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História das Artes

Material Teórico
Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Rita de Cássia Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
Renascimento e Barroco –
Retorno ao Clássico

• Introdução
• Renascimento – a Busca do Clássico
• Barroco – a Busca pela Emoção
• Rococó

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os estilos e movimentos artísticos e estéticos: Renascimento
e Barroco.
· Elaborar opiniões referentes à produção artística contemporânea
e ao patrimônio histórico e artístico, relacionando-os a história,
sociedade, política e a cultura do país.
· Respeitar e avaliar as diferentes correntes e tendências artísticas, suas
origens e características.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Introdução

Fig. 1 – A lamentação (1304-1306), de Giotto di Bondone, afresco


Fonte: Wikimedia Commons

Fig. 2 – Escola de Atenas (1510-1511), de Raffaello Sanzio da Urbino, afresco,


Stanza della Segnatura, Palácio Apostólico, Cidade do Vaticano
Fonte: Wikimedia Commons

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Fig. 3 – The legend of Fred ILLE and Gwen VILAINE: Part II (2013), do grupo MTO
Fonte: isupportstreetart.com

O que há de semelhança entre as figuras 1, 2 e 3? O seu olhar pode percorrer


os espaços representados nessas três imagens? A resposta é simples: o que você
vê são imagens com representações da tridimensionalidade.

Em nosso tempo, na contemporaneidade, ver imagens com profundidade pode


parecer comum. Mas houve um tempo na história da arte em que este tipo de
visualidade era algo novo e surpreendente.

Vimos nas outras unidades que as imagens, enquanto linguagem, comunicam


e apresentam significados e expressões em cada cultura. Dos tempos da arte
rupestre até o momento atual, o que vemos é a formação de uma cultura visual
(cultura de imagens). Cultura esta que apresenta valores e escolhas em cada época,
estabelecendo diálogos que são atemporais.

Na pintura da arte gótica dos séculos XII ao XIV, vemos uma busca para superar
a criação de imagens simbólicas, para criar imagens mais realistas. Este novo
pensamento influenciou profundamente a produção estética dos movimentos
artísticos que estavam por vir.

Na obra renascentista, A Lamentação (1304-1306) (Fig. 1), de Giotto di


Bondone (1267-1337), vemos espaços entre as figuras e uma certa dramaticidade
na narrativa. Podemos perceber a dor que as pessoas estão sentindo ao velar o
corpo de Cristo e até mesmo a emoção das figuras que estão de costas.

O artista cria uma visão mais humanista dos personagens bíblicos, ao contrário
do que se fazia na Idade Média – arte românica e gótica –, quando as imagens eram
mais estilizadas e simbólicas.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

A principal preocupação da arte neste momento é criar ambientes nos quais a


profundidade também é representada. A criação de planos na pintura passa a dar
a sensação de podermos adentrar nos espaços e participar das cenas.

O Renascimento apresenta imagens que buscam imitar a realidade, se utilizando


da perspectiva, uma técnica capaz de criar ilusão de profundidade. Foram criados
tratados matemáticos, assim como técnicas de luz e sombra para criar volumes e
efeitos tonais para reforçar ainda mais a sensação de espaços dentro da imagem.

As pessoas, quando viam uma imagem pintada com efeitos de perspectiva,


chegavam a colocar a mão sobre a pintura para ter certeza de que ali não havia
uma fenda. Era difícil acreditar que em uma superfície plana (bidimensional) poderia
haver a percepção da tridimensionalidade.

A pintura Escola de Atenas (Fig. 2) é um afresco pintado por Raffaello Sanzio da


Urbino (1483-1520) no Palácio do Vaticano, para a Sala da Assinatura, a pedido
do Papa Júlio II (1443-1513).

A obra é a representação de uma cena construída da imaginação do artis-


ta, já que os personagens representados não viveram todos no mesmo tempo.
São filósofos, matemáticos, astrônomos e cientistas da Antiguidade que parecem
conversar sobre a nova Basílica de São Pedro, um projeto antigo do arquiteto
renascentista Bramante (1444-1514). Podemos identificá-los pelos gestos e po-
ses de cada um. Vemos no centro Platão, com a mão apontando para cima, e
Aristóteles ao seu lado, assim como Sócrates à esquerda deles e os matemáticos
gregos Euclides e Pitágoras.

Estes personagens ilustres estão em um espaço arquitetônico clássico com arcos


e estátuas, construído com a técnica da perspectiva, que possibilita a organização
dos personagens em diferentes planos, dando à sala da escola amplitude e
profundidade em uma composição simétrica e harmônica.

Rafael Sanzio, como é conhecido, é considerado o pintor que melhor desenvolveu


os ideais clássicos da beleza, harmonia, forma e cor.

Nos dias de hoje esse tipo de imagem é muito comum. Estamos acostumados
a ver a profundidade nos desenhos, pinturas e fotografias, por exemplo. Nas salas
de cinemas vemos as imagens em 3D e 4D com muita naturalidade. Tudo isso é
consequência dos estudos da representação que se iniciaram no Renascimento.

Podemos perceber no grafite do grupo MTO (Fig. 3) que, ainda hoje, há


fascínio em criar mundos visuais em profundidade. Note que a pintura é feita na
parede de uma casa, mas parece que o personagem está apenas encostado nela.
Não é impressionante? Desde o Renascimento, buscamos ilusão e realidade em
uma só imagem.

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Renascimento – a Busca do Clássico
De tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano,
mas também divino, de modo que através de seu espírito e da superioridade
de sua inteligência, possamos atingir o Céu. VASARI, Georgio. (1511-1574).

Fig. 4 – Davi (1501-1504) (detalhe), de Michelangelo, mármore, Museu Acadêmico, Florença (Itália)
Fonte: michelangelobuonarrotietornato.com

Se pensarmos na história como uma linha contínua, o que só complicaria nosso


entendimento, poderíamos, então, vislumbrar a ideia de visitarmos o passado como
fosse a história de nossos antepassados, como uma somatória de realidades que em
um determinado momento convergem.

O Renascimento, no fio de nossa complexa história, também nasceu da conver-


gência de uma série de acontecimentos ao longo dos séculos. Nasce na Itália e seu
início se dá quando as pessoas percebem estar em uma nova era.

O período do Renascimento, entre os séculos XIV e XVI, é um momento da


história que acontecem grandes descobertas em muitas áreas do conhecimento.
Ganhou muitas inovações técnicas, mas também buscou reinstaurar a grandeza
das produções artísticas clássicas da antiguidade, principalmente a arte de Roma
e da Grécia.
Neste período a Europa revive, depois de quase um milênio, os ideais da cultura
greco-romana, e com eles também os ideais humanistas e naturalistas. O ideal
humanista significa para os artistas renascentistas a valorização do ser humano e
da natureza em oposição ao divino e ao sobrenatural, impostos na Idade Média
pela Igreja.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Pré-Renascimento
Florença, na Itália, foi a cidade onde surgiram as primeiras manifestações
artísticas do Pré-Renascimento. Devido às ameaças do Duque de Milão, Florença
se empenhou em resistir bravamente com uma campanha cívico-patriótica para
garantir sua liberdade. Imbuída do título de protetora das artes, a cidade se dedicou
à produção de obras para sua ornamentação, valorizando o papel do artista como
um ser criador e homem de saber, como os literários e matemáticos.

