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Os modelos Biomédico e

Biopsicossocial

O conceito de Normal e
Patológico

Unidade de Psicopatologia II
Prof. Daniel Matos
Modelo Biomédico
Tem origem na orientação científica do século
XVII, consistindo numa visão mecanicista e
reducionista do Homem e da Natureza que
surgiu quando filósofos como Galileu,
Descartes, Newton, Bacon, entre outros,
conceberam a realidade do mundo como
uma máquina.
EVOLUÇÃO DA ATENÇÃO EM SAÚDE
• Nos primórdios da Medicina, prevaleciam os
pensamentos mágico-religiosos.

• Egito, Índia, Mesopotâmia e China, onde


idéias embrionárias sobre a doença mental
germinaram, as causas eram quase sempre
devido a problemas espirituais.
• Tratamento: retirada dos espíritos através de rituais;
quando não, o sofrimento era aliviado por meio de
massagens e, algumas vezes, através de atos cirúrgicos,
como abertura no crânio para liberar os fluidos.
• A medicina mágico-religiosa, predominante na antigüidade, se inseria
em um contexto religioso-mitológico no qual o adoecer era resultante
de transgressões de natureza individual ou coletiva.

• Reatar o enlace com as divindades, pelo exercício de rituais que


assumiam as mais diversas feições, conforme a cultura local, liderados
pelos feiticeiros, sacerdotes ou xamãs.

• As relações com o mundo natural se baseavam em uma cosmología


que incluíam deuses caprichosos e espíritos tanto bons como maus.

• Os indivíduos pensavam a doença em termos desses agentes cabendo


aos responsáveis pela prática médica da época aplacar essas forças
sobrenaturais.
• Avanço significativo no pensamento médico ocorre
quando se dá um desvio do foco de interesse das
forças sobrenaturais para o portador da doença.

• Esta passa a ser vista como um fenômeno natural,


passível de ser compreendido e liberado da intromissão
de forças divinas ou malévolas.

• Esse novo enfoque, que poderia ser designado como


medicina empírico-racional teve seus primórdios no
Egito (papiros com fragmentos de textos médicos
datam de três mil anos a.C.)
• Hipócrates (460-377 a.C), chamado Pai da Medicina
ocidental, identificou a saúde como fruto do equilíbrio
dos humores, sendo, por oposição, a doença,
resultante do desequilíbrio dos mesmos.

• A teoria dos humores sobrevive nos dias de hoje em


algumas correntes do pensamento médico oriental,
como é o caso, da medicina tradicional tibetana ou da
medicina ayuvérdica e unani indianas.
Galenismo
• Partindo dos presupostos hipocráticos é que Galeno (122-199 D.C.),
um dos médicos que exerceram maior influência na história da
medicina ocidental, fará avanços significativos nas concepções
diagnóstico-terapéuticas tendo as mesmas predominado durante
nada menos que 14 séculos, isto é, por quase toda a idade média.
Pesquisador clínico e escritor
• Anatomista, fisiólogo e terapeuta, Galeno realiza uma síntese do
conhecimento médico existente fazendo-o avançar no contexto do
Império Romano e da expansão do cristianismo.
• A idéia central de sua visão da fisiologia repousa no fluxo
permanente dos humores, o que estaria na dependência
das influências ambientais, do calor inato e, em grande
medida, da ingestão alimentar e sua justa proporção.

• As causas mórbidas podiam ser internas (ligadas à


constituição e predisposição individual), externas (excessos
alimentares, sexuais ou de exercícios físicos) ou conjuntas.
O diagnóstico deve ter por fundamentos o cuidadoso
exame do doente, o conhecimento do seu estado quando
sadio, seu temperamento, regime de vida, alimentação,
além das condições ambientais e a época do ano.
Paracelso
• Paracelso (1493-1541) representa um modelo
de transição entre a escola galénica e o
modelo biomédico.

• Segundo ele havia uma ordem determinada


que organizava o micro e o macrocosmo,
ambos governados por um princípio vital por
ele denominado de archeus.

