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CENA I
- Entra pú blico;
- Sobe mú sica. (TASH SULTANA – JUNGLE)
- Entra atores;
(Som de campainha)
(Som de campainha)
NATHÁLIA: “Não...”
(Som de campainha)
LUANA: “Será que as coisas simples hoje são recebidas de maneira complicada?”
NATHÁLIA: “Talvez...”
(Silêncio)
TACI: “A verdade é que tem coisas que eu digo que eu nem pensei ainda, e passo a pensar
justamente porque disse.”
ALUNA: “Não sei se vou conseguir, tenho medo de me repudiarem, será que serei capaz de
conseguir ir a diante? “
LUANA: “continuei imóvel, tão imóvel quanto a lua que reluzia no céu.”
TACI: “Sequer percebem que entre aquele amontoado de orações subordinadas estava o meu
coração.”
VAGNER: “Acho que de tanto falarem, se esqueceram de me ensinar como eu faço pra aceitar
o meu próprio tempo.”
CLAUDIA: “ A felicidade é como a noite, passando, passando... Em busca da madrugada”
ALEX: “Se sou eu ainda jovem
Passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção
O que cantarei depois?...”
BIA: “Na realidade nós aceitamos a realidade que achamos merecer ter. “
ALUNA: “Nos afundamos em belezas que não existem. Como uma roupa pode ser mais bela
que o detalhe do seu nariz?”
LUANA: “Mais parecia que eu nunca estive ali, respirei fundo desviei os olhos, que fixados
estavam no nada, e percebi que talvez fosse tarde demais”
CENA II
LUANA: “O senhor, por exemplo, que sabe e estuda, suponho nem tenha ideia do que seja na
verdade — um espelho...”
ALEX: “Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.”
NATHÁLIA: “Há-os «bons» e «maus», os que favorecem e os que detraem; e os que são apenas
honestos.”
ANA: “Respondo: que, além de prevalecerem para as lentes das máquinas as ilusões, seus
resultados apoiam antes que desmintam a minha tese. Revelam aos nossos olhos, os índices do
misterioso.”
TACI: “Ainda que tirados de imediato um após outro, os retratos sempre serão entre si muito
diferentes.”
LUANA: “Se nunca atentou nisso, é porque vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas
mais importantes.”
TODOS: “As máscaras.” (Atores interagem com o público mandando eles falarem “máscaras”
também.)
ALEX: “Sou do interior, na nossa terra, dizem que nunca se deve olhar em espelho às horas
mortas da noite, estando-se sozinho. Porque, neles, às vezes, em lugar de nossa imagem,
assombra-nos alguma outra e medonha visão.”
VAGNER: “Não sejamos enganados pelos olhos... eles são as portas para o engano.”
TACI: “Sou, porém, positiva, racional. Satisfazer-me com fantasias não explicadas? — jamais.
Que amedrontadora visão seria então aquela? Um monstro?”
NATHÁLIA: “Porém... numa manhã de sábado... Eu era moça, contente, vaidosa. E descuidada,
avistei… Explico-lhe: um espelho. E o que enxerguei, por instante, foi uma figura, perfil
humano, desagradável a um certo grau, repulsivo senão hediondo. Deu-me náusea, aquele ser,
causava-me uma mistura de ódio, susto e pavor. E era — logo descobri… era eu mesma.”
TACI – “Desde aí, comecei a procurar-me — eu por detrás de mim. Me sentia insuficiente,
comecei a me apaixonar pelo silêncio. Com o passar de horas e horas comigo mesma, comecei
a me observar mais... Olhava nos espelho dos meus próprios olhos e um vazio o preenchia... “
LUANA – “ Eu não deveria ter nascido. (todos levantam a cabeça e abaixam novamente). Quem
me ouviria? Nem eu mesma me ouvia. Por que me ouviriam? Eu não havia nada a dizer. Passei
a ser o que mais temia, aquele tipo de menina que se importa com o que os outros pensam
dela.
No fundo, eu era uma menina solitária, invisível. E pra ser bem sincera: era o que eu realmente
queria ser. (Todos levantam a cabeça e abaixam novamente). Mas aquela máscara servia
como refúgio para os meus problemas...”