A família Médici, abastada e crente nesta nova era, teve um papel importante
no incentivo à produção artística, contribuindo para o surgimento de um grupo de
artistas talentosos, capazes de trazer de volta o esplendor da cultura greco-romana.
Se destacaram Filippo Brunelleschi (1377-1446), na arquitetura; Donatello (1386-
1466), na escultura; e Tomasso Masaccio (1401-1428), na pintura.

Fig. 5 – Cinco mestres da Renascença florentina (s/data), de Paolo Ucello. Da direita para a esquerda,
Giotto di Bondone, Paolo Ucello, Donatello, Antonio Manetti e Felippo Bruneleschi
Fonte: wikiart.org

Na arquitetura renascentista, o que importava era a criação de espaços compre-


ensíveis de todos os ângulos possíveis do olho humano e a busca de uma ordem
na composição dos espaços. Se utilizaram das ordens arquitetônicas gregas e dos
arcos e cúpulas da arquitetura romana.

Filippo Brunelleschi foi um dos arquitetos que se destacou nesse período. Um


dos seus trabalhos mais importantes foi a cúpula da Catedral de Florença, também
chamada de Igreja de Santa Maria del Fiore (Fig. 6). A construção da catedral foi
iniciada pelo arquiteto e escultor florentino Arnolfo di Cambio (1240-1310), mas
a enorme cúpula com calota dupla foi feita por Brunelleschi, com um método que
ele mesmo inventou.

Por essa célebre realização, ele foi chamado para projetar outras igrejas
e edifícios. Viajou pela Itália e mediu as ruínas de templos e palácios romanos,
esboçando toda arquitetura e ornamentações desses antigos edifícios.

Seu processo de criação dos projetos e a construção dos edifícios permitia que
a antiga arquitetura greco-romano fosse utilizada livremente, criando novas formas
de harmonia. Esse pensamento arquitetônico perpetuou-se na Europa por quase
quinhentos anos.

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Fig. 6 – Catedral Santa Maria del Fiore (1426-1434), de Fellipo Brunelleschi, em Florença (Itália)
Fonte: italianrenaissance.org

Na arquitetura renascentista, os conceitos arquitetônicos de Brunelleschi foram


aos poucos sendo aceitos e utilizados pelos demais arquitetos ao longo dos anos.
Nesta concepção, a linguagem e os conceitos greco-romanos são bem aplicados.
Para Brunelleschi, o edifício não possui o homem, mas o homem, aprendendo a
lei do espaço, possui o segredo do edifício.

Leon Battista Alberti (1404-1472), arquiteto


florentino, foi o segundo grande inovador da ar-
quitetura renascentista. Apaixonado pela cultura
greco-romana, projetava edifícios com fachada
clássica, com colunas, capitéis, frontões e tímpa-
nos, que lembravam os templos da Antiguidade.

A Escultura
A escultura da época se caracteriza pelo
acentuado naturalismo, uma busca pela verossi-
milhança, sendo o homem o tema principal. É
importante observar também que a escultura se
desvinculou da arquitetura. A escultura deixou de
ser apenas ornamentação e acabamento na ar-
quitetura dos edifícios.

Donatello foi o grande escultor do século XV,


influenciando muitos artistas da época. Com ide-
ais humanistas, criou figuras com traços individu-
ais e com muito realismo. Além disso, modificou Fig. 7 – São Jorge (1415-1417),
completamente a forma de fazer esculturas. de Donatello, mármore, Or San
Michele, Florença (Itália)
Veja a escultura de São Jorge (Fig. 7). Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Esta é a primeira escultura, desde a época da


Antiguidade greco-romana, a se manter em pé,
sem nenhum apoio, com a técnica do contraposto.
O corpo voltou a apresentar-se articulado e com in-
dícios de vida. Podemos também notar que por bai-
xo da roupa do personagem encontra-se um corpo
com formas e músculos. Como um símbolo cívico-
-patriótico da Nova Atenas, a cidade de Florença
tem um olhar que demonstra segurança e atenção
para defender a cidade de seus inimigos, pois ele é
conhecido como “matador de dragões”.

Outro grande escultor é Andrea del Verrocchio


(1435-1488), um pouco mais jovem. Como mode-
lador e cinzelador usou materiais como a terracota,
o mármore, a prata e o bronze. Foi precursor no
jogo de luz e sombra e na construção dos volumes.

A escultura de bronze Davi (Fig. 8) de Del Ver-


rocchio mostra um Davi adolescente, jovem, de-
licado e ágil, em sua túnica enfeitada, com uma Fig. 8 – Davi (c. 1476) de Andrea del
espada na mão e a cabeça de Golias cortada ao Verrochio, bronze, Florença (Itália)
lado de seus pés. Fonte: Wikimedia Commons

A Pintura
A interpretação científica sobre o mun-
do predomina no pensamento dos renas-
centistas. Na pintura, a grande descoberta
foi a perspectiva, regras gráficas e mate-
máticas que permitem reproduzir sobre
um plano bidimensional um ou vários ob-
jetos em seu aspecto tridimensional (lar-
gura, altura e profundidade). Os pintores
também começaram a perceber o claro-
-escuro – áreas iluminadas, as sombras e
os contrastes – o qual sugere o volume
dos corpos para obter um maior realismo
nas pinturas.

Tomasso Masaccio foi um dos primeiros


pintores a utilizar a perspectiva científica
em pinturas. Pôs em prática as teorias de
Brunelleschi de como conceber a ideia de
profundidade em uma superfície plana. Na Fig. 9 – A Trindade (c.1425-1428), de Tomasso
obra A Trindade (c. 1425-1428) (Fig. 9) Masaccio, afresco, Santa Maria Novella, (Itália)
podemos notar os efeitos da técnica. Fonte: Wikimedia Commons

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Vemos na obra A Trindade (Fig. 9) Deus,
Cristo na cruz e, entre eles, a pomba, que re-
presenta o Espírito Santo. E ainda a Virgem Ma-
ria, São João Evangelista e dois patronos mais
abaixo. Os personagens são retratados com um
volume que fazem-lhes parecer quase esculturas.
Eles estão em uma capela cuja profundidade se
faz perceber pela perspectiva construída com um
ponto de fuga central. Podemos ver no mínimo
seis planos diferentes.

Masaccio desenvolveu um estilo bastante na-


turalista e real. No afresco Adão e Eva expulsos
do Paraíso (c.1426-1428) (Fig. 10), observamos
a expressão de Adão e Eva, lastimando a expul-
são. As mãos de Adão cobrem seu rosto num de-
sespero e choro, e o rosto de Eva está desolada
em lágrimas. Percebemos as características clás-
sicas das estátuas gregas nos corpos da pintura.

