaminhamento indireto do recurso aos
municípios por meio das organizações da sociedade civil, ONGs.
Por esta lógica, os políticos detentores de recursos discricionários a disposição,
privilegiariam a promoção direta às organizações da sociedade civil ligadas ao atendimento das
demandas locais perpassando o incumbent local da oposição na realização da demanda e por
decorrência, na obtenção dos créditos relativos àquele trabalho junto ao eleitorado local.
Este comportamento se insere no modelo distributivista que em sua teoria deriva que os
políticos agem racionalizando a maximização de suas utilidades para satisfazer suas preferências,
coadunando com a visão racionalista de Downs (1999), na qual os políticos priorizam implementar
políticas públicas para conquistar votos, maximizando a obtenção do poder por via dos cargos
públicos como premissa para a sua manutenção, ou seja, evidenciando um comportamento office
seeking com objetivo claro de autopreservação no poder.
Muito embora essa visão atomizada racional do ator político consiga determinar a suas
preferências objetivas, no sentido em que este sempre buscará maximizar sua utilidade de modo que

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seja reconduzido ao cargo no próximo sufrágio, este raciocínio sozinho não abarca todas as
especifidades de relações e incentivos a que está submetido.
Um ator político na arena legislativa estará sujeito ao regramento institucional, que
influencia diretamente o seu comportamento para posicionamentos que em alguns casos pode ser
divergente da análise puramente racionalista de suas preferências pessoais.
Neste ponto, as instituições não podem ser ignoradas quando do cálculo das preferências do
ator individual. Se a recondução ao cargo passa pela arena eleitoral e os meios de se maximizar essa
recondução estão na arena legislativa, deriva dessa lógica que o ator político será constrangido a se
comportar na arena legislativa de modo a maximizar seus objetivos na arena eleitoral. Portanto, seu
comportamento será formulado em um modelo de duas arenas Mayhew, (1974).
Essa ligação entre a racionalização do comportamento político na arena eleitoral e legislativa
foi teorizado por Mayhew (1974) em A lógica da conexão eleitoral - quase como uma versão
moderna do clássico O Príncipe de Maquiavel - aonde mapeou a atuação legislativa Norte
Americana em três comportamentos que maximizam a recondução política na arena eleitoral, como
sendo: advertising, position take e crédit claim.
Manter uma imagem positiva de político experiente, capaz, independente e responsivo às
demandas populares, porém sem se ligar obrigatoriamente a nenhum conteúdo programático,
corresponde ao comportamento advertising. Em uma arena eleitoral que tende ao personalismo ao
invés da análise programática e ideológica, como a brasileira, se constitui em solo fértil a este tipo
de comportamento aonde a grande maioria dos políticos deseja cultivar sua imagem de modo a se
desvincular dos custos das barganhas partidárias no legislativo.
A ação de tornar público seu posicionamento frente a demandas de grande vulto e
repercussão nacional, corresponde ao comportamento position take. Vimos diversos exemplos desse
comportamento no legislativo brasileiro, quando do impeachment da presidente Dilma Roussef ou
mais recentemente quando da votação e aprovação da reforma trabalhista. Nestes casos, deputados e
senadores de ambas as posições, mesmo tendo a consciência de que suas falas não afetariam o voto
de seus colegas visto que essas amarrações são realizadas nos bastidores das casas, usaram seu
tempo de televisão para se expor de modo muitas vezes enfático sem nem mesmo usarem
argumentação lógica causal para se posicionar e dessa forma angariar a simpatia de parcela do
eleitorado.
Por fim, as ações de atendimento de demandas locais com benefícios concentrados e custos
difusos pork barrel politics que gerem no eleitorado o reconhecimento de suas ações são
configuradas como crédit claim. Uma variante deste comportamento é quando o político recebe o
crédit claim quando se coloca como mediador de demandas locais junto à burocracia do governo,
neste caso a denominação é casework.

