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ARTIGO E PÓS-MODERNIDADE
ESPECIAL
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primórdios, sempre foi assim: durante um certo conhecimento científico sobre a interpretação
espaço de tempo, às vezes, abrangendo alguns teológica do mundo, o desenvolvimento das
séculos, uma série de elementos sociais, cidades e do comércio (surgem os “burgos”, as
econômicos e culturais permanecem, aparen- cidades, muitas vezes cidades-estado, e os
temente, estáveis até que em um determinado “burgueses”, uma nova classe social), a inven-
momento, que poderá ocupar algumas gerações, ção da imprensa (a descoberta de J. Gutemberg
ocorre uma “ruptura”, surgindo momentos de – 1397/1468 - colocou o conhecimento obtido
instabilidade, incertezas e mudanças bruscas, e através dos livros e da Bíblia - a primeira Bíblia
após, uma nova etapa se estabelece. Foi assim, foi impressa em 1454, em especial, ao alcance
por exemplo, ao final do medievo, em torno dos de muitos, o que antes era restrito ao trabalho
séculos XV e XVI, quando a modernidade dos monges copistas e que permanecia na posse
começou a se estruturar. da Igreja, originando mudanças, as quais o livro
Uma metáfora que costumo utilizar para dar de Humberto Eco, O nome da rosa, nos relata
uma maior nitidez ao que escrevo (valendo magnificamente), na esteira desse processo
sempre lembrar, com Goethe, que “...a nitidez é surge a Reforma Protestante e a Contra-reforma,
uma conveniente distribuição de luz e sombra...”, enfim, um sem número de fatores sociais, eco-
ou seja, que não pretendo “explicar tudo”) é o nômicos e culturais se modificaram. Houve um
movimento das placas tectônicas. Estas placas, esvaziamento do medievo nos séculos XV, XVI
que compõem a superfície terrestre, durante e XVII e o nascimento e o desenvolvimento da
longos espaços de tempo, aparentemente (embora modernidade. A modernidade, que é repre-
estejam, na verdade, em constante movimento e sentada, por exemplo, pelo ideário da Revo-
produzindo um acúmulo de energia), parecem lução Francesa de 1779 - liberdade, igual-
estar em repouso, até que o acúmulo de energia dade e fraternidade – propiciou o surgimento
produz movimentos perceptíveis a que da revolução industrial, a noção de Estado
denominamos terremotos e novas acomodações Nacional, o respeito pelo cidadão e pelas
surgem então. Não esqueçamos que nosso leis constitucionais, uma ênfase sobre a “razão”
continente sul-americano era unido à África... e no conhecimento científico, o estabelecimento
Estas novas acomodações darão lugar a novos da “família burguesa”, configurando uma
terremotos e assim sucessivamente, num visão de mundo (explicitada por filósofos como
movimento contínuo. Com o desenvolvimento da Spinoza, Descartes, Kant e Comte, entre outros)
sociedade humana acontece algo parecido: a considerada como o Iluminismo, período das
Idade Média, como comentei antes, foi “estável” luzes, em oposição à, agora chamada, idade
durante alguns séculos, ocorreu um “terremoto” das trevas, a Idade Média.
durante algumas gerações, e se estabeleceu, A Revolução Industrial, por exemplo, conso-
então, a Idade Moderna. lidou a modernidade e artistas a descreveram
É possível, pensam alguns autores, que com clareza. No plano religioso, a Reforma
estejamos vivendo um “terremoto” – a condição desencadeada por Martim Lutero (não esque-
pós-moderna, período de transição entre a çamos que foi ele quem traduzindo e assim
modernidade e o que a irá suceder... logo surge difundindo a Bíblia, com a possibilidade
a pergunta sobre que fatores provocam essas oferecida pela invenção de Gutemberg, unificou
“mudanças”? Voltemos, por breves momentos o idioma Alemão) representou uma trans-
e com uma lente de maior aumento, até à Idade formação ao atingir a hegemonia da Igreja
Média, caracterizada, especialmente, pela Católica e do papado romano, criando o cená-
estrutura feudal e por uma visão de mundo rio para o tema que Max Weber explora em
teológica. O desenvolvimento do comércio seu livro A ética protestante e o espírito do
trazido pelas grandes navegações, o avanço do capitalismo.
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surge, altera e transforma a estrutura de uma rivalidade resultante da reedição edípica nesta
Sociedade, que não consegue mais exercer uma etapa) e/ou externos (sentido crítico social
função continente adequada para o que era aguçado ao alcançar níveis abstratos de pen-
considerado um conjunto de verdades samento, ausência de compromissos sociais
(paradigmas, valores, etc...); nesse momento como adultos, pais ou profissionais, etc.) é,
ocorre uma mudança catastrófica e uma nova historicamente, um dos principais agentes de
estrutura se estabelece. Uma outra concepção transformação social...
importante que nos oferece W. Bion diz respeito
ao que ele denomina o místico e a relação deste – III –
com o grupo. O místico como o representante Embora utilize, obviamente, referenciais
grupal de uma nova idéia ou concepção. teóricos, quero dirigir minhas idéias pela clínica
Vejamos, novamente, o que escreve L. e pelo cotidiano de minha prática, que representa
Grimberg. mais de três décadas de atividade psiquiátrica e
O indivíduo excepcional pode ser descrito de clínica com crianças, adolescentes e suas famílias.
diferentes maneiras; pode-se chamá-lo de gênio, Não tenho o intento de estar construindo um paper
místico ou messias. Bion utiliza, de preferência, ou ser um scholar, mas sim o de estar buscando
o termo místico para referir-se aos indivíduos interlocutores para discutir minhas idéias,
excepcionais em qualquer campo, seja o ou a síntese de um conjunto de idéias que sou
científico, o religioso, o artístico ou outro (...) O capaz de realizar hoje. Procuro também uma
místico ou o gênio, portador de uma idéia nova linguagem, tanto quanto possível, que seja
é sempre disruptivo para o grupo (...) de fato, comum, distante do jargão técnico habitual: se
todo gênio, místico ou messias será criativo e for possível, com esta linguagem com a qual nos
niilista, ambas as coisas seguramente (...) desde relacionamos no dia-a-dia e tão ao gosto de
que a origem de suas contribuições será Donald Winnicott, pediatra e psicanalista
seguramente destrutiva de certas leis, britânico. Vale citar, a propósito, um filósofo
convenções, cultura ou coerência de algum fundamental para a cultura contemporânea e,
grupo... particularmente, para a pós-modernidade que foi
Sugiro, seguindo essa linha de pensamento, F. Nietzsche (Apud Souza, 1989):
que os adolescentes exercem ao longo de muitos ”Quem sabe o que é profundo busca a clareza;
momentos históricos o papel do místico, quem deseja parecer profundo para a multidão
promovendo mudanças catastróficas e fazendo, procura ser obscuro, pois a multidão toma
assim, andar o carrossel da saga humana, a por profundo aquilo que não vê: ela é medrosa,
evolução de nossa sociedade. W. Bion, inclusive, hesita em entrar na água.”
