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inte li gê nc ia .
by
Pearson
posted on
Maio 17, 2017
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Para além da definição clássica de “inteligência é a capacidade humana de solucionar problemas
novos, a partir de informações previamente adquiridas ou disponíveis no ambiente”; considerando-a
como índice clínico, a inteligência dá aos profissionais bem treinados a capacidade de investigar
diversos aspectos da cognição de um indivíduo, e serve como uma base para guiar diferentes
práticas: desde o primeiro momento da avaliação até quais intervenções são as mais indicadas para
aquele caso específico.
Existem diversas ferramentas para se avaliar a inteligência, seja em crianças ou adultos. Porém,
muitas vezes a avaliação acaba por não abarcar fatores importantes, focando-se somente num
índice de quociente intelectual que – de fato – é uma medida confiável de inteligência. Porém, até
que ponto esta medida é suficiente? Saber que uma pessoa tem boa capacidade intelectual é na
verdade algo genérico e que pode não me guiar muito bem quanto as minhas decisões informadas.
Por exemplo, após a avaliação identifico que uma criança possui um QI de 82 (não vamos
considerar o intervalo de confiança aqui por motivos didáticos). O que faço com essa informação?
Será que tudo nesta criança está abaixo da média? Temos de criar um plano de estimulação para
ela, por onde começamos? Será que essa inteligência geral tão baixa na verdade pode ter uma
outra explicação?
Vamos supor que você está avaliando uma criança com dificuldade de aprendizagem na escola
(vamos desconsiderar qualquer outro dado clínico, meramente a nível de exemplo). Os resultados
do WISC-IV indicaram que os escores de VP, e OP estão dentro da média. Porém, de todos estes
escores o de “memória operacional” e “compreensão verbal” foram os mais comprometidos.
Podemos investigar se esta diferença é esperada na população através da “Comparação entre
Discrepâncias”, na página de análise. Ao comparar cada um dos índices podemos identificar que de
fato, neste caso exemplo, somente o índice de Memória Operacional está significativamente abaixo
do esperado para alguém com o perfil cognitivo similar ao dessa criança. Isso levanta a hipótese de
que talvez as dificuldades de aprendizagem podem estar mais relacionadas a uma dificuldade em
armazenar e organizar informações mentalmente. Em outras palavras, o WISC-IV não se mostrou
como somente um teste de inteligência, mas sim instrumento de avaliação neuropsicológica.
A partir daí temos uma nova linha de pensamento clínico que deve ser investigada com maior
profundidade. Algo que poderia ter passado desapercebido sem uma análise avançada dos
resultados do teste. Uma outra linha de raciocínio sobre o exemplo anterior, existem evidências de
que a memória operacional se apresenta como um dos principais déficits de crianças com dislexia
fonológica ao realizar o WISC-IV (Clercq-Quaegebeur, 2010). Ou seja: informações que muitas
vezes fogem do essencial como o cálculo de discrepâncias e escore de processo podem ser cruciais
para uma investigação clínica, levando o profissional a ter agora a possibilidade de trabalhar em
duas hipóteses: déficit de memória operacional ou dislexia fonológica.
Claro que os exemplos aqui são meramente didáticos e baseados única e exclusivamente na
análise dos resultados do instrumento. O diagnóstico e raciocínio clínico deve ser feito como um
todo, considerando diversos outros fatores. Apesar disso, o que discutimos neste texto é uma de
várias possibilidades das análises avançadas do WISC-IV. É importante compreender que os
instrumentos de avaliação muitas vezes são mais ricos do que o simples resultado numérico dado
por ele.
Escrito por:
Psicólogo
Diretor de Inovação
Ilumina Education
Referências:
De Clercq-Quaegebeur, M., Casalis, S., Lemaitre, M. P., Bourgois, B., Getto, M., & Vallée, L. (2010).
Neuropsychological profile on the WISC-IV of French children with dyslexia. Journal of Learning
Disabilities, 43(6), 563-574.