• Influenciado pela alquimia visualizava uma


composição mineral na matéria, inclusive na
orgânica, chamando a atenção para as
semelhanças existentes entre os processos
químicos e os processos vitais.
• Na determinação da doença, Paracelso identificava influências
cósmicas e telúricas além de substâncias tóxicas e venenosas, bem
como da predisposição do próprio organismo e das motivações
psíquicas. A doença também se explicava em virtude de reações
inadequadas dos elementos constitutivos do mundo (excesso de
um ou de mais de um deles).

• Uma, entre as múltiplas orientações de Paracelso para uma correta


prática médica, proclamava: A prática desta arte repousa no
coração; se o teu coração é falso, o mesmo se dará com o médico
que está dentro de ti. Onde não existe amor, não existe arte;
portanto, o médico não deve estar imbuído de menos compaixão e
amor do que os que Deus direciona aos homens.
O Modelo Biomédico
• Tem suas raízes históricas vinculadas ao
contexto do Renascimento e de toda a
revolução artístico-cultural que ocorre nessa
época, associada, igualmente, ao projeto
expansionista das duas metrópoles de então -
Portugal e Espanha - cuja consecução vai
demandar o surgimento de instrumentos
técnicos que viabilizem as grandes navegações
(astrolábio, bússolas, caravelas, avanços na
cartografia, etc)
O Modelo
Biomédico
• O filósofo e matemático René Descartes (1596-1650) é o
responsável por um método e uma escola filosófica
pioneira na habilitação privilegiada do sujeito que conhece
(res cogitans) frente ao objeto ou realidade externa a ele e
que vai ser conhecida (res extensa).

• No seu Discurso do Método Descartes fórmula as regras


que se constituem os fundamentos de seu novo enfoque
sobre o conhecimento e que persistem hegemônicos
no raciocínio médico ainda hoje.
• A primeira regra preceitua que não se deve aceitar como verdade nada
que não possa ser identificado como tal, com toda evidência, isto é, hão de
ser, cuidadosamente evitados a precipitação e os preconceitos não
ocupando o julgamento com nada que não se apresente tão clara e
distintamente à razão que não haja lugar para nenhuma dúvida.

• A segunda regra propunha separar cada dificuldade a ser examinada em


tantas partes quanto sejam possíveis e que sejam requeridas para
solucioná-la.

• A terceira dizia respeito à condução do pensamento de forma ordenada,


partindo do mais simples e fácil daí ascendendo, aos poucos, para o
conhecimento do mais complexo, mesmo supondo uma ordem em que
não houvesse precedência natural entre os objetos de conhecimento.

• A última regra se referia à necessidade de efetuar uma revisão exaustiva


dos diversos componentes de um argumento de tal maneira que seja
possível certificar-se de que nada foi omitido (Descartes, 1960).

• Uma preocupação adicional de Descartes residia na certeza a que ele


podia chegar por meio de provas matemáticas.
• A maior mudança na história da medicina ocidental
ocorreu com a revolução cartesiana.

• Antes de Descartes, a maioria dos terapeutas atentava


para a interação de corpo e alma, e tratava seus pacientes
no contexto de seu meio ambiente social e espiritual.

• A filosofia de Descartes alterou profundamente essa


situação. Sua rigorosa divisão entre corpo e mente levou os
médicos a se concentrar na máquina corporal e a
negligenciar os aspectos psicológicos, sociais e ambientais
da doença (Capra, 1982).

• Os atuais modelos de classificação e catalogação das


doenças são originários deste modelo cartesiano, tais
como o CID-10 e o DSM-V
• O mundo é considerado como uma
máquina e, à semelhança desta,
formado por um conjunto de peças.
Deste modo, para o compreender,
basta utilizar o mesmo método que
se utiliza para perceber uma
máquina, isto é, desmonta-se e
separam-se as peças.
• Assim, tal como se faz com as máquinas, estudam-se os
seres vivos desarticulando as suas partes constituintes
(os órgãos). E cada parte é estudada separadamente.
Cada uma destas partes desempenha uma
determinada função observável. O conjunto, que
representa o organismo, é explicado pela soma das
partes ou das propriedades.

