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Ricardo Henrique
University of Campinas
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All content following this page was uploaded by Ricardo Henrique on 23 June 2020.
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Prof. Dr. Rodrigo Marques de Almeida Guerra, Universidade Federal do Pará
Prof.ª Dr.ª Vanessa Bordin Viera, Universidade Federal de Campina Grande
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-87396-01-9
DOI: (G$UWB
Editora Artemis
Curitiba-Pr Brasil
www.editoraartemis.com.br
e-mail:publicar@editoraartemis.com.br
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................ 1
A ASCENSÃO DO IDEÁRIO FACISTA NO AMBIENTE ESCOLAR: AS DISCUSSÕES POLÍTICAS
(06$/$'($8/$²
Victor Rodrigues de Almeida
DOI(G$UWB
CAPÍTULO 2 .............................................................................................................. 11
EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO HUMANO E NOVAS FORMAS DE REGULAÇÃO DOS
ESTADOS: EFEITOS DIRETOS E INDIRETOS NA ESFERA EDUCACIONAL
Cláudia Susana Coelho Neves
DOI(G$UWB
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................. 24
OS TENSIONAMENTOS NO ENSINO SOB O REGIME DO CAPITALISMO ACADÊMICO NA NOVA
ECONOMIA: O CASO DAS UNIVERSIDADES COMUNITÁRIAS REGIONAIS
Cristina Fioreze
DOI(G$UWB
CAPÍTULO 4 .............................................................................................................. 42
EDUCAÇÃO, RACIONALIDADE NEOLIBERAL E TEORIA DO CAPITAL HUMANO
Adryssa Bringel Dutra
Paulo Henrique Albuquerque do Nascimento
Pablo Severiano Benevides
Valdir Barbosa Lima Neto
DOI(G$UWB
CAPÍTULO 5 .............................................................................................................. 54
O PENSAMENTO DE ANÍSIO TEIXEIRA
Rodrigo Marcos de Jesus
DOI(G$UWB
CAPÍTULO 6 .............................................................................................................. 80
DESAFIOS HISTÓRICOS DA INCLUSÃO: CARACTERÍSTICAS INSTITUCIONAIS DE DUAS
NOVAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS
Eduardo Santos
Manuel Tavares
DOI(G$UWB
SUMÁRIO
CAPÍTULO 7 ............................................................................................................ 102
2 352-(72 /2*26 ( $ 81,9(56,'$'( $%(57$ '2 %5$6,/ 8$% ² ',5(75,=(6
EDUCACIONAIS SOBRE A FORMAÇÃO/HABILITAÇÃO DE PROFESSORES
Djane Oliveira de Brito
DOI(G$UWB
SUMÁRIO
doi
CAPÍTULO 9
H FULDomR PXVLFDLV VH UHÁHWLD QR SHUÀO GH SUD[LV LQ ZKLFK WKH FRQYHUJHQFH EHWZHHQ
ÀQDLV GR VpFXOR DQWDJRQLVPRV SHGDJyJLFRV LQ WKH SURÀOH RI D ´SHUIRUPHUFRPSRVHUµ
remodelaram as práticas de ensino no ocidente, musician. At the end of the century, pedagogical
uma escola essencialmente tecnicista. Nesse the West, structuring themselves in the new
momento, grande parte das peças musicais conservatories, an essentially technical school.