postulou em uma palestra que adolescência é um Retomemos alguns conceitos que nos serão
exemplo de turbulência emocional, que ocorre úteis, embora referidos mais profundamente nos
quando uma criança que parecia calma, capítulos iniciais. É bem conhecido que a
tranqüila, comportada e dócil se torna agitada, adolescência é um período evolutivo onde
contestadora e perturbadora. Em um dos transformações biopsicossociais acontecem,
capítulos descrevi como os adolescentes, tanto determinando um momento de passagem do
por motivos internos (buscando, por exemplo, conhecido mundo da infância ao tão dese-
externalizar ativamente na transformação social jado e temido mundo adulto. A adolescência é
os processos internos de transformação corporal caracterizada por inúmeros elementos, dos
que sofrem passivamente, realizando a quais quero referir alguns: (1) a perda do corpo
transformação do passivo em ativo, como sugere infantil, dos pais da infância e da identidade
S. Freud ao descrever o par antitético passividade- infantil; (2) da passagem do mundo endogâmico
atividade, ou na externalização social da ao universo exogâmico; (3) da construção de
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e dos pequenos vilarejos do interior. Com a a família não tem acesso a esses recursos. A
rápida migração para os grandes centros função paterna é cada vez mais inexistente nos
urbanos, passamos a encontrar a família grandes centros urbanos. É interessante ler o que
nuclear, constituída por um casal (ou somente Zuenir Ventura escreve em seu livro Cidade
pela mãe, em pelo menos um terço das Partida sobre esta questão. O autor descreve o
famílias, segundo o IBGE) e um ou dois filhos, Rio de Janeiro de hoje e suas dificuldades e
longe do grupo familiar de origem, anônimos, comenta o que segue, a propósito de um baile
isolados e solitários na multidão das grandes funk, onde duas “galeras” começavam a brigar...
cidades e desenraizados de suas culturas. Ari da Ilha, que estava presente, é um homem
Exatamente nesta década, observamos que velho e doente, mas um respeitado líder da
crianças e adolescentes passam a chamar de comunidade, e intervém da seguinte maneira
tios os adultos, em geral, e os professores, em para “acalmar” os ânimos ...
particular. Estes novos tios penso que são Ari da Ilha pegou o microfone, mandou parar
assim denominados por uma nostalgia pelo o som e começou a falar. O discurso a princípio
grupo familiar mais amplo e protetor: crianças foi todo de persuasão.
e adolescentes (e seus pais) em busca da - Nós estamos aqui para nos divertir. É um
família perdida. Paulo Freire não concordava baile de paz. Vocês têm que dar um bom exemplo.
com esta denominação, mas penso que, se nos Esse baile não pode ter tumulto.
anos setenta, os alunos chamavam professores Como um pai enérgico daqueles 2 mil jovens,
de tios, hoje, os professores são convocados foi aos poucos engrossando a mensagem, mas
inclusive a exercer funções maternas e mantendo o bom humor.
paternas. - Vocês conhecem nosso regulamento, não
b) na década de oitenta, as questões diziam conhecem? Quem fizer coisa errada leva palmada
respeito às novas configurações familiares: na bunda.
famílias reconstituídas, com filhos de Ficou claro até para mim que ele estava
casamentos anteriores e do novo casamento, usando um eufemismo. Sem dúvida, palmada
tendo este fato social o reconhecimento com a queria dizer palmatória, um castigo muito usado
lei do divórcio. Numa sala de aula, nos anos em Lucas e que poderia até quebrar mãos.
cinqüenta, poucas crianças tinham os pais A ordem definitiva veio no final da fala:
separados, enquanto hoje um grande número - E vamos acabar com esse negócio de
vive esta situação. trenzinho. Isso dá confusão.
c) na última década, temos a possibilidade de
uma mulher ter um filho sem relações genitais O que aconteceu?
com um homem, através da fertilização Ari da Ilha, velho e doente, mas respeitado,
assistida: o desenvolvimento tecnológico nos exerceu uma função paterna e restabeleceu a
aporta novas estruturas familiares... Não uma ordem na festa!
“produção independente”, mas uma gestação Agora vejamos as mudanças que observo na
e um bebê sem ter acontecido uma relação adolescência, período que a Organização
genital e “o pai” apenas um “desconhecido Mundial da Saúde situa entre dez e vinte anos.
doador de esperma”... Revisando os conceitos teremos que puberdade
A mulher obtém uma definitiva inserção no corresponde aos processos biológicos e
mercado de trabalho e o tempo com os filhos se adolescência a fenômenos psicossociais. Nos
torna menor do que nas gerações anteriores. anos setenta, a criança se tornava púbere e após,
Creches, berçários e as escolas infantis se tornam adolescente; nos anos oitenta, puberdade e
necessários para compensar a ausência materna, adolescência ocorrendo concomitantemente e na
e nem sempre são locais adequados e, às vezes, última década, observo conduta adolescente
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cidades, era capaz de vivenciar aquelas imagens lanças. Soa, então, um apito e todos param de
e fragmentos caleidoscópicos, cuja novidade, lutar e começam a pintar. Um deles explica
imediatez e vividez, juntamente com a sua que começou o Renascimento. Lógico que as
natureza efêmera e justaposição, freqüentemente transformações não se dão desta maneira, mas,
parecia estranha”. repito, ocupam muitas gerações.
