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ALIMENTAÇÃO ESCOLAR E GESTÃO MUNICIPAL | 595

ORIGINAL | ORIGINAL

O programa nacional de alimentação


escolar e a gestão municipal: eficiência
administrativa, controle social e
desenvolvimento local

National school meal program and municipal


administration: management efficiency, social
participation and local development

Walter BELIK 1
Nuria Abrahão CHAIM2

RESUMO

Objetivo
Avaliar o perfil da gestão pública municipal do Programa Nacional de Alimentação Escolar de 670 prefeituras
inscritas no Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, entre os anos de 2004 e 2005.
Métodos
Este estudo foi realizado a partir da inscrição de municípios de todo o Brasil no Prêmio Gestor Eficiente da
Merenda Escolar, organizado pela Organização Não Governamental Ação Fome Zero. A inscrição é feita de
forma voluntária e os municípios fornecem informações em relação a aspectos financeiros, formas de
administração do Programa, compra de produtores rurais, atuação do Conselho de Alimentação Escolar e
outras ações relacionadas à execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Em seguida, a
Organização Não Governamental confere os dados comparando-os com relatórios oficiais, a partir da
realização de visitas.
Resultados
Verificou-se que a principal forma de administração do Programa Nacional de Alimentação Escolar é a
centralizada (citada por mais de 80% das prefeituras inscritas nos dois anos). A grande maioria dos municípios
inscritos em 2004 (90,1%) e em 2005 (84,0%) complementou o repasse de recursos do Governo Federal. O
custo médio da refeição foi de R$0,31 (para as inscritas em 2004) e de R$0,34 para as inscritas em 2005. Em
relação à compra de gêneros alimentícios, 26,1% das prefeituras inscritas em 2004 e 30,4% das inscritas em
2005 declararam comprar diretamente de produtores rurais.

1
Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Cidade Universitária Zeferino Vaz, Caixa Postal 6135,
13083-970, Campinas, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: W.BELIK <belik@eco.unicamp.br>.
2
Universidade de Karlsruhe, Instituto de Estudos Regionais. Alemanha.

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Conclusão
A execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar assume características próprias em cada município
brasileiro. Identificar o perfil da administração pública, assim como as características das prefeituras que se
destacaram no Prêmio, permite a implantação de ações que melhorem a execução do Programa.
Termos de indexação: Administração pública. Alimentação escolar. Políticas públicas. Programas e políticas
de nutrição e alimentação.

ABSTRACT

Objective
The objective was to assess the municipal public management profile of the National School Meal Program in
670 municipalities enrolled in the Efficient Manager of School Meals Prize between 2004 and 2005.
Methods
This study was based on the enrollment of municipalities throughout Brazil in the Efficient Manager of School
Meals Prize, organized by the non-governmental organization Ação Fome Zero (Zero Hunger Action). Enrollment
is voluntary and the municipalities supply information regarding the financial aspects and ways to administer
the Program, purchase of produce, participation in the School Food Council and other activities associated
with the National School Meal Program. The non-governmental organization then checks the data by comparing
it with official reports done during visits.
Results
The National School Meal Program is mainly administered in a centralized manner as declared by more than
80% of the city halls enrolled during those two years. Most of the municipalities enrolled in 2004 (90.1%) and
2005 (84.0%) added funds to those received from the federal government. The average cost of the meal was
R$0.31 for the municipalities enrolled in 2004 and R$0.34 for those enrolled in 2005. Regarding produce
purchase, 26.1% of the city halls enrolled in 2004 and 30.4% of those enrolled in 2005 declared having
bought straight from producers.
Conclusion
Each Brazilian municipality has its own way of carrying out the National School Meal Program. Identifying the
profile of the public administration as well as the city halls that performed well in the Prize allows for the
implementation of actions that improve the execution of the Program.
Indexing terms: Public administration. School meals. Public policies. Food and nutrition programs and
policies.

INTRODUÇÃO contexto, o PNAE pode ser considerado um impor-


tante programa de garantia à segurança alimentar
O Programa Nacional de Alimentação no Brasil2,3.
Escolar (PNAE) completou, em 2004, 50 anos de
A definição clássica do conceito de Segu-
existência. Após mais de meio século de fun-
rança Alimentar deriva das resoluções tomadas
cionamento, o PNAE está presente em quase todos
na Cúpula Mundial da Alimentação, realizada pela
os municípios brasileiros e é considerado o maior
Food and Agriculture Organization (FAO), em
programa de suplementação alimentar no Brasil,
Roma, no ano de 1996, a saber: “A segurança
tendo em vista sua abrangência e seu alcance1.
alimentar existe quando toda pessoa, em todo
A alimentação escolar desempenha um momento, tem acesso físico e econômico a alimen-
papel fundamental no processo de aprendizagem tos suficientes, inócuos e nutritivos para satisfazer
e desenvolvimento do aluno, ao mesmo tempo suas necessidades alimentares e preferências
em que também garante um suprimento mínimo quanto aos alimentos a fim de levar uma vida
de alimentos às populações carentes. Dentro desse saudável e ativa”4.