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Especificamente, o foco deste trabalho está nas ações de crédit claim dos deputados federais,
pelo uso das transferências voluntárias de recursos federais para organizações sociais pork barrel
realizadas no período de 2013 à 2016.
O uso político dos recursos públicos nas formas de patronagem, clientelismo e
patrimonialismo não só implica um alto custo para o Brasil, como claramente impede que o governo
priorize as preferências da maioria através de soluções coletivas. É interessante notar que o Brasil
“padece” de quase todas as “patologias” institucionais identificadas pela literatura como fatores
responsáveis pela elevação do custo de governar: é um sistema presidencialista; uma federação;
possui regras eleitorais que combinam sistema de lista aberta com representação proporcional; tem
um sistema multipartidário com partidos políticos considerados débeis na arena eleitoral; e tem sido
governado por uma ampla coalizão no Congresso, Mainwaring (1999, apud PEREIRA e MULLER
2002).
O comportamento office seeking com foco na arena eleitoral do ator político induz suas
ações na arena legislativa ao atendimento das demandas locais com benefícios concentrados ao seu
reduto eleitoral com custos difusos e compartilhados, perfazendo portanto uma conduta
paroquialista que vai ao encontro das preferências dos eleitores, Limongi (1994).
Segundo Ames (2001), os políticos, em grande maioria1, não se sustentam como tais,
cuidando da prosperidade de suas regiões e da provisão de bens públicos, mas distribuindo verbas,
serviços e empregos a indivíduos. Tende, portanto neste modelo distributivista, a desenvolver
políticas de pork-barrel, assistindo às fortes relações ao seu reduto eleitoral com ações em busca de
bens e serviços públicos localizados em detrimento de ações de programáticas, ideológicas ou de
bem-estar da população.
Entendendo que o comportamento político é portanto fortemente influenciado pelas regras
da arena eleitoral Ames (2001), classificou a distribuição geográfica dos votos, como sendo:
concentrado-dominante - os políticos que dominam um grupo contíguo de municípios que se
configura em seu reduto eleitoral; concentrado-compartilhado – os políticos que compartilham os
votos em uma megacidade; dispersos-dominante - aos políticos que fazem acordos com líderes
políticos locais e aos burocratas de alto escalão; e por fim, disperso-compartilhado – os políticos
que exploram nichos ideológicos.
Desta classificação, identificou que o nível de dominância é a variável que melhor explica o
comportamento pork barrel ao invés do nível de compartilhamento, em outras palavras, o
distributivismo se percebe mais claramente quando o político é dominante nos municípios pois este
tende a retribuir seu reduto eleitoral com ações pork barrel, enquanto que a baixa dominância
elevaria seus custos para o reconhecimento de suas ações junto ao eleitorado.
Mas desta classificação, apenas o primeiro caso, concentrado-dominante, corresponderia ao
1 Inclusão textual do autor
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modelo de conexão eleitoral da teoria distributiva segundo, Carvalho (2003, apud BORGES, 2014).
Não obstante, Ames (2003) e Carvalho (2003) não consideraram o efeito da competição
política no cálculo da dominância eleitoral, uma vez que esta influencia diretamente as chances de
se ter ou não dominância em um município. Em ambientes de baixa competição política existe
maior probabilidade de se obter maior dominância e em ambientes de maior competição política as
chances seriam menores, logo, o índice de dominância deveria ser relativizado pela competição
política. Nesta linha, um candidato concentrado em ambiente de alta competição política se
empenharia mais em ações de pork barrel ao seu reduto eleitoral Bijos (2013).
Nesta pesquisa, seguimos a pista de Bijos (2013), e além das variáveis de alinhamento
político direto, prefeito ser do mesmo partido do presidente, e o alinhamento indireto aonde o
partido do prefeito é do mesmo partido da coalizão do presidente, verificado em ampla bibliografia
nacional acerca do tema, utilizamos a variável de competição política para identificar o efeito da
competição política na distribuição de recursos. Ainda, com relação ao eleitorado, utilizamos outras
variáveis: fração do eleitorado no distrito, para identificar a magnitude do reduto eleitoral frente as
demandas de recursos e a fração de votos perdidos, para identificar a magnitude de importância do
eleitorado.
Como variáveis de controle, utilizou-se os índices: idhm - índice de desenvolvimento
humano municipal - que mede o nível de qualidade de vida no município, logo é um proxy para as
necessidades de demandas das organizações da sociedade civil; e ifgf - índice firjan de gestão fiscal
– que mede o nível de capacidade administrativa da burocracia local se constituindo em um proxy
para o nível de desenvolvimento burocrático municipal.
Constituída portanto, as ideias do: uso das transferências voluntárias federais como mais um
insumo para a prática de políticas distributivas, da competição política como elemento determinante
da democracia e do comportamento dos políticos, dos incentivos que os incumbents possuem para
se locupletarem deste mecanismo, esta pesquisa abordará: (a) uma breve revisão teórica que
relaciona a transferência de recursos com estratégia para cultivar apoio político; (b) uma breve
revisão da literatura acerca das políticas públicas, sua conceituação e tipologias, bem como as suas
arenas de conflitos; (c) uma conceituação sobre as tipologias dos recursos voluntários federais
disponíveis a serem transferidos para as Empresas Sem Fins Lucrativos (ESFL) nos quais as
organizações da sociedade civil ONGs se enquadram, (d) sobre a lógica política dos deputados
federais para o uso distributivo dos recursos voluntários federais ligados às ONGs e suas relações
eleitorais.
De forma sucinta, esta pesquisa pretende verificar se os aspectos políticos interferem na
magnitude de recursos de transferências voluntárias federais per capita (TVF) às organizações da
sociedade civil (ONG) em um município.

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Pretende-se analisar as seguintes hipóteses: (a) O alinhamento partidário direto entre o prefeito e o
presidente influencia negativamente às TVF às ONGs no município; (b) O alinhamento partidário
indireto – ser do mesmo partido da coalizão – entre o prefeito e o presidente influencia
negativamente o valor de TVF às ONGs no município; (c) Quanto menor a fração de votos
destinado a candidatos não eleitos, maior o valor de TVF destinados às ONGs no município; (d)
quanto menor a fração do eleitorado em relação à Unidade Federativa, maior o valor de TVF
destinada às ONGs do município.

2 – TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS, OPOSIÇÃO E ONG’s: CULTIVANDO O APOIO


POLÍTICO

A presente seção apresenta a base teórica que possibilita desenvolver a questão proposta,
para tal desiderato, o político gestor será analisado enquanto ator racional que se comporta de forma
estratégica e motivada politicamente, buscando maximizar seu ganho e minimizar os seus custos em
um contexto que considera a transferência de recurso para outros políticos gestores (aliados e
oposicionistas) e ONG’s.
Como pode ser observado, o pano de fundo para desenvolver a ideia acima se perfaz nos
gastos públicos relacionados às políticas distributivas intergovernamentais. Os estudos acerca desse
assunto geralmente examinam as motivações subjacentes às transferências voluntárias, que se
caracterizam principalmente pelo seu viés discricionário no que se refere à sua disponibilidade por
parte de um poder central (no caso o executivo federal), tal escolha de análise não é despropositada,
vez que, a maior parte das transferências recebidas pelas unidades subnacionais são de outra
natureza, no caso de natureza constitucionais, a qual não persiste justamente o componente
“discricionariedade” por parte do governo central no seu repasse, o que prejudica, portanto,
qualquer análise acerca do comportamento estratégico e motivação política desses atores.
Ademais, vale ressaltar que as transferências intergovernamentais consistem em um
importante mecanismo político utilizado pelo poder central federal com fins políticos e, portanto,
revela a face do caráter realocativo do federalismo (GIBSON, CALVO, FALLETI, 2004;
ARRETCHE, RODDEN, 2004).
As motivações que move essa discricionariedade na alocação das transferências voluntárias
pela unidade nacional podem ser caracterizadas por fundamentos ligados a política ou podem ser
voltadas para a promoção da eficiência econômica e da equidade social, ou seja, podem ser
determinadas tanto para atender a motivação política estratégica de maximização de ganho, quanto
a prestação de serviços públicos de qualidade (AMORIM NETO, SIMONASSI, 2013).
O problema que surge dessa dinâmica seria que em um sistema multinível de governos e