O texto seminal de Charles Baudelaire Jean-François Lyotard (Smart, 1993) polemiza,
(Baudelaire, 1869) sobre a modernidade e que como é necessário, sobre a expressão pós-
marca a incorporação do termo e de seus conceitos modernidade, ao escrever:
ao pensamento ocidental é o ensaio intitulado
Sobre a modernidade (publicado postumamente, “... ou será a pós-modernidade o passatempo de
em 1869, na revista L’Art Romantique), onde ele um velhote que espiona o monte de lixo à procura
se revela o precursor da estética moderna e se de restos, que fala de inconsciências, lapsos, limites,
torna um ponto de referência para a compreensão fronteiras, gulags, parataxes, absurdos ou
da modernidade hoje. Sua écriture baseia-se paradoxos, transformando-os na glória de sua
numa crítica a Constantin Guiz, desenhista, novidade, na sua promessa de mudança ?“
gravador e aquarelista, e ele conclui suas
Comparto com alguns autores, especialmente
observações da seguinte maneira:
Sérgio Rouanet (Rouanet & Mafessoli, 1994), a
necessidade de discutirmos se o Brasil, com suas
“A modernidade é o transitório, o fugidio, o
particularidades, passa da modernidade à pós-
contingente; é uma metade da arte, sendo a outra
modernidade, pois é evidente que a modernidade
o eterno, o imutável... (...) Constantin Guys
não se “instalou” efetivamente entre nós e, conse-
buscou por toda a parte a beleza passageira e
qüentemente, não podemos falar de um esgo-
fugaz da vida presente, o caráter daquilo que o
tamento da modernidade em nosso país. Mas,
leitor nos permitiu chamar de modernidade.“
como nos trópicos as possibilidades nunca se
esgotam e a globalização é uma realidade, não
O termo pós-modernidade, por sua vez,
só econômica mas também cultural, a pós-
aparece também através da pena de Charles
modernidade poderá estar entre nós...
Baudelaire e Th. Gautier, em 1864, quando estes
É interessante, agora, explicitar algumas das
poetas escreveram “pós-modernidade” ao
características da pós-modernidade: velocidade,
fazerem uma crítica da “sociedade moderna e
banalização, cultura do descartável, fragmen-
burguesa da época” (Gardner, 1993; Christo,
tação, globalização, mundo de imagens, virtua-
1997). É, entretanto, somente em 1947, que
lidade, simulacro, des-subjetivação, des-histori-
Arnold Toynbee, matemático, historiador e filósofo
cização, des-territorialização, etc. Não se trata, é
inglês sistematiza a observação de que uma série evidente, de tomar a pós-modernidade como a
de paradigmas da modernidade estavam sendo encarnação do mal, ela é um momento de
contestada e transformada pela, assim chamada, passagem e como tal de inevitável turbulência.
pós-modernidade. Não sei, ao certo, se ela existe realmente como
O escritor inglês, Charles Jencks, entretanto, momento histórico e cultural, ou se é apenas uma
retira dos franceses a introdução da expressão criação intelectual, mas é interessante e útil que
“pós-moderno” e a credita ao poeta John Watkins façamos, a partir dessas idéias um exercício de
Chapman, seu conterrâneo, que a teria usado em compreensão deste mal estar na cultura,
1870 (Appignanesi & Garrat, 1995). parodiando o criador da psicanálise.
Ricardo Goldemberg (Chahlub, 1994) cita Luc
Ferry, situando o pós-modernismo entre 1975 e – VII –
1976, e lembra de um filme de Mel Brooks. Nesse Ao comentar os aspectos que envolvem o
filme, dezenas de homens lutam com espadas e processo adolescente, estrutura e dinâmica que
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abarca tanto o adolescente como sua família e a “Desde o ponto de vista da conduta
sociedade, quero considerar novamente que esta observável, é possível dizer que o adolescente
experiência evolutiva se realiza em um momento vive com uma certa desconexão temporal:
em que a sociedade sofre intensas e rápidas converte o tempo presente e ativo como uma
transformações (talvez, melhor dito, um conjunto maneira de manejá-lo. No tocante à sua
de rupturas) de uma série de paradigmas expressão de conduta, o adolescente parece viver
(idéias, valores morais e estéticos, processos de em processo primário com respeito ao temporal.
pensamento, etc) que podem ser considerados As urgências são enormes e, às vezes, as
dentro do conflito “modernidade versus pós- postergações são aparentemente irracionais.”
modernidade”. Assim, vou abordar uma
série de elementos paradigmáticos que serão A afirmativa de Maurício Knobel nos remete
comentados cada um por sua vez, embora queira ao fato de que é próprio desse momento
deixar bem claro que cada um deles é um fio de evolutivo a utilização do tempo dentro de
uma trama tecidual, elementos entremeados, critérios do processo primário, tal como descrito
partícipes de uma interação dialética, que estarão por S. Freud, quando o tempo é vivido predo-
isolados apenas por uma questão didática e minantemente em função das demandas
metodológica. Fica ao leitor a sugestão para que internas, inconscientes, tempo interno, tempo de
estabeleça a ligação entre eles, organizando este elaboração. Os adolescentes vivem, então, em
puzzle complexo e fragmentado que é o quadro função de suas transformações psíquicas, este
de nossa sociedade atual e, inclusive, aumente a afastamento do tempo cronológico. Esta situação
lista dos paradigmas abordados. é mais intensa quando a Sociedade sofre, como
vimos, ela própria, intensas e rápidas transfor-
1. O tempo rápido ou A geração fast. O mundo mações em sua concepção de tempo. A globa-
delivery lização fez, através das comunicações rápidas e
A rapidez das transformações globais torna mais fáceis, um tempo fast... Como exemplo
obsoletos os costumes, a política e a ciência. posso lembrar que, quando Abraão Lincoln foi
(Antonio Negri, A desmedida do mundo, assassinado, os americanos mandaram avisar os
Caderno Mais. Folha de São Paulo. 20 de ingleses, através de um barco muito veloz, do
setembro de 1998) acontecido: a viagem levou treze dias. Hoje,
qualquer acontecimento na Casa Branca estará
O enunciado básico é de que o tempo das em nossas casas em tempo real, ou à noite
crianças e adolescentes hoje é muito mais rápido teremos todos os fatos nos noticiários de televisão
do que o tempo dos adultos: refiro-me, eviden- e informações adicionais pela Internet.
temente, ao tempo interno, tempo de elabo- Sugiro que continuemos um pouco mais com
ração das experiências, e não apenas ao tempo Maurício Knobel (Knobel, 1974):
cronológico, tempo do movimento dos astros, das
estações, das colheitas ou dos relógios. Eles são “O transcorrer do tempo se vai fazendo mais
fast kids, mas nós não somos fast parents... objetivo (conceitual), sendo adquiridas noções
Sabemos que é difícil conceituar o tempo ou falar de lapsos cronologicamente orientados. Por isso,
dele. Santo Agostinho, filósofo da Idade Média creio que se poderia falar de um tempo
(século V), procurou dar conta dessa dificuldade existencial, que seria um tempo em si, um tempo
ao comentar que “... não se pode vê-lo, nem vivencial ou experiencial, e um tempo
sentir, nem escutar, nem cheirar e provar...” conceitual.“
Maurício Knobel (Knobel, 1974) considera que
o adolescente tem uma característica muito Como havíamos comentado antes, o autor
especial em sua relação ao tempo. Ele escreve: aborda a distinção que os gregos faziam de
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chronos, o tempo conceitual, e tempus, o tempo por energia luminosa... É difícil, com essa
interno, da subjetividade do ser. Essa distinção “prótese”, explicar a importância do desenvol-
entre esses dois tempos é essencial ao sentido vimento do pensamento matemático...
