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RESUMO: MANDATO
Conceito
“Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu
nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato”.
Esse é o conceito legal de mandato, que se encontra no artigo 653 do Código Civil. Pode
parecer óbvio, mas há muita confusão entre mandato e procuração. O mandato é o contrato, a
outorga de poderes para que outrem represente o mandante, enquanto a procuração é a
formalização dessa outorga, seu instrumento. Importante ter em consideração que o mandato é
um contrato consensual, razão pela qual se expressa pelo só acordo de vontades,
independentemente de qualquer forma.
Todas as pessoas capazes são aptas a figurar no polo ativo do contrato de
mandato. O instrumento do mandato é a procuração (ressalve-se que se trata de contrato
consensual que não requer forma específica), que pode ser pública ou particular. Sendo
particular a procuração, ela deverá conter a indicação do lugar em que foi passada, a
qualificação do outorgante (mandante) e do outorgado (mandatário), a data e o objetivo da
outorga com a designação e extensão dos poderes conferidos. O terceiro com quem o
mandatário contratar poderá exigir que a procuração traga a firma do mandante reconhecida
em cartório. Mesmo que se dê procuração pública poderá o mandatário substabelecer por
instrumento particular.
Explicitando o caráter consensual do contrato de mandato está o artigo 656 do
Código Civil que enuncia que “o mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito”. “A
outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se
admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito”. Esse artigo não torna o
contrato de mandato formal, vez que o artigo anterior torna patente o seu caráter consensual.
Ocorre, no entanto, que atos que requeiram forma específica para serem válidos atrairão essa
formalidade para o contrato de mandato. Mas isso se restringirá a essas hipóteses, ou seja,
somente atos que sejam formais necessitaram de mandatos formais.
O contrato de mandato é presumidamente gratuito, todavia essa presunção não
existe para mandatários que tratem a representação como ofício ou profissão. O que foi
exposto quer dizer que quando não houver sido ajustada retribuição para o mandatário
presumir-se-á que o mandato foi gratuito, a não ser que a profissão do mandatário afaste essa
presunção, o que se dá com advogados, despachantes etc. Em sendo o mandato oneroso a
retribuição será aquela expressa na convenção das partes ou que resulte da lei, no caso de
serem essas fontes omissas, suprir-se-á a falta pelos usos e costumes do lugar, e na falta destes
por arbitramento.
O mandato poderá ser especial, ou seja, para a prática de certo e determinado ato,
ou geral, que é aquele dado para a prática de todos os atos de interesse do mandante. No que
se refere à aceitação, ela poderá ser tácita, resultando de início de cumprimento. O mandato
geral, dada a sua amplitude, só confere poderes de administração. Para alienar, hipotecar,
transigir, ou praticar quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária, será necessária
procuração com poderes especiais. O parágrafo 2º do artigo 661 do Código enuncia que o
poder de transigir não importa o de firmar compromisso, a intenção da norma é esclarecer o
intérprete da necessidade de explicitar o poder de firmar compromisso, se isso for do interesse
do mandante, vez que o poder de transigir não o abarca. “Os atos praticados por quem não
tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo
nome foram praticados, salvo se este os ratificar. Parágrafo único: a ratificação há de ser
expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato”. Quando o ato é praticado
sem que haja poderes suficientes, e essa hipótese abarca também a ausência de poderes, ele
será ineficaz, ou seja, o mandante não sofrerá quaisquer influências do ato praticado em sua
esfera jurídica. Para ele o ato é havido como inexistente. Pode ser, no entanto, que o mandante
resolva ratificar o ato exorbitante. Nesse caso deverá indicar a sua ratificação expressamente,
ou praticar ato inequívoco que demonstre a sua intenção de confirmação.
“Sempre que o mandatário estipular negócios expressamente em nome do
mandante, será este o único responsável; ficará, porém, o mandatário pessoalmente obrigado,
se agir em seu próprio nome, ainda que o negócio seja de conta do mandante”. A razão dessa
norma é tornar inequívoco o entendimento acerca de que o mandato é uma hipótese de
representação, sendo assim, quando o mandatário explicitar que somente representa o
mandante não será possível considerá-lo como corresponsável pelo ato praticado, em razão de
se tratar de representação. Caso contrário não haja a demonstração de que o negócio se faz por
conta de outrem, estará o mandatário pessoalmente obrigado, vez que a aparência aponta no
sentido de ter sido o negócio feito por sua conta.