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diversificado de atores (que possuí muitos atores intermediários) o eleitor pode apresentar
dificuldade em distinguir quem efetivamente realizou o gasto público, atribuindo o crédito político a
uma figura que não disponibilizou o recurso. Logo, pode ocorrer eventual sequestro de crédito
político por gestores opositores que recebem recursos do poder central (BUENO, 2014)
Nessa perspectiva, ganha espaço na agenda de pesquisa examinar a motivação política
existente do poder central nacional na alocação de recursos distributivos intergovernamentais. As
explicações existentes defendem que a autoridade central se dirigem aos aliados em níveis
inferiores de governo para recompensá-los e punir oponentes, portanto, o alinhamento com o poder
central é determinante na alocação dos recursos para as unidades subnacionais (ARULAMPALAM
et al., 2009; BROLLO, NANNICINI, 2012; BUENO, 2014). Essa interação será aprofundada
abaixo.
Assim, persiste a preocupação autointeressada do ator imbuído do poder central em garantir
reconhecimento de suas ações credit claim mediante comportamentos que recompensam políticos
gestores aliados, dirimindo possíveis sequestros de créditos políticos por gestores oposicionistas.
Em outras palavras, os políticos que ocupam espaços de poder desejam alocar taticamente recursos
aos eleitores e receber os créditos políticos dessa ação, contudo enfrentam um desafio nessa
intenção, qual seja, eles normalmente contam com agentes, intermediários ou entidades nacionais
subnacionais, para distribuir benefícios ou prestar serviços, que, por sua vez, podem ter objetivos
diferentes do político principal (STOKES ET AL., 2013).
A resposta observada pela teoria ao dilema acima seria apontar o comportamento estratégico
do poder central em manter os detentores subnacionais alinhados, mediante o aumento das
transferências intergovernamentais, em detrimento dos gestores da oposição; visando, dessa
maneira, reduzir a dissidência e maximizar sua própria chance de reeleição, bem como atender os
interesses dos partidos coligados em eleições subnacionais (BROLLO, NANNICINI, 2012;
BERRY, BURDEN, HOWELL, 2010; BARONE, 2014).
Apesar do poder explicativo dessa teoria, Bueno (2014) aponta uma limitação, pois, entende
ser uma descrição incompleta das estratégias utilizadas pelos políticos ocupantes do poder central
porque desconsidera uma variedade de instrumentos disponíveis nessa relação; uma dessas
estratégias, até então pouco debatidas pela teoria, seria entender a alocação de dinheiro para
organizações não estatais (ONG’s) como um caminho do poder central ignorar a oposição e reduzir
o sequestro de crédito político pelos mesmos. Os titulares centrais podem, assim, proporcionar
benefícios aos municípios governados pela oposição, ao mesmo tempo em que reduzem os custos
políticos.
Este trabalho, em grande medida, se inspira e dialoga exatamente com os argumentos da
citada pesquisa de Bueno (2004) que debate como o poder central pode impedir que as unidades

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subnacionais oposicionistas sequestrem benefícios políticos pelos gastos realizados por aquele a
partir de um estudo sobre o Brasil. A pesquisadora baseia sua análise na possibilidade do governo
central alocar recursos para organismos não estatais – ONG’s – que contribuem para o atendimento
das políticas públicas visando ignorar governos subnacionais de oposição, otimizando o credit
claim de suas ações, bem como, neutralizando, o sequestro indesejável dos créditos políticos do
serviço prestado (gasto realizado).
Em um contexto de relações multiníveis com vários atores intermediário, essa nova saliência
da agenda de pesquisa proporciona ampliar os jogos possíveis a serem debatidos do sistema de
transferências voluntárias intergovernamentais, na medida em que revela uma estratégia distributiva
alternativa que fornecem um caminho para o operador central oferecer bens aos eleitores em
distritos governados pela oposição enquanto ignoram os políticos gestores dessas localidades.
Bueno (2014) explica que tal qual os operadores nacionais subnacionais, as ONG’s recebem
fundos do governo para prestar serviços, mas, em contraste com as autoridades locais, eles não
precisam acumular apoio dos eleitores. O tipo de organizações que foi investigado pela
pesquisadora possui duas qualidades distintivas: não são órgãos do estado e não são eleitos.
Portanto, essas organizações não são órgãos do Estado e, embora possam ter afinidades e afiliações
partidárias, as entidades estudadas não são partidos políticos. Essas características tornam mais
difíceis para qualquer titular político reivindicar credit claim pelas atividades das ONG’s. Assim,
enquanto as transferências diretas para os municípios permitem que os prefeitos reivindiquem
crédito político pelo gasto, as dotações para organizações não estatais minimizam a apropriação de
crédito por parte de autoridades locais. Em um cenário de transferências voluntárias que são
instrumentalizados por atores intermediários aliados (otimizadores de credit claim pelo poder
central) ou oposicionistas (possíveis sequestradores desse crédito político), a ONG surge como uma
estratégia alternativa em relação aos gestores opositores na alocação de recursos distributivos por
seu custo político menor. As transferências para organizações não estatais e para os políticos
gestores são, portanto, utilizados estrategicamente e o alinhamento partidário das autoridades locais
que determina o tipo de transferência que é mais atraente para os políticos gestores interessados.
Além disso, é importante ressaltar que cortar as transferências de recurso dos municípios de
oposição pode ocasionar grandes constrangimentos, mais propriamente, o ressentimento dos
eleitores pode ocorrer extensivamente e prejudicar tanto a popularidade dos gestores intermediários
quanto dos gestores principais. Os cidadãos atribuem mudanças no bem-estar de suas vidas -
melhorias e piora - tanto para as autoridades centrais como para as locais (RENNO, 2010).
Denota-se do argumento acima que tanto suprimir as transferências de recursos quanto
ignorar o adversário transferindo recursos por meio das ONG’s geram custos para o poder central,
contudo, essa última estratégia se mostra menos custosa e propicia maior potencial do governo

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principal reclamar os créditos políticos pela oferta da política pública. Em outras palavras, o uso das
ONG’s para intermediar recurso de transferências voluntárias possibilita atender a política pública
desejada, inclusive de eleitores de zonas oposicionistas, bem como diminuem a possibilidade dos
gestores adversários roubar créditos políticos, possibilitando ao governo central aumentar a
reivindicação de créditos por programas geridos por meio dessas organizações.
Estabelecendo como base os argumentos desenvolvidos por Bueno (2004), esta pesquisa
assume que os políticos desejam, por conta de sua autopreservação, recompensar a sua base
eleitoral e cultivar, em todos os cenários, o reconhecimento de suas ações credit claim; para tal
ensejo possuem incentivos para se utilizar da estratégia de transferir recursos por duas formas
principais: a) diretamente para as unidades subnacionais aliadas; e b) por meio de ONG’s nas
unidades subnacionais geridas por opositores2.
As seções posteriores se aprofundam na análise acerca das políticas públicas e suas arenas
de conflito, bem como estabelece entendimento da relação prática entre transferências voluntárias e
ONG’s.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS E SUAS ARENAS DE CONFLITOS