de self (ou ao going on being, de Donald O campo da literatura também me permite
Winnicott) e a organização da personalidade, comentar essa “fratura”. A leitura de um livro
realizações estreitamente ligadas ao processo contrasta muito com a utilização de um texto
adolescente. Nessa etapa, a noção de tempo multimídia. O livro é uma longa seqüência de uns
assume, basicamente, características corporais e poucos sinais, não muito mais que duas dezenas,
rítmicas; tempo de dormir, tempo de comer, tempo que revelam uma narrativa que convida,
de estudar, etc. Progressivamente, acompa- progressivamente, através do tempo, à utilização
nhando o lento desenvolver do processo, o da imaginação: a leitura de Gabriela, cravo e
adolescente vai adquirindo uma noção de tempo canela, de Jorge Amado, permite que cada leitor,
conceitualizada, que implica na discriminação por exemplo, “construa” sua Gabriela, lentamente
entre passado-presente-futuro, interno e externo e de tal forma que a imaginação de quem lê não
e a aceitação da perda do corpo infantil, da corresponde à Gabriela, nem do escritor e nem do
identidade infantil e dos pais da infância ilustrador, Carybé. Há, na literatura, com seu
(Aberastury, 1973; Outeiral, 1983). Surge, então, convite à criação e à imaginação, uma interação
a capacidade de espera, da elaboração do escritor-leitor, uma experiência compartida, de
presente e do estabelecimento de um projeto para mutualidade, de um espaço estético a ser
o futuro a partir das memórias do passado. Como preenchido pelo leitor e que leva a uma vivência
posso perceber, ajudado também pela observação ativa de quem se aventura nesta viagem que é
clínica, o processo adolescente no que respeita “ler”... Nos meios de comunicação multimídia,
aos paradigmas vinculados ao tempo são várias dessas funções estão preenchidas e são
complexos e difíceis de serem elaborados, situação oferecidas “prontas”, para a geração delivery, por
que se problematiza ainda mais quando nos um software e um hardware cada vez mais rápidos
defrontamos (além de uma velocidade maior) com (embora também rapidamente se tornem
transformações e rupturas no conceito de obsoletos), imediatamente, como é próprio de uma
temporalidade. cultura “fast food”, para serem consumidas por
Penso que será interessante prosseguir em um “espectador” que assiste... “Assiste” caracteriza
nossa discussão, comentando a experiência com bem a questão, pois sugere algo passivo: ninguém
o tempo vivenciada pelos pais, assim como “assiste” um livro, nós “lemos” um livro! Meus
pelos adultos em geral, em contraste com a dos filhos me mostraram, há pouco, um CD-ROM com
adolescentes. Nós, adultos, vivemos um tempo a obra do Jorge Amado: lá pelas tantas, surge na
onde, por exemplo, o aprendizado da tela uma prateleira com a lombada de cada um
“tabuada”, as quatro operações básicas da dos livros do autor e clicando o “mouse” sobre um
matemática, era um processo demorado que deles surge uma síntese da obra (“não há tempo a
ocupava alguns anos da infância. Lembro dos perder...”) e clicando sobre o nome de um dos
professores dividirem as turmas de alunos e personagens surge uma breve biografia e logo
promoverem acirradas competições sobre a depois um trecho de um filme sobre o livro ou de
“tabuada”. Os adolescentes hoje, talvez, não uma telenovela e logo depois, um novo “clique”,
saibam hoje nem o significado da palavra um fragmento de uma música cantada por um
“tabuada” e são capazes de realizar as popular cantor baiano sobre o texto e logo depois
operações matemáticas básicas e algumas alguns críticos fazendo comentários de poucos
complexas, instantaneamente, com uma minutos e logo depois um comentário sobre o
pequena calculadora simples de operar, de pensamento político do escritor e logo depois...
custo baixo, com formato de cartão e movida enfim, tudo muito rápido e pronto, percebido por
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mim na forma com que tento transmitir ao leitor 2. A cultura do descartável ou o permanente
através da “estrutura gramatical pós-moderna”. versus o efêmero
Não é necessário imaginar e criar, pois tudo está Encontramos dois paradigmas generacionais
criado e imediatamente pronto para o “input”. que se chocam: a modernidade busca a per-
A velocidade “das coisas” é, então, muito manência e a pós-modernidade, o descartável.
distinta entre duas gerações, entre pais e filhos. Charles Baudelaire descreveu em seus versos
O advento da cibernética possibilita ao essa transição ao falar do amor do flâneur pela
adolescente uma experiência vital de extrema mulher fugidia, aquela que passa e que não será
velocidade: operações matemáticas, contatos mais encontrada.
imediatos com todo o mundo através da Internet, O descartável surge, pensam alguns, como F.
acesso a uma quantidade de informações quase Jameson, com o “fordismo” e com o advento da
inesgotável, etc. É difícil para um adulto (e cibernética. Quando Henri Ford, em Detroit, na
imagine para os adolescentes) pensar como nos década de vinte, criou a linha de montagem para
anos sessenta funcionavam os bancos sem os produzir em maior número e a custo mais baixo
computadores (e funcionavam...). Este contraste seu “modelo T”, criou o problema de que não eram
entre a referência velocidade/tempo entre a mais necessários tantos empregados (imaginem
geração dos adultos e a dos adolescentes me leva hoje, em uma montadora de automóveis, com a
a inferir que um dos vetores que nos levam a robótica). A questão do desemprego ficou posta.
encontrar “hoje”, mais do que “ontem”, O que fazer? Criar bens de duração curta para
adolescentes “atuadores” se deve a esta quebra que novos empregos sejam criados, particu-
de paradigma: a tradicional, ou moderna, cadeia larmente no setor terciário (de serviços).