SHGDJyJLFDV FRQÁXtUDPVH HP XP HPHUJHQWH At that moment, most of the pedagogical
gênero musical: o Estudo. Esse artigo busca musical pieces came together in an emerging
GLVFXWLU RV DQWDJRQLVPRV SHGDJyJLFRV HQWUH musical genre: the “Study”. This article seeks to
que o modelo tradicional do Conservatoire these periods and the possible obstacles that
GH 3DULV WURX[H QR HQVLQR GD SHUIRUPDQFH H the traditional model of the Paris Conservatoire
indissociáveis. DQGFRPSRVLWLRQDVLQVHSDUDEOHPXVLFDOSUD[LV
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 124
FNTFVFTUBEPOBUVSBM
NBTDPEJmDBEPTQPSNBOVBJTDPNPBÉtica e a Retórica
aristotélicas. Pensadores luteranos do século XVII absorveram a concepção
musical advinda da Camerata
FBTTPDJBSBNOBËJEÏJBNFEJFWBMEFNÞTJDBDPNP
Arte Liberal, inserida, junto com a matemática, a astronomia e a geometria, na
categoria de numerus. (LUCAS, 2017: p. 54 Apud DAMMANN, 1995: p. 99)
$VSHFWRVWHyULFRVGDRUDWyULDSDVVDYDPDHVWUXWXUDUXPDGLVFLSOLQDGHUHWyULFD
musical que, consequentemente, tornava-se elemento fundamental aos processos
de performance, composição e educação musicais do século XVII e XVIII.
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 125
LUUDFLRQDOLGDGHLQGHÀQLomRRXFRQWH~GRPXVLFDOLQDFHVVtYHOjFRPSUHHQVmRGHVXD
VLJQLÀFkQFLDFRPRWH[WRHUDPLPSURGXWLYRV
A tradição da musica poetica não tinha o objetivo direto de estabelecer uma nova
PSEFNNVTJDBM
DPNPPm[FSBNOBseconda prattica italiana, mas sim convergir o
trivium e o quadriviumBTEFmOJÎÜFTNBUFNÈUJDBTFMJOHVÓTUJDBTBPTDPODFJUPT
EFNÞTJDBTPCVNBDPODFQÎÍPRVFTFSWJSJBFTQFDJmDBNFOUFËTOFDFTTJEBEFTEB
QSÈUJDBMJUÞSHJDBMVUFSBOBRVFCVTDBWBVNHSBOEFFOWPMWJNFOUPDPOHSFHBDJPOBM
[...] O .DQWRUMVUFSBOPEFWFSJBEFUFSNJOBSPTDBNJOIPTEBNÞTJDBCBSSPDBBMFNÍ
culminando então na obra de J.S. Bach. (ROSEN, 1997, p. 74)
-$1. S FRPHQWD TXH XP DSURIXQGDPHQWR QDV FDQWDWDV GH
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 126
J. S. Bach - e dos símbolos que estas carregam - permite compreender grande
parte da concepção musical do compositor. Porém, é de fato em sua coleção
&ODYLHUEXQJ²´3UDWLFDGRWHFODGRµHPTXDWURYROXPHV²TXHRFRPSRVLWRUGHPRQVWUD
XPD LQWHQomR SHGDJyJLFD j IRUPDomR GR P~VLFR UHOLJLRVR :LOOLDPV S
comenta que as implicações do termo &ODYLHUEXQJ são menos pragmáticas do que
podemos supor. Nos dias de hoje é comum os títulos Studies, Études, ([HUFLVHV
ou essercizi para peças didáticas e até uma criança, ao se defrontar com estes
PDWHULDVSRGHUiGL]HUTXH´SUDWLFDUµVLJQLÀFD´H[HUFLWDUVHQDSHUIRUPDQFHPXVLFDO
buscando aprimorar suas habilidades mecânicas”. Porém a primeira publicação
inglesa das *ROGEHUJ 9DULDWLRQV de J.S. Bach - &ODYLHUEXQJ ,9 WURX[H R WtWXOR
/HVVRQVIRUWKH+DUSVLFKRUG, sendo “lesson” um termo sugerido aos músicos para
que encontrassem nestas obras determinadas condições ao desenvolvimento da
SHUIRUPDQFHGDLQVWUXomRGHFRQKHFLPHQWRVGDUHWyULFDPXVLFDOGDFRPSRVLomRH
da prática da improvisação.