Segundo Secci (2010) apud Muzzi (2140), “uma política pública é uma diretriz elaborada
para enfrentar um problema público”. Desta definição, o autor elenca alguns “nós conceituais”
quanto à sua definição que merecem atenção, tais como: (1) a abordagem estadista ou multicêntrica,
aonde de um lado se identifica o Estado como agente exclusivo para promoção das políticas
públicas e do outro uma participação desconcentrada que permite a participação de outros atores,
ONG's por exemplo, (2) a ideia de que uma política pública pode ser também a ausência de ação,
neste caso desconsideramos esta abordagem da inação, (3) que essa diretriz pode com base em sua
complexidade estar categorizada como: estratégico, tático ou operacional.
Portanto, este estudo parte da definição de que as políticas públicas possuem: abordagem
multicêntrica, pela participação das ONG's no processo de gestão e implementação de políticas
públicas; que as políticas públicas são ações com objetivo de atingimento de impacto social; e que
ações podem ser formuladas e implementadas em todos os níveis burocráticos da estrutura do
Estado e de outros atores envolvidos, muito embora analisaremos a discricionariedade de
transferências de recursos do ente nacional – governo federal – para com os subnacionais –
municípios.
Os tipos de políticas públicas classificadas por Lowi (1964): Distributivas, Regulatória e
Redistributiva, possuem cada qual a sua própria arena de disputa3, aonde os atores tensionam as
2 Objeto de estudo desta pesquisa.
3Arena de disputa é um termo usado para indicar uma zona de conflito aonde atores disputam para serem beneficiados
por determinada política pública.
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relações em busca de atendimento de suas demandas. Essas arenas se classificam com base: “nos
tipos de questões em disputa, as relações custo-benefício dos atores, os tipos de atores e de
lideranças envolvidos, as dinâmicas da tomada de decisão e as autoridades decisórias formais”
Rua (2013).
As Políticas Distributivas são identificadas por políticas pork barrel aonde os benefícios são
concentrados ou individualizados, os custos são difusos ou não facilmente identificável em uma
arena atomizada e pouco conflituosa de apoio recíproco logrolling4 e de práticas clientelistas por
ações de cooptação5.
As Políticas Redistributivas são identificadas por políticas de transferência de recursos ou
benefícios entre grupos de interesses ou classes sociais claramente identificáveis. Possuem grupos
com alto grau de conflito e polaridade de posicionamentos com padrão de jogo soma-zero6.
As Políticas Regulatórias são identificadas pelo estabelecimento de normativas com
benefícios dispersos e custos concentrados. Grupos ou classes sociais com identificação clara de
“ganhadores” e “perdedores” com modelo de negociações e barganhas sendo uma arena instável
pois se organiza em torno de questões e interesses comuns tangenciais.
Um outro ponto de vista, acerca das tipologias das políticas públicas dada por
SALISBURRY E HEINZ (1970) compreende que os fatores variam em função do padrão de
demandas: fragmentado ou integrado, e pelo alto ou baixo custo da tomada de decisões, conforme
ilustrado na figura 1.

Figura 1 - Classificação das Políticas Públicas

Fonte: Salisburry e Heinz (1970) apud Reis (1993)

Das tipologias de Lowi (1964) e o modelo de Salisburry e Heinz (1993) supracitados e


considerando a teoria de Cox e McCubbins (1986) que “sugere que governantes avessos a riscos
tenderão a investir nas regiões das quais receberam apoio nas eleições mais recentes” 7, deduz que
as transferências voluntárias que são de ordem discricionárias dos incumbents e de baixo custo da
tomada de decisão, podem ser usadas como recursos de políticas distributiva de ações pork barrel
com sua base eleitoral - que possui um padrão de demandas fragmentado - e como moeda de troca

4Termo usado na Ciência Política sem tradução literal, mas que indica relações de troca de apoio mútuo.
5Cooptação significa a admissão extraordinária de um ator em um grupo ou à sua associação, com dispensa
das exigências normalmente impostas. RUA (2013)
6Definição aonde um grupo recebe todo o benefício em detrimento de outro grupo que arca com todos os custos.
7Definição de Cox e McCubbins (1986) retirado do artigo de Arretche Rodden(2004)

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para atividades logrolling com os prefeitos e aliados políticos.
Porém a afirmação de que as transferências voluntárias federais aos municípios ocorrem em
função do alinhamento político subnacional, ou seja, em função da motivação política, é algo
controverso, se constituindo numa abordagem reducionista desta questão social. Como exemplo,
Martins (2010) afirma que não existe correlação positiva entre o alinhamento político subnacional e
a distribuição de recursos voluntárias federais, apesar de também afirmar serem encontradas
diferenças significativas no volume desta distribuição ano a ano.
Por outro lado, Bjos (2013) analisando a distribuição de recursos voluntários aos municípios
de Minas Gerais no ano de 2007 à 2011, conclui que o alinhamento político não é um fator inerte
neste processo, para tal, integrou em seu modelo tanto os fatores políticos como: o alinhamento
político direto e indireto, a competição política entre os deputados eleitos; quanto os fatores sócio-
econômicos: capacidade burocrática municipal e nível de desenvolvimento da qualidade de vida.
Ainda, Moutinho e Kniess (2015) em pesquisa que busca identificar correlação entre
variáveis políticas e o nível distribuição das transferências de recursos voluntários federais aos
municípios no ano de 2012, percebeu forte correlação positiva entre o volume das transferências e o
alinhamento político do prefeito com o presidente, e da mesma forma, entre o volume das
transferências e a quantidade de eleitores.
Não obstante, essa lógica da aplicação de recursos de transferência voluntária federal aos
municípios, se inverte quando se trata do objeto deste estudo, visto que os benefícios concentrados
às ONGs para fins de crédit claim pode ser visto como uma forma de transpassar a figura do
incumbent local, dessa forma, sua aplicação seria realizada nos redutos “hostis”.

4. A DISTRIBUIÇÃO DAS TRANSFERÊNCIAS VOLUNTÁRIAS FEDERAIS PARA ONG’s

Cada vez mais a sociedade civil organizada vem se mobilizando de modo a alcançar novos
níveis de engajamento social. Umas das formas de engajamento é pelo que a literatura denomina
como a participação pela via do terceiro setor, ou seja, o que não é ação exclusiva do Estado nem a
ação de entidade privada baseada no lucro. Estas organizações com o propósito de atendimento de
demandas sociais, em causa própria de seus membros ou alheias, são constituídas sob a forma de
entidades privadas sem fins lucrativos, ora simplesmente denominadas organizações da sociedade
civil ou pelo termo internacional, organizações não governamentais, ONGs.
Esses novos atores sociais, visam, portanto, ocupar uma lacuna existente da ausência da
ação do Estado e do alcance de suas políticas públicas como um elo entre o governo, o mercado e a
sociedade civil, por meio de arranjos cooperativos que favoreçam o desenvolvimento de políticas
públicas setoriais.