impulso-pensamento-ação cede lugar a um Essa condição se revela quando, por exemplo,
modelo novo, caracterizado pela supressão do o currículo de algumas Escolas de Engenharia
pensamento que demanda elaboração e, por possui uma disciplina sobre “durabilidade de
conseguinte, tempo e que se configura “pós- materiais”. Não apenas o estudo da fadiga dos
modernamente” como impulso-ação, baixa componentes da asa de um avião, mas também
tolerância à frustração, dificuldades em postergar determinar quanto tempo deverá “durar” certo
a realização dos desejos e busca de descarga material, que comporá um eletrodoméstico ou um
imediata dos impulsos. Há um frenético não paro, automóvel, ou qualquer outro produto, para que
se paro penso, se penso dói. B. Brecht escreveu, após certo tempo esse material se deteriore e
a propósito, que quando o homem atinge a produza a necessidade do consumidor “descartá-
verdade descobre também o sofrimento. Acre- lo” e adquirir um novo produto. Os automóveis
dito, inclusive, que uma ampla faixa de nossa são feitos para durar muito menos do que os
clínica é hoje constituída por pacientes com construídos na década passada: a explicação é
sintomatologia na área da conduta e na orga- de que assim se manterá a cadeia produtiva e,
nização do pensamento: um número maior de em conseqüência, os empregos... numa lógica
Hamlets do que Édipos, no que muitos autores perversa, um tanto perversa, sob o ponto de vista
concordam (Outeiral; 1993; Outeiral, 2000). de um antigo, isto é, um homem moderno. Em
Estas colocações são, evidentemente, apenas nossas casas acontece o mesmo: as avós dos
um esquema e na verdade um esquema insufi- adolescentes de hoje não colocarão fora um copo
ciente; mas todos concordamos que, embora se de vidro, vazio, de geléia: é um objeto duradouro,
constituam um elemento comum ao processo com uma utilidade e poderá ser necessário em
adolescente em qualquer período, na sociedade algum momento. Preservarão o copo seguindo
atual há uma exacerbação destes aspectos. um padrão de sua cultura. Os adolescentes,
Cybelle Weimberg chama estes adolescentes de entretanto, convivem e lidam com um sem-
“geração delivery”... número de objetos descartáveis em seu cotidiano.
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Considerando que entre algumas das Banalizada a situação, havia apenas frag-
características da pós-modernidade encontra- mentação, des-subjetivação e des-historicização,
mos a des-subjetivação e a des-historicização, não um sujeito, mas uma coisa.
as relações entre as pessoas também poderão Acontece algo semelhante ao descrito antes
ter características descartáveis; caricata- com a violência e a sexualidade. Quando alguém
mente, o sujeito será tomado como um gadget é exposto a uma situação continuada de violência,
descartável. a tendência é que para conseguir sobreviver o
indivíduo banalize a situação. Bruno Bettelheim
3. A banalização (Bettelheim, 1973;1989), conhecido psicanalista
Christopher Bollas, escrevendo o capítulo que esteve preso durante a Segunda Guerra
Estado de mente fascista de seu livro Sendo um Mundial, nos campos de concentração nazistas
personagem (Bollas, 1992), desenvolve idéias de Dachau e Buchenwald, nos descreve com
sobre os vários estratagemas que o estado de clareza a operação desse mecanismo – a
mente fascista, em seu aspecto individual ou banalização – cuja raiz está no mecanismo de
social, utiliza, citando entre mecanismos a negação, um dos mecanismos básicos da defesa
“banalização”. A “banalização” é um mecanismo do ego. Podemos imaginar o que ocorre na mente
mental que se desenvolve insidiosamente e, de crianças e adolescentes expostas, por exemplo,
dessa maneira (de uma forma sutil e silenciosa), através da mídia a uma noção banalizada da
modifica um paradigma. Novamente é útil violência. David Levisky (Levisky, 1997) escreve,
recorrer à clínica, observando o cotidiano. assim como Raquel Soifer, sobre os efeitos da
Quando ingressei na Faculdade de Medicina, mídia na estruturação psíquica de indivíduos em
aos dezessete anos, nunca havia tido contato real desenvolvimento: uma criança ou um adolescente
com um morto. Ao iniciarem as aulas, recebi um assistindo a vários assassinatos, diariamente, pela
cadáver com o qual eu deveria estar em contato, televisão, modificará sua maneira de perceber a
estudando a anatomia e fazendo dissecações, violência da mesma forma que modificará sua
durante todo um ano, nas aulas de anatomia. Eu erótica se constantemente exposto a uma
o retirava da cuba de formol todas as manhãs e sexualidade, em todas as suas formas e matizes,
esta vivência me mobilizava intensamente: me desde quando assiste a um filme, uma novela ou
perguntava se aquele homem havia tido uma uma propaganda. O Ministério da Justiça
mulher e filhos, como havia sido seu “fardo” de divulgou uma pesquisa que constatou que as
acabar como meu objeto de estudo, teria tido uma crianças brasileiras assistiam cerca de duas a três
profissão? Dávamos um nome, inclusive, ao horas de televisão por dia...
cadáver. Ele era subjetivado e historicizado, algo
ao estilo “moderno”. Era comum não comermos 4. A ordem da narrativa
carne porque o cadáver nos vinha à mente,
usávamos luvas preocupados com alguma “Vivemos hoje na época dos objetos parciais,
possibilidade de infecção e uma máscara porque tijolos estilhaçados em fragmentos e resíduos.”
o formol irritava as mucosas. Nesse meio tempo Deleuze e Guatari (Jameson, 1994)
íamos fazendo as dissecações e o cadáver, homem
morto e possuidor de um nome e de uma história, “Historicizar sempre.”
ao final do semestre, era apenas “peças F. Jameson (Jameson, 1994)
anatômicas”: ossos, músculos, vísceras, etc... Não A maneira que encontro para começar a
era necessário mais usar luvas, pois o formol apresentar essa questão é através da narrativa
“esterilizava” e tampouco máscara, porque nos literária, O romance, expressão literária da
acostumamos ao formol e fazíamos um intervalo modernidade, é introduzido na cultura ocidental
para lanchar na própria sala de anatomia. através, principalmente, de W. Goethe (1749-
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digamos, uma figura feminina, bastante ela volte a Paris se não ama o marido e deveria,
diferente das ilustrações de Carybé, uma é óbvio, ficar em Casablanca com seu
personagem só nossa. “verdadeiro” amor. A estética dos adolescentes,
A banalização que envolve a sexualidade impregnados pela estética da pós-modernidade,
determina a necessidade da criação de estímulos é o videoclipe: breve, curto, fragmentado,
mais intensos e diferentes: a simples imagem desfocado, às vezes, sem início-meio-fim, não
despida não é suficiente. É necessário, nos conta, em termos da modernidade, uma história
aproximando de uma cultura ao agrado do verdadeira. Mas tem uma estética e transmite um
Marquês de Sade, ou gótica (lembram-se de que conteúdo . Levando estas questões para a escola,
estamos em Gotham City), ou perversa como penso que há uma fratura entre a fala da escola
diriam alguns psicanalistas, criar fetiches, como – moderna, tipo Casablanca – e a escuta dos
a tiazinha ou a feiticeira. alunos – pós-modernos, tipo videoclipe.