As obras destes ciclos, pedagógicas por excelência, não são didáticas no sentido
comum da palavra. São exemplos, através dos quais o aluno tem condições de
aprender sozinho, usando sua própria criatividade e experiência no processo
de aprendizagem. Isto está ilustrado na introdução ao “2UJHOEXFKOHLQµ(Pequeno
MJWSP QBSB P BQSFOEJ[BEP EP ØSHÍP o #87 B
" JOUSPEVÎÍP EJ[ i'HP
KRFKVWHHQ JRWW DOOHLQ ]X HKUHQ GHP QDFKVWHQ GUDXV VLFK ]X EHOHKUHQµ (Para a
honra de nosso Deus supremo / ao próximo, para que daí faça seu aprendizado”).
A expressão “VLFK EHOHKUHQµ TJHOJmDB FYBUBNFOUF iFOTJOBS B TJ NFTNPw
RVF
equivale a pesquisar com autonomia, e retirar do material pesquisado seus
próprios ensinamentos. (JANK, 1988, p. 13)
2XWUD REUD GH SHTXHQDV SHoDV SHGDJyJLFDV SDUD WHFODGR GH - 6 %DFK p R
conjunto de Invenções e Sinfonias SDUD WHFODGR FODYLFKRUG FRPSRVWD SDUD VHX
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 127
ÀOKR : ) %DFK H XWLOL]DGDV FRPR SDUWH GH VXD IRUPDomR PXVLFDO TXDQGR HVWH
tinha nove anos de idade. Conferindo o prefácio da coleção, percebemos que sua
abordagem não estava limitada ao estrito aprimoramento de habilidades mecânicas
do teclado, mas em uma abordagem de maior plenitude envolvendo a compreensão
HDH[SUHVVmRGHDFRUGRFRPDVSHUVSHFWLYDVGDmusica poetica.
A Inventio%:9²GH-6%DFKDERUGDÀJXUDVUHWyULFDVPXVLFDLVTXH
podem representar “ênfase” através de diversos recursos de repetição e reiteração
GH XP FRQWH~GR &RPR H[HPSOR D ÀJXUD UHWyULFD PXVLFDO FKDPDGD (SL]HX[LV
representa uma determinada “ênfase” sob o recurso da repetição. Segundo Bartel
S QD OLQJXDJHP IDODGD HVWD ÀJXUD UHSUHVHQWD D UHSHWLomR LPHGLDWD
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 128
GHXPDSDODYUDFULDQGRUHLWHUDo}HVGHSRWHQFLDOSHUVXDVLYR1RH[HPSORDEDL[R
destacamos a repetição imediata de tríades descendentes. O aspecto enfático
da repetição é reforçado em transposições, imitações e defasagens métricas do
mesmo motivo triádico.
)LJXUD-6%DFK,QYHQomR²(SL]HX[LVF
$ÀJXUDUHWyULFDPXVLFDOParonomasia WDPEpPSRGHH[SUHVVDUVHSRUUHFXUVRV
GH UHSHWLomR (VWD ÀJXUD EXVFD FRQTXLVWDU XP GLVFXUVR GH rQIDVH XWLOL]DQGRVH
GH UHSHWLo}HV FRP YDULDomR GR SHUÀO LQLFLDO PXLWR FRPXP QD RUDWyULD QR XVR GH
ULPDV 1R H[HPSOR DEDL[R HVWDV SHTXHQDV DOWHUDo}HV DSDUHFHP SULPHLUDPHQWH
nas vozes individuais sob diferentes transposições. Em seguida, no registro mais
