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CENTRO DE ENSINO TECNOLÓGICO DE TERESINA – CET

Aderbia Taysia de Sousa Marques


Aldean da Costa Monteiro
José Milfon Batista Dias Júnior

RESUMO: MANDATO

Conceito
“Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu
nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato”.
Esse é o conceito legal de mandato, que se encontra no artigo 653 do Código Civil. Pode
parecer óbvio, mas há muita confusão entre mandato e procuração. O mandato é o contrato, a
outorga de poderes para que outrem represente o mandante, enquanto a procuração é a
formalização dessa outorga, seu instrumento. Importante ter em consideração que o mandato é
um contrato consensual, razão pela qual se expressa pelo só acordo de vontades,
independentemente de qualquer forma.
Todas as pessoas capazes são aptas a figurar no polo ativo do contrato de
mandato. O instrumento do mandato é a procuração (ressalve-se que se trata de contrato
consensual que não requer forma específica), que pode ser pública ou particular. Sendo
particular a procuração, ela deverá conter a indicação do lugar em que foi passada, a
qualificação do outorgante (mandante) e do outorgado (mandatário), a data e o objetivo da
outorga com a designação e extensão dos poderes conferidos. O terceiro com quem o
mandatário contratar poderá exigir que a procuração traga a firma do mandante reconhecida
em cartório. Mesmo que se dê procuração pública poderá o mandatário substabelecer por
instrumento particular.
Explicitando o caráter consensual do contrato de mandato está o artigo 656 do
Código Civil que enuncia que “o mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito”. “A
outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se
admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito”. Esse artigo não torna o
contrato de mandato formal, vez que o artigo anterior torna patente o seu caráter consensual.
Ocorre, no entanto, que atos que requeiram forma específica para serem válidos atrairão essa
formalidade para o contrato de mandato. Mas isso se restringirá a essas hipóteses, ou seja,
somente atos que sejam formais necessitaram de mandatos formais.
O contrato de mandato é presumidamente gratuito, todavia essa presunção não
existe para mandatários que tratem a representação como ofício ou profissão. O que foi
exposto quer dizer que quando não houver sido ajustada retribuição para o mandatário
presumir-se-á que o mandato foi gratuito, a não ser que a profissão do mandatário afaste essa
presunção, o que se dá com advogados, despachantes etc. Em sendo o mandato oneroso a
retribuição será aquela expressa na convenção das partes ou que resulte da lei, no caso de
serem essas fontes omissas, suprir-se-á a falta pelos usos e costumes do lugar, e na falta destes
por arbitramento.
O mandato poderá ser especial, ou seja, para a prática de certo e determinado ato,
ou geral, que é aquele dado para a prática de todos os atos de interesse do mandante. No que
se refere à aceitação, ela poderá ser tácita, resultando de início de cumprimento. O mandato
geral, dada a sua amplitude, só confere poderes de administração. Para alienar, hipotecar,
transigir, ou praticar quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária, será necessária
procuração com poderes especiais. O parágrafo 2º do artigo 661 do Código enuncia que o
poder de transigir não importa o de firmar compromisso, a intenção da norma é esclarecer o
intérprete da necessidade de explicitar o poder de firmar compromisso, se isso for do interesse
do mandante, vez que o poder de transigir não o abarca. “Os atos praticados por quem não
tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo
nome foram praticados, salvo se este os ratificar. Parágrafo único: a ratificação há de ser
expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato”. Quando o ato é praticado
sem que haja poderes suficientes, e essa hipótese abarca também a ausência de poderes, ele
será ineficaz, ou seja, o mandante não sofrerá quaisquer influências do ato praticado em sua
esfera jurídica. Para ele o ato é havido como inexistente. Pode ser, no entanto, que o mandante
resolva ratificar o ato exorbitante. Nesse caso deverá indicar a sua ratificação expressamente,
ou praticar ato inequívoco que demonstre a sua intenção de confirmação.
“Sempre que o mandatário estipular negócios expressamente em nome do
mandante, será este o único responsável; ficará, porém, o mandatário pessoalmente obrigado,
se agir em seu próprio nome, ainda que o negócio seja de conta do mandante”. A razão dessa
norma é tornar inequívoco o entendimento acerca de que o mandato é uma hipótese de
representação, sendo assim, quando o mandatário explicitar que somente representa o
mandante não será possível considerá-lo como corresponsável pelo ato praticado, em razão de
se tratar de representação. Caso contrário não haja a demonstração de que o negócio se faz por
conta de outrem, estará o mandatário pessoalmente obrigado, vez que a aparência aponta no
sentido de ter sido o negócio feito por sua conta.
Ao mandatário é dada a faculdade de reter a coisa objeto do mandato para que seja
coberto de tudo o que lhe for devido em razão do mandato. “O mandatário que exceder os
poderes do mandato, ou proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios,
enquanto o mandante lhe não ratificar os atos”. “O maior de dezesseis e menor de dezoito
anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de
conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores”. Essa
norma é bastante interessante vez que possibilita que relativamente incapazes sejam
mandatários, todavia há que se ressaltar que o mandante não terá contra o menor os mesmos
direitos que possuir contra um mandatário capaz, a ele será dado ação somente no que
concerne às hipóteses gerais de obrigações contraídas por menores.