Ao mandatário é dada a faculdade de reter a coisa objeto do mandato para que seja
coberto de tudo o que lhe for devido em razão do mandato. “O mandatário que exceder os
poderes do mandato, ou proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios,
enquanto o mandante lhe não ratificar os atos”. “O maior de dezesseis e menor de dezoito
anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de
conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores”. Essa
norma é bastante interessante vez que possibilita que relativamente incapazes sejam
mandatários, todavia há que se ressaltar que o mandante não terá contra o menor os mesmos
direitos que possuir contra um mandatário capaz, a ele será dado ação somente no que
concerne às hipóteses gerais de obrigações contraídas por menores.
Características
O mandato é um Contrato é contrato porque resulta de um acordo de vontades: a do
mandante, que outorga a procuração, e a do mandatário, que a aceita. A aceitação pode ser
expressa ou tácita. Esta se configura pelo começo de execução (CC, art. 659).
Vejamos as características:
a) Personalíssimo ou intuitu personae - porque se baseia na confiança, na presunção de
lealdade e probidade do mandatário, podendo ser revogado ou renunciado quando
aquela cessar e extinguindo-se pela morte de qualquer das partes. Como consequência,
é essencialmente revogável, salvo as hipóteses previstas nos arts. 683 a 686, parágrafo
único, do Código Civil. Cessada a confiança, qualquer das partes pode promover a
resilição unilateral (ad nutum), pondo termo ao contrato.
b) Consensual - porque se aperfeiçoa com o consenso das partes, em oposição aos
contratos reais, que se aperfeiçoam somente com a entrega do objeto.
c) Não solene - por ser admitido o mandato tácito e o verbal (CC, art. 656), malgrado a
afirmação constante do art. 653, segunda parte, de que “a procuração é o instrumento
do mandato”.
d) Em regra Gratuito – porque o art. 658 do Código Civil diz presumir-se a gratuidade
“quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder
ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa”. Ex: O mandato
confiado a advogado, corretor ou despachante, presume-se oneroso.
e) E em regra Unilateral – porque gera obrigações somente para o mandatário, podendo
classificar-se como bilateral imperfeito devido à possibilidade de acarretar para o
mandante, posteriormente, a obrigação de reparar as perdas e danos sofridas pelo
mandatário e de reeembolsar as despesas por ele feitas.
Espécies de mandato
O mandato, quanto ao modo de declaração da vontade, pode ser:
a) Expresso ou tácito, verbal ou escrito” (CC, art. 656).
Expressso – quando as partes contratarem oralmente ou por meio de escrito público ou
particular.
Tácito - só é admissível nos casos em que a lei não exija mandato expresso.
Verbal - só vale nos casos em que não se exija o escrito e pode ser comprovado por
testemunhas e outros meios de prova admitidos em direito.
Escrito - é o mais comum e pode ser outorgado por instrumento particular (CC, art. 654)
ou por instrumento público, nos casos expressos em lei.
b) Gratuito ou remunerado (art. 658)
Gratuito – quando não houver sido estipulada retribuição. Exceto, se o seu objeto
corresponder ao daqueles em que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa.
Oneroso – quando caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou no contrato.
c) Judicial ou extrajudicial (art. 692)
Judicial – aquela que por sua essência, só será utilizada perante a justiça. Habilita o
advogado a agir em juízo e é regido por normas especiais.
Extrajudicial – aquela que os poderes por ela outorgados servem para prática de atos fora
da via judicial ou das praxes regulares do direito.
d) Simples ou empresário (arts. 966 e 1.018) - Estes são restritos aos negócios mercantis,
entre empresários (CC, art. 966).
e) Geral ou especial (art. 660)
Geral – a todos os do mandante (CC, art. 660).
Especial - é restrito a um o negócio especificado no mandato, são negócios
determinadamente. Ex: venda de imóvel.
f) Em termos gerais e com poderes especiais (art. 661).
Em termos Gerais - só confere poderes de administração, atribuído aos que ultrapassem a
administração ordinária;
Em termos Especiais - só autoriza a prática de um ou mais negócios jurídicos
especificados no instrumento. Limita os atos, sem possibilidade de estendê-los por
analogia.
Quando outorgado a mais de uma pessoa, pode ser (art. 672):
a) Conjunto - ficarão impedidos de validamente atuar em separado, podendo, no entanto,
os que não participaram do ato, ratificá-lo posteriormente.
b) Solidários – a presunção é a de que o mandato outorgado a mais de uma pessoa é
solidário, podendo qualquer delas atuar e substabelecer separadamente.
c) Sucessivos - devem proceder na ordem de sua nomeação para que os procuradores
possam agir, e cada um no impedimento do anteriormente referido. No silêncio do contrato,
serão simultâneos e solidários, podendo qualquer deles exercer os poderes outorgados.
d) Fracionário – cada procurador tem uma fração de poder e atuação perfeitamente
delimitada.