JUDYH GHVWDFDPRV FRP TXDGUDGRV RV SHUÀV PHOyGLFRV DOWHUDGRV ² HP IRUPD GH
ERUGDGXUD²FRPUHODomRDRSHUÀOLQLFLDO
)LJXUD-6%DFK,QYHQomR²ParonomasiaF
)LJXUD-6%DFK,QYHQomR²$QDGLSORVLVF
3RUÀPGHVWDFDPRVXPQRYRDVSHFWRUHWyULFRTXHDUWLFXODDPDFURIRUPDGD
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 129
SHoD$ÀJXUDUHWyULFD$QWLWKHVLVVHUYHFRPRXPDRUDWyULDGHFRQWUDDUJXPHQWDomR
6XDVFDUDFWHUtVWDVDGMDFHQWHVjLGpLDLQLFLDO²WULQDGRVSRUJUDXVFRQMXQWRVDRLQYpV
GH DUSHMRV WULiGLFRV ² SRUpP IRUDP FRQVWUXtGDV VRE RV PHVPRV SULQFtSLRV GH
ênfase da (SL]HX[LV em uma espécie de contra argumentação sob apropriação da
H[SUHVVmRDIHWLYDLQLFLDO
)LJXUD-6%DFK²,QYHQomR(SL]HX[LVH$QWLWKHVLV&
2LQWXLWRHPLQYHVWLJDUDVSHFWRVSHGDJyJLFDVQDVSUiWLFDVGHHQVLQREDUURFD
² PDLV HVSHFLÀFDPHQWH QD IRUPDomR UHOLJLRVD OXWHUDQD HP TXH VH HQFRQWUDP DV
REUDVGH-6%DFK²QmREXVFDUHYLYHUXPDSUiWLFDGHHQVLQR´PDLVFRPSOHWDµQHP
HVWDEHOHFHUXPDVROXomRDRVSUREOHPDVSHGDJyJLFRVGDVLQVWLWXLo}HVGHHQVLQRQR
VpFXOR;;,%XVFDPRVUHÁHWLUVREUHDERUGDJHQVGHHQVLQRTXHIDYRUHFHUDPXPD
SUi[LVPXVLFDOHPTXHVHFULDYDDSUHQGHQGR²HYLFHYHUVD(VWDFRQYHUJrQFLDHQWUH
iUHDVGLYHUVLÀFDGDVGRFRQKHFLPHQWRPXVLFDOHH[WUDPXVLFDOLQWLPDPHQWHOLJDGD
DRSHQVDPHQWRSHGDJyJLFRSURWHVWDQWHHKXPDQLVWDGLUHFLRQRXVHjFRPSUHHQVmR
da linguagem musical enquanto um discurso sonoro de grande potencial em afetar
XPUHFHSWRU1HVVHVHQWLGREXVFDPRVGHVWDFDUQDREUDGH-6%DFKDH[LVWrQFLD
GHXPUHSHUWyULRPXVLFDOGHSHoDVGLGiWLFDVTXHYLULDDFRQVROLGDUQRLQtFLRGRVpFXOR
XIX, o gênero musical “Estudo”, nesse momento repleto de novas singularidades e
amplamente dissociado das SUiWLFDVSHGDJyJLFDVOXWHUDQDV
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 130
poder monárquico absolutista a um crescente Estado burguês, industrial e liberal.
(VVHSURFHVVRSROtWLFRVHFRQVROLGRXFRPD5HYROXomR)UDQFHVDHPFULDQGR
a idéia de que o Estado deveria ser o responsável pela garantia da educação e
IRUPDomR GH WRGD VRFLHGDGH GH PDQHLUD LJXDOLWiULD ² pJDOLWp ² e que homens e
mulheres são pessoas livres, sem tradições e centradas ao futuro. Dessa maneira,
$EEDJQDQRFRPHQWDTXHWRGRRFRQKHFLPHQWR²LQFOXLQGRDVFUHQoDV
²IRLVXEPHWLGRjFUtWLFD e ao empirismo2DÀPGHPHOKRUDUDYLGDSULYDGDHVRFLDO
das pessoas3. A indagação racional estendeu-se aos domínios moral, penal, político
HUHOLJLRVRFRPRSRUH[HPSORQRFKDPDGRGHtVPR iluminista, em que se buscou
questionar a validade da religião “nos limites da razão”.