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O presente trabalho utiliza o banco de material didático-escolar, transporte, alimentação


dados de ações municipais em alimentação escolar e assistência à saúde”6.
montado a partir das centenas de inscrições rece- Outro grande avanço ocorreu em 1994, a
bidas por ocasião do Prêmio Gestor Eficiente da partir da descentralização do Programa Nacional
Merenda Escolar, organizado pela Organização de Alimentação Escolar (Lei n. 8913)7. Com a
Não Governamental (ONG) Ação Fome Zero, nos descentralização, a Fundação de Assistência ao
anos de 2004 e 2005. Estudante (FAE), órgão vinculado ao Ministério da
A ONG Ação Fome Zero é uma associação Educação e Cultura e responsável pelo PNAE,
civil sem fins lucrativos, criada em 2003 e mantida estabeleceu convênios com estados e municípios
por contribuições de empresas, com o objetivo de para o repasse de recursos financeiros8. Mas este
elaborar e implantar projetos na área de segurança repasse ficou condicionado à criação dos Con-
alimentar, entre eles o Projeto Gestão Eficiente selhos de Alimentação Escolar (CAE) em cada
da Merenda Escolar, que proporcionou a geração estado e município do País, que deveriam fiscalizar
do banco de dados utilizado no presente trabalho. e controlar a aplicação dos recursos destinados à
A entidade lançou essa nominação visando a dar merenda escolar e também acompanhar a elabo-
destaque aos municípios com melhor desem- ração dos cardápios (atividade que passou a ser
penho na gestão do Programa Nacional de Alimen- de responsabilidade dos estados e municípios)9.
tação Escolar. A partir das informações fornecidas A partir de 1997, a Fundação de Assistência
pelas prefeituras inscritas, conferidas pelo corpo ao Estudante (FAE) foi substituída pelo Fundo Na-
técnico da entidade, foi possível tecer parâmetros cional de Desenvolvimento da Educação (FNDE),
de atuação, identificar o que as boas adminis- desde então responsável pelo Programa Nacional
trações municipais estão realizando e, finalmente, de Alimentação Escolar.
apresentar conclusões e recomendações sobre o
A administração da alimentação escolar
tema.
de forma descentralizada permitiu racionalizar a
logística e os custos de distribuição dos produtos,
Histórico do programa nacional de além de viabilizar o oferecimento de uma alimen-
alimentação escolar tação escolar condizente com os hábitos da
população nas diferentes localidades do País. As
O Programa Nacional de Alimentação compras institucionais descentralizadas também
Escolar teve origem em 1954, com a criação da abriram a possibilidade de inserção da pequena
Comissão Nacional de Alimentação (CNA), empresa, do comércio local, do pequeno produtor
vinculada ao setor de Saúde Pública do Ministério agrícola e da pecuária local nesse mercado
da Saúde. Denominado, à época, Programa Na- institucional. E a criação dos CAE por sua vez
cional de Merenda Escolar, seu objetivo principal possibilitou aos membros da comunidade escolar
era reduzir a deficiência nutricional de estudantes uma maior proximidade em relação à gestão do
carentes do Brasil5. PNAE.
Na sua fase inicial, o Programa tinha uma O CAE, a partir de 2000, passou a ser
ação focalizada, mas, com o tempo, foi ganhando constituído por sete membros: um representante
abrangência nacional e, em 1988, a alimentação do Poder Executivo, um do Legislativo, dois repre-
escolar passou a ser um direito garantido pela sentantes de professores, dois de pais de alunos e
Constituição5. Segundo o Artigo 208 da Consti- um representante da sociedade civil10. O Conselho
tuição Federal, “O dever do Estado com a educa- é um órgão deliberativo, fiscalizador e de assesso-
ção será efetivado mediante a garantia de: VII ramento, sendo que, entre suas funções, estão:
atendimento ao educando, no ensino funda- acompanhar a aplicação dos recursos federais,
mental, a partir de programas suplementares de zelar pela qualidade dos produtos adquiridos para