Posso também abrir a questão, já referida por
6. A estética da pós-modernidade muitos autores, da estética do corpo na cultura
A estética é, num sentido amplo, uma forma, contemporânea, particularmente no tocante aos
que através da beleza, busca cativar e interessar jovens. Arriscaria dizer que os transtornos
– por meio do prazer estético e, assim, transmitir alimentares (anorexia nervosa, obesidade e
um conteúdo a alguém. Um pintor renascentista, bulimia) poderão fazer parte do que Henri-Pierre
por exemplo, buscava através de novos elementos Jeudy (Jeudy, 2000) chamou de doenças pós-
estéticos da pintura religiosa, interessar o modernas, ao referir-se ao pânico e à fobia social.
espectador e transmitir-lhe a idéia de Deus. Um Na sociedade contemporânea, a estética pós-
professor busca, através de seu plano de aula e moderna do corpo, profundamente narcísica, cria
por meio de sua maneira de expor este plano, um sujeito onde a redução da subjetividade e a
transmitir conteúdos aos alunos: ele é, em ênfase na materialidade transforma o homem/
essência, um esteta. sujeito em homem/objeto. Não havia visto, na
A dificuldade é que a estética da modernidade clínica, tantos destes transtornos de alimentação
e da pós-modernidade são diferentes. O como na última década. Jacques Lacan, referido
professor, que utilizei como exemplo, é um esteta por alguns como um psicanalista da pós-
de modernidade e seus alunos estão vivenciando modernidade (Appignanesi & Garrat, 1995), no
a estética da pós-modernidade; cria-se um gap seu Seminário XVII, trata deste homem, na
entre uns e outros... mas é necessário explicitar verdade um objeto-sintoma, quase um gadget
mais. Eu diria que a estética do adulto pode ser (objetos tecnológicos da ciência contemporânea),
referida com o filme Casablanca. O filme, em através de seu conceito de letosas (neologismo
síntese, tem o seu ápice na cena final do criado por ele a partir dos termos gregos
aeroporto, quando o casal se despede e a “alétheia” e “ousia”, para referir-se, numa
mocinha volta para Paris e o mocinho permanece simplificação que faço, aos “seres-objetos da
na África. Ela o ama, mas volta para seu marido tecnologia”).
em Paris, pois eles têm uma “história de vida” e
um “respeito mútuo”, além dela considerá-lo um 7. A ética
homem de valor, íntegro e que luta ao lado do This above all: to thine own self be true
“bem”, isto é, na resistência francesa contra os And it must follow, as the night the day
nazistas . Os “modernos” choram com o filme Thou canst not then be false to any man
emocionados pelos “paradigmas e os valores” Shakespeare, Hamlet (Apud Winnicott, 1994)
que conseguem, através da razão, sobrepujar a Todos nós sabemos o que é ética, mas se somos
paixão. Os adolescentes não se emocionam da solicitados a conceituá-la a tarefa não é tão
mesma forma pelo filme: para eles é absurdo que simples. Fábio Herrmann (Herrmann, 1995; 2000)
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considera que há uma relação clássica entre ética ego – simbólico, menos narcísico e reconhecendo
e ser verdadeiro, referindo-se ao compromisso o outro como externo. A passagem de um ao outro
do indivíduo com ele mesmo e com os outros. é possibilitada por identificações boas e
Ele escreve: adequadas. Quando essas identificações – a
“Que significa ética? No começo do livro II cultura do mundo adulto – falham em seu papel
da Ética a Nicômano”, Aristóteles ensina: teremos dificuldades na estruturação do super-
“A virtude moral é adquirida em virtude do ego. Meu enunciado é de que na sociedade atual
hábito, donde ter-se formado seu nome (étik) por não são oferecidas identificações suficiente-
uma pequena modificação da palavra étos mente boas às crianças e aos adolescentes. Este
(hábito) “... A ética vale como uma forma de enunciado, se verdadeiro, significa o risco de
reflexão sobre nós mesmos muito mais como fonte termos uma geração de adolescentes presa ao
de conclusões normativas. Ético é pensar.” ego-ideal – excessivamente narcísica, atuadora,
com dificuldades no reconhecimento do outro
Como psicanalista, tenho um vértice de como um sujeito externo e com dificuldades na
observação em relação à ética e é a partir deste simbolização e, conseqüentemente, com o
ponto que quero fazer algumas considerações. pensamento. Ao clássico aforisma de Sigmund
Temos, então, algumas sendas a percorrer: (1) Freud – onde há id deve haver ego – eu colocaria
Fábio Herrmann comenta que ético é pensar; (2) um outro: onde há ego-ideal deveria haver ideal
Jacques Lacan, por sua vez, lança o aforisma de ego ...
de que ético é não ser o desejo do outro; (3) Devemos pensar nos modelos e identificações
Humberto Eco expressa a opinião de que a ética que a sociedade contemporânea oferece: a família
surge quando o outro entra em cena . em rápida mudança de valores e perplexa, por
Estas três idéias me estimulam a seguir um lado, e a sociedade, de outro, revelando e
adiante, buscando especificar mais. Vejamos ... transmitindo - através da mídia, da política, etc
A ética se constitui na relação do indivíduo - uma cultura, em alguns aspectos, perversa.
com seu ambiente, através de mecanismos de Sigamos adiante, abrindo nosso leque.
identificação: inicialmente com os pais, a família,
e, posteriormente, com os modelos identificatórios Adultescência, um novo termo, foi criado e,
que a Sociedade oportuniza às suas crianças e inclusive, incluído no conhecido dicionário New
adolescentes: pais de amigos, professores, Oxford Dictionary (Cadermo Mais. Folha de São
artistas, desportistas, políticos, etc. Que padrões Paulo. 20 de setembro de 1998), mistura, em
constituem estes modelos para identificação e, por inglês, das palavras “adult” (adulto) e
conseguinte, para a constituição da estrutura “adolescent“ (adolescente).