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 131
escolas militares em oferecer a formação musical como estratégia de mobilização
PLOLWDUGDVPDVVDV&RUYLVLHUDSRQWDTXHQHVWHSHUtRGRD)UDQoDEXVFDYD
SHODHVSHFLDOL]DomRGHVXDVSRWrQFLDVPLOLWDUHVSRUpPHQFRQWUDYDGLÀFXOGDGHVQR
recrutamento de soldados, pois, à medida em que foram reforçados os sentimentos
QDFLRQDLVIRLUHGX]LGDDTXDQWLGDGHGHVROGDGRVHVWUDQJHLURV6TXHIIS
IDODVREUHDLPSRUWkQFLDGRKiELWRFtYLFRSDUDDFRQVROLGDomRGDUHYROXomRQD
França e, também, sobre as estratégias de recrutamento militar na convocação de
festas nacionais como parte essencial da educação pública e sustentação de uma
nação de “pessoas livres”.
)LJXUD$0DUPRQWHO*UDQGeWXGHG·LQWURGXFWLRQ
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 133
e compreensão da linguagem musical, o que viria mais tarde a ser criticado por
&KRSLQ FRPR XPD HVFROD GD ´JLQiVWLFD GRV GHGRVµ 1R H[HPSOR DEDL[R &]HUQ\
busca, através da repetição, uniformizar os dedos em seu potencial de articular
OHJDWR e staccatoRXVHMDHVSHUDVHSRUH[HPSORTXHFRPLQ~PHUDVUHSHWLo}HV
RGHGRFRQTXLVWHRPHVPRUHVXOWDGRVRQRURTXHRGHGRLQGHSHQGHQWHGHVXDV
GLIHUHQoDVÀVLROyJLFDV
+È OP mOBM EP TÏDVMP 97*** F QSJNFJSB NFUBEF EP 9*9
DPN P DSFTDFOUF VTP EP
pianoforte, surge o gênero Estudo, baseado na ideia da repetição mecânica e
incansável de fórmulas, visando o desenvolvimento de competências que, na
época, se pensava caracterizarem a boa técnica: velocidade, igualdade da força
dos dedos e resistência. Os títulos de Czerny, aluno de Beethoven, professor de
Liszt e inventor de uma enorme quantidade de exercícios e estudos, claramente
DPOmSNBSBNUBMWJTÍP(VFRODGD9HORFLGDGH$UWHGDGHVWUH]D([HUFtFLRVGLiULRV
(VWXGRV SDUD 0mR (VTXHUGD HWF No prefácio dos (VWXGRV MRUQDOHLURV GLiULRV
Czerny escreve: “Nada é mais importante para o intérprete do que trabalhar
JODBOTBWFMNFOUF BT EJmDVMEBEFT NBJT IBCJUVBJT VN HSBOEF OÞNFSP EF WF[FT
seguidas para dominá-las à perfeição”. (GANDELMAN, 1997: p. 21)
&DUO &]HUQ\ 9LHQD ² SLDQLVWD H FRPSRVLWRU ² IRL DXWRU GH XPD
H[SUHVVLYD SURGXomR GH (VWXGRV SDUD SLDQR (P VHX PpWRGR GH FRPSRVLomR ² 'LH
6FKXOH GHU 3UDNWLVFKHQ 7RQVHW] .XQVW 2S S ² R DXWRU VXJHUH VHU
R SLDQLVWD -RKDQQ %DSWLVW &UDPHU ,QJODWHUUD XP GRV SURWDJRQLVWDV QD
consolidação dos “Estudos” enquanto um gênero musical. Cramer também foi autor
GHXPDH[WHQVDSURGXomRGH(VWXGRVVHQGRXPDGDVSULPHLUDVVpULHVRV(VWXGRV