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o Programa e também emitir um parecer anual escolar. O lançamento do prêmio foi realizado em
sobre as prestações de contas do PNAE. Esse pare- 2004, e em 2005 foi realizada a 2ª edição. O
cer pode fazer com que os futuros repasses sejam formulário de inscrição, composto de diversas
interrompidos, caso seja constatada alguma irregu- perguntas que deveriam ser respondidas pela
laridade na gestão municipal ou estadual11. própria prefeitura, foi enviado a todos os municí-
Atualmente, o Programa Nacional de Ali- pios do País.
mentação Escolar é considerado o maior programa Com a utilização das informações contidas
de suplementação alimentar no Brasil, o que se nos formulários, foi elaborado um ranking dos
revela em termos de número de beneficiários e municípios, a partir da combinação de diferentes
municípios atendidos. Para ter uma idéia do que indicadores. Os indicadores quantitativos conside-
representam estes números, 36,4 milhões de raram aspectos financeiros, nutricionais, impactos
beneficiários em 200512 correspondiam a cerca do Programa na economia local e atuação do
de 20% da população brasileira (considerando a Conselho de Alimentação Escolar. A composição
estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e de cada grupo de indicadores, elaborada com base
Estatística (IBGE) para o mesmo ano13) ou, ainda, nas edições de 2004 e 2005 do Prêmio Gestor
cerca de 70% da população da faixa etária corre- Eficiente da Merenda Escolar, é descrita a seguir.
lata - de 0 a 14(3), cuja adesão, segundo dados da
Aspectos financeiros: complementação
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
municipal em relação ao recurso total para o
(PNAD) de 2004 era de 97,3% para creches,
PNAE; complementação municipal em relação à
92,3% para pré-escola e 83,8% para o ensino
receita total bruta do município; recurso total gasto
fundamental.
por aluno em relação à receita bruta do município
Em termos de evolução da cobertura, o
per capita; recursos não gastos em relação ao
PNAE atendia um total de 137 municípios em
recurso disponível.
1955, fornecendo refeições para 85 mil crianças,
no ano de sua criação. Passados 50 anos, o Pro- Aspectos nutricionais: número de refeições
grama cobre, praticamente, todos os municípios por aluno; número de alunos por nutricionista;
do País e atendeu em 2005, como já ressaltado, número de refeições por merendeira; número de
36,4 milhões de crianças e adolescentes da edu- escolas com refeitório; freqüência de cursos de
cação infantil e do ensino fundamental da rede educação alimentar para alunos e capacitação
pública de ensino12. Em 2009, o PNAE passou a para merendeiros; dias de atendimento; adequa-
atender também, obrigatoriamente, o ensino ção nutricional do cardápio declarado.
médio configurando-se como um dos maiores Desenvolvimento local: recursos gastos
programas de atendimento universal na área de com produtores locais em relação ao total de
educação no cenário mundial.
recursos; quantidade de itens adquiridos; presença
de escolas com hortas.
MÉTODOS
Atuação do Conselho de Alimentação
Escolar: número de reuniões do CAE; forma de
Perfil dos municípios analisados nas escolha do representante da sociedade civil
edições de 2003 e 2005
Além dos indicadores quantitativos apre-
O Prêmio Gestor Eficiente da Merenda sentados, os municípios inscritos no Prêmio Gestor
Escolar foi elaborado pela ONG Ação Fome Zero, foram avaliados qualitativamente, considerando
com o objetivo de avaliar e classificar as prefeituras os projetos desenvolvidos e outras iniciativas devi-
do Brasil com relação à gestão da alimentação damente anexadas ao formulário de inscrição.

3
População estimada pelo IBGE para 2005: 184.184.264 e a população de 0 a 14: 50.069.427.

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RESULTADOS recursos gastos com alimentação escolar;


R$29.618.060.553,77 em receita municipal bruta
Nas duas primeiras edições do prêmio, 729 R$996,35 de receita por habitante.
prefeituras se inscreveram (396 em 2004 e 333
Dos dados gerais apresentados acima,
em 2005). Retirando-se as desclassificadas (por
verifica-se que, para cada aluno, foi gasto, entre
documentação incompleta ou pelo envio do
os municípios inscritos em 2004, aproximada-
formulário fora do prazo de inscrição), 670 pre-
mente, R$61,00 durante o ano letivo, em que
feituras foram analisadas (383 em 2004 e 287
foram servidas 197 refeições por aluno (o que
em 2005). A partir desse conjunto de questionários
daria, aproximadamente, uma refeição por dia
aplicados a um número expressivo de prefeituras, por aluno durante os 200 dias previstos pela
foi possível traçar um perfil da execução do PNAE Resolução do PNAE). Entre os inscritos em 2005,
nos dois anos mencionados. o valor gasto por aluno durante o ano letivo ficou
São apresentados abaixo alguns aspectos em, aproximadamente, R$67,00 e 198 foi o núme-
relevantes desta análise. Todos os dados referem- ro médio de refeições servidas por aluno durante
-se aos anos de 2003 e 2004 (que correspondem o ano letivo. Estes dados médios serão analisados
ao período de análise estabelecido na inscrição), com mais detalhes nos itens seguintes.
e não permitem comparação já que o grupo de Frente ao número de inscritos no Prêmio,
municípios inscritos em um ano é totalmente observa-se que grande parte é proveniente das
independente do grupo de inscritos do ano subse- Regiões Sudeste e Sul do País, conforme descrito
qüente. na Tabela 1.
Inscrições feitas em 2004 (dados referentes Muito embora haja uma predominância da
a 2003) foram: 383 municípios; 41.376.423 Região Sudeste quanto ao número de inscrições,
habitantes; 12.756 escolas; 4.694.458 alunos quando relacionados com o número de municípios
(11,3% do número de habitantes); 923.158.246 de cada região, a distribuição se modifica, e, nota-
refeições servidas; R$286.307.148,79 de -se que a participação da Centro-Oeste em relação
recursos gastos com alimentação escolar; ao número de municípios da região não fica tão
R$36.588.712.325,06 em receita municipal bruta; distante das Regiões Sul e Sudeste
R$884,29 de receita por habitante.
Inscrições feitas em 2005 (dados referentes As formas de gestão do PNAE
a 2004) foram: 287 municípios; 29.726.578
habitantes; 9.045 escolas; 3.435.492 alunos Existem duas modalidades de operaciona-
(11,6% do número de habitantes); 680.457.297 lização do Programa: a centralizada e a esco-
refeições servidas; R$230.697.083,38 de larizada.