Outro pintor importante no período é Fra


Angelico (1395-1455), que tem como tema cen-
tral a religiosidade, por ter uma formação cris-
tã e conventual. Em sua pintura A Anunciação
(1432-1434) (Fig. 11) nota-se a influência de
Fig. 10 – Adão e Eva expulsos do Paraíso
Masaccio na construção das colunas e da pers-
(1401-1428), de Tomasso Masaccio,
pectiva do espaço interno, permitindo ver ao afresco, Capela Brancaccia (Itália)
fundo a expulsão de Adão e Eva do Éden. Fonte: Wikimedia Commons

Fig. 11– A Anunciação (1432-1434), de Fra Angelico, têmpera sobre painel, Museu Diocesano, Cortona (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Nas pinturas de Pietro della Francesca (1420-1492), um dos maiores pintores do


Renascimento, os acontecimentos eram importantes, mas sobretudo a composição
geométrica. Tanto os objetos quanto as pessoas adquirem uma regularidade
geométrica no espaço. Sua obra mais famosa é o conjunto de afrescos que fez
na igreja de São Francisco, em Arezzo, que narra a história da cruz usada na
crucificação de Cristo (Fig. 12).

Fig. 12 – A Prova da verdadeira cruz (c. 1460), de Piero dela


Francesca, afresco, Igreja de São Francisco, Arezzo (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Os personagens de suas pinturas parecem sólidos, como os do pintor Masaccio.


São grandes e fortes e ao mesmo tempo imóveis. Seus gestos dizem mais que
suas expressões faciais. Como um dos grandes teóricos da perspectiva científica,
escreveu o primeiro tratado, no qual demonstra a sua aplicação na construção do
corpo humano.

“Ele via uma cabeça, um braço ou trecho de planejamento como variações ou


compostos de esferas, cilindros, cones, cubos e pirâmides, e deu ao mundo visível
a clareza e permanência da matemática” (JANSON, 1996, p. 199).

Sandro Botticelli (1444-1510) foi o artista que melhor expressou em suas


pinturas a graciosidade dos personagens. Os temas utilizados eram da Antiguidade
grega, como também da tradição cristã. Suas pinturas possuem um ritmo suave,
conseguido por uma linha graciosa.

A obra Primavera (c.1480) (Fig. 13), de Botticelli, mostra a deusa Vênus no


centro da pintura, com um cupido de olhos vendados sobre ela, apontando uma
flecha para uma das ninfas. É a deusa do amor e representa a fertilidade. À sua
esquerda, vemos Zéfiro, o vento Oeste pronto para soprar. Ele segura a ninfa
Clóris, que se transforma em Flora, a deusa da primavera, representada pela jovem
com vestido florido.

À direita da Vênus, vemos as Três Graças e Mercúrio, o deus mensageiro,


representado afastando as nuvens. A elegância dos gestos, o planejamento das
cores e o fundo teatral compõem a obra de Botticelli.

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Fig. 13 – Primavera (c.1480), de Sandro Botticelli, têmpera
sobre painel de madeira, Galeria Ufizzi, Florença (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

O Nascimento de Vênus (c. 1480) (Fig. 14), feita para os Médici, tem uma
pintura com um modelado de pouco volume; sua paisagem não apresenta muita
profundidade e os corpos parecem flutuar, ao mesmo tempo em que possuem uma
delicadeza graciosa conseguida por uma linha que os delineia.

Fig. 14 – O Nascimento de Vênus (c. 1480), de Sandro Botticelli,


têmpera sobre tela, Galeria dos Ofícios, Florença (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Alto Renascimento
O Alto Renascimento se refere ao apogeu da arte no Renascimento. Momento
histórico da arte que se caracteriza pela perfeição das obras feitas por artistas como
Michelangelo Buonarroti (1475-1564), Leonardo Da Vinci (1452-1519), Rafael
(1483-1520), Ticiano Vecellio (1473-1576) e Bramante (1444-1514).
Michelangelo Buonarroti foi pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano,
considerado um dos maiores criadores da história da arte do ocidente, chamado de
“Divino”. Estudou na escola de escultura mantida por Lourenço Médici, onde teve
o contato com a filosofia grega e seus padrões de forma, equilíbrio e beleza.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Trabalhou nos afrescos da Capela Sistina, no Vaticano, onde concebeu diversas


cenas do Antigo Testamento. Uma delas é A criação do Homem, na qual Deus
aparece de barba e cabelos longos, corpo vigoroso e cercado por anjos, estendendo
a mão para Adão, que é representado por um jovem forte e belo, mostrando
claramente o ideal e a beleza das obras do Renascimento.

Fig. 15 – Detalhe do teto da Capela Sistina (1508-1512),


de Michelangelo Buonarroti, afresco. Capela Sistina (Roma)
Fonte: Wikimedia Commons

Não temos dúvida quanto ao talento de Michelangelo para a pintura, mas é clara
a sua preferência para a criação de esculturas. Acreditava que esta era a linguagem
capaz de equiparar o artista a Deus, já que possibilitava a criação da figura humana
em sua tridimensionalidade.

A sua genialidade na escultura pode


ser vista claramente na escultura Davi
(Fig. 16), a primeira estátua monumental
do Alto Renascimento. Ela apresenta um
estilo desenvolvido pelo artista, cheio de
referências da escultura helenística – be-
leza, escala monumental e força –, depois
de sua estadia por muitos anos em Roma.

A obra representa um jovem adulto


com um corpo definido e cheio de ener-
gia; suas mãos são enormes em relação
às outras partes, uma referência ao ho-
mem do povo, trabalhador e forte; seu
rosto tem as feições de um herói, capaz
de enfrentar desafios como Golias, seu
grande inimigo, além das demais adver-
sidades que podem ameaçar o homem. A
escultura, com mais de quatro metros de Fig. 16 – Davi (1501-1504) (detalhe),
altura, foi colocada na entrada do Palazzo de Michelangelo, mármore, Museu
Vecchio, como símbolo cívico-patriótico Acadêmico, Florença (Itália)
da República Florentina. Fonte: Wikimedia Commons

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Você Sabia? Importante!

Um apreciador de arte da época atribuiu a obra Pietá (1498-1499) (Fig. 17) a um outro
artista mais experiente, pois recusou-se a acreditar que Michelangelo, com apenas 23
anos tivesse feito a escultura. Quando soube, Michelangelo esculpiu uma faixa com seu
nome sobre a roupa da virgem.

Fig. 17 – Pietá (1498-1499), de Michelangelo, Basílica de São Pedro, Roma (Itália)


Fonte: Wikimedia Commons

Leonardo da Vinci foi um artista e pesquisador muito versátil, atuando em


diversos campos do conhecimento humano. Foi aprendiz de Andrea del Verrocchio
(1435-1488), consagrado pintor e escultor de Florença. Seu interesse por diversos
conhecimentos, inclusive na área urbanística, fez projetar redes de abastecimento
de água e esgotos para cidades, como também alinhamento de ruas, praças e
jardins públicos. Também estudou a perspectiva, óptica, proporções e anatomia,
produzindo diversos estudos, anotações e desenhos. Seu interesse pela anatomia
fez produzir diversas obras buscando o realismo do corpo humano.
Na pintura, Da Vinci se utilizou de uma técnica chamada de chiaroscuro (claro-
escuro), com a qual as formas não mais são fechadas por uma linha. Não fica claro
onde uma figura começa e a outra termina.
É durante sua estadia em Milão, quando estava a serviço do Duque de Milão,
que Da Vinci fez a famosa pintura A Última ceia (1495-1498) (Fig. 18) para o
refeitório do mosteiro Santa Maria delle Grazie. Ele aplicou sua técnica de modelado
ao afresco, porém a mistura de tinta óleo e têmpera não aderiu bem, fazendo com
que a pintura se degradasse rapidamente.
De qualquer forma, ela é um marco da pintura renascentista com uma composição
equilibrada e harmônica. Para integrar a pintura à parede do refeitório, o artista se
utilizou de alguns recursos: a profundidade criada pelos detalhes no forro da sala e
pelas janelas abertas no fundo da pintura, além da claridade criada por ele na parte
direita da cena, como se fosse a luz vinda das janelas à esquerda da pintura.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Fig. 18 – A Última ceia (1495-1498), de Leonardo da Vinci, afresco, Santa Maria Delle Grazie, Milão (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Observe que o ponto de fuga fica atrás da cabeça do Cristo, fazendo com que
nossos olhos o vejam em primeiro lugar, dando a devida importância ao personagem
principal desta história. A janela que está atrás, parece dar a impressão de uma au-
réola, santificando-o. A representação é do momento em que o Salvador pronuncia
a frase ápice do jantar “Um de vós há de me trair” e os apóstolos respondem, quase
que ao mesmo tempo, “Senhor, serei eu?”. Da Vinci explicita esse momento através
das expressões do rosto e dos gestos que cada um dos personagens faz.