ética e moral da personalidade das crianças e Adultescente – pessoa imbuída de cultura
adolescentes que a família e a Sociedade oferece? jovem, mas com idade suficiente para não o ser.
Sigmund Freud descreveu o super-ego Geralmente entre os 35 e 45 anos, os adul-
como a instância psíquica que, através das tescentes não conseguem aceitar o fato de estarem
identificações, possibilita a internalização das deixando de ser jovens (David Rowan, Um
leis e normas de conduta, da ética e da moral, de glossário para os anos 90).
uma determinada cultura. Nesse processo de
constituição do super-ego, encontramos dois Como ficam os adolescentes tendo de lidar com
momentos anteriores, o ego-ideal – predo- modelos identificatórios inadequados e/ou com
minantemente narcísico, incapaz de reconhecer adultos que querem ser adolescentes ? Onde
o outro como algo externo a si mesmo, carac- encontrar modelos adultos suficientemente bons?
terizado também pela concretitude e onde a ação A pergunta, sem resposta, é um convite para
predomina sobre o pensamento – e o ideal de pensarmos juntos.
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Este autor, em seu livro Qu´est-ce que le com qualquer coisa, resta entrar, em tempo
virtuel ? (Levy, 1995), partindo de algumas idéias real, em interação com o “vazio...“
de Gilles Deleuze, afirma que o virtual não se Articulando estas idéias poderemos ser
opõe ao real, mas sim ao atual e desenvolve a levados a pensar que quando alguém “brinca”
tese de que o conceito de “virtual” se opõe ao com um jogo eletrônico no computador não está
conceito de dasein de M. Heidegger do ser-um- verdadeiramente “brincando”, mas sim “sendo
ser-humano ou, literalmente, ser-aí. O virtual se brincado pela máquina”.
relaciona ao ser-lá, a “não-presença”, diferente
do ser-aí. 9. O predomínio do externo, da forma e da
Vejamos algumas outras idéias deste autor, parte sobre o interno, o conteúdo e o todo
buscando compreender melhor os paradigmas A modernidade sempre buscou a valorização
que constituem o conceito de virtual e o choque do “conteúdo” sobre a forma e o externo (a
com os paradigmas da modernidade: aparência física) e do conjunto sobre as partes
“Quando uma pessoa, uma coletividade, um (subordinação das pessoas ao estado nacional),
ato, uma informação se virtualizam, eles se buscando no campo do indivíduo a “pessoa total”.
tornam não presentes, se desterritorializam... a A pós-modernidade, em oposição, valoriza a
virtualização submete a narrativa clássica a uma aparência, a superfície e a fragmentação. O
prova rude: unidade de tempo sem unidade de número de cirurgias plásticas e os transtornos de
lugar.“ alimentação nos levam a pensar como a cultura
O ciberespaço intervém também no conceito pós-moderna, narcisista, incide sobre os
de identidade, o que nos é dado pelo conceito de adolescentes.
“hipercorpo”.
A virtualização do corpo incita a viagens e a 10.O mito do herói
todas as trocas. Os transplantes criam uma Otto Rank (Rank, 1961) escreveu sobre o
grande circulação de órgãos entre corpos mito do nascimento do herói, onde a partir de
humanos. De um indivíduo ao outro e também vários relatos míticos, da literatura e das
entre os mortos e os vivos ... cada corpo torna-se religiões, encontra elementos comuns na “vida”
parte integrante de um imenso hipercorpo híbrido dos heróis e faz um conjunto de observações
e mundializado ... psicanalíticas sobre o tema. O herói da
Jean Baudrillard (Baudrillard, 1997) é outro modernidade, espelhado na cultura grega
autor que nos ajuda nesta collage: antiga, tem como uma referência, por exemplo,
“As máquinas só produzem máquinas. Isto Don Quixote de la Mancha de Miguel de
é cada vez mais verdadeiro na medida do Cervantes, romance de cavalaria dos qui-
aperfeiçoamento das tecnologias virtuais. Num nhentos. Don Quixote enlouquece e dedica
nível maquinal, de imersão na maquinaria, a sua vida a uma causa, o amor. Os heróis
não há mais distinção homem-máquina: modernos têm sempre uma causa “justa,
a máquina se localiza nos dois lados da solidária e coletiva”: um amor, uma religião,
interface. Talvez não sejamos mais que espaços uma ideologia, etc, pela qual dedicam ou
pertencentes a ela – o homem transformado sacrificam sua vida. O herói pós-moderno, em
em realidade virtual da máquina, seu opera- oposição, tem uma causa estritamente pessoal,
dor, o que corresponde à essência da tela. Há da qual deve obter o máximo de proveito, não
um para além do espelho, mas não para além solidária, egoísta; nunca deve se sacrificar ou
da tela. As dimensões do próprio tempo con- oferecer a vida por ela. Deve, isto sim, desfrutar
fundem-se no tempo real. E a característica de das benesses! O novo herói, o herói pós-
todo e qualquer espaço virtual sendo de estar moderno, é um super-herói narcísico, maníaco
aí, vazio e logo suscetível de ser preenchido e predador.
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11.O conhecimento da horizontalidade versus trabalho mais de seus assistentes de que dele
o conhecimento vertical mesmo, “produzindo” (seu studio se chamava
A passagem da Idade Média, com sua visão The factory, a fábrica) quadros disputados por
teológica do mundo e suas explicações mágicas museus e colecionadores. Este pós-moderno
e místicas para os fatos do mundo, deu lugar na personagem, algo gótico, com sua peruca
Idade Moderna à busca da explicação científica, platinada, óculos escuros e uma pálida
da raiz do conhecimento em determinada área, maquiagem, através de suas obras transmitia a
do genoma para compreender melhor o homem, idéia da perda da identidade na sociedade
é próprio da modernidade: a busca da profun- industrial (refiro-me à segunda revolução
didade confere um estatuto baseado na razão e industrial). Ele escreveu frases como: pinto isso
na ciência. A pós-modernidade, entretanto, busca porque queria ser uma máquina... Acho que
o conhecimento horizontal: um adolescente que seria sensacional se todo o mundo fosse
assiste a um vídeo de ciências naturais sobre os idêntico... Quero que o mundo pense da mesma
animais da savana africana poderá ser capaz de maneira, como uma máquina... Se querem
realizar uma “conferência” sobre o tema: ele fala conhecer Andy Warhol, olhem para a superfície
do clima, das espécies que vivem neste habitat e de meus quadros, dos meus filmes e isso sou eu.