• Nesta perspectiva, Descartes concebeu também o


corpo humano como uma máquina, comparando um
homem doente a um relógio avariado e um saudável
a um relógio com bom funcionamento.
• No fim da Idade Média a Europa foi assolada pela peste negra, e as
outras formas de atenção à saúde existentes como a mágica, a
religiosa e a galênica não deram conta de sanar o problema levando
à necessidade de se pensar o conceito de doença de uma forma
emergencial (Pratta & Santos, 2009), campo propício para o
desenvolvimento e popularização deste modelo que é [...]
caracterizado pela explicação unicausal da doença, pelo
biologicismo, fragmentação, mecanicismo, nosocentrismo,
recuperação e reabilitação, tecnicismo, especialização (Cutolo, 2006
pág.16).

• Vendo o homem como uma máquina, tendo o conceito de saúde de


que é ausência de doença e tendendo-se para a especialização e
fragmentação, perde-se a visão holística do homem, em suas
dimensões psicológicas e sociais, É a doença e sua cura, o
diagnóstico individual e o tratamento, o processo fisiopatológico
que ganham espaço (Cutolo, 2006).
• Até hoje o modelo biomédico influencia na
atenção à saúde, seja em consultórios médicos
ou no SUS, sendo visto pela forma como o
médico faz sua entrevista e observação clínica ao
atender um paciente, focando principalmente
nos seus sinais e sintomas com perguntas do tipo:
O que você está sentindo? O que é importante,
mas não determinante para o restabelecimento
do paciente.
Limitações do modelo biomédico
• Paralelamente ao avanço e sofisticação da biomedicina foi sendo detectada
sua impossibilidade de oferecer respostas conclusivas ou satisfatórias para
muitos problemas ou, sobretudo, para os componentes psicológicos ou
subjetivos que acompanham, em grau maior ou menor, qualquer doença.

• As críticas à prática médica habitual e o incremento na busca de estratégias


terapêuticas estimulada pelos anseios de encontrar outras formas de lidar
com a saúde e a doença (no seu conjunto designadas como medicinas
alternativas ou
• complementares) constituem uma evidência dos reais limites da tecnologia
médica.

• Mesmo que muitos profissionais cheguem a admitir a existência de


componentes de ordem subjetiva ou afetiva que exercem influência
mesmo em casos de doenças em que as evidências orgânicas sejam mais
explícitas, não se sentem, com freqüência, à vontade para lidar com os
mesmos, pois para isto, via de regra, não foram preparados.
• Desta maneira, por mais que alguns profissionais queiram visualizar seu
paciente como um todo e situá-lo, de alguma maneira, no seu contexto
socioeconómico, terminam por regressar ao reducionismo, pois este foi o
modelo em que foi pautada sua formação na escola médica.

• Tudo o que acontece aos pacientes, quaisquer das suas queixas ou


sofrimentos são vistos - e, como decorrência, manejados - em termos
mecanicistas, isto é, tenta-se "patologizar“ .

• Um paciente que, hospitalizado e prestes a submeter-se a uma cirurgia,


porventura comenta suas preocupações com algum membro do corpo
médico, rapidamente se lhe diagnostica um estado ansioso, merecedor da
prescrição de um tranquilizante.

• A própria morte, termo inevitável da vida, passou a ser vista como um


reflexo da incapacidade do médico ou dos sistemas responsáveis pela
manutenção da vida.
• O problema central do modelo biomédico não reside em uma espécie de
maldade intrínseca que o caracterizaria, mas no fato de que ele é
demasiado restrito no seu poder explicativo, o que implica em óbices
importantes para a prática de médicos e pacientes. Tal como ressalta
Bennet (1987), médicos sensíveis estão insatisfeitos com o referido
modelo, não propriamente porque o mesmo não responde a muitos dos
problemas clínicos e sim, devido ao fato de que se dão conta das reações
psicológicas dos seus pacientes e dos problemas socioeconómicos
envolvidos na doença, mas não vêem como incorporar essas informações
na formulação diagnostica e no programa terapêutico.