O Renascimento Norte-Europeu
Essa nova estética e a valorização da cultu-
ra greco-romana pelos Italianos atravessou as
fronteiras da Itália e chegou a outras regiões
da Europa. Na cultura germânica e dos países
baixos, a pintura foi a arte que mais se desta-
cou, criando uma mistura com características
góticas e renascentistas.
Jan Van Eyck (1390-1441) foi um dos pio-
neiros no uso da tinta a óleo, aperfeiçoando a
técnica da aplicação de camadas transparen-
tes, o que lhe permitiu pintar detalhes e criar
cores profundas. Podemos observar a precio-
sidade desenvolvida por ele na pintura através
da obra O Casal Arnolfini (1434) (Fig. 19).
O artista representou com muito realismo
os objetos e superfícies com a ajuda da tin-
ta óleo, que lhe possibilitou representar até
mesmo o reflexo da luz sobre eles com muito
naturalismo. Note as diferentes texturas que Fig. 19 – O Casal Arnolfini (1434),
consegue no metal dos lustres, na madeira das de Jan Van Eyck, óleo sobre painel,
sandálias, nas contas do terço pendurado na National Gallery, Londres (Reino Unido)
parede, nos diferentes tecidos... Fonte: Wikimedia Commons

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É uma composição cheia de elementos simbólicos. Observe na parede do fundo
do quarto. Há um espelho redondo e nele o reflexo do casal. Acima está escrito
Jan Van Eyck esteve aqui/1434. Pode ser apenas a própria marca que o artista
tenha deixado na pintura, mas dizem que talvez fosse uma certidão do casamento,
que ele teria presenciado.

Observe também as laranjas em cima da mesa, símbolos de riqueza; no banco


de madeira a imagem de Santa Margarida esculpida, ela é a protetora das grávidas.
Há informações de que a primeira mulher de Arnolfini, Constanza, tenha morrido
ao dar a luz. Outro elemento interessante é a mão de Arnolfini que parece apenas
segurar de leve a mão da mulher. Talvez uma nova menção à esposa falecida.

Na Alemanha, Albrecht Dürer (1471-1528) concebeu a arte como uma repre-


sentação fiel da realidade. Depois de uma estadia em Veneza, voltou a Nuremberg
com uma nova concepção do mundo e da arte, com uma visão mais humanista.

Foi um importante desenhista e


o maior impressor de sua época, in-
fluenciando toda uma geração de ar-
tistas com suas gravuras. “Em suas
mãos, a xilogravura perde o seu en-
canto de arte popular, mas ganha a
articulação precisa de um estilo grá-
fico plenamente amadurecido” (JAN-
SON, 1996, p. 241).

A gravura Cavaleiro, morte e diabo


(1513) (Fig. 20) é uma mostra da be-
leza e habilidade do artista. Vemos um
soldado de Cristo sobre seu cavalo, bas-
tante confiante, sem se perturbar com
a figura do demônio que parece fitá-lo,
com as caveiras e bichos que aparecem
em seu caminho. Percebe-se em suas
obras o quanto valorizava a observação Fig. 20 – Cavaleiro, morte e diabo (1513),
de Albrecht Dürer, gravura, Museu de
da realidade, haja vista a grande quanti-
Belas Artes, Boston (Estados Unidos)
dade de detalhes nas suas obras. Fonte: Wikimedia Commons

Hieronymus Bosch (1450-1516) é um representante dos pintores dos Países


Baixos (Holanda). Criou um estilo inconfundível, cheio de imagens fortes, nas quais
mistura símbolos da astrologia, alquimia e magia. Suas pinturas possuem criaturas
horríveis que parecem vir de sonhos ou delírios, animais exóticos e uma série de
vegetais exóticos e imaginários.

O tríptico (três painéis articulados), O jardim das delícias terrenas (Fig. 21),
retrata, segundo algumas interpretações, a devassidão ocorrida depois que Deus
ordenou: “Crescei e multiplicai-vos”. Talvez seja um comentário ou uma crítica do
não entendimento correto da ordem de Deus.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

O primeiro painel retrata a Criação de Adão e Eva no Paraíso, o Jardim do


Éden; o painel central, o Jardim das Delícias ou o mundo antes do dilúvio; e, o
terceiro, o inferno.

Fig. 21 – O Jardim das delícias terrenas (c. 1500), de Hieronymus Bosch,


óleo sobre madeira, Museu do Prado, Madri (Espanha)
Fonte: Wikimedia Commons

Bosh recriou a história da humanidade, da criação do Paraíso até seu derradeiro


fim no inferno, um local cheio de coisas estranhas e más, onde as pessoas são puni-
das por seus pecados. Observe no painel da direita (Fig. 22) a criatura que está senta-
da sobre uma enorme cadeira, ela come uma pessoa e defeca humanos em um poço.

Fig. 22 – O Jardim das delícias terrenas (c. 1500) (detalhe do painel da direita – Inferno),
de Hieronymus Bosch, óleo sobre madeira, Museu do Prado, Madri (Espanha)
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

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Barroco – a Busca pela Emoção
O Barroco é um estilo que se desenvolveu na península Itálica por volta de
1600 e irradiou-se rapidamente por toda a Europa e, posteriormente, na Améri-
ca Latina, levado pelos colonizadores portugueses e espanhóis, ganhando carac-
terísticas diferentes.

O termo barroco significava na península ibérica um tipo de pérola de forma irregular


Explor

ou imperfeita. Em quase toda Europa era um sinônimo de extravagância, coisa disforme,


anormal, absurda e irregular.

A arquitetura barroca está presente principalmente nas mansões, palácios e


igrejas. Na Roma dos papas no século XVII, o barroco emergiu mostrando uma
tendência e estilo para todas as artes, espalhando-se concentricamente de Roma
para todos os países da Europa. A igreja precisava reagir à Reforma protestante.

“O papado voltou a patrocinar a produção de obras de arte em grande escala,


com o objetivo de transformar Roma na mais bela cidade de todo o mundo cristão”
(JANSON, 1996, p. 250).