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Estes arranjos, se constituem em grande parte de pequenas entidades que atuam em rede,
cujos membros possuem livre associação formando uma entidade altamente profissionalizada em
ambiente desburocratizado, onde o foco está centrado nos resultados do alcance de suas finalidades
pretendidas. São entidades que a princípio, são não políticas e buscam ser independente quanto ao
desenvolvimento de suas ações e quanto à sua própria manutenção por meio de captação própria de
recursos.
Não obstante, conforme apontado por Horochovski (2003), verifica-se que muitas destas
organizações não governamentais vivem em algum grau de dependência de recursos
governamentais, o que por um lado deslegitima seu posicionamento apolítico, pois se insere num
contexto de interface dependente dos atores políticos e por outro lado se insere com agente
corresponsável direto pelo auxílio ao Estado nas implementações de políticas públicas.
Neste último aspecto, a atuação das organizações não governamentais junto a uma
determinada população para atendimento de demandas sociais legítimas, pode se constituir também
em uma oportunidade para atuação dos atores políticos que buscam capilarizar e se inserir nestes
ambientes obtendo reconhecimento de suas ações em redutos aonde não possuam dominância.
As organizações não governamentais podem dispor de recursos federais para auxílio nas
execuções de políticas públicas não exclusivas do Estado. Estes recursos, antes do marco
regulatório proferido pela Lei No. 13.019/2014, eram obtidos por meio de convênios entre as partes,
com base no atendimento de demandas de interesse público livremente definidas pelos gestores, ou
seja, a contratação da parceria, bem como, a alocação dos recursos poderiam ser distribuídos
livremente com base em critérios políticos.
A partir do marco regulatório, com vigência em julho de 2015, mudaram-se os critérios para
o estabelecimento das parcerias, nas quais: (1) se estabeleceu que as parcerias sejam realizadas
mediante seleção pública de projetos em um chamamento público, (2) a necessidade de
comprovação de funcionamento de no mínimo três anos das organizações sociais para que estas
sejam habilitadas a participar do certame, (3) que seus membros não sejam filiados a partidos
políticos, não estejam na administração pública, nem foram condenados por improbidade
administrativa (ABONG, 2015).
Estas medidas, em certo grau, reposicionam estas entidades com mais autonomia nas
demandas e execução de recursos públicos visto que o chamamento público, diferente de uma
concorrência pública, incentiva o trabalho cooperativo em rede quando houver disputa pelos
recursos por entes sociais com mesma capacidade de execução dos projetos.
A figura 2 apresenta a evolução das transferências de recursos voluntários federais nos anos
de 2013 à 2016, aonde se percebe uma forte tendência de freio no uso deste mecanismo de gestão
fiscal.

13
Figura 2 – Total de Transferências Voluntárias Federais destinadas aos Municípios
Brasileiros por Convênios/Repasses/Fundo a Fundo e Outros (a) vs Total de
Transferências Voluntárias Federais destinadas às ONGs (b)

Fonte: Elaboração própria com base dos dados do Portal da Transparência do Governo Federal.
Valores deflacionados anualmente utilizando índice BACEN IGP-DI.

Talvez o marco regulatório, pela introdução de nova forma de captação de recurso, maior
disciplina e transparência, acompanhado do aprofundamento da crise política e econômica pelo qual
o Brasil passou nos últimos dois anos, explique a diferença na tendência na disponibilização destes
recursos às essas organizações conforme demostrado.
Enquanto a queda no volume total de recursos de convênios decresceu 2,12% em 2015 e
7,38% em 2016, o volume de recursos destinadas às ONGs decresceu de forma mais significativa,
na ordem de 21,33% em 2015 e 11,86% em 2016.
Pelos dados disponibilizados pelo IPEA (2014), verifica-se a existência de 776.795
organizações da sociedade civil distribuídas regionalmente no Brasil, da seguinte forma: 43,71% na
região Sudeste, 22,78% no Sul, 22,39% no Nordeste, 6,2% no Centro-Oeste e 4,92% no Norte do
país. Percebe-se, portanto, uma forte concentração destas entidades na região Sudeste.
Estas utilizam-se de mão-de-obra com emprego formal no montante de 4.466.940, sendo que
só a região Sudeste perfaz em torno de 59,21% de todo o contingente. Distribuindo-se nas demais
regiões conforme segue: 17,70% na região Sul, 13,53% no Nordeste, 6,56% no Centro-Oeste e 3%
no Norte do país.
Evidente que o fluxo de aplicação dos recursos desta natureza, independentemente de
qualquer motivação política, sofre forte tendência a seguir os padrões geográficos da população de
organizações da sociedade civil e do contingente humano de força de trabalho, que podem ser
identificados pela figura 3.

14
Figura 3 – Porcentual da Distribuição das TVFs agregado pelas Unidades Federativas do
Brasil no período 2013-2016

Fonte: Elaboração própria com base dos dados do Portal da Transparência do Governo Federal.
Valores deflacionados anualmente utilizando índice BACEN IGP-DI.

Observa-se pelas distribuições porcentuais nas unidades federativas dos valores das
transferências voluntárias federais destinadas às empresas sem fins lucrativos, forte concentração do
destino dos recursos à região Sudeste, em evidente correlação com a quantidade de entidades e
recursos humanos.
Em todos os anos observados, percebe-se a forte participação na captação destes recursos,
do Distrito Federal e das unidades federativas do: Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais e de modo agregado a região Sul do país.
Um dado que chama a atenção quanto à distribuição dos recursos é o caso do Distrito
Federal, que muito embora possua 9.355 organizações da sociedade civil (1,2 % do total no Brasil)
e 88.893 dos empregados formais destas entidades (2% do total no Brasil), consiga captar em torno

15
de 33,09% em 2013, 37,26% em 2014, 36,59% em 2015 e 30,34% em 2016, de todos os recursos
destinados à organizações da sociedade civil nos respectivos anos. Em outras palavras, na média de
todo o período observado, 34,32% destes recursos discricionários são destinados a um distrito que
não representa significativamente o volume de organizações da sociedade civil, nem o volume de
pessoas formalmente empregadas que atuam nas ONGs no Brasil.
Talvez a uma possível explicação, que cabe maiores investigações, seja devido ao
favorecimento às organizações da sociedade civil que se instalam na capital do país e, em virtude da
proximidade com o poder político, cooptando e cooptado em ações de casework, realizam a
captação de recursos junto à burocracia federal e realizam a posteriori, a distribuição destes recursos
aos locais apropriados da finalidade da ação social em outras unidades da federação8.

