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Behavorismo Metodológico
Lucelmo Lacerda

Nosso propósito neste curso de Pós-Graduação e aprender o que são e


como se constituem as intervenções baseadas em Análise do Comportamento
Aplicada para pessoas com Autismo e Deficiência Intelectual. Mas a verdade é
que a intervenção é sempre individualizada e esses diagnósticos fazem pouco
sentido desde o ponto de vista comportamental. Apesar disso, houve um módulo
de abertura com uma breve introdução sobre o que é o Transtorno do Espectro
Autista e a Deficiência Intelectual, que apresentam mais ou menos o indivíduo
médio que se deve esperar para o processo de intervenção, embora isso não
substitua de modo algum a avaliação individual.
Agora começa nossa jornada para aprender o que é esta tal ciência da
Análise do Comportamento Aplicada e como se constituem intervenções que a
têm como fundamento. Mas só conseguimos entender realmente algo se
conhecermos suas bases, sua formação, e é justamente este nosso primeiro
passo.
Imagine o seguinte, uma sociedade que explica todos os fenômenos por
meio da religião e no qual o senso comum é uma força poderosamente bem
estabelecida. Nesta sociedade surge uma nova forma de produzir conhecimento,
chamada de Ciência. É justamente isto que ocorre a partir do Iluminismo e se
consolida progressivamente até o século XX.
A Ciência surge com a tentativa de criar um processo de produção de
conhecimento que seja capaz de oferecer predição dos fenômenos, isto é, que
conheçamos tão bem a realidade que, de acordo com certas informações,
possamos saber o que irá acontecer em certas circunstâncias.
Ocorre que este empreendimento não é nada fácil, muitas pessoas se
dedicaram a ele e criaram diferentes propostas, teorias, filosofias, sobre como
ele deveria ser alcançado. Isso ocorreu em diversos campos do conhecimento.
E embora pareça que estejamos hoje bem encaminhados, esta disputa ainda
continua e daqui há 100 anos a humanidade achará tudo o que sabemos hoje

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ridículo, porque muito mais se saberá do que o que sabemos hoje, já que a
ciência produz um conhecimento cumulativo.
Em 1913, um Psicólogo chamado John B. Watson publicou o chamado
“Manifesto Behaviorista”, em que defendia que a Psicologia deveria se ater às
metodologias científicas mais rigorosas e isso seria alcançado ao se definir o
comportamento como objeto central de estudo e processos de exame deste
objeto a partir de pressupostos da ciência natural. Mas ele não inventou tudo
isso sozinho, não era um ser iluminado e especial que teve uma grande ideia.
Watson, como todo grande pensador, foi um homem de seu tempo, uma pessoa
que foi capaz de estudar o que havia de conhecimento até então e formular uma
síntese, que é o Behaviorismo (que podemos chamar também de
comportamentalismo).
As fontes que possuem maior influência no pensamento de Watson são:

1. O objetivismo de Comte
2. O Funcionalismo
3. A Psicologia Animal

01 - Augusto Comte foi um pensador francês do início do século XIX que foi
fundador da Sociologia e da Filosofia Positiva, a que chamamos de Positivismo.
Sem entrar em uma longa discussão sobre o Positivismo, no que nos interessa,
o aspecto mais importante foi seu objetivismo. Comte acreditava que o
conhecimento era parte da natureza, ou seja, quando olhávamos o mar, lá, nele
próprio, estava o conhecimento sobre ele, e os seres humanos deveriam
somente reconhecer este conhecimento, para isso, não poderiam deixar que
nenhum fator estranho, subjetivo, ligado às crenças individuais, interferisse.
Seria necessária uma neutralidade completa do homem em relação ao
conhecimento.
Esta crença de Comte sobre a natureza do conhecimento, como externo
ao homem, influenciaria todo o pensamento científico e os cientistas
empreenderam enormes esforços para tornarem seus métodos neutros, isto é,

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ajustaram a forma de produzir dados e o conhecimento sem a influência do
próprio pesquisador, apenas “captando” o conhecimento da realidade.
Hoje já sabemos que a neutralidade é um mito, que todo conhecimento é
uma elaboração sobre a natureza e não um reflexo da própria natureza. Mas
embora isto seja verdade, também é verdade que seja possível a construção de
metodologias em que o pesquisador possa interferir menos nos resultados, em
que o conhecimento seja mais objetivo (embora nunca neutro).
Até então, a Psicologia que se praticava era o introspeccionismo, em que
o atendido fazia um relato sobre as coisas que sentia e pensava e então o
Psicólogo tomava tudo aquilo como real e encaminhava alguma solução.
Tínhamos então uma interpretação sobre sentimentos e pensamentos feita pelo
próprio atendido e outra realizada pelo profissional, de modo que o conhecimento
era fortemente marcado pela subjetividade e de baixíssima efetividade. Havia
uma grande vontade de estabelecimento de métodos objetivos também na
Psicologia e Watson captou esta mensagem.