Aceitação do mandato
Sendo o mandato um contrato, exige aceitação para se aperfeiçoar, ainda que não seja
expressa. Vigora nessa matéria a liberdade de forma. A aceitação do mandatário nunca
figura na procuração. Esta é, via de regra, a conclusão de um acordo verbal ou por simples
proposta do mandante, às vezes até residente em local distante. O mandante entrega ou
remete a procuração ao mandatário e este, recebendo-a, dá início à sua execução.
Ratificação do mandato
A regra é a de que o mandatário só pode, validamente, agir nos estritos limites dos poderes
que lhe foram conferidos. Se houver excesso de mandato quanto a esses limites e ao tempo
em que poderiam ser exercidos, o ato será ineficaz em relação àquele em cujo nome foram
praticados. Dispõe, com efeito, o art. 662 do Código Civil: “Os atos praticados por quem
não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em
cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar”. Acrescenta o parágrafo único que “a
ratificação há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato”
Da Extinção do Mandato
Cessa o mandato:
I. Pela revogação ou pela renúncia;
II. pela morte ou interdição de uma das partes;
III. pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou
o mandatário a os exercer;
IV. pelo término do prazo ou
V. pela conclusão do negócio.
Pode ser que o mandato contenha cláusula de irrevogabilidade. Mesmo assim,
será possível revogá-lo, pois decorre da confiança que o mandante tem no mandatário, o que
pode acabar, porém nessa hipótese terá o mandante que pagar perdas e danos à contraparte.
Caso, no entanto, a cláusula de irrevogabilidade seja condição de um negócio bilateral, ou
tenha sido estipulada no interesse exclusivo do mandatário, a revogação será ineficaz. Nesse
caso, o mandante deveria pensar exaustivamente antes de conferir o mandato, vez que após
sua contratação ficará sem efeito a revogação em razão das peculiaridades que levaram ao
negócio. Esse tipo de mandato é chamado de em causa própria. “Conferido o mandato com a
cláusula „em causa própria‟, a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte
de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo
transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades
legais”. Esse tipo de mandato é conferido em situações nas quais as partes já estabelecem um
negócio jurídico principal de antemão, sendo o mandato estabelecido para que uma delas se
incumba de realizar as formalidades legais e realizar outras diligências para que se o execute.
Quando o mandante revogar o mandato, mas notificar somente o mandatário, não
poderá opor a terceiros de boa-fé essa extinção. Ficam ressalvadas, porém, as ações que o
mandante possuir contra o mandatário. “É irrevogável o mandato que contenha poderes de
cumprimento ou confirmação de negócios encetados, aos quais se ache vinculado”. Negócios
que porventura já vinculem o mandante não poderão ter o mandato que os vise confirmar
revogado. Quando se comunicar ao mandatário que o mandante constituiu outro mandatário,
ter-se-á como revogado o primitivo mandato.
Sendo um contrato baseado preponderantemente na confiança das partes, será
sempre possível revogá-lo ou renunciá-lo, vez que a confiança existente pode perecer. Caso o
mandatário decida renunciar ao contrato deverá comunicar ao mandante que, se se sentir
prejudicado pela inoportunidade ou pala falta de tempo a fim de constituir outro mandatário,
poderá pleitear que lhe sejam ressarcidas as perdas e danos sofridas. O mandatário não será
obrigado a indenizar se provar que o mandato lhe causaria prejuízo considerável e que não era
possível substabelecer. “São válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes
ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a
extinção do mandato, por qualquer outra causa”. Essa norma tem o objetivo de proteger a boa-
fé daqueles que contrataram com o mandatário.
Caso o mandatário faleça, deverão os seus herdeiros, se tiverem conhecimento do
contrato, cientificar o mandante do ocorrido, bem como providenciar as diligências que a
situação exija, quer dizer, ultimar um negócio pendente, dar por findas as tratativas negociais,
ou o que a situação recomendar. “Os herdeiros, no caso do artigo antecedente, devem limitar-
se às medidas conservatórias, ou continuar os negócios pendentes que se não possam demorar
sem perigo, regulando-se os seus serviços dentro desse limite, pelas mesmas normas a que os
do mandatário estão sujeitos”.