Os artistas barrocos, herdeiros dos artistas renascentistas, respeitaram e aceitaram


as suas conquistas focadas na razão e na lógica como a perspectiva, o equilíbrio,
a sobriedade, o racionalismo, a lógica. Entretanto, eles queriam obras com mais
impacto e dramaticidade, então adicionaram o amor pelo infinito, a dramaticidade,
o dinamismo, os contrastes, a exuberância, o realismo e a tendência ao decorativo.

Arquitetura Barroca
Na arquitetura, construíram obras monumentais, cheias de elementos decorativos
e com muito movimento. As formas clássicas da arquitetura renascentista como
colunas, arcos, frontões e frisos permaneceram, mas ganharam uma feição
suntuosa e fantasiosa.

À Carlo Maderno (1556-1629) lhe foi encomendado terminar a Basílica de


São Pedro (Fig. 23), em Roma, iniciada por Bramante e Michelangelo. Ele deu à
fachada a visualidade de um ritmo acelerado, diminuindo o espaçamento entre as
pilastras e transformando-as em colunas.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Fig. 23 – Basílica de São Pedro, Roma (Itália). Projeto de Bramante, cúpula de Michelangelo e Giacomo
dela Porta (1564-1590), fachada de Carlos Maderno (1607-1615) e átrio de Bernini (1657-1666)
Fonte: fmarte.org

A obra foi completada por Gianlorenzo Bernini (1598-1680), o maior escultor e


arquiteto do período. Ele criou um átrio emoldurado por colunatas na parte frontal
da basílica (Fig 24), que representa um grande abraço da igreja nos incontáveis
peregrinos que chegam à Basílica todos os dias. Ele é circundado por uma colunata
circular, com 284 colunas de 23 metros de altura cada, em mármore travertino,
que sustentam um entablamento com 140 estátuas de santos, mártires e anjos de
2,70 metros de altura. No centro há um obelisco egípcio com 40 metros de altura.

Fig. 24 – Basílica de São Pedro (detalhe da colunata do átrio, parte frontal), de Bernini, Roma (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Francesco Borronini (1599-1667), grande arquiteto italiano, era o maior


concorrente de Bernini na arquitetura barroca de Roma. Sua genialidade produziu
complexos edifícios extravagantes, fugindo de alguns preceitos renascentistas,
como o de que a arquitetura devia seguir as proporções do corpo humano.

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Vamos observar a igreja de San Carlo alle Quattro Fontane (Fig. 25).

A fachada da igreja apresenta claramente


uma das características mais marcantes da arte
barroca: a grande quantidade de informações
– formas, texturas, movimentos e elementos.

A fachada incorpora esculturas e uma pin-


tura que está suspensa por anjos. O edifício
nos faz lembrar um teatro, com cenários dra-
máticos nos quais podemos imaginar uma
quantidade infinita de histórias.

“O vocabulário não nos é estranho, mas a


sintaxe é nova e inquietante; o jogo incessan-
te de superfícies côncavas e convexas faz com
que a estrutura toda pareça elástica, com as
formas distorcidas por pressões que nenhum
edifício anterior teria suportado” (JANSON,
1996, p. 258).

Na França, o Barroco assume característi-


cas mais sóbrias, comedidas e quase clássicas
e se impôs, pouco a pouco, como estilo quase Fig. 25 – Igreja de San Carlo alle
dominante na Europa. O palácio de Versa- Quattro Fontane, (1638-1667), de
lhes, em Versalhes, foi a expressão maior do Francesco Borromini, Roma (Itália)
barroco francês. Fonte: Wikimedia Commons

O conjunto de palácios e jardins mais famoso da Europa, no estilo barroco, é o


palácio de Versalhes (Fig. 26), feito para mostrar o grande poderio econômico e
político do governo monárquico francês do século XVII.

Fig. 26 – Palácio de Versallhes (1669-1685), de Louis Le Vau e Jules Hardouin Mansart, Versalhes (França)
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Jules Hardouin Mansart e Louis Le Vau foram alguns dos arquitetos que fizeram
o projeto para o conjunto arquitetônico construído no reinado de Luís XIV. Os
jardins externos do palácio de Versalhes (Figs. 27 e 28) foram criados por André
Le Nôtre (1613-1700). Possuem canteiros, alamedas, espelhos d’água e fontes em
uma geometria extraordinária, compostos por uma grande variedade de plantas.

Figs. 27 e 28– detalhe dos jardins do Palácio de Versallhes, de André Le Nôtre, Versallhes (França)
Fonte: Wikimedia Commons

Escultura Barroca
A escultura barroca valorizava a exaltação dos sentimentos, a sensação de movi-
mento, as formas curvilíneas, recobertas de elementos decorativos e muito dourado.
Um dos principais escultores italianos é Gianlorenzo Bernini (1598-1680). Era
um artista completo: arquiteto, urbanista, escultor, decorador e pintor.
Suas esculturas apresentam figuras em posições retorcidas, criando uma sensação
de movimento eminente. Parecem fragmentos de um determinado momento de
uma ação; mais que isto, elas parecem estar no momento ápice de uma cena.
Davi, de Bernini, é a versão barroca de Davi, de Michelangelo.

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Vamos observar os dois juntos?

Fig. 29 – Davi (1501-1504), de Fig. 30 – Davi (1623), de Gianlorenzo


Michelangelo, mármore, Museu Bernini, mármore, Galeria
Acadêmico, Florença (Itália) Borghese, Roma (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

Davi é um dos personagens mais mencionado nas religiões. No judaísmo é o


rei de Israel; no cristianismo é um ancestral de José, o pai adotivo de Jesus; e no
islamismo, é profeta e rei de uma nação. Talvez seja por isso que ele tenha sido tão
representado na História da Arte.

Ao observarmos novamente Davi (Fig. 29), esculpido por Michelangelo, ficam


claras as principais diferenças entre os estilos do Renascimento e do Barroco.
Ambos seguem os padrões de beleza greco-romano – proporções ideais, músculos
aparentes e beleza. Mas observe a tensão controlada presente no corpo de Davi
feita por Michelangelo. Com uma escala heroica, ele está parado e atento ao que o
rodeia. Tem um o olhar calmo que reflete a racionalidade renascentista.

Agora, vejamos o Davi de Bernini (Fig. 30). Ele está com um olhar fixo em algo
que não vemos, mas imaginamos: o seu inimigo Golias. Seu semblante é tenso,
seus dentes mordem os lábios, como num momento de forte tensão e eminência
de um gesto. Seu corpo está em uma pose de giro para a direita e sua perna direita
um pouco à frente para lhe dar equilíbrio. Ele está a um segundo de atirar uma
pedra no gigante Golias.

Bernini utiliza-se de uma série de estratégias para conferir mais dramaticidade


e teatralidade às suas obras. Consegue esplendorosamente isso ao unir pintura,
escultura e arquitetura como fez na obra O êxtase de Santa Tereza (Fig. 31).

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Fig. 31 – O êxtase de Santa Tereza (1645-1652), de Gianfrancesco Bernini,


Capela Cornaro, Santa Maria dela Vittoria, Roma (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Bernini fez a representação do momento em que Santa Tereza de Ávila teria


sido flechada por um anjo, como ela mesmo chegou a descrever. “A dor foi tão
grande que gritei; ao mesmo tempo, porém, senti uma doçura tão infinita que
desejei que a dor jamais acabasse” (JANSON, 1996, p. 257).