ALEX: “ Se, por exemplo, em estado de ódio, o senhor enfrenta a sua imagem, o ódio reflui e
recrudesce, em tremendas multiplicações: e o senhor vê, então, que, de fato, só se odeia é a si
mesmo.”
VAGNER: “Por que as coisas são sempre assim? Será que nada irá mudar? (Todos levantam a
cabeça e abaixam novamente) Eu espeto agulhas em minha pele e firo-me por fora tentando
matar o que está dentro de mim, e as minhas torturas parecem que não querem ir embora, e
eu não consigo parar de ir atrás delas.
Se eles percebessem o que está oculto por trás de cada sorriso meu, eles chorariam junto de
mim...”
BIA: “Nós sempre iremos tontear a debater de frente com a verdade, ela é cruel demais para
seres tão fracos. “
ALUNA: “Somos considerados seres fracos mas somos tão fortes para encarar esta hipocrisia
que nos rodeia... esta mesma hipocrisia que nós mesmos colocamos em ação... olha que
ironia... Somos seres irônicos, e ironicamente adoramos isso. Pois desde que o mundo é mundo,
sempre foi assim... Mas vale a pergunta: quando deixará de ser?”
CENA IV
LUANA: “Após eu tirar todas camadas da máscara que em meu rosto estava, olhei-me ao
espelho novamente... e para minha surpresa: Não via absolutamente nada! E a terrível
conclusão surgiu: não haveria em mim uma existência central, pessoal, autônoma? Seria eu
um… desalmado? (todos os atores fazem o varal e com a continuidade do texto, vão subindo,
lentamente)
E, seria assim, com todos?”
BIA: Quando eu retirei aquilo, nada mais fez sentido, parece que eu era um ser de outro
planeta. Mas, a questão é: quando eu sou de outro planeta, quando sou eu? Ou quando sou
quem querem que eu seja?
TACI: “Pois foi que, mais tarde, anos, ao fim de uma ocasião de sofrimentos grandes, de novo
me defrontei — não rosto a rosto. O espelho mostrou-me. Ouça: por um certo tempo, nada
enxerguei. Só então, só depois: uma leve criatura. Era homem, mulher? Não sei! Sua imagem
estava de forma nublada me deixando dúvidas... Que luzinha era aquela?
ANA: “Era uma criança! E, seria assim, com todos? Seríamos não muito mais que as crianças
em nossa essência?
TACI: “Sim? Mas, então, está destruída a ideia de vivermos em agradável acaso, sem razão
nenhuma, num vale de bobagens?”
ALUNA: “Esse espelho reflete mentiras, estamos presos à ele, como se estivéssemos na torre
de um castelo...”
(Silêncio)
(Toca uma campainha)
(Silêncio)
(Toca uma campainha)
TACI “Se me permite, espero, agora, sua opinião, sobre este assunto. O que você foi? O que
você é? O que você vai ser? E o mais importante: o que você quer ser?”
NATHÁLIA: “Repare que há uma grande diferença entre o que você vai ser e o que você quer
ser!”
ANA: “Ser ou não ser... eis a questão.” (olha para alguém da plateia e pisca um olho, com um
leve sorriso de canto de boca.)
(Silêncio)
Não, obrigado.
Pode ser nada sozinho.
Prefiro ser tudo.
De tudo um pouco,
Um pouco de tudo.
Esse sou eu
Não sei o que quero
Não sei o que sou
Não sei o que é a vida e a morte
Mesmo estando em uma das duas
E daqui a pouco em duas das duas
Daqui a pouco
Ou nem tão pouco
Ou pouco
Horas
Dias
Meses
Anos
Prefiro anos
Da pra fazer mais algumas besteiras,
conhecer as pessoas certas nas horas erradas novamente
As erradas, nas horas certas infelizmente
Esquece-las
Lembra-las
Vê-las
Esquece-las novamente
Viu...
Se eu fosse nada
Não poderia fazer nada disso
E nada disso eu poderia fazer
Nem repetir como eu repito a palavra nada
Pois eu não tenho nada à dizer.”
BLACK
FIM