Características
O mandato é um Contrato é contrato porque resulta de um acordo de vontades: a do
mandante, que outorga a procuração, e a do mandatário, que a aceita. A aceitação pode ser
expressa ou tácita. Esta se configura pelo começo de execução (CC, art. 659).
Vejamos as características:
a) Personalíssimo ou intuitu personae - porque se baseia na confiança, na presunção de
lealdade e probidade do mandatário, podendo ser revogado ou renunciado quando
aquela cessar e extinguindo-se pela morte de qualquer das partes. Como consequência,
é essencialmente revogável, salvo as hipóteses previstas nos arts. 683 a 686, parágrafo
único, do Código Civil. Cessada a confiança, qualquer das partes pode promover a
resilição unilateral (ad nutum), pondo termo ao contrato.
b) Consensual - porque se aperfeiçoa com o consenso das partes, em oposição aos
contratos reais, que se aperfeiçoam somente com a entrega do objeto.
c) Não solene - por ser admitido o mandato tácito e o verbal (CC, art. 656), malgrado a
afirmação constante do art. 653, segunda parte, de que “a procuração é o instrumento
do mandato”.
d) Em regra Gratuito – porque o art. 658 do Código Civil diz presumir-se a gratuidade
“quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder
ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa”. Ex: O mandato
confiado a advogado, corretor ou despachante, presume-se oneroso.
e) E em regra Unilateral – porque gera obrigações somente para o mandatário, podendo
classificar-se como bilateral imperfeito devido à possibilidade de acarretar para o
mandante, posteriormente, a obrigação de reparar as perdas e danos sofridas pelo
mandatário e de reeembolsar as despesas por ele feitas.

Pessoas que podem outorgar procuração


Dispõe o art. 654 do Código Civil que “todas as pessoas capazes são aptas para
dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do
outorgante”. Não podem fazê-lo, destarte, os absoluta e relativamente incapazes.

Pessoas que podem receber mandato


Proclama o art. 666 do Código Civil que “o maior de dezesseis e menor de dezoito
anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de
conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores”. O risco
é do mandante, ao admitir mandatário relativamente incapaz, não podendo arguir a
incapacidade deste para anular o ato. O mandatário, por sua vez, não responderá por perdas e
danos em razão de má execução do mandato.
O pródigo e o falido não são impedidos de exercer mandato, uma vez que a
restrição que os atinge se limita à disposição de bens de seu patrimônio, e não os inibe de
exercer outras atividades. Ademais, não comprometem eles os seus bens, pois é o mandante e
não o mandatário quem se obriga.

A procuração como instrumento do mandato. Requisitos e substabelecimento


Sendo de natureza consensual, o mandato não exige requisito formal para a sua
validade, nem para a sua prova. Pode, assim, ser tácito ou expresso, e este verbal ou escrito
(CC, art. 656). O mais comum é o mandato escrito, tendo como instrumento a procuração.
Os requisitos da procuração encontram-se no § 1° do art. 654, que assim dispõe:
“O instrumento particular deve conter a indicação do LUGAR onde foi passado, a
QUALIFICAÇÃO do outorgante e do outorgado, a DATA e o OBJETIVO da outorga com a
DESIGNAÇÃO e a EXTENSÃO dos poderes conferidos”.
Pode ser manuscrito ou datilografado, xerocopiado20 ou impresso. Não se
deve, modernamente, proibir procuração transmitida por meios informatizados ou fax, ou
ainda por carta, cuja aceitação resulta da execução do contrato proposto. O reconhecimento da
firma no instrumento particular ad negotia poderá ser exigido pelo terceiro com quem o
mandatário tratar (CC, art t. 654, § 2o). Mas a procuração ad judicia não o exige (CPC, art.
105).