Fig. 32 – O êxtase de Santa Tereza (1645-1652) (detalhe), de Gianfrancesco


Bernini, Capela Cornaro, Santa Maria dela Vittoria, Roma (Itália)
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

Note o braço direito do anjo, seu rosto de satisfação e também o semblante da


Santa Tereza com um misto de dor e prazer. Conseguimos imaginar a cena por
meio das posições dos corpos, que parecem estar encenando. É o momento exato.
Por detrás, o artista criou um cenário de raios dourados, que juntamente com a luz
que entra por uma janela que está acima deles, reforça a ideia de uma iluminação
divina para este momento. Observe que ambos estão sobre uma nuvem.

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A Pintura Barroca
Um dos pintores mais notáveis em Roma era Caravaggio (1571-1610). Seu
nome verdadeiro era Michelangelo Merisi, Caravaggio era o nome da sua cidade
de origem, uma província de Bérgamo.

No século XVII, todas as pinturas tinham que atingir objetivos como a perfeita
representação, em qualquer circunstância, da real natureza ou da imitação do belo.

Caravaggio não se interessava pela beleza clássica como os pintores renascen-


tistas e buscava modelos entre pessoas comuns do povo, como os vendedores, os
músicos, as prostitutas para suas pinturas sacras. Seus personagens religiosos eram
retratados como pessoas comuns, do povo.

A pintura A vocação de São Mateus (1596-1598) (Fig. 33), feita para a igreja
de São Luigi dei Francesi, apresenta um forte naturalismo. O tema religioso é
pintado como se fosse uma cena em uma taverna qualquer, uma cena cotidiana.

Fig. 33 – A vocação de São Mateus (1596-1598), de Caravaggio, óleo


sobre tela, Capela Contarelli, São Luigi dei Francesi, Roma (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

A pintura retrata o momento em que Jesus chega a uma taverna e pede para
São Mateus, um cobrador de impostos, para segui-lo. O tema é conhecido, mas
a forma não. Caravaggio apresenta Jesus como uma pessoa comum. Apenas o
reconhecemos por alguns detalhes: o manto dourado, a sua mão iluminada e que
aponta para Mateus, uma referência clara à Criação do homem de Michelangelo,
e a luz marcada que enfatiza a cena com o gesto do Salvador.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

O forte contraste de luz e sombra é uma característica importante no trabalho do


artista. Não é uma luz solar, mas uma luz criada, teatral e em geral, bem dramática
que dá o tom à cena. Na obra, observe que a luz não vem da janela, mas do lado
direito da cena.

A pintura barroca tem como característica composições em diagonal. Várias


linhas diagonais, por exemplo, cortam a pintura A crucificação de São Pedro (Fig.
34), o que confere maior dinamismo e movimento para a cena. É o momento em
que a cruz de São Pedro está sendo erguida, mas como ele disse que não era me-
recedor de ser crucificado como Cristo, seus pés estão sendo puxados para cima.

A pintura foi feita dispondo os elementos, enfatizados pela luz, em “X” (Fig.
35). Observe que a luz que ilumina o tronco de São Pedro é a mesma que ilumina
o quadril do homem ajoelhado que apoia a cruz.

Fig. 34 – A crucificação de São Pedro Fig. 35 – A crucificação de São Pedro (1601) de


(1601), de Caravaggio, óleo sobre Caravaggio, (com indicação gráfica – linhas
tela, Basílica de Santa Maria del amarelas), óleo sobre tela, Basílica de
Popolo, Roma (Itália) Santa Maria del Popolo, Roma (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

A expressão trompe l’oeil surgiu no período barroco e significa enganar o olho. É uma
Explor

técnica conhecida desde a Antiguidade, aplicada em murais para criar a ilusão de algo que
efetivamente não existia, como uma porta ou uma janela para ampliar o espaço. Com o
surgimento da perspectiva, a técnica começou a ser usada para dar maior profundidade aos
locais como nos domos das igrejas. Na atualidade, os grafites criam imagens que brincam
com as superfícies bidimensionais, dando a elas profundidade (Fig. 36).

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Fig. 36 – House party, de Ciarán Brennan, grafite. Uso da técnica trompe l’oeil para criar ilusão
Fonte: baton.com

Na obra de Andrea Pozzo (1642-1709), no teto da igreja de Santo Inácio (Fig.


37) em Roma, vemos uma pintura com o uso da técnica trompe l’oeil, com o uso
da perspectiva para criar ilusão óptica. A imagem pintada no teto cria a ilusão de
que as paredes e colunas se estendem para o céu, onde surgem santos e anjos.
Esse tipo de pintura tornou-se muito comum em igrejas da época e também em
igrejas barrocas brasileiras.

Fig. 37 – Teto da Igreja de Santo Inácio (1691-1694), de


Andrea Pozzo, afresco, Igreja de Santo Inácio, Roma (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Outro grande pintor foi Giambattista Tiepolo (1696-1770). Na pintura em


trompe l’oeil, nas cornijas das paredes, utilizou uma técnica chamada “composição
centrífuga”, que é o afastamento dos personagens para um dos lados, deixando
abrir-se ao centro uma larga zona de céu. E notamos também que com o tempo, o
início do uso de tons escuros, a dramatização e os movimentos violentos tornaram-se
pouco a pouco mais claros, teatrais, vivos e alegres.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Trocando ideias...Importante!
O pintor Tintoretto (1518-1594) pintou intensamente temas religiosos, mitológicos e
retratos, porém, o grande historiador da arte da época, Giogio Vasari (1511-1574), disse
que suas obras tinham uma execução descuidada e o gosto excêntrico pelos temas.
Observe os detalhes da pintura A última ceia (Fig. 38).

Fig. 38 – A Última ceia (1592-15944), de Tintoretto, óleo sobre tela, San Giorgio Maggiore, Veneza (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Artemisia Gentileschi (1593-1653), seguidora de Caravaggio, foi uma das


poucas artistas mulheres dessa época a ser reconhecida mundialmente. Seu tema
preferido eram as histórias de heroínas como Betsabá e Judite.

Fig. 39 – Judite degolando Holofernes (1598), de Caravaggio, óleo


sobre tela, Galleria Nazionale D’Arte Antica, Roma, (Itália)
Fonte: Wikimedia Commons

Observe as figuras 39 e 40. Você percebe semelhanças nelas?

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Além do tema, percebemos que Artemisia
faz um tipo de composição bem parecido com
o de Caravaggio, como as diagonais, a repre-
sentação de uma cena que parece estar acon-
tecendo ante nossos olhos, a iluminação bem
marcada e teatral. No entanto, os artistas op-
tam por retratar momentos diferentes da cena.
Artemisia prefere o momento logo após a deca-
pitação, quando Judite e sua criada olham para
fora da pintura, enquanto a cabeça de Holofer-
nes é posta em um saco.

Barroco fora da Itália


O barroco logo se tornou internacional, ad-
quirindo características nacionais, como na Bél- Fig. 40 – Judite e a criada com a cabeça
gica, com linhas cheias de movimento e muita de Holofernes (c. 1625), de Artemisia
expressão; na Holanda, com uma certa austeri- Gentileschi, óleo sobre tela, Instituto
dade; e na Espanha, com um forte contraste de de Arte de Detroit (Estados Unidos)
claro-escuro. Fonte: Wikimedia Commons

Na Bélgica, o seu maior representante foi Peter Paul Rubens (1577-1640). O


artista desenvolveu um estilo pessoal durante os oito anos que permaneceu na
Itália. A obra O Levantamento da cruz (1609-1610) (Fig. 41) é a primeira obra
feita depois que retornou da Itália. Nela, podemos ver uma série de influências
italianas, como os corpos musculosos, a luminosidade e a grande força dramática.