Tabela 1. Distribuição regional dos municípios inscritos no Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, 2004 e 2005.

Inscrições em Inscritos* Municípios da Inscrições em Inscritos* Municípios da


Região
2004 (n) (%) região** (%) 2005* (n) (%) região (%)
Sudeste 169 044,1 10,1 126 043,9 7,6
Sul 121 031,6 10,4 104 036,2 8,8
Nordeste 50 013,1 02,8 30 010,5 1,7
Centro-Oeste 30 07,8 08,7 19 006,6 4,1
Norte 13 003,4 02,9 8 002,8 1,8
Total 383 100,0 287 100,0

Fonte dos dados brutos: Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, 2004 e 2005.
*
Participação em relação ao total de inscritos; ** Participação em relação ao número de inscritos.

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A centralização ocorre quando as pre- controle e na fiscalização do processo de compra


feituras executam o Programa em todas as suas e execução do Programa.
fases, ou seja, recebem, administram e prestam Alguns municípios optaram por um sistema
contas do recurso federal, são responsáveis pela misto, combinando as vantagens da forma centra-
aquisição e distribuição dos alimentos e também lizada para a compra de produtos não perecíveis,
pela elaboração dos cardápios. Já na escolarização como arroz, feijão e macarrão, e da forma escola-
as prefeituras transferem os recursos diretamente rizada para a compra de hortifrutícolas.
para as creches e escolas pertencentes à sua rede,
Ainda dentro do sistema centralizado,
que passam a se responsabilizar pela execução
algumas prefeituras podem optar pela contratação
do Programa11. É possível, também, que haja uma
de empresas fornecedoras de alimentação, é o
combinação das duas modalidades de gestão, o
chamado sistema terceirizado, muito polêmico
que se chama de gestão mista. Observou-se que
entre os profissionais da área. A empresa
a forma preponderante de gestão entre os muni-
contratada pode ou não utilizar a estrutura e a
cípios estudados é a centralizada, nos dois anos
mão-de-obra escolar, sendo que a prefeitura paga
analisados (87,7% em 2004 e 83,2% em 2005).
pelo número de refeições servidas. Dos municípios
A forma escolarizada esteve presente em 7,6%
estudados, uma pequena parcela (2,9% dos
dos municípios inscritos em 2004 e em 9,8% dos
casos, ou seja, 11 prefeituras inscritas em 2004, e
inscritos em 2005. Já a mista foi mencionada em 2,4%, 7 prefeituras em 2005), utilizava o sistema
4,7% e 7,0% das prefeituras, de 2004 e 2005, terceirizado.
respectivamente.
Um dos aspectos discutidos refere-se ao
Uma grande vantagem da forma centra- fato de que a terceirização, muitas vezes, impli-
lizada é a possibilidade de realizar um controle caria em custos maiores para a prefeitura, já que
eficaz de todo o processo e garantir que a quali- esta paga não apenas pelo alimento servido, mas
dade dos produtos e dos cardápios seja aplicada
também pelo serviço prestado. Outro aspecto
em todas as escolas do município. Além disso, a
questionado refere-se ao fato de que a lógica de
centralização confere um maior poder de nego-
funcionamento de uma empresa privada não
ciação da prefeitura frente aos fornecedores, o
segue a mesma lógica da administração pública,
que pode levar a uma redução de gastos (conside-
o que significaria um risco ao fornecimento de
rando que o volume de compra é maior).
uma alimentação escolar adequada.
Por outro lado, a escolarização pode faci-
litar a logística na distribuição de produtos pere-
cíveis, como verduras, frutas e legumes e poderia Repasse de recursos
trazer como vantagem o fato de que os produtos
utilizados estejam mais frescos, já que a cadeia A composição dos recursos totais gastos
de distribuição seria mais curta. Porém, a compra com alimentação escolar segue a ordem apresen-
descentralizada implica em um maior trabalho no tada na Tabela 2, ou seja, a maior parcela do

Tabela 2. Composição dos recursos empregados na alimentação escolar.