de seus hábitos alimentares e reprodutivos. Mas Não há nada por trás disso. Fez, também, mais
ele não pesquisou, nunca esteve lá, não leu nada de sessenta filmes que suplantaram as fronteiras
sobre o assunto, assistiu imagens e poucas possíveis da banalidade: um de seus filmes,
explicações, que ele simplesmente reproduz com mudo, intitulado Sleep, tem seis horas de
habilidade. O resumo, a síntese, é o que é duração, registrando apenas um homem
buscado, principalmente através de imagens, dormindo. Sobre esse filme ele comentou que
elemento fundamental desta condição pós- gosto de coisas chatas... Atingido por um tiro
moderna. desferido por um dos figurantes de seus filmes,
na Unidade de Tratamento Intensivo, buscava se
12.O falso versus o verdadeiro. A pós-moder- informar das notícias publicadas na mídia sobre
nidade como a cultura do simulacro seu estado clínico e tratava de fotografar seus
A invenção da fotografia no século XIX ferimentos. Sua arte, entretanto, não pode ser
possibilitou a reprodução bastante perfeita da restrita a uma análise que a julgue repetitiva,
realidade, liberando o artista para se aventurar banalizada e despersonalizada. Julian Schnabel,
mais além, chegando ao impressionismo e às pintor contemporâneo, talvez exagerando,
outras formas modernas de representação. A registrou com alguma pertinência que Andy
utilização dos negativos fotográficos propiciou mostrou o horror do nosso tempo tanto quanto
uma série de reproduções e, hoje, com uma Goya o fez em sua época. Ele é um personagem
máquina xerox teremos um grande número de exemplo da pós-modernidade, da cultura do
cópias, bastante reais. simulacro.
Um dos representantes mais significativos Donald Winnicott, pediatra e psicanalista
deste momento é Andy Warhol (1930-87). Tornou- inglês, desenvolveu o conceito de verdadeiro e
se famoso por suas imagens em série de produtos falso self, definindo o falso self como uma defesa
para consumo, pessoas transformadas em objetos altamente organizada, que frente a um ambiente
(Marylin Monroe, Mao-Tse-Tung, etc.) ou mesmo que não exerce adequadamente suas funções
simples objetos como latas de sopa Campbell. (maternas) busca proteger o verdadeiro self do
Freqüentando os ambientes mais variados de aniquilamento. Júlio de Mello Filho (Mello, 1997)
New York, munido de uma máquina Polaroid (fotos escreveu a propósito deste falso self, adaptativo,
instantâneas) clicava imagens e as reproduzia um artigo intitulado Vivendo num país de falsos
seriadas em silk-screen ou em tinta acrílica, selves.
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A arrumação do quarto de um adolescente (ou do espaço vem a ser uma expressão do “interior”
a forma com que “recheia” sua mochila escolar) da personalidade. A “identidade” está, pois,
nos dá uma dimensão, bastante aproximada, de intimamente associada com a experiência de
seu mundo interno... lugar, especialmente nos anos de formação da
A ocupação do espaço público (escola, bares, personalidade.”
shopping, praças, etc.) também é significativa. Estes comentários foram feitos por um
Eles necessitam, por exemplo, “migrar” de um arquiteto, que embora não seja um psicanalista,
espaço para outro a cada intervalo de tempo, compreende perfeitamente as questões
revelando o que Françoise Dolto chama o envolvidas na relação espaço arquitetônico e o
“Complexo de Lagosta”, se referindo a este espaço existencial.
animal que ao transformar periodicamente o corpo Onde habita, hoje, o adolescente? Provoca-
perde a “casca” que o envolve (Dolto, 1989). tivamente respondo: em Gotham city !
Durante alguns meses, todos freqüentam um Gotham City, cidade de Batman e Robin, New
mesmo local e depois “migram” para outro... é York ou Los Angeles, lá e aqui, é a apresentação
como o corpo infantil que tem de ser abandonado conceitual e estética do espaço pós-moderno. A
(ansiedade depressiva e confusional frente à representação seqüencial dos estilos – clássico,
perda do conhecido) e o outro corpo, o adulto, gótico e moderno – é mixada e surge a
encontrado e habitado (ansiedade paranóide figurabilidade pós-moderna: Gotham City é esta
frente ao desconhecido). collage. Lembremos que gótico foi um termo
Mats Lieberg (Lieberg, 1994), em um estudo cunhado pelos teóricos renascentistas italianos
da Universidade de Manchester sobre a ocupação para caracterizar uma estética vinculada ao estilo
do espaço público pelos teenagers, realiza uma bárbaro germânico, que se impunha frente a
pesquisa que nos mostra a “migração” através antica e buona maniera moderna – o velho e
da cidade como correlata com as transfor- bom estilo moderno (Appignanesi & Garrat,
mações da identidade. Aliás, Mário Quintana, o 1995)... O gótico também evoca um tipo de
poeta maior dos gaúchos, significativamente, romance noir, onde o Marquês de Sade fez
correlacionando a geografia com a anatomia, desfilar seus personagens e suas vigorosas
escreve em seus versos... experiências. Reparando em alguns prédios
bastante conhecidos de New York, veremos o
“Olho o mapa da cidade como quem gótico e também o clássico e o moderno numa
examinasse a anatomia de um corpo clara composição pós-moderna: aliás foi esta
É que nem fosse meu corpo !” cidade que inspirou o autor de Gotham City.
O arquiteto Norberg-Schulz, em seu livro É Los Angeles, entretanto, para vários teóricos,
Novos caminhos da arquitetura: existência, a cidade exemplo do espaço pós-moderno. J.
espaço e arquitetura (Norberg-Schulz, 1975), Baudrillard, em seu livro América (Baudrillard,
descreve a relação espaço-persona da seguinte 1988), comenta que LA está livre de toda a
maneira: profundidade ... um hiperespaço exterior, sem
“Lugares, caminhos e regiões são os origem e sem pontos de referência. Para este
esquemas básicos de orientação, isto é, os autor, LA é uma visão do humano pós-moderno
elementos constituintes do espaço existencial. patético. J. Baudrillart e tout court consideram
Quando se combinam, o espaço se converte em que o pós-moderno se separa do moderno, entre
uma dimensão real da existência humana... outros aspectos, quando a produção de demanda
somente se define interior e exterior quando se – dos consumidores – se torna central: a produção
pode dizer que se “habita” ou se reside”... em de necessidades e desejos, a mobilização do
função dessa conexão, as experiências e as desejo e da fantasia, da política de distração
memórias do homem se localizam e o “interior” (Lyon, 1998). Há um olhar diferente na cidade
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