Fig. 41 – O Levantamento da cruz (1609-1610), de Peter Paul Rubens, painel, Catedral de Antuérpia (Bélgica)
Fonte: Wikimedia Commons

A partir de 1630, o estilo de Rubens ganha um certo lirismo, como na pintura


O Jardim do amor (1632-1634) (Fig. 42), na qual a realidade se funde com a
mitologia. Vemos a nobreza, em frente ao palácio, junto com alegorias como os
cupidos no céu. A cor é um elemento bem importante nas suas pinturas. Ele as
utilizava principalmente nos vestuários e dava preferências às cores mais fortes
como vermelho, amarelo, verde e azul.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Fig. 42 – O jardim do amor (1632-1634), de Peter Paul Rubens, óleo sobre tela, Museu do Prado, Madri (Espanha)
Fonte: Wikimedia Commons

Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669), foi um dos mais importantes


artistas da Holanda. Também foi influenciado por Caravaggio, como, por exemplo,
no uso da luz e no uso de um forte realismo.

Na obra A lição de anatomia do doutor Tulp (1632) (Fig. 43), a luz é um foco
que ilumina o corpo do cadáver e os rostos do médico e dos curiosos que estão
atentos à lição. Apesar do claro e escuro, há uma gradação dos tons mais claros
até a escuridão total.

Fig. 43 – A lição de anatomia do doutor Tulp (1632), de Rembrandt,


óleo sobre tela, Museu Mauritshuis, Haia, Holanda
Fonte: Wikimedia Commons

Ainda na Holanda, Johannes Vermeer (1630-1675) tem como tema a vida e


os costumes de pessoas comuns. Muitas de suas pinturas retratam mulheres em
tarefas simples em suas casas, como na obra A carta (1666) (Fig. 44).

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Não há uma narrativa nas imagens. As mulheres apenas se olham. Poderíamos
comparar suas pinturas com imagens fotográficas, que retratam fragmentos de uma
realidade em que nada parece se mexer. Há sempre uma luz que ilumina a cena.

Fig. 44 – A carta (1666), de Jan Vermeer, óleo sobre tela, Rijksmuseum, Amsterdã (Holanda)
Fonte: Wikimedia Commons

Explore estas imagens (Figs. 45 e 46), observando os objetos e seus detalhes,


assim como as texturas e cores que Vermeer usava para compor suas pinturas
extremamente elaboradas e complexas.

Fig. 45 – A arte da pintura (c. 1666-1668), de Jan Vermeer,


óleo sobre tela, Kunsthistoriches Museum, Viena (Áustria)
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Os pintores espanhóis também estuda-


ram na Itália ou se inspiraram nos gran-
des artistas italianos. Os pintores mais
representativos do barroco foram Diego
Rodríguez de Silva y Velázquez (1599-
1660) e Doménikos Theotokópoulos, o
El Greco (1541-1614), cujas característi-
cas são bem peculiares.

Velázquez começou cedo sua carreira


de pintor. Trabalhou no ateliê de Francis-
co Herrera e depois, aos 12 anos, no ate-
liê do artista Francisco Pacheco. Com um
amplo círculo de amizades, sua carreira
prosperou rapidamente. Seus primeiros
temas foram as cenas religiosas e cotidia-
nas. Em 1629, depois de pintar o retrato Fig. 46 – A leiteira (1660), de Jan Vermeer, óleo
do rei Felipe IV, foi contratado como o sobre tela, Rijksmuseum, Amsterdã (Holanda)
pintor oficial da corte espanhola. Fonte: Wikimedia Commons

As duas viagens que fez para a Itália, entre 1629 e 1651, foram fundamentais
para o aprimoramento de sua técnica. Com as obras de Ticiano aprendeu sobre
o uso das cores, e com os artistas da Renascença, a estrutura escultural das
composições.

Retratou a vida diária e os tipos populares com muita maestria, e também as


pessoas da corte espanhola como na pintura As meninas (1656-1657) (Fig. 47),
uma de suas obras-primas.

Velázquez aparece à esquerda do quadro pintando uma enorme tela. Ao fundo,


há um espelho, onde encontram-se refletidas as imagens de Felipe IV e a rainha.
No centro da pintura temos o tema principal: a infanta Margarita Teresa, herdeira
do trono, cercada de damas de honra e amigos. Há um jogo de luz, composto por
uma variedade grande de luz direta e indireta, que de certa forma marca os planos
da obra e cria a ilusão de profundidade na obra.

Observe a iluminação lateral que ilumina o rosta da infanta e seu vestido, e


também os fortes contrastes de luz e sombra por toda a pintura. Constrói as áreas
iluminadas com delicadas velaturas. Suas pinceladas parecem ser rápidas, se são
visíveis. Observe o tratamento dado ao vestido da infanta Margarita (Fig. 48).

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Fig. 47 – As meninas (1656-1657), Fig. 48 – As meninas (1656-1657)
de Velázquez, óleo sobre tela, Museu (detalhe), de Velázquez, óleo sobre tela,
do Prado, Madri (Espanha) Museu do Prado, Madri (Espanha)
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

Doménikos Theotokópoulos, de origem grega, ficou conhecido como El Greco.


Mudou-se para Veneza, em 1567, onde acredita-se que tenha trabalhado com
Ticiano, o que rendeu-lhe pinceladas mais soltas e livres. Da sua estada em Roma,
entre 1570 e 1577, aproveitou a monumentalidade clássica para suas pinturas e
o impasto.

Em 1577 foi para a cidade de Toledo, na Espanha, onde viveu até sua morte.
Foi lá que ficou famoso, atingindo seu auge na pintura. Apesar de ser reconhecido
hoje como um artista de grande talento e originalidade, sua forma de desenhar e
pintar nem sempre foi aceita. Durante longo tempo foi considerado louco, devido
às figuras aterrorizantes e deformadas que criava.

Em Adoração dos pastores (1612-1614) (Fig. 49), vemos o uso de cores fortes
e marcantes por toda pintura, o que lhe confere bastante dramaticidade. Note
também o corpo dos personagens, são alongados e muito expressivos, criando
uma verticalização na obra. Parece que o artista estava mais preocupado na
dramaticidade do que no realismo das figuras, talvez reflexo do clima intenso da
Contrarreforma na Espanha.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Uma de suas obras mais conhecida e famosa de El Greco é O enterro do conde


Orgaz (1586-1588) (Fig. 50). A obra é uma homenagem ao benfeitor, o conde
Gonzalo Ruíz de Toledo, encomendada pelo padre da igreja de São Tomé. Na parte
de baixo da pintura, o artista retrata nobres e pessoas do clero no funeral; já na par-
te superior, vemos Santo Estevão, Santo Agostinho e os anjos conduzindo-o ao céu.
As duas partes da obra foram construídas de forma diferente. Note que na parte
inferior, as figuras foram pintadas com um certo realismo e naturalidade, enquanto
na parte superior todos os elementos como as nuvens e personagens são pintados
com formas distorcidas, cores exageradas e muito movimento.