SDUD3LDQRIRUWHSXEOLFDGRVHQWUHRVDQRVGHH²6WXGLRSHULOSLDQRIRUWH
Op. 50. Um fato curioso encontrado acerca da origem do titulo “Estudo” é que muitos
autores comentam o fato de Cramer ter “roubado” a idéia de seu professor Muzio
&OHPHQWL5RPDVREUHSXEOLFDUXPDVpULHGHSHoDVGLGiWLFDVSDUDSLDQR
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 134
solo intituladas como “Estudos” e, então, Clementi optou por alterar o nome de sua
série para Gradus ad Parnassum ²SXEOLFDGDHP1RH[HPSORDEDL[RR(VWXGR
GDVpULHGradus ad Parnassum GH&OHPHQWLDOpPGHVXDFRQVWUXomRPHOyGLFDHVWDU
HVVHQFLDOPHQWH VXEPHWLGD j SUHRFXSDomR GR PHFDQLVPR LQVWUXPHQWDO ² PXGDQoD
GH SRVLomR GH XP GRV GHGRV FRP UHSHWLomR H YHORFLGDGH ² R DXWRU GHVWDFD R TXH
se tornaria uma das principais buscas da escola do mecanismo: a uniformização da
IRUoDHDJLOLGDGHGRVGHGRV²´UHFRPHQGDVHSUDWLFDUDSHoDDVHJXLUSHODFDXVDGD
singularidade dos dedos”.
&]HUQ\ UHLWHUD HVWDV SUHRFXSDo}HV HP VHX PpWRGR DÀUPDQGR TXH D IXQomR
principal de um Estudo é a de desenvolver a força e agilidade dos dedos do performer
H VH SRVVtYHO RIHUHFHU XP FRQWH~GR PXVLFDO LQWHUHVVDQWH D HVWHV SURSyVLWRV 2
autor ainda comenta em seu método de composição que o Estudo clássico é “o
tipo mais fácil de composição” em que, a partir de uma forma e um caráter livre,
´EDVWD LQYHQWDU RX FRODU XPD IyUPXOD À[D >DUSHMR IUDVH PRWLYR HWF@ H UHSHWLOD
VRE GLYHUVRV WLSRV GH PRGXODo}HV GXUDQWH SRXFDV SiJLQDVµ 1R H[HPSOR DEDL[R
SRGHPRV YHULÀFDU XPD DERUGDJHP PHFkQLFD VHPHOKDQWH DR H[HPSOR DQWHULRU GH
Clementi, porém desta vez com maior abertura muscular dos dedos da mão direita.
)LJXUD&]HUQ\7KH$UWRI)LQJHU'H[WHULW\2S0XGDQoDGHSRVLomRFRPSROHJDU
1R UHSHUWyULR GR YLROmR RV (VWXGRV FOiVVLFRV FRQVWLWXHP XPD SDUWH H[WHQVD
GDSURGXomRGLGiWLFDGRLQVWUXPHQWR0DXUR*LXOLDQL,WiOLD²YLRORQLVWD
FHOOLVWD H FRPSRVLWRU ² WDPEpP IRL DXWRU GH GLYHUVRV PDWHULDLV GLGiWLFRV sob
SHUVSHFWLYDV PHFDQLFLVWDV (P VHX SULPHLUR PpWRGR ² eWXGH &RPSOHWWH SRXU OD
Guitare2S3DULV², Giuliani estrutura sua abordagem didática em quatro
2S2S2S2S2S2S2S2S2S
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 135
VHVV}HVLH[HUFtFLRVGHPHFDQLVPRLQVWUXPHQWDOSDUDPmRGLUHLWD²IyUPXODV
GHDUSHMRHPXPD~QLFDSURJUHVVmRKDUP{QLFDW{QLFD'y0DLRUHGRPLQDQWH6RO
0DLRUFRPVpWLPDLLH[HUFtFLRVGHPHFDQLVPRLQVWUXPHQWDOSDUDPmRHVTXHUGD
²WUHFKRVFRPELQDGRVGHHVFDODVDVFHQGHQWHVHGHVFHQGHQWHVQDVWRQDOLGDGHVGH