• Nas concepções orientais- caso de medicina chinesa e sua teoria do yin-


yang - o enfoque é substancialmente qualitativo e as explicações que hão
de ser dadas, asumem a forma de valores.

• No ocidente há uma tendência ao privilegiamento das explicações de


natureza quantitativa, reduzindo-se, com freqüência a 'qualidade' à
expressão numérica, estatística, da mesma, quando esta última, ainda que
de grande utilidade, nos fornece uma 'probabilidade' ou uma resposta em
termos de 'médias'.
O Modelo Biopsicossocial
(Atenção Integral)
• Engel em 1977 (Fava & Sonino, 2008)

• Crítica à insuficiência da epidemiologia tradicional


em abordar a saúde como um fenômeno radicado
na organização social (Puttini et al. 2010)

• Ainda, de que a doença não é somente unicausal


como visto no modelo biomédico, mas seja vista
como um resultado da interação de mecanismos
celulares, teciduais, organísmicos, interpessoais e
ambientais (Fava & Sonino, 2008)
O Modelo Biopsicossocial
(Atenção Integral)

• Entendimento da relação saúde-doença como


um processo, portanto sem ponto fixo, mas
sim um estado.

• BIO – PSICO – SOCIAL


• Ao pensar desta forma, garante-se uma visão
holística do sujeito em suas relações e em seu
estado emocional

• Porém, sem negar o biológico, onde a maioria


das doenças se manifesta

• BIO (biológico), PSICO (de psicológico) e


SOCIAL, visando englobar todas as dimensões
científicas inerentes ao homem.
O Modelo Biopsicossocial
(Atenção Integral)
• “O foco neste modelo não é apenas a doença
em si e o tratamento delas, mas todos os
aspectos que estariam diretamente
relacionados ao fenômeno do adoecer, sejam
eles fisiológicos, psicológicos, sociais,
ambientais, dentre outros, os quais também
devem ser considerados para que o
tratamento seja eficaz” (Silva et al. 2011).
• Voltado à prevenção de doenças e promoção à
saúde, em um visão dialética, ou seja,
promovendo saúde se previne doenças e vice-
versa.

• Considera um conceito de saúde que como o


conceito de doença tem um lado biológico,
hereditário, quase não manipulável, mas também
existe alguns fatores psicológicos e sociais que
podem ser moldados pela pessoa, como hábitos
saudáveis, ambiente favorável ou acesso à
serviços de saúde (Sciliar, 2007).
Determinantes Sociais da Saúde
(DSS)
• [...] os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais,
étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a
ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na
população (Buss & Filho, 2007).

• Estudos verificaram que comportamentos como dormir de acordo


com a necessidade do corpo, ter uma boa alimentação, praticar
exercícios físicos, entre outros, influenciavam diretamente na saúde
e na qualidade de vida das pessoas, reforçando a idéia de que
aspectos sociais que podemos manipular podem contribuir para
uma boa ou má qualidade de vida e de saúde (Belloc (1972), Belloc
e Breslow (1973) e Breslow e Enstrom (1980) citado por Traverso-
Yépez (2008))
Comissão Nacional sobre os Determinantes
Sociais da Saúde (CNDSS) :

• OMS (março de 2005)

• Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde


(Commission on Social Determinants of Health -
CSDH), com o objetivo de promover, em âmbito
internacional, uma tomada de consciência sobre a
importância dos determinantes sociais na situação
de saúde de indivíduos e populações e sobre a
necessidade do combate às iniqüidades de saúde por
eles geradas.
A Comissão Nacional sobre os
Determinantes Sociais da Saúde
(CNDSS)
• Essa Comissão foi estabelecida em 13 de
março de 2006, através de Decreto
Presidencial, com um mandato de dois anos. A
criação da CNDSS é uma resposta ao
movimento global em torno dos DSS
desencadeado pela OMS,
CNDSS
• A Comissão Nacional sobre Determinantes
Sociais da Saúde (CNDSS) foi criada pelo Decreto
Presidencial de 13/3/2006 e teve seu Regimento
Interno aprovado pela Portaria MS/1358, de
23/06/06. Ela é integrada por dezesseis
especialistas e personalidades da vida social,
econômica, cultural e científica do país. Eles
foram nomeados pelo Ministro da Saúde, por
meio da Portaria nº 532, de 14 de março de 2006.
• Sua criação e composição expressam o
reconhecimento de que a saúde é um bem público, a
ser construído com a participação solidária de todos
os setores da sociedade brasileira. Está inspirada nos
princípios e valores que orientam a Reforma
Sanitária Brasileira e que tem como sua principal
expressão o artigo 196 da Constituição Federal, onde
se reconhece que “A saúde é direito de todos e
dever do Estado...”.
• Com base no conceito de DSS foram criados modelos
e diagramas que facilitam o estudo das sociedades
para que se faça um diagnóstico preciso de qual
determinante social está afetando no processo de
saúde de cada grupo ou sociedade, norteando assim
a atuação de políticas públicas ou não-
governamentais que venham a sanar tal deficiência e
melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
Diagrama de Influência em
Camadas de Dahlgren e Whitehead
(1991)
• Esse diagrama mostra claramente que os aspectos
biológicos, sociais, econômicos e psicológicos influenciam
dialeticamente na saúde da pessoa.

• Pode ser relacionado à Teoria da Pirâmide de Maslow


(1943) ou Hierarquia das NECESSIDADES de Maslow.

• De acordo com Maslow, as necessidades básicas (base da


pirâmide) deveriam ser atendidas antes que se pudesse
abrir espaço para a saciação das necessidades seguintes ,
rumando ao topo da pirâmide.

• Após atendidas as necessidades humanas


hierarquicamente, abre-se então o espaço/necessidade
para a busca da auto-realização/felicidade.
• George L. Engel, 1977, o pai da medicina
psicossomática norte-americana, com
destaque para as insuficiências e limitações do
modelo tradicional biomédico, defendeu a
aprovação de uma abordagem
(biopsicossocial) das doenças psicossomáticas.
O artigo, publicado na revista Science, atraiu
cerca de 2.000 citações.
• George Engel formulou o modelo
biopsicossocial, enfatizando a importância de
sua aplicação na Medicina como contribuição
para a consolidação de um novo paradigma.

• As repercussões deste modelo têm se


ampliado progressivamente e hoje podemos
verificar que a inclusão de aspectos culturais,
psicológicos, comportamentais e sociais, ao
lado dos biológicos, tornou-se uma diretriz
ética na educação médica e das demais
ciências da saúde.
• Alimentada pela perspectiva biopsicossocial, a
psiquiatria passou a cuidar não apenas dos
transtornos mentais dos pacientes, mas também a
observar e atuar na dinâmica existente entre equipe
de saúde, paciente e seus familiares, contribuindo
para o equacionamento dos transtornos relacionais

• Passou a participar na construção de um modelo


de Medicina Integrada, cuja função é promover a
integralidade e a integração dos cuidados.
• Por integralidade compreende-se a inclusão de
diferentes facetas da pessoa e do processo do
adoecer; por integração, a articulação de diferentes
formas assistenciais do sistema de saúde no âmbito
da complexidade dos cuidados.