Espécies de mandato
O mandato, quanto ao modo de declaração da vontade, pode ser:
a) Expresso ou tácito, verbal ou escrito” (CC, art. 656).
 Expressso – quando as partes contratarem oralmente ou por meio de escrito público ou
particular.
 Tácito - só é admissível nos casos em que a lei não exija mandato expresso.
 Verbal - só vale nos casos em que não se exija o escrito e pode ser comprovado por
testemunhas e outros meios de prova admitidos em direito.
 Escrito - é o mais comum e pode ser outorgado por instrumento particular (CC, art. 654)
ou por instrumento público, nos casos expressos em lei.
b) Gratuito ou remunerado (art. 658)
 Gratuito – quando não houver sido estipulada retribuição. Exceto, se o seu objeto
corresponder ao daqueles em que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa.
 Oneroso – quando caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou no contrato.
c) Judicial ou extrajudicial (art. 692)
 Judicial – aquela que por sua essência, só será utilizada perante a justiça. Habilita o
advogado a agir em juízo e é regido por normas especiais.
 Extrajudicial – aquela que os poderes por ela outorgados servem para prática de atos fora
da via judicial ou das praxes regulares do direito.
d) Simples ou empresário (arts. 966 e 1.018) - Estes são restritos aos negócios mercantis,
entre empresários (CC, art. 966).
e) Geral ou especial (art. 660)
 Geral – a todos os do mandante (CC, art. 660).
 Especial - é restrito a um o negócio especificado no mandato, são negócios
determinadamente. Ex: venda de imóvel.
f) Em termos gerais e com poderes especiais (art. 661).
 Em termos Gerais - só confere poderes de administração, atribuído aos que ultrapassem a
administração ordinária;
 Em termos Especiais - só autoriza a prática de um ou mais negócios jurídicos
especificados no instrumento. Limita os atos, sem possibilidade de estendê-los por
analogia.
Quando outorgado a mais de uma pessoa, pode ser (art. 672):
a) Conjunto - ficarão impedidos de validamente atuar em separado, podendo, no entanto,
os que não participaram do ato, ratificá-lo posteriormente.
b) Solidários – a presunção é a de que o mandato outorgado a mais de uma pessoa é
solidário, podendo qualquer delas atuar e substabelecer separadamente.
c) Sucessivos - devem proceder na ordem de sua nomeação para que os procuradores
possam agir, e cada um no impedimento do anteriormente referido. No silêncio do contrato,
serão simultâneos e solidários, podendo qualquer deles exercer os poderes outorgados.
d) Fracionário – cada procurador tem uma fração de poder e atuação perfeitamente
delimitada.