5. DETERMINANTES DAS TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS VOLUNTÁRIAS


FEDERAIS PARA ONG’S NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Toda a pesquisa empírica valeu-se prioritariamente de dados secundários provenientes de


instituições de pesquisa e órgãos oficiais do Brasil. As informações foram obtidas dos seguintes
repositório de dados: (a) do Portal da Transparência do governo federal, para identificação dos
pagamentos realizados por meio de transferências de recursos federais; (b) do Tribunal Superior
Eleitoral TSE, para obtenção dos dados de votos e relação de candidatos; (c) do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), para obtenção dos quantitativos de população; (d) do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para obtenção de dados relativos às organizações da
sociedade civil; (e) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para
obtenção dos dados de desenvolvimento humano nos municípios; (f) da Federação das Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), para coleta do índice de gestão fiscal dos municípios.
Foram analisadas variáveis que medem diferentes condicionantes para as transferências de
recursos, tais: condicionantes políticas, redistributivas e de capacidade burocrática.
A variável dependente a ser explicada é o valor total per capta (VLP), das transferências de
recursos voluntários federais direcionadas às organizações da sociedade civil em um município. A
unidade de agregação portanto se encontra no distrito municipal.
As variáveis que investigam os condicionantes políticos, são: alinhamento politico entre o
partido do prefeito e o partido do presidente (PPRES); o alinhamento político indireto entre o
partido do prefeito e os partidos que formam a coalizão do governo federal (PCOAL); o nível de
desigualdade dos votos na competição política para identificar a concentração de votos dados aos
deputados federais eleitos que tiveram votos no município (CPOL); fração dos votos dados a
8 Esta hipótese não é trabalhada nesta pesquisa mas se apresentou como um outlier evidente na análise dos dados,
cabendo maiores investigações para identificação deste comportamento da distribuição destes recursos.
16
políticos não eleitos no município ponderado pela quantidade de votos na unidade federativa
(FRVTPERD); e a fração do eleitorado municipal, ponderado pela quantidade do eleitorado no
Estado (FRELEITMUN).
A variável IDHM, investiga o condicionante redistributivo das transferências
intergovernamentais pela promoção das desigualdades sociais. Este indicador atua como um proxy
para as demandas de necessidades não atendidas pelo setor público como oportunidade de atuação
das organizações da sociedade civil em atendê-las.
A variável IFGF, mede o nível de capacidade de gestão fiscal dos municípios e é utilizada
nesta pesquisa como um proxy condicionante da capacidade burocrática dos municípios. Um
município bem gerido do ponto de vista da saúde fiscal, tende a estar mais alinhado com as
demandas municipais.

5.1 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS

A variável dependente deste estudo é VLP, que consiste no valor total de transferência de
recursos voluntárias federais per capita encaminhada às organizações da sociedade civil em um
determinado município. Porém, para fins de análise estatística esta variável foi transformada para
log na base 100 de modo a ser possível sua interpretação em porcentual.
Figura 4 – Gráficos da distribuição dos valores per capita das transferências de recursos
voluntárias federais às ONGs

Fonte: Elaboração própria.

Analisando os dados da figura 04 para cada ano de análise, nota-se uma distribuição bimodal
17
nos gráficos de histograma, além de diversos outliers nos gráficos de boxplot. Através desta
identificação de populações estatisticamente diferentes, optou-se por realizar a experimentação dos
modelos por extratos dos municípios. A estratificação foi definida com base no valor total de
recursos recebidos pelos municípios e em função da distribuição dos dados nos gráficos de
histograma da figura 04.
Por esta análise, foram definidos os limites dos extratos, em: (a) municípios que receberam
até R$ 55 mil, (b) municípios que receberam entre R$ 55mil e R$ 1,3 milhão, (c) municípios que
receberam entre R$ 1,3 milhão e R$ 15 milhões e (d) municípios que receberam acima de R$ 15
milhões.
Com base nesta estratificação e na remoção dos outliers de cada amostra, a figura 5
apresenta os gráficos destas distribuições que foram objeto de análise do modelo estatístico.
Figura 5 – Gráficos da distribuição dos valores per capita das transferências de recursos
voluntárias federais às ONGs por ano e por extrato.

Fonte: Elaboração própria.

As variáveis PPRES e PCOAL, são variáveis dummy representadas por 1 quando o partido
do prefeito é o mesmo do partido do presidente ou dos partidos da coalizão, respectivamente, e 0
quando não pertence a nenhum dos grupos.
A variável CPOL, é um índice de gini que representa a desigualdade de distribuição dos
votos dados pelos eleitores do município aos deputados federais eleitos, ponderado pela razão entre
quantidade de deputados eleitos que receberam votos e a quantidade total de deputados eleitos na
unidade federativa Bjos (2013).
18
Muito embora a teoria afirme que a distribuição dos recursos depende do alinhamento
político no executivo, pois é este o formulador das políticas públicas e detentor dos recursos
discricionários a disposição das ONGs, as disputas eleitorais nos municípios são fortemente
influenciadas pelas clivagens partidárias dentro do Estado. Ainda, sabendo que a burocracia de
primeiro nível no âmbito do executivo federal é distribuído e ocupado pelos partidos que compõem
a coalizão do governo, evidente se inferir que a competição política que influência o
comportamento casework político é relacionado ao crédit claim que favorece primeiramente o
político local, por esta razão, esta variável de análise se refere à competição política intra unidade
federativa, ou seja, entre os deputados federais eleitos e não em relação à competição política ao
cargo de presidente.
Esta variável, CPOL, possui variação de 0 a 1, aonde 0 representa a igualdade na
distribuição dos votos e 1 representa total desigualdade na distribuição dos votos. Quanto maior este
índice, maior o grau de concentração dos votos a um determinado deputado federal eleito.
A variável FRVTPERD, possui amplitude de 0 a 1 e mede a quantidade de votos destinados
a deputados federais que não foram eleitos, ou seja, a quantidade de votos perdidos no município.
Quanto menor o valor maior a quantidade de votos dados a deputados eleitos e consequentemente
maior a representatividade política do município.
A variável FRELEITMUN, possui variação de 0 a 1 e indica a proporção do eleitorado no
município em relação ao total no Estado. Essa variável indica o peso do eleitorado municipal no
espectro político. Para fins de tratamento estatístico essa variável foi transformada utilizando-se o
log na base 100 para permitir análise porcentual.
A variável IDHM, possui variação de 0 a 1 sendo um índice de desenvolvimento humano
municipal. Quanto menor este índice menos desenvolvido é o município e mais dependente de
ações cooperadas por organizações governamentais por meio de transferências de recursos federais.
Foi utilizado o valor do índice de anos anteriores aos municípios que não possuíam medição de
idhm no ano em vigor.
A variável IFGF, possui variação de 0 a 1 sendo um índice de gestão fiscal, composto por
cinco indicadores municipais: receita própria, gastos com pessoal, investimentos, liquidez e custo
da dívida municipal. Quanto mais próximo de 1 melhor a situação fiscal do município.
Muito embora a capacidade de captação de recursos federais pelas ONGs não seja
dependente da capacidade fiscal do município, este indicador pode ser usado como um proxy para o
desenvolvimento da capacidade burocrática no município que se relaciona com maior capacidade de
desenvolvimento das políticas públicas do município e consequentemente menor necessidade de
ações por sociedades da organização civil.
Na figura 6 é apresentado o mapa de correlações entre as variáveis dos extratos. Nota-se que

