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MODELOS DO PROCESSO SAÚDE/DOENÇA III: MODELO RELIGIOSO DA IDADE

MÉDIA E TRANSIÇÃO PARA O MODELO BIOMÉDICO

Retorno ao modelo Religioso na Idade Média

– Na Idade Média, sob o sistema feudalista, a igreja católica ganha grande força política
e passa a trabalhar junto com o Governo na regulação social. Ocorrerá a formação de
grandes burgos e dos Estados Nacionais.

Obs1. Igreja e Estado se unem, inclusive para a regulação dos processos saúde-doença.

Obs2. A formação de Estados Nacionais implica aglomeração de pessoas e baixas


condições de higiene.

A doença era vista como purificação, como forma de


Doença atingir a graça divina que incluía, sempre que merecida,
a cura; as epidemias eram o castigo divino para os
pecados do mundo; ou, alternativamente, resultavam de
demônios.

É na Idade Média que surgem os primeiros hospitais –


mais propriamente hospícios, ou asilos, , nos quais os
Sistema de cuidados pacientes, apesar de não receber o tratamento adequado,
recebiam conforto espiritual a a possibilidade de
salvação de suas almas.

Obs1. Como a igreja, juntamente como estado, está a frente do controle dos fenômenos
sociais, vai ser a igreja que vai ficar a cargo dos cuidados dos doentes.

Obs2. É através dos hospitais cristãos que vai haver o recolhimento dos doentes.
Porém, esses hospitais eram mais apropriadamente hospícios ou asilos, porque não
recolhiam apenas as pessoas que estavam doentes e sim todas as pessoas que
estavam à margem da sociedade. Ex. Loucos, mendigos, etc.
A IDADE MÉDIA E OS HOSPITAIS CRISTÃOS

– Com a expansão do cristianismo, os hospitais cristãos difundiram-se por toda a Europa,


do oriente ao ocidente. No ano de 816, o Concílio de aix-la Chapelle tornou obrigatória
a construção de hospitais nos conventos.
– Os Hospitais Cristãos eram estabelecimentos mais religiosos do que terapêuticos. É
“o pessoal hospitalar NÃO era fundamentalmente designado a realizar a cura do doente,
mas conseguir sua própria salvação”.
(Foucault).
– Ocorre um efeito paradoxal que advirá do fato de o cuidado com os doentes, na Idade
Média, ocorre dentro dos mosteiros/conventos e que esses lugares tornam-se reduto da
ciência.

– No fim da Idade Média a situação começaria a mudar e a medicina leiga começaria a se


desenvolver.

Obs. A prática místico-religiosa NÃO DAVA CONTA da cura das doenças.

PERÍODO DE TRANSIÇÃO PARA O MODELO BIOMÉDICO

– Ocorre entre os séc. XVI, XVII e XVIII, período das grandes navegações e
renascimento. Ocorre um processo intenso e desordenado de urbanização que propiciará
o surgimento de epidemias que dizimam milhares de pessoas.

No renascimento, a explicação para as doenças começou a ser


relacionada às situações ambientais. A causa das doenças estaria
num fator externo ao organismo, e o homem seria o receptáculo
Doença da doença. Destas elaborações teóricas sobre o contágio firmou-se
a teoria dos miasmas.. Os miasmas seriam gases decorrentes da
putrefação da matéria orgânica que produziriam doenças quando
absorvidos pelos seres vivos.
A falta de higiene é associada a doença, o que começa a
gerar ações sanitaristas. Os hospitais vão paulatinamente
Sistema de cuidados deixando de ser conduzidos por ordens religiosas, mas
continuam tendo uma afeição mais filantrópica do que
médica.

PENSAMENTOS QUE EMBASARAM O MODELO BIOMÉDICO

Descartes é o criador da dúvida metódica – que é a


busca por uma certeza inquestionável.
Princípio da Evidência – não admitir algo como
verdadeiro se não tivermos evidências suficientes para
consideramos como tal. Princípio da Análise – dividir o
problema em tantas partes quantas forem possíveis para
que melhor possam ser resolvidas. Princípio da Síntese
– estabelecer uma ordem de relação entre nossos
pensamentos, solucionando primeiro as questões mais
Descartes simples e depois as mais complexas. Princípio do
(1596 - 1650) Controle – fazer contantes revisões de todo o processo
para ter certeza de que nada foi omitido. Método
Matemático como Fundamento para o Conhecimento
do Mundo – O mundo é uma variação de formas,
tamanhos e movimentos da matéria e essas variações
podem ser quantificadas e entendidas pela matemática
através também da geometria.

Obs. Vemos o Princípio da Análise se referindo ao modelo biomédico, visto como


reducionista porque parte do elemento mais simples para o mais complexo.
Princípio da Simplicidade – a natureza age de modo a
simplificar as suas ações ao máximo, as consequências
naturais têm o mínimo de causas possíveis. Princípio da
Homogeneidade – na natureza as mesmas consequências
tendem a ter as mesmas causas. Além disso, causas
semelhantes têm consequências semelhantes, e isso torna
a natureza homogênea . Essa homogeneidade gera uma
Newton constância nas leis físicas e químicas, e é essa constância
(1596 - 1650) que possibilita a harmonia do nosso universo. Princípio
do Mecanicismo – o mundo seria uma grande máquina,
cujo funcionamento total poderia ser compreendido caso
conhecêssemos o funcionamento das pequenas peças que
a compõem. Princípio da Funcionalidade – a função da
ciência não é a busca da essência, mas a busca da
funcionalidade, ou seja, a busca por entender como a
máquina universal funciona.