Recursos Valores (R$) 2004 Composição (%) 2004 Valores (R$) 2005 Composição (%) 2005
*
Repasse FNDE 114.920.199,63 040,1 97.536.486,61 041,7
Complementação do município 162.545.607,67 056,8 132.390.294,07 056,5
Repasse estadual 8.841.341,49 003,1 4.261.925,41 001,8
Total 286.307.148,79 100,0 234.188.706,09 100,0

Fonte dos dados brutos: Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, 2004 e 2005.
*
FNDE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

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valor total é oriunda de recursos dos próprios feituras inscritas em 2005, o custo médio de cada
municípios (próximo a 56%, nos dois anos), como refeição foi de R$0,34 (considerando também
complementação à verba repassada pelo Governo apenas gasto com gêneros alimentícios). Na
Federal. Esta porcentagem pode ser considerada Tabela 3 é possível observar como foi a distribuição
alta, já que a lei prevê que a obrigação de fornecer deste custo para o total de municípios analisados.
alimentação escolar é tanto do Governo Federal O custo de cada refeição depende direta-
quanto estadual e municipal, no entanto não mente do total de recursos gastos, do número de
estipula o valor ou o percentual desta comple- refeições servidas e do número de dias de atendi-
mentação. mento.
Do total de 383 municípios, inscritos em Vale notar que nenhum dos extremos,
2004, apenas 38 prefeituras (9,9%) não comple- tanto o menor custo quanto o maior custo por
mentaram a verba federal, sendo esse o caso de refeição, podem ser considerados bons exemplos
46 municípios (16%) em 2005. de gestão. No caso dos valores mínimos, porque
Esse montante, no entanto, representa sequer gastaram os R$0,13 ou R$0,15 (a partir de
menos de 1% da Receita Total Bruta Municipal meados de 2004) a que tinham direito, dando
para a maioria dos municípios inscritos em 2004 indícios de uma gestão pouco eficiente. E, no
e 2005. Apenas para 17,2% das prefeituras em segundo caso, o alto custo da merenda pode
2004 e para 12,9% em 2005, a complementação sugerir uma má administração que teria acarretado
superou a faixa de 1% da Receita Bruta Municipal. gastos excessivos.
Vale observar, contudo, que, nesse montante,
estão incluídos apenas os gastos com a compra
alimentos. Desenvolvimento local

Em resposta à questão sobre compra de


gêneros alimentícios diretamente de produtores
Custo médio das refeições
rurais locais para a alimentação escolar, a por-
As prefeituras inscritas em 2004 apresen- centagem de prefeituras que responderam positi-
taram, para cada refeição servida por dia por vamente foi de apenas 26,1% (em 2004) e 30,3%
aluno, um custo médio de R$0,31 (considerando (em 2005), o que representa um total de 100 e
apenas a compra de alimentos). Já para as pre- 87 prefeituras, respectivamente.

Tabela 3. Número de municípios por custo de refeição servida pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar, por dia por aluno.

Municípios inscritos (n)


Custo diário da refeição servida
2004 2005

Até R$0,15 90 51
R$0,16 a R$0,20 91 70
R$0,21 a R$0,30 86 62
R$0,31a R$0,50 79 63
R$0,51 a R$0,80 29 32
Acima de R$0,81 8 9

Total 383 287

Menor valor gasto R$0,10 R$0,09


Maior valor gasto R$2,94 R$1,10
Valor médio R$0,31 R$0,34

Fonte dos dados brutos: Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, 2004 e 2005.

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O valor médio de gastos com compras associada ao tamanho do município (considerando


locais por município foi de R$48.083,84 em 2004 o número de habitantes), mas, possivelmente, à
e R$ 65.507,11 em 2005. Em 2004 e em 2005 o existência ou não de políticas municipais que
menor valor gasto ficou em pouco mais de incentivem a aproximação dos produtores locais
R$130,00 e o valor máximo acima de R$ 520 mil ao mercado institucional de compra de alimentos
(para inscritas em 2004) e acima de R$590 mil vinculado ao PNAE.
(inscritas em 2005). E, entre as prefeituras que Em relação à região onde se fazem as
compravam de produtores locais, os principais aquisições de alimentos, a análise feita, conside-
gêneros adquiridos foram frutas, legumes, verdu-
rando o total de inscritos por região, também reve-
ras e leite.
la que a participação de municípios que compra-
Percebe-se que existe um número maior ram de produtores rurais não se concentra nos
de municípios de pequeno porte (até 100 mil estados do Sul e Sudeste, mas se distribui de for-
habitantes) na compra de produtores rurais locais, ma relativamente equilibrada entre regiões, com
e que estes municípios estão localizados, certo destaque para a região Centro-Oeste nos
principalmente, nas Regiões Sudeste e Sul. Estes dois anos analisados (Tabela 5).
dados acompanham o perfil dos locais estudados,
uma vez que há uma concentração de inscrições
nestas regiões e um número considerável de Atuação dos conselhos de
pequenos municípios inscritos (em 2004 cerca de alimentação escolar
84% das prefeituras - 321 cidades - possuíam até
100 mil habitantes e em 2005 o percentual foi Apesar de não estar definido oficialmente
próximo de 83% - 238 cidades). Dessa forma, na legislação (Resolução FNDE nº 32 de 10 de
quando a análise é feita em relação ao número agosto de 2006) o número de reuniões que o
de municípios pequenos, médios, grandes e capi- Conselho deve fazer durante o ano, normalmente
tais de estados que se inscreveram no Prêmio, é são sugeridas reuniões mensais, ou, pelo menos,
possível perceber que a participação de municípios encontros a cada 2 ou 3 meses, para que seja
pequenos na compra de produtores rurais não se possível acompanhar toda a execução do Progra-
sobressai em relação aos demais (Tabela 4). Estes ma, pois se considera que apenas uma reunião
dados podem indicar que, nem sempre a possi- anual para analisar a prestação de contas do PNAE
bilidade de comprar de produtores rurais está e emitir o parecer conclusivo do CAE não seja

Tabela 4. Municípios que compraram de produtores rurais locais alimentos destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar
em 2004 e 2005, em relação ao tamanho.