02 – “Quais são os elementos de nossa Psiquê?” Se perguntavam diversos


sujeitos que estavam embrenhados no desafio da Psicologia humana. Esta foi,
por exemplo, uma pergunta feita por Freud. Mas nem todos estavam realmente
interessados nisso, havia quem acreditasse sair em busca de que os elementos
constituem a psicologia humana eram enquadramento inadequado para o estudo
da Psicologia, que não era a estrutura que interessava, mas o processo. Esta
forma de abordar o fenômeno psicológico constituiu o movimento chamado de
Funcionalismo, que exerceu enorme influência sobre Watson e o Behaviorismo
de modo geral.
O Funcionalismo se concentrou, em princípio, na chamada Escola de
Chicago, sob a liderança de dois intelectuais em especial. O primeiro deles foi
John Dewey, de longa carreira e forte influência também na educação, o autor
defendeu que a Psicologia deveria se dedicar à análise do indivíduo inteiro e
como ele funcionava no ambiente, isto é, pensar o comportamento humano a
partir do que ele significava para o organismo, de seu papel adaptativo para o
sujeito. Isto é, o funcionalismo não se interessava pelo organismo em si, mas por
seu funcionamento, pelo processo em que ele agia no ambiente.

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A outra vaga desta história é de James Rowland Angell, nada mais nada
menos que o orientador de John B. Watson. Com uma carreira brilhante, que
incluiu a reitoria de Yale e a presidência da Associação Americana de Psicologia,
Angell desenvolveu um trabalho, no campo do funcionalismo, com enorme
influência, que sintetizamos em 3 aspectos: a) Angell voltou-se formalmente
contra o estruturalismo de Titchener e acentuou a divisão entre eles. Enquanto
o estruturalismo se dedicava ao conhecimento das estruturas mentais, o
funcionalismo se interessava pelos processos mentais, humanos, isto é, dedica-
se a conhecer o modus operandi do processo mental, o que se realiza e em que
condições se realizam tais operações; b) o funcionalismo era utilitarista, assim,
a consciência era vista como executando processos úteis ao organismo em
diferentes contextos, e uma tarefa essencial era a descoberta dessas relações,
a que servia cada processo; e c) o funcionalismo é a psicologia das relações
psicofísicas, daí que não admita a distinção entre mente e corpo e os considere
pertencentes à mesma classe, abrangendo todas as funções nestas esferas.

03 – No século XIX, Darwin publicou a Teoria da Evolução das Espécies, entre


tantas questões envolvidas nesta nova forma de enxergar os seres vivos e sua
constituição, talvez o que tenha causado mais alvoroço tenha sido a definição
dos seres humanos como somente mais uma espécie do reino animal, foi um
baque na autoestima da humanidade.
Os seres humanos, até então considerados como de um tipo diferente,
especial, foi colocado por Darwin como uma espécie como qualquer outra, em
continuidade com o mundo animal. Esta alegação foi duramente contestada por
setores da ciência e sobretudo de outros campos da sociedade, sobretudo pelas
instituições religiosas.
Começou então uma verdadeira corrida pela produção de evidências de
que havia uma espécie de continuidade entre a “mente” animal e a humana e a
ascensão da chamada “Psicologia Animal”, como um campo extremamente
promissor, que hora pecava pela consideração das ações humanas como mera
imposição biológica, daí o fisiologismo de Loeb, por exemplo, ora pecava pela
antropomorfização dos animais, isto é, equivocada atribuição de características

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humanas (como um pensamento quase discursivo), equívoco presente nos
próprios escritos de Darwin e também encontrados em outros autores.
Mas o fato é que esta trilha de pesquisa se tornou uma verdadeira
avenida, possibilitando pesquisas básicas com animais que se tornaram
fundamentais para a compreensão do comportamento mais complexo.

Esse foi o conjunto de influências que Watson, se formando no começo


do século XX, recebeu, estudou, refletiu, para a produção daquilo que hoje
chamamos de Behaviorismo ou Comportamentalismo. Assim como os
funcionalistas, ele se interessou pelo processo de funcionamento dos seres
humanos, isto é, pela função adaptativa dos comportamentos, para pensar estes
comportamentos complexos ele se serviu largamente da Psicologia Animal,
cujos resultados fundamentais estão na base do Behaviorismo, e Watson fez
isso procurando métodos cada vez mais objetivos de pesquisa, influenciado por
este objetivismo.

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