Das Obrigações do Mandatário


O mandatário ao aceitar o mandato deve aplicar toda a sua diligência habitual no
cumprimento dos interesses do mandante, devendo indenizar os prejuízos que derivarem de
culpa sua ou daquele a quem substabelecer. Isso no caso de dever exercer pessoalmente o
mandato. No caso de haver substabelecido os poderes quando isso era proibido pelo
mandante, o mandatário estará responsável até pelo fortuito, só podendo afastar essa
responsabilidade se provar que os prejuízos ocorreriam mesmo se não houvesse
substabelecimento. Caso seja possível o substabelecimento, o mandatário só terá
responsabilidade pelos prejuízos se houver escolhido com culpa o substabelecido, ou se errou
nas instruções dadas a ele. “Se a proibição de substabelecer constar da procuração, os atos
praticados pelo substabelecido não obrigam o mandante, salvo ratificação expressa, que
retroagirá a data do ato”. Trata-se de hipótese de ineficácia.
“Sendo omissa a procuração quanto ao substabelecimento, o procurador será
responsável se o substabelecido proceder culposamente”. Nesse caso não há vedação ao
substabelecimento, vez que quando ele é proibido o mandatário responde até pelo fortuito,
mas haverá a responsabilidade pelos atos culposos do substabelecido, já que também não há
permissão expressa de substabelecer. Como o mandatário representa o mandante terá que
prestar contas de seus atos e transferir a ele todas as vantagens que em razão do mandato
auferir, por qualquer título que seja. Não é possível ao mandatário compensar os prejuízos que
causou com as vantagens que, por outro lado, tenha conseguido para o mandante. Caso o
mandatário empregue em seu proveito somas que deveria entregar ao mandante, ou que
recebeu para cobrir despesas da execução do mandato, deverá ressarci-lo pagando juros desde
o momento em que houve o abuso (desvio do dinheiro).
“Se o mandatário, tendo fundos ou crédito do mandante, comprar, em nome
próprio, algo que deverá comprar para o mandante, por ter sido expressamente designado no
mandato, terá este ação para obrigá-lo à entrega da coisa comprada”. Essa norma presente no
artigo 671 do Código Civil se mostra bastante moderna, vez que confere ao mandante tutela
específica, ao invés de lhe dar somente a possibilidade de pleitear as perdas e danos em razão
do ato malicioso do mandatário.
“Sendo dois ou mais os mandatários nomeados no mesmo instrumento, qualquer
deles poderá exercer os poderes outorgados, se não forem expressamente declarados conjunto,
nem especificamente designados para atos diferentes, ou subordinados a atos sucessivos. Se
os mandatários forem declarados conjuntos, não terá eficácia o ato praticado sem interferência
de todos, salvo havendo ratificação, que retroagirá à data do ato”. O que essa norma quer
dizer é que havendo mais de um mandatário designado no contrato, qualquer deles poderá
exercer os poderes de representação sem que seja necessária a interferência dos outros. A
interferência conjunta, ou qualquer outro tipo de atuação específica deverá ser expressamente
disciplinado no contrato, sob pena de os atos de representação poderem ser realizados de
maneira disjuntiva. Caso o terceiro saiba quais são os poderes do mandatário e, por isso, tenha
conhecimento de que o negócio jurídico realizado exorbita tais poderes, não terá ação contra
ele, a não ser que este tenha se responsabilizado pessoalmente pelo negócio ou tenha
prometido ratificação por parte do mandante.
“Embora ciente da morte, interdição ou mudança de estado do mandante, deve o
mandatário concluir o negócio já começado, se houver perigo na demora”. Essa norma visa
proteger os interesses do espólio do mandante, ou o mandante especialmente debilitado, vez
que torna dever do mandatário concluir o negócio jurídico começado, todas as vezes que a sua
demora puder causar prejuízos.

Das Obrigações do Mandante


Tendo sido o mandato estipulado para que o mandatário represente o mandante,
terá este que satisfazer todas as obrigações contraídas em seu nome, desde que estejam em
conformidade com os poderes outorgados. Será também obrigação do mandante adiantar ao
mandatário os valores requisitados para o pagamento das despesas de execução do mandato.
Os riscos do mandato serão suportados pelo mandante, a não ser que haja culpa do
mandatário, razão pela qual aquele deverá pagar a retribuição devida e ressarcir as despesas
feitas, ainda que a representação não tenha o sucesso esperado.
Quando o mandatário empregar dinheiro seu para cobrir as despesas de execução
do mandato, deverá ser ressarcido com juros, que correrão desde a data do desembolso.
Também as perdas sofridas pelo mandatário em razão da execução do contrato deverão ser
ressarcidas pelo mandante, contanto que não sejam produto de culpa daquele.
“Ainda que o mandatário contrarie as instruções do mandante, se não exceder os
limites do mandato, ficará o mandante obrigado para com aqueles com quem o seu procurador
contratou; mas terá contra este ação pelas perdas e danos resultantes da inobservância das
instruções”. Os terceiros contratantes não poderão ser prejudicados por não haver nada que
evidencie que o mandatário age fora dos limites das instruções do mandante, isso estaria em
desacordo com a boa-fé negocial, todavia houve por parte do mandatário um desvio de
conduta, razão pela qual estará obrigado a indenizar as perdas e danos sofridas pelo mandante.
O que acontece no caso em questão é que são analisadas separadamente as duas relações
jurídicas que se formam: a primeira, entre mandante e terceiro contratante, que não pode ser
prejudicado; e a segunda, entre mandante e o mandatário que se desviou das instruções
daquele. “Se o mandato for outorgado por duas ou mais pessoas, e para negócio comum, cada
uma ficará solidariamente responsável ao mandatário por todos os compromissos e efeitos do
mandato, salvo direito regressivo, pelas quantias que pagar, contra os outros mandantes”.
Trata-se de hipótese clara de solidariedade, com todas as suas consequências legais.
“O mandatário tem sobre a coisa de que tenha a posse em virtude do mandato,
direito de retenção, até se reembolsar do que no desempenho do encargo despendeu”. Essa
norma mostra-se desnecessária vez que o Código Civil já atribui ao mandatário direito de
retenção sobre o objeto do mandato no artigo 664, que diz: “o mandatário tem o direito de
reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que
lhe for devido em consequência do mandato”. Sendo assim há duplicidade de artigos para
enunciar a mesma norma, mas antes isso que não haver norma que embase o direito de
retenção do mandatário.