Tamanho Municípios que Percentual em relação Municípios que Percentual em


(em número de compraram de produtores ao número de compraram de produtores relação ao número
habitantes) rurais em 2004 (n) inscritos rurais em 2005 (n) de inscritos

Municípios pequenos (até 77 23,9 71 29,8


100 mil habitantes)
Municípios médios ( 100 20 40,0 12 32,4
mil a 500 mil habitantes)
Municípios grandes (aci- - - 1 25,0
ma de 500 mil habitantes)
Capitais de Estados 3 42,9 3 37,5
Total 100 87

Fonte dos dados brutos: Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, 2004 e 2005.

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Tabela 5. Municípios que compraram alimentos destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar de produtores rurais locais
em 2004 e 2005, em relação à região.

Municípios que Percentual em relação Municípios que Percentual em


Regiões compraram de produtores ao número de compraram de produtores relação ao número
rurais em 2004 (n) inscritos rurais em 2005 (n) de inscritos

Sudeste 42 24,9 40 31,7


Sul 28 23,1 27 25,9
Nordeste 18 36,0 9 30,0
Centro-Oeste 10 60,0 9 47,4
Norte 2 15,4 2 25,0
Total 100 87

Fonte dos dados brutos: Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, 2004 e 2005.

suficiente para que o Conselho exerça suas licitação e acompanhamento da aceitação do car-
atribuições de forma adequada. Durante cursos dápio pelos alunos.
para CAE, o próprio FNDE, assim como outros Vale lembrar que, em municípios em que
órgãos de fiscalização do PNAE, sugere que o o CAE lutou por mudanças ou impediu o desman-
Conselho reúna-se várias vezes ao ano, pois apenas telamento da estrutura pública de atendimento
dessa forma é possível acompanhar e fiscalizar a ao escolar, o número de reuniões alcançou mais
execução do Programa. de 20 por ano.
Observa-se, pelos documentos enca-
minhados pelos municípios, que o número médio
Informações gerais sobre a
de reuniões para as prefeituras inscritas na 1ª
execução do PNAE
edição do prêmio foi de sete, e entre os inscritos
em 2005 foi de seis, o que indica que a atuação
Apesar de estar previsto em lei que o car-
dos CAEs nesses municípios é apenas razoável.
dápio deve ser elaborado por nutricionista habi-
Quando perguntados sobre a importância do CAE
litado11, ainda podem ser verificados municípios
para o sucesso do Programa, a grande maioria que não têm nutricionista contratado (15,9% dos
respondeu que é grande ou muito grande, o que municípios inscritos em 2004, o que significa 61
não é um indicativo de que o Conselho seja real- prefeituras e 79 municípios entre os inscritos em
mente valorizado ou que a população esteja 2005, o que corresponde a 27,5% do total). Já a
empoderada para a realização do seu trabalho, grande maioria (mais de 74,0% em 2004 e 60,0%
de acordo com o reconhecimento do poder que em 2005) dispõe apenas de um só profissional, o
pode ser exercido pelos próprios interessados no que, dependendo do número de escolas, é insu-
processo de desenvolvimento sustentável 14. ficiente.
Apenas demonstra que existe uma consciência Já em relação ao número de merendeiros,
de que o Conselho deve ter um papel importante. existiam, em média, 2,2 merendeiros por escola
Nesse quadro, entretanto, existem muni- nos dados dos inscritos em 2004, o que propor-
cípios em que a participação dos conselheiros foi cionava uma média de 159 refeições por dia por
determinante para redirecionar os rumos da admi- merendeira. Já entre os inscritos em 2005, a média
nistração pública. Em alguns casos, o Conselho de merendeiros por escola era de 2,7, e que fica-
conseguiu barrar o processo de terceirização da vam responsáveis por servir, em média, 148
alimentação escolar, exigir a contratação de nutri- refeições por dia.
cionista para atender ao Programa e assegurar a Entre as iniciativas adotadas pela gestão
participação dos conselheiros nos processos de municipal, a implantação de hortas escolares é a