'y 6RO /i H 5p PDLRU LLL SHTXHQRV (VWXGRV DERUGDQGR GLJLWDo}HV GH HVFDODV
por campanellas, pausas de mão direita, articulações de staccato e glissandos,
OLJDGRV FRPR DSSRJJLDWXUDV WULORV H PRUGHQWHV LY (VWXGRV SURJUHVVLYRV
FRQWHQGR RV HOHPHQWRV DERUGDGRV QDV VHVV}HV DQWHULRUHV 2 H[HPSOR DEDL[R IRL
H[WUDtGR GD SULPHLUD VHVVmR GR PpWRGR GH *LXOLDQL H SRGH UHSUHVHQWDU D HVFROD
FOiVVLFDGRPHFDQLVPRSRUVXDLQVLVWHQWHUHSHWLomRPRWRUDGHIyUPXODVGHDUSHMRV
GHVFRQHFWDGDVGHXPGLVFXUVRPXVLFDO$VGLJLWDo}HVÀ[DVGHPmRGLUHLWDHHVTXHUGD
tornam-se as preocupações centrais da prática diária do instrumento.
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 136
2EVHUYDVH SRUWDQWR TXH D IRUPDomR GR P~VLFR SURÀVVLRQDO GHVWH SHUtRGR
passa pela aplicação de um plano de curso não construído a partir das necessidades
de compreensão da linguagem musical, mas sim da necessidade pragmática de
munir-se de uma bagagem mecânica instrumental isolada de um discurso musical
pleno, uma espécie de “resposta antes da dúvida”. Apontamos que, apesar das
aberturas à FUtWLFDHDRSHQVDPHQWRFLHQWtÀFRWUD]LGDVSHORSHQVDPHQWRÀORVyÀFR
LOXPLQLVWDWDOYH]RTXHWHQKDLQÁXHQFLDGRPDLVGLUHWDPHQWHDescola do mecanismo
GRVFRQVHUYDWyULRVGHP~VLFDGRSHUtRGRIRUDPDVIRUPDVGHRUJDQL]DomRGRWUDEDOKR
HP TXH DV EXVFDV SRU HÀFLrQFLD H HVSHFLDOL]DomR GD PmR GH REUD WUDEDOKDGRUD
UHÁHWLUDP QXP HQVLQR SUDJPiWLFR $ SHUVSHFWLYD GH XP P~VLFR HVVHQFLDOPHQWH
WHFQLFLVWDIRLUHÁHWLGDSRUWDQWRQDVHJPHQWDomRGDVGLYHUVDViUHDVGRFRQKHFLPHQWR
TXHHQYROYLDPDSUi[LVPXVLFDORFLGHQWDO
Assim, também nas ciências, nas artes e em outras áreas do conhecimento humano,
os estudos foram pouco a pouco direcionados para a especialização. Surgiram
FTQFDJBMJTUBT RVF
TF TÍP NVJUP QSPmDJFOUFT FN VN BTQFDUP
TÍP NVJUP GSBDPT
ou nulos em outros. [...] Em decorrência dessa realidade, passou a existir uma
FTUSVUVSBIJFSBSRVJ[BEBEFEPNÓOJPTEFDPOIFDJNFOUPOPVOJWFSTPEBNÞTJDB
OP
qual a criação tornou-se domínio do compositor. [...] os compositores passaram a
escrever todas as notas, incluindo as dos instrumentos de teclado (cravo e piano
forte), que antes se incumbiam da “realização da harmonia” indicada por um
baixo cifrado. [...] Os exercícios de mecanismo surgem justamente no momento
FN RVF BCBOEPOBTF B QSÈUJDB EB JNQSPWJTBÎÍP F DPNQPTJÎÍP EF QSFMÞEJPT
e também o conhecimento da harmonia, necessários para a improvisação.