Fig. 49 – A adoração dos pastores (1612-1614), Fig. 50 – O enterro do conde Orgaz


de El Greco, Museu do Prado, Madri (Espanha) (1586-1588), de El Greco, óleo sobre tela,
Fonte: Wikimedia Commons Igreja de São Tomé, Toledo (Espanha)
Fonte: Wikimedia Commons

Rococó
O estilo Rococó nasceu em Paris por volta de 1700 e veio substituir o Barroco.
Seu nome foi dado por um aluno de Jacques Louis David (1748-1825), depois
da Revolução Francesa, para menosprezar a frivolidade do estilo. Rococó vem
da palavra francesa rocaille, que significa conchas e seixos, uma referência à
ornamentação de grutas e fontes.

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Foi muito utilizado na arquitetura e na decoração de interiores, mas também foi
aplicado à pintura e à escultura da época. Os temas eram muito parecidos com
os do Barroco, só que de uma forma mais leve e divertida. O tema do amor era
muito popular, as cenas pastorais e a mitologia imperavam como uma forma de
escapismo aos problemas que se multiplicavam fora dos palácios.

As pinturas de Antoine Watteau (1684-1721), pioneiro do estilo, mostram


jovens casais, ricamente vestidos brincando em parques e paisagens esplendorosas.
Suas pinturas faziam parte da categoria chamada de festejos e entretenimentos
elegantes. Vamos ver a obra O embarque para Citera (1717) (Fig. 51).

Fig. 51 – O embarque para Citera (1717), de Antoine Watteau, óleo sobre tela, Museu do Louvre, Paris (França)
Fonte: Wikimedia Commons

Vemos elementos da vida real, como as pessoas da corte em meio à elementos


da mitologia clássica. Os personagens estão em Citera, uma ilha grega, para ren-
der homenagem à deusa Vênus que, segundo a mitologia, foi parar lá depois de
nascer no mar.
“Suas figuras não têm a robusta vitalidade das de Rubens; esguias
e graciosas, movem-se com a segurança estudada de atores que
desempenham tão magistralmente os seus papéis que nos comovem
muito mais que a realidade jamais seria capaz de fazê-lo” (JANSON,
1986, p. 285).

A leveza e a elegância fazem parte da arquitetura e seus interiores. A ornamen-


tação dos espaços privilegiava a delicadeza e as curvas. Os pisos eram revestidos
com elaborados padrões de folha de madeira, a mobília era marchetada, estofada
com gobelin e com incrustações de marfim e casco de tartaruga.

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

A arte Rococó é extremamente decorativa, cheia de elementos e texturas. A cor


é um elemento muito característico do período, porém, ao contrário do Barroco
que se utilizava de cores fortes, predominam as cores claras: branco, rosa, azul e
muito dourado.

Fig. 52 – Salão dos Espelhos (1734-1739), de François Cuivillés, Palácio de Versalhes (França)
Fonte: Wikimedia Commons

O Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes talvez seja um dos melhores


exemplos de um interior no estilo Rococó. Sua decoração é em mármore e bronze
e está repleta de esculturas. Seus 73 m de comprimento, 10 m de largura e 12
m de altura. É composta por uma série de janelas e portas em arco decoradas
com ornamentações curvilíneas em forma de flores, folhas, animais e instrumentos
musicais. No teto, há pinturas dos feitos militares do reinado de Luís XIV.

Fig. 53 – Salão Oval, de Balthasar Neumann, Palácio Episcopal, Wurzburg (Alemanha)


Fonte: Wikimedia Commons

O grande salão do Palácio Episcopal, em Wurzburg (Alemanha), mostra a leveza


do estilo com uma decoração feita nas cores branco, dourado e tons pastéis. Toda a
superfície é recoberta com desenhos ornamentais e modelados em forma de folhas
e fitas. O teto parece se abrir em pinturas que representam o céu iluminado pelo sol.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Uma Nova História da Arte, de Julian Bell
Sinopse: o que é arte e onde ela começou? Por que ela é feita e por que muda? Essas
são algumas das muitas questões discutidas por Julian Bell neste livro. Bell vale-se
de uma vasta gama de objetos para mostrar que a arte é um produto da experiência
comum; que, à maneira de um espelho, ela pode refletir a condição humana e as
preocupações culturais mais básicas. Bell optou por uma perspectiva global, criando
justaposições - figuras dançantes de bronze do sul da Índia, esculturas românicas, tetos
barrocos e manuscritos persas que parecem jóias são discutidos lado a lado, como
testemunhos de nosso instinto criativo universal. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Filmes
Caravaggio
Direção: Derek Jarman, cor, 93 min, 1986, Inglaterra. Sinopse: Caravaggio (Nigel
Terry), em flashbacks, recorda fatos de sua curta existência e nos mostra sua infância,
as decepções, seus últimos sucessos, suas amizades e a relação destrutiva com um
jogador muito atraente. O filme nos conta toda a história da vida do pintor, exibindo
as contradições entre as crenças religiosas e sua identidade sexual.
A Moça com Brinco de Pérola
Direção: Peter Webber, cor, 95 min, 2003, Inglaterra. Sinopse: Em pleno século XVII
vive Griet (Scarlett Johansson), uma jovem camponesa holandesa. Devido a dificuldades
financeiras, Griet é obrigada a trabalhar na casa de Johannes Vermeer (Colin Firth),
um renomado pintor de sua época. Aos poucos Johannes começa a prestar atenção
na jovem de apenas 17 anos, fazendo dela sua musa inspiradora para um de seus mais
famosos trabalhos: a tela Girl with a pearl earring.
Elisabeth, a Era do Ouro
Direção: Shekhar Kapur, cor, 125 min, 2007, Estados Unidos. Sinopse: O filme
analisa a Inglaterra absolutista de Elizabeth I (Isabel, a Rainha Virgem), que subiu ao
trono em 1558 para tornar-se a mulher mais poderosa do mundo. Elizabeth (Cate
Blanchett) enfrenta todos os inimigos internos e externos que ameaçam a Inglaterra,
abdicando de sua própria vida pessoal em nome de seu povo. Recebeu uma indicação
ao Oscar de melhor atriz, em 1998.

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Museu de Arte Sacra
O Museu de Arte Sacra de São Paulo é fruto de um convênio celebrado entre o
Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969,
e sua instalação data de 28 de junho de 1970. Possui um acervo que se iniciou em
1907 com Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro arcebispo de São Paulo. Endereço:
Avenida Tiradentes, 676, Luz, São Paulo/SP.
www.museuartesacra.org.br

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UNIDADE Renascimento e Barroco – Retorno ao Clássico

Referências
ARGAN, G. C. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.

DIXON, A. G (coord.). Arte: o guia visual definitivo. São Paulo: Publifolha, 2012.

FARTHING, S (ed.). 501 Grandes Artistas. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.

FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e


Científicos Editora, 2000.

JANSON, H.W. e JANSON, A. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins


Fontes, 1996.

PRETTE, M. C. Para entender a arte: História, linguagem, Época, Estilo. São


Paulo: Globo, 2008.

PROENÇA, G. História da Arte. São Paulo: Editora Ática, 2012.

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