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mais presente nos dois anos analisados: foi citada um local para comer, seja um espaço de sociali-
por 270 municípios (70,5% do total - 2004) e 174 zação entre alunos e professores.
municípios (60,0% do total - 2005). Para os Os cursos de educação alimentar aos
inscritos em 2004, as hortas estavam presentes alunos ainda não são usuais entre as prefeituras
em 2.145 escolas (25,4% do total de escolas) e, analisadas, já que menos de 50,0% delas ofere-
no caso dos inscritos em 2005, em 1.560 escolas cem este tipo de curso aos estudantes (nos dois
(29,6% do total de escolas). anos de análise). E, entre as que oferecerem, estes
Ao analisar o perfil dos municípios que são realizados em freqüência anual ou semestral.
declararam ter hortas escolares, foi possível notar Por sua vez, a capacitação de merendeiros é uma
que o percentual (em relação ao número de prática mais comum entre as prefeituras, já que
inscritos) foi elevado para municípios de todos os em 92,4% e 76,3% dos casos (dados referentes
tamanhos, com destaque para as capitais inscritas às inscrições de 2004 e 2005, respectivamente)
em 2004, o que mostra, também, que esta ini- esta prática foi realizada com freqüência semestral
ciativa é viável, tanto em municípios pequenos ou anual.
quanto em grandes cidades. A partir da análise dos municípios inscritos,
O sistema de auto-serviço está presente cujos aspectos gerais foram apresentados nos itens
em apenas 17% (referente a 2004) e em 11,5% anteriores, foram escolhidos 22 casos de destaque,
(referente a 2005) dos municípios, ou seja, na que receberam o seu reconhecimento em ceri-
grande maioria, são os merendeiros que servem mônia pública, em termos de administração públi-
os alunos, seguindo o formato tradicional. Esse é ca municipal. Estas práticas são apresentadas e
um ponto importante, pois o sistema de auto- discutidas no próximo item.
-serviço pode fortalecer o trabalho de educação
alimentar, de resgate da auto-estima e, até mes-
mo, de redução de desperdício, já que dá DISCUSSÃO
autonomia ao aluno e representa em si uma forma
de avaliação do gosto, do aspecto e da apre- As iniciativas destacadas nas duas edições
sentação do cardápio oferecido. Mas isto só é do Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar
possível se houver o acompanhamento adequado evidenciam que, nessas prefeituras, a gestão do
de profissionais capacitados, para a devida orien- Programa de Alimentação Escolar não se restringe
tação aos estudantes. Observa-se, entre os municí- ao fornecimento de alimentação ao escolar, mas
pios estudados, que a maioria das escolas trabalha parte do princípio de que a sua gestão está inserida
com o sistema tradicional, impedindo que essas em uma rede de relações que envolve atores de
inovações sejam incorporadas à alimentação diferentes segmentos, seja da área educacional,
escolar. do setor econômico ou da sociedade civil. Essas
prefeituras revelam que, talvez, o principal desafio
O número de prefeituras que apresentam
não seja apenas o financeiro, mas sim o estabe-
escolas com refeitório (mesa e cadeira para que
lecimento de uma rede de apoio local que sustente
as crianças se alimentem) alcança o surpreendente
e permita que o Programa seja gerido de forma
índice de mais de 80% nas duas edições anali-
eficiente.
sadas. Esse dado mostra que os municípios que
se candidataram ao recebimento do Prêmio valo- Nos municípios em que foi possível esta-
rizam o refeitório, evitando a prática de servir a belecer essa rede de apoio, foi possível também
merenda no pátio da escola ou mesmo na sala acoplar ao PNAE programas de desenvolvimento
de aula. A existência de refeitório para a alimen- local, educação alimentar, cidadania e mesmo de
tação do escolar pode ser um indicativo de que resgate e revalorização cultural. Dessa forma,
esse espaço físico seja mais do que simplesmente pode-se dizer que as prefeituras vencedoras apre-

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sentaram como característica essencial (o que as alimentação saudável; a composição nutricional