Eles visam principalmente desenvolver a agilidade de dedos e de leitura, mas
não o entendimento da linguagem, a consciência auditiva e a criatividade.
(CARRASQUEIRA, 2017: p. 32-38)
1RVDSUR[LPDPRVQHVVHPRPHQWRGDSUREOHPiWLFDGDFRPSUHHQVmRPXVLFDO
QRV PRGHORV SHGDJyJLFRV PXVLFDLV WHFQLFLVWDV 6HJXQGR +DUQRQFRXUW S
R SUDJPDWLVPR SROtWLFR GD UHYROXomR IUDQFHVD DFDERX SRU FRQVROLGDU QmR
DSHQDVRSHUÀOGHXPP~VLFRHVVHQFLDOPHQWHPHFDQLFLVWDPDVWDPEpPXPRXYLQWH
impossibilitado de compreender e aprender a linguagem musical de maneira mais
profunda. A música nesse momento deveria “ser uma língua que todos aprendessem
VHP SUHFLVDU FRPSUHHQGrODµ /$:621 H 672:(// S FRPHQWDP
que a velha relação entre mestre e aprendiz foi abandonada e tudo o que tem a
YHUFRPHORFXomR²TXHUHTXHURHQWHQGLPHQWR²IRLHOLPLQDGR$WXDOPHQWHHVWHV
FRQVHUYDWyULRV H[HUFLWDP WpFQLFDV GH SHUIRUPDQFH DR LQYpV GH HQVLQDU P~VLFD
FRPR OLQJXDJHP 3RU ÀP GHVWDFDPRV GXDV KLSyWHVHV UHOHYDQWHV DRV FDStWXORV
SRVWHULRUHV L D HVFROD GR PHFDQLVPR LVRORX GD SUi[LV PXVLFDO R H[HUFtFLR GD
compreensão musical enquanto uma linguagem discursiva a ser compreendida,
H[SUHVVDHFRQVWDQWHPHQWHUHFULDGDLLpGXUDQWHRVpFXOR;,;TXHVHFRQVROLGDR
gênero musical “Estudo”, essencialmente regido pela escola do mecanismo.
Premissas para o Desenvolvimento Humano através da Educação Avanços e Possibilidades Capítulo 9 137
Vários desses trabalhos são extremamente valiosos e possibilitaram a formação
EFHFSBÎÜFTEFFYDFMFOUFTNÞTJDPT'SVUPTEBTJEFJBTQSFEPNJOBOUFTOBÏQPDB
de sua criação, muitos desses métodos não contemplam, porém, aspectos
JNQPSUBOUFTQBSBBGPSNBÎÍPEFVNNÞTJDPOPTEJBTEFIPKF0QSJNFJSPEFMFTÏ
a criatividade. Não há estímulo e espaço para a experimentação, improvisação
ou pesquisa de outras formas de lidar com o material a ser estudado. Propõe-se
um material engessado, cristalizado e baseado na repetição. [...] [apud Paulo
Freire] “Não temo dizer que inexiste validade no ensino de que não resulta um
aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar. [...] Ensinar não é
trasferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção.”
(CARRASQUEIRA, 2017: p. 53 apud Paulo Freire, 1996, p. 26-52)
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intimamente relacionada às organizações do trabalho industrial e da especialização
da mão de obra. Portanto, a designação de obras didáticas pelo título “Estudo”
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DV VLJQLÀFDo}HV TXH SRGHP HVWDU FRQWLGDV QHVVH WtWXOR. As contribuições desse
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pela perspectiva da escola do mecanismo. Repensar o potencial dos Estudos
enquanto peças pedagogicamente mais amplas pode favorecer as relações com a
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REFERÊNCIAS
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(VWXGRL Aplicação, trabalho de espírito para compreender a apreciação ou análise de certa matéria ou assun-
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