• Neste processo de modernização de suas ações,


destacam-se as funções a serem desenvolvidas pelo
psiquiatra no hospital geral e na atenção primária no
sentido de assessorar e contribuir com as equipes
para a promoção das seguintes metas:
1) Deslocamento do foco de atenção, da doença como
evento para o adoecer como processo;
2) Continuidade dos cuidados;
3) Otimização da abrangência dos cenários de
atendimento;
4) Adequação dos programas de ensino e promoção
de cuidados de saúde para os estudantes e
profissionais;
5) Educação permanente de pacientes e familiares;
6) Promoção do trabalho multiprofissional.
Atenção Integral em Psicologia

• Em um editorial publicado no periódico


Psicoterapia e Psicossomática, os autores
relataram que, em consonância com a
abordagem biopsicossocial de Engel, o estudo
de todas as doenças devem incluir o indivíduo,
seu corpo e seu ambiente circundante como
componentes essenciais do total do sistema.
• Fatores psicossociais podem operar para
facilitar, manter ou modificar o curso da
doença, embora o seu peso relativo pode
variar de doença para doença, de um
indivíduo para outro e até mesmo entre os
dois episódios diferentes da mesma doença
no mesmo indivíduo.
O Normal e o Patológico
em Atenção Psicossocial
• Toda a área de definição de sanidade mental e
loucura, normal e patológico é muito
confusa... uma questão de grande
controvérsia.

• NORMALIDADE EM SAÚDE MENTAL: ganha


especial relevância quando há casos limítrofes
nos quais a delimitação entre comportamentos
e formas de sentir normais e patológicas é
bastante difícil.
• O conceito de normalidade em saúde mental
implica na própria definição do que seja saúde
e doença mental.

• Desdobramento em várias áreas da saúde


mental, onde a determinação de anormalidade
pode ter importantes implicações, como por
exemplo, em:
• Psiquiatria Legal ou Forense
• Epidemiologia Psiquiátrica
• Psiquiatria Cultural e Etnopsiquiatria
• Planejamento em Saúde Mental
• Orientação e Capacitação Profissional
• Prática Clínica
Critérios de Normalidade
• NORMAL COMO AUSÊNCIA DE DOENÇA –
ausência de sintomas, sinais ou de doenças...
“Saúde é o silêncio dos órgãos”...

• NORMAL ENQUANTO MÉDIA ESTATÍSTICA –


assimilar o normal a média, é rechaçar para o
campo patológico tudo o que se diferencia...
Segundo esta concepção, normal seria aquele
que se comportasse como a maioria.
• NORMAL ENQUANTO ADEQUAÇÃO DO
COMPORTAMENTO AOS MODELOS CULTURAIS

• O ajustamento normal seria sinônimo de resposta


adaptada à cultura do sistema vigente. Quanto mais
acomodado, mais normal.

• Normal seria o homem feito PELO sistema para O


sistema.

• O ajustamento normal definiria-se como


comportamento instalado em resignada alienação.
• NORMAL COMO AUSÊNCIA DE SOFRIMENTO
SUBJETIVO -Maior ênfase é dada à percepção
subjetiva do próprio indivíduo em relação ao
seu estado de saúde, às suas vivências
subjetivas.

• NORMAL ENQUANTO IDEAL, UTOPIA A


REALIZAR OU APROXIMAR – Depende de
critérios socioculturais, ideológicos e muitas
das vezes dogmáticos e doutrinários.
SOB O OLHAR DA
ANTIPSIQUIATRIA:

• Os comportamentos considerados como doentios de


um indivíduo deveriam ser compreendidos a partir
das relações que ele mantém com os outros.

• Nesse sentido, seria mais correto dizer que uma


relação está doentia do que qualificar como doente o
indivíduo que participa dessa relação
• Antipsiquiatria: movimento iniciado nos anos
60.

• Contrários às formas violentas de tratamentos


da doença mental e antenados ao
pensamento da contracultura, alguns
psiquiatras começaram a questionar a
psiquiatria por dentro.