destacou das demais administrações) o envolvi- dos alimentos; e a importância em consumir frutas,
mento de diferentes setores da sociedade, de legumes e verduras. Dessa forma, busca-se incen-
forma a gerar um efeito multiplicador do esforço tivar a adoção de bons hábitos na comunidade
do município na gestão do Programa. Abaixo são escolar e, assim, promover a adesão das crianças
apresentados alguns pontos importantes: a um cardápio balanceado. Além disso, existe a
- Esforço financeiro: preocupação em preocupação em manter os merendeiros informa-
investir na alimentação escolar, o que significa dos sobre doenças que são comuns a este tipo de
não restringir a execução do Programa apenas ao trabalhador, como a obesidade, e reforçar as
uso do repasse do FNDE, mas sim complementar, informações sobre questões de higiene na prepa-
para garantir a qualidade necessária tanto em ração da alimentação. Em muitas cidades, além
gêneros alimentícios quanto em recursos humanos da refeição principal, também é fornecido um café
e em estrutura física. A complementação muni- da manhã ou um reforço alimentar, principal-
cipal destas iniciativas premiadas alcança, em mente em escolas de regiões mais carentes ou
média, mais de 100% do recurso federal, embora em escolas da zona rural. Para avaliar a ade-
represente muito pouco em termos de orçamento quação do cardápio, os nutricionistas fazem o
municipal. acompanhamento nutricional das crianças bene-
ficiárias. Algumas prefeituras vão além, ao produzir
- Impulso ao desenvolvimento local:
cardápios específicos para crianças celíacas e
empenho em envolver os produtores, as asso-
diabéticas. E muitas estão adotando alimentos
ciações e as cooperativas locais no mercado insti-
orgânicos na alimentação escolar, o que é uma
tucional de compra de alimentos para a merenda
posição de vanguarda. Outra iniciativa importante,
escolar. Este esforço se traduz em iniciativas
adotada por algumas prefeituras, é a regula-
criativas com o apoio de instituições de pesquisa,
mentação do que pode ser comercializado nas
como os Institutos ou Empresas de Assistência
cantinas escolares, procurando retirar destas canti-
Técnica e Extensão Rural (EMATER) dos estados,
nas doces, salgadinhos industrializados, refrige-
que possibilitam a organização, o aprimoramento
rantes e frituras.
da produção e a participação de concorrências
para aquisição de alimentos para o fornecimento - Promoção de novas iniciativas: desenvol-
da alimentação escolar. Algumas prefeituras opta- vimento de iniciativas criativas que têm um im-
ram também por criar leis municipais de incentivo pacto positivo no funcionamento do sistema de
à associação de agricultores locais, outras dão alimentação escolar, tais como: a criação de hortas
assistência técnica para a produção e a comer- escolares e hortos municipais, com o aproveita-
cialização e algumas também utilizam programas mento deste espaço para cursos de educação
governamentais, como o Programa de Aquisição alimentar e ambiental, além da utilização destes
de Alimentos (PAA). Dentro desta proposta de alimentos na alimentação escolar; o incentivo e a
inclusão da produção local, o cardápio da alimen- valorização dos merendeiros, com a realização
tação escolar acaba resgatando a cultura alimentar de concursos para premiação dos profissionais que
regional e também promovendo ganhos em termos mais se destacaram, a realização de concursos
nutricionais. de receitas e a publicação das receitas premiadas,
ou, ainda, pela criação do Dia da Merendeira; e
- Investimento em alimentação de quali-
por fim destaca-se a criação de padarias muni-
dade: a qualidade nutricional também é um ponto
cipais, em que está prevista a participação de
forte na execução do Programa destas prefeituras
alunos e o desenvolvimento de aulas de culinária.
vencedoras. Entre as atividades adotadas, prezam-
-se a informação e a educação de alunos, de pais - Envolvimento do Conselho de Alimen-
de alunos, de professores e merendeiros sobre tação Escolar: efetiva atuação do CAE. Em várias

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cidades muitas melhorias no sistema de alimen- financeira, o Programa promove um maior envol-
tação escolar foram obtidas graças à participação vimento do poder local, o que se reflete em um
ativa do CAE, que conseguiu chamar a atenção maior investimento no próprio PNAE. Na área
para o problema e mobilizar pais de alunos, social, a presença do Programa significa uma
professores e, até mesmo, vereadores e a impren- maior adesão à alimentação escolar por parte
sa. É possível relatar casos de CAE que conse- dos alunos, um maior interesse e envolvimento
guiram evitar a terceirização da alimentação esco- da comunidade escolar - como pais e professo-
lar e conseguiram fazer com que fosse contratado res - com o objetivo de que a escola ofereça uma
um nutricionista para executar o Programa, com alimentação nutritiva e de boa aceitação. Além
evidente economia de recursos públicos. Alguns disso, o PNAE pode resultar em um impacto posi-
Conselhos acompanharam mensalmente a pres- tivo para economia local, a partir da compra de
tação de contas do Programa e estavam sempre alimentos de produtores locais.
presentes para acompanhar desde a licitação e a Dessa forma, é importante ressaltar que
aquisição de alimentos até a elaboração do investimentos isolados não geram os impactos
cardápio e a aceitação da alimentação escolar positivos necessários para que a gestão, em todos
pelos alunos. Em determinados municípios a com- os seus aspectos, possa ser considerada eficiente.
posição do CAE é, em sua grande maioria, forma-
da por membros da terceira idade, o que confere
particularidades bastante positivas, pois a dispo- COLABORADORES

nibilidade e o interesse deste grupo fazem com


W. BELIK contribuiu com a concepção da pes-
que o Conselho seja extremamente atuante. quisa, a interpretação e a contextualização dos dados.
N.A. CHAIM contribuiu com a organização das infor-
mações, a análise e a interpretação dos dados.
CONCLUSÃO

A análise da execução do Programa Na-


REFERÊNCIAS
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Escolar, evidencia que a gestão do Programa desenvolvimento local e garantia da segurança
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assume características próprias e se adapta ao
Campinas; 2008.
contexto de cada município. No entanto, o perfil
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das administrações vencedoras indica que um fator rança alimentar. In: Pochmann M, Fagnani E. Série
determinante e diferenciador é a participação debates contemporâneos, economia social e do
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Federativa do Brasil: art. 208 inciso VII: alimentação
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lorização da cultura alimentar local. Na área Federal; 1988.

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52732003000200001. Aprovado em: 6/7/2009

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