Obs1. O Princípio da Simplicidade vai ser muito criticado num momento que o modelo
biomédico vai ser abandonado por modelos mais próximos a um pensamento pós -
moderno, que são os modelos biopsicossociais vigentes hoje.

Obs2. Nas provas aparece dizendo que o modelo biomédico é um modelo unicausal,
porque vai está baseado num pensamento newtoniano de que a natureza se compõem a
partir de leis simples. Dessa forma, em geral você pode explicar um fenômeno a partir da
redução desse fenômeno a uma causa única.

Obs3. O Princípio do Mecanicismo também é muito presente no modelo biomédico a


partir do entendimento que assim como a natureza o organismo humano também é uma
máquina que pode ser entendida a partir de suas pequenas peças(que são seus órgãos)
e a doença como uma avaria dessa máquina.

Filosofia Positiva – os fenômenos são explicados através


das suas leis efetivas, e para isso são utilizados o
raciocínio a a observação para descobrir as relações
invariáveis de sequência e semelhança.
Comte Fenômenos da Natureza e Fenômenos Sociais – da
(1798 - 1857) mesma forma que os fenômenos da natureza são
explicados pelas leis descobertas e estabelecidas através
da observação dos fatos(ciência), assim será também com
os fenômenos sociais.
Ciências Sociais – As pesquisas científicas da sociedade
vão descobrir as leis que estão por traz dos fenômenos
sociais, que tendem a ser constantes e podem ser
previstos. Prevendo esses fenômenos, eles podem ser
modificados em benefício da sociedade. Em resumo, a
ciência nos leva a previsão e a previsão nos leva à ação.

Obs. O tipo de lei que rege os fenômenos da natureza é semelhante as leis que regem
os processos saúde-doença. O que o modelo biomédico vai trazer em termos de sistema
de cuidado e fazer uma ampliação dessa ideia, onde esse modelo vai começar a
medicalizar todos os fenômenos sociais. Isso é o que chamamos de processo de
medicalização dos fenômenos sociais.

QUESTÕES

1) Julgue abaixo as alternativas que estão de acordo com o entendimento a respeito do


processo saúde-doença.
I – A diferença entre a postura indígena e a postura religiosa cristã da idade média
repousa no fato de que o xamã tem por objetivo expulsar os maus espíritos e reintegrar o
sujeito à vida social; já o postura religiosa cristã tinha como objetivo o isolamento do
doente do restante da comunidade, tanto para se evitar o contágio, mas principalmente
porque a doença contagiosa era vista como fruto do pecado, assim configurava-se como
castigo.
VERDADE

II – Durante a Idade Média, “idade das trevas”, a explicação e o enfrentamento das


doenças eram sustentadas por argumentos religiosos científicos.
FALSO
Obs. Eram sustentadas por argumentos místicos religiosos.

III – Na Baixa Idade Média, predominou-se a explicação da ação divina como responsável
pelos males e pelas doenças, vistos como punições por pecados cometidos por pessoas
e coletividades e a terapêutica era penitências e castigos por meio dos quais as pessoas
deveriam obter a cura expurgando seus erros. Esse tipo de conhecimento significou um
avanço das práticas sanitárias.
FALSO
Obs. Foi necessário que o modelo místico religioso se mostrasse ineficiente fosse
questionado para que entrássemos num modelo que vai começar associar as doenças
com o ambiente, fazendo um retorno a Teoria do Miasma para que, de fato, houvesse um
avanço nas práticas sanitárias.

IV – A vigência de explicações metafísicas para os fenômenos da doença levando à busca


de terapêuticas mágicas, tais como práticas de recolhimento em templos, foi uma forma
de compreensão do processo saúde-doença que predominou durante o período do
Renascimento na Europa.
FALSO

Obs. Esse momento de terapêuticas mágicas, recolhimento em templos, explicações


metafísicas estiveram presentes nas civilizações antigas – Modelos Místico-Religiosos.
Também se fizeram presentes na Idade Média. O Renascimento vem justamente para
QUESTIONAR esse modelo. O Renascimento é um período de transição onde vimos
novamente surgir a Teoria do Miasma.

V – A Teoria do Miasma consistiu, durante o período do Renascimento na Europa, em


uma teoria consistente do ponto de vista científico, procurando explicar, com base na
observação sistemática e na reflexão sobre a causalidade, o avanço das grandes
epidemias da época.
FALSO
Obs1. De fato a Teoria do Miasma surge no período do Renascimento e avança no
processo de observação se comparado ao modelo místico religioso, inclusive gerando
práticas sanitárias, porém, NÃO é ainda uma teoria consistente do ponto de vista
científico. É uma teoria pertencente ao período pré-científico.
Obs2. A Teoria do Miasma fica dentro da primeira revolução da saúde, onde o modelo
biomédico ainda está se estabelecendo.

VI – A biomedicina foi construída sob a égide da neutralidade e a elitização do saber


científico, impondo suas descrições e seu método de produzir verdades.
VERDADE

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