Aceitação do mandato
Sendo o mandato um contrato, exige aceitação para se aperfeiçoar, ainda que não seja
expressa. Vigora nessa matéria a liberdade de forma. A aceitação do mandatário nunca
figura na procuração. Esta é, via de regra, a conclusão de um acordo verbal ou por simples
proposta do mandante, às vezes até residente em local distante. O mandante entrega ou
remete a procuração ao mandatário e este, recebendo-a, dá início à sua execução.

Ratificação do mandato
A regra é a de que o mandatário só pode, validamente, agir nos estritos limites dos poderes
que lhe foram conferidos. Se houver excesso de mandato quanto a esses limites e ao tempo
em que poderiam ser exercidos, o ato será ineficaz em relação àquele em cujo nome foram
praticados. Dispõe, com efeito, o art. 662 do Código Civil: “Os atos praticados por quem
não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em
cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar”. Acrescenta o parágrafo único que “a
ratificação há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato”

Da Extinção do Mandato
Cessa o mandato:
I. Pela revogação ou pela renúncia;
II. pela morte ou interdição de uma das partes;
III. pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou
o mandatário a os exercer;
IV. pelo término do prazo ou
V. pela conclusão do negócio.
Pode ser que o mandato contenha cláusula de irrevogabilidade. Mesmo assim,
será possível revogá-lo, pois decorre da confiança que o mandante tem no mandatário, o que
pode acabar, porém nessa hipótese terá o mandante que pagar perdas e danos à contraparte.
Caso, no entanto, a cláusula de irrevogabilidade seja condição de um negócio bilateral, ou
tenha sido estipulada no interesse exclusivo do mandatário, a revogação será ineficaz. Nesse
caso, o mandante deveria pensar exaustivamente antes de conferir o mandato, vez que após
sua contratação ficará sem efeito a revogação em razão das peculiaridades que levaram ao
negócio. Esse tipo de mandato é chamado de em causa própria. “Conferido o mandato com a
cláusula „em causa própria‟, a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte
de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo
transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades
legais”. Esse tipo de mandato é conferido em situações nas quais as partes já estabelecem um
negócio jurídico principal de antemão, sendo o mandato estabelecido para que uma delas se
incumba de realizar as formalidades legais e realizar outras diligências para que se o execute.
Quando o mandante revogar o mandato, mas notificar somente o mandatário, não
poderá opor a terceiros de boa-fé essa extinção. Ficam ressalvadas, porém, as ações que o
mandante possuir contra o mandatário. “É irrevogável o mandato que contenha poderes de
cumprimento ou confirmação de negócios encetados, aos quais se ache vinculado”. Negócios
que porventura já vinculem o mandante não poderão ter o mandato que os vise confirmar
revogado. Quando se comunicar ao mandatário que o mandante constituiu outro mandatário,
ter-se-á como revogado o primitivo mandato.
Sendo um contrato baseado preponderantemente na confiança das partes, será
sempre possível revogá-lo ou renunciá-lo, vez que a confiança existente pode perecer. Caso o
mandatário decida renunciar ao contrato deverá comunicar ao mandante que, se se sentir
prejudicado pela inoportunidade ou pala falta de tempo a fim de constituir outro mandatário,
poderá pleitear que lhe sejam ressarcidas as perdas e danos sofridas. O mandatário não será
obrigado a indenizar se provar que o mandato lhe causaria prejuízo considerável e que não era
possível substabelecer. “São válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes
ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a
extinção do mandato, por qualquer outra causa”. Essa norma tem o objetivo de proteger a boa-
fé daqueles que contrataram com o mandatário.
Caso o mandatário faleça, deverão os seus herdeiros, se tiverem conhecimento do
contrato, cientificar o mandante do ocorrido, bem como providenciar as diligências que a
situação exija, quer dizer, ultimar um negócio pendente, dar por findas as tratativas negociais,
ou o que a situação recomendar. “Os herdeiros, no caso do artigo antecedente, devem limitar-
se às medidas conservatórias, ou continuar os negócios pendentes que se não possam demorar
sem perigo, regulando-se os seus serviços dentro desse limite, pelas mesmas normas a que os
do mandatário estão sujeitos”.

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