• Marcados pelo pensamento de David Cooper,


David Laing e Gregory Bateson formaram a
base da antipsiquiatria.
A loucura para a Antipsiquiatria

• Esse movimento questionava a psiquiatria em


seu cerne, negando todas as formas de
tratamento tradicional da loucura, e seus
seguidores acreditavam que a loucura é
construída, fabricada pelas relações de poder
e também a partir de práticas discursivas.
• “O DINAMISMO FUNDAMENTAL NÃO
CONSISTE EM SE ADAPTAR AO MUNDO, MAS
DE SE REALIZAR NO MUNDO.” (David Cooper)
Para a antipsiquiatria os sintomas manifestados
por um indivíduo têm origem nas relações que
ele mantém;

Relações doentias, portanto, refletem nos


indivíduos, que então passam a ser
considerados, eles próprios doentes.
• O pressuposto é que não há seres humanos
isolados, mas apenas em relação com os
outros;

• Nossa vida se dá e se define a partir dos


relacionamentos que mantemos nos
diferentes grupos sociais a que pertencemos

• Por isso, tudo o que se passa com uma pessoa


não se passa apenas com ela; se estende
àqueles com os quais ela mantém algum tipo
de relação.
ALGUNS CONCEITOS – NORMALIDADE

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE –(OMS): “É


a atitude perfeita do indivíduo para estabelecer
relações harmoniosas com seus semelhantes”.

HILGARD E ATKINSON: “Um estado caracterizado


por ajustamento, orientação positiva e entusiasmo”.

CHAPLIN: “Estado de boa adaptação, com uma


sensação subjetiva de bem estar, prazer de viver e
a sensação de que o indivíduo está a desenvolver
seus talentos e aptidões”.
K. MENNINGER: “normalidade é a habilidade para se
adaptar ao mundo exterior com satisfação e para
dominar a tarefa de culturação”.

W.W. BOHEM: “é uma condição e nível de atividade


social que seja socialmente aceitável e pessoalmente
satisfatória”.

O. RANK: “normalidade é a capacidade de viver sem


medo, culpa ou ansiedade, e de assumir a
responsabilidade pelas próprias ações”

TRAVELBEE: “é a capacidade que o indivíduo tem de


amar, enfrentar a realidade e ter objetivo de vida”.
SAÚDE MENTAL POSITIVA
• Na tentativa de definir Saúde Mental, Marie
Jahoda resumiu as características gerais
consideradas importantes para vários autores.

• “Current concepts of positive mental health”


(1958)
SAÚDE MENTAL
• Abrange comportamentos, pensamentos, sentimentos e
emoções positivas e negativas.

• Capacidade de promover e melhorar o estado de saúde


geral, originar pensamentos positivos e o bem-estar
(felicidade, alegria, satisfação), mas também, dar espaço
para a complexidade da vida em sua totalidade.

• Assim, há muitas ocasiões em que o verdadeiramente


saudável é “sentir-se triste, irritado / decepcionado/a. "
Saúde Mental Positiva
(OMS, 2001):

Estado de bem-estar no qual o individuo:


Pode desenvolver suas próprias habilidades
Pode lidar com os agentes estressores normais
da vida
Pode trabalhar de forma produtiva e com
satisfação
É capaz de fazer contribuições para a
comunidade
SAÚDE MENTAL POSITIVA (6 fatores)

❖Auto aceitação

❖Crescimento pessoal

❖Integração da personalidade

❖Autonomia

❖Percepção da realidade

❖Domínio do ambiente

(Jahoda, 1958)
Em Suma
As proposições de Normalidade e Patologia são
vagas e encontram-se na dependência de
julgamentos e valores.

Normal: é um conceito social que não se


enquadra em uma definição completa e
universalmente aplicável.
Mostra-se muito mais como um critério
ideológico do que científico
Os critérios de avaliação se
constroem :
No desenvolvimento científico;
Em dados da cultura;

No comportamento do próprio observador ou


especialista que avalia o indivíduo e diz que ele
é doente.
Portanto, a linha entre normal e patológico:

Varia de país para país, de classe para classe, de


indivíduo para indivíduo, de sociedade para
sociedade, de cultura para cultura e de época
para época.

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