19
há correlação negativa variando a intensidade entre fraca e moderada, entre a variável dependente
VLPLOG e a variável independente FRELEITMUN em todos os anos e em todos os extratos
variando a intensidade, pois o valor per capita da população se relaciona com a população de
eleitores no município. Ainda, há a correlação negativa moderada entre as variáveis independentes
CPOL e FRELEITMUN nos extratos 3 e 4 de forma moderada, exceto no extrato 4 ano de 2013,
aonde a correlação é forte.
Figura 6 – Mapa de Correlação entre as variáveis do Modelo por Extrato e Ano.

Fonte: Elaboração própria. As linhas se referem aos extratos e as colunas aos anos da análise 2013 à 2016.

Ainda, as variáveis dummy relacionadas ao pertencimento ao partido do presidente (PPRES)


e aos partidos da coligação (PCOAL) apresentam correlação moderada positiva no extrato 4 no ano
de 2014.

20
5.2 HIPÓTESES E MODELO
As hipóteses desta pesquisa são que as ONGs de um município que recebem mais recurso de
transferência voluntária da União:
H1: → se o partido do prefeito não é o mesmo do partido do presidente (PPRES);
H2: → se o partido do prefeito não pertence aos partidos da coalizão presidente (PCOAL);
H3: → quanto menor a competição política (CPOL);
H4: → quanto menor a fração de votos destinados a deputados não eleitos (FRVTPERD);
H5: → quanto menor a fração do eleitorado no município (FRELEITMUN);
H6: → quanto menor o índice de desenvolvimento humano do município (IDHM);
H7: → quanto menor o índice firjan de gestão fiscal do município (IFGF).

5.2 RESULTADOS

Para testar as hipóteses, foi utilizado o método estatístico de regressão linear múltipla para
cada extrato dos dados, de modo a identificar as relações causais entre as variáveis independentes
em relação a variável dependente por faixa de recursos recebidos, nos modelos.
Na tabela 1, verifica-se a relação causal negativa e significativa no Extrato 1: IDHM,
FRELEITMUN, FRVTPERD (exceto no ano de 2015) e CPOL em todos os anos desta amostra,
apontando para a confirmação das hipóteses: 3, 4, 5 e 6.
Na tabela 2, verifica-se a relação causal negativa e significativa no Extrato 2: IFGF – nos
anos de 2014 e 2015, FRELEITMUN em todos os anos, FRVTPERD em todos os anos, CPOL em
todos os anos, e PPRES no ano de 2013, apontando para a confirmação das hipóteses: 3, 4, 5 e de
forma parcial nas hipóteses: 1 e 7.
Na tabela 3, verifica-se a relação causal negativa e significativa no Extrato 3:
FRELEITMUN em todos os anos, FRVTPERD em todos os anos, apontando para a confirmação
das hipóteses: 4, 5.
Na tabela 4, verifica-se a relação causal negativa e significativa no Extrato 4:
FRELEITMUN nos anos de 2013, 2014 e 2015, FRVTPERD nos anos 2014 e 2015, PPRES nos
anos de 2013, 2014 e 2015e relação causal positiva e significativa no ano de 2013 da variável
independente PCOAL. Desta forma, apontando para a confirmação parcial das hipóteses: 1, 4 e 5 e
contrariamente ao estabelecido na hipótese 2 apresenta no ano de 2013 relação causal significativa
positiva à variável PCOAL.

21
Tabela 01 – Estimativas dos Modelos de Regressão Linear Múltipla
sobre Transferências Voluntárias Federais per capita destinadas às
ONGs nos Municípios do Brasil (Extrato 1*)
Coeficientes Estimados
Variáveis Independentes (Valor p)
2013 2014 2015 2016
-0,219** -0,230** -1,055*** -0,252**
IDHM (0,018) (0,035) (0,003) (0,012)
0,038 0,186*** 0,127 0,156***
IFGF 0,261 (0,000) (0,369) (0,000)
-0,387*** -0,383*** -0,419*** -0,368***
FRELEITMUN (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
-0,078*** -0,078*** 0,064 -0,118***
FRVTPERD (0,000) (0,005) (0,569) (0,000)
-0,244*** -0,220*** -0,344** -0,198***
CPOL (0,000) (0,000) (0,050) (0,000)
-0,018 -0,020 0,009 0,015
PPRES (0,147) (0,179) (0,878) (0,230)
-0,003 0,001 -0,031 -0,001
PCOAL (0,702) (0,902) (0,412) (0,884)
-0,467*** -0,552*** 0,220 -0,449***
INTERCEPTO (0,000) (0,000) (0,339) (0,000)
Critérios dos Testes Estatísticas - (Valor p)
Observações (n) 940 964 44 997
R2 0,455 0,348 0,570 0,338
R2 Ajustado 0,451 0,344 0,502 0,333
112,3 73,76 8,352 72,89
Teste F de Significância (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
Erro Padrão Residual 0,1205 0,1431 0,1228 0,1455
Fonte: Elaboração Própria.
*Municípios com valor anual de TVF às ONGs, menor ou igual a R$ 55 mil
Significação p-valor: ≤ 0,01 ***, ≤ 0,05 **, < 0,1 *

Tabela 02 – Estimativas dos Modelos de Regressão Linear Múltipla


sobre Transferências Voluntárias Federais per capita destinadas às
ONGs nos Municípios do Brasil (Extrato 2*)
Coeficientes Estimados
Variáveis Independentes (Valor p)
2013 2014 2015 2016
-0,038 -0,416* -0,241 -0,487**
IDHM (0,871) (0,091) (0,217) (0,024)
-0,032 0,252** 0,323*** 0,074
IFGF (0,717) (0,014) (0,000) (0,375)
-0,521*** -0,532*** -0,408*** -0,484***
FRELEITMUN (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
-0,250*** -0,414*** -0,295*** -0,392***
FRVTPERD (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
-0,416*** -0,607*** -0,475*** -0,580***
CPOL (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
-0,070*** -0,044 0,045* 0,040
PPRES (0,008) (0,184) (0,074) (0,141)
0,027 0,053** 0,007 0,005
PCOAL (0,221) (0,041) (0,697) (0,798)
0,210 0,437*** 0,395*** 0,688***
INTERCEPTO (0,179) (0,005) (0,008) (0,000)
Critérios dos Testes Estatísticas - (Valor p)
Observações (n) 329 348 379 386
R2 0,505 0,4458 0,3544 0,4607
R2 Ajustado 0,4944 0,4347 0,3425 0,4509
47,94 40 29,73 47,1
Teste F de Significância (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
Erro Padrão Residual 0,1806 0,2168 0,176 0,1909
Fonte: Elaboração Própria.
* Municípios com valor anual de TVF às ONGs, entre R$ 55 mil e R$ 1,3 milhões
Significação p-valor: ≤ 0,01 ***, ≤ 0,05 **, < 0,1 *

22
Tabela 03 – Estimativas dos Modelos de Regressão Linear Múltipla
sobre Transferências Voluntárias Federais per capita destinadas às
ONGs nos Municípios do Brasil (Extrato 3 *)
Coeficientes Estimados
Variáveis Independentes (Valor p)
2013 2014 2015 2016
-0,723* -0,482 -0,709 -0,280
IDHM (0,070) (0,277) (0,105) (0,462)
-0,042 0,126 0,227* -0,011
IFGF (0,746) (0,465) (0,082) (0,937)
-0,350*** -0,489*** -0,644*** -0,461***
FRELEITMUN (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
-0,107 -0,113 -0,180* -0,119
FRVTPERD (0,151) (0,249) (0,054) (0,162)
-0,251** -0,372** -0,68682*** -0,5369***
CPOL (0,037) (0,011) (0,000) (0,000)
-0,011 -0,043 0,037 -0,096**
PPRES (0,802) (0,442) (0,482) (0,019)
0,052* 0,019 -0,056 0,040
PCOAL (0,077) (0,617) (0,136) (0,211)
1,1061*** 0,77843*** 1,0508*** 0,843***
INTERCEPTO (0,000) (0,008) (0,000) (0,002)
Critérios dos Testes Estatísticas - (Valor p)
Observações (n) 103 71 99 76
R2 0,4153 0,4537 0,5553 0,538
R2 Ajustado 0,3756 0,3998 0,5239 0,4954
10,45 8,422 17,66 12,64
Teste F de Significância (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)
Erro Padrão Residual 0,1423 0,1576 0,1657 0,1228
Fonte: Elaboração Própria.
* Municípios com valor anual de TVF às ONGs, entre R$ 1,3 à R$ 15 milhões
Significação p-valor: ≤ 0,01 ***, ≤ 0,05 **, < 0,1 *

Tabela 04 – Estimativas dos Modelos de Regressão Linear Múltipla


sobre Transferências Voluntárias Federais per capita destinadas às
ONGs nos Municípios do Brasil (Extrato 4 *)
Coeficientes Estimados
Variáveis Independentes (Valor p)
2013 2014 2015 2016
-0,389 1,1194 0,110 1,210
IDHM (0,813) (0,532) (0,913) (0,460)
-0,031 0,259 0,388 -0,778
IFGF (0,962) (0,634) (0,301) (0,098)
-0,800** -0,921*** -0,447** -0,555*
FRELEITMUN (0,037) (0,007) (0,044) (0,090)
-0,522 -1,070** -0,878*** -0,481
FRVTPERD (0,258) (0,041) (0,004) (0,291)
-0,464 -0,911 -0,168 -0,111
CPOL (0,470) (0,238) (0,712) (0,874)
-0,353** -0,5669** -0,309*** 0,236
PPRES (0,029) (0,015) (0,004) (0,220)
0,359*** 0,269 0,002 0,022
PCOAL (0,009) (0,118) (0,969) (0,871)
1,119 0,362 0,896 0,312
INTERCEPTO (0,369) (0,750) (0,218) (0,751)
Critérios dos Testes Estatísticas - (Valor p)
Observações (n) 16 17 10 12
R2 0,533 0,5527 0,868 0,6516
R2 Ajustado 0,3287 0,3685 0,7756 0,4484
2,609 3 9,394 (0,001) 3,206 (0,036)
Teste F de Significância (0,053) (0,030)
Erro Padrão Residual 0,2292 0,2559 0,1157 0,2054
Fonte: Elaboração Própria.
* Municípios com valor anual de TVF às ONGs, acima de R$ 15 milhões
Significação p-valor: ≤ 0,01 ***, ≤ 0,05 **, < 0,1 *

23
6. CONCLUSÃO

Conforme verificado nos resultados analisados, percebe-se que os efeitos variam em relação
aos extratos, que por sua vez definem o caráter de atuação na captação de recursos de transferências
federais das organizações da sociedade civil.
De modo geral, o tamanho do eleitorado se relaciona em quase todos os anos dos extratos
porém deve ser observado que esta variável possui moderada correlação com a variável dependente.
Ainda, a quantidade de votos perdidos explica a menor captação de recursos em municípios
que receberam até 1,3 milhões, ou seja, mais de 90% dos municípios brasileiros.
A competição política por sua vez identificada pela concentração dos votos dos deputados
federais eleitos se mostra causal de modo significativo em todos os municípios que receberam
valores até R$ 15 milhões, ou seja, a grande maioria (99%) dos municípios brasileiros.
A influência de pertencer ao partido do presidente só possui efeito explicativo no extrato 4,
ou seja, nos grandes centros urbanos ou nas capitais.
De forma contraria ao que propomos na hipótese 2, pertencer ao partido da coalizão somente
se mostrou significativo nas amostras 2 no ano de 2014 e na amostra 4 no ano de 2013, porém
indicando pela relação positiva, que o alinhamento político indireto do prefeito, influencia em mais
recursos oriundos de transferências voluntárias federais às ONGs.
Esta análise exploratória está em fase inicial - em sua primeira versão - e novas variáveis
poderão compor este modelo explicativo, tais como: a competição política, a fração do eleitorado e
de votos perdidos em relação ao cargo presidencial; a análise em relação ao ciclo eleitoral, dentre
outras.
Ainda, pretende-se verificar a relação anormal do fluxo de recursos de transferências
voluntárias federais ao distrito federal. Esta anormalidade se situa na quantidade expressiva de
captação de recursos, da ordem de 34% de todos os valores transferidos em função do pequeno
porcentual da quantidade de organizações da sociedade civil e consequentemente de empregados
formais disponíveis na região.

24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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